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Kelley Cristine Gonçalves Dias Gasque well as on additional works that complement the topic
Doutora em ciência da informação pela Universidade de Brasília, approached showing its theoretical and methodological
professora adjunta da Universidade Federal de Goiás. evolution. analyses. A crucial difference identified is
E-mail: kelleycristinegasque@hotmail.com related to the conceptual change occurred, showing a
wider epistemological view of the studies. This change,
on the other hand, is referred mainly to the terminology
Sely Maria de Souza Costa
used to define the topic, which is changed from “studies of
Doutora em ciência da informação pela Loughborough University,
users” or “needs and use of information” to informational
professora adjunta da Universidade de Brasília.
behavior of users”. The change, however, is not only
E-mail: selmar@unb.br
terminological but also a paradigmatic change, as a
result of transformation in how the topic is defined and
approached, as well as how the research is carried out.
Resumo
Keywords
Este artigo visa a contribuir para o conhecimento
mais aprofundado sobre estudos de comportamento Information behaviour. User studies. Information needs
informacional de usuários com base em como são and use. Paradigmatic evolution.
tratados na literatura da ciência da informação nas últimas
seis décadas. Para tanto, a análise se fundamenta
nas revisões publicadas no periódico Annual Review
of Information Science and Technology (Arist) e em
outros trabalhos que complementam o tema abordado,
mostrando sua evolução teórica e metodológica. INTRODUÇÃO
Uma diferença crucial está relacionada à mudança
conceitual observada, a qual denota a ampliação da Embora se observe no Brasil, nos últimos anos, a
visão epistemológica dos estudos. Tal mudança refere-
se, especialmente, à nova terminologia adotada, que
emergência de pesquisas intituladas Comportamento
passa de “estudos de usuários” ou “necessidades e uso Infor macional de Usuários, em geral tais
de informação” para “comportamento informacional de investigações ainda são conhecidas como “estudos
usuários”. Trata-se, contudo, não somente de alteração
terminológica, mas, sobretudo, de mudança paradigmática,
de necessidades”, contidos no tópico “estudos de
resultado de transformações no modo como o tópico é usuários”1. Tanto Wilson (2000) como Pettigrew,
definido e abordado, e na forma como é investigado. Fidel e Bruce (2001) entendem o comportamento
informacional como campo oriundo das limitações
Palavras-chave
dos estudos de usuários e, portanto, constituindo
Comportamento informacional. Estudos de usuários. uma evolução desses estudos.
Necessidades e usos da informação. Evolução
paradigmática.
1
Para este estudo, foi realizado levantamento quantitativo dos
termos ‘comportamento informacional’, ‘busca e uso da informa-
Theoretical methodological evolution of the ção’, ‘busca da informação’, ‘uso da informação’, ‘necessidades de
studies of information behavior of users informação’ e ‘estudos de usuários’ no catálogo on-line do IBICT
(Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia), nas
Abstract bases LISA (Library and Information Science Abstracts), ERIC
(Education Resource Information Center) e no buscador Scirus
The objective of this article is to contribute to a deeper com o objetivo de se ter uma primeira visão do assunto. As bus-
understanding of how user information behaviour cas mostram que o termo ‘necessidades de informação’ é o mais
studies have been dealt with in literature on information utilizado. O motivo pode estar relacionado à tradição, uma vez que
science for the last six decades. The analysis is based os primeiros estudos focavam-se nas necessidades dos usuários.
on the reviews published in the journal Annual Review Observa-se, ainda, que o termo ‘comportamento informacional’,
of Information Science and Technology (Arist), as mesmo tendo sido cunhado recentemente, começa a ser empregado
de forma mais intensa.
informação. Mais que isso, identificam-se novas a atenção dos participantes para a importância dos
questões introduzidas no âmbito do tema. estudos das necessidades dos usuários.
A ideia de contexto ressaltada por Courtright (2007) A revisão de Menzel (1966) acerca de necessidades e
norteia pesquisas e suscita preocupações como a uso de informação nas áreas de ciência e tecnologia
definição de limites, os fatores que influenciam inaugurou uma série de revisões sobre o assunto.
a prática informacional e as novas tecnologias. O autor realizou análises quantitativas de 1963 a 1965
A autora identifica quatro sentidos usados para o para estabelecer definições e conceitos do tópico.
termo. Primeiro, a noção de “contêiner’, em que os Menzel argumentava que os estudos de necessidades
elementos existem objetivamente em torno dos atores. e usos são aqueles voltados para o comportamento e
Segundo, o meio de construção de significado, em que as experiências dos cientistas e tecnólogos em face dos
se analisa o ponto de vista do autor. Terceiro, o conceito canais de informação. Baseados em dados empíricos
de construção social, em que os atores elaboram a e observações do comportamento, eram organizados
informação por meio da interação social. Finalmente, em três categorias: estudos de avaliações e preferência,
a questão relacional, em que os conceitos de ator social estudos de uso e estudos de disseminação.
e contexto estão vinculados entre si.
