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AULA 2: ELLEN G.

WHITE E A INTERPRETAÇÃO PROFÉTICA


Podcast nº 2
Nosso estudo hoje é sobre Ellen G. White e a interpretação profética. Nessa aula, vamos
continuar fazendo a análise do Documento oficial preparado pelo Instituto de Pesquisas Bíblicas
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, como na aula anterior.
Ao ler os escritos da Ellen G. White fica claro que ela usou apenas o método historicista
para a interpretação profética. Só lembrando, que segundo o método historicista, as profecias de
Daniel e Apocalipse cobrem eventos que se estendem desde o tempo dos profetas Daniel e João
até o estabelecimento do reino de Deus, e que dentro desse esquema não existe algo como duplo
cumprimento de profecias, que nós já mencionamos na aula passada, é uma variação daqueles
métodos alternativos jesuítas.
Perceba claramente o enunciado historicista na seguinte citação de Ellen G. White:
“No Apocalipse são representadas as coisas profundas de Deus. [...] Suas verdades são
dirigidas aos que vivem nos últimos dias da história da Terra, como o foram aos que viviam nos
dias de João. Algumas das cenas descritas nesta profecia estão no passado e algumas estão agora
acontecendo; algumas apresentam-nos o fim do grande conflito entre os poderes das trevas e o
Príncipe do Céu e algumas revelam os triunfos e o regozijo dos remidos na Terra renovada. (Atos
dos Apóstolos, 584).
Então, segundo Ellen White, Deus designou que a profecia apocalíptica encontrasse um
cumprimento sequencial no desenrolar da história. Ela diz que (1º) Algumas dessas profecias já
tiveram o seu cumprimento nas eras passadas; (2º) algumas das profecias estão encontrando o seu
cumprimento agora; (3º) algumas focalizam sobre o conflito final na controvérsia e ainda não
tiveram seu cumprimento; finalmente, (4º) algumas porções das profecias relacionam-se ao estado
da nova terra quando, somente então, encontrarão seu cumprimento.
Quando ela diz que “suas verdades são dirigidas aos que vivem nos últimos dias da
história da Terra,” não significa que ela está propondo um duplo cumprimento daquelas porções
das profecias já cumpridas. Isso seria uma distorção da citação. O que ela está mostrando é que o
livro continua relevante porque os cumprimentos de algumas dessas profecias “estão ocorrendo
agora”, e outros em breve encontrarão cumprimento no “fim do grande conflito entre os poderes
das trevas e o Príncipe do Céu”. Ou seja, embora muitas das profecias já tenham se cumprido,
isso não significa que elas deixaram de ser relevantes, pelo contrário, a certeza do cumprimento
profético em tempos passados nos garante que podemos confiar na exatidão profética da Bíblia,
em todos os tempos.
Quando nós lemos o livro o Grande Conflito, Ellen White apresenta ali claras
interpretações, por exemplo, sobre do chifre pequeno (Dan 7); o dragão (Ap 12); a besta
semelhante a leopardo (Ap 13); a besta de dois chifres (Ap 13); os períodos de tempo relacionados
(3 1/2 tempos = 1260 dias = 42 meses = 1260 anos de supremacia papal, 538-1798), entre outros.
(Ver O Grande Conflito, pp. 438-450). E todas essas interpretações estão de acordo com o método
historicista. E, essa foi a posição interpretativa dos nossos pioneiros, e também continua a ser a
posição da Igreja Adventista até os dias de hoje.
Qual é o problema?
Agora, o problema é o seguinte: há adventistas ensinando que nas estrelinhas dos livros
de Ellen G. White, escondido entre suas citações, existe um método oculto de interpretação que
ela teria deixado para ser descoberto no futuro. E, esses pregadores, acreditam que eles foram
iluminados com uma luz especial, e descobriram esse método oculto de interpretação. E aí, eles
utilizam várias citações para tentar provar que Ellen G. White endossou, por exemplo, o método
de duplo cumprimento das profecias de Daniel e Apocalipse. Mas será isso verdade? Vamos
analisar apenas 3 citações que são geralmente usadas pelos falsos ensinadores, como apoio às
suas ideias.
1ª citação:
“O mundo está agitado com o espírito de guerra. As profecias do capítulo onze de Daniel tem
quase alcançado o seu cumprimento final.” (Review and Herald, November 24, 1904, p. 94).

O argumento desses pregadores é dizer que já que ela falou em um “cumprimento final”,
então é porque essas profecias tiveram cumprimentos prévios. Aí querem encontrar aqui a ideia
do duplo ou múltiplo cumprimento para as mesmas profecias. Isso é deturpar o texto.

