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Polímeros Biodegradáveis: Tipos, Propriedades e

Aplicações

Mauro Cândido da Silva

Rio de Janeiro
2013
MAURO CÂNDIDO DA SILVA
Aluno do curso de Tecnologia em Polímeros
Matrícula 0723800157

Polímeros Biodegradáveis: Tipos, Propriedades e


Aplicações

Trabalho de Conclusão de Curso, TCC,


apresentado ao Curso de Graduação em
Tecnologia em Polímeros da UEZO como parte
dos requisitos para a obtenção do grau de
Tecnólogo em Tecnologia em Polímeros, sob a
Orientação da Profa. Daniele Cruz Bastos e Co-
orientação da Profa. Patricia Soares da Costa
Pereira.

Rio de Janeiro
Dezembro de 2013
Polímeros Biodegradáveis: Tipos, Propriedades e
Aplicações

Elaborado por Mauro Cândido da Silva


Aluno do curso de Tecnologia em Polímeros

Rio de Janeiro, RJ – Brasil


Dezembro de 2013

ii
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, aos meus familiares e
em especial aos meus pais.

iii
AGRADECIMENTOS:

Às minhas orientadoras, profa. Daniele e profa. Patricia, pela paciência, compreensão e


generosidade em dividir seus conhecimentos;

Aos professores de todas as disciplinas que muito contribuíram para a minha formação;

Aos membros da banca pela presença e avaliação;

Aos colegas de turma, pelos momentos de descontração;

À minha família, pelo apoio, incentivo, carinho e pela compreensão.

iv
RESUMO

Existem diferenças entre os biopolímeros e polímeros biodegradáveis. Os biopolímeros são


produzidos a partir de fontes renováveis, alternativas ao petróleo (exemplos: filmes e outros
produtos obtidos a partir de celulose, ou os polímeros verdes, obtidos por exemplo, a partir
da cana-de-açúcar). Contudo, nem sempre os biopolímeros são biodegradáveis, e nem
todos os polímeros biodegradáveis são biopolímeros. As resinas biodegradáveis são aquelas
que podem ser totalmente reabsorvidas pelo meio-ambiente, sendo necessária uma
estrutura química compatível com os processos de decomposição, que pode ser resultante
da ação de micróbios, fungos, bactérias, ou baseados em princípios ativos como a
oxidegradação, quando o processo é um resultado da ação catalítica com o oxigênio, ou
mesmo a degradação fotoquímica, pelo efeito da luz solar. O presente trabalho teve como
objetivo realizar uma revisão bibliográfica acerca dos tipos, propriedades e aplicações dos
polímeros biodegradáveis. Diante da preocupação com os impactos ambientais causados
pelos polímeros, desde a extração da matéria-prima, processamento e o descarte incorreto
dos resíduos plásticos, conclui-se que os polímeros biodegradáveis podem contribuir muito
para o desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: plásticos, polímeros biodegradáveis, biopolímero, polímeros verdes.

v
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS iv
RESUMO v
SUMÁRIO vi
Lista de Figuras 1
1. INTRODUÇÃO 2
1.1. OBJETIVO 3
2. REVISÃO DA LITERATURA 3
2.1. BIOPOLÍMEROS 3
2.1.1. Definição 3
2.1.2. Polímeros verdes 5
2.1.3. Monitoramento Tecnológico em Biopolímeros 7
2.2. POLÍMEROS BIODEGRADÁVEIS: TIPOS E PROPRIEDADES 9
2.2.1. Definição 9
2.2.2. Polímeros Biodegradáveis Naturais 10
2.2.3. Polímeros Biodegradáveis Sintéticos 21
2.3. POLÍMEROS BIODEGRADÁVEIS: APLICAÇÕES 25
2.3.1. Blendas de Polímeros sintéticos com polímeros biodegradáveis 26
2.3.2. Compósitos de Polímeros Biodegradáveis com fibras 27
2.3.3. Compósitos de Polímeros Biodegradáveis com carga Inorgânica 28
3. CONCLUSÃO 29
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30

vi
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Fontes de biopolímeros: cana-de-açúcar, milho e soja 4


TM
Figura 2: Processo de produção do polietileno verde I´m Green (PE verde)
(Braskem, 2013) 6
Figura 3: Distribuição das Patentes por Países Depositantes (Borschiver et al.
2008) 8
Figura 4 : Distribuição de Patentes por área de aplicação do biopolímero
(Borschiver et al. 2008). 8
Figura 5: Distribuição dos tipos de matérias-primas pelo número de artigos onde 9
são mencionadas entre 2002-julho/2007 (Borschiver et al. 2008).
Figura 6: Classificação de alguns polímeros biodegradáveis de acordo com sua
fonte de obtenção (Adaptado de BRITO et al., 2011) 10
Figura 7: Ciclo de vida dos polímeros biodegradáveis proveniente de fontes
renováveis (Brito et al., 2011) 11
Figura 8: Estrutura da celulose 12
Figura 9: Principais componentes do amido: (a) amilose e (b) amilopectina
(PRADELLA 2006, apud BASTOS, 2010). 13
Figura 10: Estrutura química de ácidos algínicos: a) ácido manurônico b) ácido
gulurônico (BRITO et al., 2011). 15
Figura 11: Conformação  das cadeias polipeptídicas (BRITO et al., 2011). 16
Figura 12: Estrutura química dos poli(hidroxialcanoatos) (PHAs): poli(²-
hidroxibutirato); b) poli(²-hidroxivalerato) e, c) poli(²-hidroxibutirato-covalerato)
(BRITO et al., 2011). 17
Figura 13: Estrutura molecular geral dos polihidroxialcanoatos (PHAs) (MACEDO, 18
2010).
Figura 14: Micrografia obtida por microscopia eletrônica de transmissão mostrando 19
seções de células microbianas contendo grânulos discretos de PHB (JIANG et al.,
2008 apud MACEDO, 2010)
Figura 15: Estrutura química de: a) poli(ε-caprolactona) (PCL); b) poli(ácido lático)
(PLA); c) poli(ácido glicólico) (PGA) e, d) poli(ácido glicólico-lático)(PGLA). 22

1
1-INTRODUÇÃO

A Lei número 12.305 de 02 de agosto de 2010 (BRASIL, 2010) instituiu a Política


Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), alterando a Lei número 9.605, de 12 de fevereiro de
1998, dando também outras providências. Articulando-se com as políticas de Saneamento,
Recursos Hídricos, Educação Ambiental, Mudanças Climáticas e Consórcios Públicos, a
Política Nacional de Resíduos Sólidos define diretrizes para reduzir a geração de resíduos
sólidos e combater a poluição.
No artigo 8º da PNRS, pode-se observar que a coleta seletiva, os sistemas de
logística reversa e outras ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e o incentivo à criação e ao desenvolvimento
de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e
recicláveis (incisos III e IV, respectivamente), são colocados como instrumentos de aplicação
da referida política. Já em seu artigo 9º, a PNRS estabelece que na gestão e gerenciamento
de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração,
redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos. Neste sentido, a coleta seletiva cumpre papel
importante na redução de resíduos destinados aos aterros sanitários, além de gerar trabalho
e renda e diminuir os impactos ambientais causados pela extração de matéria-prima, ao
reinserir materiais na cadeia produtiva, enquanto que as ações de educação ambiental e
mobilização social cumprem papel fundamental junto à sociedade nas orientações quanto ao
consumo consciente para redução da geração de resíduos.
A PNRS define como padrões sustentáveis de produção e consumo: produção e
consumo de bens e serviços de forma a atender as necessidades das atuais gerações e
permitir melhores condições de vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o
atendimento das necessidades das gerações futuras (BRASIL, 2010).
Os plásticos oriundos do petróleo são materiais incrivelmente versáteis; baratos,
leves, duráveis, resistentes a corrosão e possuem propriedades de isolamento térmico e
elétrico. A diversidade dos polímeros e a versatilidade de suas propriedades são utilizadas
em quase todas as atividades industriais, da automobilística à medicina (REDDY et al.,
2003), o que fez com que seu uso crescesse de forma desordenada. Apesar da durabilidade
dos plásticos, ser uma vantagem, por outro lado, representa um sério problema ecológico,