A segunda revisão, realizada em 1967 por Saul
À noção de contexto subentendem-se expressões e Mary Herner, complementou o trabalho de
inter-relacionadas, como situação, complexidade Menzel. A pesquisa cobriu as publicações de 1966
das tarefas, problemas, contornos, normas, cultura, e algumas de 1965 não avaliadas na primeira etapa.
capital social e redes sociais, dentre outras, Foram detectados sete problemas nas publicações
ampliando a estrutura teórica da área. Apesar de analisadas. O primeiro refere-se ao uso de poucas
se observar, na literatura da ciência da informação, técnicas de pesquisa. O segundo, à diversidade
um sistema conceitual básico sobre os estudos de tipos de usuários em que essas técnicas são
de comportamento informacional humano, pode aplicadas. O terceiro, à variabilidade e ambigüidade
haver variações em relação aos conceitos e às da linguagem na discussão das técnicas usadas e nos
proposições, dependendo da abordagem empregada, resultados. O quarto, à carência de inovação.
seja comportamentalista, cognitivista, seja social e O quinto, ao insucesso em fundamentar os
multifacetada. Logo, para analisar as principais questões resultados obtidos. O sexto, ao fracasso em aprender
desses estudos e sem desenvolvimento, é necessário com os erros. Finalmente, o problema da frequente
construir um panorama desde suas origens. ausência de projetos de experimentos rigorosos.
dos trabalhos que poderiam oferecer diretrizes tentativa de dar suporte à estruturação dos sistemas
para conceber e avaliar sistemas de informação. de informação (MARTYN, 1974).
Sugeriu, porém, que novos ensaios deveriam usar
metodologia eclética para fortalecimento da teoria. Em meados de 1960, os estilos mais generalistas
começaram a rarear. Apesar da extensa produção
Os trabalhos publicados em 1968 foram revisados de levantamentos sobre usuários, segundo Martyn
por Allen (1969), usando a estrutura sistêmica (1974), nem sempre eles eram de boa qualidade.
proposta por Paisley (1968), na qual o usuário se Alguns utilizaram instrumentos mais sofisticados,
localiza em uma série de sistemas concêntricos. como técnicas de observação indireta e análise
Allen identificou a existência de muitos autores de citação. Métodos sociológicos mais refinados
que usaram instrumentos inadequados para a área foram aplicados aos estudos de sistemas informais
das ciências sociais. Em contrapartida, havia um de transmissão de informação, possibilitando a
corpo qualificado de boas pesquisas no campo. descrição de colégios invisíveis e nomeação de
Outro ponto destacado relacionava-se ao fato de gatekeepers, além da compreensão mais profunda
que muitos textos não deixavam claro se o sujeito sobre modos de a informação ser adquirida e usada.
da pesquisa era cientista ou tecnólogo, visto que Todavia, esses estudos tiveram pouco impacto sobre
as duas populações apresentavam diferenças os designers de sistemas de informação.
comportamentais, particularmente em relação à
forma de comunicação. Década de 70
Allen (1969) concluiu a revisão observando que O trabalho de Lipetz (1970) inaugurou as revisões
muitos estudos eram ainda realizados por indivíduos da década de 1970, enfatizando os estudos que
preocupados com problemas locais, sendo usualmente podiam ser transpostos para outras situações. Os
de baixa qualidade e com poucas contribuições para estudos de necessidades e uso da informação foram
a ciência da informação. Entretanto, detectou conceituados como atividades racionais voltadas
um colégio invisível composto por estudiosos do para um fim específico, com o objetivo de explicar
tópico, em várias instituições. Na visão do autor, eles os fenômenos observados, predizer instâncias
poderiam desenvolver uma estrutura social, desde do uso de informação e controlar sua utilização
que atuassem em disciplinas específicas. manipulação de condições essenciais. Os objetivos
seriam alcançados se precedidos de atividades de
As pesquisas realizadas entre os anos de 1950 e descrição, definição dos conceitos e teorização
meados da década de 1960, primeiro período dos das relações causais ou qualitativas entre uso da
estudos de usuários, concentravam-se nos indivíduos informação e os fatores associados. Lipetz (1970)
que utilizavam informação científica e tecnológica. agrupou as pesquisas em três seções – levantamento
Abrangiam um conjunto relativamente limitado de e medidas, metodologia e teoria – subdivididas,
assuntos com membros de disciplinas específicas ou de acordo com a proposta de Paisley (1968), em
da comunidade científica como um todo. A técnica subsistemas nos quais os cientistas e tecnólogos
mais comumente empregada era a dos questionários pudessem ser identificados.
