DE MÚSICA E MÍDIA
CADERNO DE RESUMOS
17º Encontro Internacional de Música e Mídia
Centro de Estudos em Música e Mídia
Caderno de resumos
Contato:
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@musi.mid
Apoio:
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Dia 15/09
https://youtu.be/ofwd0U3F4WY
https://youtu.be/2ja__WCuelo
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Magali Kleber
Três perspectivas que têm como argumento central a visão de que as práticas
musicais são fruto da experiência humana vivida concretamente em uma
multiplicidade de contextos conectados. A primeira parte de uma visão cultural da
música proposto por Shepherd e Wicke (1997) cuja teoria que reconhece a
constituição social e cultural da música como “um particular e irredutível forma de
expressão e conhecimentos humanos”. A segunda perspectiva inspira-se nos
estudos do antropólogo Marcel Mauss (2003) sobre fenômenos sociais, analisando
o processo pedagógico-musical como um “fato social total”, enfatizando-o seu
caráter sistêmico, estrutural e complexo, portanto pluridimensional. A terceira
perspectiva diz respeito à produção do conhecimento musical analisado à luz da
teoria da práxis cognitiva cunhada por Eyerman e Jamison (1998). Essa teoria
permite analisar a produção de conhecimento sociomusical das ONGs como fruto
da dinâmica das forças sociais que abrem espaços para a produção de novas
formas de conhecimento. Não obstante os projetos sociais terem conseguido
resultados positivos promovendo acesso a atividades culturais, esportivas e de lazer
ao jovem morador de comunidades pobres, possibilitando alternativas, há que se ter
uma perspectiva crítica para uma análise dos processos decorrentes das ações
políticas para se pensar em encaminhamentos que resultem, de fato, a inclusão
social sem ter no seu reverso a estigmatização tácita. Novaes (2002) faz um alerta
bastante pertinente quando destaca que “ter parceiros para tirar do crime é uma
expressão bem intencionada, mas ela também potencializa uma capacidade de
estigmatizar toda uma geração, como se todos fossem para o crime, todos fossem
criminosos em potencial” (NOVAES, 2002). E isso aparece como algo muito
incomodativo e, até mesmo, motivo de sofrimento para os jovens moradores das
favelas ou bairros com fama de violentos. Cabe aqui questionar a equação entre a
discriminação, a exclusão social, a violência urbana, o estigma permeando as
comunidades dos morros e favelas reforçados pelo discurso da mídia. Qual é o papel
dos projetos sociais e da cultura, especialmente da música, nesses contextos?
Em sua biografia de Freud, Emilio Rodrigué registra uma época de cores mais
vibrantes e sonhadoras, antecedendo os ensaios O Futuro de uma Ilusão e O mal
estar na civilização — 1927 e 1929, respectivamente —, traduzida, por exemplo, por
uma afirmação feita por Freud em carta a Jung de 13 de janeiro de 1910: “Estou
convencido de que a bandeira da psicanálise deve tremular sobre o território da vida
amorosa normal”. Rodrigué arremata (1995, p. 239): “Freud, alguma vez, acreditou
numa revolução erótica universal”. Essa expressão é muito interessante,
embora relativamente pouco comentada. Ela exprime e reúne uma quantidade
enorme de fenômenos e intuições que se estendem pelo menos do início do século
passado até hoje. Acreditar numa revolução erótica universal significa estar
envolvido num embate com os limites da moral e da tradição, os mesmos que
aparecem na clínica a partir do esforço psicanalítico, e que reaparecem como
reação, em ondas diversas de fundamentalismo. Ora, esse embate acontece no
âmbito de um movimento de natureza cultural, e não resta dúvida de que o campo
da música teve um papel dos mais relevantes no alargamento dessas fronteiras.
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Impossível, por exemplo, deixar de avaliar a importância de John Lennon como uma
das maiores lideranças da segunda metade do século nessa direção. Haveria então
uma filiação entre o discurso de Lennon e o discurso de Freud? O grito pela
liberação do amor, pela simbologia da flor, seria, assim, um marcador de uma
nova etapa de conformação da libido? E existe mesmo essa possibilidade de pensar
a libido em termos de longa duração, tal como Foucault propõe com a episteme
epocal? Uma libideme? Como é que a construção daquilo que passaríamos a
denominar de celebridade, condição indispensável para o capitalismo tardio se
envolveria com esse complexo cenário? Dando um salto no tempo de Lennon para
Michael Jackson, seria possível refletir sobre processos distintos de construção de
celebridade? E os fluxos e refluxos de tudo isso na música brasileira?
