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GESTÃO DE

ORGANIZAÇÕES
EDUCACIONAIS

Pablo Rodrigo Bes


Políticas públicas
na educação
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Conceituar política pública na educação.


 Contextualizar as políticas educacionais do século XXI.
 Identificar as políticas públicas para a educação na contemporaneidade.

Introdução
A construção de uma política pública para a educação surge a partir de
demandas sociais, mas é influenciada por diferentes interesses, tanto
nacionais como internacionais. As ações do Estado relativas à educação
se realizam por meio de políticas públicas, que normalmente chegam
às instituições de ensino por meio de legislação, normas e programas
implantados pelo Ministério da Educação. Este, por sua vez é representado
por secretarias e órgãos de apoio.
Neste capítulo, você vai aprender sobre o conceito de política pública
educacional e vai conhecer as políticas públicas educacionais contem-
porâneas e o contexto que as envolve.

Conceitos fundamentais
Antes de conceituar uma política pública educacional, é importante conhecer
a origem de uma política pública. Uma política pública surge para atender a
uma política social, visando cumprir com alguma ação do Estado e as suas
atribuições perante a sociedade. Em essência, é ponto fundamental de toda
política pública atingir uma finalidade da coletividade.
Dessa forma, para administrar ou realizar a gestão do País em todas as
áreas, a União cria ações, planos e programas que visam conduzir os segmentos
2 Políticas públicas na educação

que estruturam e organizam o país. Uma dessas áreas é a educação. Souza


(2003, p. 13), conceitua políticas públicas como:

Campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em


ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário,
propor mudanças no rumo ou curso dessas ações e ou entender por que e como
as ações tomaram certo rumo em lugar de outro (variável dependente). Em
outras palavras, o processo de formulação de política pública é aquele através
do qual os governos traduzem seus propósitos em programas e ações, que
produzirão resultados ou as mudanças desejadas no mundo real.

Assim, as políticas públicas se alinham com os movimentos realizados pelos


governos na condução das nações ao alcance dos seus objetivos previamente
planejados, devendo ser acompanhadas, monitoradas e corrigidas sempre que se
fizer necessário pelos gestores públicos que as implementam. É importante destacar
que, embora os responsáveis pela elaboração de políticas públicas sejam aqueles
que detêm o poder público, costumam ser aceitas demandas de várias origens a
serem incluídas na agenda de discussões, como as provenientes de movimentos
sociais e culturais diversos, organizações da sociedade civil, empresas, conselhos
de classe, sindicatos, organizações não governamentais, entre outros.
De acordo com Howlett, Ramesh e Perl (2013), as políticas públicas costu-
mam apresentar um ciclo em sua elaboração, conforme a Figura 1.

Figura 1. Ciclo de formulação de uma política pública.


Fonte: Adaptada de Howlett, Ramesh e Perl (2013).
Políticas públicas na educação 3

Quando as políticas públicas do governo se relacionam com o campo


da educação, passam a ser denominadas de forma mais restrita, pois “[...]
entende-se por políticas públicas educacionais aquelas que regulam e orientam
os sistemas de ensino, instituindo a educação escolar” (OLIVEIRA, 2010,
p. 99). Logo, para que possamos nos apropriar da forma como o sistema de
ensino é organizado e regulado, e conhecer as orientações referentes ao setor
educacional, basta que passemos a conhecer as políticas públicas educacionais
vigentes na atualidade. Almeida, Neves e Santos (2013) alertam, porém, que
o campo das políticas educacionais é extremamente amplo, pois envolve as
questões de estruturação curricular, financeira, de avaliações, formação e
capacitação docente, educação inclusiva, etc.
Convém salientar que as políticas públicas educacionais brasileiras seguem
os preceitos existentes na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Ba-
ses da Educação Nacional (LDB), vigente e atualizada até a data de escrita
deste conteúdo. Essas políticas educacionais são formuladas pelos órgãos da
administração direta do Ministério da Educação, como as várias secretarias
existentes: Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, Secretaria de
Modalidades Especializadas de Educação, Secretaria de Educação Básica,
Secretaria de Alfabetização, Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação
Superior e Secretaria de Educação Superior. Complementando a estrutura de
subordinação direta, temos o Instituto Nacional de Educação de Surdos e o
Instituto Benjamim Constant. Da mesma forma, também podem ser formuladas
a partir de órgãos da administração indireta, com destaque para o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e a Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Bowe e Ball (1992) indicam três contextos utilizados para que possamos
realizar o estudo e a análise de políticas públicas educacionais:

1. contexto de influência;
2. contexto da produção de textos;
3. contexto da prática.