autoadministrados. As investigações tinham
natureza exploratória e os resultados eram descritos Lipetz (1970) concluiu a revisão destacando que
em termos gerais a partir da reunião de dados sobre os estudos de necessidades e usos da informação,
hábitos e necessidades. Essa abordagem generalista como disciplina científica, encontravam-se ainda em
permitiu o desenho de sistemas de informação sua infância. Contudo, grande vigor e capacidade de
de acordo com a maioria das necessidades dos crescimento foram percebidos, mesmo considerando
usuários. Entretanto, como os resultados às vezes a dinamicidade e a relatividade em que divergem as
fossem contraditórios, muitos estudos falharam na necessidades com o tempo, o sujeitos, o objetivo,
a localização, as alternativas e outras variáveis. designers dos sistemas informacionais. Por fim, o
O autor sugeriu que, antes do esboço da teoria de tópico mais preocupante referia-se à conceituação
um sistema de informação ideal para as complexas do comportamento de cientistas e tecnólogos no
necessidades de qualquer idade, são indispensáveis estudo dos elementos dos sistemas de interação
mais dados quantitativos das necessidades e do entre informações e usuários reais e potenciais.
comportamento humano. Assim, os modelos de comunicação poderiam
auxiliar no mapeamento dessas inter-relações.
Em seguida, Crane (1971) apresentou revisão sobre
o tema cobrindo alguns estudos não incluídos na Martyn (1974) iniciou a oitava revisão do Arist
revisão anterior e outros recentes – o que perfazia assegurando que ‘a era dos dinossauros’ havia
cerca de um ano. O presente artigo não discute terminado para os estudos de usuários. Analisando
o trabalho de Crane por não ter sido possível ter o que fora editado em 1972 e 1973, verificou que
acesso ao seu texto. No entanto, sabe-se que a o número de publicações fora consideravelmente
autora abordou questões relacionadas aos métodos menor do que nos anos anteriores. Sua abordagem
então adotados nos estudos de necessidades e uso dividiu-se em três tópicos. No primeiro, estudos
de informação, corroborando a visão crítica de que direcionados para sistemas, foram analisadas
careciam de mais rigor científico. pesquisas realizadas com o objetivo de orientar
ou mudar serviços específicos. No segundo,
Lin e Garvey (1972) fizeram a revisão sobre foram analisados trabalhos do ponto de vista
necessidades e usos de informação na ciência dos usuários sobre os componentes da rede de
e na tecnologia, referentes ao ano de 1971, comunicação científica e técnica. No último tópico,
verificando que abordagens sistemáticas sobre o intitulado Background Research, foram narradas
assunto tornaram-se um fenômeno internacional. experiências voltadas à ecologia da informação ou
Utilizaram um modelo de comunicação científica, com metodologias inovadoras.
especificando as fases de necessidades, de busca, de
transferência e de uso da informação. As limitações Na conclusão, Martyn ressaltou que se passou
do modelo relacionavam-se ao foco voltado para a a reconhecer a complexidade e a singularidade
informação, apesar do reconhecimento da existência das necessidades de informação dos usuários,
de pontos de convergência entre os padrões de observando que a metodologia dos estudos de
comportamento dos cientistas e tecnólogos e a usuários se mostrava inadequada para esclarecer
estrutura socioeconômica da ciência e da tecnologia; a natureza e as necessidades de quem buscava
à ausência de análises individuais de cientistas e informação. Além disso, seria impossível prover
tecnólogos; e, por fim, à introdução de conceitos todas as informações necessárias em todas as
sem definições precisas. circunstâncias. Nessa perspectiva, demandavam-se
olhares que não estivessem voltados especificamente
Os autores sugeriram, à guisa de conclusão, ampliar para os sistemas de informação, visando a ampliar a
as discussões sobre quatro tópicos considerados compreensão dos usuários e de suas necessidades,
críticos. O primeiro era a definição clara do conceito uma vez que o foco era o inter-relacionamento de
de colégio invisível. O segundo relacionava-se ao pessoas e ideias.
