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April Kroes
Produzido no Brasil.
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
CapítulO 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Epílogo
Agradecimentos
Eu quero dizer a todos os meninos lá fora que estão muito assustados
para expressar sua paixão pela dança, não importa o que as outras pessoas
pensam. É importante o que você quer, o que sua paixão interior é, e você
deve alcançar isso.
O pub está cheio, muito mais do que eu esperava, uma música alta e
barulhenta demais para os meus ouvidos tocava. Eu poderia ter dito não e ter
ficado em casa dormindo, mas não ia fazer desfeita quando o próprio
Matthew me chamou para ver a sua banda.
Não que eu não goste de sair, mas eu estou quebrada. Tenho me
esforçado para mostrar e dar o meu melhor durante as aulas, quero que os
professores vejam bom desempenho em mim, caso contrário, eu posso perder
a minha bolsa se eles acharem que eu não sou capaz e boa.
Eu sou capaz e boa, muito boa. Pelo menos é o que eu acho.
Valentina me puxa pela mão e sai me arrastando pelo meio das
pessoas, Matthew não está mais conosco e eu nem sei para onde ele foi, só
não perdi Valentina de vista por estar grudada nela, caso contrário, perderia.
— O que você quer beber? — Ela pergunta um pouco alto para que eu
possa ouvi-la.
— Por enquanto nada, estou bem — respondo.
Ela me ignora e se enfia no meio de duas garotas que estavam no
balcão do bar.
— Greg, duas tequilas, por favor. — Valentina pede tão alto que eu
consigo ouvir, e como sempre ignorando as minhas vontades.
Olho ao redor do ambiente e vejo que escolhi a roupa certa, graças a
Deus.
Eu vesti uma calça skinny preta, uma blusa de ombro caída azul, nos
pés calço uma bota cano curto de salto plataforma. E meu cabelo? Bom... não
é algo que eu me preocupe, para qualquer lado que eu jogar ou pentear ele
fica bom, então apenas penteei para o lado que uso de costume, o direito.
— Tome, no três a gente vira. — Val diz, e me entrega minha dose de
tequila.
Olho para ela pegando a bebida e dou de ombros.
— Um... dois. — Ela começa a contar.
— Três — termino e viro de uma vez o líquido do copo sentindo-o
queimar na garganta.
— Essa é a minha garota! — Val grita e vira olhando para o barman,
eu faço o mesmo e só agora que o movimento cessou, eu consigo notar o
quanto ele é bonito.
Bonito é um eufemismo, ele é gato.
— Greg, agora que abrimos a rodada, desce gelo! — Ela grita e ele
sorri balançando a cabeça.
— Amiga nova, Val? — Ele pergunta, erguendo a sobrancelha em
minha direção.
— Ah, sim. — Ela se aproxima e me leva junto. — Essa é a Noah,
minha nova colega de quarto. Noah, esse é o Greg, ele faz os melhores drinks
que você já deve ter visto na vida.
— O melhor, é? — pergunto sem esconder o sorriso do rosto e
olhando diretamente para Greg.
— É o que dizem por aí, é um prazer, Noah. — Greg estende a mão e
eu como uma boa garota educada, a toco.
— O prazer é todo meu, Greg — murmuro mordendo meu lábio e ele
pisca seu olho para mim, em seguida afasta a mão.
— Greg, é para fazer as bebidas, e coloca essa na sua conta. — Val
resmunga o fazendo rir.
— Você sempre coloca na minha conta. — Greg retruca e ela dá de
ombros. — Então, Noah, você também é atriz? — Ele pergunta, enquanto
preparava as bebidas.
— Não — faço uma pausa pegando a bebida que ele me estende e
volto a olhá-lo —, eu faço dança.
— Que tipo? Desculpe, mas eu não entendo nada disso. — Ele sorri
sem graça.
Greg tem um sorriso muito bonito, o que me deixou parada por uns
segundos o admirando.
— Noah. — Valentina chama, cutucando minha cintura com seu
braço.
A encaro de cenho franzido e ela aponta discretamente com a cabeça
para Greg, enquanto beberica sua bebida.
Volto a olhar para Greg e sinto minhas bochechas esquentarem, eu fui
pega divagando em seu sorriso e nem havia percebido isso.
— E então? — Greg questiona.
— Então? — devolvo.
— O que você dança? — pergunta curioso.
— Eu danço ballet.
— Uh, interessante. — Greg murmurou sem tirar seus olhos de mim.
Sorrio tímida e viro o resto da minha bebida, que por sinal era
realmente boa.
— O que tinha aqui? — pergunto levantando meu copo.
— Vodka, suco de laranja, cranberry e uma pitada de tequila, baby.
— Ele responde.
Baby.
Nunca gostei tanto de alguém proferindo essas palavras como agora,
eu sempre odiei, mas essa palavra saindo da boca de Greg tomam outras
proporções.
— Como? Eu não entendi — minto, só queria ouvir ele pronunciar
baby novamente.
— Noah, para de flertar com Greg! Cara de pau. — Valentina diz
rindo e eu me viro para encará-la. — O quê? Você estava coagindo ele.
— Você me arrastou de casa sem ao menos se importar se eu queria
vir ou não, então deixe-me curtir e eu estava brincando — resmungo e viro
para olhar Greg. — Desculpe se eu te coagi como a senhora dramática disse.
— Ignora a Valentina. Eu gostei de você! — Ele responde me
arrancando um sorriso e colocando duas garrafas de cerveja em cima do
balcão.
— É Greg, acho que eu também gostei de você — murmuro e pego
uma das garrafas acenando com ela em sua direção.
Valentina havia me arrastado do balcão do bar e me levou até uma
mesa com quatro lugares próximo ao mini palco que havia no local. Estava
tocando música eletrônica, algumas pessoas conversavam, outras até
dançavam, eu não tinha visto sinais de Matthew até agora.
— Está quente aqui — digo alto e ela me olha com um olhar suspeito.
— Por que você está me olhando assim? — indago.
— Seu calor vem de dentro das calças e isso se chama Greg. — Ela
responde com um sorriso malicioso. — Daqui a pouco ele vai estar aqui,
talvez ele te refresque ou quem sabe esquente mais ainda?
— Valentina! — repreendo-a, sem conseguir segurar o riso da sua
frase sem cabimentos.
— O quê? Não falei nada demais. — Ela diz dando de ombros e
dando mais um gole em sua cerveja. — Greg é um gato.
— Nisso eu tenho que concordar, ele é realmente um gato, mas
daqueles que vale uma fortuna.
— Posso saber quem é um gato? — Matthew pergunta, aparecendo de
surpresa e se jogando na cadeira vazia ao lado de Valentina.
— Espero que seja eu, é claro. — Saint diz e ocupa a cadeira vazia ao
meu lado.
— Estava demorando — murmuro.
— Oi, você, bailarina. — Saint sussurra próximo ao meu ouvido, me
causando arrepios.
— Oi — respondo seca, me afastando o máximo que posso dele.
Não gostei da sensação que ele me causou, e quanto mais longe eu me
manter dele, melhor.
— Como tem sido a sua primeira semana? — Ele pergunta.
Sério que ele está falando mesmo comigo? Olho para os lados a
procura de mais alguém ou de que ele esteja falando com Valentina ou
Matthew, mas ambos não estão mais a nossa frente.
— Está procurando alguém?
— Sim — respondo e ele arqueia uma sobrancelha. — A pessoa para
quem você fez essa pergunta.
— Você, é claro. — Ele responde como se fosse óbvio e rola os olhos.
— Você tem sérios problemas, passa por mim e finge que eu nem
existo, e agora quer perguntar como foi a minha semana? — solto uma risada
sarcástica e bebo a minha cerveja.
— Você tem idade para beber isso? — Ele indaga curioso.
— Eu tenho idade para fazer coisas que você nem imagina — retruco
áspera.
— Hum, é? — Ele pergunta sorrindo. — Você ainda não respondeu a
minha pergunta.
— Minha primeira semana foi excelente! Satisfeito?
— Noah, eu não sou bom em lidar com pessoas, o problema não é
você, e sim eu mesmo.
— Sério, Saint? Essa é a sua desculpa? Corta essa, ser educado é
quase uma obrigação, mas olha o lado bom nisso. Eu não quero ser sua
amiga, você é aquele tipo de pessoa arrogante que eu desprezo e não preciso
por perto.
— Que bom que pensa assim, Noah Clark, porque eu não estava
tentando ser o seu amigo e sim educado, como você acabou de falar,
educação é obrigação e isso meus pais me ensinaram muito bem.
Saint arrasta a cadeira e se levanta, ao sair andando ele esbarra em
Matthew que o detém com a mão no ombro.
— Depois não diz que eu não tentei — ouço Saint falar com a voz
grossa para Matthew, que imediatamente me olha e solta o amigo.
Dou de ombros, pouco me importando com o olhar decepcionado de
Matthew em minha direção. Termino de beber a minha cerveja e observo
Matthew se despedindo de Valentina e tomando o mesmo caminho que Saint
fez há poucos minutos.
— Vocês dois sempre vão se engalfinhar assim? — Ela pergunta se
sentando novamente em seu lugar.
— Hoje ele resolveu ser legal comigo e amanhã ele vai resolver me
destratar? Não, obrigada, eu estou bem assim, muito bem.
— Noah... Saint é assim de início, mas ele é uma pessoa legal e
depois que você o conhecê-lo melhor, vai entender porque ele é assim.
— Pouco me importo, Valentina! — digo, sem deixar transparecer
minha pequena pontinha de curiosidade no que há por trás de Saint Rivers.
Quando a banda começou a tocar eu já não estava tão animada assim,
na terceira música Greg se junto a mim e Valentina, que cantava em coro
sempre que Saint ou Matthew assumia o vocal, eles são bons, muito bons
para falar a verdade.
— Você quer beber alguma coisa? — Greg pergunta no pé do meu
ouvido.
— Não, obrigada — respondo e meu olhar vai direto para o palco,
onde Saint me encara enquanto toca maravilhosamente bem a sua guitarra. —
Se você não se importar, eu quero ir para casa — digo alto para que a
Valentina também ouça.
— Tem certeza que quer ir embora? — Ele pergunta e eu assinto.
— Mas já? Eles mal acabaram de começar. — Val diz.
— Eu não estou me sentindo bem, barulho demais. Está me dando dor
de cabeça — respondo e ela me olha preocupada.
— Eu vou com você, então.
— Não, Val, fica e se divirta, eu vou pegar um táxi.
— Noah, eu não quero te deixar sozinha. — Ela insiste e eu balanço a
cabeça negativamente.
— Eu posso levá-la se quiser. — Greg diz.
— Obrigada, mas eu posso ir de táxi — afirmo.
— Mas de jeito nenhum! Se o Greguinho aqui disse que te dá uma
carona até o campus, você vai com ele, eu ficarei menos preocupada, Noah.
— Val argumenta e pisca para mim.
— É só uma carona, não vou sequestrar você. — Greg brinca.
— Ok, tudo bem — levanto meus braços em sinal de rendição.
— Podemos ir, então? — Ele indaga.
— Podemos — afirmo e me despeço de Valentina.
Saí do bar acompanhada de Greg, que me conduziu até uma
caminhonete estacionada em uma área privada para funcionários. Esperei que
ele destravasse o carro para mim, mas em um gesto de cavalheirismo, ele
abriu a porta para que eu pudesse entrar, me deixando totalmente sem graça.
— Obrigada.
— Não há de que. — Ele responde sorrindo e fecha a porta do carro.
Greg deu a volta no carro e entrou, ligando-o em seguida e dando
partida à saída do estacionamento.
— Você não tem sotaque estranho e nem fala diferente, de onde você
é? — Ele pergunta, enquanto mantém os olhos atentos na estrada.
— Miami — respondo e observo batucar os dedos no volante. — Isso
é um tique? — pergunto e ele me olha confuso, aponto para os seus dedos.
— Eu gosto de dirigir ouvindo música, costume por causa do
trabalho, quando estou dirigindo em silêncio, eu canto silenciosamente e
meus dedos acompanham meu ritmo, se é que me entende.
— Entendo e não entendo — confesso, dando-lhe um meio sorriso. —
E por que não está ouvindo música agora?
— Nem todo mundo gosta de barulho e você disse que estava com dor
de cabeça.
— Eu só queria vir embora e precisava de um motivo para a Valentina
me deixar vir. Olhe para mim, eu sou uma bailarina, Greg, e eu amo música.
— Então, se não se importar...
Não demorou muito para que ele ligasse o rádio do carro e
Californication do Red Hot Chilli Peppers ecoasse pelo carro.
O resto do caminho fomos em silêncio, Greg fazia uma pergunta ou
outra e entre minhas respostas eu acabava fazendo a mesma pergunta de volta
para ele. Em pouco tempo descobri que ele é do Texas, tem vinte e dois anos,
filho do dono do bar onde os meninos tocam e durante o dia trabalha em uma
empresa de marketing.
Ao parar em frente ao campus, ele desce do carro e não demora muito
a abrir a porta para que eu descesse do carro.
— Está entregue, sã e salva. Eu disse que não ia te sequestrar. — Ele
fala, sem esconder o sorriso.
— Obrigada pela carona e obrigada por não me sequestrar — brinco,
sorrindo de volta para ele.
— Será que você sairia comigo qualquer dia desses? — Ele pergunta
sem jeito, colocando as mãos no bolso e sem tirar os olhos dos meus.
— Por que não? Eu só preciso saber o dia e a hora, combinamos para
depois que eu sair do trabalho.
— Você está aceitando sair comigo?
— Estou, Greg — afirmo. — Anote meu número, quando você
decidir o dia, me ligue.
Com uma animação contida, Greg anotou o número do meu celular e
me levou até a porta de entrada do prédio.
— Então, temos um encontro marcado? — Ele indaga.
— Sim, nós temos um encontro marcado — afirmo convicta.
E ele sorri, mordendo o lábio em seguida e eu quis tanto sentir o gosto
dos seus lábios, mas me recompus, eu havia acabado de conhecê-lo.
— Agora eu preciso realmente entrar, está frio aqui fora e eu acho que
vou congelar — digo e ele assente concordando.
— Nos vemos em breve, Noah. — Greg aproxima seu rosto do meu,
dando um beijo demorado em minha bochecha e se afasta sorrindo. — Muito
em breve.
E eu não vejo a hora, Greg. Penso comigo mesma.
— Boa noite, Greg, foi um prazer conhecer você — murmuro.
— Eu lhe falo o mesmo, tenha uma boa noite, Noah. — Ele diz antes
de se afastar.
O assisto caminhar até seu carro e entrar no mesmo, antes de dar
partida ouço a sua buzina e aceno com a mão. Observo seu carro sumir da
minha vista e entro no dormitório, eu só quero um banho e minha cama, é
tudo o que eu preciso.
— Noah, acorda, você vai perder a hora. — Valentina grita mais uma
vez ao bater na porta.
— Só mais um pouco — grito alto e escondo meu rosto embaixo do
travesseiro.
— Noah, eu não vou te chamar de novo!
Ouço seus passos se afastando do corredor, afasto o travesseiro do
meu rosto e me levanto, bufando frustrada. Não acredito que meu final de
semana passou em um piscar de olhos.
Olho o relógio em cima do criado-mudo ao lado da cama e corro para
o banheiro, eu estou atrasada e muito, se eu pular o café da manhã, consigo
chegar a tempo de pegar o início da primeira aula ainda.
— Merda, merda, merda, Noah — resmungo para mim mesma e corro
para o banheiro.
Eu cheguei vinte minutos atrasada, todos estavam reunidos e por sorte
não havia professor em sala de aula, eu não gosto de chegar atrasada e não
gosto mais ainda de ser chamada atenção por isso. A minha sorte era que
todos aguardavam o reitor para saber detalhes sobre o festival de outono,
festival esse que me interessei depois que a Valentina comentou sobre isso.
Esse não era meu objetivo quando lutei para conquistar a bolsa de estudos
aqui em Juilliard, meu foco era estudar e me tornar uma bailarina
profissional, entretanto, o vencedor do festival irá ganhar trinta mil dólares e
o segundo colocado ganhará uma ajuda de custo para os estudos. Não posso
negar que isso me chama atenção por dois motivos:
Um, é a minha chance de poder ajudar meus pais financeiramente, as
coisas em casa não estão muito boas e desde que vim para Nova York estudar
foi de mal a pior.
Dois, receber ajuda de custo com os estudos é uma ótima maneira de
conquistar rápido meu objetivo, já que o dinheiro que eu ganho na livraria
não é o suficiente para arcar com outras despesas além de pagar meu
dormitório e ajudar meus pais com o restante do meu salário.
— Bom dia, alunos! — Paul, o reitor diz ao entrar na sala de música.
— Bom dia, senhor reitor. — Todos nós falamos em um coro, e ele
sorri falsamente.
— Minha passagem por aqui será rápida. — Ele se dirige em direção
ao quadro de avisos que tem na sala e pendura um papel. — As regras serão
claras, alguns estão aqui há pouco mais de três meses, tenho visto o
desempenho de cada um de vocês, vocês são bons, mas podem ser os
melhores.
Algumas pessoas começam a cochichar na sala e ele pigarreia
chamando novamente a atenção de todos.
— Regra número um. — Ele fala em um tom mais grave para que
todos prestem atenção. — Sem trapaças, sem boicotar os adversários e sem
plágios. Regra número dois, esse ano haverá um limite de inscrições, serão
apenas dez participantes, duplas e grupos serão permitidos. Terceira e última
regra, aquele que não estiver presente ou se atrasar na hora da performance
será desclassificado. Seja um grupo ou dupla, o membro que faltar ou se
atrasar levará o grupo todo a perder, a tolerância máxima para atrasos será de
quinze minutos. E para finalizar, todos os professores de vocês estarão
disponíveis para ajudá-los e ensaiar, um professor escolherá a dedo cada um
de vocês para representar e ser responsável por vocês. A escolha será feita
por eles em consenso. Alguma dúvida?
— Eu tenho, senhor. — Um aluno no fundo diz, levantando a mão.
— Pode perguntar. — Paul diz, erguendo a sobrancelha enquanto
encara o dono da voz.
— Caso o atraso ou a falta, seja de emergência o grupo será
desclassificado mesmo assim? Não seria justo alguém ser desclassificado por
causa de outra pessoa, o senhor não acha? — O dono da voz questiona.
— Nesse caso, será aberta uma exceção desde que o participante
justifique horas antes a sua falta ou caso aconteça algo grave e ele não possa
participar. Algo mais, Richard? Alguém além do Richard tem mais dúvidas?
— Paul pergunta e todos negam com a cabeça. — Perfeito, desejo boa sorte a
todos vocês. Todos aqui são capazes de ganhar, caso contrário, nem mesmo
estariam aqui. Caso haja alguma dúvida estarei à disposição na minha sala
para tirá-las. Estamos entendidos? Tenham um ótimo dia.
— Sim, senhor reitor. — O mesmo aluno, Richard, que havia feito
perguntas, grita do fundo debochando.
Paul bufa e sem dizer mais nada se retira da sala com um aceno de
mão.
Todos se aglomeram na frente do quadro para escrever o nome na
folha que Paul havia colado nele. Alguns estão se dividindo em grupos e em
duplas, não tem mais do que vinte alunos, porém, decido esperar torcendo
para que sobre uma vaga para mim.
Me aproximo do quadro no mesmo instante que Saint se aproxima,
reviro meus olhos em desgosto e ignoro a sua presença. Não tenho nada
contra ele, foi nítido que nós não nos demos bem logo de cara, mas o que
oficializou isso foi o fato dele ter sido desagradável a troco de nada a maioria
das vezes e a forma que ele me olha, como se a minha presença o
incomodasse. Às vezes quando passa por mim me cumprimenta e outras
finge que eu nem existo, e se for para ser assim, eu prefiro nem ter contato.
Volto a minha atenção para o papel a minha frente, o festival será dia
15 de outubro, daqui há três meses e resta apenas uma vaga. A vaga que pode
mudar minha vida e sem dúvidas ela é minha.
Olho ao redor da sala e só tem nós dois agora. Procuro a minha caneta
em minha bolsa, e quando acho e levanto a cabeça para escrever meu nome
na lista, Saint já havia escrito o nome dele na única linha que restava.
— Eu cheguei primeiro que você, isso não é justo — reclamo o
encarando.
— A vida não é justa, princesa. — Ele me responde com um sorriso
audacioso no rosto.
— Olha, Saint, eu preciso muito participar — e ganhar esse festival, é
claro —, não espero que você se solidarize comigo, só que isso que você está
fazendo é um tanto injusto. Eu cheguei primeiro que você, e você esperou o
momento em que eu me distraí para anotar seu nome, você roubou a minha
vaga, por favor, não faz isso comigo.
— Repito mais uma vez, a vida não é justa — repete debochando e eu
reviro os olhos. — O que te faz pensar que precisa tanto quanto eu? Você não
me conhece, garota, você precisa? Que legal, mas eu também preciso, eu
coloquei meu nome primeiro e você dançou, bailarina.
— Podemos formar uma dupla e dividir o prêmio, eu só preciso
participar, Saint, por favor — suplico mais uma vez tentando fazê-lo ceder,
mas acho que vai ser difícil já que ele explode em uma gargalhada.
— E você espera que eu vá colocar uma saia de tule, um collant e
dançar dando piruetas na frente de todos? Isso é meio tosco e coisa de
mulherzinha, minha resposta é não, tente no próximo ano, isso se você for
mais rápida.
Eu queria dizer que ele estava errado e sendo ignorante, queria
explicar que ele não usaria uma saia e muito menos um collant, queria
explicar tudo que ele precisava saber sobre isso para tentar convencê-lo. Mas
a minha verdadeira vontade era de afundar a cara desse garoto machista no
chão, mas me contive. Sou melhor que isso, eu não preciso ser agressiva —
mesmo que ele esteja merecendo — para participar do festival.
— Você é um egoísta que só pensa em si mesmo, um prepotente, é
por isso que ninguém se aproxima de você com outras intenções senão foder,
ninguém se importa com você ou gosta de fazer trabalho com você, porque
você é um egoísta.
— Escuta aqui, garota. — Seu tom de voz eleva, e ele segura em meu
pulso. — Você não me conhece e não sabe nada de mim para falar isso, eu
que não quero sua amizade e formar dupla com você.
Eu queria conseguir dizer alguma coisa, mas o nó que se formou em
minha garganta só me mostrou que as palavras de Saint me atingiram em
cheio, mas por quê? Por que eu estava me importando logo com o que ele
disse?
— O que está acontecendo aqui? — Paul aparece na porta e Saint
solta meu pulso.
— Nada, eu já estava de saída. — Ele resmunga se afastando e indo
em direção à porta, mas Paul o impede.
— Eu vi o que estava acontecendo e você não vai sair daqui até que
um de vocês me explique tudo isso. — Paul me olha com olhar cauteloso ao
notar minha expressão. — Você está bem?
Não, não estou bem, mas apenas balanço a cabeça afirmando que
estou bem, se eu respondesse minha voz me acusaria.
— Noah, você pode me explicar o que estava havendo entre vocês, há
dois minutos atrás? — Paul pede, olhando de mim para Saint que bufa e se
escora na parede.
— Havia somente uma vaga disponível para o festival e nós dois
chegamos ao mesmo tempo, porém, eu cheguei primeiro, quando fui escrever
meu nome Saint já havia escrito o dele e, então, começamos a discutir sobre
isso — explico o que de fato aconteceu para o Paul.
— Por que vocês dois não formam uma dupla? — Ele pergunta e
Saint ri irônico.
— Até parece que eu vou dançar coisa de mulherzinha. — Saint
resmunga irritado.
— Ballet não é coisa só para mulher, Saint, muitos homens dançam
ou vocês formam uma dupla ou nenhum dos dois participam. — Paul
sentencia e aí mesmo que Saint se irrita ainda mais.
— Ela não deve saber tocar nenhum instrumento além de dançar, se
ao menos souber cantar repenso em fazer dupla com ela.
— Eu não sei tocar instrumento e nem cantar — digo sincera e Saint
olha para Paul com a sobrancelha erguida como se quisesse dizer “Está
vendo? Eu tenho razão e a vaga é apenas minha”.
— Não será necessário saber nenhum dos dois, Noah, vocês irão
formar um par e dançar ballet juntos! Você é boa e só ouço elogios, tenho
certeza que saberá ensinar Saint a dançar, vocês terão três meses até o festival
para lidar com isso. Quem sabe no final a opinião dele sobre essa “coisa de
mulherzinha mude”, não pense nisso como uma advertência Saint e sim
como um aprendizado.
— Por mim tudo bem, não vejo problemas — respondo Paul dando de
ombros e sorrindo satisfeita.
— Eu vejo problemas, já disse que não vou dançar essa coisa, eu
escrevi meu nome primeiro, portanto, a vaga é minha. — Saint o corta
ríspido.
— Eu sou o reitor dessa escola, Saint, ao menos que você queira
participar do festival você irá dançar ballet com a Noah querendo ou não.
Caso contrário, está desclassificado e Noah irá participar sozinha. Vocês têm
três meses para se decidirem, se não aparecerem juntos no festival sei que
você não aceitou essa oferta e ela se apresentará sozinha, é uma escolha de
vocês. Estou me retirando e espero não encontrar vocês dois discutindo por
causa disso mais uma vez. Estamos entendidos? — finaliza e nós dois
assentimos, Paul nos dá um aceno e se retira da sala.
— Está vendo o que você fez? Quem é o egoísta agora, princesa?
— Eu não sou egoísta, Saint, nós dois precisamos dessa vaga e
precisamos ganhar, não sei por que esse show barato. Qual é o problema?
— Você é o problema, Noah! Eu só vou participar porque eu preciso,
mas você vai se arrepender por me fazer passar por essa humilhação. Você
vai se arrepender — exclama irritado e sai da sala me deixando sozinha.
Existem alguns tipos de pessoas que quando não estão bem se isolam
e não se alimentam, eu faço parte do lado oposto.
Eu como e depois choro. Eu como tudo que vejo pela frente ou o que
tenho vontade sem pensar, me alimento para me sentir bem, me sacio para me
tornar melhor.
Que louco, não?
Eu me pergunto quando as coisas irão dar certo, quando eu vou me
sentir bem comigo mesma.
Estou carregando esse dilema comigo desde a adolescência e até hoje
eu não encontrei o sentido real disso.
Eu sou filha única, amada e adorada pelos pais que sacrificaram tudo
para me dar o melhor e para nunca me faltar nada, mas eu sempre senti falta
de algo ou alguém na minha vida.
Alguém que pudesse estar ali para mim, uma amiga ou amigo, que no
final dos meus dias me dissesse que iria ficar tudo bem — mesmo quando
nós sabemos que não vai ficar nada bem — que me dissesse: eu estou aqui e
não vou te deixar, alguém para sorrir, chorar, compartilhar momentos e que
fosse legal. Alguém que só ficasse e nunca se fosse.
Mas eu nunca tive esse alguém.
Até aparecer Valentina na minha vida.
Ela me anima, me coloca para cima e me faz sorrir por hora, mas
quando ela está longe a realidade cai sobre mim e eu me isolo novamente, e
me sinto sozinha como sempre.
Hoje em dia se você conversar sobre isso com alguém as palavras
serão: Eu te entendo, sei como você se sente.
A verdade é simples. Você não sabe nada até que esteja no meu lugar
e sinta o que eu sinto.
Enquanto isso, são só palavras para tentar te confortar que acaba
tendo efeito nenhum.
Mas logo eu fico bem.
— Eu sempre fico bem — murmuro para mim mesma, enquanto enfio
um pedaço de chocolate na boca.
E é assim que eu me encontro nesse momento ou melhor, em minhas
fases.
Lembra que eu falei que como para me sentir bem?
Na saída do trabalho eu passei no mercado e me senti uma criança,
enchi a cestinha de doces de todos os tipos e alguns snacks. Estou comendo
tanto que sinto que vou explodir e agradeço mentalmente pela Valentina ter
saído com o Matthew, pois tudo que está dentro dessa enorme barriga à
minha frente será descartado daqui a pouco, assim que eu me sentir melhor,
só espero que não demore para isso acontecer.
Estou assim desde a minidiscussão com Saint hoje.
Após as palavras do reitor decretando que teríamos que competir
juntos, ele se transformou.
Eu não vejo problemas em competir com alguém e dividir o prêmio,
mas Saint vê. Parece mais preconceito e vergonha de dançar, do que egoísmo
e capricho.