Não tem nada aqui que apoie um princípio oculto de cumprimento duplo ou múltiplo.
Simplesmente Ellen White está dizendo que a porção final desta longa profecia está prestes a
encontrar seu cumprimento, quando ela fala que Daniel 11 está prestes a ser concluído. Como é
que sabemos disso? Porque ela mesma escreveu cinco anos mais tarde, sobre o mesmo assunto:
“O mundo está agitado com o espírito de guerra. A profecia do capítulo onze de Daniel tem quase
alcançado o seu completo cumprimento.” (Testemunhos Seletos, Vol 5, p. 283).

2ª citação:

“Estamos no limiar de grandes e solenes acontecimentos. Muitas das profecias estão prestes
a se cumprir em rápida sucessão. Cada elemento de energia está prestes a ser posto em ação.
Repetir-se-á a história passada. Antigas controvérsias serão revivescidas, e perigos rodearão de
todos os lados o povo de Deus. [...]. Estudai o Apocalipse em ligação com Daniel; pois a história
se repetirá.” (Testemunhos para Ministros, p. 116).

O argumento usado aqui é dizer que quando a irmã White fala que a história se repetirá,
ela está dando a entender que essa repetição da história exige uma repetição no cumprimento da
profecia em si, ou seja um duplo cumprimento.

Realmente Ellen White usa várias vezes a expressão “a história se repetirá”. Mas em
momento algum ela fala que a profecia se repetirá, percebem? História e profecia são dois
assuntos diferentes, distintos. É um erro dizer que a repetição de uma experiência histórica
significa uma repetição da mesma profecia. Isso é uma distorção.

Ellen White está nos alertando para a imprtância de se estudar o que aconteceu no
passado, porque problemas semelhantes se levantarão de novo, e o povo de Deus terá que
enfrentá-los. Mas, isso não significa que uma profecia que se cumpriu no passado irá se cumprir
novamente.

Por exemplo, Daniel 7:25 e Apocalipse 13:7 são duas profecias que lidam com a
perseguição do povo de Deus durante os 1.260 anos de domínio papal na Europa. Sabemos que a
perseguição contra o povo de Deus será repetida no final da história humana porque outra profecia
o afirma (Ap 13:15-17). Mas esta repetição da perseguição (história repetida) não envolve a
repetição das profecias de Daniel 7:25 e Apocalipse 13:7. Estudar as vidas dos fiéis e as questões
que eles enfrentaram em seus tempos – e como eles as enfrentaram – pode fortalecer-nos para
enfrentar a perseguição em nosso próprio tempo.

3ª citação:
Essa próxima citação é usada como se fosse o argumento decisivo para provar que
Ellen G. White endossou o duplo cumprimento de profecias. Vamos à citação.

“A questão do Sábado será o tema no grande conflito em que todo o mundo terá uma
parte. [Cita o texto de Ap 13:4-8, 10.] Todo este capítulo é uma revelação do que
certamente acontecerá [Cita a passagem de Ap. 13:11, 15-17].” Comentários de Ellen
G. White, The SDA Bible Commentary, vol.7, p. 979 (ênfase acrescentada).

Os falsos ensinadores argumentam que pelo fato de Ellen White ter dito que “Todo este
capítulo é uma revelação do que certamente acontecerá”, isso prova que tanto o poder
papal como também o elemento de tempo de sua supremacia antes de seu ferimento: 42
meses proféticos ou 1260 dias proféticos, se cumprirão novamente.

Parece até lógico. Mas, vamos observar um pequeno detalhe chamado CONTEXTO.

O contexto dessa citação começa em um parágrafo anterior, no qual Ellen White


primeiramente cita Ap 14:9-10, a advertência do terceiro anjo contra a marca da besta e
a sua imagem. Então ela faz uma observação: “É do interesse de todos compreender o
que é a marca da besta, e como poderão escapar das terríveis ameaças de Deus. Por que
os homens não estão interessados em saber o que constitui a marca da besta e sua imagem?
[ênfase acrescentada]. Está em direto contraste com a marca de Deus”. Ela então cita
Êxodo 31:12-17, que declara que o Sábado é o “sinal” ou marca de Deus, assim
implicando que a “marca da besta” é alguma coisa que é justamente o oposto do Sábado.
Ela continua:

“A questão do Sábado será o tema no grande conflito em que todo o mundo terá uma
parte.” [ênfase acrescentada]. Neste ponto ela cita Apocalipse 13:4-8, 10. Esta passagem
provê a informação pela qual é possível identificar a besta: sua origem/poder derivados
do dragão; seu especial domínio por 42 meses proféticos; sua perseguição dos santos
nesse tempo; sua blasfêmia contra o Céu; seu cativeiro; e o fato de que o mundo adorará
e seguirá sua liderança outra vez. Fundamentado nesses dados é possível determinar que
a besta é o poder papal. Isso coloca o leitor em uma posição para identificar a marca e
imagem da besta como ela insistiu para fazer no primeiro parágrafo de sua declaração.