intercâmbio de informações e às pessoas atuantes
como gatekeepers a fim de averiguar as informações A revisão de Crawford (1978) abrangeu 95
fornecidas por elas e as relações com as suas funções, publicações sobre estudos de necessidades e de
com o objetivo de traçar o mapa do fluxo da busca da informação, impressas entre 1975 e 1977,
informação no ambiente externo da organização. identificados no Information Science Abstracts Library
O terceiro item era a lacuna evidenciada pela Literature e em fontes informais. A autora, tal
carência de integração entre os pesquisadores e os como o fizeram Brittain (1970) e Martyn (1974),
precisava ser ampliado, levando em conta não subjetividade humana resultante de uma realidade que
somente os sistemas formais constituídos de não transmite significado constante; o construtivismo,
bibliotecas e outros centros de informação, mas em que o conhecimento não é visto como acabado,
também os informais; o segundo é o de que o constituindo-se das interações do indivíduo com o
comportamento informacional de usuários, por ser meio pelo uso da linguagem; a visão dos usuários como
um processo natural do ser humano, envolve todo seres ativos, direcionados por seus próprios objetivos
tipo de meios e canais de acesso requeridos para o e capacidade de escolhas próprias. A situcionalidade,
atendimento das necessidades de informação. que considera o comportamento informacional
variável de acordo com a especificidade da situação; a
Décadas de 80 e 90 visão holística, pela qual os usuários devem ser
compreendidos em um contexto social mais amplo,
Como dito anteriormente, a primeira revisão dessas
e os sistemas, como um dos elementos a que podem
duas décadas ocorreu oito anos após a última
recorrer se querem informação; o cognitivismo,
revisão da década de 1970. Dervin e Nilan (1986)
baseado na crença de que as abordagens fundamentadas
abordaram, portanto, a literatura sobre a busca e o
no comportamento e no desenvolvimento cognitivo
uso da informação a partir de 1978. Observaram
podem contribuir substancialmente com a ciência da
que muitos estudos ainda estavam centrados nos
informação. Finalmente, a individualidade sistêmica,
sistemas e no paradigma tradicional.
em que se reconhece a emergência da inclusão dos
São sete as características identificadas no paradigma valores individuais.
tradicional. A primeira, a objetividade, em que a
O paradigma emergente, descrito anteriormente, foi
informação é entendida como algo com significado
construído pela análise da literatura evidenciada nas
constante, correspondendo, de forma absoluta, à
novas abordagens:
realidade. A segunda, o mecanicismo, cujo foco é
sobre o sistema, não percebendo o usuário como • valor atribuído pelo usuário: centrado na
indivíduo com objetivos, autocontrole e capacidade percepção do usuário sobre a utilidade e o valor do
para tomar decisões. A terceira, a passividade dos sistema de informação;
usuários, sustentada na ideia de que são receptáculos
passivos de informação objetiva, com a tarefa de • sense-making: maneira como as pessoas dão
receber em mãos pacotes de informações. A quarta, significado ao mundo e ao uso da informação nesse
a trans-situacionalidade, em que se tenta predizer processo;
o comportamento dos usuários por meio de
estatísticas e modelos que poderiam ser aplicados • estado anômalo de conhecimento: análise de
em várias situações. A quinta, a visão atomística como as pessoas buscam informações relativas a
da experiência, centrada na interação entre os situações em que seu conhecimento é incompleto.
usuários e os sistemas de informação. A sexta, a
Observa-se, assim, que a principal diferença entre
concepção comportamental em que se privilegia o
as abordagens adotadas no paradigma tradicional
comportamento externo, como contatos com fontes
e no paradigma emergente está vinculada aos
e usos de sistemas. A última, o caos, fundamentado
aspectos psicológicos, em que se identifica a primeira
na crença de que as pesquisas produzem observações
como behaviorista e a segunda como cognitivista.
sistemáticas e padrões de comportamento para os
Adicionalmente, é possível perceber, pela orientação
sistemas de informação.
metodológica, o positivismo permeando as pesquisas
As principais características identificadas no novo fundamentadas no paradigma behaviorista, no sentido
modelo, em oposição à abordagem tradicional, em que se adotava, essencialmente, a abordagem
são as seguintes: aquela em que se reconhece a quantitativa e o método hipotético-dedutivo.
