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História

Antiga
Tatiana Boulhosa

E-book 1
E-book Da pedra à invenção
1 da escrita

Neste E-book:
Introdução���������������������������������������������������� 3
O processo de hominização������������������� 4
Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada����������������5
A Revolução Neolítica�����������������������������������������8

As primeiras civilizações������������������������12
Mesopotâmia���������������������������������������������������14
Sumérios e Arcádios�����������������������������������������16
Amoritas�����������������������������������������������������������17
Caldeus������������������������������������������������������������19
Assírios������������������������������������������������������������20

Religião na Mesopotâmia Antiga������� 23


A economia da Mesopotâmia antiga�����������������26

Considerações finais������������������������������30
Síntese����������������������������������������������������������31

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INTRODUÇÃO
A História se inicia com a invenção da escrita, ao
redor do ano 4 mil a.C. Os primeiro primatas de que
se têm notícias e que estariam ligados aos seres
humanos surgiram há cerca de 13 milhões de anos.
Verificamos, então, que existe um longo período não
abrangido por aquilo que chamamos de História.
O que será que aconteceu com os seres humanos
durante esses 13 milhões de anos? Como eles vi-
viam? Como se organizavam? De que maneira re-
gistravam suas crenças, seu cotidiano e suas aspi-
rações? Como podemos acessar esses povos e o
que aprendemos com eles? Nessa primeira unidade,
vamos percorrer esse caminho, desde o surgimento
da humanidade até o momento em que passamos
a nos utilizar da escrita, refletindo um pouco sobre
o tamanho das conquistas de nossos ancestrais, às
vezes, tão esquecidas.

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O PROCESSO DE
HOMINIZAÇÃO

Figura 1: O processo de hominização.

Os primeiro hominídeos (antepassados dos seres


humanos atuais) tinham a testa fugidia, andavam
curvados, tinham prognatismo (a parte inferior da ar-
cada dentária era projetada para frente) e, na arcada
superciliar (onde se localiza a sobrancelha), havia um
osso desenvolvido, projetado para frente. Desde que
eles apareceram até mais ou menos 30 mil a.C., di-
versos “tipos” de hominídeos andaram sobre a Terra:
desde o australopitecus (“macaco do hemisfério sul”),
passando pelo pithecantropus erectus (“macaco que
andava ereto”) e chegando ao homo faber (“homem
que criava as coisas com a mão”).

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Paleolítico ou Idade da Pedra
Lascada
Esse período, chamado de paleolítico ou Idade da
Pedra Lascada, foi marcado pelo enorme desenvol-
vimento físico, mental e cultural dos antepassados
dos seres humanos. A coluna tornou-se ereta (o que
contribuiu para o bipedismo se tornar a regra), hou-
ve um “esticamento” da arcada superciliar (dando
origem à testa), diminuição do prognatismo (apare-
cimento do queixo), aumento da independência das
mãos e dos dedos, desenvolvimento do aparelho
fonador e considerável aumento da caixa craniana.
Os hominídeos passaram a viver mais na terra, aban-
donando sua vida arborícola. Tornaram-se nômades e
coletores de alimentos; inventara ferramentas como
o coup de poing, a faca e o raspador e começaram
a fabricar o fogo.

REFLITA
Você já parou para pensar que a coluna ereta e
o bipedismo têm ligação direta com a ocupação
do território? Caminhando sobre duas pernas, os
seres humanos liberam suas mãos para carre-
garem objetos (e seus filhotes, dependentes dos
adultos por muito tempo, quando comparamos a
outras espécies animais) e passam a serem ca-
pazes de percorrer maiores distâncias, inclusive
em terrenos mais inóspitos.

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Mudanças provocadas pelo longo
processo de hominização

Desenvolvimento
Aumento da
do aparelho Bipedismo
caixa craniana
fonador

Desenvolvimento Comunicação Melhor observação


das capacidades com o grupo dos acontecimen-
intelectuais tos (facilita a caça
e a localização de
Desenvolvimento predadores)
das habilidades
de previsão, pro- Melhor
jeção e produção deslocamento

Mãos livres para


carregar objetos,
alimentos e
filhotes
Figura 2: Resumo do processo de hominização. Elaborado pela autora.

