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Espírito, Alma e Corpo

E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e


alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo.
1 Tessalonicenses 5:23
Na Bíblia, e especialmente no Novo Testamento, nos deparamos com 3
termos que geram discussões intensas: o corpo, alma e o espírito.

Nós cristãos sabemos que eles existem, pois, as escrituras assim nos
dizem. Mas o que é cada um deles? Qual a verdadeira definição de cada um e
qual a relação entre eles?

Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada


alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas
e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.
Hebreus 4:12

Então vamos juntos com base bíblica nos aprofundarmos neste assunto
que desperta grande interesse e curiosidade de todos nós.

Diferenças entre as três partes

E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas


narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.
Gênesis 2:7

O corpo é a parte material onde estão os sentidos físicos. A função


básica é manter contato com o mundo material através dos cinco sentidos.

A alma é a parte que nos permite contatar a nós mesmos, é a parte que
nos permite ter autoconsciência, ou seja, consciência de nós mesmos a ala é o
“eu” o centro da personalidade

O espírito é a parte responsável pela comunhão com Deus. Por meio


dele temos consciência de Deus.

Embora a Alma seja o centro de nossa personalidade, o espírito é a


parte mais importante, porque ele é o centro do nosso ser. É pelo espírito que
podemos adorar a Deus e receber sua revelação. Dizemos ainda que o espírito
é o centro porque Deus habita nele quando regenerado.

Conforme lemos em Gn 2:7, a alma foi formada pela conjução do corpo


com o espírito de vida soprado por Deus, tornando o homem uma alma vivente
com personalidade única. Por isso, com frequência a Bíblia também usa a
palavra alma para significar todo ser humano (Ez. 18:20: At. 2:43). Por envolver
a conjunção de alma e corpo e construir nossa personalidade individual, onde
reside a vontade e livre-arbítrio, a alma é o elemento central do nosso ser.
Mas o espírito é o nosso componente mais profundo, mais sublime mais
nobre, porque nele habita o próprio Deus.

Como está sujeito ao livre-arbítrio ou vontade da alma, o espírito não


pode se manifestar sozinho (ICor 14:32). Podemos dizer então que a alama
envolve o espírito. Da mesma forma, a alma necessita do corpo para se
expressar exteriormente, e podemos dizer que o corpo envolve a alma. É
possível representar o nosso ser pelo diagrama abaixo.

Funções de cada parte

Espírito

O corpo espiritual, ou espírito, é parte que possui ligação com as coisas


espirituais ou com o mundo espiritual, que leva o cristão à presença de Deus.
Nenhum ser vivo, além do homem, possuiu o espírito.

O termo ruach, que pode significar sopro ou vento, indica o corpo


espiritual em Gênesis 2:7. Sendo assim, o espírito foi insuflado nas narinas do
primeiro ser humano (Adão) e pelo espírito homem ganhou a alma eterna,
tornando-se em definitivo a imagem e semelhança de Deus, afinal é pelo
espírito que temos ligação com Deus.
No Novo Testamento, o termo Espírito é pneuma, que possui o mesmo sentido
de ruach.

E quando essa ligação com Deus acontece? Acontece quando oramos,


louvamos, glorificamos a Deus, sentimos a presença do Senhor, enfim quando
mantemos contato com o pai. Essa ligação só é quebrada quando nos
entregamos aos frutos carnais, o qual nos afasta do alvo que é Deus.
O espírito representa a natureza maior do homem e rege de modo
elevado o caráter do homem, o espírito procura reger o homem segundo o
caráter de Deus, tentando transformá-lo cada dia na verdadeira imagem e
semelhança do Pai, a fim de cumprir sua missão.

O espírito possui três funções básicas

Intuição

A intuição é a capacidade de se conhecer algo sem qualquer influência


exterior da mente ou emoção. As revelações de Deus nos são transmitidas por
meio da intuição do espírito (IJo 2:20;27).