Sei quando homens tem preconceitos com dança e acham coisa de
mulherzinha. Muitos recriminam homens que dançam e julgam alguns como
homossexuais.
Se você pensa dessa forma, é só mais um preconceituoso que segue
padrões da sociedade pelo mundo.
Há tanto homossexuais quanto heterossexuais no mundo da dança
clássica.
Você não precisa ser afeminado para gostar de dançar ballet, a música
abraça as pessoas de todas as idades, cores e raças. Erro seu apontar um dedo
diante a isso.
Mas o que realmente me deixou mal foram as palavras que Saint se
dirigiu a mim. Ele me chamou de egoísta e mesquinha. Acrescentou que
dessa forma eu nunca vou ter amigos de verdade e ninguém ao meu lado.
Eu não sou egoísta por querer ajudar meus pais, poder afrouxar o
aperto que eles estão passando no momento.
Talvez eu seja egoísta por outros motivos, mas não por esse.
E Saint, você não me conhece.
Jogo a embalagem de chocolate no chão e me levanto da cama, meu
quarto está parecendo um chiqueiro.
Saio do meu quarto e vou direto para o banheiro, olho meu estado
deplorável pelo espelho e desvio meu olhar para a privada ao meu lado.
Instantaneamente, enfio dois dedos na minha boca forçando em minha
garganta, a ânsia vem e eu a deixo me abraçar.
Estou agachada ou melhor dizendo, abraçada ao vaso sanitário
vomitando tudo que eu comi nas últimas horas, não sei onde eu estava com a
cabeça de me entupir de tanta besteira de uma vez.
Eu amo comer, não tenho problemas com comida e nenhuma doença,
como eu disse, como para me sentir bem, para tentar me confortar de alguma
forma, entretanto, eu exagero muito e me sinto mal comigo mesma por ter
exagerado.
Eu poderia me considerar doente, caso fizesse isso constantemente,
mas classifico isso como crise, já que faço isso só quando me sinto mal. O
que são poucas e rara as vezes que isso acontece.
— Noah, cadê você?
Ouço a voz de Valentina de longe, antes que eu possa responder já
estou vomitando novamente. A porta do banheiro se abre e encontro
Valentina parada na porta com os olhos saltados me olhando.
— Meu Deus, Noah, o que você tem?
Faço sinal com a mão para que ela saia, mas ela não o faz, ela se
ajoelha ao meu lado e segura meus cabelos para trás.
— Porque não me disse que estava passando mal? Eu teria ficado em
casa com você, jamais deixaria você sozinha, eu sou uma péssima amiga.
Ela lamenta, dou descarga e pego o papel higiênico ao lado para
limpar a minha boca, me levanto com a ajuda de Valentina.
Paro de frente para a pia do banheiro e lavo meu rosto, em seguida
pego a escova no suporte para escovar meus dentes.
Enquanto escovo meus dentes, Valentina ainda me olha transmitindo
a sua preocupação.
— Eu estou bem, não se preocupe, foi só um mal-estar repentino —
digo, quando termino de escovar meus dentes.
— Você está pálida, Noah, como diz que está bem? Eu vou fazer um
chá para você, ou melhor, vou ligar para o meu pai para nos levar no hospital
e mandar Matthew e Saint embora, tínhamos combinado de pedir pizza, mas
você não está muito bem, acho melhor...
— Não, Val, não há necessidade de ligar para o seu pai e eles são seus
amigos, não precisa mandar eles irem embora por minha causa e eu estou
bem, acredite em mim. — interrompo-a e lhe dou um falso sorriso, rezando
para que ela desista da ideia de chamar seu pai.
— Tudo bem, mas ainda vou fazer o seu chá, vem, vou te levar até o
seu quarto que não sei como você ainda se mantém em pé depois de quase ter
dissecado seu estômago.
Fomos para o meu quarto e eu havia me esquecido de catar as
porcarias que eu comi e deixei jogada pelo quarto, Valentina olha para o
chão, para a sacola que tem mais porcarias em cima da minha cama e depois
me olha.
Acho que ela juntou os pontos, pois o olhar que ela me dá transmite
mais preocupação ainda que antes.
— Não é o que você está pensando. — Me precipito em falar.
— Como não, Noah? Tudo bem você estar grávida e sentir desejos,
mas como você conseguiu deixar isso passar no exame de admissão? — Ela
questiona com uma ruga na testa.
Caio na gargalhada com o que acabo de ouvir e ouço passos vindo do
corredor, ótimo, temos plateia agora.
— Quem está grávida? — Matthew pergunta colocando a cara na
porta e Saint ao seu lado.
Meu humor morre ao ver Saint.
— A Noah está grávida. — Valentina o responde e os olhos de Saint e
Matthew se arregalam me olhando.
— Eu não estou grávida! — grito irritada por ter uma plateia em
nossa frente, ou talvez pela presença de Saint.
— Então, explique o porquê estava passando mal depois de comer
essa quantidade de coisas, você não é assim, Noah. — Valentina diz e se
abaixa catando as embalagens vazias no chão.
— Não é nada, mas não estou grávida — digo entredentes.
— Agora está explicado a necessidade de querer participar do festival,
precisa de dinheiro para alimentar a criança, ele não tem pai? — A voz de
Saint exala sarcasmo.
Raiva é como me encontro nesse momento, após ele dizer isso.
— Mesmo se eu estivesse grávida não é da sua conta, e muito menos
do seu interesse se ele tivesse pai ou não, Saint, e pela última vez, eu não
estou grávida — olho de Saint para Valentina que estremece ao meu lado,
volto a olhar para Saint com meu olhar faiscando. — Eu tenho pais, sabe,
Saint? Eu posso não ter nascido em berço de ouro, não ter condições nem de
me manter, mas se eu estivesse grávida faria o que fosse preciso para ganhar
esse festival por ele, mas eu tenho pais, Saint. Pais que precisam de mim, que
não tem uma vida farta como a sua, você anda todo arrumadinho, carro
descolado, não é bolsista e não trabalha, o dinheiro da banda mal bancaria seu
carro, provavelmente, é filho de alguém muito bem-sucedido na vida. E eu?
Sou filha de um vendedor de automóveis e de uma arquiteta que teve uma
filha na adolescência e precisou largar tudo para cuidar dela. Meus pais me
deram tudo, inclusive amor, carinho e respeito ao próximo, coisa que você
não conhece, é claro. Mas deixa eu te falar uma coisa, Saint Rivers, você
disse que eu sou egoísta, mas quer saber de uma coisa? Egoísta é você que
não olha a quem. Tudo que eu faço é por eles, se eu estou aqui é por eles, se
vou participar e dar o meu melhor é por eles, eu devo a minha vida aos meus
pais e eu não devo nada a você.
Cuspo as palavras e os três ficam calados me olhando, Matthew e
Valentina sem reação, e Saint tentando balbuciar alguma coisa e eu o corto.
— Faça bom proveito desse festival, Saint, não vou ficar rica e nem
pobre por causa disso, agora saiam do meu quarto, por favor, eu quero ficar
sozinha.
Peço e Matthew é o primeiro a sair, Saint ainda está estático na porta
me encarando e Valentina permanece ao meu lado.
— Eu vou te deixar sozinha, mas não porque pediu, mas sim porque
precisa. Mas você é minha amiga, Noah, e eu estou aqui e quando você quiser
conversar ou a minha presença só para ter companhia, eu estou aqui. —
Valentina sorri carinhosamente, assinto com um meio sorriso e ela se afasta
indo em direção a porta. — Vamos, Saint, não há nada para você fazer aqui.
Ele resmunga algo baixo e ela sai do quarto deixando-nos a sós.
Me aproximo da porta e seguro na maçaneta, olho para Saint que
ainda está imóvel me olhando.
— Eu não tenho nada para falar com você, Saint, não te conheço e
você não me conhece, não somos amigos, colegas e nem conhecidos, você é
um estranho e eu agradeço por isso. Tem algo que deseja falar? — pergunto e
ele permanece calado. — Como eu pensei.
Sua boca se abre e eu fecho a porta, sem lhe dar a chance de dizer
algo.
Chega de você por hoje, Saint.
“Vivendo como em um sonho.
Quebrados, mas livres.”
LIVE LIKE A DREAM – THIRTY SECONDS TO MARS
Saint chegou pouco depois que eu subi para o meu quarto, após me
despedir de Dora.
Bati na porta do quarto dele duas vezes e ele não respondeu. Tentei
abri-la e estava trancada.
Ele havia se fechado em seu próprio mundo e eu sabia que ele não me
deixaria entrar. Eu era a culpada, eu o motivei a isso.
— Eu sinto muito, Saint — murmuro baixo, com a testa encostada na
porta.
Como eu queria que ele se abrisse para mim, falasse sobre isso. Era
demais para ele e não era o momento certo também.
Voltei para o meu quarto, pego meu celular em cima da cama e ligo
para a minha mãe. No segundo toque ela atende.
— Filha, algum problema? — pergunta com a voz sonolenta.
— Desculpa, mãe, eu me esqueci que vivemos em fusos horários
diferentes. Eu vou desligar, nos falamos amanhã.
Me senti culpada por acordá-la, ela tem trabalhado demais na nova
obra que pegou.
— Não se atreva, mocinha, o que está acontecendo?
Solto um suspiro e resumidamente conto tudo sobre Saint para ela.
— Oh, querida, isso é triste. Mas fico feliz por ele ter a Dora e por ela
amá-lo. Se ele se trancou alguma coisa aconteceu, ele precisa de alguém que
não faça perguntas, que apenas fique sem esperar que ele fale. A Dora não
pode fazer isso, ele a afastará mais ainda, mas você pode, Noah, faça isso por
ele.
— Como eu vou fazer isso se ele não abre a porta para mim, mamãe?
— Seja invisível, querida, é disso que ele precisa. De alguém que não
veja a sua dor, ele precisa de um tempo sentindo, só não o deixe só. A solidão
é a amiga mais traiçoeira que existe, ele precisa de você, só não sabe disso
ainda.
Ando de um lado para o outro no quarto, absorvendo palavra por
palavra dita por ela.
— Você é a melhor mãe, obrigada.
Ela deixa escapar um bocejo alto em resposta, me fazendo rir.
— Vai dormir mãe, eu amo você.
— Eu também amo você, querida. E não se esqueça, esteja lá.
Espero ela finalizar a ligação e jogo o celular em cima da cama.
Abro a porta do quarto e em segundos, estou novamente em frente a
porta do quarto de Saint. Penso em bater mais uma vez, mas lembro do que a
minha mãe me disse.
Ele precisa de um tempo sentindo, só não o deixe só.
Sentindo-me derrotada, solto um suspiro longo.
— Saint — murmuro, sentando-me no chão e encostando as minhas
costas na porta do quarto dele. — Eu sei que você está aí, eu só quero que
saiba que eu vou estar aqui. Eu sempre vou estar aqui, Saint.
No momento em que encostei a minha cabeça em sua porta, pude
sentir uma leve batida sobre ela também.
Mesmo em silêncio, ele estava ali, e sabia que eu estava ali para ele
também.
Não fazia ideia de que horas eram quando eu acordei, Noah ainda
estava adormecida em meus braços e sua respiração pesada denunciava que
ela não acordaria tão cedo. Fomos dormir um pouco tarde e se não
tivéssemos sido vencidos pelo cansaço, não teríamos dormido.
Ainda chovia, mas não tão forte quanto antes e isso não me impediu
de sair do chalé e vir em casa. Eu precisava de roupas limpas e que
coubessem em mim, havia aproveitado também para pegar alguma roupa para
Noah vestir, estava frio e por mais tentador que seja vê-la em minhas
camisas, ela não iria suportar o frio que estava fazendo lá fora.
Estou na cozinha, procurando alguma coisa de verdade para comer. A
única coisa comestível que tinha em meu estômago era aquele sanduíche que
Noah inventou, ele só tinha um gosto agradável e enganava o estômago, mas
ainda assim não era tão bom.
— Achei que não fosse vê-lo hoje. — Dora murmura, ao entrar na
cozinha.
Eu havia me esquecido desse pequeno detalhe, era domingo e
deveríamos ir embora hoje.
— Acho que iremos ficar por mais um dia, o tempo não está ajudando
muito. Espero que não se importem.
— É claro que eu não me importo. Cadê a Noah? — Ela pergunta.
— Está dormindo — respondo.
Dora me olha desconfiada e com um sorriso no rosto, enquanto eu
pego duas garrafas de suco, frutas e coloco na cesta.
— O que foi? — indago.
— A primeira coisa que Loren fez desde que ela chegou nessa casa é
ir chamá-la para brincar, mas hoje pela manhã ela teve a audácia de entrar no
quarto e imagina a minha surpresa ao ver que a pequena intrometida havia
aberto a porta? Fiquei mais surpresa ainda ao ver que não tinha ninguém nos
quartos, quando digo quartos, isso inclui o seu.
Não preciso ser um mestre para saber que Dora suspeita de alguma
coisa. Está bem claro isso agora.
— Eu a levei para conhecer o chalé, começou a chover e resolvemos
passar a noite por lá — dou de ombros e a encaro.
— Você gosta dela.
Não foi uma pergunta, ela estava afirmando por mim.
— Eu não gosto dela, mãe! — afirmo, negando com a cabeça. — Nós
somos amigos, apenas isso.
— Mas você gosta dela. — Ela insiste. — Ficou até nervoso que está
me chamando de mãe.
Eu não tinha percebido até então que estava a chamando de mãe.
— Porque é isso que você é, minha mãe, Dora.
Seus olhos brilham em emoção contida, dou a volta na bancada da
cozinha e me aproximo dela.
— Vocês sabe, eu sei.
Ela fica em silêncio me observando e eu seguro em suas mãos, que
estão trêmulas, esfrego suas mãos nas minhas e a olho nos olhos.
— Eu estou com vergonha de mim mesmo por todos esses anos não
ter dado o valor que você merecia, Dora, e sinto mais vergonha ainda agora
por ter perdido meu tempo indo vê-la. Eu errei e peço perdão por não ter sido
o filho que você merecia ter, a minha mãe é e sempre foi você, não sei porque
eu insistia em não aceitar isso quando quem sempre estava comigo era você.
Você sempre cuidou de mim melhor do que ninguém, enxerga até a minha
alma e me conhece de olhos fechados, você me amou quando nem mesmo era
casada com o meu pai e ainda me ama mesmo que eu não seja merecedor
disso.
Engulo o nó que se formou em minha garganta e levo suas mãos em
meus lábios.
— Me perdoa, mãe — sussurro, beijando as suas mãos.
Ela solta a sua mãos das minhas, e por um momento achei que ela
fosse recuar, mas ao invés disso, ela me abraçou, me transmitindo todo o
amor que sempre me deu.
— Você é o meu filho querendo ou não, Saint, desde que coloquei
meus olhos em você, você se tornou meu filho.
Percebo que ela está chorando quando sinto suas lágrimas molharem a
minha camisa, acaricio seus longos cabelos negros e a abraço mais forte
ainda, deixando-a colocar toda as suas frustrações por minha causa para fora.
— Bom... — Ela murmura, desfazendo do nosso abraço e se
recompondo. — Deixe que eu termino de arrumar a cesta com café para a sua
garota, enquanto isso pegue um guarda-chuva para você não se molhar, não
quero vocês gripados.
— Tem certeza? — pergunto, me certificando de que não estou lhe
dando trabalho.
— Anda logo. — Ela retruca.
Saio da cozinha e dou de cara com o meu pai espionando escondido
atrás da parede.
— Que feio, pai — murmuro e ele sorri culpado.
— Eu estou orgulhoso de você, filho. — Ele diz, pouco se importando
de ter sido pego. — Ela precisava disso.
— Eu sei, eu só não mereço. Era pra ser um final de semana em
família e eu... — paro de falar quando lembro que eu iria falar mais uma vez
da Rosie. Ela não merece nem mesmo ser lembrada. — Só fiz tudo errado —
confesso.
— Mas agora você fez a coisa certa, só continue fazendo isso. — Ele
diz, colocando a mão em meu ombro. — Você sempre merece, nunca se
esqueça disso, filho.
— Obrigado, pai.
Sorrindo, me despeço do meu pai e faço o meu caminho até a porta de
entrada da casa, onde ficava o porta guarda-chuva. Depois que o peguei,
voltei para a cozinha e encontrei meus pais conversando com Loren, que
ajudava Dora a fazer um bolo.
— Santinho. — Loren grita, me fazendo revirar os olhos pelo apelido.
— Oi, lindinha.
Me aproximo dela, beijando em sua testa e recebo de volta um beijo
na ponta do nariz.
— Você vai fazer piquenique? — Ela pergunta, olhando para a cesta,
que estava em cima da mesa.
— Acho que o tempo não está favorável para um piquenique, huh?
Mas na próxima nós faremos um piquenique, o que acha?
Seus olhos brilham em satisfação e ela balança a cabeça concordando.
— Com a Noah também? Eu gosto dela.
— Sim, com a Noah também — confirmo.
Loren comemora, pulando na cadeira. Pelo canto do olho, vejo um
sorriso se formar no rosto de Dora, eu não sei o que ela pensa sobre Noah e
eu, mas seja lá o que for, espero que essa coisa de mãe saber tudo esteja
errada.
— Eu vou indo, antes que ela acorde — digo, e me afasto, pegando a
cesta em cima da mesa.
— Saint? — Meu pai me chama, antes que eu saísse da cozinha.
— Sim? — indago, levantando uma de minhas sobrancelhas.
Ele olha para Dora que morde os lábios segurando o riso e volta a me
olhar, algo tem por trás disso.
— Eu gosto dela. — Ele diz simplesmente, com um sorriso no rosto.
Reviro meus olhos lhe dando as costas, sei que ele está provocando.
De longe consigo ouvir as risadas dele e de Dora.
O dia foi longo e cansativo, no final da noite tive uma reunião com os
meninos da banda e deixei claro que esse mês seria o último que tocaríamos
no Joe's.
Paro em frente a porta do meu apartamento e procuro pela minha
chave na mochila, no mesmo momento em que Noah saía do apartamento
vizinho.
— Estava pensando se deveria acionar a polícia ou pendurar cartazes
por aí. — Ela levanta as mãos no ar e gesticulando diz. — Bailarina procura
músico rebelde foragido.
Rindo, balanço a cabeça negativamente. Noah não existe.
— Um belo cartaz seria, não? — Ela indaga, sorrindo.
Encontro a chave perdida no fundo da mochila e a resgato, em
seguida, levo meu olhar diretamente para Noah.
— Sua frase é péssima — retruco, e dou um passo à frente. — Está de
saída?
— Bom, a Valentina ainda não chegou do ensaio do teatro, minha
barriga está roncando. Se isso não for fome, acho que há algo de errado
dentro dela que não para de gritar. — Ela brinca, apontando para a barriga.
— Venha, vamos descobrir o que há de errado com o monstro dentro
da sua barriga — aceno com a cabeça na direção da porta do meu
apartamento. — Nós precisamos conversar.
— Pensando bem. — Ela começa, dando para trás. — Acho que perdi
a fome — completa, me fazendo rir.
— É sério, Noah Lea Clark.
Seus olhos se estreitam em minha direção com menção ao seu
sobrenome.
— Nós e conversar na mesma frase já me amedronta, me chamou pelo
nome completo já adianto que eu não fiz nada.
— Culpada, bailarina?
Dou mais um passo, me aproximando e ela recua, quanto mais passos
eu dou, mais ela recua até bater as costas na parede. Coloquei meus braços
em cada lado da parede a prendendo.
— Culpada, bailarina? — pergunto mais uma vez.
Ela balança a cabeça negando, sua boca se abre e a sua respiração
acelerada me faz sorrir por dentro diante da sua reação a mim.
— Eu estou com fome, muita fome. — Ela respira fundo, tentando se
recompor.
— Muita fome? — indago.
— Muita. — Ela confirma em um sussurro.
Aproximo meu rosto do dela, nossos lábios estavam separados por
míseros centímetros, um movimento e eles estariam colados. Seus olhos
pairavam em meus olhos e desviavam para a minha boca. Ameacei encostar
meus lábios nos dela, em seguida, abaixei meus braços e afastei meu rosto,
recuando um passo para trás.
— Vamos comer, bailarina.
E para meu divertimento, um grunhido frustrado sai da sua boca.
Joguei a minha mochila no sofá logo que entrei no apartamento. Noah
se esparramou ao lado, ela balançava os pés impacientemente.
— O que nós precisamos conversar? — Ela vai direto ao ponto.
— Que tal você vir me ajudar a cozinhar algo, enquanto conversamos
sobre isso? — proponho.
Ela me encara como se um bicho tivesse crescido em minha cabeça.
— Você, cozinhar? — Seu dedo aponta na minha direção e ela
gargalha alto. — A última vez que você foi fazer um macarrão, você o
queimou.
Estremeço e afasto a lembrança de semanas atrás.
— Mas um sanduíche eu sei fazer e não é de sanduíche ruim que eu
estou falando — provoco.
— Você disse que meu sanduíche era bom. — Ela contesta.
— Eu estava com fome!
Esse era um bom argumento para ter comido aquele sanduíche
horrível.
— Tudo bem, dessa vez eu que estou com fome.
Suspirando, ela se levanta do sofá e passa por mim, caminhando na
direção da cozinha.
A sigo até a cozinha e observo a forma que ela se sente à vontade ao
abrir a geladeira e pegar todos os ingredientes que precisa.
— Você vai ficar só olhando? — Ela indaga, e lava um tomate bem
feio por sinal.
— Você sabe escolher um tomate?
— Se eu não soubesse, não teria pegado esse.
Ela segura o tomate e acena com ele na minha direção.
— Bom, o que esperar de alguém que come doritos com pasta de
avelã, não é mesmo? — retruco, e me aproximo me colocando atrás dela. —
Esse tomate está podre, bailarina — sussurro em seu ouvido.
Arisca, ela movimenta o braço dando uma cotovelada em minha
barriga.
— Você é insuportável. — Ela resmunga.
Rindo, me afasto dela e abro a geladeira em busca de um tomate bom.
Ela ainda estava de costas para mim, quando eu me aproximei
novamente. Suas costas encostaram-se em meu peito e senti seu corpo
estremecer.
Eu gostava da forma em que ela reagia a mim, mas não gostava de
gostar disso.
— A faca, bailarina — murmuro, colocando as minhas mãos no
balcão ao lado das mãos dela.
— Você não tem mãos para pegá-la?
Mesmo resmungando, ela pegou a faca, ela não se afastou e nem se
moveu do lugar. Ela continuou com seu corpo grudado no meu, seus cabelos
pinicavam meu queixo, mas não me incomodei com isso.
Cortei o tomate em rodelas e quando terminei de cortá-lo, ela suspirou
e se virou de frente para mim.
— Você ensina a todas a cortar um tomate? — Ela pergunta, com a
boca a poucos centímetros da minha.
Estava sendo uma tentação manter minha boca longe da dela. Sem
perder a chance de provocá-la, respondo a sua pergunta.
— Não acho que as outras não saibam cortar um tomate. Já você não
soube nem escolher um.
— Você é irritante. — Ela grunhe, me empurrando para longe.
Não deixei de notar um meio sorriso em seu rosto.
Noah pegou a caixa de suco na geladeira e dois copos. Em seguida,
colocou os dois copos em cima da bancada da cozinha seguido da caixa do
suco, deu a volta no balcão e se sentou em minha frente. Ela me observava
montar os sanduíches.
— Como você e a Valentina sobrevivem? — pergunto curioso.
— Da mesma forma que você sobrevive. — Ela atira, com um sorriso
no rosto.
— Boa tacada, bailarina.
Empurro um dos pratos de sanduíche na direção dela e puxo um
banquete para me sentar.
— Você me enrolou, eu já estou no final do sanduíche e você não me
contou nada.
Abro a minha boca, lembrando-me que de fato esqueci do nosso
assunto pendente.
— Nós precisaremos de um novo lugar para ensaiar. As obras
estavam indo devagar porque eu intervi, mas não tem como eu adiá-las mais
— informo, e a fito com os olhos, esperando sua reação.
— Por mim, tudo bem, nós já abusamos muito da bondade do seu pai.
— Ela diz, dando de ombros e vira a cabeça para o lado.
— Ele não estava se importando muito com isso, até se ofereceu para
pagar um lugar, caso nós precisássemos.
— Eu acho que nós não precisamos de um lugar quando você tem
essa sala imensa aqui.
Meu olhar acompanha o seu ao redor da sala, passo a minha mão no
queixo analisando nossas opções. Nós não tempos opções para falar a
verdade, nem mesmo uma.
— Tem certeza? — indago, incerto dessa ideia.
— Absoluta, há espaço suficiente aqui e o assoalho não é
escorregadio. — Ela afirma e volta a me olhar. — Podemos revezar com a
sala do apartamento da Valentina também, tenho certeza que ela não irá se
importar.
Não gosto da ideia de ensaiar no apartamento da Valentina sob seus
olhares curiosos e interrogativos. Não quando eu quero fazer muito mais do
que dançar com Noah.
Balanço a cabeça contragosto com esse pensamento que subitamente
invadiu minha mente.
É errado pensar assim, Saint.
— Não há problema em ensaiarmos aqui, não recebo tantas visitas. Já
vocês...
— E você está se importando em alguém te ver dançando essa coisa
de mulherzinha? — Sua sobrancelha se arqueia, sugestivamente.
Eu não acredito que ela pensa que essa é a minha preocupação.
Levanto do banquete e recolho nossos pratos e copos vazios e os jogo
na pia. Sem olhar para Noah, faço o meu caminho até a sala e pego a minha
mochila no sofá, em seguida, vou direto para o meu quarto.
Entro em meu quarto, fecho a porta sem me importar se ela irá vir
atrás de mim ou não. Coloco a minha mochila em cima da cadeira da
escrivaninha e vou diretamente para o banheiro.
Ouço o barulho da porta do quarto se abrindo, aproveito para abrir o
chuveiro e deixo a água cair em meu corpo, enquanto me perco em meus
pensamentos.
Saí do banheiro para pegar uma cueca boxer e em momento algum eu
olhei para Noah, nem mesmo quando voltei ao banheiro para vesti-la.
Quando voltei para o quarto, ela ainda estava lá. Sentada na minha
cama, com as costas encostada na minha cabeceira e as pernas esticadas.
— Me desculpa se eu soei rude. — Ela murmura baixo.
Viro meu rosto para olhar para ela, seu rosto está abaixado e ela
brinca com os dedos.
Eu notei que sempre que ela está nervosa, ela brinca com os dedos,
mexe no cabelo, morde os lábios e balança os pés sem parar.
— Me irrita você achar que eu estou me importando com isso a essa
altura. Eu fui um idiota antes, Noah, mas olha só onde eu estou — ergo meus
braços exasperado, fazendo menção para nós dois.
Seu rosto se levanta e seus olhos se prendem aos meus.
— Eu não preciso, mas estou nessa. Eu estou nessa por você! E você
ainda acha que a minha preocupação é que alguém me veja dançando com
você? Nós iremos nos apresentar na frente de centenas de pessoas, Noah, eu
mudei meus conceitos e o que achava sobre isso por você.
De início, ela não se mexeu. Ela mantinha seus olhos nos meus e sem
quebrar o nosso contato, seu corpo estava sentado em cima do meu.
A forma que ela olha para mim, faz a minha garganta secar e eu não
consigo dizer mais nada.
Hesitante, ela segura meu rosto com as duas mãos e escova seus
lábios nos meus. Levo as minhas mãos para a sua cintura e a acaricio,
lentamente.
— Obrigada por fazer isso por mim, por ser quem é para mim, Saint,
você é o melhor amigo que alguém poderia ter. — Ela murmura, colidindo
sua boca com a minha em seguida.
Deslizo uma de minhas mãos para parte de trás do seu pescoço e eu a
puxo mais para perto, pressionando meu corpo no seu. Sua boca se entreabre,
me permitindo deslizar a minha língua para dentro em uma busca aflita pela
sua, nossas línguas se enroscam uma na outra sensualmente e um gemido
escapa da sua boca quando avidamente chupo a sua língua.
Sua respiração cai em ondas contra os meus lábios, enquanto suas
mãos correm pela minha pele do braço me marcando com as suas unhas.
Separo nossos lábios e em poucos minutos, suas roupas estavam em algum
canto do quarto junto com a minha cueca.