O contexto de influência representa o momento em que ocorre a luta pelas


demandas sociais que serão inseridas na agenda de discussões políticas que
poderão vir a ser implementadas. É nessa etapa que “[...] as partes interessadas
disputam a definição e propósitos sociais da educação. Envolvem grupos
que influenciam o governo, mas não são eles que determinam diretamente a
política” (BOWE; BALL, 1992, p. 19). Dessa forma, precisamos entender as
4 Políticas públicas na educação

inúmeras movimentações sociais que geraram demandas, envolvendo grupos


sociais com os seus interesses diversos.
Mainardes (2006, p. 51) complementa que “[...] atuam nesse contexto as
redes sociais dentro e em torno de partidos políticos, do governo e do processo
legislativo. É também nesse contexto que os conceitos adquirem legitimidade
e formam um discurso de base para a política”. As proposições dos organismos
multilaterais também farão parte desse contexto, pois se articulam em torno
da esfera educacional, como o Banco Mundial, a Organização das Nações
Unidas (ONU), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (UNESCO), a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE), o Fundo Monetário Internacional (FMI), entre outros.
O contexto da produção de textos se preocupa com as narrativas que se
encontram presentes nos documentos oficiais, com a respectiva análise dis-
cursiva. Shiroma, Campos e Garcia (2005, p. 434) esclarecem que esses textos
costumam apresentar algumas características específicas, como a articulação
com a linguagem do público em geral. Eles acrescentam ainda que a narrativa
desses documentos é caracterizada “[...] pelo populismo, senso comum e apelo
à razão política” (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2005, p. 434). Podemos
exemplificar essa citação analisando as propagandas televisivas que foram
veiculadas na mídia a respeito da Base Nacional Comum Curricular, que
procuraram utilizar linguagem simples, objetiva e coloquial, aproximando-se
assim do entendimento do grande público.
O contexto da prática vai analisar como se dá a implementação da política
educacional que foi inicialmente demandada, produzida nos aspectos textuais
e agora será de fato aplicada, abrindo a possibilidade para reinterpretações por
parte daqueles aos quais a política educacional foi direcionada. Pode acontecer
de uma política ter apresentado uma demanda legítima e um texto bem escrito,
mas carregado de ideologias e abstrações que dificultam que seja posto em
prática. Mainardes (2006, p. 53) destaca o papel dos profissionais da educação
dentro desse contexto da prática, uma vez que “[...] os professores e demais
profissionais exercem um papel ativo no processo de interpretação e reinter-
pretação das políticas educacionais e, dessa forma, o que eles pensam e no que
acreditam têm implicações para o processo de implementação das políticas”.
Como você pode observar, as políticas públicas educacionais apresentam um
ciclo para a sua construção, que envolve um jogo de poder entre os múltiplos
interessados na área da educação brasileira. Dessa forma, ao produzir uma
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política pública legítima para a sua área, o Ministério da Educação procura


atender e contemplar as variadas maneiras como se entende a educação e os
seus objetivos.

As políticas públicas educacionais regulam e organizam as atividades do setor da


educação pertinentes a todo o sistema educacional brasileiro. Isso compreende as
instituições escolares públicas e particulares, da educação básica à educação superior,
que se encontram espalhadas por todo o território nacional.

Contexto das políticas públicas


educacionais do século XXI
O sistema educacional brasileiro tem sido organizado, orientado e regulado a
partir das políticas públicas educacionais que são produzidas pelo Ministério
da Educação e os seus órgãos de apoio. Essas políticas, por sua vez, são dire-
tamente impactadas pelo contexto em que se encontra o país. Por essa razão,
tendem a modificar-se historicamente, acompanhando as reconfigurações da
sociedade. Para que possamos analisar as políticas públicas educacionais que
se fazem presentes no século XXI, precisamos compreender quais aspectos
determinaram a sua elaboração e implementação.

