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ANÁLISE DO DISCURSO

FRANCESA
Professora Dra. Margarete Aparecida
Nath Braga
• - A AD surge na França com Jean Dubois (linguista) e
Pêcheux (filósofo).
• - Marxismo (luta de classes, política, história e
movimento social).
• - A AD se inscreve num objeto político e a linguística
oferece meios para abordar a política.
• Estruturalismo: influências externas não afetam o
sistema porque não são parte da estrutura.
Críticas feitas nessa época:
• - A língua não é apreendida na sua relação com o
mundo.
• - O estruturalismo trata das relações entre si, no
interior de um mesmo sistema lingüístico. É preciso ir
além da estrutura.
• - Althusser: as ideologias têm existência material.
São um conjunto de práticas materiais que
reproduzem as relações de produção.
• - Para o materialismo o objeto real existe,
independente do fato de ser ou não conhecido. Ex.:
Capitalismo (divisão do trabalho), venda da mão de
obra.
• - Materialismo histórico: Infraestrutura (base
econômica), determina a superestrutura (instância
política, jurídica e ideológica de uma sociedade).
• - Por isso a ideologia é reprodução.
• - Ideologia: perpetua a base econômica; não há
transformação.
• - Sistema / Estruturalismo – circularidade faz-se com
que o funcionamento recaia sobre si mesmo.
• - Linguagem para Althusser: lugar privilegiado em que a
ideologia se materializa. Só a linguística da língua não daria
conta dessa, precisava então de uma teoria do discurso –
componentes lingüísticos e socioideológicos.
• - Pêcheux coloca a AD num outro terreno onde intervém
questões relativas à ideologia e ao sujeito. Ele critica Saussure
no sentido de que a semântica escapa da lingüística da língua.
• - A significação para Saussure é sistêmica, para Pêcheux não é
sistêmica, pois ela é da ordem da fala, do sujeito e não da
língua – sofrem alterações de acordo com as posições
ocupadas pelos sujeitos que enunciam.
• - Sujeito e sentido não são individuais, mas histórico-
ideológicos, por isso propõe uma semântica do
discurso.
• - Projeto althusseriano: ciência da ideologia que não
fosse ideológica, que não implicasse uma posição
ideológica do sujeito. Mecanismo responsável pela
reprodução das relações de produção.
• - AD surge em meio ao materialismo histórico e ao
estruturalismo.
• - Freud descobre o inconsciente: sujeito dividido
entre o consciente e o inconsciente.
• - Lacan : inconsciente – estruturado como
uma linguagem, como uma cadeia de
significantes. O discurso é atravessado pelo
discurso do outro, pelo inconsciente. A tarefa
do analista seria a de fazer vir à tona, através
de um trabalho na palavra e pela palavra essa
cadeia de significantes.
• - O inconsciente é o lugar de onde emana o discurso
e assim adquire identidade.
• SUJEITO: representação (modo como se estrutura a
partir da relação que mantém com o inconsciente).-
Saussure define o sistema lingüístico a partir do
critério diferencial – não se pode defini-los por eles
mesmos, mas compará-los. São as diferenças que
definem os elementos. Definição de posição no
interior do sistema (critério posicional).
• - Ao sujeito (Lacan) não se pode atribuir nada de
substancial, ele só se define em relação ao outro
(inconsciente), dessubstancializado não está onde é
procurado (consciente), é encontrado onde não está,
no inconsciente.
- Para a AD é o sujeito ideal que vai explicar o texto
como produto de um trabalho ideológico, não
consciente. O sujeito não é detentor do seu discurso,
é aquele que ocupa um lugar social e a partir dele
enuncia, inserido no processo histórico que permite
uns dizeres e não outros.
• - Os efeitos de sentido é que interessam à AD
e são o resultado das condições de produção.
• - Textos de arquivo: emanam de instâncias
institucionais.
• - AD anglo-saxã: privilegia o contato com a
sociologia. Considera a intenção dos sujeitos
numa interação verbal.
• - AD francesa não considera como determinante essa
intenção, considera que os sujeitos são condicionados por
uma determinada ideologia que predetermina o que poderão
ou não dizer em determinadas conjunturas.
• - Interditos na francesa. Fiorin apresenta três diferentes
tendências:
• 1ª Não ocupar-se da estrutura interna do texto.
• 2ª Ocupar-se dos mecanismos internos de produção do
sentido. É considerado anacrônico o universo conceitual
marxista.
• 3ª – Elimina essas duas tendências, se propõe a abordar o
discurso em toda a sua complexidade, o texto como objeto
lingüístico e cultural.