Meus olhos encontram os seus e meu olhar recai sobre o seu corpo nu
debaixo do meu. Contemplo a visão de vê-la nua mais uma vez, olhando para
cada cumprimento do seu corpo. Meu olhar sobe e fixa em seus lábios, a cada
toque das minhas mãos em sua pele, ela se arrepia e geme baixo.
Noah envolve suas pernas ao meu redor, me puxando mais para si,
seu quadril se moveu para frente e eu o segurei com mais força. Minha pélvis
encostou em seu clitóris e ela moveu seu quadril em provocação, no ritmo de
uma punição.
Fecho os olhos e puxo uma respiração pesada, quando volto a abrir
meus olhos e focar meu olhar nela, um sorriso de satisfação cobre seu rosto.
— Você está brincando com fogo, bailarina — murmuro.
— Acho que eu adoraria me queimar. — Ela provoca, convidativa.
Solto um grunhido baixo, ela sabia provocar.
Sem me mover de cima dela, inclino meu corpo para o lado e estico
meu braço para abrir a primeira gaveta do criado-mudo. Pego um pacote de
preservativo e quando o coloco entre meus dentes, Noah o puxa da minha
boca rasgando a embalagem.
Minha boca se abre em surpresa com a sua atitude, sem me dar a
chance de dizer qualquer coisa, seus lábios se moveram contra os meus e eu
inseri a minha língua em sua boca.
Um gemido atravessou seus lábios, quando me empurrei contra ela,
mais uma vez roçando minha pélvis em seu ponto sensível.
Ela espalma sua mão em meu peito e devagar, me empurra para o
lado, seu corpo pequeno cobriu o meu e a sua mão ávida e pequena, desliza
para a minha barriga. Minhas mãos se movem até tocar em seus seios e os
massageio, arrancando gemidos dela.
— Saint... Não atrapalhe o que eu estou tentando fazer.
— Eu não estou fazendo nada — finjo inocência, e esfrego
delicadamente, seu mamilo entumecido em meus dedos.
Com um olhar indiferente e exalando desejo, ela sorriu, mas não era
um sorriso inocente.
— Noah, não... — gemi, cortando a minha frase pela metade, quando
seus dedos tocaram a minha ereção.
Vagarosamente, ela deslizou sua mão para cima e para baixo, tocando
em minha rigidez. O ar faltou em meus pulmões quando ela começou a
movimentar a mão mais rápido.
Deslizei minha mão até a sua nuca, e a puxei mais para perto. Minha
boca se aproximou do seu mamilo, suas costas se arquearam para trás no
momento em que tomei seu mamilo em minha boca.
Nossas respirações sincronizavam com nossos gemidos, minha boca
abandonou seu mamilo e sua mão se apertou em torno da minha ereção, ergui
meu quadril no ritmo da sua mão, em busca de alívio.
— Merda — murmuro, quando percebo o que eu fiz em sua mão.
— Desculpa, eu nunca fiz isso.
Sua confissão fez eu me sentir um adolescente que estava se
descobrindo, e essa era uma das sensações que Noah causava em mim.
Com o rosto corado e uma risadinha tímida, Noah puxou a coberta,
limpou a mão e me limpou. Com fascinação, a observei deslizar o
preservativo em meu comprimento.
Minhas mãos a puxaram pelo quadril e eu a deitei na cama, cobrindo
seu corpo com o meu mais uma vez.
Eu gostava disso, droga. Como eu gostava.
— Nunca peça desculpas por ter feito algo que você sentiu vontade de
fazer, só peça desculpas quando você sentir que deve e acredito que esse não
foi o caso, certo? — pergunto e ela balança a cabeça assentindo. — Eu quero
ouvir você falar, bailarina.
— E eu quero sentir você. — Ela murmura, e abre as pernas,
movendo o quadril.
— Ainda não.
Sua boca se abre em protesto e eu silencio seus lábios com um dedo,
para em seguida tocar seus lábios com os meus. Eu queria provar cada
centímetro dela esta noite. Nossos beijos se aprofundam conforme nossas
línguas dançam e lutam uma contra a outra.
Eu posso sentir seu corpo formigando embaixo do meu pela forma
que ela empurra seu quadril contra mim. Seus gemidos sufocam em minha
boca e eu afasto nossos lábios somente para ouvi-la.
Guio a minha boca para o seu queixo, enquanto deslizo a minha mão
para o seu seio o massageando, sigo com meus lábios para a sua clavícula e
em seguida, para o seu seio livre da minha mão. Sugo seu mamilo para minha
boca e o prendo entre os dentes, o seu corpo se contrai e o dorso de sua mão
me acaricia tentadoramente. Noah se move na cama e seu quadril se choca
com força contra o meu, e no mesmo segundo eu me deslizo para dentro dela.
Sua cabeça se inclina para trás, um gemido aliviado sai de sua boca e
mordiscando seus lábios, ela levanta a cabeça e me encara.
Ela segura firmemente em meu pescoço e leva o meu rosto para perto
do seu. Noah me beija ternamente antes de nossas línguas se tocarem e
embora eu já tivesse beijado muitas garotas antes e experimentado diversos
tipos de beijos e carícias, eu reconhecia o quanto era bom experimentar essas
coisas com ela. Minhas mãos estavam por todo seu corpo, eu não me movi
dentro dela, apenas continuei parado. Era bom sentir a forma que o corpo
dela ansiava pelo meu e por investidas minha, eu sentia isso a cada
movimento que seu quadril fazia.
Sem esperar mais um minuto que seja, eu me movi. Me movi
lentamente contra ela, sua boca se afasta da minha e gemidos soavam de sua
boca.
Eu me empurro para dentro dela, a reivindicando e a preenchendo,
enquanto a sua língua busca desesperadamente a minha. Seu quadril se mexe
involuntariamente para encontrar as minhas estocadas e eu sabia que isso era
ela pedindo por mais. Ofegando, me retirei e entrei dentro dela novamente.
Mordi meu lábio com força e tentando controlar a minha respiração
descontrolada, enquanto eu a observava se contorcer embaixo de mim.
Intensifico as minhas investidas e a fricção dos nossos corpos se unindo faz o
seu corpo se tencionar. Nós estávamos perto de alcançar nosso limite, Noah
envolveu suas pernas ao meu redor, me puxando para mais perto.
Gotas de suor escorriam por minha testa. Não conseguia pensar em
nada tão bom quanto isso.
— Ah, Saint! — Ela gritou em meio a gemidos.
— Vem para mim, bailarina — sussurro.
Corro meus lábios pelo seu pescoço, sentindo o ar quente da sua
respiração descontrolada em meu ouvido, mesclada aos sons dos seus
gemidos.
Deslizo meus lábios em sua bochecha e encosto em sua boca, seus
braços apertam em minha volta e em um gemido sufocante, seu interior se
fechou em volta do meu comprimento. Nossos gemidos preencheram o
quarto, quando chegamos ao nosso limite juntos. E pela última vez, ela
empurrou seu quadril contra o meu.
Relaxo meu corpo e deito a minha cabeça em seu peito, apertando
meu corpo ao seu, ela acaricia meu cabelo. Seu peito sobe e desce, e as
batidas do seu coração bombardeiam em meu ouvido.
Por mais uma vez, Noah se tornou minha.
E o problema nisso tudo era que meus sentimentos por ela não eram
nem um pouco inofensivos.
“E como você me disse, depois de tudo.
Nós lembraríamos desta noite.
Para o resto de nossas vidas.”
WINGS – BIRDY
EU CONTAVA OS SEGUNDOS PARA O LAGO DO CISNE
ACABAR, enquanto assistíamos sentados no sofá do apartamento da
Valentina. Eu perdi a conta de quantas sardas ele tinha no rosto, assim como
perdi a conta de quantos minutos levaram até que a sua boca estava grudada
na minha.
— Saint, isso está errado — murmuro, contra a minha vontade. —
Nós somos amigos.
Eu estava gostando dos seus toques e de sentir cada arrepio que eles
me causavam, mas eu não cansava de me dizer que era errado e de uma forma
mais errada ainda, parecia que a palavra amigos não se aplicava mais a nós.
Nesse momento, nós éramos qualquer coisa, menos amigos.
— Nós somos amigos, Noah. — Ele murmura, subindo seus lábios
pelo meu pescoço. — Nós ainda seremos amigos amanhã...
— Depois de amanhã. — Sua boca alcança meu queixo, ele o morde
até chegar em minha boca.
Ele levantou o rosto, seus olhos estavam fixos em mim e, eu não
conseguia tirar os olhos dos seus lábios. Algo dentro de mim se aflorava toda
vez que ele me tocava.
— Nós sempre seremos amigos. — Nossas respirações se cruzavam,
conforme ele aproximava seus lábios dos meus. — Você sempre será a minha
melhor amiga. — Ele sussurra e então ele me beija, tirando tudo que podia de
mim.
Saint estava me deixando fora de órbita e errado ou não, eu estava
adorando isso.
— Mas que porra?
A voz espantada de Matthew, me faz empurrar Saint de cima de mim,
que cai do sofá.
— Ai, meu Deus, me desculpa — digo constrangida, e ergo a minha
mão para ajudá-lo a se levantar.
— Eu sabia que alguma coisa estava rolando entre vocês. —
Valentina murmura, por cima do ombro de Matthew.
— Val, cale a boca. — Saint diz, jogando na direção dela uma
almofada.
— A quem vocês queriam enganar? Desde quando voltaram de
viagem não se desgrudaram e não vem dizer que é por causa dos ensaios. —
Ela diz, jogando de volta a almofada, mas dessa vez na minha direção. —
Você poderia ter me contado.
Solto um grunhido frustrada, eu não queria que a Val descobrisse
assim. Queria ter um momento nosso, eu sentia falta de conversar com ela
todos os dias, mas ela também tem ensaiado bastante para uma peça e só nos
vemos durante a noite.
— Nós temos ensaio. — Matthew diz, fazendo um sinal para Saint em
direção a Val, que está na cozinha.
— Acho que você tem uma fera para acalmar. — Saint murmura, se
virando para mim.
— E acho que você tem um problema, boa sorte para cuidar dele.
Ele me olha sem entender, quando meu olhar recai para a sua calça
jeans, ele entende meu recado.
— Anda logo, Saint. — Matthew o chama impaciente.
Ainda relutante, Saint deixa um beijo casto em meus lábios e se
levanta.
— Eu venho buscar vocês. Só não se atrasem. — Ele diz, com o olhar
direcionado para Valentina.
— Eu sempre me atraso. — Ela retruca, da cozinha.
Espero que os dois saiam e me levanto do sofá, faço o meu caminho
até a cozinha. Sem se importar com a minha presença, ela continuou fazendo
o seu misto quente.
— Peito de peru, queijo e orégano. Vai querer? — Ela pergunta.
Balanço a cabeça assentindo e a observo se mover de um lado para o
outro na cozinha.
— Você está chateada? — pergunto, me encostando na parede.
— Eu ainda estou me decidindo sobre isso. — Ela diz, sem esconder
que sim, está chateada. — Eu espero que vocês não tenham transado no meu
sofá.
— Não! É claro que não faríamos isso aqui. — Me defendo.
— Bom, porque Math e eu precisamos fazer isso antes de vocês. —
Ela confessa descaradamente, me deixando incrédula.
— O quê? — Ela indaga rindo. — Até parece que você e Saint
ficaram só nos amassos.
— E ficamos. — Me defendo.
— Eu gosto de vocês juntos, apesar de não terem me contado. — Ela
murmura, me fazendo revirar os olhos.
Drama, drama e drama. Valentina era a rainha da interpretação
quando queria, principalmente, quando resolve fazer drama ou chantagem.
— Eu estava esperando um momento a sós com você para te contar. E
nós não estamos juntos! — protesto.
A última coisa que eu quero é que ela ache que mantemos um
relacionamento em segredo.
— Não foi o que eu vi aqui. — Ela argumenta.
— É sério, somos amigos — reafirmo.
— Amigos que se beijam? — Ela indaga, não acreditando em minhas
palavras.
— Amigos que se beijam e fazem muito mais — respondo.
— E o Greg? — questiona curiosa.
— O Greg é algo passageiro, não temos um relacionamento. Ele é um
conhecido, que não chegou ainda ao nível de amigo e nem sei se vai chegar.
Não acho ele confiável — esclareço.
— Ele é legal, mas só isso.
Balanço a cabeça concordando.
Ser legal não era o suficiente, e Greg era isso. Legal. Uma palavra
pequena, simples e vazia. Ele não é um tipo de pessoa que eu me relacionaria
e eu sei as reais intenções dele. Não é como se eu não quisesse no começo,
mas agora tudo mudou e o interesse passou.
— Terra chamando Noah.
Valentina estala os dedos na frente do meu rosto, e me entrega um
prato com misto quente.
— Podemos assistir algo? Desde que não seja aquilo ali. — Ela diz,
apontando para a televisão.
O ato final do Lago dos Cisnes estava passando. Era entediante para
quem não gostava, mas eu era apaixonada e sabia de cabeça cada passo e
cada música.
— Você escolhe.
— Por que estavam vendo isso? — Ela pergunta, enquanto faz seu
caminho até a sala com seu prato em mãos.
— Achei que seria legal para Saint ver como é uma apresentação,
talvez isso também o ajude a se esforçar mais — respondo, em seu encalço.
Ao nos sentarmos no sofá, Val ficou observando atentamente a
apresentação, não levou mais que cinco minutos e trocou de canal.
— Isso é chato, ele não está indo tão bem assim?
Nego com a cabeça.
— Pelo contrário, ele está indo bem...
— Mas? — Ela indagou.
— Falta um mês e meio, estamos muito atrasados e não saímos do
básico. Já deveríamos estar ensaiando nossa performance, mas não chegamos
nisso ainda — confesso.
— Deveria pedir a ele para se entregar mais. — Ela pondera.
— Eu não quero exigir demais, ele tem feito muito por mim.
— Se ele quis participar disso, ele tem que estar cem por cento
comprometido. Então sim, você vai exigir demais ele fazendo muito por você
ou não, quero ver vocês deixando todos de queixos caídos.
— Eu vou trabalhar nisso.
— Saint tem um bom coração, ele não vai poupar esforços se isso for
para ajudar. É da natureza dele fazer pelas pessoas que ele se importa o que
não fizeram por ele, ele gosta de agir como um irmão mais velho às vezes.
Agora que eu sei sobre a vida de Saint, entendo completamente o que
ela quis dizer. Ele tem irmãos que nem mesmo sabem da sua existência, mas
têm amigos e isso o fez inverter valores, deixando tudo isso mais ameno.
Apesar de já ter sido partido um dia, Saint sem dúvidas tem um
coração bom.
Pisquei meus olhos e não contive meu sorriso, cantei junto com ele e
com as pessoas ao meu redor até a música acabar. Dessa vez quem assumia o
vocal era John, que além de tocar baixo também cantava muito bem.
— Achei você aqui! — Valentina exclamou alto.
— Vocês demoraram — digo, e cumprimento Chloé e Claire com um
abraço. — Como vocês estão? — pergunto.
— Não muito melhor que você e o bonitão ali. — Claire acena com a
cabeça na direção de Saint.
— Valentina! — repreendo-a, sabendo que ela deve ter contado as
meninas.
— Eu não contei nada, agradeça isso ao Greg frustrado por ter sido
trocado. — Ela se defende.
— Então, é verdade mesmo? — Chloé pergunta, e eu assinto sentindo
minhas bochechas corarem. — Não que eu duvidasse do Greg, mas ele tende
a ser mentiroso, às vezes.
— Eu mal posso esperar para ver a cara da Caroline. — Claire diz,
rindo.
Me senti desconfortável com esse comentário, não por me importar,
mas por ter me esquecido dela. Não sei qual era o lance da Caroline com
Saint, mas desde que ele a deixou sozinha no shopping, eu nunca mais a vi.
— Meninas, está na hora de aproveitarmos à noite como se deve ser
aproveitada. — Valentina diz, mudando o rumo do assunto.
— Eu preciso de uma tequila e das boas. — Chloé diz, animada.
Nos sentamos à mesa de sempre, e entre rodadas e mais rodadas de
bebidas. Os meninos se juntaram a nós. Saint escorregou para a cadeira ao
meu lado e se sentou.
Eu já estava em um nível alto por conta das bebidas e jurava que
havia dois Saint na minha frente.
— O que foi? Você parece a ponto de vomitar. — Ele diz, se
segurando para não rir.
— É a reação que você causa em mim toda vez que se aproxima —
provoco e ele joga a cabeça para trás rindo.
— Você fica hilária quando bebe.
Saint pega a garrafa de cerveja na minha mão e a vira de uma vez na
boca.
— Você estava precisando de uma bebida — pontuo.
— Acho que não tanto quanto vocês. — Ele diz, ao olhar para a
quantidade de copos e garrafas vazias na mesa.
— O Greg me irritou e eu precisava beber para espairecer.
Não sei porque eu estava dizendo isso a ele, ele não havia me pedido
uma explicação ou um motivo para estar bebendo. Ele só tinha feito uma
observação.
— O que aquele imbecil fez? — Saint vociferou.
— Ele me beijou e insinuou que eu fosse...
— Que você fosse? — Ele indaga, e eu estreito meu olhar para ele. —
Que desgraçado, eu vou ter uma conversa com ele.
Antes que Saint pudesse se levantar totalmente, eu o segurei com as
duas mãos o impedindo de sair do lugar.
— Eu já me resolvi com ele, você não tem que se preocupar com isso.
— Eu não quero você com ele, Noah. — Ele fala convicto. — Não me
importo que você fique com outros, mas me importo que fique com o Greg.
Senti uma pontada dentro de mim quando ele disse que não se
importava que eu ficasse com outros.
Por que eu me importava com as suas palavras se ele não me cobra e
me dá a liberdade que eu sempre quis? Por que eu queria que ele se
importasse com isso?
Merda, Saint, você me confunde.
— Então, eu posso beijar qualquer um nesse lugar desde que não seja
o Greg, que você não se importa? — indago, só para ter certeza e ele assente
confirmando.
Me levanto da cadeira e devagar saio do meu lugar, escolho um alvo e
caminho até a ele.
Eu estava congelado vendo Noah beijando um desconhecido.
— Oh, merda — rosno, batendo a garrafa de cerveja na mesa.
Sinto os olhares de todas na mesa em mim, mas logo os olhares são
direcionados para onde meu olhar está focado.
— É por esse motivo que você deve conhecer outras pessoas. —
Matthew diz.
Viro meu rosto para encará-lo.
— Eu estou falando sério, Saint, você se torna vulnerável e isso. —
Ele vira o rosto apontando na direção de Noah e volta a me olhar. — Não é
algo que você está sabendo lidar.
Eu não queria dar razão a Matthew, mas ele está certo. Se eu não
quero estragar a minha amizade com a Noah, eu tenho que parar de desejá-la
o tempo todo. Mesmo que isso signifique ter que me envolver com alguém.
— Você está certo, eu vou resolver esse problema.
Ele me olha com um olhar duvidoso, mas assente em silêncio.
— Mas antes, eu vou resolver aquele problema ali — informo,
fazendo menção com a cabeça para Noah, que ainda estava sendo engolida
por um beijo.
— Leve-a para casa, estou indo logo atrás de vocês. — Val diz.
— Se divirta, eu tomo conta disso — murmuro.
— Tem certeza? — Ela pergunta, mordendo o lábio em dúvida.
— Sim, você teve uma semana estressante. — Me levanto da mesa e
olho para Matthew. — Só cuida dela — peço, me referindo a Valentina.
— Eu sempre cuido...
— Poupe-me dos detalhes — digo, cortando-o. — Tchau, meninas.
Aceno, me despedindo de Chloé e Claire, que acenam de volta.
— Esqueceu de nós? — John aponta para si mesmo e Tyrone.
— Me poupe vocês também — ralho, os fazendo rir.
— Também amamos você.
Reviro meus olhos e marcho em direção a Noah, que ainda parecia
que ia ser engolida pela boca.
Toco em seu ombro assim que me aproximo, mas ela não se vira.
Pacientemente, toco mais uma vez e a chamo, ela se vira, mas não só ela. O
homem que estava praticamente a engolindo também se virou.
— Oi, Saint. — Ela fala, gritando. — Deixa eu te apresentar o, o...
Ela tentava encontrar em sua própria cabeça o nome dele, mas era
muito provável que ela ainda não sabia. Se no máximo ela disse um oi para
ele antes de atacá-lo, foi muito.
— Dean. — Ele por si próprio se apresenta.
Meus olhos caem para as suas mãos envolvidas na cintura de Noah,
tento não ser mais uma vez idiota por essa noite com ela e suspiro, antes de
começar a falar:
— Nós precisamos ir embora, agora — digo baixo, a última palavra
para que ela entenda que nós realmente precisamos ir.
— Mas você acabou de chegar. — O tal Dean, lamentou.
— Ele é a minha carona, então, eu realmente preciso ir. — Ela
informa a ele.
— Eu posso te deixar em casa, gata. — Ele tenta contestar, segurando
firme em torno da cintura dela, mas ela se afasta.
— Eu realmente preciso ir, minha mãe me ensinou a nunca pegar
caronas com desconhecidos. — Ela murmura, piscando um olho para ele e se
aproxima de mim. — Vamos?
Assinto concordando em silêncio.
— Você que veio me beijar e eu que sou um desconhecido? Estão
ouvindo isso pessoal? A vadiazinha do cantor não pega caronas com
estranhos. — Ele debocha, rindo com os amigos.
— Do que você a chamou? — rosno, dando um passo em sua direção.
Minha mandíbula aperta, eu estava com raiva pela péssima escolha de
Noah ao beijá-lo e estava com mais raiva ainda pelo o que ele havia acabado
de chamá-la.
— Saint, vamos embora.
Noah me puxa pelos braços tentando me afastar, mas as palavras
seguintes que saíssem da boca dele, seria a palavra final para o que eu faria.
— Ouça o que a vadia da sua namorada está falando, vai embora. —
Ele diz com desdém.
Ele se vira, me dando as costas e eu toco em seu ombro.
— Você ainda está a...
Não o deixo terminar de falar quando ele se vira novamente de frente
para mim, fecho meus punhos e o soco diretamente no nariz. Ele cambaleia
para trás e é amparado por um dos seus amigos. Quando se recompõe, ele
vem em minha direção e tenta acertar um soco em meu rosto, que pega de
raspão em minha bochecha.
— Pelo amor de Deus, alguém faça alguma coisa! — Noah grita,
quando eu acerto mais um soco nele.
Eu a ouvi gritar mais vezes que eu podia contar, quando Dean acertou
um soco em meu olho.
— Saint, chega. — Matthew diz, me segurando.
— Mas que diabos está acontecendo aqui? — Greg pergunta,
intercalando seu olhar para mim e para Dean sendo segurado pelo amigo.
— Nada — digo ríspido, me soltando dos braços relutantes de
Matthew.
— O funcionário desse estabelecimento costuma bater nos clientes e
sair impune? — Dean pergunta, levando a mão ao nariz ensanguentado.
— Saint... — Greg faz menção em começar a falar, mas eu o
interrompo.
— Eu não preciso da porcaria do dinheiro do seu pai, Greg, pelo
contrário. Vocês que precisam de nós para movimentar esse lugar.
— E o que isso quer dizer? — Ele questiona.
— Entenda como quiser, Gregório — olho para Noah, que está ao
lado de Valentina. — Vamos?
Um pouco contida, ela assente. Seguro em sua mão e a trago ainda
mais para perto de mim, assumo a sua frente quando ela começa a me puxar
em direção a saída do pub.
— Você está bem? — Ela pergunta, quando colocamos nossos pés do
lado de fora.
— Eu estou bem, não posso dizer o mesmo dele.
Ela se aproxima e delicadamente passa seus dedos em minha
bochecha, e o desliza até o meu olho.
Solto um grunhido baixo ao sentir seus dedos tocando a parte dolorida
do meu olho.
— Você não deveria ter feito isso, vamos para casa colocar gelo
nisso. — Ela diz, se afastando.
— Sua mãe deveria te ensinar a não beijar na boca de estranhos
também — comento, enquanto caminhávamos até o carro.
— Você disse que não se importa. — Ela retruca.
— E eu não me importo mesmo — afirmo, sem tanta certeza assim.
— Então estamos na mesma página, Saint. — Ela diz.
— Não, não estamos.
Destravo o alarme do carro e quando ela ameaça abrir a porta, eu
travo novamente.
— Por que não, Saint? — indaga.
— Porque eu não preciso ficar com alguém para provar alguma coisa
para você ou para mim mesmo, Noah! — exclamo.
Destravo o carro dessa vez a deixando entrar, e entro em seguida.
— Se você não se importa, deveria ter me deixado. Você sabe, carona
é o que menos me falta e eu tenho dinheiro para um táxi. — Ela diz, sem me
olhar.
— Você bebeu demais, Noah, não sabe o que está falando — digo,
ríspido e ligo o carro.
Foram longos minutos até chegarmos ao prédio, durante o caminho
ela adormeceu e eu precisei pegá-la no colo. Subi até o nosso andar em
silêncio, eu não iria conseguir abrir a porta com ela em meu colo e ter que
acordá-la era o que eu menos queria. As chances dela correr para o
apartamento da Valentina eram muitas agora, e eu não queria que ela fosse.
Eu queria que ela ficasse comigo.
— Noah. — A chamo, baixinho.
Ela remexe em meu colo, sua respiração é tão calma, quanto seu rosto
sereno enquanto dorme.
— Eu odeio você, Saint. — Ela murmura, de olhos fechados.
— Noah, acorda — chamo mais uma vez.
Passo meu nariz em sua bochecha e o arrasto até seu pescoço, Noah
cheira a perfume masculino. E não é ao meu perfume que ela está cheirando,
isso me frustra ao mesmo tempo que me enfurece.
— Noah, acorda!
Dessa vez chamo um pouco mais alto, e ela abre os olhos sonolenta.
— Você precisa ir — digo, com a voz firme e a coloco no chão.
— E o seu olho? — Ela pergunta, sonolenta.
— Eu posso cuidar disso, agora vá, Noah.
Eu podia ver a dúvida em seus olhos, entre ir e ficar, mas ela escolheu
ir quando caminhou até a porta. Esperei que ela entrasse, para entrar em meu
apartamento.
Em outras circunstâncias, eu não teria gostado da sua escolha, mas
nesse momento foi a escolha mais sensata que ela fez.
Sento no sofá e deito a cabeça para trás.
Eu nunca fui agressivo e nunca bati em alguém, aquele cara mereceu,
mas despertou em mim uma fúria que apesar do meu jeito, eu não conhecia.
Estava quase pegando no sono, quando ouvi o barulho de chaves na
porta e, em seguida, ela se abriu.
Forcei-me a abrir o olho, agora estava doendo. Muito mais do que
antes.
— Posso dormir aqui? — Matthew pergunta.
Dou de ombros e ele entende isso como um sim.
Ele faz seu caminho até a geladeira e pega duas cervejas, voltando
para a sala, ele se senta ao meu lado e me estende uma, em seguida bate com
a sua garrafa na minha.
— Ao que estamos brindando? — pergunto.
— A sua primeira briga e ao seu fracasso de tentar não se apaixonar
por Noah, e ao meu fracasso de tentar não matar o par da Valentina no teatro.
— Ele informa.
— Você é péssimo em não demonstrar ciúmes.
— Sou. — Ele confirma e vira a garrafa na boca, dando um gole na
cerveja. — Igual você é em relação a Noah.
— Eu...
— Saint, escute um conselho. — Ele diz e faz uma pausa para mais
uma vez virar a garrafa. — Se você gosta, você deve pegar e agarrar com
todas as forças ao invés de afastar, se é o que você quer, simplesmente pegue.
Mas não finja que não sente, não finja que não se importa e nem que está bem
com isso, porque você não está.
— Um dia ela irá embora da mesma forma que chegou, Matthew, ela
tem sonhos e sonhos tão grandes quanto os meus. Não daria certo.
— Arriscar às vezes é preciso, mesmo que isso signifique que no final
das contas alguém não saíra ileso disso.
— Eu sei — murmuro, sabendo que ele mais uma vez tem razão.
— A propósito, belo soco de direita. — Ele acrescenta.
Eu precisava dar um novo rumo para o bem da minha amizade com
Noah, mudanças e distâncias seriam necessárias se eu ainda a quisesse por
perto. Só espero que ela esteja de acordo com isso.