Após citar Apocalipse 13:4-8,10 (provendo a informação para identificar a besta),


Ellen White diz, “Todo este capítulo é uma revelação do que certamente acontecerá.” Ela
então imediatamente cita (à guisa de explicação) Apocalipse 13:11, 15-17. Estes versos
predizem o surgimento da besta de dois chifres (v. 11) e a instituição da imagem da besta
e a imposição da marca da besta sob pena de boicote e morte.

Assim, é bastante claro que quando Ellen White diz, “Todo este capítulo é uma
revelação do que certamente acontecerá”, ela não está dizendo que Apocalipse 13:4-8 e
10 terá um duplo cumprimento. Forçar tal significado é arrancar a declaração de seu
contexto.

Seu tema não é um cumprimento dual de Apocalipse 13:1-10, ou do seu período de


tempo. Em vez disso, seu tema é “a marca da besta” e sua no tempo do fim. Essa é a ideia
chave de ambos os parágrafos desta seleção. O único propósito para citar Apocalipse
13:4-8, 10 é para que o leitor possa identificar a besta. Se ele pode identificar o animal,
ele está em condições de identificar a sua marca que, afirma Ellen White, é exatamente o
oposto do sinal de Deus. Assim, com a besta e a sua marca no lugar, ela aponta para a
previsão profética lidando com a imagem da besta e o caráter impositivo da marca e da
crise que cercam essa questão no futuro.

Além dessas, há outras citações. Mas creio que já deu pra perceber como os falsos
ensinadores se utilizam de citações de Ellen G. White para tentar provar seus pontos de vista.
Ellen White e os Proponentes do Duplo Cumprimento
Você acha que essa ideia de duplo cumprimento profético é nova? Surgiu agora? Não...
Em 1890, Ellen White já alertava contra esses falsos ensinos e seus ensinadores.

No livro Evangelismo, ela escreveu:

“Alguns há que estão investigando as Escrituras em busca de provas de que estas


mensagens estão ainda no futuro. Eles concluem pela veracidade cumulativa das mensagens, mas
deixam de assinalar-lhes o devido lugar na história profética. Portanto, essas pessoas acham-se
em perigo de transviar o povo quanto a localizar as mensagens. Não veem nem entendem o tempo
do fim, nem o tempo a que devem aplicar essas mensagens.” (Evangelismo, pp. 612-613).

E no livro Mensagens Escolhidas, Vol 2, ela diz:

“Não conseguir dormir depois de uma e meia da madrugada. Eu estava levando ao irmão T uma
mensagem que o Senhor me dera para ele. Os pontos de vista particulares que ele mantém são
uma mistura de verdade e de erro. [...] Os grandes sinais demarcadores da verdade, mostrando-
nos a direção na história profética, devem ser cuidadosamente observados, para que não sejam
derribados, e substituídos por teorias que trariam confusão em vez de genuíno esclarecimento.
[...]. / Tem havido uns e outros que, estudando a Bíblia, julgaram descobrir grande luz, e teorias
novas, mas não têm sido corretas. As Escrituras são todas verdade, mas por aplicarem-nas mal,
homens chegam a erradas conclusões. [...] Alguns tomarão a verdade aplicável a seu tempo, e
pô-la-ão no futuro. Acontecimentos na sequência da profecia, que tiveram seu cumprimento no
distante passado, são considerados futuros, e assim, por essas teorias, a fé de alguns é solapada.
/ Segundo a luz que o Senhor houve por bem conceder-me, estais em risco de fazer a mesma obra,
apresentando perante outros verdades que tiveram seu lugar e fizeram sua obra específica para
o tempo, na história da fé do povo de Deus. Reconheceis como verdadeiros esses fatos na história
bíblica, mas os aplicais ao futuro. [...]. / As direções do Senhor foram assinaladas [a nossos
pioneiros], e maravilhosíssimas Suas revelações do que era a verdade. Ponto após ponto foi
estabelecido pelo Senhor Deus do Céu. Aquilo que era verdade então [ênfase da autora], é
verdade hoje. Não cessam, porém, de ouvirem-se as vozes – ‘Isto é verdade. Eu tenho novo
esclarecimento (new light)’. Mas esses novos esclarecimentos (new lights) em sentidos proféticos
são manifestos em aplicar mal a Palavra e levar o povo de Deus ao sabor das ondas sem uma
âncora que os segure.” (Mensagens Escolhidas, 2:101-104).

Conclusão

Portanto, fica claro que Ellen G. White usou e endossou apenas o método historicista para
interpretação de profecias. Ela jamais ensinou métodos ocultos em seus livros. E por fim, ela
repreende aqueles que se julgam possuir nova luz, no esclarecimento profético. Mas, Deus não
pode trazer mais luz? Sim, pode. Mas a luz que Deus revelar para o seu povo, de maneira alguma
irá contrariar a luz anteriormente revelada. Deus não é contraditório.

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