1ª fase
- Comum estudo das condições de produção e processos de
constituição.
1º momento da AD: método harrisiano e gramáticas
gerativas.
- Harris: análise estruturalista.
- análise transfrástica (testemunha o limite do enunciado)
- linearidade do discurso.
- observar a ligação entre os enunciados a partir dos
conectivos (p. 115).
- Discurso: seqüência de enunciados.
- Pêcheux buscava reintegrar uma teoria do sujeito e uma
teoria da situação. Pêcheux trabalha com a oposição
enunciado e enunciação.
- Chomski contribui, pois postula a existência de um sistema
de regras internalizadas responsável pela geração das
sentenças.
- A AD se apropria disso para reintegrar as teorias do sujeito
e da situação.
- discursos estabilizados, menos conflitantes, menor carga
polissêmica, silenciamento do outro.
- Condições de produção mais ou menos homogêneas,
lugares sociais menos conflitantes. Um debate, por
exemplo, não seria o objeto de análise. Ex.: manifesto
comunista – enunciado do interior do PC, os
interlocutores estão inscritos no mesmo espaço
discursivo.
- Etapas da análise – p. 118. (máquina discursiva- idêntica a
si mesma e fechada sobre si mesma).
2ª fase
- O conceito de máquina discursiva começa a explodir com o
acréscimo do conceito de FD.
- Uma FD é marcada por regras de formação de mecanismos que
determinam o interno. É sempre invadida por elementos que
vêm de outro lugar. (p. 119).
- O espaço da FD é sempre atravessado pelo pré construído –
discursos que emanam de outros lugares.
- os enunciados são retomados e reformulados.
- Dispersão porque não são ligados por uma unidade (dispersão).
- O analista deve descrever uma dispersão
estabelecendo as regras de formação.
- A presença do outro (outra FD) é concebida a partir
do interior da FD em questão.
- Uma FD se define sempre em relação ao externo.
- AD2 – relações entre as máquinas discursivas. Ex.: de
texto analisado: debate político.
3ª fase
- Desconstrução da máquina discursiva. Os diversos
discursos que atravessam uma FD não se constituem
independentemente, mas se formam de maneira
regulada no interior de um interdiscurso.
- Novo objeto de análise: interdiscurso.
- Para a AD os sentidos são historicamente construídos.
Formação Ideológica: comporta mais do que uma
posição. As forças não precisam estar
necessariamente em confronto, podem entreter
relações de aliança, dominação ou confronto.
Alguns conceitos
• Formação Discursiva: lugar onde se articula discurso e ideologia. Uma FD
é dominada por uma FI. A presença do outro é que torna a FD
heterogênea. Uma FD se inscreve em meio a outras.
• O caráter dialógico do discurso é constitutivo do seu sentido, isto é, que o
sentido de uma FD depende da relação que ela estabelece com as FDs no
interior do espaço discursivo (p. 131).
• A FD sofre as coerções das Formações Ideológicas.
• - Espaço interdiscursivo – defasagem entre uma e outra formação
discursiva.
• - AD importa não o sujeito em si, mas o lugar ideológico de onde
enunciam os sujeitos. Ex.: Numa FD de cunho religioso, o católico jamais
poderia pedir para nascer de novo (discurso científico). O que é e o que
não é possível de ser enunciado por um sujeito que já está demarcado
pela FD em que está inserido.
• - os sentidos possíveis de um discurso são
demarcados, estabelecidos pela própria
identidade de cada uma das FDs colocadas em
relação no espaço interdiscursivo, porém
esses sentidos não existem antes do discurso,
se formam no decorrer do discurso.
• - Ex.: A medida que se dá o embate político entre
partidos e candidatos, os discursos vão sendo
escritos, re-escritos e os sentidos vão sendo
constituídos no próprio processo de construção dos
discursos.
• - A AD apresenta um caráter extremamente
dialógico, pois o sentido de uma FD depende da
relação que ela estabelece no interior do espaço
interdiscursivo.
• - Para Althusser a classe dominante gera mecanismos
que perpetuam as condições materisis e ideológicas
(AIE).
• - Não se trata apenas de um discurso, mas de
um confronto entre forças ideológicas. Ex. da
crônica: o papa ocupa o lugar de papa e de
homem.
• - O texto é heterogêneo formado por
diferentes discursos.
Noções de sujeito
• AD1 – O sujeito é concebido como sendo assujeitado
à maquinaria. Quem fala não é o sujeito, mas uma
instituição, ou uma ideologia.
