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Apre nden do
, . <?s estu~antes, no modo ter de existência, ouvirão_ ~ n -
f ~re_!!__cia, . º~~mdo -~ _p~lavras e ~ompreendendo- sua- estrutura ló-
g~ signi~ ado e, da melhor mane ira possível, anot ar.i~ ª
e~~essao_ num caderno_Ee folhas -destãcáveis - de modo que,
maisT arâe,_possJlD!_memorízar -súás- anota ções e assim. _p_assaJ n~s
~me s ..~co nte ~]ião -se parte
CO]!ye~t~ ~m- _de_seJl_prÓcpt:~
51ste~a. ~ div_!dJI~l.::::4~ -~e1as_, enriquecendo-o e ampli ando~ . ~e
contrano, eles trans fo~a~ as -pal_ãvras õuviaas e~-~ ~ix. o~
.de-::Pensame~tQ,_º~~ as mteiras, que~ eles-armazenam. Estudan
tes e conteudo das conferências pêrmanece1ifesir"anhos UJJl ao
TER E SER NA EXPERIÊNCIA CoTIDIANA 47
Lembrando
Conversando
Lendo
O que dissemos sobre o diálogo vale igualmente para a lei-
tura que é - ou deve ser - um diálogo do autor com o leitor.
Evidentemente, na leitura (como no diálogo ,pessoal), aquele de
"7
52 TER ou SER?
belecida não pela força física, mas por qualidades tais co~oes ª:
periência e "sabedoria". Numa experiência muito bem elabor:~
com macacos, J. M. R. Delgado ( 1967) demonstrou que, se 0
animal dominante, mesmo momentaneamente, perder as qualida-
des que constituem sua competência, perderá sua autoridade.
Autoridade_,_noJI1ooo_s_er ~nda!llenta-s(?_n_ão apenas Jla com-
p_e! ência do indivíduo para preencher certas funções sociais, mas
igualmente,·-tanü5ém, na própria essência de uma personalidade
que atingiu alto grau de aperfeiçoamento e integração. Tais _pes-
so)ls irr.adiam_a_u.torida<J~_ e não têm que dar ord@s·, ameaçar,
subom~r. São indivíduos altamente evoluídos que demonstram
p elo que são - e não pelo que fazem ou dizem - o que os
seres humanos podem ser. ··os grandes Mestres da-Vfda-eram au-
toridades como essa, e emmeóor grau- de -perfeição, indi_víd~os
como esses podem -·ser encontrados em todos os níveis ed~cac~o-
nais e nas mais diversas culturas. ( O problema da. educaça_o gira
em torno dessa questão. Se os pais fossem mais desenvolvidos.. e
permanecessem em seu próprio centro, a oposição entre edu~aça~
autoritária e livre dificilmente existiria. Faltando essa autondad...
no modo ser a criança reage a ela com grande ardor; por
, ou o~tro
, ex- • A •
Fé
Num sentido religioso, político ou pessoal, o conceito de fé
pode ter dois significados inteiramente diferentes, dependendo de
ser tomado no modo ter ou no modo ser.
_A fé, no mcxio ter, é a posse de uma resposta àquilo para
o que nãõ se tem quãlquer prova racional. Ela-consiste de-- Iormü-
1~ criadas por outros, que se aceita -porque se aceita sujeição
a~os - em geral uma burocracia. Ela traz consigo o-senti-
mento de certeza devido ao poder concreto ( ou apenas imagi-
nário) da burocracia. 8 .o bilhete de ingresso Pé\!~ junJ_a~~~ a um
~_gr.a_nde de _pessoa~. ;Éla alivia da árdua_tar.efa_d~ __P-en~r. -
e~omar decisões __P-rópti!s1'-K-pessoa toma-se um dos beati possi-
~os felizes proprietários da verdadeira fé. A fé, no modo
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TER ou SER?
58
defini-
t~r, dá ~ertez~; ela reivi_!ldic! prom~lgar o conhedmentoeles
tivo e mabalavel, que e cnvel devido ao poder daqu
qu~ue
promulgam e protegem a fé parecer inabalável. Na verdade
nc~
não preferiria a certeza, se tudo o ~que ela exige é que se r~nu e
à própria independência? ·
Deus, originariamente símbolo para o mais alto valor que
ter um
podemos experimentar dentro 'de nós, toma-se, no modo
nós
ídolo. No conceito profético, um ídolo é aquela coisa que'
po-
mesmos fabricamos e na qual .projetamos nossos próprios
etemos
deres, e desse modo nos empobrecendo. Depois nos subm
to co-
à nossa criação e por nossa submissão entramos em conta
ter um
nosco mesmos numa forma alienada. Embora eu possa
ele ao
ídolo porque ele é uma coisa, por minha submissão a ele,
ídolo,
mesmo tempo tem a mim. Uma vez que Ele se tomou um
minha
as pretensas qualidades de Deus pouco têm a ver com
adas.