Foi também durante o paleolítico que surgiu o homo


sapiens primitivo. Os primeiros homo sapiens organi-
zavam-se ao redor do nomadismo e, embora fossem
coletores de alimentos, sua principal atividade era
a caça. Por causa do frio, passaram a usar peles
de animais e o fogo, além de aquecer e cozinhar,
também começou a ser usado como arma. Nessa
época, foram inventados o furador, a agulha, o botão,
o dardo, a anzol, e outras ferramentas feitas com
pedras, ossos, chifres ou marfim.

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Desenvolveu-se também a arte rupestre: pintura,
escultura e gravação em alto e baixo relevo, possi-
velmente com finalidade mágica. Eram feitas com
carvão, terra e até mesmo sangue.

Figura 3: Arte Rupestre nas paredes da Caverna de Magura, na


Bulgária. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_rupestre

SAIBA MAIS
Descobertas pela primeira vez em Altamira, Es-
panha, por Marcellino Sanz de Santuola, no final
do século 19, as pinturas de Arte Rupestre cau-
saram grandes discussões na academia. Muitas
pessoas questionaram sua autenticidade e foi só
no século 20 que elas foram consideradas como
vestígios reais da Pré-História. Na verdade, elas
foram de extrema importância, tanto para conhe-
cermos o período mais remoto de nossos ante-

7
passados quanto para discussão a respeito do
que é História, já que toda nossa compreensão
deriva de uma datação que é Europeia. Essas
discussões vieram porque, com o tempo, pesqui-
sadores passaram a perceber que havia pinturas
como aquelas das cavernas europeias ao redor
de todo o mundo, com datações diferentes. In-
clusive no Brasil. Por aqui, encontramos produ-
ções artísticas de várias “tradições” e grupos.
Algumas delas, inclusive, trazem características
de mais de uma tradição ou grupo. Nosso maior
sítio no país é o Parque Nacional da Serra da Ca-
pivara, no Piauí. Se o tema interessa, sugerimos
a leitura do livro Arte Rupestre no Brasil, de Madu
Gaspar (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003).

Podcast 1

A Revolução Neolítica
A fabricação de instrumentos, o domínio do fogo
e agricultura provavelmente foram três das maio-
res conquistas da humanidade em seu processo de
evolução. Dos três, a agricultura foi o mais tardio e
implicou diretamente na sedentarização, ou seja,
na fixação dos grupos em determinados espaços
geográficos.
As primeiras civilizações agrícolas datam de cerca de
11.000 a.C. O domínio da agricultura, assim como o

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domínio do fogo, provavelmente veio da observação
da natureza. Por séculos, os seres humanos obser-
varam as sementes caírem na terra e brotarem até
que, em algum momento, decidiram-se por coletar
não os frutos, mas as próprias sementes e delimitar,
por seus próprios desejos, os lugares em que essas
sementes deveriam ser enterradas.

Iniciou-se aqui uma das mais significativas revo-


luções da História da Humanidade: a Revolução
Neolítica. A ela está ligada a saída dos seres huma-
nos das longas caminhadas pelas planícies e sua
fixação perto dos rios, em palafitas.

Tornamo-nos agricultores, plantando trigo (de que se


fazia pão), cevada (de que se fazia a cerveja), centeio,
vinha, linho e algodão. Começamos a pastorear, do-
mesticando o boi, o porco e a cabra e construímos
as primeiras embarcações. Fizemos armas de pedra
polida, inventamos a roda e a cerâmica e vimos sur-
gir as primeiras instituições: a família e a proprie-
dade privada, a religião e uma espécie de Estado.
Começamos a alinhar menires e a construiu dolmens
(provavelmente monumentos funerários) e cromlets
(provavelmente observatórios astronômicos).

