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Escola Secundária Lima de Faria

O Apriorismo de Kant

Guilherme Temudo e Leonardo Lopes, 11ºCT1

Disciplina: Filosofia

Professor: Henrique Jardim

Ano Letivo: 2021/2022

Cantanhede

Dezembro, 2021

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Índice
Introdução ……………………………………………………………………………… 3

As fontes do conhecimento …………………………………………………………….. 6

A função da sensibilidade e do entendimento na obtenção do conhecimento …………. 6

Conclusão …………………………………………………………………………….... 9

Referências bibliográficas …………………………………………………………….. 11

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Introdução

No Âmbito da disciplina de Filosofia vamos abordar a Perspetiva de Emmanuel


Kant (o Apriorismo) sobre o problema da origem do conhecimento, com o objetivo de
responder a certas dúvidas que surgiram deste problema tais como: a consciência
cognoscente apoia-se na experiência ou no conhecimento, em qual dessas fontes é
retirado os conteúdos do conhecimento e onde reside a origem do conhecimento.

Kant nasceu em 1724, em pleno “século das luzes”, onde houve um enorme
progresso nas áreas das ciências e da filosofia. Inicialmente, ele próprio acreditava no
racionalismo, que a razão era a fonte do conhecimento absoluto, mas ao entrar em
contacto com a filosofia de Hume, Kant não podia continuar a acreditar no racionalismo
de Descartes, ele percebeu que a experiência também tinha um papel muito importante
na construção do conhecimento. David Hume despertou Kant do seu sono dogmático.
Por isso, Kant sentiu a necessidade de repensar o problema da origem do conhecimento.
A teoria do conhecimento de Kant foi consequência do seu esforço para salvar a ciência
do ceticismo de Hume e teve como objetivo justificar a possibilidade do conhecimento
científico do século XVIII.

O ponto de partida da teoria de Kant foi de que nem o empirismo, nem o


racionalismo explicavam satisfatoriamente a ciência.

A teoria racionalista diz que a origem do conhecimento é a razão, e que a


razão por si só constrói um conhecimento universalmente válido. Um dos grandes
racionalistas foi René Descartes, que procurou combater o ceticismo que ia contra as
ideias fundamentais do racionalismo para tal criou um método que conduzia a razão à
verdade. Descartes usou a dúvida como o seu método, esta era metódica, provisória,
universal e hiperbólica. Descartes usou o método da dúvida de forma a rejeitar:

● A informação com bases nos sentidos


● O conhecimento racional
● Tudo que até então tinha entrado na sua mente

Porém, mesmo levando a dúvida a tais extremos, verificou que havia algo que
lhe resistia, podia estar enganado e iludido acerca de tudo, mas não poderia duvidar da
sua própria existência, do seu próprio pensamento. Daqui surgiu o primeiro princípio da
sua filosofia, cogito ergo sum (penso, logo existo). O cogito é uma intuição racional, ou
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seja, uma evidência que se impõem ao espírito humano de forma absolutamente clara e
distinta, o cogito é então uma verdade:

● Absolutamente primeira
● Estritamente racional
● A priori
● Indubitável
● Evidente (clara e distinta)

Descartes concluiu ainda que as ideias (separou-as em 3 grupos distintos:


adventícias, factícias e inatas) são o critério que nos permite identificar um
conhecimento como verdadeiro e quem garante este critério é Deus.

Foram feitas algumas críticas ao racionalismo cartesiano dizendo que este é


exclusivista, dogmático, circular e afirma a existência como predicado.

Por outro lado, a teoria empirista, que defende que a origem do conhecimento é
a experiência. Esta opõem-se ao racionalismo, dizendo que nada está na razão que não
tenha estado previamente nos sentidos. O critério usado pelos empiristas é a
experiência sensível, que não admite a existência de conhecimento por parte do sujeito
antes de qualquer experiência, o ser humano à partida, não possui qualquer tipo de
conhecimento.

David Hume afirma que todo o conhecimento provém da experiência e que não é
possível haver conhecimento universalmente válido (ao contrário do racionalismo). Os
elementos básicos com os quais a mente trabalha são as perceções, obtidas através dos
órgãos dos sentidos. As perceções dividem-se em dois: impressões (são vividas e fortes)
e ideias (fracas e ténues). Os nossos conhecimentos surgem então, de associação de
ideias, que são consolidadas e fortalecidas pelo hábito. O empirismo também recebeu
críticas:

● É cético
● É reducionista

Kant concordou com Hume a respeito de que todo conhecimento tem início na
experiência e da impossibilidade de derivar da experiência juízos necessários e
universais, contudo, Kant não tinha dúvidas sobre a possibilidade e a efetiva existência

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de conhecimentos verdadeiros. A Geometria Euclidiana e a Mecânica Newtoniana
provavam isto; cabia agora demonstrar como tinham sido possíveis. O filósofo ainda vai
mais longe que Hume acrescentando que isso não implica necessariamente que todo o
conhecimento provenha da experiência, esta nunca se dá de maneira neutra, pois
existem certas condições a priori para que as impressões sensíveis se convertam em
conhecimento apoiando assim o racionalismo.

