Resumo
O estudo teve como objetivo promover a sensibilização dos educadores que trabalham com
alunos que necessitam de atendimento educacional especializado e com dificuldades de
aprendizagem, para que possam adquirir incentivo, autonomia e formação pedagógica
adequada. Frente as grandes mudanças que ocorrem no mundo, sabe-se que a educação é a
única maneira de transformação social, difundindo os conhecimentos culturais constituídos,
transformando e reconstruindo-os. De certa forma comprometida com a formação do cidadão
crítico, participativo, dinâmico e criativo, para que este possa responder adequadamente as
situações advindas desta sociedade em constante movimento. Diante desta perspectiva é
urgente a universalização do atendimento educacional com igualdade. O movimento de
inclusão busca incluir todos os alunos. Porém, é necessário transformações no sistema
educacional e nos profissionais de modo geral que lidam diretamente com esses alunos. A
formação continuada destes profissionais da educação é fundamental para o sucesso desse
desafio: “Escola para Todos”.
1 INTRODUÇÂO
Este trabalho busca responder se a proposta de Educação para Todos definida em Jomtien –
Tailândia está no plano do discurso demagógico ou contribui para efetivar a prática de
educação inclusiva no Brasil. Nesse sentido EDUCAÇÃO INCLUSIVA: PERSPECTIVA DE
INCLUSÃO, nasce de uma inquietação em compreender todo o movimento de expansão e
reforma em torno da educação INCLUSIVA. Elaborar metas com a finalidade de garantir uma
“educação básica de qualidade” para crianças, jovens e adultos foi um compromisso assumido
por 155 países, a Organização das Nações Unidas para a Educação – UNESCO, o Fundo das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNICEF, o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, e o Banco Mundial, sendo este o maior
patrocinador.
É bem verdade, que mudanças educacionais são essenciais à implantação de
propostas que visem à justiça social, fazendo valer a eqüidade, mas algumas vezes, novos
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Pós graduanda no curso Lato Sensu em Coordenação Pedagógica, Pedagoga, Pós-graduada em Orientação
Educacional, Gestão Escolar e Coordenadora Pedagógica da Escola Municipal Professora Adélia Aguiar
Barbosa.
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problemas surgem como resultado das novas soluções. Com base nessas afirmações, analisar
as contribuições da proposta de Educação para Todos verificando sua legitimidade na prática
educativa, é um importante recurso de compreensão. Para tal, é necessário estudar as
estratégias definidas, referenciar os interesses das políticas educativas e caracterizar esta
proposta para responder à inquietude.
Nesse contexto, surge a hipótese que a massificação e a padronização das
informações para a aprendizagem, defendidas pelas políticas educacionais, marginalizam os
alunos que apresentam diversidades individuais. Certamente a sociedade é muito excludente,
entretanto, as políticas educacionais têm a missão de socializar as futuras gerações para que se
insiram na sociedade numa perspectiva de transformação. Assim sendo, os termos deste
trabalho estão na área das políticas públicas que abrange e gerencia todos os aspectos
políticos e administrativos da educação.
A educação inclusiva surge como perspectiva de uma Escola para Todos, sendo
assim, necessário se faz abordar sobre algumas considerações iniciais; o respeito à
diversidade; necessidades educacionais especiais e deficiências e os princípios legais no
processo de inclusão.
Em continuidade, são apresentadas as estratégias definidas em Jomtien -
Tailândia com uma interpretação reflexiva, no sentido de verificar sua veracidade na proposta
de educação inclusiva, sendo este um recurso imprescindível para replicar a problematização
levantada no início da pesquisa. Essas observações foram analisadas na prática na Escola
Municipal Professora Adélia Aguiar Barbosa e através de pesquisa bibliográfica como
subsídio de compreensão aos questionamentos destacados. Sendo que o objetivo principal foi
dar subsidio a ação do professor na sua formação por meio da compreensão do processo de
desenvolvimento humano inerente a atividade educativa para que possa identificar os alunos
que necessitam de atendimento especializado. Durante o processo de pesquisa e análise sobre
a necessidade de elaborar um Projeto embasado na Inclusão e na forma como os alunos estão
sendo atendidos no Ensino Regular, realizamos pesquisa, leitura, reflexão e formação para os
professores como forma de melhor estruturar a prática pedagógica e dessa maneira oferecer
mais qualidade de ensino aos alunos. Nesse sentido, se reconhece explícita ou implicitamente,
por ação ou omissão, que a igualdade, os direitos e a justiça social são meros artifícios
discursivos em uma sociedade, na qual, ainda não há lugar para todos. De um lado, existem as
leis que outorgam o direito de uma escola para todos, em contrapartida a sociedade, que é
altamente excludente, atribui direito à educação para poucos. Essas considerações nos
remetem a SAVIANI numa abordagem sobre as leis, dizendo: “Com a qual ou sem a qual
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tudo fica tal e qual”. Esta afirmação nos faz perceber que a lei por si só não estabelece o
direito. Acreditamos que com mudanças nas atitudes, na prática pedagógica, no atendimento
diferenciado a esses alunos com necessidades Especiais na Sala de Recursos Multifuncional
poderemos sonhar com mais qualidade de vida dos nossos alunos. A inclusão não é uma
utopia é um sonho, e quando os discursos se concretizarem na prática será um sonho possível!