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Figura 4: Stonehenge: os mais famosos dolmens da pré-história, sua
construção, função e significado são discutidos até hoje por arqueólo-
gos e historiadores. Disponível em: https://pt.freeimages.com/photo/
stonehenge-1546730. Acesso em: 20 jan.19.

Assistimos, assim, ao surgimento da busca pela pre-


servação da cultura.

FIQUE ATENTO
“Cultura é tudo aquilo produzido pela humanida-
de, seja no plano do concreto ou no plano imate-
rial, desde artefatos e objetos até ideias e cren-
ças. Cultura é todo complexo de conhecimentos
e toda habilidade humana empregada socialmen-
te. Além disso, é tudo comportamento aprendido,
de modo independente da questão biológica”.

SILVA, Kalina Venderlei; SILVA, Maciel Henrique.


Dicionário de conceitos históricos. São Paulo:
Contexto, 2005. p. 85

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Período da Pedra Lascada
Paleolítico

Fim do processo de hominização

Nomadismo, coleta e caça

Período da Pedra Polida


Neolítico

Surgimento da agricultura e da pecuária


e desenvolvimento da cerâmica

Surgimento das primeiras instituições:


família, Estado, religião e propriedade
privada
Figura 5: As principais fases da Pré-História. Elaborado pela autora

Podcast 2

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AS PRIMEIRAS
CIVILIZAÇÕES
As primeiras cidades surgiram próximo às margens
dos rios. A água era um fator essencial para a seden-
tarização. Ela permitia aos agrupamentos sobreviver,
plantar e criar seus animais. Com o tempo, a agri-
cultura passou a produzir os primeiros excedentes.
Essa sobra de alimentos precisou ser armazenada
e a cerâmica (que também tem relação íntima com
a água e o domínio do fogo) passou a ser uma pro-
dução importante. Os grãos excedentes eram arma-
zenados em grandes potes de cerâmica e, em algum
momento, esses potes passaram a ser trocados com
agrupamentos vizinhos, por outros produtos que eles
porventura pudessem ter em excesso e que fosse
benéfico ao agrupamento de origem; nasceu, dessa
forma, o comércio.

Uma sociedade que planta, colhe, pastoreia e produz


cerâmica encontra-se frente a frente com o processo
de especialização do trabalho. Se, originalmente,
todos os membros hábeis estavam envolvidos em
todas as produções, com o tempo, alguns passa-
ram a se dedicar exclusivamente a plantar, outros a
pastorear e outros ainda à produção de cerâmicas.
Além disso, tornou-se paulatinamente necessário
proteger as cidades de ataques de grupos vizinhos
– alguns ainda nômades cobiçavam o acesso fácil
à alimentação; outros, já sedentários, buscavam to-

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mar as posses para aumentar sua própria produção.
Com as ameaças, vieram os muros e os soldados,
um grupo especializado em guerra.

Esses diferentes grupos rapidamente perceberam a


necessidade de se encontrar uma liderança mais do
que temporária. Escolheram-se, então, líderes. Essa
escolha nem sempre foi pacífica e, na grande maioria
dos casos, o surgimento desse aparato administrati-
vo e especializado conhecido como Estado passou
pela construção de um discurso que transformava
o líder em uma figura especial. E a particularidade
desse líder, no mais das vezes, estava ligada a outra
instituição que também começou a se especializar:
a religião.

SAIBA MAIS
A História da Urbanização se torna ainda mais
interessante quando observada em imagens e
animação. Se quiser assistir ao crescimento das
cidades, ao longo dos milênios, uma excelente
sugestão é o vídeo The History of Urbanization
(3700 a.C. – 2000 d.C.). Você o encontra em vá-
rios canais do YouTube ou no link: http://metro-
cosm.com/history-of-cities/

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Mesopotâmia
“Mesopotâmia é a palavra de origem grega que sig-
nifica ‘entre rios’. Situada entre o Planalto do Irã e
o deserto da Arábia, era formada pelos rios Tigre e
Eufrates, que nasciam nas montanhas da Armênia e
desaguavam no Golfo Pérsico” (ROSSI, 2009, p.29).
A civilização mesopotâmica se iniciou por volta de
4000 a.C. e chegou ao fim em 539 a.C., quando Ciro,
rei dos Persas, conquistou seu território.