2
pois são muito usados na fabricação de embalagens usualmente descartadas após utilização
e que vão se acumulando ao longo do tempo na natureza, provocando uma forte poluição
visual. O plástico tornou-se um símbolo da sociedade de consumo descartável e é
atualmente o segundo constituinte mais comum do lixo, após o papel (PIATTI e
RODRIGUES, 2005).
Diante deste contexto, percebe-se que a sociedade está enfrentando atualmente um
grande desafio: solucionar o problema do lixo. Têm sido necessários aterros sanitários cada
vez maiores, e, portanto, mais distantes dos centros urbanos, para acolher o impressionante
volume de lixo que é produzido diariamente. Assim, muitas pesquisas têm sido
desenvolvidas acerca dos polímeros biodegradáveis, que têm sido apontados como uma
solução parcial para resolver esta problemática do lixo.

1.1. OBJETIVO

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica acerca dos
tipos, propriedades e aplicações dos polímeros biodegradáveis.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. BIOPOLÍMEROS

2.1.1. Definição

Os biopolímeros são polímeros ou copolímeros produzidos a partir de matérias-


primas de fontes renováveis, como: milho, cana-de-açúcar, celulose, quitina, e outras (Figura
1). As fontes renováveis são assim conhecidas por possuírem um ciclo de vida mais curto
comparado com fontes fósseis como o petróleo a qual leva milhares de anos para se formar
(NORMA ABNT NBR 15448-1) (BRITO et al., 2011).
Com o crescente aumento da produção de plásticos durante os últimos 60 anos, de
0,5 milhões de toneladas em 1950 para, 260 milhões de toneladas em 2008 (utilizando cerca
de 8% da produção mundial de petróleo) (THOMPSON et al, 2009), busca-se solucionar os
problemas causados pela geração e acúmulo de materiais de origem petroquímica . Assim,

3
muitas pesquisas tentam encontrar nos plásticos biodegradáveis, uma alternativa de
substituição aos plásticos convencionais.

Figura 1: Fontes de biopolímeros: cana-de-açúcar, milho e soja, respectivamente.

Pode-se citar como fatores ambientais e socioeconômicos relacionados ao crescente


interesse pelos biopolímeros:
 Os grandes impactos ambientais causados pelos processos de extração e refino
utilizados para produção dos polímeros provenientes do petróleo;
 A escassez do petróleo e aumento do seu preço;
 Não são biodegradáveis em sua grande maioria, contribuindo para o acúmulo de lixo
plástico sem destino apropriado que levará de dezenas a centenas de anos para ser
novamente assimilado pela natureza.
Os biopolímeros possuem algumas limitações técnicas que tornam difícil sua
processabilidade e seu uso como produto final. Assim, muitos grupos de pesquisa vêm se
dedicando ao estudo da modificação dos biopolímeros para viabilizar o processamento e uso
dos mesmos em diversas aplicações. Para isso, blendas, compósitos, nanocompósitos, têm
sido estudados no intuito de melhorar propriedades como processabilidade, resistência
térmica, propriedades mecânicas, propriedades reológicas, permeabilidade a gases e taxa
de degradação (BRITO et al., 2011).
Diversos são os polímeros citados na literatura, como por exemplo, o PLA, PHA, PA e
a Goma Xantana.

PLA (poli lactato): é um poliéster produzido por síntese química a partir de ácido láctico
obtido por fermentação bacteriana de glicose extraído do milho, com uso potencial na

4
confecção de embalagens, itens de descarte rápido e fibras para vestimentas e forrações.
(BORSCHIVER et al, 2008).

PHA (polihidroxialcanoato): constitui uma ampla família de poliésteres produzidos por


bactérias através de biossíntese direta de carboidratos de cana-de-açúcar ou de milho, ou de
óleos vegetais extraídos principalmente de soja e palma.

PA (polímeros de amido): são polissacarídeos, modificados quimicamente ou não,


produzidos a partir de amido extraído de milho, batata, trigo ou mandioca. Pode ser utilizado
na produção de embalagens e itens de descarte rápido e, em blendas com polímeros
sintéticos, na confecção de filmes flexíveis.

Goma Xantana: é um exopolissacarídeo produzido por microrganismos a partir de


carboidratos extraídos de milho ou cana-de-açúcar, com ampla utilização na área de
alimentos e uso potencial na área de cosméticos e na exploração de petróleo
(BORSCHIVER et al, 2008).

2.1.2. Polímeros Verdes

O termo polímero verde tem sido atribuído aos polímeros que outrora eram
sintetizados a partir de matéria-prima proveniente de fontes fósseis, mas que, devido a
avanços tecnológicos passaram também a ser sintetizados a partir de matéria-prima
proveniente de fontes renováveis. Desta forma para diferenciar o polímero obtido a partir de
matéria-prima de fonte renovável daquele obtido a partir de matéria-prima de fontes fósseis,
o adjetivo verde é acrescentado ao nome do polímero: polietileno verde (PE verde) e o
policloreto de vinila verde (PVC verde), os quais mantêm as mesmas características dos
polímeros obtidos de fontes fósseis, ou seja, não são biodegradáveis, porém por serem
provenientes de fontes renováveis, são classificados como biopolímeros (BRITO et al.,
2010).
Os investimentos em produção da Braskem para o desenvolvimento de tecnologia de
produtos que utilizam matéria-prima renovável resultaram na produção em larga escala do
polietileno verde I´m greenTM (Figura 2). O PE verde I´m greenTM é uma resina termoplástica

5
produzida a partir do etanol de cana-de-açúcar brasileiro. É considerado um biopolímero
inovador pois apresenta as seguintes propriedades (Braskem, 2013):
 Redução da emissão de gases do efeito estufa – cada tonelada do PE verde captura e fixa
CO2 da atmosfera, ajudando a reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
 Matéria-prima renovável – proveniente da cana-de-açúcar brasileira; os fornecedores da
Braskem atendem a princípios de desenvolvimento sustentável presentes no “Código de
Conduta para Fornecedores de Etanol”.
 Reciclável – o PE verde é reciclável na mesma cadeia de reciclagem do PE de origem fóssil.
 Aplicação – o PE verde possui as mesmas características técnicas, aparência e versatilidade
de aplicações do PE de origem fóssil, não exigindo investimento em novas tecnologias de
processamento.