“Meu bem, não temos chance.
é triste, mas é verdade.”
TOO GOOD AT GOODBYES – SAM SMITH
FAZIA UNS DIAS QUE EU E SAINT NÃO TROCÁVAMOS
MUITAS PALAVRAS, além de um oi e algo sobre ensaios. Todos os dias
depois do meu expediente na livraria nós ensaiávamos. Era estranho a forma
que nós nos tratávamos desde aquela briga no bar, briga na qual foi decretado
o fim da banda tocando por lá. Eu me sentia culpada, a culpa foi minha e nós
dois sabíamos disso, embora no dia seguinte ele tenha dito que não.
Em um par de dias nós passamos de desconhecidos para íntimos e
agora, voltamos a ser desconhecidos outra vez. Saint estava distante e eu
também, ao invés de aproximá-lo, eu não fazia nada. Pelo menos ele ainda se
dedicava aos ensaios e estava indo muito bem.
— O que você faz aí parada olhando para o nada? — Valentina
indaga.
Viro meu rosto, desviando meu olhar da vista sem graça da sacada do
apartamento dela, para olhá-la.
— Nada — dou de ombros e me levanto da cadeira que eu estava
sentada. — Só estou esperando dar a hora do ensaio — informo.
— Ensaio? — Ela indaga, mas em seguida abre a boca e assente,
como se tivesse se lembrando de algo. — Mas Saint não tem um encontro?
Pisco meus olhos perplexa e me aproximo mais ainda dela.
— Saint tem um encontro? Como assim ele tem um encontro? Ele não
me disse nada — questiono.
— Bom, foi o que eu ouvi ele comentar com os meninos hoje. — Ela
responde.
— Ele pelo menos poderia ter me avisado — resmungo.
Valentina caminha até a cozinha e eu a sigo.
— O encontro dele pode ser com você, ele não é de desmarcar as
coisas, Noah.
Será? Balanço a cabeça negativamente. Não Noah, vocês não se falam
direito a dias.
— Valentina, o máximo que a gente tem se falado é um oi quando ele
abre a porta, fique à vontade em seguida e por último eu dito os passos e nós
dançamos. No final da noite, nós apenas damos boa noite um para o outro e
no dia seguinte o ciclo se repete.
— Sabe o que eu acho? — Ela pergunta.
Balanço a cabeça negando, eu queria e não queria saber o que ela
acha. Estamos falando da Valentina e sempre tem que temer o que sai da
boca dela
— Vá confrontá-lo. Vocês têm ensaio agora de qualquer forma,
apenas vá como se estivesse sabendo de nada e veja qual é a dele, e então, o
confronte se o encontro não for com você. Afinal, ele tinha algo marcado
com você antes.
— Você está certa.
— Eu sei que estou. — Ela diz, convencida. — Agora vá.
Reviro os olhos e saio da cozinha deixando Valentina a sós e
recitando falas sozinha. No caminho para a porta, pego a minha bolsa em
cima do sofá e respiro fundo, ao caminhar em direção à porta e abri-la.
Ao sair do apartamento encaro a porta de Saint e aperto a campainha.
Levou dois minutos para que ele abrisse a porta arrumado.
Sim, ele teria um encontro e pela sua expressão surpresa e olhar
culpado, não era comigo. E eu estava certa sobre isso.
— Nós tínhamos ensaio hoje? — Ele pergunta.
— Tínhamos? — indago áspera, o olhando dos pés à cabeça. — Se
você tem algo mais importante para fazer hoje deveria ter me avisado, sabe?
Século 21, tecnologias existem, como por exemplo, celular ou alguns passos
até a porta da frente.
— Noah, eu me esqueci, estava acostumado com a falta de ensaios
aos sábados por causa da banda. Me desculpa. — Ele se explica, parecendo
estar realmente arrependido.
— Tudo bem — murmuro, olhando para os meus pés. — Só me avise
na próxima vez em que tiver um encontro.
— Quem te disse que eu vou a um encontro?
Levanto a cabeça e o encaro, ele me olha à procura de resposta e eu
mordo meu lábio apreensiva por ter falado demais.
— Só supus, você está todo arrumado — minto, não quero envolver a
Val nisso.
Ele solta um suspiro e dá passagem para que eu entre em seu
apartamento.
— Você já está de saída e eu não vou entrar. Nós vemos, huh... —
paro para pensar, se ele não lembrou do ensaio hoje, provavelmente, não se
lembrou que amanhã apesar de ser domingo, também ensaiaríamos. —
Segunda depois das aulas — completo, e recuo dando um passo para trás.
— Noah, eu posso cancelar...
Sim, cancele! Meu consciente grita.
— Quê?! — exclamo e balanço a cabeça negando. — É sábado,
merecemos uma folga — desconverso e dou mais um passo para trás, até
estar próxima da porta do apartamento da Valentina.
— Você tem certeza? — Ele pergunta, franzindo a testa.
Balanço a cabeça que sim. Quando na verdade, queria dizer que não e
se eu abrisse a boca, seria exatamente um não que sairia dela.
Engulo o caroço que se formou em minha garganta e giro a maçaneta
da porta.
— Boa noite, Saint — digo baixo, e sem tirar os olhos dele eu abro a
porta e entro, sem lhe dar a chance de me desejar boa noite.
Fechei a porta sentindo meus olhos arderem em lágrimas, por que eu
estava sentindo vontade de chorar sem motivos?
Eu estava chateada por causa de Saint ter se esquecido do nosso
ensaio, mas não o culpo por isso.
Vou direto para o meu quarto e tranco a porta, em seguida tiro a
minha roupa e pego meu celular dentro da bolsa. Me deito na cama apenas de
roupa íntima mesmo e me cubro com a coberta.
Desbloqueio o celular e dentre mensagens de Saint se desculpando e
da Claire chamando para sair hoje, eu só respondo uma que é da minha mãe.
Mamãe: Vejo que nos veremos em breve, antes mesmo do festival!
Consegui um contrato de uma empresa de NY, daqui há duas semanas
eu terei uma reunião com o dono. Isso não é incrível?
Eu: Isso é muito mais que incrível, é excepcional, mamãe! Eu
estou empolgada e orgulhosa, mal posso esperar para vê-la, eu quero
muito um abraço seu. Estou morrendo de saudades.
Espero por uma resposta e quando vejo que ela não vem, eu desligo o
celular.
Apenas por uma noite, eu quero silenciar o mundo a minha volta. Eu
sabia em que pé Saint e eu estávamos, e sabia que o que eu estava sentindo
não tinha nada a ver com a falta do ensaio.
Após tomar um banho quente, vestir uma legging e uma blusa topper
justa, aqui estava eu no apartamento de Saint pronta para ensaiarmos.
— Eu pedi algo para comermos, a entrega vai demorar um pouco por
causa da chuva, espero que não se importe. — Ele diz, em um tom baixo
sentado ao meu lado.
Dou de ombros, não me importando tanto assim pela comida demorar.
— Posso te pedir uma coisa? — Ele pergunta, com um olhar sério.
— Depende do que você quer pedir — pondero, um tanto receosa pela
sua pergunta repentina.
— Dance para mim. — Ele pede, e eu estreito meu olhar com seu
pedido.
Eu dançava com ele e para ele, nós estamos há um mês ensaiando e
quase todos os dias ele me via dançando. Era um tanto estranho esse pedido.
— É sério, Noah, dance para mim. — Ele pede mais uma vez.
Ele não estava brincando, ele estava falando sério.
— Só se você tocar uma música para mim.
Como se estivesse achando a minha condição fácil, ele pega o celular
e antes mesmo de desbloqueá-lo eu o tomo da sua mão.
— Ei. — Ele resmunga.
— Eu disse para você tocar e não colocar uma música. Toque para
mim, que eu danço para você.
— Tudo bem. — Ele diz, deixando os ombros caírem. — Eu tenho
trabalhado em uma música. Na verdade, hoje que eu comecei a escrever a
letra, ela não está completa, apenas os acordes.
Olho surpresa para ele e sorrio, ansiosa por ouvi-lo tocar algo
exclusivamente seu.
— Eu ando com um bloqueio terrível ultimamente.
— Saint, apenas toque para mim — peço, insistentemente dessa vez.
— Tudo bem. — Ele diz, se levantando do sofá.
Eu aproveito para admirá-lo em sua calça moletom cinza, seu
abdômen desnudo e o contemplo de costas quando ele se vira e caminha para
o quarto.
Saint volta para a sala com o violão em mãos e senta ao meu lado
novamente.
— Sua parte, bailarina. — Ele diz, apontando para o meio da sala
vazia.
Nós arrastamos todos os móveis da sala para dançarmos, tem sido
assim desde que começamos a ensaiar aqui.
— Você não pode tocar primeiro? — pergunto, e ele nega com a
cabeça, apontando mais uma vez para o meio da sala.
Solto um suspiro frustrada, eu queria observá-lo enquanto tocava, eu
queria sentir à sua música. Minha ânsia por ouvi-lo tocar era tanta que
rapidamente me levantei do sofá e me posicionei no meio da sala.
Saint tem seu olhar fixo em mim, um meio sorriso permeava em seu
rosto e seu dedo desliza pelas cordas do violão. Os primeiros acordes da
música enchem o meu ouvido. A melodia é calma e serena, soava como uma
música romântica sem letra.
Concentro-me em meus pés e fecho os olhos, me deixo ser levada
pela sua música sem me preocupar com a intensidade do seu olhar em mim.
Mesmo com os olhos fechados enquanto dançava, eu podia sentir os
olhos de Saint em mim e em cada passo meu.
Não importava se eu tivesse de olhos fechados ou a milhas de
distância, eu sempre sentiria a intensidade dos olhares de Saint, enquanto eu
fosse seu foco. E hoje eu daria o melhor de mim para ser o seu foco pelo
resto da noite.
Ela dançava e parecia que estava flutuando, seus passos eram leves e
ao mesmo tempo tão firmes.
Meus olhos não se perderam por um segundo que fosse enquanto
tocava para ela dançar, seus pés a faziam voar alto.
Voar alto.
Paro de tocar o violão e pego meu celular ao meu lado no sofá,
escrevo mais duas estrofes para a música que comecei a escrever mais cedo e
volto a olhar para Noah, que para de dançar no mesmo segundo em que seus
olhos encontram os meus.
— Agora eu posso pedir uma coisa? — Ela pergunta.
— Você sabe que sim — murmuro.
— Você pode me ensinar a tocar violão?
Sua pergunta me surpreende, e eu bato no espaço ao meu lado para
que ela se sente. Um pouco contida, ela se senta ao meu lado e eu coloco o
violão em seu colo.
— Os números correspondem as casas do braço do violão que deve
ser apertada, você pode tocar na sexta corda — explico e passo seu dedo na
corda mais grossa, um som grave sai do violão e deslizo seu dedo para a
corda mais fina que emite um som agudo. — Ou nessa, é a primeira corda.
— Isso aqui que é o traste? — Ela pergunta apontando para o
ferrinho.
— Sim, seu dedo sempre tem que estar pressionando ele, não precisa
ser forte como você está apertando — digo, soltando um riso baixo.
Posiciono seu dedo corretamente em cima do traste e a olho.
— Quanto mais próximo do traste seu dedo estiver, mais fácil e com
melhor som a nota vai sair.
— Acho que entendi, deixa eu repetir tudo para ver se eu aprendi. —
Ela diz, e sozinha posiciona o dedo corretamente no violão e dedilha a ponta
do dedo na corda fina e em seguida na grossa. — E agora? — Ela pergunta.
— Vou pegar uma partitura fácil, só um segundo.
Me levanto do sofá e rapidamente vou até o meu quarto, pego a minha
pasta de partituras que costumo deixar em cima da escrivaninha. Ao voltar
para sala, observo Noah que continuava com os dedos imóveis nas cordas do
violão.
— Essa aqui é a mais fácil — digo, após tirar um papel de dentro da
pasta e colocar na mesa de centro a nossa frente.
— Posso tentar? — Ela pergunta.
— Quando estiver pronta, manda ver — incentivo-a e ela sorri.
Seus dedos deslizam pelas casas 2, 4, 5 e 4 novamente, era uma
pequena introdução a Billie Jean do Michael Jackson. É uma das partituras
mais fáceis para quem quer aprender a tocar violão.
— Assim? — Ela pergunta.
— Só um pouquinho mais para baixo — guio o dedo dela e mais uma
vez ela toca as notas, para que eu ouvisse. — Muito melhor, mais uma vez.
E por três vezes seguidas Noah repetiu as notas.
— Podemos tocar outra? Você toca primeiro, eu observo e depois
tento.
Balanço a cabeça negativamente e me aproximo mais dela, nossos
braços se encostam e eu sinto a sua pele se arrepiar só com esse contato.
Finjo não ter percebido e coloco o violão entre nós dois.
— Segura no traste — peço e ela faz.
Dedilho o dedo nas cordas e toco as notas da música que tenho em
mente.
— Otherside? — Ela pergunta e eu aceno, confirmando.
— Você consegue sentir as notas que eu toquei?
Sua boca torce em dúvida e ela olha para os meus dedos.
— Não sei, você é rápido. — Ela confessa.
Tiro o violão do nosso meio e o coloco em pé no chão recostado no
sofá. Pego meu celular e procuro a mesma música que eu estava tocando,
Otherside do Red Hot Chili Peppers.
— Fecha os olhos, bailarina. — Ela me olha confusa, mas fecha os
olhos. — Sinta o toque, ouça a batida e mentalize as notas — sussurro em seu
ouvido e dou play na música.
Ficamos em silêncio pelos 4 minutos em que a música tocou. Quando
o som cessou a respiração de Noah se tornou o único som audível.
— Isso é incrível. — Ela murmura. — Foi a nota 42 de início, não
foi?
— Sim, foi — confirmo, com um meio sorriso. — E depois?
— 42, 42, 42 e 32, 32. Não consegui me concentrar no resto quando
passei a prestar atenção na letra da música. — Ela confessa.
— Tudo bem, você foi uma boa aprendiz por hoje.
— Mesmo? — Sua sobrancelha se ergue em surpresa e ela sorri.
Aceno com a cabeça em confirmação e em um gesto inesperado, ela
joga seus braços em cima de mim e me envolve em um abraço. Aperto meus
braços em volta da sua cintura e inspiro o aroma do seu perfume, era tão bom
senti-la tão perto outra vez. Esse é o contato mais próximo que estamos tendo
desde aquela noite do bar.
Após perceber que estamos a tempo demais nos abraçando, ela
levanta a cabeça e me olha, seus braços ainda estão envolta do meu pescoço e
eu observo seu peito subir e descer, aceleradamente conforme a sua
respiração.
Eu preciso sanar de uma vez por todas as questões em minha cabeça.
Preciso saber se estamos na mesma página. Preciso saber se ela quer isso
tanto quanto eu e preciso saber se ela sente tanto quanto eu sinto.
Inclino meu rosto como se fosse beijá-la, mas ao invés disso, paro na
metade do caminho ao sentir sua respiração falhar.
Eu estou perdidamente apaixonado por você, bailarina.
Recuo a cabeça para trás e para minha surpresa, Noah se inclina
encostando sua boca na minha, ela fecha os olhos e em seguida, entreabre
meus lábios lentamente com os seus. A saudade do sabor dos seus lábios me
invade quando a sua língua busca pela minha, eu a abraço e a coloco sentada
em meu colo. Acaricio seu cabelo enquanto retribuo o beijo com mais
intensidade, e com duas coisas que mais sinto nesse momento: saudade e
necessidade.
Parece que não nos beijávamos há anos, mas foram apenas duas
semanas, sem sentir o toque dos seus lábios, o sabor do seu beijo e essa
sensação que as mãos quentes dela causam em meu pescoço agora. Fecho
meus olhos ao seu toque e movo minhas mãos pelas suas costas, a pele dela é
tão macia, seus lábios tão perfeitos, ela parece tão minha. A forma que seu
corpo reage ao meu toque é única, nós somos únicos juntos.
Eu acho que ela gosta de mim também.
Não sei quanto tempo passamos nos beijando, só sei que me
arrependo de não tê-la amarrada a mim, quando sua boca abandona a minha.
Abro meus olhos e observo seu rosto corado e um brilho diferente em
seus olhos azuis. Seus lábios estão inchados e eu os toco novamente com os
meus, beijo seu lábio inferior lentamente, em seguida beijo o lábio superior e
arrasto minha boca para o lado e beijo a sua bochecha corada.
— Noah... — murmuro fracamente.
— Sim?
Seu tom era tão baixo quanto o meu, eu não sabia se a essa altura eu
ainda podia pedir alguma coisa a ela, mas arriscaria.
— Não faça nada na quarta-feira, tenho planos para nós.
— Nós? — Ela indaga.
— Sim — confirmo com um aceno.
Ela prende o lábio inferior entre os dentes e me encara curiosa.
— Posso saber o que é pelo menos? — Ela pergunta.
— É surpresa, mas acho que você vai gostar. — Eu garanto.
— Ok.
Ficamos em silêncio encarando um ao outro por incontáveis minutos,
até que ela se recompôs e se levantou. Agindo como se nada tivesse
acontecido, ela colocou uma música para tocar e me estendeu a mão.
Segurei em sua mão, disposto a desfrutar desse contato de tê-la por
perto enquanto dançamos. Mas nada, vejamos bem, nada. Se compara a tê-la
da forma que eu tive a minutos atrás.
Eu acho que eu a completo também.
“Nós temos esse amor, do tipo maluco.
Eu sou dele e ele é meu.”
HIM & I – G-EAZY FEAT. HALSEY
FOI APENAS UM BEIJO, UM INOCENTE E ADORÁVEL BEIJO.
A quem eu estava querendo enganar? Foi muito mais do que um beijo
e eu quero muito mais desses beijos.
— Noah, como anda seus preparativos para o ensaio? — Louise, a
professora de dança pergunta.
Eu estava sentada no chão amadeirado da sala de dança, poucas
meninas iriam participar do festival. Nem todas tinham interesse no dinheiro
e muito menos na bolsa de estudos, a única pessoa que se importa e não tem
tantas condições aqui sou eu.
— No início não estava sendo fácil, mas agora...
Como dizer em voz alta que com o passar dos dias Saint tornou tudo
mais fácil?
— Mas agora? — Ela indaga.
Pelo canto do olho, observo Claire dar um risinho baixo. Eu reviraria
meus olhos para ela se a atenção de todas as meninas não estivesse em mim.
— Agora Saint e eu aprendemos a lidar com nossas diferenças,
aprendemos um com o outro e quando um cai o outro ajuda a levantar. Nós
nos ajudamos e isso é tudo — confesso, tentando ser mais breve possível.
— Aceitar as diferenças e somar juntos, isso é um grande avanço para
duas pessoas que possuem princípios diferentes. Mal posso esperar para vê-
los se apresentar.
E nem eu.
Assistimos um documentário sobre repertórios, era fantástico os
temas de cada um deles. Não que eu já não tivesse visto todos, mas todas as
vezes que eu vi algum, eu me sentia vendo pela primeira vez.
Dança é tudo que eu sou. É tudo que eu amo. Não importa quantas
vezes eu visse esses documentários, eu sempre iria suspirar e amar como se
fosse a primeira vez.
Eu era a única pessoa restante na sala após Louise dispensar todas, eu
fiquei sentada refletindo no que poderíamos dançar no festival. Se eu dissesse
Lago dos Cisnes, Saint certamente surtaria, o motivo pelo qual ele surtaria, é
bem claro: ele não suporta mais assistir ao Lago dos Cisnes. E foram só duas
vezes.
Após juntar as minhas coisas e abrir a porta, levo um susto ao me
deparar com ele encostado na parede ao lado da porta.
Saint estava me esperando e fazia muito tempo que ele não me
esperava depois de uma aula ou outra. Nem mesmo quando tínhamos a
mesma aula, o que era raro, pois só tínhamos música clássica juntos.
— Tem aula de que agora? — Ele pergunta, e se põe a andar ao meu
lado.
— Palestra sobre empreendimentos — respondo.
Saint revira os olhos e me encara. Pela cara dele não deve ser nada
legal.
— Boa sorte então, essa palestra é um saco.
— Do que se trata?
— Coisas que você deve pensar enquanto está aqui e o que você vai
fazer quando sair daqui. Um pé no presente e outro no futuro, basicamente
isso. — Ele explica.
— Huh, interessante.
Na verdade, não parecia nada interessante.
Parecia que estávamos andando sobre cacos de vidros, cada passo que
eu dava eu queria que o auditório estivesse mais e mais distante, mas estava
há poucos metros de nós. Sinto que ele também queria prolongar nossos
passos, então me sinto bem por estarmos pisando em cacos juntos.
— O que vai fazer depois? — Ele para de andar, e se vira para mim.
— Trabalhar, pessoas trabalham — respondo, com um sorriso
sarcástico no rosto.
— Não me diga? — Ele ironiza, me fazendo rolar os olhos.
— Tchau, Saint. — Me despeço dele.
Dou um passo em direção ao auditório e antes de dar mais um passo,
Saint me puxa pelo cós da minha calça jeans.
— Quero te levar a um lugar depois do seu expediente. — Ele diz,
envolvendo seus braços em minha cintura.
E além de estarmos andando em cacos de vidro, parecia que
estávamos bem também.
— Onde iremos? — pergunto, curiosa.
— Você irá ver. — Ele diz, se inclinando para frente e encosta sua
boca em minha testa, pressionando seus lábios sobre ela. — Nos vemos mais
tarde, bailarina, eu busco você hoje.
— Não precisa...
Ele não me deu tempo de negar a sua carona, ele me deu as costas e
caminhou em direção ao corredor oposto. Eu não tinha outra saída a não ser ir
em direção ao auditório que me aguardava.
Ao passar pela porta e ver a quantidade mínima de pessoas que há
aqui, me arrependo de não ter dado ouvidos a Saint sobre essa palestra ser
chata. Há apenas sete pessoas contando comigo, sete.
Eu só queria poder sair daqui e voltar a andar sobre cacos de vidros
com ele de novo.
Quando passei pela porta da livraria, eu soube que o meu dia seria o
melhor de todos. Eu amava quando chegava mercadorias novas e isso
acontecia toda semana. Isso significa que há novos lançamentos e eu mal
posso esperar para saber o que tem dentro dessas caixas.
— Mercadorias novas? — pergunto, observando a quantidade de
caixas empilhadas no canto da loja.
— Sim, acabaram de chegar. Mas como eu tenho uma visita ao
médico, nós desempacotamos isso amanhã. — Eva informa.
Meu sorriso morre e torço meu lábio não satisfeita com a sua resposta.
— A senhora tem certeza? — tento mais uma vez.
— Noah, não invente. — Ela me repreende, com um sorriso no rosto.
— Só cuide da loja.
— Tudo bem.
Não contesto, nós duas sabemos que eu farei.
Geralmente a maioria dos livros ficam nas prateleiras altas da estante,
a senhora Eva não alcança e ultimamente ela tem feito muito esforço.
Segundo seu filho, ela não pode estar fazendo muito esforço, não deveria
nem mesmo estar trabalhando. O médico recomendou repouso absoluto por
causa da sua pressão alta, mas ela é teimosa.
Espero ela sair e abro uma das caixas. Péssima escolha de caixa, só há
almanaques nessa e eu fico entediada só de vê-los.
Guardo todos os livros que ficam nas partes baixas e deixo por último
os livros que ficam no alto.
Lá fora a chuva começa a cair, me deixando a mercê do meu medo de
trovoadas.
Aproveito que não está tendo movimento na loja por causa da chuva,
pego meu celular e o fone de ouvido no bolso do meu avental. A música iria
me distrair do som das trovoadas.
Em pouco minutos, de seis caixas, três estavam vazias. Uma das três
restantes ocupava os livros que ficavam no alto e outras duas tinha
lançamentos de romances e autoras best sellers. Solto um gritinho empolgada
ao pegar um dos livros em mãos, o título se chama é assim que acaba, e a
sinopse me chama atenção de imediato. Separo um para mim, colocando-o
em cima do balcão e começo a organizar os demais livros na prateleira.
Penso se seria uma boa ideia colocar alguns livros novos na vitrine
para chamar atenção, Eva sempre faz isso e acho que não há mal algum em
fazer o mesmo. Empilho os quatros livros em meus braços e caminho em
direção a vitrine.
Coloco um por um em pé na estante de vidro da vitrine e ao levantar
meu rosto para olhar através da vidro que dava com direção para a cafeteria,
meu olhar recaí para duas pessoas sentadas na mesa ao lado de fora.
Em específico, Saint e uma garota. Essa garota não era Valentina,
muito menos eu. Eu reconhecia aquela garota da foto, ela era ninguém menos
que o seu encontro do Tinder.
Eu não sabia em que pés nós estávamos agora, mas com certeza não
era mais em cacos que nós estávamos andando.
Eu não podia ir afundo com Noah, quando havia outra garota na
expectativa que eu ligasse para um segundo encontro. Eu não posso fazer isso
com Ash e eu não posso fazer isso com Noah.
Quando as aulas terminaram, eu passei no galpão onde Tyrone estava
fazendo entrevista com algumas pessoas. Nós precisaríamos de baristas,
cozinheiras e garçons, Tyrone é bem crítico em relação a isso, ele odeia ir a
lugares onde os empregados destratam os clientes só com o olhar. Por isso,
ele é a pessoa indicada para estar fazendo isso, ele olha para a alma das
pessoas e não para o que elas trazem no currículo. De todos os meninos da
banda, ele era o único que sabia o que eu estava fazendo e estava tão
empolgado quanto eu.
Depois que me certifiquei que estava tudo em ordem, eu o deixei
prosseguir com as entrevistas. Eu tinha um novo encontro marcado com Ash,
mas dessa vez não era para continuar seja lá o que tenha começado entre nós
no primeiro encontro. Era para finalizá-lo.
Marquei com Ash na cafeteria perto da livraria onde Noah trabalha,
ficaria perto para buscá-la já que mais uma vez estava chovendo.
E aqui estávamos nós, nos encarando sem tocar em nossos pedidos
que havia acabado de chegar. Eu não sabia como fazer isso, nunca precisei
fazer isso, afinal, nunca estive em algo sério com alguém e mesmo que isso
aqui não seja algo sério, sinto que devo uma explicação para Ash por não
querer mais sair com ela.
— Estamos aqui há meia hora e você não falou nada. — Ela comenta,
me observando.
— Tem uma garota — hesito, e a observo antes de continuar, eu tenho
a sua atenção e ela parece interessada, então prossigo.
— Essa garota desperta o melhor de mim, ela é a minha melhor
amiga. Eu a amo, Ash, e acho que ela me ama também, eu não posso
continuar com esses encontros quando meus pensamentos e sentimentos estão
direcionados à outras pessoas. Você é uma garota legal e em outras
circunstâncias eu adoraria sair por horas da cidade só para comer em uma
fazenda com você, mas agora eu estaria sendo desleal comigo mesmo.
Espero por alguma reação negativa dela, mas ao invés disso, ela sorri,
apoia os cotovelos na mesa e inclina seu rosto em minha direção.
— Por que você está dizendo isso para mim e não para ela, Saint?
Tinder não é só para relacionamentos, sabe disso? É para conhecer pessoas e
fazer novas amizades também, então considere isso como um conselho de
uma nova amiga: vá atrás dela e descubra se ela o ama também.
Viro meu rosto na direção da livraria tentado a me levantar e ir até
Noah, mas ainda não era a hora certa para isso. Eu teria o resto do dia para
fazer isso.
— É complicado — confesso.
Ash me olha curiosa e aqui estava eu, prestes a desabafar sobre meu
complicado relacionamento com Noah, para a garota que eu beijei dias atrás.
— Saint, o que faz você faz aqui essa hora? — Tio Paul pergunta,
logo após a secretária autorizar a minha entrada em sua sala.
— Você tem tempo para uma conversa de pseudo pai e pseudo filho?
Sua sobrancelha se ergue, ele larga os papéis que segura em cima da
mesa e me olha por cima dos óculos.
— Mulheres, tem que ter uma mulher. — Ele pontua.
Meus ombros caem e caminho em direção a sua mesa, e me sento na
cadeira à sua frente.
— Deixe-me adivinhar, loira, olhos azuis e dança com uma leveza de
uma pena.