A intuição normalmente se manifesta como uma “impressão”, isto é, uma


sensação ou pensamento no nosso íntimo, uma “voz suave”, muito sutil. “Eu só
sei que sei, mas não sei como sei…” (Jo 3.8) Mas é preciso que a alma esteja
aquietada e atenta para poder perceber a intuição que vem do Espírito Santo
para o nosso espírito. A intuição se manifesta através de dois mecanismos:
a) O impulso para que façamos algo, ainda que a nossa mente não entenda ou
não se agrade daquilo;
b) O constrangimento para não fazermos algo, ainda que à nossa mente lhe
pareça razoável e até goste da idéia.
E vós tendes a unção do Santo, e sabeis todas as coisas.
Não vos escrevi porque não soubésseis a verdade, mas porque a sabeis, e porque
nenhuma mentira vem da verdade.
1 João 2:20,21.

Consciência
É a capacidade de o espírito discernir entre o certo e errado,
independentemente dos critérios da mente (Is 30.21). É o senso de moralidade
que Deus inculcou em todo ser humano. É o que leva o criminoso a ocultar
seus atos, ainda que estes o beneficiem, e o que leva a pessoa honesta a
corrigir algo, ainda que lhe seja prejudicial. Há muita coisa que a nossa mente
aprova, mas a consciência reprova
Comunhão 
É intimidade com Deus; é ser um com Ele (1Co 6.17; Ef 2.18,22). Deus
não pode ser percebido pelos nossos pensamentos ou emoções. É somente na
comunhão do espírito que podemos nos unir a Deus e adorá-lo (Rm 1.9). A
verdadeira adoração a Deus só pode expressar-se quando a alma se submete
às ações da comunhão em nosso espírito. Em Lc 1.46-47 vemos que Maria
pode adorar a Deus porque, antes, seu espírito se havia alegrado nele (note a
mudança do tempo verbal: “engrandece”, “se alegrou)”. Qualquer tentativa de
adorar a Deus pelas emoções e esforços da alma é pura hipocrisia religiosa
que em vez de agradar a Deus, desperta sua indignação (Is 1.14; Am 5.21; Ap
3.16).

Alma

A alma possui três funções básicas: mente, vontade e emoção.


Mente
É a sede do entendimento racional, nossa “central de processamento de
dados”. É onde reside nossa capacidade intelectual, nossa habilidade para
pensar, ponderar sobre informações e chegar a conclusões lógicas a partir das
mesmas, através do pensamento.
Vontade
É a sede das nossas decisões, nosso poder de escolha, nosso livre-
arbítrio, nossa “central de comando”. Corpo e espírito estão sujeitos à vontade
da alma. A vontade nos impulsa à ação, nos motiva a tomar certas atitudes e
comportamentos. Através dela podemos decidir nos submeter à direção do
espírito ou resistir a ele e sufocá-lo completamente. Podemos optar por nos
sujeitar aos impulsos carnais ou resistir aos mesmos.
Talvez a atitude mais nobre e também, a mais difícil para um cristão é
renunciar à vontade própria e decidir cumprir a vontade de Deus, ainda que
tenha que sofrer por tomar tal decisão (Jo 5.30; Lc 22.42). Isso é crucificar o
ego.
Emoção
É a sede dos sentimentos, o “tempero” ou “colorido” da nossa vida. É a
forma como reagimos a certos estímulos externos ou internos, que podem ser
pensamentos, imagens mentais ou circunstâncias e acontecimentos da vida.
As emoções definem nosso estado de ânimo e normalmente repercutem tanto
no corpo (alteração da respiração, circulação e transpiração) como também na
mente (estado mental de empolgação ou depressão). As emoções mais
intensas podem desorganizar e até bloquear as funções intelectuais e a razão.
Portanto, é preciso estar sempre atento, voltado para o espírito (de onde
provém a verdadeira sabedoria) para não tomar decisões com base nas
emoções apenas.

