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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CAIO MOUTINHO DE CARVALHO

RELAÇÃO ENTRE O USO DE TORNOZELEIRA ESPORTIVA


E INSTABILIDADE ARTICULAR DO JOELHO DURANTE A
ATERRISSAGEM NO VOLEIBOL FEMININO

Orientadora: Profa. Dra. Karine Jacon Sarro

Projeto de pesquisa apresentado para o


processo seletivo em nível de Mestrado, na
Área de Concentração de Biodinâmica do
Movimento e Esporte, da Faculdade de
Educação Física, UNICAMP.

Orientadora: Prof. Dr. Karine Jacon Sarro

Campinas, 2021
RESUMO

As lesões de ligamento cruzado anterior são apontadas como algumas das lesões mais graves
em atletas profissionais de voleibol do sexo feminino, que utilizam de aterrissagem
constantemente durante a prática. Embora o uso de tornozeleira tenha seu efeito positivo na
prevenção de lesões de tornozelo, ainda não existem estudos científicos que comprovem sua
eficiência na prevenção de entorses de joelho. O objetivo deste projeto é analisar a demanda
mecânica das articulações do joelho durante a fase de aterrisagem após salto em três grupos de
atletas de alto rendimento: com histórico de lesões nas articulações de joelho, com histórico de
lesões nas articulações de tornozelo e sem nenhum histórico, utilizando a análise cinemática
tridimensional e dinâmica inversa a fim de identificar possíveis estratégias motoras, déficits de
movimento e estratégias compensatórias dos membros inferiores que podem estar presentes e
contribuir ou não, para a incidência de lesões articulares no joelho.

PALAVRAS-CHAVE: atleta de voleibol; lesão articular; análise cinemática tridimensional;


dinâmica inversa.
1. INTRODUÇÃO

Entorse de tornozelo é definido como uma lesão traumática aguda no complexo


ligamentar lateral da articulação do tornozelo como resultado da inversão excessiva do pé
traseiro ou uma flexão plantar combinada e adução do pé. Isso geralmente resulta em alguns
déficits iniciais de função e deficiência. (HERTEL, 2002).
Os jogadores de voleibol são suscetíveis a uma ampla gama de lesões, incluindo entorses
de tornozelo agudas, lesões agudas no joelho e condições de uso excessivo do joelho e ombro
A entorse aguda de tornozelo é a lesão mais comum relatada por jogadores de voleibol, sendo
responsável por até metade de todas as lesões relacionadas ao voleibol (AGEL et al., 2007).
Consequentemente, muitos jogadores tornozeleira como uma estratégia de prevenção de
entorse de tornozelo (JUNIOR, 2015).
Além das lesões no tornozelo, os atletas de voleibol também correm risco significativo
de lesões nos joelhos (SCHAFLE et al., 1990), com uma incidência maior relatada em mulheres
do que em homens (FERRETTI et al., 1992). As principais lesões no joelho são as tendinites e
as ligamentares (BRINER JUNIOR & BENJAMIN, 1999). No voleibol, temos que saltos são
os maiores causadores nas lesões do joelho (BRINER JUNIOR & KACMAR, 1997). Gerberich
et al. (1987) também destaca a maior frequência de lesões e entorses após a aterrissagem, em
consequência do impacto.
O uso de tornozeleiras esportivas restringe o movimento do plano frontal do tornozelo
assim como a amplitude de dorsiflexão e flexão plantar do tornozelo (CORDOVA et al., 2010).
Um estudo em particular demonstrou que o uso de tornozeleira limitou a amplitude de
movimento da dorsiflexão do tornozelo e aumentou o ângulo de flexão do joelho no contato
inicial com o solo. O grau de flexão do joelho compensou a dorsiflexão restrita do tornozelo,
permitindo assim que as forças de reação do solo permaneçam consistentes (DISTEFANO et
al., 2008). Dado que aterrissar com aumento da flexão do joelho é um fator de risco para
tendinopatia patelar (MALLIARAS et al., 2006), concluiu-se que a órtese de tornozelo pode ter
implicações prejudiciais para o joelho articulação.
2. JUSTIFICATIVA