Os contextos que envolvem a elaboração de políticas públicas educacionais são os


seguintes:
 históricos;
 econômicos;
 políticos;
 culturais.
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O Brasil vivenciou um importante momento de redemocratização, com


o fim da ditadura militar e a eleição indireta de um presidente civil, em
1985. Com a Constituição de 1988, o contexto histórico se alterou signi-
ficativamente, e as políticas educacionais acompanharam esse momento,
sendo acrescidos os conceitos de cidadania, democracia, inclusão, entre
outros. Isso inaugurou uma nova agenda sobre “[...] as questões sobre
organização institucional, em termos de: descentralização, participação,
transparência e redefinição da relação público-privado nas políticas” (LE-
MES, 2016, p. 1.619).
No final dos anos 1990, o mundo presenciou a expansão máxima do ca-
pitalismo e o advento da globalização, que, impulsionada pelas tecnologias
de informação e comunicação digitais, acabou alterando as formas como
as pessoas vivem, interagem e relacionam-se entre si e com o mundo do
trabalho. Segundo Libâneo, Oliveira e Toschi (2012), nessa mesma época,
o mundo entrou na fase do capitalismo concorrencial global, caracterizada
pela Terceira Revolução Industrial e pela ascensão do neoliberalismo de
mercado.
A Terceira Revolução Industrial é caracterizada pelas inovações tecnológi-
cas que propiciaram grandes avanços nas comunicações e no compartilhamento
de informações em rede. Fazem parte dos inventos dessa era os satélites, os
computadores pessoais, a internet, os jogos eletrônicos e demais aparelhos
que fazem parte da tecnologia digital, como smartphones, tablets, GPS, entre
outros. Com essa revolução, ocorreu também a compressão do espaço-tempo,
que caracteriza a época pós-moderna: o mundo se tornou plano, pois hoje
podemos nos comunicar em tempo real com qualquer lugar do planeta, sem
precisarmos nos deslocar no espaço. Antes da tecnologia de comunicação
digital, precisaríamos nos deslocar durante certo tempo e percorrer as distâncias
físicas existentes para conseguir executar essa mesma ação.
Aranha (2004, p. 234) acrescenta que “[...] no âmbito dos negócios, essas
facilidades desencadeiam a globalização da economia. O fortalecimento das
multinacionais, por sua vez, paulatinamente enfraquece a capacidade de os
Estados nacionais interferirem na gestão dos negócios”. Com a globalização,
os Estados se veem obrigados a diminuir as suas regulações, permitindo
que o capitalismo se expanda e possa projetar-se ao seu máximo, buscando
construir a sua aldeia global.
Políticas públicas na educação 7

É importante enfatizar que o processo de expansão e consolidação do neoliberalismo,


que representa hoje a racionalidade dominante no mundo atual, segue a lógica de que
a educação — assim como todas as demais áreas — deve ser regulada pelo mercado,
ou seja, existe a conversão de todas as estruturas em empresas, incluindo as escolas.
Cabe ao Estado somente amparar aqueles que se encontram muito marginalizados e
vulneráveis e promover a todos que desenvolvam as suas competências e habilidades
para viver em sociedade e conseguir ter renda, consumir e, assim, ter “qualidade de vida”.
Dentro dessa racionalidade neoliberal, a educação deve impulsionar o investimento em
si mesmo: cada estudante deve aprender a ser um empresário de si, sendo o principal
responsável pelo seu sucesso no mercado de trabalho.