Figura 2: Processo de produção do polietileno verde I´m GreenTM (PE verde) (Braskem,
2013)

O eteno, obtido a partir do etanol, possui pureza adequada para qualquer processo
de polimerização e permite a obtenção de qualquer tipo de polietileno, polietileno de alta
densidade – PEAD, polietileno de baixa densidade – PEBD, polietileno de ultra-alto peso
molecular – PEUAPM e polietileno de baixa densidade linear – PEBDL, com 100% de
matéria-prima renovável. O PVC (cloreto de polivinila) é um composto químico formado por
57% de cloro (derivado do cloreto de sódio) e 43% de eteno (que vem do petróleo), fato pelo
qual já é considerado um plástico não totalmente derivado do petróleo. Devido aos polímeros

6
verdes possuírem características equivalentes às dos polímeros convencionais, suas
aplicações são as mesmas da resina proveniente do petróleo. O polietileno é aplicado na
produção de garrafas, filmes, sacolas plásticas, caixas, artigos de higiene pessoal e
doméstica, e componentes automotivos. O PVC é encontrado em aplicações como produtos
médico- hospitalares, embalagens para alimentos, materiais usados na construção civil e até
em peças de alta tecnologia utilizadas em equipamentos espaciais. Estas são vantagens
apresentadas pelos polímeros verdes em relação aos demais biopolímeros que possuem
aplicações mais restritas. Após o final de sua vida útil, os produtos verdes podem ser
reutilizados, reciclados ou enviados para sistemas de reciclagem energética, com a principal
vantagem de gerar emissão neutra de carbono porque o CO 2 liberado veio originalmente da
atmosfera e será novamente capturado pela cana-de-açúcar na próxima safra (BRITO et al.,
2011).

2.1.3. Monitoramento Tecnológico em Biopolímeros

Borschiver et al. (2008) realizaram um estudo de monitoramento tecnológico em


biopolímeros aplicados em diversas áreas, usando como fontes de informações artigos
científicos e patentes. Para tanto, foram utilizados, respectivamente, o programa Scifinder
Scholar, que emprega as bases de dados CAPLUS e MEDLINE, e a base de dados
americana de patentes, a USPTO. Os dados foram obtidos utilizando-se como palavras-
chaves “biopolymers” e “biomaterials”. Foram realizadas análises “macro”, “meso” e “micro”
em relação às principais universidades/centros de pesquisa, países de publicação, tipos de
aplicações, principais biopolímeros mencionados, principais matérias-primas utilizadas e
principais métodos de produção. A partir do estudo dos artigos científicos publicados entre os
anos de 2002 e 2007 e das patentes depositadas entre 2001 e 2007, os autores chegaram
às seguintes conclusões:
 Analisando as publicações e depósitos por ano, pode-se verificar que houve um
aumento gradual do número de textos sobre o tema, e o ano de 2006 apresentou o maior
número de publicações de artigos e de depósitos de patentes (Figura 3).
 Em relação aos países, observa-se que Estados Unidos e Alemanha aparecem em
destaque tanto na publicação de artigos quanto no depósito de patentes. As
universidades/centros de pesquisa tiveram o maior número de publicações de artigos,

7
enquanto as pessoas físicas depositaram mais patentes. Entre as empresas, vale destacar a
dinamarquesa a Danisco Company e a americana Biomass Processing Technology, Inc.;

Figura 3: Distribuição das Patentes por Países Depositantes (Borschiver et al. 2008)

 As aplicações de biopolímeros são muito amplas (Figura 4) e estão em constante


desenvolvimento, principalmente nas áreas medicinal e de nanotecnologia. Vale a pena des-
tacar sua grande importância dentro da medicina como na utilização em engenharia de
tecidos e implantes, assim como na regeneração de ossos, tema muito explorado nos artigos
publicados no Congresso Internacional The Polymer Processing Society - 23 Anual Meeting
realizado em Salvador, Bahia em 2007 (Borschiver et al. 2008).

Figura 4: Distribuição de Patentes por área de aplicação do biopolímero (Borschiver et al.


2008).

8
 A principal matéria-prima utilizada para a produção de biopolímeros foi a celulose,
com destaque também para trigo e amido (Figura 5).

Figura 5: Distribuição dos tipos de matérias-primas pelo número de artigos onde são
mencionadas entre 2002-julho/2007 (Borschiver et al. 2008).

 Em relação ao processo de produção de biopolímeros, pode-se destacar a síntese


por bactérias, o encadeamento de peptídeos e o cross-link.

2. 2. PO LÍ MEROS BIODEG RADÁVEIS: T IPO S E PRO PRIEDADES

2.2.1. Definição

A “American Standard for Testing and Methods” (ASTM-D-833) estabeleceu que


polímeros biodegradáveis são materiais degradáveis, em que a degradação resulta
primariamente da ação de microrganismos, tais como fungos, bactérias e algas de
ocorrência natural, gerando CO2, CH4, componentes celulares e outros produtos
(FRANCHETTI E MARCONATO, 2006). Podem ser provenientes de fontes naturais
renováveis como milho, celulose, batata, cana-de- açúcar, ou serem sintetizados por
bactérias a partir de pequenas moléculas como o ácido butílico ou o ácido valérico dando
origem ao polihidroxibutirato – PHB e ao polihidroxibutirato-co-valerato – PHB-HV,
respectivamente, ou até mesmo serem derivados de fonte animal, como a quitina, a
quitosana ou proteínas.

9
Figura 6: Classificação de alguns polímeros biodegradáveis de acordo com sua fonte de
obtenção (Adaptado de BRITO et al., 2011).

Outros polímeros biodegradáveis podem ser obtidos de fontes fósseis, petróleo, ou


da mistura entre biomassa e petróleo. Os polímeros biodegradáveis provenientes do petróleo
mais conhecidos são as policaprolactonas – PCL, as poliesteramidas, os copoliésteres
alifáticos e os copoliésteres aromáticos. A Figura 6 ilustra um fluxograma classificando
alguns polímeros biodegradáveis de acordo com sua fonte de obtenção (BRITO et al., 2011).

2.2.2. Polímeros Biodegradáveis Naturais

São polímeros formados durante o ciclo de crescimento de organismos vivos (Figura


7) cuja síntese envolve, geralmente, reações catalisadas por enzimas e reações de
crescimento de cadeia a partir de monômeros ativados, que são formados dentro das células
por processos metabólicos complexos (FRANCHETTI e MARCONATO, 2006).

10
Figura 7: Ciclo de vida dos polímeros biodegradáveis proveniente de fontes renováveis
(BRITO et al., 2011)

POLISSACARÍDEOS
Os principais polissacarídeos de interesse comercial são celulose e amido, havendo
uma atenção especial aos carboidratos mais complexos: quitosanas, quitinas e xantanas.
Comparando-se as estruturas de alguns destes polímeros, verifica-se que são formados por
unidades básicas de glicose, ligadas como anéis de grupos acetais (aldeído e álcool) e,
portanto, com grande quantidade de grupos hidroxilas (alta hidrofilicidade) (FRANCHETTI e
MARCONATO, 2006).

 CELULOSE
A celulose (Figura 8) é um polissacarídeo formado de unidades de glicose, presente
em madeira, papel e algodão. Os outros polissacarídeos têm estrutura semelhante à da
celulose. A quitina é uma molécula complexa encontrada nos crustáceos: caranguejos, siris,
lagostas, camarões. Também existe em insetos, fungos, cogumelos e minhocas; quitosana -
polímero derivado da quitina, utilizado em aplicações médicas e em programas de perda de
peso. Possui significativa compatibilidade com tecidos vivos e melhora a cicatrização de

11
ferimentos; xantana – polímero comercial hidrofílico, muito utilizado como espessante e
estabilizante, em cosméticos e alimentos e como cápsulas de liberação controlada de drogas
(FRANCHETTI e MARCONATO, 2006).