A reflexão kantiana tentou resolver a dicotomia criada pelas teses do empirismo


e do racionalismo relativamente ao problema da origem do conhecimento, tentou
mostrar que essa dicotomia requeria uma solução intermediária.

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As fontes do conhecimento

Nesta teoria, Kant retirou do centro do conhecimento o objeto, colocando no seu


lugar o sujeito, tornando-o ativo, ou seja, é o sujeito que constrói a razão. Com esta
nova abordagem, o filósofo nega a ideia de na construção do conhecimento um sujeito
passivo face ao objeto e a do que o ato do conhecimento ser exclusivo à razão ou à
sensibilidade.

A saída que Kant encontra para este impasse é filosoficamente revolucionária:


afirma que o conhecimento provém da sensibilidade e do entendimento, ou seja,
provém dos sentidos e da razão, o conhecimento resulta dos dados provenientes da
experiência, captados pela sensibilidade, onde é nos dado o objeto, e que vão ser
submetidos à ação interpretativa do entendimento, no qual é pensado em relação com
aquela representação (como simples determinação do espírito).

Por exemplo, um programa de um computador pode ajudar-nos a compreender o


ponto de vista de Kant. O computador precisa de estar equipado com um programa que
receba quaisquer dados do exterior. Este programa é semelhante à sensibilidade e ao
entendimento. Os dados provenientes do mundo são comparados pelos elementos
introduzidos pelo teclado, comparam-se os dados que, são recolhidos pela sensibilidade,
que vão ser interpretados pelo entendimento.

A função da sensibilidade e do entendimento na obtenção do


conhecimento

Sem intuição e conceitos não há conhecimento. A nossa natureza implica que a


intuição não pode nunca ser senão sensível (sentidos), quer dizer que contém apenas a
maneira como somos afetados pelos objetos (a matéria do conhecimento), enquanto o
entendimento organiza, relaciona o objeto da intuição sensível, dando-lhe sentido. Sem
a sensibilidade nenhum objeto nos seria dado e sem o entendimento nenhum seria
pensado. Tanto os conceitos como a intuição, não podem trocar entre si as suas funções
nem substituir-se. O conhecimento apenas pode resultar da sua união.

A sensibilidade é a forma através do qual intuímos os objetos, de como somos


impressionados pela realidade exterior, ela intui ou dá o que há para conhecer: os
fenómenos. A sensibilidade expressa-se em duas formas: espaço e tempo, são dois

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conceitos que não são dados pela experiência, são a priori, universais e necessários. Pois
estão sempre presentes e antecedem a experiência, para ver algo, primeiro é preciso um
lugar e um tempo no qual se ordenam as impressões recebidas pela vista. O espaço
auxilia o sujeito cognoscente a intuir os objetos externos a si mesmo e distribuídos
espacialmente e o tempo auxilia-o a intuir os objetos externos a si mesmo e distribuídos
temporalmente. O espaço e o tempo são intuições puras da mente.

Portanto, se existem condições a priori, isto implica que o sujeito desempenha


um papel ativo no processo do conhecimento, traz algo para esse conhecimento e,
portanto, não se limita a receber passivamente o que percebe.

O entendimento é a faculdade do espírito que nos permite pensar as


representações dos objetos dados pela sensibilidade, ou seja, organiza, relaciona e dá
sentido às impressões da sensibilidade.

Kant estabeleceu quais os conceitos aplicáveis a priori a objetos dados na


sensibilidade. Os conceitos fundamentais são chamados de categorias ou formas puras
do entendimento, Kant dividiu estas categorias em quatro grupos: quantidade,
qualidade, relação e modalidade. Cada grupo contém as seguintes categorias
correspondente:

● Quantidade: universais, particulares e singulares;


● Qualidade: afirmativos, negativos e indefinidos;
● Relação: categóricos, hipotéticos e disjuntivos;
● Modalidade: problemáticos, assertórios e apodíticos.

A aplicação de tais categorias permitia dar significado às perceções e assim


podemos obter conhecimento.

Todo o conhecimento começa com a experiência mas esta não é suficiente para
haver conhecimento porque é necessário dar forma a essa matéria. Só a partir da
experiência é que podemos despertar e pôr em ação a nossa capacidade de conhecer,
senão os objetos que afetam os sentidos e que, por um lado, originam por si mesmos as
representações e, por outro, põem em movimento a nossa faculdade intelectual (a razão)
e levam-na a compará-las, ligá-las ou separá-las, transformando assim a matéria bruta
das impressões sensíveis num conhecimento.