• AD2 – Dispersão do sujeito. Não há um princípio de
unidade. O sujeito desempenha vários papéis de
acordo com as posições que ocupa no espaço do
interdiscurso. O sujeito é função e pode estar em
mais do que uma FD.
• - Sofre as coerções da FD a qual pertence.
• - Para a AD não existe o sujeito individual, mas sim o
sujeito ideológico.
• AD3: Sujeito heterogêneo, clivado, dividido entre o
consciente e o inconsciente. Nunca é um sujeito
inteiramente consciente. Sujeito descentrado que se
forma na relação entre o eu e o outro. O sujeito é
heterogêneo e sofre as coerções de uma FI e
discursiva.
• O SUJEITO NÃO É SENHOR DE SUAS VONTADES. O
DISCURSO, O SNETIDO, O SUJEITO, AS CONDIÇÕES DE
PRODUÇÃO VÃO SE CONSTITUINDO NO PRÓPRIO
PROCESSO DE ENUNCIAÇÃO.
Paráfrase
• Uma FD é constituída por um sistema de paráfrase,
isto é, um espaço em que enunciados são retomados
e reformulados num esforço constante de
fechamento de suas fronteiras em busca de
preservação de sua identidade. A esse cocneito
Orlandi apresenta um outro, o de polissemia. A
polissemia rompe essas fronteiras embaralhando os
limites entre diferentes FDs, instalando a pluralidade,
a multiplicidade de sentidos.
• O Pré-construído: Remete às evidências através das
quais o sujeito dá a conhecer os objetos de seu
discurso: “o que cada um sabe” e simultaneamente
“o que cada um pode ver” em uma situação dada.
Assim, o pré-construído, entendido como objeto
ideológico, representação, realidade é assimilado
pelo enunciador no processo do seu assujeitamento
ideológico quando se realiza a sua identificação,
enquanto sujeito enunciador, como o Sujeito
Universal da FD.
Esquecimento
• Esquecimento 1: O sujeito tem a ilusão de ser a
origem do que diz, pois o sujeito não pode se
encontrar no exterior da FD que o domina. Esse é o
esquecimento ideológico e inconsciente. O sujeito
pensa ser a fonte exclusiva do sentido dos eu
discurso. De natureza inconsciente e ideológica. O
sujeito rejeita, apaga, inconscientemente, qualquer
elemento que remeta ao exterior da sua formação
discursiva. Portanto ele tem a ilusão de que é o
criador absoluto do seu discurso.
• Esquecimento 2 – O sujeito esquece que há
outros sentidos possíveis. O sujeito poderia
dizer, mas não diz. O sujeito retoma os eu
discurso para explicitar a si mesmo o que diz,
para formulá-lo mais adequadamente. Essa
operação dá ao sujeito a ilusão de que o
discurso reflete o conhecimento objetivo que
tem da realidade.
Memória discursiva
• É o já dito que constitui todo o dizer. A memória
discursiva é constituída pelo esquecimento. Assim
todo dizer se acompanha de um dizer já dito e
esquecido.
• É a memória discursiva que torna possível a toda
formação discursiva fazer circular formações
anteriores, já enunciadas. Enunciar é se situar
sempre em relação a um já-dito que se constitui no
outro do discurso.
Poder
• No livro a Ordem do discurso Foucault tematiza as relações
entre o discurso e o poder. Discute sobre os sistemas de
controle desenvolvidos pela sociedade ocidental.
• - A produção do discurso é controlada e organizada.
• 1º grupo de controle: procedimentos externos: interdição,
segregação e a vontade de verdade. O discurso é um desejo
de verdade. Não se diz tudo o que se deseja. A política e a
sexualidade são áreas onde é possível enxergar os efeitos das
interdições. Uma sociedade determina o silêncio através do
certo e do errado.
• - A verdade é configuração histórica. Não há uma
verdade, mas vontades de verdade que se
transformam.
• - A verdade tende a exercer sobre os outros discursos
uma espécie de pressão, um poder de coersão.
• - Foucault não pensa a verdade como essência a ser
descoberta, mas procura descrever e analisar os
modos como a “verdade” vem sendo historicamente
produzida e a função de controle exercida por essa
produção.(arqueologia).
Três sistemas de exclusão atingem o
discurso:
• 1º : vontade de verdade: não cessa de se reforçar, de se
tornar mais profunda e mais incontrolável.