Corpo
O corpo possui três funções básicas: recepção, instinto, expressão.
Recepção
É a capacidade do corpo de captar informações do mundo exterior,
através dos cinco sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar).
Instinto
É a capacidade do corpo de reagir automaticamente em resposta aos
estímulos externos. Por exemplo: instinto de sobrevivência, o instinto
de autodefesa, o instinto sexual, etc. Nosso corpo tem vários sistemas
orgânicos instintivos, cada qual cumprindo uma função específica, mas
também   trabalhando de maneira maravilhosamente harmoniosa, a fim de
manter-nos vivos (por exemplo, o sistema respiratório, o sistema digestivo, o
sistema circulatório).
Os instintos são automáticos e em si mesmo não são pecaminosos.
Deus criou instintos bons, mas a queda do homem os degenerou. O instinto de
sobrevivência, que inclui comer e beber, pode se degenerar em glutonaria e
alcoolismo. O instinto de defesa, que inclui esquivar-se e proteger-se, pode se
degenerar em ira e todo tipo de violência. O instinto sexual, que inclui
reprodução e prazer com o cônjuge, pode se degenerar em adultério,
prostituição, homossexualismo e sodomia.
Expressão
É a capacidade de o corpo externar os pensamentos, os sentimentos e
as decisões da alma. Inclui a fala e a linguagem corporal.
Até aqui simplesmente definimos conceitos relativos a espírito,
alma e corpo. Vejamos agora algumas aplicações práticas e
importantes sobre isso:

Estágios da salvação 
A salvação é um processo que envolve três estágios, os quais ocorrem
no passado, no presente e no futuro. Cada estágio ocorre numa parte
específica do nosso ser:
Regeneração do espírito 
Evento passado, definitivo: Ef 1.13, 2Co 5.17, Mt 26.41. Nosso espírito
foi de uma vez por todas restaurado e conectado a Deus, pelo Espírito Santo
que veio habitar dentro de nós. Ele não pode e não vai sair da vida de um
cristão salvo, a menos que este entre em um processo de apostasia e aí
permaneça até o ponto “calcar aos pés o Filho de Deus, profanar o sangue da
aliança e ultrajar o Espírito da graça (Hb 10.26-29,39).
Transformação da alma
Processo presente, em andamento: Rm 12.2, Ap 22.14, Hb 12.14. No
céu não teremos uma nova alma. Nossa personalidade individual será
preservada, embora não o nosso caráter, o qual devemos transformar segundo
o caráter de Cristo. Esse processo de quebrantamento e transformação da
alma requer nossa colaboração ativa, em parceria com o Espírito Santo, como
será detalhado mais adiante na Parte 2 deste curso.
Glorificação do corpo
Evento futuro, ansiosamente esperado: Fp 3.21. Nosso corpo natural
não tem conserto nem salvação. No céu receberemos um novo corpo,
semelhante ao de Jesus.