Considerando os objetivos estabelecidos no projeto de pesquisa, as formações
servirão para que os professores refletissem sobre inclusão e como identificar melhor esse
aluno com dificuldade de aprendizagem ou que necessita de atendimento educacional
especializado. Através da realização do estudo sistematizado os professores e a comunidade
escolar passaram a olhar os alunos e tratar de forma diferenciada, porém sem excluí-los. Foi
realizada uma triagem e atendimento aos que necessitam os professores também estão
trabalhando com atividades para o nível de cada aluno e reforço paralelo com a parceria dos
pais.
Fica claro que, a educação de qualidade para todos é um novo paradigma, de
pensamento e de ação, no sentido de ter como ideal uma sociedade na qual a diversidade seja
mais norma que exceção. O desafio é estender essa proposta a um número cada vez maior de
crianças, escolas e comunidades, com o principal propósito de facilitar e contribuir para a
aprendizagem de todos.
Finalmente, embora seja prioridade máxima incluir todos no processo
educativo, cabe insistir que nenhum avanço ou mudança na educação será possível se não for
abandonada à antiga mentalidade excludente.
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Bem estar social representa um pacto social entre o trabalho e o capital, que remonta às organizações
institucionais do capitalismo do início do século na Europa, especialmente nas origens da social-democracias
escandinavas. (GENTILI, 1995,p.112)
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A desordem neoliberal faz da violência do mercado uma das armas mais certeiras
contra o bem-estar das maiorias. Isto impõe as regras de um implacável processo de
“seleção natural” que, em sua macrovisão reacionária, expressa o grau mais perfeito
de desenvolvimento da espécie humana. (GENTILI, 1995, p. 244)
Nosso desafio deve (não apenas, ainda que fundamentalmente) situar-se também no
terreno da disputa cultural. Devemos projetar e tratar de pôr em prática propostas
políticas coerentes que defendam e ampliem o direito a uma educação pública de
qualidade. Mas também devemos criar novas condições culturais sobre quais tais
propostas adquiram materialidade e sentido para os excluídos que, em nossas
sociedades, são quase todos. Ambos os elementos são fatores indissolúveis em nossa
luta pela reconstrução de uma sociedade fundada nos direitos democráticos, na
igualdade e na justiça. (GENTILI, 1995,p.250)
A escola não pode continuar ignorando o que acontece ao seu redor nem anulando e
marginalizando as diferenças nos processos pelos quais forma e instrui os alunos. E
muito menos desconhecer aprender implica ser capaz de expressar, dos mais
variados modos, o que sabemos, implica representar o mundo a partir de nossas
origens, de nossos valores e sentimentos. (MANTOAN, 2003, p.17)
Todos iniciam o aprendizado com uma bagagem particular, com suas próprias
crenças e visão do mundo, sua cultura de referência e, em alguns casos, sua própria língua,
diferente da que é utilizada na escola, com condições pessoais diferentes, com interesses e
capacidades distintos. Essa é a bagagem da qual se deve partir, quando se quer progredir na
aprendizagem.
Em primeiro lugar, não podemos mais desenvolver o processo de
aprendizagem a partir do princípio de que o aluno não é o sujeito do conhecimento. Não é
mais possível continuar afirmando que o conhecimento é da escola, do professor, e que este
tem o poder de decidir o que deve ser ensinado, o que é importante ser aprendido, sem se
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Rosa Balanço, educadora que atua junto ao Escritório Regional de Educação para América Latina e Caribe –
Orealc, da Unesco, em Santiago do Chile, e especialista em necessidades educativas especiais.
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levar em consideração o que para o aluno é significativo, o que lhe facilitará resolver as
situações desafiadoras que a vida constantemente lhe coloca, o que poderá ser útil para a sua
libertação.