Figura 8: Estrutura da celulose (FRANCHETTI e MARCONATO, 2006).

 AMIDO
O amido pode ser obtido de diversas fontes vegetais, como cereais, raízes e
tubérculos, e também de frutas e legumes, no entanto, a extração em nível comercial de
amido se restringe aos cereais, raízes e tubérculos. O amido é o polissacarídeo de reserva
dos vegetais e está armazenado sob a forma de grânulos, que apresentam um certo grau de
organização molecular, o que confere aos mesmos um caráter parcialmente cristalino, ou
semicristalino, com graus de cristalinidade que variam de 20 a 45%. O amido é formado por
dois tipos de polímeros de glicose, a amilose e a amilopectina, com estruturas e
funcionalidade diferentes (Figura 9).

12
Figura 9: Principais componentes do amido: (a) amilose e (b) amilopectina (PRADELLA
2006, apud BASTOS, 2010).

A amilose é um polímero linear composto por unidades de D-glicose ligadas por


ligações α-(1→4), com grau de polimerização de 200 a 3000, dependendo da fonte do
amido. A amilopectina é um polímero altamente ramificado, com unidades de D-glicose
ligadas através de ligações α-(1→4) e ramificações em α-(1→6) (MALI et al., 2010).
Variações nas proporções entre estes componentes e em suas estruturas e
propriedades podem resultar em grânulos de amido com propriedades físico-químicas e
funcionais muito diferentes, que podem afetar as suas aplicações industriais. Pelo caráter
semicristalino, os grânulos de amido apresentam birrefringência quando observados em
microscópio óptico sob luz polarizada (MALI et al., 2010).
A parte linear das moléculas de amilopectina forma estruturas helicoidais duplas,
estabilizadas por ligações de hidrogênio entre grupamentos hidroxila, dando origem às
regiões cristalinas dos grânulos. A região amorfa é composta pelas cadeias de amilose e
pelas ramificações da amilopectina, O padrão A é característico de amidos de cereais, o
padrão B de amidos de tubérculos e, o padrão C, intermediário entre o A e o B, característico
de amido de leguminosas (MALI et al., 2010).
A aplicação do amido na produção de filmes se baseia nas propriedades químicas,
físicas e funcionais da amilose para formar géis e na sua capacidade para formar filmes. As
moléculas de amilose em solução, devido à sua linearidade, tendem a se orientar

13
paralelamente, aproximando-se o suficiente para que se formem ligações de hidrogênio
entre hidroxilas de polímeros adjacentes. Como resultado, a afinidade do polímero por água
é reduzida, favorecendo a formação de pastas opacas e filmes resistentes (MALI et al.,
2010).
As principais fontes comerciais de amido são o milho, a batata, o arroz, o trigo e a
mandioca, porém, dentre outras fontes promissoras para a obtenção de amido estão os
tubérculos de inhame (Dioscorea alata) e os grãos de aveia (Avena sativa). O amido de
inhame, quando comparado com os amidos anteriormente citados, apresenta um teor médio
de amilose mais elevado. Os maiores teores de amilose do amido de inhame são
interessantes para a confecção dos filmes. O amido de mandioca vem sendo bastante
estudado por pesquisadores brasileiros para a obtenção de um material termoplástico a base
de amido, sua estrutura granular semicristalina precisa ser destruída para dar origem a uma
matriz polimérica homogênea e essencialmente amorfa (MALI et al., 2010).
Os fenômenos que possibilitam a destruição da organização dos grânulos de amido
são a gelatinização e a fusão.
A gelatinização é a transformação irreversível do amido granular em uma pasta
viscoelástica, fenômeno que acontece na presença de excesso de água e leva à destruição
da cristalinidade e da ordem molecular do grânulo através do rompimento das ligações de
hidrogênio que, inicialmente, mantinham a integridade deste. Por outro lado, quando o amido
é aquecido na presença de pequenas quantidades de água, o fenômeno que indica o
rompimento dos seus grânulos é conhecido como fusão, e exige temperaturas bem maiores
do que as exigidas para a gelatinização (MALI et al., 2010).
Após a gelatinização, as moléculas de amido podem começar a se reassociar através
de ligações de hidrogênio, favorecendo a formação de uma estrutura mais ordenada, que,
sob condições favoráveis, pode formar uma estrutura novamente cristalina; a este conjunto
de alterações dá-se o nome de retrogradação ou recristalização (MALI et al., 2010).
Os amidos termoplásticos são bastante sensíveis à água e ao envelhecimento. As
cadeias móveis do amido podem sofrer retrogradação e/ou cristalização, levando a
mudanças indesejáveis nas suas propriedades termomecânicas. A estrutura do amido
determina as propriedades desses materiais tais como estabilidade, biodegradabilidade,
textura propriedades mecânicas e térmicas. Produtos de amido termoplástico têm sido
desenvolvidos baseados apenas em amido e aditivos naturais (SILVA, 2003).

14
Durante os últimos anos, a técnica de evaporação de solvente (casting) foi a mais
empregada e discutida na pesquisa de filmes biodegradáveis a base de amido, mostrando
bons resultados dentro do âmbito laboratorial. Porém, para a produção em escala industrial,
apresenta algumas desvantagens, como tempo de processo e custo elevados, esta última
em função do grande gasto energético para a secagem dos filmes. Uma solução para o
problema é a utilização do processo de extrusão para a produção em escala industrial, com
as vantagens de rapidez e menores custos de produção; outro fator importante a ser
considerado é que este processo já é empregado na produção de embalagens sintéticas
convencionais, como as de polietileno, polipropileno, polietileno tereftalato, dentre outras
(MALI et al., 2010).

ÁCIDOS ALGÍNICOS
Algina, ácido algínico ou aginato refere-se a uma substância presente na parede
celular de algas marinhas pardas da classe Phaeophyta e na cápsula celular de algumas
bactérias, em que desempenha funções primariamente estruturais (Figura 10). Estes ácidos
são formados de monômeros de ácidos manurônico e gulurônico. São solúveis em água e
tornam-se insolúveis na presença de cátions, como cálcio, berílio, alumínio e ferro, formando
géis, que podem servir para liberação controlada de drogas em sistemas vivos, para
encapsulamento de herbicidas, microrganismos e células (BRITO et al., 2011).

Figura 10: Estrutura química de ácidos algínicos: a) ácido manurônico b) ácido gulurônico
(BRITO et al., 2011).
POLIPETÍDEOS NATURAIS
As gelatinas são polímeros biodegradáveis, consistindo de proteínas do tipo animal,
com grande aplicação industrial, farmacêutica e biomédica, empregados como coberturas e

15
microencapsulação de drogas e no preparo de hidrogéis. Na conformação β das proteínas, a
cadeia polipeptídica (Figura 11) estende-se em uma estrutura em ziguezague, denominada
de folha β, mantida por ligações de hidrogênio (FRANCHETTI e MARCONATO, 2006).

Figura 11: Conformação  das cadeias polipeptídicas (BRITO et al., 2011).