A revelação no espírito
Revelação espiritual não é, como muitos entendem, apenas “receber um
recado específico de Deus para sua vida”. Isso é somente um aspecto da
revelação divina, expressando-se através do dom da palavra de conhecimento.
Na verdade, “revelação é, simplesmente, ver do ponto de vista de Deus. É
saber algo que talvez nossa mente até já saiba, mas que passa a ser visto e
entendido sob a luz do Espírito Santo. É quando as letras da Bíblia saltam aos
nossos olhos e fazem com que aquilo que já sabíamos pela mente adquira
agora uma nova intensidade e assume uma realidade antes desconhecida. Por
exemplo, podemos durante muitos anos ler e conhecer pela mente que “somos
templo do Espírito Santo”, sem que isso produza qualquer transformação de
vida. Mas quando em nosso espírito recebemos revelação dessa tremenda e
poderosa verdade, quando compreendemos a realidade da habitação do Deus
Todo-Poderoso e Santo em nós, então tudo muda! Passamos a andar em um
novo nível de santidade, no qual cada palavra, cada gesto e cada passo
importa, para que manifestemos a luz do Senhor através de nós.
Por si só, a mente não pode ter revelação de Deus; só o nosso espírito
tem essa função: 1Co 2.9-14; 2Co 5.16. A revelação ocorre primeiro no espírito
(Mc 2.8, At 20.22, Ap 1.10). O Espírito Santo transmite uma verdade ao nosso
espírito, e este a comunica à mente, desde que esta esteja quebrantada,
calma, sensível e atenta ao espírito. Caso contrário, a alma abafará o espírito e
não receberá revelação nenhuma.
E sem revelação no espírito é impossível conhecer e fazer a vontade de
Deus. Fazer a nossa vontade, a vontade da alma sem a revelação e direção do
espírito, ainda que seja com a melhor das intenções, não somente é inútil como
também perigoso. A questão não é “fazer para Deus”, mas sim fazer o que
Deus quer que façamos. Aquelas palavras de Jesus em Mt 7.23 infelizmente
serão ditas a pessoas que acham que estão servindo a Deus (“em Teu nome”),
mas na verdade estavam apenas fazendo a obra pela sua própria mente, isto
é, pela carne. Mas aos olhos de Deus isso é iniquidade. O resultado trágico
será ouvir as palavras de Jesus: “Nunca vos conheci! Apartai-vos de mim!”.
Portanto, devemos buscar e pedir a Deus o conhecimento espiritual que
vem através desse processo de revelação, o qual sempre começa pela intuição
divina no espírito e em seguida ilumina e renova a mente de uma alma
quebrantada diante de Deus.
Entendendo nossa natureza carnal
Quando nascemos de novo pela fé em Cristo, nosso espírito foi
imediatamente regenerado e definitivamente capacitado, com todo poder e
autoridade para assumir a direção da nossa nova vida. Mas nossa alma, não!
Nela ainda habita a natureza pecaminosa de Adão, além da herança
acumulada pelo “velho eu” durante toda uma vida. As feridas e deformações da
alma causadas pelas experiências da velha criatura podem ser curadas e
restauradas pela Palavra de Deus e pelo Espírito Santo (de fato, a maioria
delas fica na cruz, quando nos convertemos ao Senhor Jesus), mas é
importante entender que a nossa natureza carnal não pode ser “expulsa”! Se
isso não fosse verdade, não haveria necessidade de a Palavra nos exortar a
crescer e viver em santidade. Mesmo o mais consagrado servo de Deus está
sujeito “às mesmas paixões” de todo ser humano (At 14.15; Tg 5.17) e deve
continuamente mortificar sua natureza carnal, pelo espírito (Rm 8.13). Pois
a natureza carnal da alma resistirá sempre contra o espírito.
Esta é uma guerra diária, cujo campo de batalha ocorre na mente
(mente carnal vs. mente de Cristo) e na vontade (vontade do ego vs. vontade
de Deus): Rm 7.22-23, Gl 5.17, 1Pe 2.11. O resultado de cada batalha faz a
diferença entre ser um crente carnal ou um crente espiritual. Ser carnal não
significa (necessariamente) pecar, porque mesmo o servo de Deus mais
consagrado peca (1Jo 1.10). Também não significa andar em pecado, porque
quem vive no pecado ainda nem mesmo é convertido (1Jo 3.9).
O crente carnal é aquele que sinceramente tenta conhecer e fazer a
vontade de Deus, mas o faz exercitando sua alma, independentemente do
espírito! Ao não buscar a transformação da alma pela Palavra e pelo
tratamento do Espírito Santo, o crente carnal tende a seguir aquela função da
alma mais predominante em seu caráter problemático e não tratado, e isso dá
origem a algumas “categorias” de carnalidade:
O carnal emotivo (governado pelas emoções). Se sente fortes arrepios
consegue fazer a obra de Deus, mas se as emoções se vão, perde o ânimo (e
se justifica dizendo: “Não estou sentindo”).
O carnal intelectual (governado pela mente). Considera-se muito sábio a
seus próprios olhos. Tende a ser extremamente crítico. Racionaliza e evita as
coisas sobrenaturais (e se justifica dizendo: “Não sou infantil”).
O carnal volitivo (governado pela vontade). É o crente “oba-oba”. Está
sempre aberto a novidades, mas não tem perseverança: quando passa a
empolgação deixa tudo de lado (e se justifica dizendo: “Deus não quer
sacrifício”).
Embora os comportamentos acima sejam diferentes, há um ponto
comum entre eles, que é a marca registrada da carnalidade: a busca da
gratificação do ego. O que motiva todo crente carnal é que o seu “eu” (o seu
“reizinho interno”) seja reconhecido, elogiado e exaltado. Quando isso não
acontece, ele perde a motivação e até entra em crise.
Para nos tornarmos crentes espirituais, é preciso antes receber
revelação sobre a total incapacidade de a carne gerar qualquer fruto para
Deus (Is 64.6). Todo fruto da carne é fruto podre. Paulo era um homem de alta
posição social e com muitos recursos intelectuais, mas renunciou a tudo isso
para poder “andar no espírito” (Fp 3.4-8). O tratamento para a carne é a cruz
(Gl 2.20, 5.24). Somente a cruz é suficientemente poderosa para expulsar
aquele “reizinho” carnal do seu pequeno palácio e entronizar Cristo em seu
lugar!