Figura 6: A Mesopotâmia e suas principais cidades-Estado. Disponível


em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mesopot%C3%A2mia. Acesso em:
29 jan.19.

A região está dividida em duas partes distintas: uma


planície fértil ao sul, a Caldeia, e um planalto ao norte,
a Assíria. Trata-se de uma área sem grandes prote-
ções naturais, desse modo, ao longo dos séculos,

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constataram-se invasões sucessivas. Dominaram a
região: ao sul, os sumérios, os arcádios, os amoritas
(primeiros ou paliobabilônios), os caldeus (neoba-
bilônios); e ao norte, os assírios. Formam, portanto,
uma civilização heterogênea, ou seja, de origens
diferentes.

A escrita mesopotâmica

Hoje se acredita ser a mais antiga escrita conhecida.


Também chamada de cuneiforme, a escrita mesopo-
tâmica, foi adotada por outros povos. Foi decifrada
na virada do século 19 para o século 20, por três
estudiosos: Rawlinson, Grotefend e Oppert.região: ao
sul, os sumérios, os arcádios, os amoritas (primeiros
ou paliobabilônios), os caldeus (neobabilônios); e ao
norte, os assírios. Formam, portanto, uma civilização
heterogênea, ou seja, de origens diferentes.

A escrita mesopotâmica

Hoje se acredita ser a mais antiga escrita conhe-


cida. Também chamada de cuneiforme, a escrita
mesopotâmica, foi adotada por outros povos. Foi
decifrada na virada do século 19 para o século 20,
por três estudiosos: Rawlinson, Grotefend e Oppert.

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Figura 7: A escrita cuneiforme

FIQUE ATENTO
A escrita mesopotâmica recebeu o nome de
cuneiforme por conta de seu formato de cunha.
Ela se desenvolveu devido à necessidade dos
povos mesopotâmicos em realizar a contabili-
dade de seus templos. Orginalmente uma escri-
ta ideográfica (ou seja, que representava ideias),
tornou-se fonética (representando os sons) pro-
vavelmente no segundo milênio antes de Cristo,
quando passou a ser utilizada não apenas em
registros contáveis, mas também em textos re-
ligiosos e outros registros ligados ao cotidiano
mesopotâmico.

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Sumérios e Arcádios
Não sabemos suas origens, mas em 3500 a.C., os
sumérios já viviam em cidades independentes umas
das outras, com governos, deuses, leis e costumes
próprios. Essas cidades eram, por essa razão, chama-
das de cidades-Estado. Dentre elas, destacaram-se:
Sumer, Ur, Lagashi, Mipur e Una. Seus chefes eram
chamados de patesi e dentre, outras, suas principais
funções abrangiam o papel de chefe local, adminis-
trador, legislador, juiz, sumo sacerdote/representante
dos deuses na terra e chefe militar.

Essas cidades-Estado brigavam entre si pela hege-


monia política, situação que permitiu que um povo
vindo dos desertos vizinhos, os arcádios, se estabele-
cesse pacificamente e fundasse suas cidades: Arcad,
Babilônia e Kish. Os arcádios adotaram a cultura
sumeriana e acabaram conquistando toda a planície,
por volta de 2300 a.C.

Duzentos anos depois, um patesi chamado Dungi,


chefe da cidade de Ur, unificou as cidades sumeria-
nas e libertou os sumérios do domínio dos arcádios.
Dungi foi também o autor do primeiro código de leis
escritas da humanidade que, por essa razão, ficou
conhecido como Código de Dungi. O Código delegava
à vítima ou à sua família a responsabilidade de levar
o agressor à justiça e estabelecia penas de acordo
com o grupo social a que o agressor pertencia. A
condenação estava baseada no princípio da retalia-
ção das espécies, segundo a qual a agressão deveria

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ser devolvida da mesma forma que fosse aplicada
– a também chamada Pena de Talião.