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Para Kant, o sujeito cognoscente não poderia perceber os objetos de forma
sucessiva no tempo se a sensibilidade não lhe auxiliasse no manejo das informações
apropriadas pela experiência, porque o espaço e o tempo não representavam
propriedades em si, mas sim do sujeito, não dependiam do mundo externo, mas eram o
único modo como podíamos representar as coisas tal como elas são para nós. Por isso é
que Kant afirma que só conhecemos fenómenos, apenas as coisas tal como elas o são
para nós, e não as coisas em si (números); por que o que nós intuímos está submetido
às formas puras da intuição (espaço e tempo) e, como tal, o objeto do nosso
conhecimento vai ser as coisas tal como elas nos aparecem. Os fenómenos vão ser
ligados e sintetizados pelo entendimento, e transformados em conceitos que serão
depois utilizados para formular juízos, por exemplo, “para toda a ação há sempre uma
reação oposta e de igual intensidade” (3ª Lei de Newton).

Como tal, e visto que todo o conhecimento é o processo pelo qual se aplicam as
categorias às representações intuídas, o carácter transcendental (anterior à experiência)
do conhecimento matemático está garantido, pois ele lida unicamente com intuições
espácio temporais, pois é impossível conhecermos aquilo que está para além dos nossos
sentidos. Dizer que “em qualquer triângulo retângulo, o quadrado do comprimento da
hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos” é uma
representação (intuitiva) no espaço da categoria da qualidade, para a qual só usámos
formas a priori: o espaço enquanto forma ou intuição pura, e a categoria.

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Conclusão

Em conclusão, Kant pretende explicar uma teoria para o problema da origem do


conhecimento que tente conciliar o racionalismo e o empirismo, valorizando o papel da
experiência e da razão. Segundo Kant todo o conhecimento começa com a experiência.
É a sensibilidade que nos dá objetos para conhecer. Tudo começa com a espacialização
e temporalização dos dados da intuição empírica. A sensibilidade unicamente sabe que
todos os fenómenos acontecem num dado momento e num certo lugar. Só o
entendimento compreende o que um fenómeno tem a ver com o outro. Só ele pode
explicar – mediante o conceito de causa, forma a priori presente em todo o
entendimento humano – a que se deve determinado acontecimento. Como precisamos
de objetos para que haja conhecimento e como só a sensibilidade nos dá objetos, mesmo
que o conhecimento não derive da experiência começa com ela. Só há conhecimento de
objetos empíricos. A explicação de um fenómeno ou objeto empírico é sempre outro
fenómeno. Sem a experiência não há objetos para conhecer, mas o nosso conhecimento
não é meramente empírico porque nos dá a causa do que acontece.

É esta a resposta que Kant dá ao problema da origem do conhecimento. Só


conhecemos fenómenos, mas esse conhecimento é verdadeiro. Deste modo, desenvolve
uma teoria que concilia os empiristas e os racionalistas. Face aos racionalistas, afirma
que é verdade que o sujeito traz algo de si, o espaço, o tempo e as categorias, mas isso
sem a experiência não é nada. Em relação aos empiristas, também defende que o
conhecimento deve ater-se à experiência, mas esta não consiste em meras impressões:
estas impressões são ordenadas pelo sujeito (no espaço e no tempo). Esta ordem é
comum a toda a experiência, pelo que o conhecimento desta ordem tem carácter
universal e necessário.

Os argumentos céticos podem questionar a capacidade humana de conhecer as


coisas tal como elas são, mas não o conhecimento de um mundo empírico enquanto
construção das nossas mentes.

Do nosso ponto de vista, o Apriorismo é a resposta válida para o problema da


origem do conhecimento, uma vez que as outras duas teorias são levadas ao extremo e
ao conhecermos o real há sempre a interferência da nossa subjetividade constituída por
estruturas formais que aplicamos à matéria fornecida, nunca podemos dizer que
conhecemos as coisas como elas são, os números, apenas podemos dizer que
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conhecemos as coisas como elas são para nós, os fenómenos. Assim, esta teoria é a mais
completa para responder ao problema da origem do conhecimento, pois usa conceitos de
ambas as teorias, do racionalismo e do empirismo. Portanto, é a resposta ao problema da
origem do conhecimento que mais nos agradou.

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Referências Bibliográficas

Amorim, C., & Pires, C. (2019). Clube das Ideias 11 - Filosofia - 11º Ano. Porto: Areal
Editores.

Gomes, A. (s.d.). Kant: apriorismo e criticismo. Disponível em


https://omeubau.net/kant-apriorismo-e-criticismo/

Pinto, N. F. (2010). Kant e o Contexto: O Problema da Omissão de Kant em


Epistemologia. Disponível em https://repositorio-
aberto.up.pt/bitstream/10216/55319/2/tesemestnunopinto000124573.pdf

Silveira, F. L. (Março de 2002). A Teoria do Conhecimento de Kant: o Idealismo


Transcendental. Disponível em https://www.if.ufrgs.br/~lang/Textos/KANT.pdf

Sousa, R. (22 de Janeiro de 2014). Apriorismo de Kant. Disponível em


http://lolaeafilosofia.blogspot.com/2014/01/apriorismo-de-kant.html

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