A educação no século XXI serve como base para diferenciar as pessoas,


permitindo que aqueles que possuam melhor formação tenham vantagens
no mercado de trabalho, concorrendo a um maior número de vagas e tendo a
possibilidade de alavancar maiores salários. Porém, as mazelas sociais desse
mesmo período fazem com que essa educação, embora represente ajuda signi-
ficativa nesses aspectos, não garanta um emprego fixo ou um salário aceitável.
Todavia, dentro da lógica empresarial e concorrencial que pauta o pensamento
neoliberal, ter qualificação profissional se traduz em diferencial competitivo.
Os aspectos econômicos também afetam diretamente a elaboração e imple-
mentação das políticas públicas. Partindo da premissa da economia de que os
recursos são escassos, cabe ao gestor público planejar como serão financiadas
as ações e os programas educacionais — muitas vezes é necessário fazer
escolhas em termos de focalização para esse setor. A educação no século XXI
tem sido associada diretamente ao desenvolvimento econômico das nações,
o que destaca a importância e o caráter prospectivo das políticas públicas
educacionais para o país.
O Brasil segue na atualidade a busca pelo cumprimento dos compromissos
assumidos a partir da década de 1990. Acompanhando a tendência mundial, o
país participou nesse período da Conferência Mundial da Educação para Todos,
em Jomtien, na Tailândia, demonstrando preocupação em modernizar o seu
sistema educacional. A Declaração de Jomtien (1990) reforçou a importância
do investimento na Educação Básica, buscando a sobrevivência, o desenvolvi-
mento pleno das capacidades, vida e trabalho dignos, a melhoria na qualidade
8 Políticas públicas na educação

de vida, a possibilidade de tomar decisões informadas e a possibilidade de


continuar aprendendo ao longo da vida. Essas ideias se encontram muito
presentes nas políticas públicas educacionais contemporâneas.
Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional organizou e
promoveu a Educação Básica e Superior. Na década de 1990, surgiram também
os Parâmetros Curriculares Nacionais, visando orientar a formulação dos
currículos brasileiros extensivos a todas as escolas do sistema educacional.
Mais recentemente, neste século XXI, tivemos a construção da Base Nacional
Comum Curricular, com a finalidade de desenvolver as competências essenciais
necessárias para que todos possam ter acesso aos mesmos conhecimentos
científicos na escola e, dessa forma, às mesmas condições de concorrer no
mercado de trabalho.
O contexto político que se faz presente nas políticas públicas educacionais
no século XXI envolve embates entre os posicionamentos ideológicos que com-
põem os movimentos políticos presentes no país e no mundo. Percebemos que
houve uma grande colisão entre as ideias liberais e progressistas, que se fizeram
muito presentes na educação brasileira e que produziram teorias pedagógicas e
inspiraram normas e legislações para a organização do sistema de ensino brasi-
leiro. Desse choque, as ideias neoliberais acabaram prevalecendo na atualidade,
evidenciando ainda mais um modelo de escola que tende a desconectar-se um
pouco mais das discussões acerca do social e das obrigações do Estado para
a lógica do investimento na educação como capital humano. Ao se referir ao
contexto econômico atual, Lemes (2016, p. 1.623) comenta:

Hoje o Brasil vive um momento de grande dificuldade econômica e políti-


ca, salvo análise com maior profundidade de argumentação, por conta dos
conflitos políticos institucionais, partidários e programáticos, originários
nas matrizes cognitivas e normativas existentes no âmbito da sociedade bra-
sileira e da estrutura partidária que compõe o poder político. Essa situação
notadamente fragilizou esse poder político nos diferentes níveis da estrutura
federalizada do país, afetando de maneira significativa a interlocução local
enquanto instrumentos de regulação nesse segmento.

Cabe esclarecer que, quando comentamos sobre o contexto político, en-


tendemos que ele vai além das questões político-partidárias, pois envolve
os movimentos sociais de grupos organizados na luta por direitos comuns.
Nas políticas educacionais, temos vários exemplos dessa ordem, uma vez
que houve grupos organizados com o objetivo de construir políticas públicas
educacionais inclusivas (negros, índios, pessoas com deficiência) em ambos
os níveis da educação.
Políticas públicas na educação 9

Os aspectos culturais também merecem destaque nas políticas públicas


educacionais do século XXI. Percebemos uma luta de forças entre grupos que
pretendem representar o aspecto da cultura hegemônica da sociedade, repre-
sentando o poder de algum grupo específico que, a partir de sua articulação,
consegue impor o seu modelo educacional, e grupos que entendem que todas
as culturas são importantes e devem ser contempladas em busca de equidade
e justiça social. O Brasil, anteriormente à Constituição de 1988, acabou por
reproduzir uma ideia de cultura eurocêntrica (branca, heterossexual, masculina
e cristã). Após o período de democratização brasileira, começaram a ser dis-
cutidas as primeiras políticas em busca de reconhecimento cultural de alguns
grupos historicamente segregados; a partir de então, as políticas educacionais
começaram a envolver os conceitos de multiculturalismo e diversidade cultural.
Como você pode perceber, as políticas públicas educacionais acabam sendo
perpassadas pelos aspectos históricos, econômicos, políticos e culturais. Cabe a
nós, como profissionais da educação, nos engajarmos em grupos que se alinhem
com a nossa maneira de pensar e defender as nossas ideias pedagógicas, para
que a educação possa continuar tendo a força de modificar a vida das pessoas
a partir do desenvolvimento da sua capacidade crítica e da sua autonomia.