Figura 8: Entalhe em pedra. Suméria, c. 2000 a.C.

Amoritas
Os amoritas se estabeleceram na região sul da
Mesopotâmia, por volta de 2100 a.C. A cidade da
Babilônia, fundada pelos arcádios, se tornou sua
capital, dando início ao que chamamos de segun-
do estágio da civilização mesopotâmica. Adotaram
as realizações culturais dos povos anteriores, tor-
naram a língua arcádia oficial e Marduk, deus da
Babilônia, passou a ser considerado deus nacional.
Desenvolveram um intenso comércio entre o Oriente e
o Ocidente, aproveitando-se de sua posição geográfi-
ca como passagem obrigatória entre as duas regiões.

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Seu principal rei foi Hamurabi, autor de um código
de leis que leva seu nome (o “Código de Hamurabi”),
elaborado sob a influência do Código de Dungi e que
apresentava leis mais claras. Quase todas as ativida-
des do então Império Babilônico foram regulamen-
tadas. Entre elas estava a manutenção da Pena de
Talião, a garantia por lei da autoridade absoluta do
rei e a oficialização do intervencionismo do Estado,
a partir de leis que regulamentavam o cultivo do solo,
puniam severamente o abandono do campo e o des-
cuido dos canais de irrigação. Estabeleceu-se tam-
bém o serviço militar obrigatório e a obrigatoriedade
da devolução de mulheres e crianças entregues como
pagamento de dívidas, após quatro anos de serviço.

Figura 9: O Código de Lei na Estela do Rei Hamurabi.

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Comparando-se os dois códigos, observamos que
as leis dos amoritas eram mais severas. Para citar
um exemplo: se alguém ajudasse um escravo a fugir,
deveria, pela lei sumeriana, pagar uma indenização
ao dono, e pelo código de Hamurabi, seria punido
com a morte. Se um escravo ou servo discutisse
com seu amo, segundo Dungi, deveria ser vendido,
mas, segundo as leis de Hamurabi, deveria ter suas
orelhas cortadas.

Após a morte de Hamurabi, seus sucessores não


foram capazes de manter seu Império, que caiu nas
mãos dos cassitas, outro povo oriundo das regiões
vizinhas, considerados culturalmente mais atrasado e
que não se interessou pelas realizações culturais da
Mesopotâmia. Contudo, como tudo na História, nem
tudo foram retrocessões. Os cassitas introduziram
os cavalos na Mesopotâmia, o que alterou conside-
ravelmente a configuração das guerras locais.

Caldeus
Os caldeus se estabeleceram na planície e toma-
ram Babilônia como capital. Consideravam-se des-
cendentes dos primeiros babilônios e reviveram os
costumes, leis e cultura dos amoritas, pretendendo
retomar as glórias dos tempos de Hamurabi. Foi o rei
Nabopolassar que, aliando-se ao Rei dos Medas (per-
sas) destruiu o Império Assírio em 612 a.C. O princi-
pal rei dos caldeus, no entanto, foi Nabucodonossor,
que formou o chamado Império Caldeu ao conquis-

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tar a Mesopotâmia, a Fenícia e a Palestina. Trouxe,
nessa ocasião, os hebreus como escravos para a
Mesopotâmia, onde ficaram no chamado Cativeiro
da Babilônia, durante 60 anos, até serem liberta-
dos por Ciro, rei dos Persas. Foi Nabucodonossor
quem embelezou a Babilônia com seus famosos
Jardins Suspensos, considerados uma das Sete
Maravilhas do Mundo Antigo. Depois do governo de
Nabucodonossor, a civilização dos caldeus perdeu
força política e, em 639 a.C., foram conquistados
pelos Persas, comandados por Ciro.