As diferenças são inerentes aos seres humanos e, na diferença ou na
diversidade, não estão somente às minorias ou as crianças com deficiências, pois somos todos
diferentes e existem muitas diferenças individuais. Nesse sentido, Ferreira e Guimarães,
destacam que:
Percebe-se que a sociedade está se tornando mais complexa a cada dia, pois a
diversidade aumenta de forma acelerada. Com isso, a forma de compreender o mundo e os
próprios semelhantes tem mudado imperceptivelmente. Com estas mudanças nasce um novo
paradigma: “viver a igualdade na diferença”, “integrar na diversidade”, onde se faz
importante refletir sobre as concepções de educação, de escola e sujeito.
A escola como produtora de igualdades preza pela homogeneidade e, com isto,
acentua e produz a desigualdade. Na tentativa de garantir a homogeneidade nas turmas e entre
os alunos, a escola exclui aqueles que se diferenciam. Na tentativa de garantir a promoção da
igualdade, a escola confunde diferenças com desigualdades. Aquelas são inerentes ao humano
enquanto estas são socialmente produzidas. As diferenças enriquecem, ampliam e são
desejáveis porque permitem a identificação / diferenciação, por conseguinte, contribuem para
o crescimento. As desigualdades, ao contrário, produzem inferioridade, porquanto minam o
desenvolvimento das potencialidades humanas pelo fato de implicarem relações de
exploração. Tais observações são confirmadas por Rita Vieira de Figueiredo4 que diz:
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Professora da Universidade Federal do Ceará. Doutora (Phd) em Psicopedagogia pela Université Laval-
Québec.
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Existem algumas necessidades individuais que não podem ser resolvidas pelos
meios que os professores conhecem para dar reposta às diferenças, pois requerem uma série
de recursos e apoios de caráter especializado. O mesmo acontecerá com as necessidades
educacionais especiais, que requerem que se dê ao aluno uma série de meios de acesso ao
currículo. Uma criança com deficiência visual não teria problemas para aprender matemática,
linguagem, ciências, se lhe fosse ensinado o Braille e lhe fossem proporcionados materiais
específicos, pois estes meios de acesso lhe abrem a porta para progredir no currículo escolar.
Em contrapartida, existem algumas necessidades que requerem modificações no próprio
currículo, pois existem pessoas que necessitam de mais tempo para aprender determinados
objetivos e conteúdos. Nestas condições, MANTOAN diz que:
Por tudo isso, a inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, pois não
atinge apenas alunos com deficiência e os que apresentam dificuldades de aprender,
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mas todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. Os
alunos com deficiência constituem uma grande preocupação para os educadores
inclusivos. Todos sabem, porém, que a maioria dos que fracassam na escola são
alunos que não vêm do ensino especial, mas que possivelmente acabarão nele!
(MANTOAN, 2003, p.24)
Nasce um novo milênio e com ele a percepção de que se faz necessário renovar
a escola, renovar os educadores, enfim, renovar o sistema educacional. Desta forma, haverá
eqüidade para todas as pessoas, que até então estavam à margem da sociedade, pagando o
preço por serem diferentes.
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Situação da educação básica no mundo em 1990: Mais de 100 milhões de crianças – 60 milhões delas, meninas
– sem acesso à escola primária; Mais de 960 milhões de adultos – dois terços deles, mulheres – analfabetos, e um
número sem estimativa, mas sem dúvida crescente de analfabetos funcionais (pessoas que dizem saber ler e
escrever, mas cujo manejo da língua escrita é insuficiente para utilizá-la com sentido na vida diária); Mais de um
terço de adultos do mundo à margem das informações e dos conhecimentos elementares necessários para
melhorar sua vida e a de seus familiares; Mais de 100 milhões de crianças e incontáveis adultos não conseguem
completar a escola primária, e um número indeterminado – mas com certeza alto – consegue concluí-la, mesmo
sem ter adquirido os conhecimentos básicos que a escola deve garantir. (Plano Decenal de Educação para Todos)
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essas observações nortearam a elaboração de estratégias para que se tentasse estabelecer uma
educação inclusiva.
Este pode ser visto ou entendido em três aspectos diferentes: como algo que
vem sendo feito nas instituições escolares; necessidade de aumentar a quantidade de
conteúdos, horas de aulas, provas ou acreditar que tudo que é ensinado é aprendido. Ou, pode
se entender que concentrar a atenção na aprendizagem implica em mudanças profundas,
colocando o aluno no centro, mudando as formas de avaliação e mostrando aos pais e
sociedade, através de resultados efetivos, os efeitos que a aprendizagem genuína pode
ocasionar.
continuada dos docentes, pois esta é condição de viabilidade e eficácia de qualquer tentativa
de avanço e mudança em educação. Todas estas afirmações visam mostrar que sem mudanças
significativas, tanto na concepção do ensino quanto na prática do mesmo, não há benfeitorias
nos resultados da aprendizagem nas instituições escolares.