Tio Paul coçava seu queixo barbudo, enquanto me encarava. Ele
lembrava o meu avô quando fazia isso, acho que seja por isso que eu me sinto
à vontade em me abrir com ele.
— Ela está me deixando louco! — exclamo. — Uma hora ela parece
se importar, outra hora ela me coloca para fora e não se importa mais —
desabafo.
Tirando os óculos, ele se inclina para frente e debruça os cotovelos na
mesa. Seu olhar se estreita, me fazendo engolir em seco.
— Eu achei que vocês já fossem um casal. Vocês jovens são
estranhos, na minha época...
— Tio Paul, francamente eu não vim aqui para ouvir o senhor
contando pela quinquagésima vez como eram as coisas na sua época. Faça o
seu papel de co-melhor amigo, eu vou ouvir, e em seguida, vou embora —
peço.
Resmungando baixo, ele limpa a garganta e me analisa, me fazendo
temer o que estivesse por vir.
— Na minha época... — começou ele, me fazendo bufar. — É sério,
Saint, na minha época se uma mulher faz isso é porque ela está esperando
uma atitude do homem. Ela espera que você reaja para reagir também, mas o
ponto aqui não é esse.
— Não? — indago, erguendo minha sobrancelha.
Ele volta a se recostar na cadeira, que balança um pouco para frente e
cruza os dedos da mão na outra.
— Vejamos, você já escreveu sobre ela? — balanço a cabeça
assentindo e me perguntando como ele adivinhou isso. — Esse é o ponto,
saber o quão apaixonado você está. Se a música é a sua vida, você jamais
estragaria algo que ama compondo músicas para uma mulher, você pode
escrever sobre mãe, avós, tias, primas... Mas nunca vai escrever uma música
para uma mulher sem haver sentimentos, as letras são tudo aquilo que vem de
dentro de nós, se não há sentimentos não existe motivo para haver música,
concorda? — Ele me questiona, erguendo uma de suas sobrancelhas.
— Touché, as vezes eu odeio o quanto você soa incrivelmente certo
— digo e ele sorri, aponto um dedo em sua direção e completo. — E odeio
esse sorriso convencido.
— Então você está compondo, interessante. Saint, apaixonado, estou
impressionado. — Ele assinala, com um sorriso divertido no rosto.
— Não sei porque eu ainda venho até você — resmungo.
— Porque você sabe que Matthew não é um bom conselheiro quando
se trata de você e mulheres, ele sempre acha que você vai se fechar para o
mundo como fazia após visitar a sua mãe, ele quer te proteger das mulheres
que não possam te amar. Não o culpo, como co-melhor amigo eu faria a
mesma coisa, mas é a Noah e você mudou, Saint. O abandono da sua mãe
biológica não reflete em quem você é hoje, nem mesmo Noah, você apenas
libertou um garotinho que queria ter uma mãe e passou a aceitar a mãe que
sempre foi sua.
Sua voz é domada por orgulho, engulo em seco, e em seguida, coço a
garganta para impedir que essa conversa se torne emotiva demais para nós
dois.
— Bom conselho, tio Paul, você deveria pensar na carreira online de
guru do amor — brinco, para descontrair.
— Quando eu me aposentar, eu penso nessa hipótese. — Ele entra na
brincadeira. — Como anda o seu próprio negócio?
Conto para ele todos os preparativos para a inauguração do bar
amanhã, sem deixar de fora detalhe por detalhe e como sempre Paul Rivers
não segura a língua, a sua empolgação foi tanta que acabou deixando escapar
que meus pais chegam hoje à noite.
Era de se imaginar que Dora iria querer participar da decoração, não
foi à toa que ela mesma comprou os objetos. Tenho certeza que ela tem
anotado detalhe por detalhe e onde vai ficar cada item.
— Seu rosto é bonito de se observar, me lembra quando eu e o seu pai
tínhamos a sua idade, mas eu tenho que voltar a trabalhar. — Ele diz, quando
terminamos de planejar ideias juntos para o show de amanhã.
Poucos sabiam, mas tio Paul era o nosso agente, não há quem entenda
de música melhor do que ele. E apesar de ele já ter se oferecido para nos
ajudar financeiramente e nos apresentar um produtor, eu não quis. Eu quero
conquistar tudo isso por mérito meu e não porque tenho um tio que possuí
contatos influentes.
— Não precisa me enxotar, eu já estava de saída — retruco.
Antes de me levantar, pego uma bala em seu baleiro que fica em cima
da mesa e caminho até a porta.
— Saint? — Ele me chama.
Viro meu rosto para olhá-lo por cima do ombro.
— Espere ela admitir que sente o mesmo, não se entregue antes dela.
Você merece isso, não só ela.
Balanço a cabeça assentindo e aceno com a mão, antes de sair de vez
da sua sala.
Eu só me pergunto se serei paciente para esperar que ela faça isso e
temo que quando ela fizer, as palavras não soem tão positivas assim.
“Porque eu não posso começar a ficar sem você.
Tenho uma fobia de te deixar ir.”
PHOBIA - HRVY
Já era quase noite quando vim direto para o meu quarto, após
voltamos do nosso longo passeio com Paul, sim longo. Nós fomos ao
shopping e depois de entrarmos em quase todas as lojas, se não todas as lojas,
nós almoçamos. Hoje eu tive a certeza que Loren é mais parecida com a
Valentina do que com Saint, as duas não param. E tanto Paul, quanto Val,
alimentaram a coleção de Barbies dela.
Eu tentava repor minhas horas de sonos mal dormidas, quando
alguém entrou em meu quarto e só podia ser a Valentina.
— Val, me deixa dormir — resmungo, e de olhos fechados, viro para
o lado e puxo o travesseiro para cobrir meu rosto da claridade da luz que foi
acesa.
Não desistindo, ela puxou o travesseiro.
Viro meu rosto e forço meus olhos a se abrirem. O rosto de Saint
apareceu no meu campo de visão e bufando baixo, reviro meus olhos e volto
a fechá-los.
— Acorda, Noah, não é porque nós estamos brigados, que nosso
compromisso de hoje foi desmarcado. — Ele diz.
Abri meus olhos novamente, buscando por algum vestígio de que ele
estivesse bravo comigo. Eu havia sido rude ontem, admito.
— Compromisso? — indago, erguendo uma de minhas sobrancelhas.
— Sim, nós vamos a um bar. Levanta. — Ele manda.
Quando percebe que eu não me movi, ele puxa o lençol da cama e me
encara.
— Você está fazendo aquilo — digo, ao me levantar da cama.
Seus olhos acompanham cada movimento meu pelo quarto.
— Aquilo o quê? — Ele pergunta.
— Aquilo que eu não gosto, de escolher as coisas por mim e não me
dar opção — explico, soltando um suspiro frustrado.
— Sinto muito por fazer isso, mas nós vamos. Vai ser legal.
Pelo entusiasmo em sua voz, o bar realmente deveria ser legal, mas
algo tinha por trás disso.
— Por quê? — pergunto, desconfiada.
— Porque é um bar diferente! — Ele afirma com tamanha convicção.
— Você precisa de ajuda para encontrar o banheiro, ou sabe ir sozinha?
— Eu ainda sei o caminho do banheiro sozinha — retruco, passando
por ele.
Meia hora depois, Saint estacionava seu carro em uma rua bastante
movimentada no Brooklyn.
— Vamos ter que andar um pouco, a essa hora é difícil encontrar
vagas próximas por aqui. — Ele começa a se explicar, mas eu o corto
sabendo qual era o motivo de sua explicação.
— Não sou daquelas que usa salto alto, Saint, não tenho problemas
em andar um pouco.
Um sorriso aparece em seu rosto, ele passa os braços em volta do meu
pescoço e me puxa para perto.
— Você não usa saltos, é melhor que isso. Você usa sapatilhas,
bailarina. — Ele murmura em meu ouvido.
Mordo a minha bochecha tentando conter o sorriso e o olho, ele tem
um sorriso ainda maior que antes estampado em seu rosto e isso foi o
suficiente para que meu sorriso escapasse.
Eu não conseguia conter meus sorrisos perto de Saint, e esse é um dos
efeitos que ele causa em mim.
Juntos começamos a andar, até parar em frente a um galpão-bar, onde
tinha dois seguranças parados em frente a porta. Mas não foi isso que me
chamou atenção e sim, um letreiro moderno em um tom de verde neon.
— Metarmophosis? Não é...
— Sim! — Ele me interrompe, tão animado como eu nunca vira.
— Não! — exclamo desacreditada.
— Sim, sim, sim! — Ele afirma.
Dou um tapinha em seu ombro antes de me afastar e fito mais de
perto o lugar por fora, olhando de relance para a placa.
O nome da sua banda foi dado ao bar e soava confortavelmente bem.
Ele fez isso, ele conseguiu. Volto a olhá-lo com um sorriso radiante no rosto.
— Por que você não me contou? Então, é por isso que seus pais estão
aqui?
Eu estava animada, feliz e ao mesmo tempo frustrada, por não ter
participado de uma conquista que ele queria ter a bastante tempo.
— Saint!
— Eu até tentei, eu ia trazê-la aqui ontem, mas você ficou daquele
jeito ontem e...
— Eu fui grossa, eu sei — admito. — Me desculpa.
— Você nunca ouve, Noah, esse é o seu problema. Se você parasse
para ouvir mais as pessoas ou simplesmente perguntasse, talvez as coisas
fossem diferentes. — Ele diz, me deixando sem palavras. — Mas aqui
estamos, foi bom por um lado, nada pagaria seu sorriso e olhar agora, isso
porque só viu a placa...
— Eu quero ver como é lá dentro agora! — exclamo, tentando ignorar
o que ele havia falado antes e seguro em sua mão.
Sem lhe dar a chance de dizer qualquer coisa, o puxei pela mão e ao
passar pela porta minha boca se abriu.
— Uau! — solto, admirando a decoração do lugar.
A primeira coisa que meus olhos focaram, foi no palco no fundo do
bar. Em seguida, meus olhos percorreram pelas paredes cor de creme, nelas
haviam guitarras, baixos, violão e pratos de bateria em versão miniatura
pendurados na parede, cada item a uma certa distância do outro. Quadros de
grandes nomes da música como Bon Jovi, Guns, AC/DC e Beatles também
complementavam a decoração. Um estofado na mesma cor da parede se
acoplava a ela, além de mesas na cor marrom tabaco espalhadas por
determinados locais, deixando livre uma pista para o palco.
O bar tinha um enorme balcão oval, a parede de fundo tinha um
painel com nome de bebidas e não contive um risinho ao ver que havia drinks
especiais com o nome de cada integrante da banda.
— Posso saber o motivo da risadinha? — Saint pergunta.
Aponto para o quadro, ele acompanha meu dedo e me olha com um
sorriso torto.
— Valentina — diz, dando de ombros.
— Quero experimentar John e Matthew.
Ele bufou e pelo canto do olho, pude vê-lo revirar os olhos.
— Ouvi falar que a que se chama Saint é melhor ainda. — Ele
retruca, me fazendo rir.
Quanto mais passos eu dava, mais admirada eu ficava. Até a mesa de
sinuca Saint colocou aqui e mal dava para notá-la pela quantidade de pessoas
que estavam em volta dela.
Tudo estava perfeito, principalmente, a parede com a pintura de
quadro negro com livre acesso ao giz para desenhar. Eu estava apaixonada e
queria me apossar dela, se não tivesse pessoas demais já fazendo isso.
— Até que não está nada mal para uma inauguração. — Saint diz
orgulhoso.
Está bastante cheio para uma primeira vez e eu não podia estar mais
feliz por ele.
— O que mais tem aqui que não está visível aos meus olhos? —
pergunto, curiosa.
— A cozinheira que o Tyrone contratou, ela é de outro mundo.
Sorrio, enquanto o sigo por uma escada que leva ao segundo andar.
Onde é cercado por guarda-corpo de vidro, tem algumas mesas altas com
banquetes e outro bar.
— Tyrone deu a ideia de usar esse espaço aqui de cima só para
gourmet.
Inteligente da parte deles separarem o cheiro da cozinha do andar de
baixo, já que era mais focado na diversão.
Saint debruça os braços na base do guarda-corpo, seus olhos estão na
pista de frente para o palco, onde um DJ está tocando. A iluminação
futurística e as luzes coloridas iluminavam toda a pista de dança, e daqui de
cima pude ver o vislumbre de Valentina e Claire dançando.
— Você está feliz? — pergunto. — Eu sei que é uma pergunta boba,
mas é o seu sonho e eu estou explodindo de felicidade por você.
Ele vira o rosto na minha direção, seu olhos se prendem
profundamente nos meus e me examinam, de uma forma que me fez me
sentir sendo lida por ele.
— Sim, Noah, eu estou feliz. Eu estou feliz pra caralho! — Ele
afirma, sorrindo.
Foi um máximo a inauguração do bar de Saint, ver o sorriso e olhar de
satisfação no rosto dele era impagável.
Ele estava feliz e eu também.
Caminhávamos em silêncio pelo corredor que levava até nossos
apartamentos. Eu percebia ele mexendo as bochechas de um lado para o outro
como se estivesse com algo dentro da boca, ele queria falar alguma coisa,
talvez não soubesse como começar.
Coço a garganta quando paro em frente à porta, ele se afasta para ir
até a sua porta do outro lado do corredor.
— Obrigada por hoje à noite — consigo dizer.
— Não seria a mesma coisa se você não estivesse lá. — Ele diz, por
fim.
— Eu estou feliz por você, de verdade — digo, sincera.
Ele sorri assentindo. Fito o chão e solto um suspiro antes de voltar a
olhá-lo.
— Ensaio amanhã? — pergunto.
— Sim, ensaio amanhã — responde, parando no batente da porta do
seu apartamento.
Abro a porta do apartamento de Valentina e antes que eu pudesse
entrar, Saint me chama.
— Noah...
Um passo foi dado em minha direção.
— Sim?
Mais um passo e nós estávamos próximos demais.
— Eu acho que eu quero muito te beijar agora. — Suas palavras
pareceram um sopro, e me aqueceram por dentro.
Meu olhar estava fixo em seus lábios, atenta a cada movimento
enquanto ele pronunciava cada palavra.
Saint esticou o braço e espalmou a mão na parede ao meu lado, meu
corpo estava entre ele e a porta semiaberta. Com a mão livre, ele afastou a
mecha do meu cabelo que caía em meu rosto e sua mão acariciou minha
têmpora.
Mais um centímetro e seus lábios tocam os meus. Mais um passo e eu
estou dentro do meu apartamento. Mais uma puxada de ar, e sei que eu o
quero para mim.
— Eu acho que você não deveria fazer isso... — Minhas palavras
pairam no ar, no momento em que seus olhos se alinham com os meus.
— Você tem razão. — Ele murmura, em um tom baixo e recua com
um passo para trás. — Boa noite, bailarina.
— Boa noite, Saint — digo, me virando de frente para porta, incapaz
de olhar nos olhos dele.
Respiro fundo para recuperar o equilíbrio e entro no apartamento. Ao
fechar a porta, espio pelo olho mágico e o vejo entrar em seu apartamento.
Quando a porta se fecha, tirando-o do meu campo de visão, encosto a minha
testa na madeira fria da porta.
Eu acho que eu me apaixonei mais um pouco por você, Saint Rivers.
Pela sua felicidade, pelo seu sorriso.
“Estou tão a fim de você que eu mal posso respirar.
E tudo que eu quero fazer é me jogar com tudo.”
INTO YOU – ARIANA GRANDE
EU ESTAVA CANSADA DESSE JOGO DE GATO E RATO
ENTRE MIM E SAINT. Havia se passado dois dias desde a inauguração do
bar, as coisas estavam normais e não estavam ao mesmo tempo e isso estava
me matando.
Ontem, quinta-feira, após meu expediente na livraria, Claire apareceu
de surpresa acompanhada de uma das suas primas, a Zöe. Fui arrastada contra
a minha própria vontade até a loja da tia dela que fica no centro de
Manhattan. Por um dia eu me senti uma boneca enquanto minhas medidas
eram tiradas, tecidos de diversas cores eram e modelos de tutus italianos eram
me mostrados.
O festival é real. Saint estava tornando isso real. E agora faltava
apenas um mês e meio, nós temos tudo para ganhar.
Bom, isso se eu não matar Saint até lá. Pela terceira vez durante o
nosso ensaio, o celular dele estava tocando. Ele disse que tinha um
compromisso após finalizarmos e eu estava tentando adiar mais ainda o fim
do ensaio. O único encontro que ele podia ter, certamente é com a garota do
Tinder.
Dessa vez, nós estávamos ensaiando uma introdução do repertório
que eu escolhi para nossa apresentação, eu preciso dele concentrado aqui e
não no celular.
— Ai, que droga — resmungo, quando mais uma vez seu celular toca
e ele se afasta para pegá-lo.
Caminho em passos firmes em sua direção e tomo o celular da sua
mão o jogando longe.
— Eu não aguento mais essas histórias de encontros, chega dessa
baboseira. Já chega, Saint! — grito, perdendo o controle.
— Noah... — Ele tenta falar, mas eu o interrompo.
— O quê? Eu não quero saber mais quantos encontros você terá
amanhã ou depois, nós estamos ocupados agora. Eu não quero saber nem
mesmo depois!
— Noah...
— Que merda, Saint, o que é? — indago.
— Era o Math, não era uma garota. — Ele diz, calmamente.
Levo as minhas mãos na boca e o observo caminhar até o canto da
sala onde seu celular estava jogado.
— Ai, meu Deus, meu salário não paga um celular novo.
— Fica tranquila, não vou te pedir um celular novo, Noah. — Ele
murmura em um tom frio, e se vira para mim. — Eu só não entendo a sua
reação e quer saber? Eu não quero entender. Você pode por favor me deixar
sozinho agora? — Ele pede ríspido.
O encaro inexpressiva e mordo a minha bochecha, Saint nunca havia
sido tão ríspido e duro comigo antes. Quer dizer, ele havia sido quando nos
conhecemos, mas agora é diferente.
Seu celular toca novamente, o estrago estava feito nas laterais e no
vidro que trincou. E dessa vez o nome Ash, era legível apesar do visor
trincado.
Antes que ele pudesse atender ou ao menos tentar, eu pego o celular
da sua mão e novamente o jogo no chão.
— Noah! — Ele esbraveja.
— Cale a merda da boca, Saint! Eu cansei, cansei de ignorar isso e de
ver você me ignorando. Eu não deveria me sentir assim, mas eu me sinto.
Seu rosto se contorce e ele torce a boca em uma linha dura, mas não
diz nada. Ele me dá as costas e vai buscar novamente pelo celular.
— Eu falhei miseravelmente em não me apaixonar por você, Saint.
Falhei e espero não me arrepender de estar admitindo isso em voz alta nesse
momento. Por que nós somos tão bons juntos, não? — indago e ando em
círculos pela sala. — Nós somos bons um para o outro. Eu posso listar todos
os momentos em que eu me apaixonei por você.
Paro em sua frente, seus braços cruzam na altura do peito. Ele me
encara com a sobrancelha arqueada e um sorriso debochado no rosto com o ar
de: essa eu quero ver. Olhei fundo em seus olhos e puxei o ar que me faltava.
— Me apaixonei quando você foi até a livraria pedir desculpas. Me
apaixonei quando você cuidou de mim após a balada, me apaixonei quando
você acertou as primeiras posições básicas do ballet. Me apaixonei quando
passei a gostar de você me chamando de bailarina, me apaixonei quando você
me distraiu do meu medo de voar.
Solto uma risada nervosa e fecho meus olhos, quando os abro
novamente, eu o encaro.
— Me apaixonei quando você me deixou entrar em seu mundo e se
abriu para mim, me apaixonei por ter me deixado dirigir seu Porsche sem se
preocupar se eu sabia dirigir ou não. Me apaixonei quando senti você
cantando para mim November Rain, me apaixonei quando você
pacientemente tentou me ensinar a tocar violão. Me apaixonei todas as vezes
em que seus lábios encontraram os meus, me apaixonei por cada toque seu —
engulo em seco o nó que se formou em minha garganta e continuo. — Eu
estou apaixonada pelo meu melhor amigo, Saint, e se isso não for o suficiente
para você ficar comigo, tudo bem, mas eu não vou mais ficar fingindo que eu
não sinto mais nada por você. Porque isso dói, guardar sentimentos dói.
— Noah, eu...
— Só não me diga que não sentiu nada, nem mesmo por um segundo
em todos os momentos que passamos juntos...
Minhas palavras foram extraídas no momento em que sua boca calou
a minha, sua língua acariciou meus lábios pedindo passagem e sem remediar,
eu a deixei entrar. O gosto de menta do chiclete que ele mascava minutos
antes, invadiu a minha boca quando chupei a sua língua, a maciez dos seus
lábios com a pressão suave fez com que eu me entregasse, eu me entreguei. E
ele me tomou.
Saint me beijava com volúpia e intensidade, um beijo que nunca havia
experimentado antes, era como se ele estivesse disposto a me provar algo. Eu
gemi com satisfação, tornando o beijo ainda mais profundo enquanto
entrelaçava a minha língua na dele. Suas mãos repousaram na curvatura do
meu quadril, me apertando e me puxando cada vez mais para perto. Se fosse
possível, nossos corpos teriam se fundindo nesse exato momento.
Suas mãos deslizaram do meu quadril para as minhas nádegas, sem
esforço algum Saint me levantou e eu envolvi minhas pernas em sua cintura e
seus braços circundaram em volta do meu quadril.
Minhas costas encontraram a parede dura e gélida, mas que logo foi
aquecida pela mão de Saint que se deslizou para debaixo da minha blusa. Sua
boca desgrudou da minha para encontrar meu pescoço, enquanto seus dedos
percorriam pela minha barriga até a meia-taça do meu sutiã, que logo foi
puxado para baixo. O toque dos seus dedos em meus mamilos me fez
estremecer e inclinar a cabeça para trás encostando-a na parede.
— Eu vou te mostrar de todas as formas possíveis o quanto eu sinto
muito, bailarina. Eu vou te amar agora de uma forma que você nunca será
amada por outro se não por mim. — Ele murmura no pé do meu ouvido, ao
subir os lábios pelo meu pescoço.
Senti meus batimentos descontrolados com as suas poucas palavras.
— É o que você quer, Noah? — Ele sussurra, percorrendo a
cartilagem da minha orelha com a língua.
Eu estremeci em resposta, e seus dedos esfregaram o meu mamilo
entumecido. Mordi meu lábio inferior, contendo um gemido.
— Eu não ouvi você, bailarina. — Dessa vez, ele aperta meu mamilo
e afasta a mão.
Ele estava me provocando, soube disso no momento em que seu rosto
veio de encontro ao meu e eu olhei no fundo dos seus olhos.
Saint não é muito de falar, ele é de demonstrar e essa era a sua forma
de mostrar o quanto ele gostava de mim também. Nesse exato momento, seus
olhos diziam tudo que ele não conseguia falar.
— Eu quero ser amada por você, Saint — admito.
Ele solta um grunhido de satisfação e gruda seus lábios nos meus.
Enfio minhas mãos em seus cabelos os puxando com delicadeza e sem
desgrudar seus lábios dos meus, sua mão espalma as minhas costas
acariciando-a, e deslizando a mão para cima, ele sobe a minha blusa
lentamente. Saint interrompe nosso beijo para terminar de tirá-la, minha blusa
cai no chão e em seguida meu sutiã.
Apertando-se contra meu corpo, meus seios encostaram em seu
peitoral nu e eu pude sentir a sua ereção encostar em meu ponto sensível.
Gemi com esse contato, querendo muito mais que isso.
Seu olhar estava vidrado em minha boca após o som que saiu dela,
Saint abaixou uma de suas mãos para a minha cintura me mantendo segura na
parede e a outra desceu um pouco mais abaixo, parando apenas no cós de
elástico da minha calça legging.
Em fração de segundos, sua mão se deslizou para dentro da minha
calça e tocou em meu ponto sensível, que tanto pedia por sua atenção.
— Ahh, Saint — gemi, quando seu dedo circulou e apertou meu
clitóris.
— Seu corpo reage tão bem ao meu, bailarina, tão bem... — Ele
murmura, passando a língua em meus lábios.
Saint vai mais além e desliza um dedo para dentro de mim, enquanto
mantém o polegar pressionado em meu clitóris.
Fecho meus olhos quando seu dedo começa a se mover
cuidadosamente, entrando e saindo. Gemidos escapam da minha boca e eu
inclino minha cabeça para frente, encostando a minha boca em seu ombro.
Minhas mãos apertam cada músculo do seu braço, enquanto a sua
mão que estava em minha cintura sobe para tocar meu seio direito. Saint
massageia meu mamilo enquanto continua a movimentar seu dedo dentro de
mim em um vai e vem lento e doloroso, ao mesmo tempo em que massageia
meu clitóris com o polegar.
Mordo seu ombro, sem conter um gemido quando ele tira seu dedo e
retorna novamente com mais um. Seus dedos produzem ondas de calor que
latejam em meu interior. Meu corpo se contrai, sinto minhas pernas
fraquejarem em volta do seu corpo e, eu solto um gemido abafado me
entregando de corpo e alma a ele.
Um rosnado feroz escapa da sua boca conforme os gemidos escapam
da minha boca. Afasto a minha cabeça do seu ombro e encosto minha testa na
dele, e agarro os cabelos da sua nuca com meus dedos. Saint tem a respiração
tão entrecortada quanto a minha, eu podia sentir sua pulsação acelerada
através do seu corpo grudado ao meu.
Prendo seu lábio entre meus dentes e o puxo lentamente, soltando-o
logo em seguida. Ainda com a testa encostada na minha, Saint tenta controlar
a respiração, espalmo minha mão livre em seu peito, sentindo-o subir e
descer rapidamente.
Afasto minha testa da dele e encosto minha cabeça na parede, sem
desviar meu olhar do dele. Gosto da forma que seus olhos me apreciam.
— Eu estou fodidamente apaixonado por você, Noah Bailarina Clark.
— Ele confessa, com um olhar intenso e carregado de sentimentos.
— Eu estou estupidamente apaixonada por você também, Saint
Rivers.
A boca de Saint encontrou a minha de novo e abraçando meu corpo,
ele me afastou da parede e caminhou comigo em seu colo até o quarto.
Ele me deitou na cama, enquanto tirava sua calça de moletom ele me
observava com seus olhos vidrados nos meus. A minha calça legging deixou
de ser um incômodo quando desesperadamente eu a puxei para baixo junto
com a calcinha, e então, seu corpo nu cobriu o meu.
Saint soltou um gemido com o contato de nossas peles nuas.
Entrelacei minhas pernas nuas nas dele, percorrendo com os pés os músculos
firmes das panturrilhas e arqueei meu quadril, sentindo o contato do sua
ereção em minha pele quente. Me esfreguei contra a sua ereção ao mesmo
tempo em que sua boca traçava uma trilha de beijos em meus seios, ele
lambeu e chupou meus mamilos com avidez, me levando à beira do abismo
apenas com esse contato.
Sua boca abandonou meu mamilo, ele levantou a cabeça e seus lábios
encostaram no meu.
— Eu amo você, Noah. — Ele murmura, contra a minha boca e me
beija suavemente, aplacando meus sentimentos com o carinho de sua língua
na minha boca. Suas mãos param em meu quadril, me abrindo sob seu corpo
e ele me penetra, me preenchendo e me completando de uma forma que só
ele completa.
Senti meu corpo se enrijecer e se contorcer, trazendo-o ainda mais
para dentro de mim. Seu nome se tornava um sussurro em forma de gemido
saindo da minha boca, arrastei minhas unhas pelas suas costas, ombros e
braços, arranhando-o. Nossos gemidos se mesclavam a cada nova investida,
estávamos ambos ofegantes e cobertos de suor.
Nós nos movíamos juntos ao som da fricção dos nossos corpos,
quando cheguei ao meu limite, ele rugiu alçando o seu junto comigo.
— Eu amo você, Saint Rivers.
O som alto era audível dos portões da mansão dos avós de Claire e
Chloé, alguns carros faziam fila para entrar e na entrada da casa tinha uma
recepção onde podíamos deixar os presentes.
Saint tinha razão quando disse que nossa fantasia seria a melhor, nós
atraímos muitos olhares quando colocamos os pés no salão onde acontecia a
grande festa, ninguém estava tão assustador como nós. Eram fantasias
normais, bonitas e até mesmo meigas.