Os estudos centrados no paradigma cognitivista, Embora muitos dos novos autores estivessem
por sua vez, provavelmente já influenciados fundamentados na abordagem cognitiva, em fins da
pela fenomenologia, começam a se nortear por década de 1980 surge a abordagem social. O eixo
métodos qualitativos e indutivos, evidenciados nas dos trabalhos2 situa-se nos significados e valores que
abordagens descritas. os indivíduos atribuem ao contexto sociocultural,
dentre outros. A abordagem pretendeu estudar os
Ellis, Dervin, Kuhlthau e Wilson são alguns fenômenos que transcendiam a estrutura cognitiva.
pesquisadores associados a essas mudanças. A partir O trabalho de vanguarda foi desenvolvido por
de fins da década de 1980, os estudos orientados Chatman (1999), que propôs três estruturas para
pelo ponto de vista cognitivo reconhecem que entender o comportamento informacional: “teoria
as necessidades de informação ocorrem tanto da pobreza de informações”, “teoria do ciclo da
no âmbito cognitivo quanto no sociológico. As vida” e “teoria do comportamento normativo”.
pesquisas buscavam conhecer as características únicas Outra teoria que cresceu intensamente desde o início
de cada usuário e o processo cognitivo comum à dos anos 90 foi a abordagem multifacetada, que
maioria deles, abordando questões como categorização percebe o comportamento informacional como um
técnica, memórias de curto e longo prazos, estilos de sistema complexo em que é necessária a integração
aprendizagem, motivação, tipos de personalidades de várias teorias para descrevê-lo (PETTIGREW;
e fatores semânticos (HEWINS, 1990). FIDEL; BRUCE, 2001).
Hewins (1990) publicou a 11.ª revisão sobre Ainda em meados da década de 90, o interesse em
necessidades e usos da informação, que cobriu o discutir as pesquisas e o desenvolvimento conceitual
período de 1986 a 1989. Nesse intervalo de tempo que fundamentavam os estudos se intensifica,
houve mudanças significativas no modo como como pode se observar em pelo menos três
a informação era disseminada e na tecnologia iniciativas. A primeira, em 1996, com a conferência
disponível para buscá-la. O objetivo foi verificar intitulada Information Seeking in Context, realizada,
a consolidação do novo paradigma, descrito por a partir de então, bianualmente, em vários
Dervin e Nilan (1986), e a contribuição de outras países da Europa. A segunda, em 1999, com o
disciplinas, além da ciência da informação e estabelecimento do grupo de estudos Information
biblioteconomia, pelo fato de os estudos estarem Needs, Seeking and Use (Siguse) pela American
difundidos por muitas áreas de conhecimento. Society for Information Science (Asis), atual
Condizente com esse processo de mudança, American Society for Information Science and
surgiram metodologias alternativas, como a linha do Technology (Asist). A terceira, a edição especial do
tempo, que retrata “cenas” ao longo de um período, periódico Information Processing & Management sobre
permitindo identificar eventos críticos. É também Information Seeking in Context (PETTIGREW, FIDEL,
o caso do uso de diários, apresentando todas as BRUCE, 2001). Nota-se, portanto, uma espécie de
possíveis soluções para um problema particular e institucionalização do tópico, devido à relevância
a opção escolhida para cada uma. Outra alternativa que tais estudos representam, sem dúvida alguma,
citada foi a técnica do incidente crítico. Hewins para a ciência da informação.
(1990) concluiu que a premissa de Dervin e Nilan
(1986) sobre a mudança de paradigma era validada No final da década de 1990, as publicações de
pelo surgimento de novas abordagens na literatura, Wilson dão início a debates sobre a adequação
mais centradas nos usuários do que nos sistemas e do termo ‘comportamento informacional’ para se
baseadas nos processos cognitivos. Os novos temas referir aos estudos de necessidade, busca e uso da
relacionavam-se às características dos usuários e
como compreendê-los melhor, tendo caráter mais 2
Os tópicos sobre abordagem social e multifacetada foram
interdisciplinar que os anteriores. resumidos na revisão de Pettigrew, Fidel e Bruce (2001).