Assírios
Os Assírios chegaram à região da Mesopotâmia
por volta de 3000 a.C. Como a planície já era uma
região ocupada, se estabeleceram na região de pla-
nalto. Nesta região, a qualidade do solo é péssima,
o que desfavorece a agricultura. No entanto, ainda
é possível encontrar pequenas partes favoráveis ao
pastoreio, que se torna o ponto forte do comércio
assírio. Um de seus reis, Assurbanipal, construiu a
nova capital, Nínive, e mandou recolher todas as pla-
cas de barro (em que eram registradas as histórias
e as contabilidades dos povos) da região.

O exército assírio

O exército assírio era muito fraco no início de sua


história, o que explica sua derrota para Hamurabi,
quando no século 13 a.C. tentaram invadir a planície.

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No entanto, foi a partir dessa derrota, e até o século
8 a.C. que começaram a se estruturar militarmen-
te, com o objetivo de, mais uma vez, invadir a fértil
planície.

Dessa maneira, reformaram seu exército, lhe dan-


do uma infantaria, uma cavalaria e sapadores. Seus
componentes passaram a usar capacetes, couraças,
escudos e armas de ferro bem como de outros me-
tais. Seu desenvolvimento chegou a tal ponto que,
para atravessarem um rio, não usavam pontes, mas
sim flutuadores – feitos com sacos de couro e es-
tômagos de animais –, o que lhes poupava muito
tempo.

As muralhas que protegiam as cidades não podiam


resistir ao exército assírio, uma vez que este, quan-
do atacava, incendiava as plantações e, usando a
catapulta, lançava bolas feitas com galhos, besun-
tadas de petróleo, em chamas, incendiando também
as cidades e fazendo com que os homens fossem
obrigados a largar seus postos de guerra para tentar
apagar o fogo. Era nesse momento que eles se apro-
ximavam, com aríetes, para arrombarem os portões
e, assim, tomar a cidade como sua.

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Figura 10: O exército assírio em ação.

Em 621 a.C., os assírios foram derrotados pelos cal-


deus, sob o comando de Nabopolassar, que se aliou
ao rei dos Persas e desapareceram.

FIQUE ATENTO
Várias foram as consequências do militarismo
assírio. O território se expandiu e as técnicas e
armas de guerra se aperfeiçoaram. Dentre as ino-
vações do exército assírio está o surgimento dos
sapadores (homens especializados em reconhe-
cer o exército inimigo, à frente do exército assí-
rio). Além disso, surgiu uma nova ordem social,
que deu destaque a generais e homens fortes do
exército – alguns chegaram a organizar golpes
de Estados e tomar o poder. Por fim, não pode-
mos esquecer o aumento da mão de obra escra-
va, oriundo das conquistas.
RELIGIÃO NA
MESOPOTÂMIA
ANTIGA
Vimos que a Mesopotâmia era uma civilização he-
terogênea. Contudo, havia características comuns,
normalmente adotadas quando da conquista de um
povo sobre o outro. A escrita cuneiforme foi um dos
traços de unificação cultural mesopotâmica. Outro
traço foi a religião que, apesar de apresentar mani-
festações específicas, ganhou contornos gerais em
toda a região.

A religião mesopotâmica era politeísta, sendo que


cada cidade tinha um deus principal. Dentre eles
tempos Shamsh, o sol; Ishtar, a lua; Enlil, deus das
tempestades e Marduk, deus da Babilônia, também
conhecido como o touro alado dos assírios. Todos
esses deuses eram superiores aos homens, o que
faz desta uma religião transcendental.

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Figura 11: Shedu, um dos deuses antropozoomórficos da
Mesopotâmia.