Mas a nossa era completamente a carácter. Eu tinha meu cabelo
pintado de azul e vermelho. Ele tinha o dele pintado de verde.
Saint tinha uma maquiagem assustadoramente impecável, vestia uma
camisa de botões verdes com um blazer vinho por cima e uma calça jeans
preta.
Uma caveira mexicana passa em nossa volta nos olhando dos pés à
cabeça. A maquiagem estava tão bem-feita que a tornava irreconhecível,
ainda mais pelo belo vestido preto tubinho que ela estava usando. Ainda sem
tirar os olhos de mim e Saint ela se aproxima.
— Então, quando foi que vocês combinaram tudo?
Valentina.
— Meu Deus, você está irreconhecível — murmuro e ela sorri
convencida.
— Levei horas no maquiador para sair essa perfeição aqui. — Ela
aponta para o próprio rosto. — E vocês?
— Nós não combinamos nada, eu nem mesmo sabia qual era minha
fantasia até algumas horas atrás — digo, mas sei que ela não irá acreditar
realmente nisso.
— Conheço o primo que eu tenho, certamente subornou a Claire.
Viro meu rosto para olhar Saint, que sorri demonstrando o quão
culpado era.
— Eu disse. — Val pontua, com um sorriso convencido no rosto e me
estende o copo que estava em sua mão. — Beba, vamos começar o
aquecimento.
Aceito o copo e bebo em um só gole o resto do líquido que havia nele.
O líquido desce queimando pela minha garganta e eu balanço a cabeça,
fazendo uma careta. Tequila, sem sal e limão não é tequila.
— Vai com calma, bailarina. — Saint me alerta. — Onde estão os
meninos? Preciso saber como foram as coisas no bar ontem.
Seu comentário faz meu olhar buscar pelo seu de imediato. Ele não
havia ido no bar hoje para isso?
— Pensei que você tivesse feito isso antes de ir me buscar no trabalho
— digo, pensativa e continuo o olhando esperando por sua resposta.
— E eu fui, mas ouvir dos funcionários é uma coisa, dos meninos é
outra. — Ele responde, dando de ombros.
Assinto, até que fazia sentido.
Nos aproximamos da mesa em que os meninos da banda estavam,
Claire estava ao lado de Tyrone e levantou em um pulo ao nos ver.
Cada um estava vestido com fantasias diferentes, apenas eu e Saint
com uma fantasia combinando. Tyrone estava vestido de Harry Potter, John
de Conde Drácula e Matthew de Slash. Isso só confirmava que sim, Saint
persuadiu Claire.
— Meu Jesus. — Claire exclamou. — Vocês estão roubando toda
atenção da minha festa. — Ela completa, em tom de brincadeira.
Ela estava sendo modesta, porque fantasia alguma deveria superar a
dela de Hera Venenosa.
— Você está muito melhor que nós dois juntos — retruco, com um
sorriso no rosto e me afasto de Saint para abraçá-la. — Feliz aniversário,
Clair, espero que você goste do presente quando abri-lo.
O presente havia sido recolhido assim que nos apresentamos na
recepção. Eu nunca tinha ido a um aniversário onde nós não entregávamos o
presente diretamente à pessoa, me espantei quando a mão da recepcionista o
segurou na entrada. Mas Saint disse que isso era normal, então não contestei.
— Pensei que você iria se fantasiar de Cérebro. — Saint provoca.
— E eu pensei que você pediria para se fantasiar de Pink. — Ela
retruca e volta a nos olhar dos pés à cabeça. — Vocês são perfeitos até
mesmo quando estão sendo assustadores.
— Nós não estamos assustadores. — Ele contesta.
— Vocês parecem ter saído de um filme de horror e não do esquadrão
suicida. — John zomba.
— Você está com inveja por estar vestido de Conde Drácula. — Saint
retruca, e puxa uma cadeira para se sentar.
Ele me puxa para se sentar em seu colo e isso atrai os olhares de todos
na mesa.
— Agora sabemos o motivo do seu sumiço ontem. — Tyrone
comentou, olhando para mim e Saint. — Estava demorando.
— Demorando para? — indago.
— Assumirem o que sentiam um pelo outro. O que vocês são agora?
— Ele pergunta.
Abro a boca para responder, mas quando percebo que não há
definição para o que somos, eu a fecho novamente.
Saint me olha percebendo meu desconforto e aperta a minha mão.
Seus olhos e o aperto diziam muito mais do que palavras poderiam dizer
agora. Ele está me passando uma confiança através desse aperto, firmando
que nós temos alguma coisa e que isso é real.
Olho novamente para Tyrone e respondo:
— Nós somos tudo. Sem rótulos, porque não há rótulos ainda que nos
defina, o que pode definir uma pessoa que é tudo para você se não essa
palavra: tudo? Tudo pode simbolizar muitas coisas, muito mais do que nós
mesmos demonstramos um para o outro.
O aperto em minha mão se intensificou, não ousei virar meu rosto
para olhar Saint. Isso era muito mais do que já admiti em voz alta para ele,
ainda mais na frente de nossos amigos.
— Isso foi tão romântico. — John diz, batendo as mãos no peito e nos
olha fingindo comoção.
Reviro meus olhos, sem conter um sorriso ao vê-lo me imitando.
Eu gostava do John, de todos ele era o mais brincalhão da banda. Ele
deixava tudo mais descontraído.
— Quer beber algo? — Saint pergunta em meu ouvido.
Balanço a cabeça negativamente.
— Fome? — Mais uma vez ele pergunta.
E novamente balanço a cabeça.
— Não quer nada? — Ele indaga, e eu me viro para olhá-lo.
Sua testa está franzida e eu a toco com meu dedo indicador.
— Você quer algo? — pergunto.
— Eu quero muito beijar você agora. — Ele confessa.
— Me beije, Saint Rivers, agora — peço em um murmuro.
Saint segurou minha cintura e encostou a testa na minha. Seus lábios
não hesitam quando encostam nos meus, ele me beija suavemente e envolvo
seu pescoço com os meus braços. Me permiti esquecer das pessoas a nossa
volta e ignorei os assobios que provavelmente deveriam ter sido puxado por
John. Sua língua pede passagem para dentro da minha boca, eu a permito
entrar, assim como permitiria tudo que ele quisesse de mim, um gemido
baixo escapou dos meus lábios e eu rezei para que ninguém além de nós
tenha ouvido isso.
— Podemos ficar aqui por uma hora e depois vamos embora, que tal?
— proponho a ele, quando afasto nossos lábios.
— Eu quero que você se divirta hoje à noite, bailarina. — Ele
murmura, pressionando o polegar em meus lábios.
— Eu vou me divertir, assim como vou me divertir com você também
— argumento antes que ele tente mudar minha ideia. — Por hora, vamos nos
divertir com nossos amigos.
Duas horas da manhã e eu já não sentia mais meus pés, nem mesmo
aguentava o peso do meu corpo. Eu dancei como nunca e aproveitei cada
segundo ao lado de Valentina, Claire e Chloé que finalmente apareceu vestida
10
de Satine .
Já não tinha mais tantas pessoas na festa como antes, o que tornou a
pista de dança mais convidativa e espaçosa.
— Vamos dançar só mais essa música. — Valentina implora, ao lado
de Matthew, minutos após nos sentarmos à mesa.
Não sei como ela conseguia se manter de pé. Nós bebemos as nossas
bebidas e a dos meninos, que ao invés de beber entraram em um assunto
tedioso sobre o bar, e em seguida, engataram em outro sobre a banda
deixando nós duas totalmente alheia sobre algo. Nós ficamos boa parte da
festa desfrutando da companhia uma da outra e dançando.
— A última — digo, dando-me por vencida e erguendo minha mão
para que ela me ajudasse a levantar.
Val me levantou e cambaleando, nós nos apoiamos uma na outra
fomos para pista de dança.
— Vocês voltaram. — Chloé grita com um copo de bebida em mãos.
Eu devia estar em um nível de teor alcóolico muito grande, pois via
duas caveiras mexicanas na minha frente ao invés de uma.
— Valentina, estou vendo duas de você — digo rindo, tento tocá-la
com a ponta do meu dedo para adivinhar qual Valentina era a real.
— Noah, minha lente! — É a voz de Chloé.
Abaixo a mão aos risos e coço meus olhos, consigo agora ver um
pouco mais nitidamente Chloé em minha frente.
— Vamos. — Claire grita, puxando duas belas ruivas pelas mãos,
seguida de uma loira com cabelos enrolados.
— Vamos onde? — Eu indago.
— Vamos pegar a atenção que devia ser nossa essa noite. — Claire
informa, como se fosse um grito de guerra.
Ela estava frustrada por Tyrone estar tão empolgado quanto os outros
meninos com a banda, o bar e músicas novas que Saint disse que estava
compondo.
Eu não entendi do que ela estava falando, até uma música sensual
começar a tocar e ver pessoas se afastando, abrindo um grande espaço no
salão.
Partition da Beyoncé começou a tocar, cadeiras foram se virando e
nos tornamos o foco. Eu sabia o quão alterada eu estava, mas queria a
atenção de Saint, tanto quanto Claire queria a de Tyrone.
E de dança... Bom, de dança nós entendemos bem.
A música acabou, Claire pediu para o DJ colocar outra, mas antes
mesmo que eu voltasse a dançar, Saint aproximou-se com um olhar felino no
rosto.
— Bailarina, acho que já podemos ir embora. — Ele murmura, com a
voz rouca.
Mordendo o lábio inferior, eu hesito entre voltar a dançar para
provocá-lo um pouco mais ou ir com ele. Por via das dúvidas, estendi a
minha mão e ele a pegou, puxando meu corpo para perto do seu.
— Vamos embora, Santinho. — Eu murmuro, com meus lábios bem
próximos aos seus.
Minha cabeça parecia que ia explodir quando acordei pela manhã.
Saint não estava ao meu lado na cama, o que estranhei. Eu podia estar
bastante alta na noite passada, mas lembro dele ter vindo se deitar comigo
após tomarmos banho juntos.
Tive a certeza de que ele não estava no apartamento depois que
levantei e fui tomar um banho na falha tentativa de curar a minha ressaca.
Estava na sala zapeando os canais da televisão, quando a porta do
meu apartamento se abriu e Saint apareceu em meu campo de visão. A
claridade que a porta aberta trouxe tornou a minha visão mais nítida, seu
cabelo está molhado e mechas caíam em sua testa, Saint cheira a frescor de
menta mesclado ao seu perfume amadeirado.
Passei tanto tempo divagando enquanto o olhava, que quando pisquei
ele não estava mais na porta e sim em minha frente.
— A preguiçosa acordou. — Ele cantarola e encosta os lábios em
minha testa. Em suas mãos tem duas sacolas, que eu não havia notado antes.
— Trouxe almoço para nós.
Almoço? Que horas devia ser isso?
Saint coloca as sacolas em cima da mesa de centro da sala e vai até a
cozinha. Quando volta, ele tem dois pratos em mãos e um copo de água, meu
olhar se torna mais confuso ainda quando ele me estende o copo e um
comprimido.
— Isso se chama cura ressaca. — Ele explica.
Minha expressão suaviza, bebo o remédio sob o seu olhar cuidadoso.
Saint sorri satisfeito e se aproxima, quebrando a distância entre nós em
poucos passos, ele senta ao meu lado e em seguida me puxa para sentar-se em
seu colo.
— Boa tarde, bailarina. — Ele murmura, passando os lábios na minha
mandíbula logo em seguida.
— Para mim ainda é bom dia, Santinho, muito bom dia — respondo-o
em um tom baixo.
Estendo a mão e deslizo meus dedos pelo seu cabelo molhado.
Enquanto me observa, um sorriso preguiçoso aparece em seu rosto.
— Eu vou precisar sair para encontrar os meninos, espero que não se
importe com isso.
— Isso quer dizer que eu só tenho você por hora? — pergunto e ele
balança a cabeça assentindo.
— Era para almoçar com eles, mas eu prefiro fazer isso com você. —
Ele confessa.
— Então eu devo dizer que eu sinto muito por você, mas nós não
iremos almoçar tão cedo — murmuro, e afasto as mechas do seu cabelo
molhado de sua testa.
— O que você planeja fazer, bailarina? — Ele questiona intrigado,
mas sem tirar o sorrisinho do rosto.
Suas mãos geladas seguram firmes em minha cintura por debaixo da
blusa, me fazendo estremecer apenas com esse contato. Seguro na barra da
minha blusa e devagar a levanto até retirá-la totalmente do meu corpo.
— Vou aproveitar o que você não deixou ontem — respondo,
queixando-me por ontem à noite durante o nosso banho após a festa, ele ter
me limitado a qualquer coisa que envolvesse nossos corpos nus e juntos.
— Noah, você estava levemente bêbada. — Ele argumenta,
deslizando a mão da minha cintura para a minha barriga em uma carícia
sensual e inclina o rosto para deslizar os lábios pelo meu pescoço.
— Eu estava, m-mas...
Estava se tornando difícil me concentrar com seus lábios beijando
minha clavícula e descendo para o meu colo. Ele levanta a cabeça para me
olhar.
— Mas? — Sua sobrancelha se ergue me questionando.
— Eu também queria o Coringa. Sabe-se lá quando vou ter essa sorte
de novo — completo, queixando-me mais uma vez.
Saint ri com a boca em meu ombro. O som reverberou no fundo da
minha alma, se tornando meu som favorito. Eu amo o som da sua risada,
tanto quanto amo o som da sua voz.
Determinada, segurei na gola da sua camisa e trouxe seu rosto para
perto do meu. Ele virou-se sentando de lado e eu aproveitei para empurrar
seu corpo para trás, o deitando no sofá. Saint me segurou pela cintura e levou
meu corpo junto com o seu, seus olhos fitaram meu rosto por longos
segundos antes dos seus lábios repousarem sobre os meus. Suas mãos
exploravam cada parte do meu corpo, enquanto a sua língua quente movia-se
dentro da minha boca espalhando o leve gosto de cafeína.
Enquanto nos beijávamos, senti a ereção de Saint pressionada em
minha barriga. Arfo em sua boca e com dificuldade, afasto nossos lábios para
puxar a sua camisa para cima. Levou poucos segundos para ela encontrar o
seu lugar no chão da sala e levou muito menos que minutos para que ambos
estivéssemos completamente nus sentados em cima do sofá.
Saint tinha seus lábios macios e quentes em meu mamilo, o toque da
sua língua sobre ele era viciante. Sua boca abandonou meu mamilo e se
encaminhou novamente para o meu pescoço, ele me marcava com seus
lábios, quando abandonou meu pescoço seu olhar encontrou o meu, ele sorriu
e me beijou com mais ardor, mais profundamente. Sua ereção me pressionava
e eu gemi em sua boca para mostrar-lhe que eu queria muito mais do que
isso.
Mas não foi só o som do meu gemido que foi ouvido, o som da
campainha reverberou em nossos ouvidos, fazendo com que Saint afastasse a
boca da minha. Gemi em protesto, mas sabia que era arriscado continuar o
que estávamos fazendo no meio da sala.
Resmungando baixinho, levantei do seu colo frustrada e procurei por
nossas roupas no chão. Deixei o sutiã de lado e vesti a blusa de Saint, minha
calcinha e o meu short, antes de caminhar em direção à porta.
Dei uma última olhada para ele antes de abrir a porta, precisava me
certificar de que ele estava vestido antes de abri-la. E ele estava terminando
de colocar a sua calça jeans branca.
Abro a porta e segurando firme na maçaneta para não perder o
equilíbrio, encaro surpresa a figura parada em minha frente. Seu olhar muda
de mim para Saint em uma expressão surpresa.
— Saint? — Ela indaga surpresa, voltando a me olhar.
Tentando assimilar tudo que aconteceu nas últimas horas e o que
acabou de acontecer, finalmente consigo abrir a boca.
— Mãe? — pergunto estatística.
— Oh, querida, minha Noah. — Ela murmurou, com sofreguidão. —
Eu sinto tanto a sua falta.
Ela me puxa para um abraço apertado, eu me encolho em seus braços
e a aperto como se pudesse sufocar toda a saudade que senti apenas com esse
gesto.
Ouço os passos de Saint se aproximando, solto a minha mãe e viro-me
para olhá-lo. Minha mãe disse o nome dele, eles se conheciam e eu queria
saber como isso era possível. Ela não o conhecia nem mesmo por foto,
apenas ele a conhecia pelas fotos em minha prateleira e no celular.
— Eu vou indo nessa. — Ele murmura. — Bom te ver de novo,
senhora Clark.
De novo?
Minha mãe revira os olhos para ele, quando ele passa por ela e
atravessa o corredor. Ela intercala o olhar entre nós dois.
Meu Deus, que situação desconfortável.
— Saint, eu já disse que pode me chamar de Grace. — Ela resmunga.
Ele apenas balança a cabeça confirmando e entra no apartamento.
— Vocês se conhecem? — pergunto, a puxando para dentro do meu
apartamento e fechando a porta logo em seguida.
— Ele não te contou? — Ela pergunta surpresa.
— Não, Saint pelo visto esconde coisas de mim.
— Oh, merda, então se era surpresa, eu a estraguei. — Ela resmunga
mais para si mesma do que comigo.
— Surpresa?
Minha curiosidade acabou de ser aguçada.
Minha mãe olha para o meu sutiã jogado no chão, e em seguida, para
o sofá e as sacolas em cima da mesa.
Um tanto constrangida e envergonhada, me abaixo e pego meu sutiã
no chão da sala.
— Eu sinto muito por isso, mãe — murmuro, sentindo minhas
bochechas corarem no mesmo segundo.
— Você está se cuidando certo? Tomando os remédios todos os dias
de manhã como eu ensinei? Tem se protegido?
Fui bombardeada de perguntas que me senti incapaz de responder,
apenas assenti. Eu me cuidava e tomava remédios regulamente como ela me
orientava desde a adolescência. Mas conversar sobre isso a essa altura da
minha idade com a minha mãe era bem constrangedor.
— Saint trouxe almoço. Vou guardar isso no quarto e podemos
almoçar juntas, que tal? — digo, mudando totalmente o rumo do assunto.
— Excelente ideia, querida, troque de roupa também. Iremos sair com
a Dora e a Loren.
Ao ouvir isso, soube que havia muito mais por trás da história dela
conhecer Saint.
Canto não só para ele, mas para o meu avô. Canto para que eles
saibam que eu sempre irei levar comigo todos os ensinamentos que eles me
deram. E não importa onde, eu sempre os levaria comigo.
“Estava cantando sozinho.
Agora eu não consigo encontrar uma nota sem você.”
SYMPHONY – CLEAN BANDIT FEAT. ZARA LARSSON
Ela levou exatamente uma hora para se arrumar, bem pontual. Mas
quando meus olhos focaram em seu vestido, eu perdi o fôlego.
O vestido que Noah está usando é tudo, menos simples, ela está
usando um vestido preto de alças finas que abraça perfeitamente as curvas do
seu corpo e tem também uma abertura sexy pra caralho na perna que me faz
ter muito pensamentos pecaminosos. E provavelmente, ela cheira
incrivelmente bem quanto parece.
Eu amo a Valentina. Ela me ajudou não só escolher a minha roupa,
como escolheu esse vestido para Noah.
— Saint? — Ela chama a minha atenção, e eu foco meu olhar nela.
— Sim? — levanto a minha sobrancelha a encarando.
— Pare de me olhar assim. — Ela murmura, com um sorriso tímido
no rosto.
— Assim como? — pergunto, e dou um passo em sua direção.
— Como se estivesse tendo pensamentos propícios em relação a
minha pessoa.
— Mas eu estou tendo esses pensamentos nesse exato momento.
Quero arrancar esse vestido — confesso.
— Hora errada para esses tipos de pensamentos. Nós não deveríamos
já estar a caminho? — Ela me relembra.
— Não só deveríamos, como estamos indo.
Caminho em sua direção e quando paro em sua frente, inclino a
cabeça e beijo seus lábios.
— Você está linda — elogio-a, afastando a minha boca da dela antes
que eu a arraste para o meu quarto.
— Você está bonito, mas eu prefiro seus jeans surrados e as suas
camisas malpassadas. — Ela comenta, ao segurar em minha mão e entrelaçar
nossos dedos.
Eu gosto desse encaixe, é como se as pequenas mãos de Noah fossem
feitas para se encaixar perfeitamente nas minhas.
— Vou anotar isso mentalmente, bailarina — murmuro.
Saímos do meu apartamento e durante o caminho até o
estacionamento, eu fiz uma nota mentalmente para não me esquecer.
Prestar atenção na apresentação, ao invés de ficar olhando para Noah.
Virou rotina nossos ensaios terminarem em nós dois nus em sua cama
ou no chão da sala. Já virou rotina beijá-lo a cada passo dado e a cada acerto.
Não se tratava mais do festival, não se tratava mais do dinheiro. Se
tratava de nós.
— Eu tenho algo para você — digo, aninhada no calor do seu corpo.
— Algo para mim? — Ele indaga.
Segurando firme a coberta em meu corpo, me sento na cama. Maneio
com a cabeça em direção à minha bolsa e ele se levanta para pegá-la.
Observo seu corpo escultural e mordo meu lábio, virando meu rosto
para analisar a sua bunda de um outro ângulo.
Ele vira de frente, tornando a visão ainda melhor. Meu olhar sobe
pelo seu corpo e pairam sobre os seus olhos.
— Eu preferia que você se levantasse e a pegasse. — Ele murmura,
com um sorriso malicioso no rosto.
Corei por ter sido pega no flagra o cobiçando descaradamente.
Saint volta para cama com a minha bolsa em mãos e se aproxima, ele
se inclina para mim e roça a boca contra minha bochecha corada. Seus lábios
me cercam e ele me beija suavemente, me fazendo esquecer por hora do
presente.
Minha mãe e eu, passamos o dia matando a saudade do meu pai. Ele
estava morrendo de saudades nossas e decidiu tirar o dia de folga para nos
fazer uma visita. Eu queria que Saint pudesse conhecê-lo, mas ele vai embora
amanhã de tarde, então vi isso e a mensagem que Saint me mandou como
uma deixa para vir embora e deixá-lo aproveitar o resto do sábado com a
minha mãe.
Entro no apartamento de Saint, o encontrando sentado no sofá com o
violão no colo. Há dias ele vem compondo músicas, mas não me deixa ficar
por perto para escutá-las.
Ao me ver, ele deixa o violão de lado e vem em minha direção. Seus
braços me circundam em minha volta e seus lábios levemente tocam os meus.
— Para onde nós vamos?
Minha curiosidade estava aguçada desde o momento que li a sua
mensagem. Apenas estava escrito: quando puder venha para casa, vamos sair
para um lugar legal.
— Bom, você precisar aceitar ir para descobrir. — Ele responde.
— Você não vai me contar? — indago e ele balança a cabeça
negando.
— Apenas pegue um casaco, bailarina.
Acatei seu pedido e ao invés de ir para o meu apartamento pegar um
casaco, eu fui direto para o seu quarto e peguei o seu moletom preto favorito.
Também é o meu favorito e ao me ver vestindo seu moletom, Saint sorriu
satisfeito.
— Agora nós podemos ir!
Eu não tinha entendido muito bem o que ele queria dizer com apenas
se agasalhe, bailarina, em pleno calor. Achei que o calor havia fritado o
cérebro dele ou ele realmente perdeu a noção do tempo. Quer dizer, achava
isso até agora.
— Nós vamos mesmo fazer isso? — pergunto animada para ele.
Nós estávamos em uma pista de patinação e eu mal via a hora de estar
dentro dela.
— Nós já estamos fazendo isso, bailarina. — Ele afirma, com um
sorriso permeando em sua voz.
Solto um gritinho animada e me sento no banco com os patins em
mãos. Saint já havia colocado seus patins e estava com os olhos na pista de
gelo observando as poucas pessoas que haviam ali patinando.
— Estou pronta — digo, quando termino de apertar os patins e me
levanto.
— Quase pronta. — Ele me corrige, e pega o capacete no banco. —
Alguma vez você já fez isso? — Ele pergunta.
Balanço a cabeça negando, enquanto ele coloca o capacete em minha
cabeça.
— Mas não deve ser tão diferente quanto andar de patins e dançar
ballet, a única diferença é que tem gelo — argumento, antes que ele desista
da ideia.
— Tudo bem, só não solte a minha mão até que você se sinta segura,
ok?
— Ok — concordo, sorrindo.
Após colocar o capacete, Saint segurou em minha mão e me guiou até
a pista de gelo onde algumas crianças patinavam alegremente com os pais.
Não devia ser tão difícil assim.
Ainda segurando em minha mão, Saint deslizou os pés pela pista de
gelo e eu repeti o seu movimento.
— Só não solte a minha mão até que esteja pronta para andar sozinha.
Mais uma vez ele repetia, mas agora ele segurava as minhas duas
mãos e andava me puxando junto consigo. Eu o seguia, deslizando meus
patins de um lado para o outro conforme eu o vi fazendo, ele soltou uma de
minhas mãos e andamos juntos de mãos dadas.
Demos três voltas completas pela pista, Saint me soltou várias vezes
durante a nossa volta, levei uns tombinhos, me levantei em todos eles rindo e
andando novamente pela pista. Eu já estava me sentindo familiarizada, era
como se eu estivesse dançando sobre os gelos e isso era tão incrível.
— Deve ser um máximo dançar sobre patins — murmuro, soltando a
mão de Saint.
— Não inventa, Noah. — Ele murmura.
— Não foi para isso que você nos trouxe? Você disse que patinar no
gelo nos ajudaria nos ensaios.
— Eu disse que seria um exercício e não que era para dançarmos no
gelo. — Ele me corrige.
Reviro meus olhos, deslizo meus pés para trás e ando de costas sem
tirar os olhos dele.
— Não seja tão careta, Saint — resmungo, e paro há alguns
centímetros dele.
— Noah, não. — Ele grunhe entredentes.
Ignorando seus protestos, fecho meus olhos para sentir o equilíbrio
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dos meus pés, pratico meu passo deboulés e faço duas sequências de
piruetas ao abri-los novamente e me posiciono na quarta posição, focando em
Saint giro meu corpo em sua direção.
— Você é louca. — Ele diz, com um sorriso no rosto quando dou o
último giro parando em sua frente.
Espalmo minhas duas mãos em seu peito e encaro seus olhos cor de
mel.
— Nós iremos vencer esse festival, Saint Rivers — sussurro convicta.
— Nós iremos detonar esse festival, Noah Clark. — Ele murmura,
encostando seus lábios nos meus.
Eu o afasto para trás antes que nossos lábios se fundem uns nos outros
e patino para frente.
— Ainda é jovem o suficiente para brincar de pega-pega? — indago,
mexendo as minhas sobrancelhas.
Ele ri e acenando com a cabeça que sim.
— Você não existe, Noah.
— Noah não, bailarina. — corrijo-o, ganhando o seu mais belo
sorriso.
— Acho que estou perto o suficiente para te pegar e te beijar, e eu
quero muito fazer ambos agora. — Ele admite.
— Acho que para isso você vai ter que me alcançar — digo, e disparo
em sua frente deslizando com meus patins pelo gelo.
Eu deveria me lembrar de nunca desafiar Saint em uma pista de
patinação, ele é bom e mesmo que eu tivesse saído em sua frente, ele estava
há passos de mim.
— Eu vou pegar você, bailarina — ouço a sua voz do meu lado.
— Oh, merda, porque diabos você tem que ser tão bom? —
resmungo, olhando para ele e volto a manter meu olhar na pista em minha
frente.
Pego impulso e tento correr mais rápido, ao fazer a curva na pista
solto um grunhido alto e sinto a velha e conhecida dor se apoderar da minha
perna direita. Perco a consistência da minha perna, meu corpo treme e eu
sinto o peso de todo meu corpo se esvair pelos meus pés.
Um grito saiu da minha boca e o som de algo se quebrando foi ouvido
quando meu corpo se chocou contra o chão. Caí sentada, de início não senti
dores, mas fechei meus olhos sentindo minhas lágrimas escorrerem pelo meu
rosto.
Senti quando um corpo parou ao meu lado e não precisei abrir os
olhos para saber que era Saint, seu cheiro dominou minhas narinas.
— Olhe para mim, bailarina. — Ele pede, e eu me recuso a abrir os
olhos.
Conto mentalmente para que a dor não se alastre. Por favor que eu
não tenha quebrado nada, por favor. Eu pedia em pensamento.
