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Yo, olha só quem voltou... Eu mesma!

:p Indo diretamente ao assunto, o artigo da vez será


sobre a Era dos Três Reis Celestiais, que também está estritamente ligada à origem do
Taoismo.

Era dos Três Reis Celestiais


Como dito no artigo anterior, sobre Pángǔ, houve uma fase de caos, entre o período celestial e
o inicio da civilização humana, e essa fase de caos é exatamente a Era dos Três Reis Celestiais.
É um tempo que não se tem ao certo o início, mas que leva suas raízes até os tempos atuais,
como é o caso da Era dos Cinco Imperadores Sábios, que vieram após os Três Reis. Os Reis
Celestiais, ou Reis Sagrados, são o Rei do Céu (Tiān Huáng), o Rei da Terra (Dì Huáng) e o Rei da
Humanidade (Rén Huáng). Voltando um pouco aos Imperadores Sábios, rapidamente, cada um
deles representa as cores e as virtudes dos cinco elementos naturais (madeira, fogo, terra,
metal, água). Fú Xī, o Imperador Azul, representa a bondade; Shénnóng, o Imperador
Vermelho, representa a polidez; Huángdí, o Imperador Amarelo, representa a sinceridade;
Shǎo Hào, o Imperador Branco, representa a Justiça; e Zhuānxù, o Imperador Negro,
representa a Sabedoria.

Voltando ao foco principal do artigo, a Era dos Três Reis Celestiais, o mito diz que os Três Reis
se manifestaram na Terra em tempos sucessivos. Todos governaram um continente localizado
no topo de uma montanha chamada Kūnlún¹, lá fundaram dinastias e diversas tradições. A
primeira manifestação ocorreu quando os Cinco Dragões revelaram seus ensinamentos ao
primeiro Rei Celestial, o Rei do Céu. Estes Cinco Dragões são os cinco elementos naturais:
Dragão da Madeira, Dragão do Fogo, Dragão da Terra, Dragão do Metal e Dragão da Água.

Em Kūnlún, o Rei do Céu se dividiu em 12 irmãos além de si mesmo, que formaram 12 tribos
em torno da tribo central; O Rei da Terra em 10, que formaram 10 tribos em torno da tribo
central; e o Rei da Humanidade em 8, que formaram 8 tribos em torno da tribo central. Todos
fundaram tribos, ao todo 33, que por milhões de anos povoaram aquele continente, até
deixarem o local por conta de um desastre natural e chegarem aos locais terrestres em que a
humanidade vive atualmente, e assim fundar todas as raças. É importante dizer que nesse
caminho muitas tribos se perderam, dissolveram-se e se misturaram.

O Rei do Céu corresponde ao número 13, que representa o centro com mais 12: São 12 Ramos
Terrestres – ou 12 qualidades de energia da terra – que trazem o conceito de tempo para o
Universo, simbolizado pelas 12 casas do Zodíaco, com o Sol no centro – ou as 12 horas em que
se divide um relógio, com os ponteiros no centro.

O Rei da Terra corresponde ao número 11, que representa o centro com mais 10: São 10
Troncos Celestiais – ou 10 qualidades de energia do céu – que trazem o conceito de espaço
para o Universo, simbolizado pelos oito pontos cardeais, acrescidos das posições em cima e
embaixo, com um ponto fixo no centro².

Por último, o Rei da Humanidade corresponde ao número 9, que representa o centro com mais
8: São 8 manifestações básicas das qualidades energéticas humanas, que trazem para o
Universo o conceito de multiplicidade da consciência, para unir céu e terra. É simbolizado
pelos 8 trigramas do Yì Jīng³ em torno de um centro vazio, assim como em Luò shū, um
quadrado dividido em 9 partes iguais⁴.

A ideia de diversos Reis, por se dividirem em irmãos encobre conceitos muito ricos, de uma
consciência que a humanidade já não possui mais, onde existe a possibilidade dos seres
pensarem individual ou coletivamente. Se formos pegar um exemplo, existe o estudo da
Astrologia, onde os signos não podem ser interpretados abstraindo-se a imagem do Zodíaco,
apesar de que cada um possa ser lido isoladamente, esse é um exemplo de consciência que
concilia unidade e multiplicidade, dois aspectos numa só abordagem. Por serem formados pelo
Sopro Celestial, os Três Reis – unos e múltiplos – agiam de forma não intencional, seguindo o
conceito do Wú Wéi⁵.

Eles representam três escalas de consciência, o estado de sagração que todo ser humano tem
potencialidade para readquirir, se fizer um trabalho constante de expansão da consciência. Os
três níveis de unidade da consciência – 10 Troncos Celestias em torno de uma só consciência,
12 Ramos Terrestres em torno de uma só consciência e 8 modalidades de energia humana em
torno de uma só consciência – são os arquétipos puros que representam os Reis Celestiais na
hierarquia do Taoismo.

Aliás, na visão ocidental atual, o período dos Três Reis equivale ao conceito de “sociedade
primitiva”, que termina quando se inicia o período dos Cinco Imperadores, com o surgimento
da Tribo de Fú Xī. E é exatamente sobre esse período que falarei no próximo artigo. :D

Notas:
1 – Segundo a Mitologia Chinesa, o paraíso taoísta está localizado nas montanhas Kūnlún.

2 – Os Ramos Terrestres e os Troncos Celestiais são como a imagem do Tài Jí, símbolo da união
das polaridades Yīn e Yáng, em que um ponto com a energia Yīn está contida no Yáng e vice
versa. Representa o Céu e a Terra trocando de posições para gerar as dez mil manifestações.

3 – Yì Jīng, também conhecido como I Ching, é o Livro das Mutações. Trata da teoria da relação
entro o Yīn e Yáng. Os oito trigramas são: céu, terra, trovão, montanha, vento, lago, fogo e
água.

4 – Luò shū (Livro de shū) era uma ilustração geométrica que continha números de 1 a 9,
gravados sobre uma tábua meio-esférica ou sobre o casco de uma tartaruga gigante. De
origem desconhecida, foi encontrado, aproximadamente, no ano de 2.207 a.C., às margens do
Rio Luo (Luò Hé), no norte da China. Posteriormente, foi redesenhado sob a forma de um
grande quadrado dividido em 9 partes iguais, ganhando o nome de Nove Palácios (Jiǔ Gōng).
Foi chamado por Pitágoras de “Quadrado Mágico”, já que a soma dos números de cada coluna,
linha ou diagonal é sempre 15.

5 – Wú Wéi é a ação a partir da não-ação, ou a ação não-intencional. A expressão “Wú Wéi”


tem como tradução literal “não-ação”, mas seu sentido não é de uma ação que deixa de ser
realizada, mas sim de uma ação que se concretiza a partir de um impulso natural, comandado
pela consciência pura, ausente da intenção do ego.

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