FIQUE ATENTO
Os termos antropomórfico, zoomórfico e antro-
pozoomórfico aparecem com frequência quando
falamos sobre religiões. “Morfos” indica forma;
“antropo”, ser humana e “zoo”, animal. Assim,
deuses antropomórficos são aqueles que têm a
forma de seres humanos; zoomórfico, os que têm
forma de animal, e antropozoomórficos aqueles
que têm forma de seres humanos e animais ao
mesmo tempo (como é o caso de Shedu e de
Marduk, na Mesopotâmia).

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A religião mesopotâmica era uma religião terrena,
isto é, não acreditavam na imortalidade da alma ou
na vida após a morte e, por isso, não tinha a ques-
tão ética como base de seus dogmas e discussões;
afinal, não havia a compreensão de que bondade,
justiça e virtude não eram recompensadas em outro
plano. Dessa forma, quando rezavam, pediam por
uma vida longa, bens materiais, prazeres e muitos
filhos. Era, portanto, uma religião voltada para esta
vida. Por tudo isso, faz sentido o fato de que não
tinham qualquer tipo de preocupação especial para
com os mortos; não os mumificavam e os enterravam
sob o chão da própria casa.

Com os caldeus, houve uma identificação dos deuses


com os astros, o que fez da sua uma religião astral.
Para eles os deuses eram seres tão superiores aos
homens que estes eram insignificantes e seus des-
tinos eram determinados, não havendo nada que se
pudesse fazer para mudá-lo. Não há concepção de
pecado, mas, se houvesse, não poderia ser evitado.
Não havendo livre arbítrio, trata-se de uma religião
fatalista.

Os sumérios são os primeiros a construírem os zi-


gurates, mas outros povos da Mesopotâmia tam-
bém o fazem. Trata-se de uma construção maciça,
de base quadrangular, formando plataformas em
tamanhos decrescentes, terminando em um cubo.
Eram templos dedicados aos deuses e, entre os cal-
deus, eram também utilizados como observatórios
astronômicos.

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Figura 12: Os degraus do Zigurate de Ur, construído pelos neosumé-
rios no reinado de Nabonidus (556 - 539 a.C.) sobre os escombros de
um zigurate mais antigo, provavelmente construído pelo rei sumeriano
Ur-Nammu, c. 2100 a.C.

A economia da Mesopotâmia
antiga
A base da economia na Mesopotâmia foi a agricul-
tura, desenvolvida graças às enchentes fertilizantes
dos rios Tigres e Eufrates. Os povos da região, de
forma geral, cultivaram cereais e árvores frutífera.
Dentre eles, foram os sumérios que drenaram pânta-
nos, tornando-os terras cultiváveis e abriram também
canais de irrigação, para melhor aproveitamento das
águas dos rios. O excedente da produção agrícola
era comercializado pelos Mesopotâmicos. Foram
também os sumérios os primeiros a usarem as no-

27
tas fiscais, recibos, contratos de compra e venda,
bem como a venda em consignação. Quase todos
os povos que viveram na Mesopotâmia se dedica-
ram a um intenso comércio, devido a sua posição de
passagem obrigatória entre o Oriente e o Ocidente.
Usaram como padrão monetário para essas trocas
o lingote de ouro e de prata. A exceção à regra fo-
ram os assírios, que com o desenvolvimento de seu
militarismo deixaram de se dedicar ao comércio,
por considerarem esta uma atividade indigna de um
guerreiro, que poderia exercer apenas a agricultura
sem se desonrar.

Realizações intelectuais e artísticas/legados culturais


da Mesopotâmia antiga
• Agricultura  É de origem mesopotâmica a su-
perstição de semear conforme a fase da lua.
• Matemática  Foram os sumérios que inventaram
os processos de multiplicação, divisão, a extração
da raiz quadrada e da raiz cúbica e a potenciação.
Inventaram um sistema de pesos e medidas duo
decimal, tendo o número 60 como unidade (sistema
sexagesimal). Os assírios calcularam a circunferência
em 360º.
• Astronomia  Desenvolveram a astronomia a
partir da astrologia. Os caldeus foram os maiores
astrônomos da Antiguidade e nomearam constela-
ções, formando os 12 signos do zodíaco. Calcularam
a duração exata do ano, dividindo-o em 365 dias,
agrupados em 12 meses. O dia foi dividido em doze
horas duplas, a hora em 60 minutos e o minuto em