— Noah, amor... olhe para mim, por favor. — Ele pede em um
sussurro.
E ao ouvir o tom suave da sua voz, eu abro meus olhos.
13
— É só uma tendinopatias , vai passar logo — tento tranquilizá-la,
ao ver seus olhos aflitos.
A dor não passou, pelo contrário, ela aumentou e eu gritei, a dor me
consumiu e já não tinha mais poderes sobre as minhas lágrimas. Pessoas se
aproximaram de nós e logo estávamos cercados por olhares curiosos.
— A minha perna, Saint, a minha perna! — grito desesperadamente,
sentindo os ossos da minha perna retesarem.
Soltando um xingamento, Saint tirou seus próprios patins e o capacete
e os jogou longe. Ele passou meus braços em volta do seu pescoço, uma de
suas mãos passaram por debaixo de minhas pernas e a outra circundou a
minha cintura.
Pavor tomava conta dos seus olhos quando me olhou, tentei não
resmungar de dor e conter minhas lágrimas, mas estava doendo por dentro e
por fora. Saint me levantou do chão e andando o mais depressa possível até o
banco, ele me deitou sobre ele.
— Eu preciso tirar os patins, me diz qual perna que está doendo que
eu vou tirar primeiro da que não dói. — Ele murmura, calmamente.
Sem conseguir falar, aponto para a perna direita. Cauteloso ele tira o
patins da perna esquerda e me olha antes de levar as mãos até a perna direita.
— Eu vou tirar e não vai doer, você é forte. Muito forte. — Ele me
encoraja.
— Vai de uma vez, Saint — peço, entre lágrimas.
Aperto minhas mãos na madeira do banco colocando toda a minha
força e não consigo conter um grito alto quando Saint tira o outro patins.
— Merda. — Ele troveja, e me olha com compaixão e dor. — Me
perdoa, Noah, me perdoa. — Ele repete e me pega novamente no colo.
No momento em que vi a dor em seus olhos, eu vi meus sonhos
despedaçando sobre mim.
“Ela está dançando com estranhos, caindo aos pedaços”
WAITING FOR SUPERMAN – DAUGHTRY
PESADELO.
É como eu descreveria esse momento enquanto esperava aflito por
notícias na sala de espera do hospital.
Os pais de Noah chegaram vinte minutos após a minha ligação, eu
não sabia o que fazer e dependendo da gravidade, eu não sabia se ela ainda
iria me querer aqui. As únicas pessoas que ela precisa no momento são eles.
Claire entra correndo na sala e ao ver meu olhar assustado, ela se
aproxima e me abraça.
— Saint, meu Deus. Eu vim o mais rápido que eu pude. Meu tio já a
atendeu? — Ela pergunta.
A primeira pessoa para quem eu liguei foi Claire. O tio dela é médico
e eu estava tão assustado com tamanho inchaço no pé de Noah que não sabia
o que fazer. Nós precisávamos ser atendidos com urgência e assim que
chegamos a clínica, o tio de Claire já esperava por nós.
— Sim, ele a levou às pressas — respondo baixo.
— O quão grave foi?
Eu não tinha essa resposta, mas se eu pudesse julgar por aparência, eu
diria que foi muito.
Após longos minutos de espera, o médico apareceu, os pais de Noah
se aproximaram primeiro, e em seguida, eu me aproximei. A mesma pergunta
que Claire havia me feito, a mãe de Noah fazia.
— Foi grave? Ela está bem? — Ela perguntou.
Os olhos dele vacilaram e ele olhou mais uma vez para o prontuário.
Claire se aproximou, parou bem na frente dele e o encarou.
— Tio Liam, o quão grave é? — Ela pergunta.
— Para nós não é tão grave assim, Claire, mas para ela é e até mesmo
para você é. — Ele informa.
Claire olha para os papais em mãos no prontuário e muda o olhar para
os pais de Noah.
— Ela tem tendinopatias? — Ela questiona.
Era a segunda vez que eu ouvia essa palavra. A primeira quando Noah
disse que não era nada grave, e agora.
— Sim, desde que começou a ensaiar para os testes de admissão em
Juilliard. — O pai dela responde pela mãe. — Por quê? — Ele questionou, ao
perceber a gravidade.
— Antes de cair, ela teve tendinopatias e durante a queda o músculo
dela contraiu-se e ocasionou em uma quebra de osso com desvio. Ela vai
precisar passar por uma cirurgia para reafixar o osso em sua perna direita
com parafusos de metal. — Ele explica, o mais cautelosamente possível.
— Então, isso interfere na dança? — foi a vez da mãe dela questionar.
Me afastei e me sentei em uma poltrona, eu não precisava ficar por
perto para ouvir a resposta. O olhar de Claire quando questionou os pais de
Noah dizia tudo.
— Eles irão levá-la agora para a sala de cirurgia. Os pais dela estão
assinando a papelada de autorização. — Claire diz, ao se aproximar e sentar-
se ao meu lado.
— Ela nunca mais vai po-poder... — Minha voz falhou, mas ela sabia
ao que eu me referia.
Seus braços encolheram, ela fitou o chão antes de voltar a me olhar.
— Só quem pode afirmar isso é o ortopedista, depende muito das
lesões, Saint. Mas isso não é nada bom. — Ela confessa em um murmuro.
— Me distraía — peço, na tentativa de não pensar no pior.
Claire respira fundo e volta a olhar para os pés.
— Você sabe que a bolsa de estudos seria dela, certo? — Ela
pergunta.
Assinto, apesar de ter pedido que ela me distraísse.
— Louise nos chamou para uma conversa na quarta-feira. Poucas
meninas haviam se dedicado para a apresentação, são duas bolsas para cada
modalidade. Uma para dança e outra para música. — Ela explica e volta a me
olhar.
Balanço a cabeça assentindo, para que ela dê continuidade. Quero
saber onde isso irá nos levar.
— As meninas desistiram, Saint, só havia Noah e os concorrentes da
música para ganhar a bolsa. Se Noah desistisse a bolsa seria minha. — Sua
voz vacila e a engole o choro. — Não estou falando isso por estar feliz por
possivelmente a bolsa se tornar minha, não quero que me ache egoísta porque
eu não estou feliz, Saint.
— Então, qual é o problema? — questiono, ainda sem entender.
— A bolsa vai me levar para longe do Tyrone por um ano, é um curso
intensivo e com uma agenda de apresentações que pode ser estendida por
mais um ano e assim sucessivamente.
Agora eu entendia a gravidade do assunto.
— Eu estou te contando isso porque você é amigo dele e eu não sei o
que fazer se isso realmente acontecer. Ele não vai aceitar, já discutimos sobre
isso. — Ela completa.
— Isso é novidade no festival? — pergunto e ela assente. — Claire,
eu não te acho egoísta. Entendo que você está desesperada porque está
dividida entre duas coisas que você ama. Mas o que você quer fazer? O que
você quer ser? Você deve ter as respostas dessa pergunta e fazer isso. Seus
sonhos não vão lhe pedir o divórcio daqui há alguns anos ou terminar com
você amanhã de manhã. Pense nisso!
— No momento, a única coisa na qual eu penso antes disso é no
quanto eu quero que a Noah fique bem. O equilíbrio das pernas são tudo que
nós bailarinas mais precisamos, e ela não pode perder isso, Saint, não pode.
— Ela não vai, Clair — afirmo, segurando em sua mão e a apertando
forte.
Levou duas horas para que o tio de Claire retornasse com outro
médico ao seu lado. Ele explicou que a cirurgia foi um sucesso que
estávamos liberados para ver Noah.
Claire decidiu não entrar conosco, o momento não era apropriado,
segundo ela. Sendo assim, entrei junto com os pais de Noah.
Eu me sentia um coadjuvante entre eles dois, mas estava grato por
Conrad estar aqui. Eu não saberia cuidar de Grace e mantê-la tão calma assim
como ele fez o tempo todo. Eu sabia que ele era uma grande pai e marido
pelo o que Noah contava, depois que troquei poucas palavras enquanto nós
esperávamos por notícias, eu tive a certeza disso.
Noah estava recostada na cama do hospital, com a sua perna recém-
operada suspensa para alto com a ajuda de um suporte. Ela forçou um sorriso
quando nos viu, mas eu sabia que por trás desse sorriso havia muitas lágrimas
acumuladas.
— Ahh, querida. — Grace choramingou, ao se aproximar dela.
— Eu estou bem, mamãe, foi só um pequeno tombo. — Ela tenta
confortar a mãe.
Não foi pequeno e nem tombo. Foi uma queda, Noah, uma grave
queda. E por minha culpa.
Balanço a cabeça afastando esses pensamentos.
— Sapato legal esse seu. — O pai dela brinca, apontando para o seu
pé enfaixado.
Ela ri baixinho e faz sinal com a cabeça para que eu me aproxime.
— Eu estou bem, Saint, eu vejo a culpa nos seus olhos. — Ela
murmura, e mais uma vez me chama.
Dessa vez, eu me aproximo e fico ao lado do seu pai.
Nós observávamos ela e Grace conversando sobre coisas aleatórias e
isso fazia Noah rir e se distrair. Vê-la assim me fez suspirar aliviado, não teve
riscos e nada tão grave, ela estava sorrindo, então, estava tudo bem.
— Pai, mãe. — Ela os chama e tem a total atenção deles. — Ouçam
bem o que eu vou falar, tudo bem?
Os dois assentem e eu a observo colocar um sorriso forçado no rosto.
— Pai, eu quero que você leve a mamãe de volta para o hotel e
aproveitem o resto do dia juntos até a hora do seu voo...
Conrad nega com a cabeça e a interrompe.
— Você acha que eu irei embora depois do que aconteceu, mocinha?
Está completamente enganada. — Ele contesta e sua mãe concorda.
— A mamãe ficará aqui até quarta-feira, depois ela vai voltar na
semana seguinte. Não estarei completamente sozinha. — Ela diz e me olha.
— Eu juro para você que eu estou bem, eu caí e me levantei. Logo vou
receber alta e vou para casa, não tem como os dois dormirem juntos comigo
de qualquer forma. Então, por favor, papai, não deixe a mamãe desperdiçar as
24 horas restantes que ela tem com você só por causa que eu caí.
Ela sabia argumentar, ela os tinha nas mãos.
— Mas você passou por uma cirurgia, Noah. — Grace contesta.
Noah revira os olhos e volta a olhar para a mãe.
— Mãe, eu estou bem. Confie em mim, você sabe que não gosto de
dar trabalho para vocês. — Ela contrapõe.
— E para o Saint, pode? — Seu pai resmunga.
— Ele é meu namorado, obrigação dele cuidar de mim!
Não contesto e nem me oponho quanto a isso.
— Obrigação de nós pais cuidar de você também. — Grace insiste.
A pseudodiscussão é interrompida por uma batida na porta, e em
seguida ela é aberta. O médico que fez a cirurgia de Noah entra no quarto
com o prontuário dela em mãos.
— Como você se sente, Noah? — Ele pergunta.
— Bem? — Ela indaga, com uma sobrancelha arqueada.
— Noah, olha os modos. — Grace a repreende pelo seu tom
sarcástico.
— Alguma dor? Incômodo? — O médico questiona e ela balança a
cabeça negando. — Quem irá passar a noite com você?
— Ele. — Ela diz apontando para mim.
— Eu fui esnobada. — Grace dramatiza.
— Pai e mãe, eu amo vocês. Mas podem por favor, irem embora?
Vocês estão perdendo tempo, a hora está passando. Tic, tac, tic tac. — Noah
diz, fazendo som com a boca.
— Você tem certeza? — Grace pergunta pela última vez.
— Sim, mamãe, amanhã quando o papai for embora você vai ter
tempo para mim. — Noah garante.
— Certo. Não deixe de me ligar a qualquer hora, caso precise de
alguma coisa. — Ela diz, ao se despedir da filha com um beijo na testa. —
Saint, me ligue se realmente for preciso.
— Claro, senhora Clark — respondo.
Observo Noah se despedir dos pais e olhar para eles com um falso
sorriso no rosto, enquanto eles caminham até a porta. Quando eles saem,
fechando a porta em seguida, seu sorriso morre e ela olha diretamente para o
médico.
— Agora somos nós dois, quer dizer três. — Ela murmura, olhando
para mim e volta a olhar para o médico.
Me aproximo dela e seguro em sua mão, está gelada e trêmula.
— Eu sei que tem algo errado, doutor, então você pode começar a
falar.
O médico respirou fundo e olhou para mim, em seguida para Noah e
por último para o prontuário.
Nesse momento, eu tive certeza. Os sonhos de Noah agora já não
eram mais os mesmos.
“E quem diz que o amor deveria nos partir quando caímos?”
LET IT ALL GO – BIRDY
Quando Saint chegou nessa parte, não havia como segurar as minhas
lágrimas.
O FESTIVAL
A forma que seus dedos dedilhavam pelas cordas do violão era com
maestria, Saint tinha um talento nato. Seja na calmaria da sua voz, dos seus
dedos, ao efeito que causa em mim. Agora eu entendia o que Paul quis dizer
sobre toda banda boa ter uma música sobre mulheres.
Volto a cantar pela última vez o refrão da música. Bem para ela, para
que ela soubesse a importância que tem em minha vida.
Noah sorri para mim, com o rosto marcado de lágrimas. Ela sorria de
uma forma que há semanas eu não via.
Eu amo você, bailarina. Eu sempre vou amar você.
Termino de tocar a música e me despeço do público com um mero
obrigado. Nos bastidores, enquanto outro candidato se prepara para subir ao
palco para se apresentar. Guardo o meu violão na capa e as pressas, faço o
meu caminho em direção à plateia.
Noah está sentada na ponta da fileira e não percebe quando eu me
aproximo.
— Precisa de um lenço, bailarina — murmuro, em seu ouvido.
Seu corpo tenciona e ela vira o rosto para me olhar, com um largo
sorriso.
— Esse era o sorriso que eu esperava ver hoje — confesso, e estendo
minha mão para ela.
Ela hesita antes de pegar na minha mão. Eu a levanto e a puxo para
fora da fileira.
— O que você está fazendo? — Ela pergunta, em um tom baixo.
— Não tenho chances de ganhar esse festival, principalmente, sem
você, bailarina. Temos um lugar para ir — respondo-a no mesmo tom baixo
que ela.
— Saint, eu...
Balanço a cabeça negativamente.
— Sem escapatória, Noah Lee Clark — intervenho, antes mesmo que
ela tente arrumar uma desculpa para não vir comigo.
— Eu só ia dizer que eu acho que você tem chances e que você
mandou muito bem lá em cima. — Ela comenta, sem esconder o sorriso
orgulhoso do rosto.
Algumas pessoas começam a reclamar por estarmos em pé. Dou de
ombros e Noah ri timidamente.
— Nos vemos depois — murmuro para os meus pais, e nossos amigos
sentados.
Ajudo Noah a andar até saída do teatro e a levo para o
estacionamento. Sozinha, ela abre a porta do meu carro quando nos
aproximamos dele e entra, mostrando o quanto se tornou independente desde
que evoluiu na fisioterapia. Antes ela precisava de ajuda para entrar, ainda
mais por estar de muletas e só ia no banco de trás do carro com a perna
esticada.
Entro no carro e, ignorando a pergunta silenciosa e curiosa de Noah,
nos levo para o nosso destino.
À noite, Noah apareceu no bar, ela não conseguia ficar parada, então
lá estava ela no bar preparando bebidas. Do palco eu a vi, assim como eu
também o vi ao lado de Paul.
Olhei para Tyrone, discretamente fiz menção na direção de Paul. Ele
assentiu, afirmando minhas suspeitas em relação ao senhor ao lado do meu
tio. Quando acabamos de tocar, notei que havia muito mais pessoas hoje do
que eu me lembrava da última vez que toquei.
— A casa tem lotado desde o festival, todo mundo vem aqui para
ouvir o nosso som por sua causa. — Matt murmura, contente.
— Você está falando sério? — questiono.
— Por que a incredulidade na voz? Não era esse o seu objetivo? Você
conseguiu, Saint, fez isso. Trouxe o reconhecimento que tanto queria e de
quebra, ganhou a garota. Eu estou feliz e orgulhoso por você. — Ele diz,
dando-me um leve cumprimento com um soco no ombro enquanto
andávamos em direção ao bar.
— E agora eu vou pegar a minha garota — digo, ao observar Noah
debruçada no balcão conversando com Paul e o homem misterioso.
— E eu vou atrás da minha. — Ele murmura.
Caminho em direção ao bar e ao me notar, Noah sorri angelicalmente.
Ela comenta algo com Paul, que vira o rosto para me olhar.
— E o astro difícil de ser encontrado chegou! — Paul diz, chamando
a atenção do homem ao seu lado.
— Você sabe onde eu moro — retruco, sem esconder a minha
surpresa em vê-lo aqui sem a tia Natasha.
— Saint, esse é o meu grande amigo Corbyn Bronks. Ele é produtor
musical e não me deixou em paz desde que o viu no festival, depois que viu o
restante da banda tocar se tornou pior ainda. — Ele diz, em um resmungo
falso.
— Saint Rivers. — O homem anuncia, estendendo a mão para mim.
Aperto em sua mão o cumprimentando. — É muito bom finalmente conhecê-
lo. — Ele completa.
— É... Acho que deve ser bom conhecê-lo também — digo receoso.
— Eu vou deixá-los a sós, vocês têm muito o que conversar. — Paul
diz, se levantando.
Noah se afasta do balcão, e arrastando a perna com a bota ela faz
menção em sair também.
— Você pode ficando mocinha — digo para ela.
— Mas...
— Sem mas, Noah — insisto.
Ela solta um suspiro cedendo.
— Então, senhor Bronks, nós podemos conversar lá em cima? É mais
silencioso que aqui embaixo e a cozinheira da casa faz uns aperitivos divinos.
— É claro, Saint, esperei por você a semana inteira. — Ele informa.
— Eu fiquei sabendo algo sobre isso — comento.
Enquanto subíamos ao andar de cima, senti Noah apreensiva ao meu
lado a cada degrau que pisava.
— Está sentindo dor? — pergunto baixinho, apenas para ela ouvir.
Ela balança a cabeça negando.
— Então, qual é o problema? — pergunto, mais uma vez.
— Eu estou ansiosa, Saint. — Ela murmura, com uma pontada de
entusiasmo na voz.
— Para o quê?
— Você já vai ver.
Nos sentamos a mesa e deixei que Noah fizesse os pedidos, ela já
havia comido de tudo que tinha aqui. Não me assustaria se ela soubesse o
cardápio de cabeça.
— Noah, a musa inspiradora para quem você cantou no festival. —
Bronks comenta, fazendo Noah corar ao meu lado. — Eu gostei muito do que
eu ouvi, Saint, e muito mais do que assisti hoje naquele palco.
— Obrigado — agradeço, meio sem jeito.
— Eu tenho uma proposta a fazer a você, gostaria de estar falando
com todos os outros integrantes da banda, mas Paul me disse que eu deveria
conversar primeiro com você.
— Uma proposta? — indago, franzindo a minha testa.
— Estou há 30 anos no mercado da música, Saint. A Geffen Records
vem lançando grandes nomes como Aerosmith, The Stone Roses e entre
outros... Gostaria de ter a Metamorphosis nessa minha lista, vocês são bons e
o mundo da música precisa ouvi-los. Tenho um contrato esperando por vocês.
Eu ouvi direito? Um contrato com uma gravadora da UMG? Tio Paul
só pode ter armado uma pegadinha.
— Um contrato? Com uma gravadora? — pergunto, com a voz
engasgada.
Noah sorri radiante ao meu lado, após ouvir a proposta e aperta forte a
minha mão.
— Um contrato não com uma gravadora, com a gravadora. Estamos
de portas abertas para vocês, Saint. Você só precisa dizer que está dentro. —
Ele informa, com um sorriso presunçoso no rosto.
Hesito por um momento e recosto meu corpo no assento da cadeira,
Noah percebe meu desconforto e solta a minha mão. Seu olhar era
questionador.
Ela não estava entendendo a minha reação e para falar a verdade, nem
eu.
Um contrato e não era com uma gravadora qualquer, era com uma
super gravadora e com um grande nome. Então, qual era o meu problema?
Eu fico me perguntando o que meu pai acharia disso logo agora que
me empenhei em ajudá-lo com o negócio da família. É a fábrica do vovô.
— Eu não posso aceitar — respondo, tanto Noah, quando Corbyn me
olham.
Ele surpreso. Ela com um olhar desapontado.
A questão não era mais os meus sonhos. E sim, o que eu quero ser e o
que eu devo fazer. E eu preciso encontrar a resposta dessas duas coisas.
“Eu me lembro de como nós dançamos tão perto.
Eu me equilibrava em seus pés.”
WILD HORSES – BIRDY
SEMANAS DEPOIS
Sacrifícios.
Eu nunca soube o real significado do que era se sacrificar por alguém.
Mas eu vi isso nos olhos de Saint quando ele recusou a proposta da
gravadora.
O amor vale esse preço? Eu diria que sim. O que eu faria no lugar
dele? Eu aceitaria, sim. Eu certamente pegaria a oportunidade.
Mas Saint, ele estava fazendo diferente. Saint não venceu o festival,
mas ele ganhou algo muito maior do que o prêmio em dinheiro. Ele estava
prestes a ter aquilo que mais sonhou, um contrato com uma gravadora. Mas
estava nadando para longe disso. Por quê?
Eu o vi deixar de ir para o seu próprio bar por mim, ele estava
deixando de cumprir afazeres e subir os degraus do seu sonho por mim. E não
é porque o meu sonho acabou que o dele deve acabar também. Não quero ser
uma carga na vida dele, mas infelizmente era isso que eu estava me tornando.
Eu era uma bagagem que Saint se sentia responsável. E seu abraço protetor
estava me sufocando.
Meu tornozelo já estava recuperado, mas eu ainda ia em algumas
sessões de fisioterapia. Antes era três vezes na semana e agora passou a ser
apenas duas vezes no mês apenas para ter um acompanhamento.
Passei a fazer caminhada todos os dias pelas manhãs, Sabine disse
que isso ajudaria ainda mais a manter meu equilíbrio e meus pés ativos. E
isso me deu uma pontada de esperança, que fez com que eu procurasse por
toda Nova York uma escola da ballet. Meu sonho ainda estava vivo dentro de
mim e eu não desistiria tão cedo dele. Não vou aceitar que é o fim para ele,
não ainda.
Decidi ir todas as tardes após meu expediente na livraria para a escola
de ballet. Para ter privacidade, eu disse que estava ensaiando para uma
apresentação e precisava de uma sala, claro que foi preciso pagar um pouco a
mais para ter um horário reservado só para mim.
Encaro meu reflexo na parede de espelho de frente para barra e me
aqueço.
“Você não a perdeu, a dança sempre vai estar dentro de você, porque
você nasceu para isso e você é o que você faz. Ninguém nunca disse que você
não vai mais poder dançar, você só não pode mais praticar o ballet e isso
não é o fim.”
O que Saint havia me dito há um mês atrás na noite do festival ecoava
em minha mente. Eu sempre voltava à aquela noite onde eu senti meu sonho
ainda vivo dentro de mim.
Mas então, eu dei o primeiro passo e caí.
Mais um passo e caí de novo.
Não adiantava mais repetir, que eu me recusava a cair. Eu já estava
cansada de tentativas falhas e frustradas, e comecei a culpá-lo mais uma vez.
Saint não tinha culpa de nada, mas havia se tornado bem mais fácil
colocar a culpa nele pelo meu fracasso do que culpar a mim mesma.
O que eu quero ser? Um músico, sim, um músico. O que eu quero
fazer? Viver da música. Mas como fazer isso, quando uma parte de mim
sente como se estivesse a traindo? Naquela noite do festival, era para sermos
nós. Ela deveria estar brilhando, e deveria ser ela a dar um passo para o
sonho, não eu.
Como dizer aos meninos que a música, a adrenalina, o amor, todas
essas coisas mudaram depois que Noah se quebrou? As coisas eram mais
fáceis quando ela era apenas ela. Se as pessoas ao meu redor soubessem
como eu me sinto, elas iriam rir de mim. Talvez eu seja uma piada para os
meus amigos nesse exato momento.
Mas será que as pessoas entenderiam? Elas entenderiam que a minha
vida mudou depois dela e não seria justo jogar na cara dela que eu subi um
degrau e ela não?
Eu estava em uma fase da minha vida, em que estava desesperado
para sentir algo que fosse real. E nada parecia real o bastante. Tudo era
superficial, estranho e insosso. Cada beijo parecia ser metade do que deveria
ser um beijo, cada toque era apenas um toque. Até Noah aparecer e mudar
todas as minhas perspectivas.
Desde que a fisioterapia deu resultado, eu observei dia após dia Noah
sair às pressas da livraria e ir para uma escola de ballet. Ela não sabia que eu
havia descoberto o que ela estava fazendo, mas eu sabia. Não só sabia como
assistia a ela se posicionar em frente a barra e cair antes mesmo de começar a
dançar.
Todos os dias era o mesmo processo, ela se levantava e tentava
novamente. Ela caía uma e se levantava duas. Sua força de vontade só me
fazia admirá-la ainda mais. Mas não era só os seus pés que não respondiam
mais aos seus comandos, ela se fechou e parou de me responder.
Ela não desistia, ela nunca desistiu. Mas diante a todos esses
fracassos, ela se fechou para mim. E eu queria que ela não tivesse desistido
de mim da mesma forma que não desiste da dança.
Eu a observava, enquanto ela praguejava baixinho sentada no chão.
Seu cabelo estava preso em um coque, com algumas mechas caindo,
suavizando o penteado. Ela estava brava por ter errado um passo mais uma
vez. Era como se ela não tivesse mais controle sobre as próprias pernas e
tivesse desaprendido a dançar.
— Eu sei que você está aí, Saint. — Ela murmura, ainda olhando para
os pés e amarrando a sapatilha no pé esquerdo.
Após terminar de amarrar, ela se levantou, fechou os olhos e respirou
fundo antes de abri-lo novamente. Ela veio marchando brava em minha
direção e parou à poucos centímetros de mim.
— Pare de me seguir, eu não quero você por perto, eu não quero ver
você. Só. Me. Deixa. Em. Paz! — Ela grita, pausadamente palavra por
palavra.
— Por quê? — pergunto e ela me olha sem entender a minha
pergunta. — Por que me afasta, Noah?
— Porque você me lembra aquilo que eu não posso mais ter, Saint, eu
amo a música, eu amo dançar e nem isso eu posso mais! Eu perdi o que eu
mais amo.
Eu deixaria tudo se isso a trouxesse de volta para a minha vida,
mesmo que isso signifique que eu tenha que deixar o que eu mais amo para
trás: a música.
— Então é esse o problema? Você está me afastando por que eu tenho
algo que você não pode ter? Eu daria tudo para ser eu no seu lugar, Noah,
porque eu não danço, mas você sim. E se isso é importante para você,
também é para mim — solto um suspiro cansado e a olho. — Eu daria meus
pés pelos seus, Noah.
Ela apertou a unha na palma da mão, eu podia ver o quanto aquilo
estava a machucando, mas ela não parou de se auto machucar. Seus olhos
estavam marejados e observei ela engolir a vontade de chorar.
— Você é a minha namorada, Noah, eu não vou abandoná-la —
sussurro, quando percebi que ela não ia falar nada.
Me aproximei, quebrando o espaço que havia entre nós. Como se
fosse um imã, minha mão estava sendo atraída para tocar em seu rosto, não
me privei de fazer isso e me surpreendi quando ela não me afastou e nem
recusou meu toque. Apenas colocou a mão por cima da minha e a afagou.
Uma lágrima escorreu em sua bochecha e ela piscou. Eu não via mais
aqueles olhos azuis cheios de amor, intensidade, música e felicidade. Tudo
que eu enxergava era dor.
— Só me deixe tentar, não me deixe desistir. Eu não posso desistir,
Saint, eu amo você, mas isso agora vem em primeiro lugar — murmura,
afastando a minha mão do seu rosto e me dando as costas.
Ela não estava pedindo por favor, para que eu fechasse a porta. Ela
estava pedindo por favor, para que eu a deixasse em paz.
Eu não a respondi, não queria que ela soubesse o quanto as suas
palavras me quebraram. Ela precisava de mais uma chance e de alguém que
acreditasse que ela é capaz. E eu sou essa pessoa. Porque por mais que as
coisas tenham tomado esse rumo em nossas vidas, ainda somos leais um ao
outro.