Quando nos referimos ao termo “globalização”, devemos entender que esta foi muito
além das mudanças ocasionadas nas esferas da economia, com a união de nações
em blocos econômicos, quebra de barreiras alfandegárias e melhores condições de
comércio mundiais. A globalização também buscou homogeneizar as culturas mundiais,
visando instituir como regras o empreendedorismo, a flexibilidade, a inovação, o
empresariamento de si e o consumo.

Políticas públicas educacionais contemporâneas


As políticas públicas educacionais contemporâneas foram incrementadas a
partir do período de redemocratização brasileira, na década de 1980, e princi-
palmente impulsionadas após a Constituição Federal de 1988. A Constituição
Federal, no art. 205, determina que “A educação, direito de todos e dever
do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Para cumprir com
10 Políticas públicas na educação

os objetivos constitucionais propostos para a educação e ainda contemplar as


exigências internacionais em prol da satisfação das necessidades básicas de
aprendizagem, da universalização do acesso e da melhoria de qualidade na
aprendizagem, o Brasil entrou numa nova fase ao constituir as suas políticas
educacionais contemporâneas. Essas políticas públicas educacionais tanto vão
se dedicar à organização e normatização curricular quanto ao planejamento
geral do sistema educacional, ou ainda ao seu processo de avaliação e finan-
ciamento da educação.
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são normas que têm caráter
obrigatório para a educação básica e visam orientar a forma como o currículo
das escolas deve ser planejado em todo o sistema educacional brasileiro. Fi-
xadas pelo Conselho Nacional de Educação, atendem ao que determina a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, que cita em seu art. 9,
inciso IV, ser de incumbência da União “[...] estabelecer, em colaboração com
os Estados, Distrito Federal e os Municípios, competências e Diretrizes para
a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão
os currículos e os seus conteúdos mínimos de modo a assegurar a formação
básica comum” (BRASIL, 1996, documento on-line).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) tiveram a sua escrita
iniciada pelo Ministério da Educação em 1995, sendo concluídos em 1997.
Procuraram focar as quatro primeiras séries do ensino fundamental da época,
constituindo-se como referências à equipe pedagógica das escolas para a
elaboração dos currículos e projetos pedagógicos das instituições, não tendo
caráter obrigatório e normativo. Durante o processo de elaboração dos PCNs,
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 foi homologada,
passando a organizar o sistema educacional brasileiro desde então. Os PCNs
foram organizados a partir de áreas de conhecimento, apresentando objetivos
para elas, seguidos da apresentação dos blocos de conteúdo, dos critérios de
avaliação e finalizando com as “[...] orientações didáticas, que são subsídios
à reflexão sobre como ensinar” (BRASIL, 1997, p. 61). É importante esclare-
cer que os PCNs na atualidade deixaram de cumprir a sua função, uma vez
que somente apresentavam sugestões e foram substituídos pelas prescrições
obrigatórias da Base Nacional Comum Curricular.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) se propõe, segundo as
suas palavras introdutórias, a ser “[...] um documento de caráter normativo
que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais
que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da
Educação Básica.” (BRASIL, 2018a, p. 7). Em essência, ela norteia aquilo que
será ensinado aos alunos na educação básica. A BNCC, de caráter normativo
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para a educação escolar, vem ao encontro do que é requerido no Plano Nacional