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60 segundos. Calcularam a inclinação anual do eixo
da Terra. Fizeram previsões de eclipses por 300 anos.
• Medicina  Dentre os povos da Mesopotâmia,
os assírios foram aqueles que mais se dedicaram à
medicina para tratar dos ferimentos de seus soldados
e catalogaram cerca de 500 drogas, tanto vegetais
quanto minerais.
• Literatura  Destacam-se os sumérios como au-
tores das maiores histórias da Mesopotâmia, mas
foram os amoritas que, baseados nessas lendas,
aprimoram o estilo e a trama, tornando conhecida em
toda a Antiguidade a história de Gilgamesh, que recebe
um aviso de um dos deuses sobre o dilúvio, e que foi,
provavelmente, relido pelos hebreus como Noé.
• Artes Plásticas  Os povos que viveram na planície
não se destacaram nas realizações artísticas como
os Egípcios, uma vez que não dispunham, no geral, de
materiais adequados. Os assírios, vivendo no planalto
foram os melhores artistas da Mesopotâmia, princi-
palmente enquanto escultores. Seus baixos relevos
chamam atenção pelo dinamismo. Representaram,
sobretudo, cenas de guerra e caça.
• Arquitetura  A Mesopotâmia tinha no tijolo seu
principal material de construção. Por isso, pouca
coisa nos foi legada, uma vez que o barro se deteriora
com o passar dos anos. No entanto, sabemos que
os sumérios foram os primeiros a usarem o arco, a
abobada e a cúpula.

29
REFLITA
Você já parou para pensar na íntima relação entre
militarismo e o desenvolvimento da Medicina?
Vimos que, entre os povos da Mesopotâmia, os
assírios foram os que mais se dedicaram à medi-
cina e que isso se deveu ao seu traço militarista.
Em diversos outros momentos da história, quan-
do encontramos grandes conflitos bélicos, en-
contramos também grandes saltos nas ciências
médicas. Você consegue explicar por que essa
relação se estabelece?

30
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A escrita marca o início do período a que conven-
cionamos chamar de “História”. Contudo, muito
antes dela, os seres humanos já se agrupavam e
já produziam cultura. Procuramos, neste módulo,
discutir como a cultura foi se desenvolvendo junto
com o processo de hominização dos seres humanos.
Discutimos a importância da Revolução Neolítica
para a história da humanidade: a sedentarização
levou ao surgimento das primeiras cidades, à espe-
cialização do trabalho e à hierarquização social. Por
fim, refletimos brevemente sobre a Mesopotâmia,
região do atual Iraque, onde surgiu a primeira for-
ma e escrita de toda a humanidade – e, portanto, a
História – : a escrita cuneiforme.

31
Síntese

E-book 1

História Antiga

• Escrita marca o início da História

• Longo período de hominização

• Desenvolvimento do homem na
natureza garante a sua sobrevivência

• Revolução Neolítica

• Civilizações sedentárias vivem perto


das margens dos rios

• Mesopotâmia foi uma dessas primeiras


civilizações

• Surgimento de cidades-Estados na
Mesopotâmia

• Surgimento da escrita Cuneiforme

• Surgimento do primeiro código de leis:


Código de Hamurabi
Referências
CARDOSO, Ciro Flamarion. Deuses, múmias e ziggu-
rats: uma comparação das religiões antigas do Egito
e da Mesopotâmia. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999.

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Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

GODSEN, Chris. A Pré-História. Porto Alegre: L&PM,


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hypeness.com.br/2018/10/cranio-de-luzia-fossil-mais-
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Paulo (org.). As religiões que o mundo esqueceu.
São Paulo: Contexto, 2009.

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Dicionário de conceitos históricos. São Paulo:
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