POLIÉSTERES BACTERIANOS
Poliésteres naturais, que são produzidos por uma grande variedade de bactérias,
como materiais de reserva intracelular, têm sido alvo de muita atenção para aplicações
comerciais, como polímeros biodegradáveis, vantajosamente produzidos por fontes
renováveis. Esta classe de polímeros, os poli(hidroxialcanoatos) (PHAs), poliésteres
alifáticos, também denominados biopolímeros ou bioplásticos (Figura 12), mostra uma
grande variação em suas propriedades, isto é, de materiais rígidos e quebradiços a plásticos
com boas propriedades de impacto ou até elastômeros resistentes, dependendo do tamanho
dos grupos alquilas ramificados e da composição do polímero.
Os poli(hidroxialcanoatos) mais conhecidos são poli(β-hidroxibutirato) (PHB), poli(β-
hidroxivalerato) (PHV) e poli(hidroxi- butirato-co-valerato) (PHB-V), sendo este último
conhecido comercialmente como Biopol. Estes poliésteres têm sido sintetizados por vários
tipos de microrganismos, tais como Alcaligenes eutrophus, Ralstonia eutropha, Alcaligenes
lótus, Comamonas acidvorans e Pseudomonas putida em meios apropriados, como material
de reserva de energia e têm como principais vantagens sua biocompatibilidade e
biodegradabilidade (FRANCHETTI e MARCONATO, 2006).

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Figura 12: Estrutura química dos poli(hidroxialcanoatos) (PHAs): poli(²-hidroxibutirato); b)
poli(²-hidroxivalerato) e, c) poli(²-hidroxibutirato-covalerato) (BRITO et al., 2011).

 Polihidroxialcanoatos – PHA

PHA é o termo dado à família de poliésteres produzidos por microrganismos a partir


de vários substratos de carbono. Dependendo do substrato de carbono e do metabolismo do
microrganismo, diferentes monômeros e assim diferentes polímeros e copolímeros podem
ser obtidos. Suas propriedades e degradabilidade oferecem potencial para substituição de
polímeros não degradáveis como o polietileno e o polipropileno (MACEDO, 2010).
PHAs são produzidos a partir da fermentação de recursos renováveis (açúcares) por
meio da ação metabólica de certas bactérias. Conhecem-se cerca de 250 espécies
diferentes de bactérias capazes de produzir e estocar PHAs em forma de grânulos
intracelulares como reserva energética. O processo de crescimento dos grânulos de PHAs é
estimulado pela presença de carbono em excesso, no meio de cultura, e pela carência de
pelo menos um dos nutrientes (N, P, S, O ou Mg, etc.) necessários ao crescimento do
microrganismo (MACEDO, 2010).
A grande diversidade dessas bactérias aliada aos mais de 100 monômeros diferentes
que podem se combinar dentro da família dos PHAs são responsáveis pela modulação das
propriedades desses biopoliésteres, as quais se estendem desde um comportamento
elastomérico até frágil e quebradiço. A Figura 13 mostra a estrutura química genérica dos
PHAs (MACEDO, 2010).

17
Figura 13: Estrutura molecular geral dos polihidroxialcanoatos (PHAs) (MACEDO, 2010).

Os PHAs podem ser degradados por uma série de microrganismos, tais como
bactérias, fungos ou algas, nos mais variados ambientes tais como solos, lagos, rios, mares,
etc. Esses microrganismos excretam a despolimerase, que hidrolisa os biopolímeros
convertendo-os em oligômeros e monômeros solúveis em água. Em seguida, os próprios
microrganismos reutilizam os produtos resultantes como nutrientes dentro das células. A
biodegradação pode ocorrer em ambas as condições, aeróbica e anaeróbica. Os processos
aeróbicos resultam na conversão completa dos biopolímeros em água e dióxido de carbono,
enquanto que em condições anaeróbicas, o produto da degradação é constituído por dióxido
de carbono e metano. Dentro da família dos PHAs, o PHB e o polihidroxibutirato-co-valerato
(PHBV) são aqueles mais produzidos em escala industrial, embora o primeiro seja melhor
caracterizado ( MACEDO, 2010).

 Polihidroxibutirato – PHB

O Polihidroxibutirato – PHB ou P[3HB] é o principal polímero da família dos PHAs,


porém outros copoliésteres existem como, poli(hidroxibutirato-co-hidroxivalerato)PHBV,
poli(hidroxibutirato-co- hidroxihexanoato) – PHBHx, poli(hidroxibutirato-co-hidroxioctanoato)
– PHBO e o poli(hidroxibutirato- co- hidroxioctadecanoato) – PHBOd (BRITO et al., 2011).
A Figura 14 mostra uma imagem, obtida por microscopia eletrônica de transmissão
(MET), de seções de uma cultura de células contendo grânulos de polihidroxibutirato (PHB),
um tipo de PHA (MACEDO, 2010).

18
Figura 14: Micrografia obtida por microscopia eletrônica de transmissão mostrando seções
de células microbianas contendo grânulos discretos de PHB (JIANG et al., 2008, apud
MACEDO, 2010).

O PHB e seus copolímeros são produzidos naturalmente por bactérias a partir de


fontes renováveis de energia, e são biodegradados por uma enorme quantidade de bactérias
e fungos presentes na natureza. No Brasil, a produção de PHB foi desenvolvida por uma
joint venture entre a Copersucar (Cooperativa dos Produtores de Cana-de-açúcar do Estado
de São Paulo), o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e pelo ICB (Instituto de Ciências
Biomédicas da USP). A produção de PHB encontrou condições excepcionalmente favoráveis
no Brasil devido às características da indústria de açúcar e álcool, bastante desenvolvida
durante o programa PROALCOOL. A disposição de açúcar a baixos preços e grandes
quantidades, que é utilizado como substrato para o crescimento das bactérias do PHB, é
uma das principais características que favorecem a produção desse polímero. O PHB por ser
um material sintetizado por bactérias possui uma estrutura altamente regular tornando-o
altamente cristalino e quebradiço. Além disso, sua temperatura de cristalização está muito
próxima da temperatura ambiente, fazendo com que o seu grau de cristalinidade aumente
com o tempo, restringindo a mobilidade da fase amorfa tornando-o quebradiço (QUENTAL et
al., 2010).
Uma alternativa para diminuir o grau de cristalinidade através da introdução de
defeitos ao longo da cadeia polimérica é a produção de copolímeros, substituindo o grupo
metila por etila, por exemplo. A alta cristalinidade do PHB também é um obstáculo à sua

19
aplicação na área médica, uma vez que ela diminui a taxa de absorção pelo organismo. No
entanto, a utilização de agentes nucleantes, plastificantes e outros aditivos tem possibilitado
contornar satisfatoriamente algumas das deficiências do PHB. A degradação térmica do PHB
ocorre com o aquecimento desse poliéster a temperaturas próximas a seu ponto de fusão
170-200 ºC. Nessas condições ocorre a quebra das ligações ésteres entre as unidades
repetitivas e a rápida redução de sua massa molar média. A degradação do PHB em
temperaturas entre 170-200 ºC produz principalmente oligômeros. Uma vez que a
degradação térmica resulta na diminuição da massa molar do PHB, todas as propriedades
físicas e mecânicas também são alteradas (QUENTAL et al., 2010).
Para tornar o PHB um material competitivo é imprescindível aperfeiçoar seu
processamento utilizando processos usuais de transformação de polímeros a partir do
estado plastificado: Temperatura de processamento > Tg (Temperatura de transição vítrea)
para polímeros amorfos ou Temperatura de processamento > Tm (Temperatura de fusão
cristalina), para polímeros semicristalinos, que por sua vez é muito limitado devido à
degradação térmica sofrida pelo PHB. A possibilidade de processá-lo e moldá-lo como um
típico termoplástico ampliaria suas aplicações. Embora, o processamento seja apontado por
muitos como um grande obstáculo, com os parâmetros adequados é perfeitamente viável
processar o PHB sem comprometer suas propriedades (QUENTAL et al., 2010).
A massa molar do PHB é uma das propriedades mais importantes no processamento,
uma vez que a viscosidade do PHB no estado fundido também é dependente da massa
molar, ou seja, a viscosidade pode vir a limitar a utilização do PHB na mistura com outros
polímeros ou mesmo na moldagem por injeção. Sem dúvida nenhuma, a síntese do PHB tem
sido uma das áreas de maior interesse nos últimos 20 anos. Um levantamento bibliográfico
mostra que trabalhos sobre PHB concentram-se nas áreas de síntese e produção de blendas
de PHB (QUENTAL et al., 2010).