O “mecanismo da carne”
Já vimos que a natureza carnal (alma + corpo afetados pela queda
adâmica) continua latente em nós, mesmo após a conversão. Ainda que a
carne tenha sido enviada à cruz e esteja mortificada pelo espírito, ela sempre
estará pronta a “ressurgir”. De fato, dos três inimigos que temos (Satanás, o
mundo e a carne), a carne é o mais poderoso, pois nossa própria
concupiscência pode nos levar a pecar (Tg 1.14-15). Usando como referência
2Sm 11, veja como funcionam os quatro passos do “mecanismo carnal”:
Os sentidos trazem uma informação externa, normalmente através da
visão (“… viu do terraço a uma mulher…”).
A informação desperta um instinto (“…que se estava banhando…”).
Nesse exemplo, a nudez despertou o instinto sexual. Até aqui, “tudo bem”: Davi
poderia ter simplesmente desviado os olhos e bloqueado qualquer pensamento
impuro (que tal pegar a harpa e entoar um belo salmo?)
A mente carnal processa os dados e os transforma em desejo ou
tentação (“… e era esta mulher mui formosa à vista…”). As coisas começam a
se complicar… Mas Davi ainda tinha todas as condições para resistir à
tentação (1Co 10.13), pois sendo ele “um homem segundo o coração de Deus”,
o Espírito Santo certamente falou em sua consciência, procurando impedi-lo de
pecar. Entretanto, nesse momento tudo dependia da decisão que Davi tomaria
em sua alma.
A concupiscência da carne aceita a tentação e a transforma em intenção
do coração, que já é pecado (“e perguntou, …e enviou mensageiros, …e
a mandou trazer, …”). A decisão foi tomada no coração; o pecado já havia sido
concebido, antes mesmo de deitar-se com aquela mulher.

Como evitar o pecado, e o que fazer se cairmos


Como antídoto para o mecanismo da carne, precisamos estar alertas e
sensíveis ao alarma que o Espírito Santo vai disparar em nossa consciência,
quando chegarmos ao “passo 3” explicado acima. Precisamos, então, bloquear
o pecado na fonte. Isso implica dois movimentos:
a) Com firmeza e serenidade, interromper e rejeitar o pensamento pecaminoso,
não deixando que sejam desenvolvidas imagens impuras em nossa mente, e
b) Imediatamente, voltar-se para Deus, no espírito, orando e refugiando-se no
Senhor, suplicando-Lhe que não nos deixe cair em tentação.
Quanto mais atrasarmos estes dois movimentos, mais a mente carnal
vai ganhando espaço, e o nível de tentação aumentará, ficando mais difícil
resistir. Mas se praticarmos isso já no primeiro olhar, primeiro pensamento ou
primeira imagem mental, será muito mais fácil encontrar graça para continuar
caminhando em santidade diante do Senhor. Instantes depois, constataremos
que a tentação foi vencida, e que nosso coração e mente continuam
puros.  Portanto, devemos ser absolutos em obedecer a nossa consciência:
sempre que ela recusar algo, devemos parar imediatamente!
Porque “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).
O pecado entristece o Espírito Santo, ofende o Pai Celestial e trai o
Senhor Jesus. O pecado anestesia o espírito e embrutece a alma. E se alguém
se “acostuma” com ele, poderá se desviar dos caminhos do Senhor e
lentamente iniciar um perigoso processo de apostasia pessoal. Ou então,
poderá tentar manter uma aparência de santidade, passando a viver uma
religiosidade hipócrita que causa náuseas a Deus (Mt 23.13-33).
Mas se eventualmente cairmos em pecado, devemos atender ao apelo
de arrependimento que o Espírito Santo gerará em nosso espírito, confessando
imediatamente o pecado a Deus e confiando no perdão que a Sua Palavra
garante (1Jo 1.9). A partir daí, não devemos aceitar qualquer acusação do
inimigo em nossa mente, pois Deus já nos perdoou o pecado e não se lembra
mais dele (Jr 31.34; Hb 8.12, 10.17). E mesmo que sejamos infiéis por um
algum tempo, e um certo tipo de pecado se torne repetitivo em nossa vida,
ainda assim podemos confiar que Deus jamais desiste de nós (Is 49.15; 2Tm
2.13; Jo 6.37). Nesse caso devemos buscar ajuda de um irmão confiável (seu
líder, discipulador ou pastor), crendo na promessa de que “se confessarmos os
nossos pecados uns aos outros, seremos curados” (Tg 5.16).

