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Sempre que acabamos de escrever um texto narrativo, lá vem a mesma pergunta nos
atormentando: será que ficou bom? Ao recebermos de volta nossa redação corrigida,
vemos que falhamos em alguns aspectos, que poderíamos evitar alguns erros. Este artigo
foi escrito pensando nisso: como evitar os "pecados" mais freqüentes da narrativa? Pois
bem, vamos dividir os tais "pecados" em dez tipos mais freqüentes e tentar não cometê-
los.
Você sabe muito bem que as palavras funcionam como matéria-prima para a construção
de qualquer texto. No entanto, elas também são como uma faca de dois gumes, fique
atento.
Um defeito que um bom texto jamais deverá apresentar é a repetição de palavras sem fins
estilísticos. Claro que não estamos falando de repetições intencionais como as anáforas,
por exemplo, mas daquele tipo que desgasta a narrativa e empobrece, inclusive, seus
significados. Veja o exemplo:
"A menina esteve sentada ali durante toda a tarde. Coitada da menina, não sabia que a
consulta duraria tanto e que sua mãe ficaria, então, preocupada. A menina pediu para
telefonar e falou com a mãe, explicando-lhe a demora."
Dica: procure substituir os nomes por pronomes quando perceber que você repetiu muito
a mesma palavra.
2. Uso de clichês
"lindo dia de sol", "abraço cheio de emoção", "beijo doce", "ao pôr-do-sol", "faces rosadas",
"inocente criança", "Num belo domingo de Primavera...", "família unida", "uma grande
salva de palmas", "paixão intensa".
Estes são apenas alguns exemplos, claro. E depende da sensibilidade de cada um para
captar os desgastes que as palavras e expressões possuem.
Outro aspecto também muito desgastante: levando-se em conta que uma narrativa é uma
sucessão de acontecimentos que ocorrem em tempo e espaço determinados, que
envolvem ações feitas e recebidas pelas personagens, é interessante que jamais
percamos a coerência interna.
Precisamos ter atenção na construção do texto narrativo, a fim de que ele, que é como se
fosse um tapete num tear, não perca suas qualidades de completude. Deixar pelo caminho
situações mal desenvolvidas, circunstâncias mal nomeadas ou esclarecidas dão sempre a
idéia de desatenção, pressa ou falta de cuidado com a tessitura do texto. Ele deve sempre
parecer um todo verossímil, capaz de convencer quem o leia. Imitação da vida ou ultra-
realidade, o texto não pode, a não ser por escolha do autor, como estilo, parecer frágil em
alguns aspectos, sem resistência de continuidade.
Mesmo que o tempo seja "cortado" e nele se insiram os flashback, não permita que ele se
fragmente e esses fragmentos esgarcem a compreensão do que você imprimiu à sua
história.
Uma personagem, sobretudo a protagonista, deve ter traços fortes, típicos, particulares. Se
você criá-las sem características específicas, não há como ressaltar- lhe os atos e tomá-
los significativos na seqüência da narração.
Dica: uma boa personagem tem um cacoete qualquer; uma cor de olhos, tiques, manias,
gestos (passar a mão no cabelo, estalar os dedos ou balançar a cabeça de um lado para o
outro.)
Outro problema que é muito complicado para quem escreve é a caracterização do espaço
onde ocorrem as ações. Muitas vezes, ele sequer existe, como no trecho abaixo:
"Enquanto lá fora chovia intensamente, as crianças pulavam aos berros sobre o sofá da
sala."
Quando o corretor lê isso, sem mais nenhuma indicação posterior, o que pode imaginar é
um sofá no meio do nada e três crianças pulando sobre ele... uma janela dependurada e lá
fora a chuva intensa...
Dica: não seja excessivamente minucioso, aborde aspectos. Por exemplo: numa narrativa
de terror ou suspense, em que uma determinada cena vai se desenvolver no sótão ; ou no
porão, é imprescindível que você, em dado momento, indique - e descreva - os caminhos
que conduzem a tais lugares.
6. Uso reiterado de adjetivos
Diga a verdade: você agüentaria ler o resto? É evidente que, ao descrever uma
personagem ou o ambiente em que ela se encontra, precisaremos da ajuda de adjetivos;
mas saiba priorizá-los no uso, evitando abundância desnecessária.
Uso ampliado de adjetivos também desgasta (como no exemplo acima) o texto, banaliza-o
e nada acrescenta a ele senão um certo pernosticismo que todos queremos evitar.
7. Escrita circular
Mas convém não ultrapassar 40 ou 50 linhas para que não incorramos num erro muito
significativo: escrever "circularmente", ou seja, repetir, infinitamente repetir, ao redor do
mesmo tema, a mesma história ou argumentos como uma espécie de bêbado que fala
sempre a mesma coisa.
Escrever circularmente é como andar em círculos, sem que possamos sair do lugar,
investindo em algo que é importante para qualquer narrativa: as ações novas que se
encadeiam, a peripécia dos acontecimentos, a seqüência que nos permita um bom fecho.
Dica: antes de começar a escrever, faça um breve roteiro (não é um resumo) sobre como
quer que a história se desenvolva. Ajuda muito e nos auxilia a não nos perdermos em
descaminhos.
Um bom texto narrativo deve seguir esta seqüência: começo, meio e fim? Nem sempre.
Muita gente, quando escreve, imagina que, para ser compreendido, é preciso ser didático.
Errado, pecado mortal.
Não acredite nisso. Uma outra pergunta que se faz muito ao intentar um texto narrativo é
se ele pode terminar em "aberto", ou seja, apenas com a sugestão de fecho, aceitando a
interferência, a interação com o leitor que pode, de acordo com suas vivências e
experiências, "fechá-lo" à sua maneira. Isso é uma boa dica, acredite, para fazer melhor o
seu texto.
Experimente, por exemplo, começá-lo pelo clímax, assim você rompe o lugar comum e
chama mais a atenção do seu corretor, que tal?
9. Esquecendo uma personagem
Antes de começar o seu texto, lembre-se de ler com atenção todas as recomendações do
enunciado e não se esquecer de qualquer recomendação. Sobretudo quando se trata de
criar um determinado tipo de personagem. Se o enunciado pedir a você que crie um
detetive, uma mulher que lê mãos, um homem misterioso de chapéu, tais pedidos,
certamente, fazem parte fundamental do que se pretende da narrativa.
Pior do que isso é começar a narrar e, após citar uma personagem, esquecê-la, deixá-la
de lado, não trazê-la ao fio da história para que se desenvolva plenamente.
Por fim, nada pior que esquecer uma ação exigida pelo enunciado.
Quando ele pede um determinado componente acional,melhor prestar muita atenção e dar
um contorno de relevância a isso. Normalmente, o enunciado destaca o que pede como
imprescindível.
Há duas coisas que dão nota zero na hora de elaborar o texto: fugir do modal, trocá-lo
(pede-se, por exemplo, uma narração e você faz uma dissertação..). A outra é esquecer os
itens do enunciado, descumpri-los ou relegar exigências fundamentais a circunstâncias
secundárias.