 Poli (3-hidroxibutirato-co-3-hidroxivalerato) – PHBV

O copolímero industrial PHBV possui melhores propriedades mecânicas de


processabilidade, em relação ao polímero PHB, em função do aumento da resistência ao
impacto, da maciez e da flexibilidade. Esse copolímero tem sido obtido pela incorporação de
unidades de 3HV na cadeia polimérica (CATONI, 2011).

20
As propriedades físicas e térmicas desses copolímeros são fortemente dependentes
da composição de 3HV, de modo que e a temperatura de fusão decresce significativamente
com o aumento da fração de 3HV no copolímero, sem, contudo, afetar a temperatura de
degradação, permitindo melhores condições de processabilidade. A alta porcentagem de
3HV diminui a cristalinidade do polímero, fazendo com que ele fique mais flexível (CATONI,
2011).

2.2.3. Polímeros Biodegradáveis Sintéticos

Esta classe de polímeros tem sido muito empregada em usos biomédicos, tais como
cápsulas de liberação controlada de droga em organismos vivos, fixadores em cirurgias
(suturas, clips, pinos para ossos) e para embalagens especiais (FRANCHETTI e
MARCONATO, 2006).
Os polímeros mais usados têm sido poli (ácido lático) (PLA), poli (ácido glicólico)
(PGA), poli (ácido glicólico-ácido lático) (PGLA), poli(ε-caprolactona) (PCL). Estes polímeros
(Figura 15) são ésteres alifáticos biodegradáveis, por possuírem cadeias carbônicas
hidrolisáveis. Se a biodegradação for por meio da ação de enzimas, a cadeia polimérica
deve se ajustar aos sítios ativos das enzimas e isto é favorecido pela flexibilidade das
cadeias poliméricas alifáticas, o que não ocorre com os poliésteres aromáticos. PLA, PGA e
PGLA são poliésteres muito utilizados em suturas absorvíveis dentro de um sistema vivo,
sendo que uma grande vantagem é sua biodegradabilidade por hidrólise simples da cadeia
de éster em meio aquoso, ou seja, nos fluidos corporais. PCL foi muito estudado como
substrato para biodegradação e como matriz para liberação controlada de drogas. PCL é
biodegradado através da hidrólise enzimática, por fungos. Suas constantes físicas,
temperatura de transição vítrea Tg e temperatura de fusão Tf são para o PCL -60 e 60°C,
para o PLA 58 e 180°C e para o PGA 36 e 224-226°C, respectivamente (FRANCHETTI e
MARCONATO, 2006).

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Figura 15: Estrutura química de: a) poli(ε-caprolactona) (PCL); b) poli(ácido lático) (PLA); c)
poli(ácido glicólico) (PGA) e, d) poli(ácido glicólico-lático) (PGLA).

 PLA

O poli (ácido lático) – PLA é um poliéster alifático, termoplástico, semicristalino ou


amorfo, biocompatível e biodegradável, sintetizado a partir do ácido lático obtido de fontes
renováveis. O ácido lático é uma molécula quiral existente como dois estereoisômeros, L- e
D- ácido lático, o qual pode ser biologicamente ou quimicamente sintetizado. O ácido lático
usado na preparação do PLA é proveniente de fontes naturais renováveis contendo amido ou
açúcar como: milho; trigo; cana-de-açúcar; beterraba e batata (BRITO et al., 2011).
Entre numerosos tipos de polímeros degradáveis, o poli (ácido láctico) algumas vezes
chamado poli (lactide), um poliéster alifático e termoplástico biocompatível, é atualmente um
material muito promissor e popular com uma perspectiva de desenvolvimento espetacular. A
forma mais comum de se obter PLA de alta massa molecular é via polimerização por
abertura de anel do lactide. Uma grande variedade de compostos, principalmente óxidos e
sais metálicos, tem sido investigada para ser utilizada como catalisadores. Entretanto, para
fabricação de polímeros para uso biomédico, somente dois sais de estanho têm sido
empregados: cloreto de estanho II e 2-etilhexanoato de estanho II, também conhecido como
octoato de estanho, Sn(Oct)2. Ambos os sais de estanho são aprovados para serem usados
como aditivos alimentares, pelo FDA (Food and Drug Administration), mas o maior destaque
vem sendo dado ao Sn(Oct)2 devido a sua eficiência e baixa toxicidade (BRITO et al., 2011).

22
A polimerização enzimática é um método ambientalmente mais amigável que pode
ser realizado sob condições brandas, é altamente específico e provê controle adequado do
processo de polimerização. Lipases são biocatalisadores muito versáteis, pois podem ser
utilizadas na síntese de uma extensa variedade de substratos com alta estereoespecificidade
(SIQUEIRA, 2011).
O ácido lático sintetizado biologicamente produz quase exclusivamente o L- ácido
lático, levando a produção do L-poliácido lático – PLLA, com baixo peso molecular. Por outro
lado, o processo químico leva a várias taxas de L- e D- ácido lático. Na verdade, a reação
química leva a formação de um diéster cíclico, o lactato, como um passo intermediário a
produção do PLA. Uma polimerização por abertura de anel do lactato leva a formação dos
dois enantiômeros L- e D- ácido lático. Este tipo de polimerização tem a vantagem de
produzir polímeros com maiores pesos moleculares e permitir o controle das propriedades
finais do PLA pelo ajuste das proporções e sequências das unidades de L- e D- ácido lático.
(BRITO et al., 2011).
O PLA apresenta propriedades mecânicas comparáveis com as dos polímeros
provenientes de fontes fósseis, especialmente, elevado módulo de elasticidade, rigidez,
transparência, comportamento termoplástico, biocompatibilidade e boa capacidade de
moldagem. O PLA é também de diversas formas similar ao polietileno tereftalato – PET. Suas
propriedades térmicas e mecânicas são superiores a dos outros poliésteres alifáticos
biodegradáveis, como o polibutileno succinato – PBS, o polihidroxibutirato – PHB e a
policaprolactona – PCL (BRITO et al., 2011).
Sob condições de alta temperatura e elevada umidade, o PLA irá degradar-se
rapidamente e se desintegrar dentro de semanas ou meses. O principal mecanismo de
degradação é a hidrólise, seguido pelo ataque de bactérias, sobre os resíduos fragmentados.
A taxa de hidrólise é acelerada por ácidos ou bases e é dependente do teor de umidade e
temperatura. Dimensões da peça, cristalinidade e misturas (blendas, compósitos,
nanocompósitos) afetarão a taxa de degradação. Produtos de PLA se degradam
rapidamente tanto em condições aeróbicas como em condições anaeróbicas de
compostagem (BRITO et al., 2011).
Sob condições normais de uso, o PLA é muito estável e mantém a sua massa
molecular e propriedades físicas durante anos. Devido apresentar elevada transparência
com taxa de cristalização relativamente baixa o PLA é um candidato promissor à fabricação
de filmes orientados biaxialmente, embalagens termoformadas e garrafas moldadas por

23
injeção sopro. O PLA também pode ser aplicado na confecção de fibras para indústria têxtil,
sacolas plásticas, filmes para agricultura, e outras aplicações (BRITO et al., 2011).