• 2º: Procedimentos internos: Os discursos exercem seu
próprio controle. Ex.: comentário, autor, disciplina, etc. Ex.: O
aparecimento do discurso restringindo os textos que
retornarão, que serão preservados em uma cultura e aqueles
que serão esquecidos. O novo está no acontecimento a sua
volta.
• - Autor: Foucault não entende o autor como o indivíduo que
escreveu ou pronunciou o texto, mas como princípio de
agrupamento do discurso, como unidade de origem e
significação. “O homem irrompe em meio a todas as palavras
usadas”.
• - O autor é uma função discursiva, importante para compreender o
pensamento arqueológico de Foucault. A figura do autor é uma função
discursiva.
• - O autor é apenas uma das especificações possíveis da função sujeito.
• - Discurso para Foucault: conjunto de enunciados que pertencem a uma
mesma FD.
• - Arqueologia: descreve um campo anônimo de enunciados, ela não
coloca a questão sobre aquele que fala, mas que o enunciado é recortado
por uma multiplicidade de formações que se interpenetram.
• - O propósito da análise de Foucault é desconstruir a idéia de sujeito como
origem e fundamento dos sentidos e, para isso, é preciso se livrar da idéia
do sujeito constituinte a fim de chegar à figura do sujeito imerso na trama
histórica.
• O sujeito é submetido às múltiplas determinações que
organizam o espaço social da produção de sentidos.
• - Função autor: controle de discursos produzidos (século XVII
e XVIII). Momento forte de individualização na história das
idéias, dos conhecimentos, das ciências.
• - O autor bordeja os textos recortando-os e delimitando-os.
• a) Função – autor: sistema jurídico que encerra. determina e
articula o universo dos discursos.
• b) Repressivo: forma de responsabilidade, controle dos textos
transgressores.
• c) Materiais: garantem a autenticidade frente a copistas e
imitadores.
• 3º grupo de controle: fator interno de regulação dos discursos:
disciplinas.
• Cada disciplina define os enunciados que serão considerados
verdadeiros e aqueles que serão dados como falsos. A disciplina é,
portanto, um princípio de controle de produção do discurso.
• - Os sujeitos que pronunciam os discursos são cerceados por regras que
envolvem o ritual, as sociedades de discurso, as doutrinas e as
apropriações sociais do discurso.
• - Toda sociedade possui instituições responsáveis pela distribuição de
discursos e pelo gerenciamento das apropriações. Ex.: sistema educativo
(maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos,
como os saberes e poderes que eles trazem).
• - Os sistemas de controle são interligados, não há
fronteiras que delimitem seus espaços.
• - Foucault discute os mecanismos de controle e os
temas que os naturalizam.
• - Foucault analisa as instâncias de controle
discursivo. Procurou entender as formas de exclusão,
limitação e apropriação tanto da loucura quanto da
morte.
• - Apresenta a análise crítica como forma de
resistência à dominação.
• Período arqueológico: período discursivo. O
autor elabora um método para lidar apenas
com sistemas de pensamentos materializados
em práticas discursivas.
• Discurso: permeado de interdições – liga-se
ao desejo e ao poder. O discurso não é só o
que manifesta ou oculta, mas é também o
objeto do desejo.
• Autor: princípio de agrupamento do discurso. Não é
entendido como o indivíduo falante.
• - Normas e regras: separadas e independentes das
condições materiais.
• - Ideologia: instrumento de dominação de classe,
resultante da divisão entre trabalho material e
intelectual. Para Marx é a inversão da realidade
(refere-se à classe dominante).
Interdiscursividade
• A interdiscursividade é o processo em que se
incorporam percursos temáticos e/ ou figurativos,
temas e / ou figuras de um discurso em outro.
• A interdiscursividade não implica a intertextualidade,
embora o contrário seja verdadeiro, pois ao se referir
a um texto, o enunciador se refere, também, ao
discurso que ele manifesta (...). O discurso não é
único e irrepetível, pois um discurso discursa outros
discursos. Nessa medida o discurso é social.
Intertextualidade
• A intertextualidade é o processo de incorporação de
um texto em outro, seja para reproduzir o sentido
incorporando, seja para transformá-lo.
• “Suportado por toda uma intertextualidade, o
discurso não é falado por uma única voz, mas por
muitas vozes, geradoras de muitos textos que se
entrecruzam no tempo e no espaço a tal ponto que
se faz necessária toda uma escavação filológica –
semiótica para recuperar a significação profunda
dessa polifonia”. (Izidoro Blikstein, p. 45 –
Dialogismo, polifonia e intertextualidade....).

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