Hoje ainda existe uma incerteza em relação a recomendação do uso de tornozeleira em


atletas do sexo feminino durante a prática do voleibol. Embora seja comprovada sua eficiência
na prevenção de entorses de tornozelo (JUNIOR, 2015), ainda não existem estudos científicos
que comprovem a eficiência do uso de tornozeleira na prevenção de entorses de joelho.
Atletas de voleibol de alto rendimento foram selecionadas para fazer parte desse
trabalho. Devido a serem do sexo feminino, existe uma série de influências hormonais que
atuam sobre os sistemas musculares, esquelético e endócrino, possivelmente gerando
divergência de resultados em relação a atletas do sexo masculino.
O fato do impacto após o salto ser absorvido por mais de uma articulação durante a
aterrissagem pode gerar estratégias motoras e sobrecargas que podem ser prejudicais a
articulação joelho. A partir de uma estabilização da articulação do tornozelo feita através da
tornozeleira esportiva, a hipótese é de que o uso da órtese aumentaria as forças atuantes na
articulação do joelho, assim como a amplitude de movimento durante a aterrissagem que haja
uma maior sobrecarga nas articulações do joelho, podendo fazer com que o momento interno
atue de maneira a gerar uma maior instabilidade lateral, aumentando o risco de lesões.
Pelas observações relatadas, um estudo em biomecânica afim de quantificar o efeito da
órtese de tornozelo na cinética e na cinemática do joelho de jogadoras de voleibol de alto
rendimento a aterrissagem após o ataque no voleibol. Para auxiliar na interpretação dos
resultados relativos às forças do joelho, serão analisados os picos de força de reação do através
do tempo, assim como a cinemática tridimensional dos membros inferiores. Os resultados deste
estudo podem ter implicações clínicas, uma vez que as forças de cisalhamento repetitivas do
joelho têm sido associadas ao desenvolvimento de osteoartrite do joelho e tendinopatia patelar,
sendo que ambos os jogadores de voleibol estão sob risco elevado (REESER, 2006).
3. OBJETIVOS

Objetivos Gerais:
• Relacionar o uso recorrente de tornozeleiras esportivas por atletas de voleibol do sexo
feminino à instabilidade articular lateral de joelho.

Objetivos Específicos:
• Analisar valores de ângulo e momento interno articular de joelho, tornozelo e quadril
durante a aterrissagem após um salto com a passada do voleibol, realizado por atletas
profissionais de voleibol do sexo feminino, com e sem o uso de tornozeleira esportiva.
• Verificar como os valores de momento interno e angulação lateral de valgo e varo com
e sem o uso de tornozeleira esportiva podem influenciar no risco de lesões articulares.
• Analisar comparativamente resultados de atletas com histórico de lesão articular no
joelho, no tornozelo e atletas sem histórico.
4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 População do estudo


O estudo será realizado no Laboratório de Instrumentação para Biomecânica (LIB) da
Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas.
A pesquisa envolverá três grupos de atletas de voleibol do sexo feminino. Um grupo
composto por atletas que já realizaram reconstrução parcial ou total de LCA em um único
joelho. Um segundo grupo, formado por atletas que apresentam instabilidade crônica (um
histórico de pelo menos 1 entorse de tornozelo significativa) (GRIBBLE, 2013) em um único
tornozelo. E um terceiro grupo, composto por atletas sem histórico de lesões graves de joelho
ou tornozelo. O tamanho da amostra será estimado com base na literatura ou projeto piloto.
Critérios de inclusão para o estudo: ser atleta de voleibol do sexo feminino com idade igual
ou superior a 18 anos, em treinamento físico ativo há pelo menos seis meses, atuante na posição
de ponteira, central ou oposto; exclusivamente para o grupo 1: ter realizado a reconstrução de
LCA e reabilitação de no mínimo 12 meses e estar em treinamento há pelo menos seis meses;
exclusivamente para o grupo 2: ter histórico de pelo menos 1 entorse de tornozelo significativa
há pelo menos 12 meses e ter um escore abaixo de 24 para um dos tornozelos na Ferramenta de
instabilidade do tornozelo Cumberland (CAIT) (DE NORONHA, 2008); exclusivamente para
o grupo 3: não ter histórico de lesões graves em joelho ou tornozelo.
Critérios de exclusão para o estudo: ter histórico de lesão de LCA bilateral, instabilidade
crônica em dois tornozelos ou lesão recente (menos de 12 meses) em membros inferiores (seja
joelho, tornozelo ou outros); estar fisicamente ativa há menos de 6 meses.