 PCL

A poli (ε-caprolactona), PCL, é um polímero semicristalino, tenaz e flexível, possui


baixa temperatura de transição vítrea, Tg entre –60 e –70 °C, e funde-se a cerca de 60 °C,
apresentando boas propriedades mecânicas e grande potencial para uso como biomaterial.
Sua biocompatibilidade permite aplicações nos campos biomédico e farmacêutico. Por
exemplo, sua alta permeabilidade a drogas tem permitido testes em sistemas de liberação
controlada de fármacos. A PCL apresenta boa solubilidade em solventes orgânicos comuns
e pode ser degradado enzimaticamente, sendo que sua degradação in vivo é mais lenta que
a do PHB (ROA et al., 2010).
O mercado de biomateriais utilizados em tratamentos ortopédicos está crescendo
vertiginosamente no mundo. No passado, os materiais para implante eram designados como
bioinertes e atualmente estão sendo denominados materiais bioativos, pois se integram a
células ou moléculas biológicas para atuar na regeneração dos tecidos biológicos. No caso
dos ossos, estes materiais devem ter a capacidade de osteoindução (promover a
diferenciação dos osteoblastos) e osteocondução (permitir o crescimento de um novo tecido
ósseo na superfície, requerendo a presença de tecido ósseo pré-existente como fonte de
células osteoprogenitoras), promovendo a osteointegração (SILVA, 2009).
A biocompatibilidade pode ser definida como a capacidade que um material tem de
desempenhar com um tecido hospedeiro uma resposta a uma aplicação específica, não
provocando resposta inflamatória nem demonstrando cito toxicidade ou imunogenicidade. A
resposta de um tecido a um implante depende de muitos fatores que variam com as
propriedades químicas, físicas e biológicas dos materiais, forma e estrutura do implante. A
utilização de polímeros naturais degradáveis, como o colágeno, data de milhares de anos, no
entanto, a aplicação de polímeros biodegradáveis sintéticos iniciou-se apenas na metade
final dos anos sessenta. Suturas cirúrgicas biorreabsorvíveis feitas com polímeros sintéticos,
como os poli (α-hidroxiácidos), já possuem aplicação na medicina desde 1970. As pesquisas
de polímeros sintéticos biodegradáveis foram impulsionadas pelo crecimento de novas
tecnologias como a engenharia de tecidos, a medicina regenerativa (SILVA, 2009).

24
A terapia gênica, a liberação controlada de drogas e a bionanotecnologia, as quais
requerem como plataforma para sua construção a utilização de materiais biodegradáveis.
Os polímeros sintéticos biodegradáveis possuem muitas vantagens em relação a outros
materiais para o desenvolvimento de matrizes para o crescimento de células específicas e
utilização na engenharia de tecidos. Entre as vantagens incluem-se a capacidade se serem
produzidos com propriedades mecânicas sob medida e de degradação cinética adaptadas a
várias aplicações. Também podem ser fabricados em várias formas, com poros cujas
características morfológicas permitem o crescimento do tecido biológico desejado (SILVA,
2009).
De acordo com o tipo de aplicação a que se destina na medicina ortopédica, um
material sintético deve possuir características físicas, químicas, biológicas, biomecânicas
específicas e propriedades de degradação que proporcionem eficiência terapêutica. As
propriedades químicas, físicas, mecânicas e biológicas de um material biodegradável variam
com o tempo e os produtos de degradação produzidos. Por desempenharem um papel
essencial como suportes que proporcionam a formação de estruturas tridimensionais e
ambientes de matriz extracelular sintéticos para a regeneração do tecido biológico, estes
suportes devem imitar características da matriz extracelular natural bem como interações
célula-matriz extracelular e estratégias de liberação biológica que sinalizem o
desenvolvimento do processo de cura. Estes materiais biomiméticos devem ser sintetizados
através de modernas tecnologias de processos, com o objetivo de alcançar composições ou
propriedades semelhantes às da matriz extracelular. Devido à complexidade e ao vasto
campo de aplicações dos polímeros biodegradáveis, tem sido desenvolvida uma variedade
de materiais biodegradáveis para a fabricação de implantes com características específicas
para cada aplicação biomédica individual (SILVA, 2009).

2.3. POLÍMEROS BIODEGRADÁVEIS: APLICAÇÕES

O emprego de polímeros biodegradáveis naturais (PHB, PHB-V) ou sintéticos (PCL,


PLA, PGA) no mercado ainda não é significativo, mas deverá ser mais expressivo em futuro
próximo, uma vez que estes polímeros geram resíduos de curta duração, em relação aos
plásticos sintéticos (PET, PE, PP, PVC) e tem crescido a pesquisa a respeito da aplicação
tecnológica e da duração de seus resíduos (FRANCHETTI, 2006; MARCONATO, 2006).

25
2.3.1. Blendas de Polímeros sintéticos com polímeros biodegradáveis

As blendas poliméricas são preparadas visando a obtenção de materiais com


propriedades que não são encontradas em um único polímero. A mistura entre dois ou mais
polímeros é considerada uma alternativa econômica para o desenvolvimento de novos
materiais, se comparada à síntese de novos polímeros, cujo custo é mais elevado. Quando
se selecionam polímeros para a produção de uma blenda, dois fatores importantes devem
ser considerados, a miscibilidade e a compatibilidade, os quais norteiam o desenvolvimento
e a aplicação de novos materiais poliméricos. Quando dois polímeros são misturados, seja
qual for o método de mistura, o resultado mais comum é a obtenção de um sistema imiscível
(QUENTAL et al., 2010).
No entanto, a imiscibilidade é um fator esperado e muitas vezes desejado. O termo
compatibilidade recebe várias interpretações na literatura. Alguns autores definem polímeros
compatíveis como aqueles que não exibem uma significativa separação de fases quando em
uma blenda. Outros, que compatibilidade ocorre quando a mistura de dois polímeros atinge
determinadas propriedades físicas desejadas. Em geral, a mistura ou blenda é compatível
desde que se atinja uma propriedade útil, caso contrário tem-se a incompatibilidade.
Portanto, o termo compatibilidade é subjetivo, enquanto miscibilidade é objetivo (QUENTAL
et al., 2010).
O PHB e o polipropileno (PP) possuem algumas propriedades semelhantes,
diferenciando-se principalmente no alongamento na ruptura, a qual assume valores 100
vezes maior para o polipropileno. Blendas de PHB/PP têm sido relatadas na literatura como
sendo imiscíveis e incompatíveis. Um método para conferir adesão entre as fases, e,
consequentemente, melhores propriedades mecânicas, é através da adição de um
compatibilizante ou através de uma reação in situ. Polímeros funcionalizados com grupos
reativos, como o anidrido maleico, têm sido utilizados com muita eficácia na compatibilização
com as poliamidas. O anidrido maleico pode vir a reagir com os grupos hidroxilas terminais
de um poliéster, como o poli (butileno tereftalato), PBT e PHB. Blendas de PHB/PP-g-AM
foram obtidas em um misturador interno em diferentes faixas de composições. As blendas
foram analisadas por DSC, DMA e por microscopia eletrônica de varredura com fonte de
emissão de campo (FE SEM). Os resultados obtidos mostraram que o sistema é imiscível,
apresentando fase dispersa em uma matriz de PHB. No entanto, foi observada uma boa