sua revisão ‘o desafio do contexto nas pesquisas de Há, no entanto, segundo Courtright (2007), o
comportamento informacional’, na qual o termo desafio de conceitualizar as formas de influência
pode ser compreendido sob quatro perspectivas: no contexto sem retornar à visão centrada nos
sistemas, na qual as ações de informação são vistas
1ª) contexto no sentido de contêiner refere-se à como previsíveis conforme o conjunto de variáveis
noção de que os elementos existem objetivamente ambientais. Muitas pesquisas ainda continuam a
em torno do ator e podem ser enumerados pelo comparar contexto com um conjunto de elementos
pesquisador que o observou. Nessa perspectiva, físicos e a identificar uma ou mais variáveis como
comportamento informacional é descrito em termos causas ou elementos tangencialmente relacionados
das principais características do usuário, que, todavia, à prática de informação do indivíduo. Mas existem
não são analisadas pelo contexto. diversos modelos e tendências teóricas que
englobam a complexidade do contexto e percebem
2ª) em outro aspecto, o do contexto compreendido
os indivíduos incluídos em um sistema complexo,
como construção de significado, as atividades
múltiplo, sobreposto e dinâmico. Elementos como
informacionais são relatadas considerando-se
sociabilidade, cultura, normas organizacionais e
o modo como as influências e as variáveis são
recursos, assim como mudanças tecnológicas e
percebidas e construídas pelos indivíduos que
relação de forças, não podem ser excluídos do
buscam informação. Para a autora, o modelo falha
processo de pesquisa. Essas novas tendências de
por não suportar a complexidade, a variabilidade e as
investigação implicam novas metodologias e uso
interações mútuas, tais como rede social, tecnologias
de múltiplos métodos, por exemplo, etnografia,
da informação e práticas organizacionais.
observação e entrevistas.
3ª) o terceiro sentido relaciona-se à construção social
A última revisão da primeira década do século
dos indivíduos, compreendidos como seres sociais que
XXI foi realizada por Fisher e Julien (2009) com
constroem a informação por meio da interação social,
análise de alguns trabalhos de 2004, e os demais
e não somente pelo que está ‘dentro de sua cabeça’.
entre 2005 e início de 2008. Embora ainda não
4ª) Por fim, a perspectiva do ser social pode ser publicada formalmente e não disponível em
ampliada para incluir o contexto relacional – bibliotecas no Brasil, foi possível ter acesso ao texto
embeddedness –, abrangendo também as variáveis por meio das próprias autoras. Nos trabalhos por
externas que influenciam a ação. Nessa dimensão, elas selecionados, todos escritos em língua inglesa,
o contexto é a construção resultante da interseção foram observados os métodos de pesquisa, o
do ponto de vista do indivíduo com o pesquisador. contexto, o fator humano (acadêmicos, cientistas,
estudantes, grupos profissionais, pessoas e a vida
Courtright (2007) observou os seguintes fatores e cotidiana, bem como as pessoas no contexto de
elementos mais citados que influenciam o contexto: saúde), fontes de informação, conceitos na pesquisa
papel desempenhado; recursos de informação de comportamento informacional e estrutura
(bibliotecas, livrarias, agências de informação); conceitual.
meio cultural; fatores sociais, como rede e capital
social, nor mas e colaboração no trabalho; Ao abordarem o tema, Fisher e Julien (op. cit) provêm
aspectos relacionados a tarefas, problemas, definição bastante completa de comportamento
situações e tecnologias; e, por fim, a função no informacional, a qual mostra, de fato, que o conceito
trabalho e a atividade humana. A autora concluiu, abrange toda a gama de estudos relacionados com o
apresentando a consolidação do paradigma usuário e a informação. Nesse sentido, inclui estudos
centrado no indivíduo e não mais nos sistemas das necessidades de informação, e de como as pessoas
como tendência identificada no estudo. a buscam, gerem, fornecem e usam, tanto propositada
quanto passivamente em sua vida diária. Em citação
vida, requer visão ampla do pesquisador. Exige, CRAWFORD, Susan. Information needs and uses. Annual
ainda, o entendimento das relações estabelecidas Review of Information Science and Technology, v. 13, p. 61-81, 1978.
em determinado espaço-tempo em que ocorrem DERVIN, Brenda; NILAN, Michael. Information needs and
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Os indivíduos se engajam nessas ações quando têm 3-33, 1986.
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pode ocorrer de forma mais eficaz se houver 317-358, 2009.
sistematização e ensino desse conhecimento, isto é,
se os sujeitos forem letrados informacionalmente. HERNER, Saul; HERNER, Mary. Information need and use
studies in science and technology. Annual Review of Information
Nessa linha de pensamento, um dos desafios dos
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pesquisadores da ciência da informação é gerar
conhecimento que possa ser utilizado em prol da HEWINS, Elizabeth T. Information need and use studies.
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cidadania com o uso desse saber, com vistas a um
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