Tanto pode ser visto de maneira simplista, quando recorre aos meios de
comunicação de massa para auxiliar a instituição escolar. Ou, este ampliar está relacionado
com a diversificação tanto de espaços quanto de modalidades e meios de ensinar e aprender,
recusando o modelo único e homogêneo, rompendo com o isolamento da educação às outras
esferas igualmente básicas, tais como: economia, trabalho, saúde, nutrição, meio ambiente,
etc. Facilmente se presume que deve haver um esforço conjunto para a efetivação de uma
educação básica que consiga satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. Os sócios
internacionais acreditam poder impulsionar a proposta de Educação para Todos a partir do
desenvolvimento das tecnologias. Assim fazendo, possibilitam a informação e comunicação,
fundamentais na satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, tanto do nível escolar
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como extra-escolar. Mais uma vez, estes recursos ainda não foram colocados a serviço da
Educação para Todos, pelo menos não com a intensidade e expressão prevista em Jomtien.
Desse modo, a “visão ampliada” ficou, em grande parte, na formulação e no
papel, onde se vigora a ideologia educativa convencional que associa educação a educação
escolar e aprendizagem à escola, resistindo outras educações e outros âmbitos de
aprendizagem que atuam fora das salas de aula e do sistema escolar formal. Estes impedem as
interconexões família-escola, comunidade-escola, meios de comunicação-escola, negando a
complementaridade entre educação formal, não-formal e informal e estratégias articuladas
necessárias para o desenvolvimento e a transformação da própria educação escolar.
É fora de dúvida que a Educação para Todos avançou significativamente por
reconhecer que todos – crianças, jovens e adultos – têm necessidades básicas de
aprendizagem para resolver, e que estas se interligam sob o conceito de educação básica, tanto
a educação de crianças como a de adultos, tanto a educação formal como a informal. No
entanto, tudo isto se reduziu ostensivamente à infância, nem sequer a todos eles, mas
preferencialmente aos desfavorecidos e desamparados dando ênfase ao ideário compensatório
de educação, que estiveram no auge na década de 90.
Não se pode mais esperar que as respostas a estes problemas venham de fora,
ou seja, dos sistemas educacionais, das organizações e organismos internacionais e dos
bancos financiadores de projetos. Antes é preciso redefinir os planos para que haja uma
educação voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos, que reconhece e
valoriza as diferenças para fazer valer a eqüidade. A inclusão é comparada por Marsha Forest,
citada por MANTOAN (2003), pelo caleidoscópio educacional, pois enquanto este objeto
necessita de todas as peças que o compõe para apresentar desenhos bem complexos e
variados, as crianças precisam de um ambiente rico e variado para que seu aprendizado se
estabeleça. Só a diversidade pode proporcionar um ambiente assim, e para tanto, necessário se
faz incluir os excluídos.
É preciso deixar de pensar a educação numa perspectiva simplista e
reducionista, para compreendê-la de forma complexa e abrangente, possibilitando a todos o
direito que tem sido gozado por poucos.
4 CONCLUSÃO
adquirido com as formações e palestras propostas com o estudo deste tema, pela Coordenação
Pedagógica desta Unidade Escolar.
A Coordenação Pedagógica observa que o desenvolvimento das atividades
após as ações do Projeto desencadeou uma série de atitudes que visam à melhoria da educação
dos alunos e principalmente foi de encontro com as necessidades dos educadores desta
Unidade Escolar.
O que se pode presumir é que o processo de inclusão não ocorre de uma hora
para outra, nem se estabelece por meio de decreto ou formulação de propostas unicamente.
Somente a partir de um trabalho conjunto de todos: governo, comunidade e família haverá
uma Educação para Todos, pois onde a conscientização ocorre com certeza à realidade
acontece mais rápido. A inclusão não é uma utopia é um sonho, e quando os discursos se
concretizarem na prática será um sonho possível!
REFERÊNCIAS
______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Lei Nº. 9394 de 20/12/96.
MANTOAN, Maria Teresa Égler. INCLUSÃO ESCOLAR: O que é? Por quê? Como se
faz? São Paulo: Ed. Moderna, 2003.
PLANO Decenal de Educação para Todos. Declaração Mundial sobre Educação para
Todos.
TORRES, Rosa Maria. Educação para Todos: a tarefa por fazer. Porto Alegre: ARTMED
Editora, 2001.