de Educação 2014–2024 (PNE) e nas Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Básica.
O PNE tem caráter decenal e, com a Emenda Constitucional nº 59/2009,
deixou de ser uma disposição transitória da LDB e passou a ser uma exigência
constitucional. Esse Plano é o segundo a ser realizado no formato decenal — o
primeiro teve vigência de 2001 a 2010. O PNE atual apresenta 20 metas que
envolvem todos os níveis e modalidades educacionais, estratégias a serem
implementadas para atingir tais metas e recursos que deverão ser utilizados.
Ambos contaram com o envolvimento da sociedade na sua construção e
monitoramento.
Esse instrumento vem a articular o sistema nacional de educação, apre-
sentando inclusive o percentual do produto interno bruto (PIB) para o finan-
ciamento das suas ações em busca do atendimento das suas 20 metas. Estas
envolvem a garantia do direito a educação básica de qualidade, redução das
desigualdades e valorização da diversidade, bem como valorização dos pro-
fissionais da educação e desenvolvimento da educação superior.
As políticas públicas educacionais voltadas para a avaliação foram cons-
truídas para que o Ministério da Educação possa monitorar, analisar e avaliar
as políticas educacionais que se encontram implementadas. Para medir com
maior eficiência o rendimento escolar, essas políticas avaliativas costumam
considerar três esferas: a aprendizagem dos estudantes, as instituições de
ensino e o próprio sistema escolar. Para isso, o Ministério da Educação vale-
-se das ações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), que
aplica a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), a Prova Brasil, o Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Exame Nacional para Certificação
de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), bem como o Exame Na-
cional da Avaliação do Estudante (ENADE) para a educação superior. Sobre
a importância da avaliação, o Ministério da Educação destaca:

[...] o desafio não está somente em desenvolver metodologias de avaliação para


a educação básica e para o ensino médio em particular, mas como se podem
tornar coerentes objetivos e metodologias. Afinal de contas, a avaliação do
desempenho do aluno contribui para a política educacional constituindo-se
em um componente da avaliação dos sistemas de ensino (BRASIL, 2018b,
documento on-line).

As políticas públicas educacionais de financiamento são as responsáveis


pelo repasse de recursos para que a educação possa ser implementada e, assim,
venha a atender os objetivos do sistema educacional brasileiro. Encarrega-se
12 Políticas públicas na educação

de tais políticas de financiamento “[...] o Fundo Nacional de Desenvolvimento


da Educação (FNDE), autarquia federal criada pela Lei nº 5.537, de 21 de
novembro de 1968, e alterada pelo Decreto–Lei nº 872, de 15 de setembro de
1969, [que] é responsável pela execução de políticas educacionais do Ministério
da Educação (MEC)” (BRASIL, 2017, documento on-line). Para administrar o
financiamento da educação, o FNDE possui atualmente três políticas públicas
principais: o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb) e o Salário-Educação. Por meio dessas políticas públicas de
financiamento da educação, os recursos financeiros necessários às instituições
do sistema de ensino brasileiro permitem que essas instituições persigam as
suas metas em busca de uma educação de qualidade para todos os estudantes.
Existem inúmeras políticas públicas educacionais vigentes na atualidade,
voltadas para a educação básica (educação infantil, ensino fundamental e
ensino médio) e para educação superior, conforme mostra o Quadro 1.

Quadro 1. Políticas públicas educacionais contemporâneas por nível da educação

Alfabetização e qualidade no ensino

 Programa Mais Alfabetização


 Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio
 Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa
 Novo Mais Educação
 Ensino Médio Inovador
 Parlamento Juvenil do Mercosul
EDUCAÇÃO BÁSICA

 ProInfância
 Saúde na Escola
 Atleta na Escola

Formação continuada de professores

 Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa


 ProInfantil
 Plano Nacional de Formação de Professores na Educação Básica (Parfor)
 Proinfo Integrado
 e-Proinfo
 Pró-letramento
 Programa Gestão da Aprendizagem Escolar (GESTAR II)
 Rede Nacional de Formação Continuada de Professores

(Continua)
Políticas públicas na educação 13

(Continuação)

Quadro 1. Políticas públicas educacionais contemporâneas por nível da educação

Livros e materiais para escolas, estudantes e professores

Programa Nacional do Material e do Livro Didático (PNLD)

Tecnologia a serviço da educação básica

 TV Escola
 Portal do Professor
 Salto para o Futuro
 Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE)
 Domínio Público
 Guia de Tecnologias

Apoio à gestão escolar

 Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE)


 Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais (PRADIME)
 Escola de Gestores da Educação Básica
EDUCAÇÃO BÁSICA

 Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares

Infraestrutura

 Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica


(FUNDEB)
 Plano de Ações Articuladas
 Educação Infantil e Quadras Poliesportivas
 Proinfo
 Caminho da Escola
 Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE)
 Programa Nacional de Alimentação Escolar

Avaliações da aprendizagem

 Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)


 Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)
 Prova Brasil
 Provinha Brasil

Prêmios e competições

 Olimpíada Brasileira de Matemática para as Escolas Públicas (OBMEP)


 Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro (OLP)
 Prêmio Professores do Brasil

(Continua)
14 Políticas públicas na educação

(Continuação)

Quadro 1. Políticas públicas educacionais contemporâneas por nível da educação

Avaliação, regulação e supervisão da educação superior

 Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes)


 Cadastro de Instituições e Cursos da Educação Superior (e-MEC)
 Supervisão de Cursos da Educação Superior
 Cartilha da Qualidade da Educação Superior

Reestruturação e expansão das universidades federais

 Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais


(Reuni)
 Programa de Educação Tutorial (PET)
 Programa de Apoio à Extensão Universitária (Proext)
 Acessibilidade na Educação Superior (Programa Incluir)
 Programa Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior (Promisaes)
 Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES)
 Credenciamento de Fundações de Apoio
EDUCAÇÃO SUPERIOR

 Programa Mais Cultura nas Universidades

Bolsas e financiamentos

 Idiomas sem fronteiras


 Programa IES-MEC/BNDES
 Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das
Instituições de Ensino Superior – Proies
 Programa Universidade Para Todos (ProUni)
 Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) 
 Programa Bolsa Permanência

Gestão e expansão para educação em saúde

 Programa Mais Médicos


 Projeto Mais Médicos para o Brasil
 Residências em saúde
 Hospitais Universitários

Programas e convênios internacionais

 Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros


(Celpe-bras)
 Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G)
 Programa de Mobilidade Acadêmica Regional em Cursos Acreditados
(Marca)

Fonte: Adaptado de Ministério da Educação (2018).


Políticas públicas na educação 15

É importante esclarecer que os programas de governo que implementam as


políticas públicas sofrem alteração quando há mudanças de governo — como
as apresentadas no Quadro 1. Assim, algumas são substituídas, outras alteradas
e algumas incluídas sempre que se inicia uma nova gestão.
Por meio da elaboração das políticas públicas educacionais, podemos
perceber o empenho do governo no planejamento, na direção, na organização
e no controle das áreas pertinentes à educação. Busca-se assim a melhoria
dos índices educacionais para acompanhar as tendências internacionais de
países desenvolvidos e atingir as finalidades da educação escolar brasileira.

Para aprofundar os seus conhecimentos sobre as políticas públicas educacionais e


o sistema de ensino brasileiro, acesse o link a seguir e veja um vídeo sobre o tema.

https://goo.gl/LjDNoc

ALMEIDA, M. R.; NEVES, M. Y.; SANTOS, F. A. Implicações das políticas educacionais nas
vivências subjetivas de professoras de escolas públicas. Cadernos de Psicologia Social do
Trabalho, São Paulo, SP, v. 16, n. 2, p. 241-257, 2013. Disponível em: http://www.periodicos.
usp.br/cpst/article/view/77834/81812. Acesso em: 18 mar. 2019.
ARANHA, M, L. A. História da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004.
BOWE, R.; BALL, S. Reforming education and changing schools: case studies in policy
sociology. London: Routledge, 1992.
BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http://www.planalto.
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BRASIL. Ministério da Educação. Avaliação. 2018b. Disponível em: http://portal.mec.
gov.br/observatorio-da-educacao?id=13565. Acesso em: 4 mar. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Bra-
sília: MEC, 2018a. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/
uploads/2018/12/BNCC_19dez2018_site.pdf. Acesso em: 4 mar.
16 Políticas públicas na educação

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Leituras recomendadas
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Plano
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em: http://portal.inep.gov.br/documents/186968/485745/Plano+Nacional+de+Educ
a%C3%A7%C3%A3o+PNE+2014-2024++Linha+de+Base/c2dd0faa-7227-40ee-a520-
12c6fc77700f?version=1.1. Acesso em: 4 mar. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE). Sobre o Fundeb. 2017. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/financiamento/
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