26
adesão entre a fase dispersa de PP-g-AM e a matriz, indicando que o sistema foi
compatibilizado (QUENTAL et al., 2010).
Blendas de polietileno de baixa densidade (PEBD) e amido termoplástico (TPS)
modificado foram preparadas via extrusão reativa (REX) e caracterizadas por microscopia
eletrônica de varredura (MEV), espectroscopia na região do infravermelho com transformada
de Fourier (FTIR), absorção de umidade em ambiente com 53% de umidade relativa e
difração de raios-X. Em uma primeira etapa, foi preparado o TPS- modificado, via REX a
partir de uma mistura de amido de milho, ácido cítrico e glicerol. As blendas TPS-PEBD
foram preparadas pelo processamento de uma mistura do TPS modificado e PEBD, ambos
em peletes, em uma extrusora de rosca simples. Foi observado um significativo efeito de
compatibilização, atribuído especialmente à redução da viscosidade da fase TPS e
consequente redução da tensão interfacial entre as fases de TPS e PEBD. Os espectros de
FTIR apresentaram deslocamentos de bandas de absorção do amido confirmando o efeito
de compatibilização pelo ácido cítrico. Observou-se também significativa alteração da
morfologia das blendas, especialmente para as blendas preparadas com adição de 1,0 – 1,5
% de ácido cítrico, que apresentaram estrutura da fase dispersa mais fina e homogênea
(MIRANDA e CARVALHO, 2011).

2.3.2. Compósitos de polímeros biodegradáveis com fibras

Pesquisas envolvendo o emprego de polímeros biodegradáveis como substitutos dos


polímeros sintéticos convencionais ganharam espaço nos últimos anos, em virtude da
intensificação das questões ambientais. Contudo, a maior parte das matrizes biodegradáveis
apresenta propriedades mecânicas inferiores aos polímeros tradicionais. Na tentativa de
solucionar este problema, tem-se como alternativa, o uso de fibras naturais como reforço de
matrizes (MACEDO et al., 2007).
Macedo et al. (2007) realizaram pesquisas com o objetivo de otimizar as
propriedades mecânicas do PHB, estudaram os compósitos biodegradáveis à base de PHB
e pó residual do processamento de fibras de coco (pó de coco). Os compósitos obtidos
foram caracterizados via ensaios de tração, análises de difração de raios-x (DR-X) e
microscopia eletrônica de varredura (MEV). A utilização do pó de coco como reforço para o
PHB puro, mostrou-se viável em baixas concentrações de pó, até 10%, o que foi evidenciado
pela evolução das suas propriedades mecânicas observadas nas curvas tensão-deformação.

27
Os resultados da difração de raios-X mostraram que o hexilenoglicol funciona como um bom
plastificante para a mistura PHB/pó de coco com até 10 % de pó. Por outro lado, ele não
apresenta o mesmo comportamento para as misturas com teores mais elevados de pó de
coco. Os resultados de MEV revelaram baixa adesão entre o reforço e a matriz, levando à
produção de compósitos com propriedades ainda não satisfatórias do ponto de vista
industrial, porém melhores do que o PHB/pó-100:0. Um tratamento químico do pó de coco
deverá ser feito para otimizar a adesão deste com a matriz e, por consequência, obter um
biocompósito com propriedades adequadas para fins industriais.
Leão et al. (2013), realizaram um trabalho visando contribuir para a sustentabilidade e
promover um destino ecologicamente correto aos resíduos sólidos, através da reciclagem,
copos de PP provenientes de bebidas (PP pós-consumo) foram coletados seletivamente e
beneficiados, através da moagem, lavagem e secagem dos mesmos. A fim de conferir
melhores propriedades mecânicas a estes materiais, foi utilizado o resíduo de fibras de
bananeira como material de reforço, o principal resíduo da bananicultura. Devido à fraca
adesão das fibras em seu estado natural à matriz de PP, foi realizado um tratamento químico
de merceirização seguido de acetilação nas fibras de bananeira. A eficácia do tratamento
químico nas fibras foi verificada por espectroscopia de infravermelho com transformada de
Fourier (FTIR) e difratometria a alto ângulo (WAXS). Posteriormente foram preparados
compósitos utilizando-se o PP pós-consumo com as fibras tratadas e não tratadas em
extrusora mono-rosca com perfil plano. Os resultados mostram que o tratamento foi eficaz
em reduzir a grande higroscopicidade das fibras, obtendo-se um compósito com
propriedades otimizadas.

2.3.3. Compósitos de Polímeros Biodegradáveis com carga Inorgânica

Na literatura são relatados vários métodos de preparação de misturas polímero


montmorilonita, visando a obtenção de nano compósitos. Esses métodos dependem da
natureza da argila e do polímero. Entre eles pode-se citar: polimerização in situ, intercalação
de polímero fundido ou melt processing, método sol-gel e dispersão aquosa. A dispersão
aquosa consiste em um sistema bifásico, no qual a montmorilonita é dispersa na fase
aquosa e misturada ao polímero sob aquecimento. Este último método tem sido descrito
como método apropriado para a mistura de amido e nano argila, devido às características
hidrofílicas do sistema sendo este o método empregado neste estudo (FARIA et al., 2012).

28
3. CONCLUSÃO

É importante que os polímeros biodegradáveis apresentem:

 Possibilidade de uso em escala industrial;


 Correta compostagem para preservar sua biodegradação;
 Desempenho satisfatório;
 Preços competitivos.

Alguns fatores principais que tem limitado a utilização destes em larga escala são:
 elevado custo de produção;
 propriedades físicas e mecânicas inferiores aos plásticos tradicionais;
 processo de envelhecimento e sua degradação térmica a temperaturas próximas do
ponto de fusão.

Para melhorar as propriedades e custos, várias pesquisas têm sido desenvolvidas e


muitas indústrias no mundo estão buscando novas rotas como o desenvolvimento de
blendas e compósitos.
Diante da preocupação com os impactos ambientais causados pelos polímeros,
desde a extração da matéria-prima, processamento e o descarte incorreto dos resíduos
plásticos, analisando as características dos polímeros biodegradáveis, como sua rápida
degradação que resulta em diminuição dos resíduos e sua abrangente aplicação, conclui-se
que os polímeros biodegradáveis podem contribuir muito para o desenvolvimento
sustentável.

29
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BASTOS,D.C. Estudo da redução da hidrofilicidade de filmes biodegradáveis de amido


de milho termoplástico com e sem reforço de fibra de bananeira através do tratamento
por plasma de SF6. 2010. 109p. Dissertação (Tese de Doutorado). Programa de Engenharia
Metalúrgica e de Materiais da COPPE - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
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BORSCHIVER, S., ALMEIDA, L.F.M., ROITMAN, T. Monitoramento tecnológico e


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pp. 127-139. 2011.

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visando Aplicação em liberação controlada de fármacos. 2011. 87p. Dissertação (Mestre
em Engenharia de Processos) - Universidade da Região de Joinville, Santa Catarina.
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