Entendendo a ação do inimigo


O objetivo do inimigo é destruir a criação máxima de Deus: você, ovelha
do Senhor! (Jo 10.10a). Para atingir tal objetivo, sua estratégia é o engano,
induzindo o homem a pecar (2Co 11.3, 2Jo 1.7). E para concretizar essa
estratégia ele faz uso de duas táticas: a) ataques diretos à mente, e b) ataques
indiretos usando funções do corpo (para “acelerar” o mecanismo da carne
exposto anteriormente). Satanás conhece esse mecanismo muito bem (até
mais do que o próprio crente desavisado) e procura “dar um empurrãozinho”
para que caiamos nesse laço:
A tática de ataque do inimigo, usando funções do nosso corpo. Gn 3.6
ilustra bem a tática de Satanás usar o “mecanismo da carne”:
 Chamar a atenção, pelos sentidos. “A mulher viu que a árvore era
bonita…”.
 Despertar um instinto. “… e que suas frutas eram boas de se comer”.
 Produzir um desejo (tentação). “E ela pensou como seria bom ter
entendimento.”
 Concretizar uma intenção (pecado). “Aí apanhou uma fruta e comeu; …”
Para evitar essa armadilha, o corpo deve ser disciplinado, isto é, submetido
à vontade da alma, a qual, por sua vez, deve ser transformada pelo Espírito, de
modo a não dar ocasião à carne.

Disciplinando o corpo
Disciplinar o corpo envolve três “frentes de batalha”:
 Vigiar para que os instintos do corpo não sejam usados pela
carne e pelo inimigo para nos levar ao pecado: (Sl 101.3a, Rm
6.13). Precisamos estar atentos a todo instante sobre o que o que
é que estamos fazendo com o nosso corpo, especialmente sobre
o quê fixamos os nossos olhos (Mt 6.22-23), discernindo se isso
traz luz ou trevas para dentro de nós. Por exemplo, se um homem
deixar seus olhos se fixarem sobre uma mulher que se veste
sensualmente, isso certamente será uma brecha para que a
mente comece a desenvolver pensamentos impuros e formar
imagens obscenas. O mesmo pode acontecer vendo televisão,
assistindo a um filme, lendo uma revista, vendo um “outdoor” na
rua, acessando a Internet, etc.

 Manter o corpo em boas condições de saúde: Por ignorância da


Palavra, no meio cristão é popular o conceito equivocado de que
a “carne” (referindo-se ao corpo) para nada serve. Isso leva a um
completo desleixo em relação ao corpo, frequentemente
envolvendo o consumo excessivo de alimentos e a falta de
exercícios físicos, com toda uma série de consequências
negativas para a saúde. Mas o fato de que o nosso corpo é
templo do Espírito Santo e que precisamos dele para poder servir
a Deus já deveriam ser motivos mais do que suficientes para
cuidar da nossa saúde com zelo, alimentando-nos de maneira
sadia e fazendo algum tipo de atividade física ou esporte
regularmente.