experiência pessoal, como fazem as doutrinas políticas alien
e no
O ídolo pode ser louvado como Senhor de Misericórdia,
, as~im
entanto qualquer crueldade .pode ser cometida em seu nome tar
como a fé alienada na solidariedade humana pode sequer susci
modo
dúvidas sobre a prática dos ·atos mais desumanos. A fé, no
z?,
ter, é uma muleta para aqueles que querem estar na certe
ra-
aqueles que querem uma resposta para a vida sem ousar procu
la por si mesmos. o
/ No modo ser, a fé é um fenômeno to.talmente _diJerente. Acas
ter
podemos viver sera fé? Acaso .não deverá a criança de peito
fé no seio materno? Acaso não devemos ter fé em outro
s se!es,
viver
naqueles a quem amamos e fé em nós mesmos? Podemos
, se!11
sem fé na validez das no~ as para a nossa vida? De fato,
propno
fé tomamo-nos estéreis, desesperançados, temerosos do
nça
núcleo do nosso ser. -
A.lér-D-Q_modo- -ser..,- não é, em primeiro lugar, uma cr~en
~;,á na
em _cei:a~ idéias ( em~r_~___ poss~ també~ ser ~sto), 1J1-ª.utm f' qÜe
taçjQ_mtima, ~ma aJzt,gle. -·$ena prefenvel d1zer-s~-que se
fi_em_vez ?e que_ ~-e 1 tem_U. (A distinção teológica entreu:-~ fé
cre-
da
é. crença [fides ,1:/Jg!jf¼:reditur] e fé como crença [/ideMQ0 co""
. dztu r] reflete uma distinção semelhante entre o -conte - ·ar~- lP
'
.-·- 1
o ou P oeus.
, - - , e do ato de fé.) Pode-se estar em fé consigo mesm
co~egação
( ~ !\-OU-fro s,e a pessoa religiosa pode estar em fé para r 80 a-
O Deus do Velho Testamento é, antes de tudo, ~roa a si
de ídolos, de deuses que podemos ter. Embora concebido ~e
e deve
logia com um rei oriental, o conceito de Deus trans...cen5
mesmo desde o início. Deus não deve ter nome; nao
fazer qualquer imagem de Deus.
,_
.- ·)
~
-
, '
Mais tarde, no drsenvolvimento judaico e cristãÕ, tenta~s·e
conseguir comp!eta desidolatração de Deus, ou antes, lutar contra
o perigo de converter ·Deus em ídolo, postulando-se que nem mes-
mo as qualidades de Deus ,podem ser enunciadas. Ou mais radi-
calmente, no misticismo cristão - desde Dionísio Areopagita
(pseudo Dionísio) até o autor desconhecido de The Cloud of
Unknowing e Mestre Eckhart - o conceito de Deus tende a ser
o de único, o "Espírito " (Aquele que não é coisa), reunindo
assim modos de ver contidos nos Vedas e no pensamento neopla-
tônico. Essa fé em Deus é testemunhada por experiência íntima
das qualidades divinas na pessoa; é um processo de autocriação
contínuo e ativo - ou, -como o diz Mestre Eckhart, de Cristo
eternamente nascendo dentro de nós mesmos .
.L Nossa fé em nós mesmos, em outro, na humanidade, em
nossa capacidade de tornarmo-nos plenamente humanos, também.
implica certeza, mas certeza baseada em nossa própria experiên-
cia, e não em nossa submissão a uma autoridade que dita certa
crença. É certeza de uma verdade que não pode ser demonstrada
por evidência racionalmente obrigante, contudo, verdade de que
estou certo devido à minha evidência vivencial e subjetiva. (A
palavra hebraica para fé é emunah, "certeza"; amen significa "cer-
tamente" .)
Se estou certo da integridade de um homem, não poderia
comprovar sua integridade até seu último dia; estritamente falan-
do, se sua integridade permanece imaculada até a época de sua
morte, mesmo isso não excluiria o ponto de vista positivista de
que ele a podia ter violado se tivesse vivido mais tempo. Minha
certeza repousa no conhecimento em profundidade que eu tenho
de outrem e de minha própria experiência de amor e integridade.
Esta espécie de conhecimento só é possível na medida em que
poS!iO mergulhar em meu próprio ego e perceber o outro homem
tal qual ele é, reconhecer a estrutura de forças nele, vê-lo em
sua individualidade e ao mesmo tempo em sua humanidade uni-
versal. Então sei o que outrem pode fazer, o que não pode,
e o que não fará. Evidentemente, não pretendo com isso dizer
que poderia prever todo o seu comportamento futuro, mas apenas
as linhas -gerais de conduta que estão enraizadas em traços bási-
cos de caráter, tais como a integridade, a responsabilidade, etc.
(Veja-se o capítulo scbre "Fé como um traço do caráter" em
Análise do Homem.
Essa fé baseia-se em fatos; daí ser racional. Mas os fatos
não são identificáveis ou "comprováveis'' pelo método da psico-
)
60 TER ou SER?
Amor_ , .[,, ·_ ~ -, 1 j
1
62 TER ou SER?
soe·
tencial de ambos os cônjuges e, em última análi.se, de sua 1e-
dade . Os defensores d as f orma s mo d ema s, tais como de vi'd
ai d " .uges, sexo grupal, etc.,a
conj unta e casamen to grup , troca e c~nJ
de suas
tanto quanto percebo, tentam apenas evitar o problema
ulos
dificuldades em amar, mediante a cura do tédio com estím ser
que
sempre novos e pela vontade de_ ter mais "aman~es'' do
se da
capazes de amar mesmo que seJa a um só. (VeJa-se análi
capí-
distinção entre estímulos "ativadores'' e "passivadores'' no )•
tulo 10 do meu livro Anatomia da Destrutividade Hum
ana.