4.2 Questões éticas


O projeto será submetido para avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Estadual de Campinas, e apresentará todos os requisitos básicos de um protocolo de pesquisa
com seres humanos. Todos os sujeitos do estudo assinarão o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, onde estarão descritas as informações referentes aos riscos e benefícios da
pesquisa, a justificativa, objetivos da pesquisa, descrição dos procedimentos aos quais o sujeito
será submetido, a garantia de receber resposta a qualquer questionamento acerca de assuntos
relacionados à pesquisa, o sigilo e o caráter confidencial das informações, zelando pela
privacidade do sujeito e garantindo que sua identificação não seja exposta nas conclusões ou
publicações.
4.3 Coleta de dados
Inicialmente haverá uma explicação verbal sobre a pesquisa e o esclarecimento de
eventuais dúvidas. Todas as atletas receberão o termo de consentimento livre e esclarecido e,
após a assinatura e aceite dos termos, realizarão suas respectivas funções neste estudo. Será
aplicada uma anamnese para coleta de informações em ambos os grupos, tais como idade, peso,
altura, lado dominante, histórico de lesões a fim de verificar as características de cada sujeito e
enquadrá-las nos diferentes grupos. Para tanto, deverão utilizar vestimentas que permitam ao
avaliador observar o tronco, a pelve, o quadril e os joelhos e tornozelos durante todo o teste.

4.4 Protocolos
As atletas irão realizar um aquecimento de dez minutos que inclui pequenos saltos bipodais,
agachamento profundo e um pouco de corrida. A fim das atletas se familiarizarem com a tarefa
exigida, serão realizadas 3 tentativas dos saltos para que seja instruída a correta realização do
mesmo. No presente estudo, a atleta será orientada a realizar os testes a partir da passada do
ataque no voleibol, utilizando tênis adequado para a prática. O ponto de partida do início da
passada será atrás de uma marcação delimitada sobre a plataforma de força para que a
aterrissagem seja feita em cima da plataforma de força. O teste irá iniciar ao comando do
avaliador.

4.5 Análise dos Dados


A análise cinemática tridimensional será utilizada para medição do movimento e para
calcular o deslocamento, a velocidade e a aceleração linear e angular presentes durante a
execução da aterrissagem. Os marcadores refletores serão posicionados em marcos anatômicos
do tronco, pelve, quadril e membros inferiores: acrômios, cristas ilíacas superiores anteriores e
posteriores, trocanteres maiores, epicôndilo femoral medial e lateral, maléolos e cabeças do 1o
e 5o metatarsos (BENNETT et al., 2018). Seis câmeras de vídeo (Basler fc602A) serão
utilizadas para registrar os testes.
Os marcadores serão rastreados pelo software RVideo e suas coordenadas
tridimensionais serão reconstruídas. As coordenadas serão filtradas utilizando um filtro digital
Butterworht. A partir das coordenadas filtradas, os segmentos serão posicionados e orientados
no espaço, para obter a variação angular de quadril, joelho e tornozelo em função do tempo. Os
segmentos serão orientados em 3 graus de liberdade de rotação, representando os movimentos
de flexão/extensão, abdução/adução e rotação interna/rotação externa. Serão calculados os
ângulos de Euler usando a sequência de rotação X, Y, Z.
A plataforma de força Kistler Group, Winterthur, Switzerland (com dimensões de 600
x 400 mm) será utilizada para medir a força de reação do solo afim de identificar as forças e
direções envolvidas aterrissagem após os saltos. Os dados cinemáticos obtidos serão utilizados
no software Visual 3D, a partir de dinâmica inversa, no qual serão calculadas as potências
articulares e momentos articulares do quadril, joelho e tornozelo. A massa corporal será
utilizada para normalizar os dados.
Após os saltos realizados, serão utilizados para análise os que estiverem de acordo com
o protocolo. Para realizar a caracterização, serão calculados as médias e os desvios padrão ponto
a ponto da curva de ângulo, momento e potência articular em função do tempo, obtendo-se,
assim uma curva média ± desvio padrão para cada articulação. Para analisar os resultados
obtidos na análise da cinemática, serão utilizados os valores de ângulo, momento e potência do
quadril, joelho e tornozelo obtidos durante as aterrissagens após os saltos.
5. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

Atividades 2022 2023


Reestruturação do Projeto X
Realização das Disciplinas da Pós-Graduação X
Submissão do Projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa X
Teste Piloto da Análise X
Realização das Análises do Estudo X
Realização das Análises dos Resultados X
Elaboração de Artigos referentes à esta pesquisa X
Redação da Dissertação X
Qualificação X
Defesa da Dissertação X
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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