 Submeter o corpo no serviço ao Reino de Deus: Isso requer força


de vontade, ou seja, o domínio da alma sobre o corpo, sob a
direção do espírito. Implica a prática de disciplinas espirituais,
entre as quais as mais importantes são o devocional diário
(oração e leitura da Palavra) e o jejum. Tais disciplinas, além de
mortificarem a natureza carnal, também fortalecem o espírito. E
então teremos poder espiritual para nos dedicarmos com afinco
em servir a Deus e ao próximo. Mas também devemos evitar o
extremo oposto, caindo no ativismo religioso a ponto de prejudicar
a saúde.
Cabe aqui uma nota importante: a disciplina do corpo (incluindo o jejum)
não é algo que fazemos para Deus! Não é para adquirirmos bênçãos de Deus
e muito menos para sermos aceitos por Ele (isso seria legalismo ou ascetismo).
Qualquer tentativa legalista de usar o sacrifício físico para obter de Deus graça
ou justificação não é apenas inútil, como também herético. O legalismo anula a
graça de Deus (Gl 5.4).
Para quê, então, devemos disciplinar o corpo? O corpo deve ser
disciplinado primeiramente para nós mesmos, de modo a melhor servirmos a
Deus, apresentando-Lhe nosso corpo de maneira santa (Rm 12.1), e em
segundo lugar para os outros, de modo a servirmos de exemplo e
engrandecermos a Cristo em nosso corpo (Fp 1.20). Mas como já
mencionamos, o pré-requisito para disciplinar o corpo é ter uma alma
transformada.

A absoluta necessidade de transformação da alma


Recapitulemos alguns princípios sobre frutificação espiritual:
Somente o espírito pode gerar vida espiritual (2Co 3.6b).
O espírito não se manifesta independentemente, mas somente através
da alma.
A alma não se manifesta independentemente, mas somente através do
corpo.
Portanto, se a alma não estiver transformada, quebrantada e submetida
ao espírito, jamais poderemos produzir verdadeiros frutos espirituais. Não será
possível trazer uma pregação ungida, com revelação da Palavra de acordo
com a necessidade de quem nos ouve; não poderemos salvar e transformar
vidas, ministrando e tocando o espírito das pessoas ao nosso redor; não
haverá manifestação de poder espiritual, para glória de Deus e edificação da
igreja. Ser um crente espiritual é operar nos outros a vontade de Deus, através
de uma alma quebrantada e submissa à direção do espírito, e de um corpo
submisso à disciplina da alma.

O cristão como santuário de Deus


Em 1Co 3 Paulo chama a atenção da igreja para a realidade de que
cada um de nós é santuário de Deus (e que, portanto, não deveríamos nos
distrair em discussões carnais sobre a que homem seguimos): “será que vocês
ainda não sabem que são santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita
dentro de vocês?” (1Co 3.16). De fato, existe um paralelo maravilhoso entre o
santuário do Tabernáculo e o nosso ser. Como introdução a este estudo, leia
Ex 25.40.16-30 (disposição do tabernáculo) e 2Co 5.1,4; 2Pe 1.13.14 (o corpo
do cristão comparado ao tabernáculo).
Nosso espírito equivale ao Lugar Santíssimo, onde se manifesta a
presença de Deus (Ex 25.10-22) e onde Deus ministra ao sacerdote (ou seja:
você, que é sacerdote real segundo a Palavra de Deus). Nossa alma
corresponde ao Lugar Santo, e é onde o sacerdote ministra a Deus. Nosso
corpo equivale ao Átrio (pátio), e é onde o sacerdote ministra diante da
congregação. A tabela seguinte revela mais detalhes importantes. Medite sobre
eles e procure aplicá-los à sua vida como discípulo de Cristo!