Andei devagar até a porta e virei-me para olhá-la antes de ir, mais
uma vez eu a estava vendo na sua mais nova rotina:
Se posicionar, usar a barra como apoio, fazer as posições básicas e,
por último fazer ponta e cair no chão.
Em silêncio, ela se levantou e eu saí, sendo observado pelo seu olhar.
Seus pés se tornaram a sua maior fraqueza e a minha também.
“Mas agora eu gostaria que você estivesse aqui”
WISH YOU WERE HERE – AVRIL LAVIGNE
UMA SEMANA. Saint está longe por uma semana e eu sinto como se
fosse um mês.
— Quando foi que eu me tornei tão dependente dele? — murmuro
para mim mesma.
— Você tem falado muito sozinha. E isso porque eu estou do seu
lado. — Valentina resmunga.
Com Matthew longe e com a pausa do teatro, Valentina e eu estamos
bem mais próximas. Juntas, nós duas estamos administrando o bar de Saint,
enquanto ele está fora.
— Desculpa. Eu só estava pensando... Eles se foram há uma semana,
mas parece que foi muito mais que isso — comento.
— Ao menos eles estarão de volta a tempo do dia de ação de graças.
— Eu não vou estar aqui quando eles voltarem — informo, ao me dar
conta de que eu havia perdido a total noção do tempo.
O Fun Fun Fun Fest é dividido em três dias, se iniciando daqui há
cinco dias, no dia 15 de novembro. Os meninos participarão dos três dias e
estamos há pouco menos de duas semanas do dia de ação de graças. O motivo
dos meus pais não virem para cá foi exatamente esse, dia 22 estava perto e
como eu iria vê-los em breve, não havia porque eles fazerem um gasto
desnecessário só para ficar um dia comigo.
— Ah, que pena... — Val lamenta, com a boca torcida. — Mas você o
verá depois disso. — Ela tenta me animar e se animar.
— É, eu espero que sim — digo, com um sorriso esperançoso no
rosto.
Devagar, os funcionários foram chegando. Valentina se levantou da
mesa em que estávamos sentadas e foi logo dando as coordenadas do que
seria a atração hoje. Com os meninos ausentes, precisamos procurar algumas
bandas e cantores solistas, o foco do bar de Saint era a música e nós não
iríamos deixar isso morrer.
Claro que antes de fazermos isso ligamos para Saint, que nos
autorizou a fazer o que achássemos que seria bom para o bar. Mal sabe ele
que mau foi feito ao dizer isso. Valentina decidiu que cada dia haveria uma
noite temática no bar, funcionou, é claro. Mas não sei se os meninos irão
gostar de manter isso, não é bem o estilo deles.
Meu celular toca na minha bolsa em cima da mesa, olho para a hora
antes de atender. São quatro horas da tarde, o que significa que é uma da
tarde em Los Angeles.
— Eu espero ansiosamente o dia que você vai atender e falar: volte
para casa. — Saint diz, assim que eu atendo o telefone.
Mordo meu lábio inferior na falha tentativa de conter meu sorrisinho
ao ouvi-lo.
Eu nunca era a primeira a falar, sempre espero ele falar primeiro para
poder falar depois. Gosto de ouvir a sua voz.
— Pois saiba que esse dia nunca vai chegar — retruco. — Como vão
as coisas?
— Acabei de fazer uma última passagem de som e um canal de
guitarra. Amanhã estaremos indo para o Texas e depois eu volto para você.
— Huh, Saint... — começo, soltando um longo suspiro. — Eu não
vou estar aqui quando você voltar.
— Como assim você não vai estar?
Posso sentir daqui o quanto ele está tentando não demonstrar o
nervosismo na voz.
— É ação de graças, Saint, você sabe que meus pais não vieram para
que eu possa ir passar com eles.
— Em que mês nós estamos mesmo? Eu me esqueci que estávamos
próximos demais do natal.
— Eu também me esqueci — confesso.
— Eu não deveria ter assinado o contrato. — Ele resmunga.
— Sim, você deveria — afirmo. — Mas nós vamos nos ver depois,
depois e depois...
— Isso soa melhor. Tudo com você soa melhor.
Bem ao fundo ouço a voz de John o chamando. Ele o responde
dizendo que já vai e pragueja baixinho.
Rio involuntariamente, embora esteja lamentando por ele ter que
desligar mais cedo hoje. Geralmente ele me liga durante a noite e passamos
horas falando no celular.
— Você tem que ir — digo, um silêncio toma conta do outro lado da
linha. — Eu sinto a sua falta, Saint, já estou sentindo nesse segundo e você
nem desligou ainda.
— Eu amo você, Noah Bailarina Clark. Eu te ligo mais tarde.
— Eu amo você, Saint Rivers, esperarei por você mais tarde.
— Na minha cama e nua, de preferência.
— Saint! — repreendo-o, ele ri.
— Tchau, bailarina.
— Tchau, guitarrista — murmuro, me despedindo dele.
O celular fica mudo após um bipe, e eu já lamento pelo tempo dele
hoje ter sido curto.
Guardo o meu celular e volto a minha atenção para o notebook em
minha frente. Eu precisava escolher o cardápio do tema de hoje, e seria
comida mexicana. A cozinheira enviou no meu e-mail várias sugestões para
montar o cardápio, eu só preciso escolher, montá-lo e entregar a ela antes das
seis.
Não parecia ser algo tão difícil, mas era. Eu nunca sabia o que de fato
agradaria os clientes, mesmo que a Valentina dissesse: Noah, se agrada a
você, tenha certeza que agradará a todos.
Ao menos eu estava com a parte mais fácil, enquanto ela com a mais
complicada. Eu estava curiosa para saber o que ela preparou para a
apresentação de hoje. O tema mexicano só me faz lembrar de uma banda de
adolescentes que fazia sucesso há uma década.
— Senhora, ainda não estamos funcionando — ouço a voz de um dos
garçons falando.
— Eu sei, mas eu estou aqui para falar com ela.
Levanto a cabeça para olhar na direção de onde vem as vozes, seu
dedo está apontando para mim e ao me ver a olhando, ela sorri e acena.
— Savannah? O que faz aqui? — pergunto, sem esconder a minha
feição surpresa.
Ela caminha em minha direção e se joga no assento livre da cabine.
— Você sabe o quanto é difícil achá-la? — Ela resmunga.
— Você poderia ter me ligado, acho que você ainda tem acesso a
minha ficha com meu endereço e número de celular — digo, ainda sem
entender sua aparição aqui, ou melhor, como me achou aqui.
Savannah trabalha na secretaria da escola de ballet que eu frequentava
nas últimas semanas. Só nos falamos duas vezes, a primeira vez quando me
matriculei e a segunda quando fui encerrar a minha matrícula.
— Eu sei. — Ela solta um suspiro cansado. — Mas o que eu tenho
para falar com você não é um tipo de coisa que se fala por celular, eu vi você
aqui há duas noites atrás. Achei que trabalhasse aqui e resolvi arriscar quando
o porteiro do seu prédio avisou que você não estava. — Ela se explica.
Seu olhar divaga pelo bar, por mais que ela tenha vindo há duas noites
atrás, acho que é a primeira vez que ela está vendo como ele realmente é. Ela
tem no rosto o mesmo olhar que eu tive quando Saint me trouxe aqui na
inauguração.
— Deve ser um máximo trabalhar aqui, esse bar é muito bonito e tem
uma decoração bastante moderna e inspiradora. Essa guitarra é de verdade?
— Ela pergunta, apontando para uma Les Paul Junior, pendurada na parede
do nosso lado.
— Em miniatura, mas sim. São todas de verdade — respondo,
sorrindo.
Saint as ama.
— Então? — indago, arqueando uma de minhas sobrancelhas.
— Então, o quê? — Ela devolve, com a boca torcida.
— Você me achou e agora? — pergunto.
— Oh, isso. Eu te achei! — Ela exclama. — Posso beber uma água
antes?
— É claro.
Sinalizo chamando o mesmo garçom que estava a impedindo de
continuar aqui dentro, e peço para que ele traga duas águas.
Assim ele o faz, enquanto ela bebe a água e digita algo em seu
celular, eu respondo o e-mail da cozinheira com as sugestões que eu mais
gostei. Fecho o notebook e volto a minha atenção para Savannah, ela me olha
e sorri.
— Agora você tem a minha total atenção.
— Eu não sei se você sabe, mas a escola é minha. — Ela informa,
para a minha surpresa.
Balanço a cabeça negando.
— Eu não sabia — confesso.
— Quando você encerrou a sua matrícula me deixou curiosa pelo
motivo que a levou a se matricular em minha escola, se disse que estudava
em Juilliard. Você pediu uma sala só para você, quando a própria Juilliard
tem uma. Eu a vi fazer passos arriscados que só uma bailarina profissional
saberia fazer, mas também a vi cair. Então eu soube o que aconteceu com
você, do seu incidente. — Ela diz levemente, sem tirar os olhos de mim.
Levo o copo de água aos meus lábios e finjo dar um gole. O copo
treme em minha mão, eu preciso segurá-lo com as duas mãos e o afasto da
boca.
— Eu não sei onde você quer chegar com isso — murmuro, tentando
manter minha voz firme.
— Noah, eu estou aqui porque precisamos de uma professora nova na
escola. — Ela informa.
— Como? Acho que eu não ouvi direito.
— Fui a Juilliard, ouvi coisas muito boas sobre você. Boas não,
excelentes! — Ela sorri, empolgada. — Sua professora disse que perdeu uma
das melhores alunas que já teve. O reitor falou que se eu não a contratasse,
estaria fazendo a maior burrada da minha vida!
Abro a boca para argumentar. Savannah ergue a mão espalmando-a
no ar, me parando.
— E antes que você pense que eu só estou querendo contratá-la por
isso, está enganada. Eu quero contratá-la pela sua persistência, por não
desistir e por todas as vezes em que eu a vi se levantar. Teremos um grande
evento de início de ano e nós precisamos de alguém como você, Noah.
— Alguém como eu? — pergunto com a voz baixa, e ela assente.
— Alguém que não desiste, que sonha e ama o que faz. Por favor,
Noah, pense nisso. — Ela pede, seus olhos imploram por ela.
Balanço a cabeça atordoada, incapaz de lhe dar uma certeza agora. Eu
não consigo nem mesmo pensar!
Dar aulas? Eu não consigo.
— Você pode me ligar a qualquer momento quando tiver a resposta.
— Ela diz, deslizando um cartão pela mesa e se levanta.
Eu o pego, mas não olho para ele. Olho para Savannah que passa a
bolsa pelo ombro e me olha com um sorriso esperançoso no rosto.
— Você é uma bailarina, Noah. E bailarinas dançam, não importa o
que aconteça, não importa se seus pés não correspondem aos seus comandos.
Você dança! Dança com a alma, dança com o pensamento, apenas dança.
Esse é o seu legado e você sempre irá levá-lo contigo.
Com isso ela sai, me deixando a sós e atordoada com meus
pensamentos.
Todas as vezes em que eu achei que eu era capaz e que conseguia, eu
caí. Caí por ser persistente, não desistir do meu sonho, mas agora isso muda
tudo de novo. Eu preciso me decidir, mas eu não quero ser aquela Noah mais
uma vez.
Quem eu quero ser? O que eu devo fazer? Perguntas sem respostas, as
mesmas perguntas que Saint me fazia. Eu preciso fazer a minha escolha, eu
preciso ter as minhas respostas.
Pego meu celular dentro da minha bolsa e retorno a ligação para o
único número que tem ocupado espaço no meu registro de chamadas nos
últimos dias. Sou atendida no quinto toque, e antes que ele ousasse falar algo,
eu me antecipo.
— Venha para casa, por favor.
Eu preciso de Saint. Eu preciso dele, apenas dele.
Tento ligar para Saint assim que saio da ABT, mas aparentemente ele
ainda deve estar no voo a caminho do Texas. Mal posso esperar para
compartilhar a novidade com ele. É muito mais do que eu imagino, bem mais
do que apenas uma turma.
Um recital para o fim de ano. É o que eu tenho em mãos, além de uma
turma.
Eu consigo. Sim, eu consigo.
“Bem-vindo à selva, nós temos diversões e jogos.
Nós temos tudo o que você quiser.”
WELCOME TO THE JUNGLE – GUNS N’ ROSES
Era pouco o tempo que eu tinha com Noah, em duas horas ela partiria.
E querendo prolongar o máximo de tempo que posso, eu a raptei do jantar
com a banda e meus pais, e a trouxe para o hotel onde estou hospedado. Não
tinha como evitar a minha abstinência da presença de Noah em minha vida.
— Eu não acredito que você realmente está aqui — digo, olhando-a
deitada ao meu lado na cama.
— Você acha que eu iria perder o seu primeiro show? — Ela indaga.
— Não acho, mas entenderia se não pudesse vir. Como é dar aula para
adolescentes de dezesseis anos?
Ela abre um sorriso antes de começar a falar.
— É uma experiência diferente, mas incrível. Eu me via em cada uma
daquelas meninas de uma forma diferente, é como se cada uma delas
representassem uma fase da minha vida. Eu gosto delas e acho que elas
gostam de mim também.
Sorrio ao ver o brilho nos seus olhos novamente. É bom vê-la cheia
de vida.
— É impossível não gostar de você, bailarina. Eu estou muito
orgulhoso e feliz também.
— Ah, é? — Ela pergunta, segurando na gola da minha camisa e
aproximando o corpo do meu.
Balanço a cabeça assentindo em resposta, ela beija meu pescoço, seus
lábios passeiam pelo meu pescoço explorando-o de uma forma provocativa e
sensual. Solto um grunhido baixo e enrosco meus dedos em seu cabelo,
levantando seu rosto para olhá-la. Sua respiração está descompassada, seu
peito sobe e desce rapidamente.
— Eu amo tudo em você, bailarina, tudo — afirmo, antes de me
inclinar para beijar seus lábios.
Noah segura meu rosto com as duas mãos, sua boca devorou a minha
e um gemido escapou dela quando nossas línguas se tocaram. Minhas mãos
escorregaram pelas suas costas e eu segurei em sua bunda, a trazendo para
cima do meu corpo. O contato do seu corpo com a minha ereção me fez
estremecer, Noah afasta os lábios dos meus e me olha com um sorriso no
rosto.
— Você é a minha pessoa favorita no mundo, Saint Rivers. E eu amo
que seja você essa pessoa.
E então, ela me beijou novamente. De um jeito único e arrebatador.
Noah tem esse jeito que só a ela pertence, ele é único.
Ela sempre toma tudo o que quer de mim e eu me entrego a ela sem
protestar e sem reservas.
“Você faz minha vida valer à pena.
É tudo sobre você.”
ALL ABOUT YOU – MC FLY
SAINT HAVIA ME DEIXADO NO AEROPORTO NA MANHÃ
DO SÁBADO, e embora eu quisesse muito ficar, eu tinha um planejamento
de aula para fazer. Nós estávamos muito próximas do final de ano e
precisávamos dar o nosso melhor.
Antes de ir para a última aula que eu daria antes do dia de ação de
graças, eu dirigi até a livraria. Isso era algo que eu deveria ter feito há um par
de dias, mas os últimos acontecimentos em minha vida não colaboraram
muito com isso.
O sino da porta avisou da minha presença e o sorriso amistoso no
rosto da senhora Eva ao me ver, amenizou a minha consciência pesada por tê-
la deixado.
— Senhora Eva. — Eu a cumprimentei, com um aceno.
Ela se aproximou e me envolveu em um abraço aconchegante, ao se
afastar, ela me olhou dos pés à cabeça e sorriu.
— Eu sabia que você ia conseguir, Noah. — Ela diz, e toca o pingente
do meu cordão com a ponta do dedo e sorri mais ainda. — Você é jovem,
generosa e tem um bom coração. Isso é o que há de maior em você, a sua
grandeza em querer ser forte e passar por cima desse obstáculo a trouxe onde
você está hoje. E você está onde exatamente deveria estar, minha menina, eu
estou muito feliz por você.
— Obrigada — murmuro, colocando a minha mão por cima da dela e
a afagando. — Quando eu achei que seria difícil estar aqui longe dos meus
pais, você me mostrou o quão fácil seria por apenas estar aqui. Você foi a
minha figura materna, Eva, meu ombro amigo quando eu precisei. Jamais
vou conseguir expressar o quanto eu sou grata a senhora por isso.
— Você pode me agradecer dando tudo de si para realizar e viver seus
sonhos. Há alguém que deseja tanto isso quanto eu, você sabe. Não o perca,
querida Noah, você merece toda a felicidade que ele pode te proporcionar.
Engoli em seco e assenti.
Eu nunca quero perder Saint, nunca.
No último dia do festival, as coisas estavam ainda melhores que o
primeiro e o segundo. No segundo dia o público chamava por nossos nomes,
o uivo de empolgação deles era contagiante.
E agora, no terceiro e último dia eles cantavam nossas músicas. Sim,
nossas músicas! Não era as músicas cover do Oasis, Guns ou Aerosmith que
eles estavam cantando. Eles estavam cantando uma música da
Metamorphosis. Tudo o que eu ouvia, tirando nossos próprios instrumentos
agora tocando nos alto-falantes mais poderosos disponíveis, era aquele grito
louco da multidão durante o coro de uma das músicas que eu escrevi para
Noah.
O fim do Fun Fun Fun Fest marcou o início dos preparativos do dia
de ação de graças que é amanhã. Eu voei do Texas direto para o Oregon, meu
plano estava arquitetado com a ajuda de Dora e desde quando cheguei há dois
dias, eu tenho estado apreensivo. Mas nada se comparava a minha apreensão
agora, horas antes de embarcarmos com destino a Miami.
— Saint, você vai me dar uma Barbie nova? — Loren pergunta me
chamando.
— Outra? Eu trouxe uma Barbie nova para você há dois dias! —
informo.
— Mas eu também quero outra, nós podemos sair com a tia Noah
para comprar e tomar sorvete? — Ela insiste.
Reviro meus olhos jogando a minha cabeça para trás no sofá. Eu não
conseguia negar nada para Loren, piora quando ela usa Noah no meio.
Gostaria muito de saber se Noah compactua com isso.
— Tudo bem, apenas uma — digo, dando-me por vencido.
— Eba, eu vou ter uma Barbie nova. — Ela comemora pulando no
sofá.
— Mãe, a Loren está pulando no sofá. — Eu grito, chamando por
Dora.
— Saint, eu fico satisfeito por você estar chamando Dora de mãe,
esperei muito por isso. Mas estou começando a ficar arrependido, você não
tem calado a sua boca e não para de chamá-la. Desde quando virou um
bebezão? — Meu pai resmunga, fazendo tanto eu, quando Dora rirmos.
— Mãe, vai deixar ele falar isso de mim? — pergunto, olhando para
Dora.
— George, não fale assim. — Ela retruca.
Meu pai resmunga baixo e joga o jornal que estava lendo em minha
direção.
— Toda vez que você a chama de mãe, você a tem na palma da mão.
Isso é golpe baixo, Saint! Eu que resolvi tudo e não recebi nem um pedaço da
torta que ela fez para você, a atenção tem sido toda para você!
Agora meu pai estava realmente conseguindo me deixar com a
consciência pesada. Dora e Loren estão a minha volta o tempo todo, enquanto
meu pai trabalhava nós íamos às compras e nos divertíamos sem ele.
— Pai, amanhã seu problema será resolvido — garanto, sabendo que
falta pouco para estar com Noah novamente.
Seus pais são os únicos que sabiam sobre a nossa vinda para Miami.
Dora queria que eles fossem para o Oregon, mas isso estragaria a surpresa
para Noah.
Quando chegamos em Miami, o carro que meu pai alugou já estava a
nossa espera. Noah morava em Midtown, uma das áreas de Miami que ainda
estava em crescimento e afastada das regiões centrais da cidade. A cidade era
realmente pequena se comparando a Nova York, prova disso foi a
superlotação dos hotéis e foi preciso a ajuda de Grace para alugarmos uma
casa mobiliada por um final de semana.
Nós seguimos a viagem até o endereço que Grace havia nos enviado,
ao invés de nos enviar o endereço da casa em que ficaríamos, ela nos enviou
o endereço da própria casa.
Eu fui o primeiro a sair do carro, meus pés caminharam apressados
até a porta e quando dei por mim, já estava com o dedo na campainha.
— Dezesseis, dezessete, dezoito... — Eu contava baixinho os
segundos, até que a porta foi aberta e minha conta foi interrompida.
— Saint? — Noah indaga perplexa.
— Oi, bailarina — murmuro.
Ela me deu um sorriso e pulou em meu colo, precisei me segurar no
batente da porta com uma das mãos, enquanto a outra eu circundava em sua
cintura. Eu não estava esperando por essa reação, mas essa simplesmente
superava a reação que eu imaginava que ela teria.
Solto minha mão do batente da porta quando me equilíbrio e abraço a
cintura de Noah com as duas mãos. Ela envolve meu pescoço com as duas
mãos e me beija uma, duas, três vezes, e eu retribuo todas elas.
— Barbie! — Loren grita, atrapalhando nosso momento.
Noah afasta seus lábios dos meus, solto um grunhido em protesto e a
coloco no chão novamente. Meus pais de longe nos observavam, enquanto
Loren corria em nossa direção.
— Ei, pequena! — Noah exclama, abrindo os braços para receber
Loren, que se atira neles, mas quando Noah vai beijar seu rosto ela se afasta.
— Você acabou de beijar meu irmão, isso é nojento. — Loren
resmunga.
Noah tenta segurar o riso, mas quando me olha e percebe que eu estou
tentando fazer o mesmo, ela explode em uma gargalhada.
— Loren, adultos fazem isso o tempo todo. Um dia você irá ser uma
adulta que fará o mesmo. — Noah diz.
— Eu vou? — Loren pergunta, torcendo os lábios.
— Mas não vai mesmo! — retruco.
Noah revira os olhos e me encara.
— Saint, você acha que ela vai ser criança para sempre?!
— Não acho, mas ela não vai fazer isso enquanto eu estiver por perto.
— Quero nem imaginar quando você tiver filhos. — Ela resmunga.
— Dá para não pensarmos nisso agora? — pergunto, passando a
minha mão no cabelo.
— Mas já está nervoso? — Ela provoca, sorrindo.
Encolho meus ombros e enfio minhas mãos nos bolsos da minha calça
jeans.
— Noah! — Grace a chama distante.
— Agora eu entendi o motivo da minha mãe estar eufórica — Noah
diz, e acena para meus pais que de longe nos observava. — Venham, vamos
entrar. E você, mocinha, eu tenho algo para você!
Ela olha para Loren e as duas trocam um sorriso cúmplice.
— Uma Barbie? — Ela pergunta eufórica.
— Noah, você e Saint mimam demais essa menina. — Dora nos
repreende ao nos aproximar.
— É bom vê-la também, Dora. — Noah retruca, a abraçando em
seguida. Quando as duas desfazem o abraço ela olha para o meu pai, com um
leve sorriso provocativo no rosto. — Saiu do Oregon para perder uma longa
partida de xadrez em Miami? — Ela indaga.
— Eu precisava vir atrás da única oponente ao meu nível. — Ele
retruca de volta, dando-lhe uma piscadela.
— Espere até jogar com o meu pai. — Ela o desafia.
E se eu fosse ela, não teria feito isso.
— Eu vou adorar jogar com ele. — Meu pai diz, trocando um olhar
desafiador com ela.
— Agora entrem, minha mãe está fazendo uma enorme bagunça na
cozinha. — Ela informa, nos dando passagem para entrar na casa.
Ao colocar os pés dentro da casa, soube de onde vinha a apreciação
de Grace por madeiras, estava explicado o porquê ela gostava tanto de
decorações com madeira. A casa apesar de pequena, tem acabamento de
marcenaria feito de madeira original por toda a parte. É uma das mais
compactas no estilo vitoriano que eu já vi, onde há uma cozinha com vista
externa, uma área de jantar e uma sala pequena, mas aconchegante. Os
quartos provavelmente ficam no segundo andar.
— Dora! Que bom que vieram. — Grace diz animada, ao nos ver em
sua casa. — Eu estou feliz por vocês terem vindo.
Quando Noah disse que a cozinha estava uma enorme bagunça, ela
não estava brincando. Ingredientes para preparar salada e peru ocupavam a
pequena bancada da cozinha.
— Se dependesse de um certo alguém, estaríamos aqui há dois dias.
— Dora murmura, me olhando. — No que eu posso ajudar vocês?
— Eu agradeço a sua gentileza, Dora, mas já estávamos terminando.
Além do mais, vocês acabaram de chegar de viagem e devem estar cansados.
Noah irá levá-los até a casa onde vocês irão ficar. — Grace responde.
Dora balança a cabeça negativamente e olha para Noah.
— Dê-me isso. — Ela diz, apontando para o avental que eu nem havia
percebido em Noah.
— Dora...
— Sem mais argumentos, eu estava animada para estar aqui. Grace,
me diga o que precisa ser feito. — Dora interrompe Grace e olha para mim e
Noah. — Há uma lista na bolsa que eu deixei no carro. Vão ao mercado e
tragam tudo que está lá.
Grace sorriu atrás de Dora ao entender o que estava acontecendo e
não contestou mais sobre a ajuda de Dora.
Fazia dois anos que não passávamos o dia de ação de graças em
família, na verdade, não passávamos nenhuma data festiva juntos há um
longo tempo. Eu sempre dava meu jeito de escapulir para a casa do tio Paul
na adolescência, para Dora sempre foi ela, meu pai e Loren. E agora, somos o
dobro.
“Então você não poderia criar coisas novas.
Simplesmente dizendo: Eu te amo.”
MORE THAN WORDS – EXTREME
[←1]
Demi significa METADE. É usado em alguns passos de ballet quando nos referimos a
uma versão menor de um mesmo passo.
[←2]
Como o nome já diz ele é maior, grande! Uma flexão de joelhos mais profunda. Neste
caso, o calcanhar pode sair, levemente, do chão. Mas não pode subir no máximo da sua meia
ponta.
[←3]
Espacate, espargata ou espagata (do italiano spaccata) é um movimento ginástico que
consiste em abrir as pernas de modo que estas formem um ângulo de 180° e fiquem paralelas ao
solo.
[←4]
Arabesque indica uma posição do corpo onde o dançarino fica apoiado em uma das
pernas, enquanto a outra perna se estende por trás do corpo, com os joelhos esticados.
[←5]
Da fazenda para a mesa.
[←6]
Groupie é uma pessoa que busca intimidade emocional e/ou sexual com um músico.
[←7]
Tutu italiano: é uma sobreposição de saias curtas e rígidas, em forma de pétalas ao redor
do quadril do bailarino e deixando expostas as pernas.
[←8]
Monstrinha do papai.
[←9]
Por que tão séria meu amor?
[←10]
Satine, personagem de Nicole Kidman em Moulin.
[←11]
Me recuso a cair.
[←12]
Rodar. Pequenos "tours", em geral feitos em séries, em que o bailarino executa pequenas
voltas, transferindo o peso do corpo de uma perna para outra.
[←13]
As Tendinopatias são lesões dos tendões originárias de esforços repetitivos e constantes,
que acabam por desgastar os tendões e fazer esses perderem sua capacidade de resistir à tração
adequadamente. Mais conhecido como tendinite.
[←14]
O Fun Fun Fun Fest é um festival de música e comédia que ocorre em Austin nos Estados
Unidos, durante três dias.
[←15]
Groupie é um termo em inglês utilizado para caracterizar jovens mulheres que admiram
um cantor, de música pop ou rock, seguindo-o em suas viagens, em busca de um envolvimento
emocional ou sexual com o seu ídolo.
[←16]
São os técnicos ou pessoal de apoio que viajam com uma banda em turnê.
[←17]
Um passo saltado onde o pé que trabalha desliza da quinta posição na posição escolhida,
com o outro pé fechado.
[←18]
Um passo saltitante onde o dançarino empurra uma perna para cima e para fora para a
frente, lado ou trás, no mesmo tempo saltando com a outra, e trazendo as duas pernas juntas no
ar antes de aterrissarem.
[←19]
Tempo ligado. Sequência de movimentos que se ligam suavemente uns aos outros.
[←20]
Volta, giro do corpo.
Table of Contents
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
CapítulO 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Epílogo
Agradecimentos