O TABERNÁCULO O CRISTÃO

Cada componente tinha o seu lugar determinado


por Deus, tudo tinha que estar em ordem, tudo A vida do cristão tem que estar em ordem,
era feito segundo a ordem estabelecida por Deus segundo a vontade de Deus

Em nós habita o Espírito de Cristo (Rm 8.11, Tg


No tabernáculo, Deus habitava (Ex 25.8) 4.5, Cl 1.27)

No tabernáculo não podia entrar nada imundo O cristão deve se afastar de todo tipo de
(ritual da expiação) impureza (2Co 6.17; 1Pe 1.16)

A porta do tabernáculo estava voltada para o O cristão deve estar voltado para Cristo, o sol da
oriente, onde nasce o Sol nossa justiça

O tabernáculo era movido ou ficava parado, de


acordo com o movimento ou repouso da nuvem O cristão é movido pelo Espírito (Jo 3.8);
(Nm 9.15-23) andamos por fé, e não por vista

Vários componentes eram feitos de acácia Somos frágeis, porém  revestidos de Cristo (Gl
revestida com ouro 3.27)

No Lugar Santíssimo (arca): Em nosso espírito:a. Temos a lei escrita nas


a. Tábuas da lei tábuas do coração (2Co 3.3)
b. Recebemos alimento e poder espiritual (Ef
b. Maná do céu, que sustentou o povo na sua 3.16)
caminhada
c. Somos filhos e sacerdotes  eleitos de Deus
O TABERNÁCULO O CRISTÃO

(Rm 8.16; 1Pe 2.9; Ap 1.6)


c. Vara de Arão, sacerdote eleito de Deus
d. De nosso espírito provém a verdadeira
d. Querubins simbolizavam a adoração a Deus adoração a Deus (Jo 4.23)

e. Da arca saía a nuvem de glória que se estendia e. De nosso espírito sai a glória de Deus, que
sobre todo o tabernáculo, manifestando a abrange nossa alma e corpo e manifestando a
presença de Deus ao povo luz de Deus ao mundo (Mt 5.14)

Em nossa alma:a. Cristo, a nossa Luz, ilumina


nosso entendimento e nos livra das trevas
No Lugar Santo: espirituais (2Co 4.6)
a. A luz do candelabro iluminava todo o interior, b. Cristo, o pão da vida, nos alimenta e nos
continuamente sustenta (Jo 6.51); a Palavra de Deus é alimento
diário para o cristão (Dt 8.3; Mt 4.4)
b. Os pães da proposição alimentavam os
sacerdotes c. Cristo, nosso Intercessor, nos ajuda em
nossas orações diárias no entendimento (Rm
c. Do altar do incenso saía continuamente o 8.34); nossa oração diária sobre como incenso à
aroma agradável a Deus presença de Deus (Sl 141.2; Ap 5.8; 8.3-4)

No átrio (pátio):
a. No altar eram oferecidos os sacrifícios
Em nosso corpo:a. Oferecemos nossos corpos
b. Na pia o sacerdote era purificado com água, como sacrifício vivo ao Senhor (Rm 12.1)
antes de cobrir-se com as vestes santas e poder b. Recebemos a Palavra de Deus, somos
entrar no Lugar Santo para comer a carne e o pão purificados (Jo 15.3) e santificados por ela (Jo
da oferta, e ministrar diante de Deus e da 17.17), podendo então manter nossa comunhão
congregação (Lv 7.6, 22.6) com Deus e com os irmãos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Igreja Videira Goiânia, “Curso de Maturidade no Espírito”, Vol. I, 10a.
edição; Editora Vinha  (www.igrejavideira.com)
[2] Igreja Videira Goiânia, “Curso de Maturidade no Espírito”, Vol. II, 10a.
edição; Editora Vinha  (www.igrejavideira.com)
[3] Pr. Aluizio A. Silva, “Curso de Consolidação”, Editora Videira
[4] Ralph Mahoney, “O Cajado do Pastor”, World MAP (www.world-map.com)
[5] Watchman Nee, “La Liberación del Espíritu”.
[6] Watchman Nee, “O Homem Espiritual”, Vol. 1.
[7] Frank Viola, “From Eternity to Here” (Da Eternidade Até Aqui), Editora David
C. Cook, 2009.
[8] https://jesuscristoemnos.org/cursos-formacao-de-discipulos-de- cristo/
conquistando-a-maturidade/cm-01-espirito-alma-e-corpo/

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