Felipe Radicetti
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Dia 16/09
https://youtu.be/XoEQV46H1E4
https://youtu.be/aJrQ6SqECN0
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Guilherme de Almeida Prado
Pablo Alabarces
Cida Moreira
"Se fossemos infinitos tudo mudaria... como somos finitos muito permanece" -
B Brecht, 1928.
Jaqueline Moll
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ruptura democrática de 2016, sobretudo em relação as políticas de educação
integral. O Programa Mais Educação, ação indutora para retomada de uma agenda
de educação integral, no período de 2007 a 2016, a partir das matrizes das
pedagogias humanistas presentes em experiências como as Escolas-Parque, os
Centros Integrados de Educação Pública, os Ginásios Vocacionais, entre outras;
representou uma expansão curricular integrada ao imperativo do direito a
educação.Nestes horizontes o debate será construído.
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Dia 17/09
https://youtu.be/mvM52GB8vQY
https://youtu.be/mYWjJUQfCxY
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Luisa Toller
Laert Sarrumor
Marcelo Galbetti
Julinho Bittencourt
Tirando a viola do saco: música, crítica e política na trajetória do ateu (do) Torto!
Téo Ruiz
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Resumos
Referências
ABREU, Christina. Rhythms of race: cuban musicians and the making of Latino
new York City and Miami. Chapel Hill: The University of North Carolina Press,
2015.
BUSTAMANTE, Michael J. Cuban Memory Wars: Retrospective Politics in
Revolution and Exile. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2021.
GONZÁLEZ, Juan Pablo. Pensando a música a partir da América Latina. São
Paulo: Letra e Voz, 2016.
11
NAPOLITANO, Marcos. História & música: história cultural da música
popular. 3. ed. rev. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
OLIVEIRA, Márcia Ramos de. Uma Leitura Histórica da Produção
de Lupcínio Rodrigues. Tese de Doutorado - UFRGS, 2002.
Referências:
CASTELO-BRANCO, Salwa (dir.). Enciclopédia da Música em Portugal no
Século XX. 4 vols. (A-C, C-L, LP, P-Z). Lisboa: Círculo de Leitores/ Temas e
Debates, 2010.
MANGORRINHA, Jorge. Festival RTP da Canção: Uma história de 50 anos
(1964-2014). Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas, 2014.
MELLO, José Eduardo (Zuza) Homem de. A Era dos Festivais: Uma parábola.
São Paulo: Editora 34, 2003.
12
MONTEIRO, José Fernando S.. Festivais RTP e Festivais da MPB: Entre a
tradição e a modernidade (1964-1975). Seropédica: UFRRJ, 2020. 467 pp.
Doutorado (Tese) – Departamento de História e Relações Internacionais,
Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, 2020.
SEVERIANO, Jairo. Uma História da Música Popular Brasileira: Das origens à
modernidade. São Paulo: Editora 34, 2008.
Referências
COGAN, Brian. The Encyclopedia of punk. New York: Sterling Publishing, 2008.
HARRIS, Keith Kahn. Extreme metal: music and culture on the edge. Oxford:
Berg, 2007.
VOLOCHÍNOV, V. Marxismo e filosofia de linguagem: problemas fundamentais
do método sociológico na filosofia da linguagem. 2ª ed. São Paulo: Editora 34,
2018.
_____________. A palavra na vida e na poesia: Ensaios, artigos, resenhas e
poemas. São Paulo: Editora 34, 2019.
ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. São Paulo: Cosac Naify,
2014.
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Entre cheias e vazantes: professores de música no interior do Amazonas
Renato Antonio Brandão Medeiros Pinto
Não é de hoje que o Brasil não conhece o próprio Brasil. O médico Djalma
Batista, já em 1976, quando publica sua obra “O complexo da Amazônia”, revela
a intimidade de um país, no caso, a Amazônia, com elementos muito
característicos e únicos quando comparados com o resto da nação. Nestes 45
anos passados, quando se faz nova leitura do trabalho do médico, percebe-se
como muito do que é dito pelo observador não mudou. Assim, diante dos 40 anos
de formação de professores de arte no Amazonas, permanecem inquietudes
sobre como a complexidade apresentada por Batista reflete na atual
configuração do ensino das artes nos diferentes vales de rios amazônicos. O
estudo propõe uma abordagem bibliográfica partindo do trabalho do Professor
Doutor Jackson Colares à cerca da fundação do curso de Licenciatura Plena em
Educação Artística em 1980, dentro da então denominada Universidade do
Amazonas, ao qual este levantamento identifica a historicidade da formação de
professores de arte até a criação da Faculdade de Artes em 2017. Por este viés,
é feita a contabilidade de alcance do esforço para cobrir as dimensões do espaço
territorial amazonense. Por isso, é justo refletir sobre como até hoje as cadeiras
de arte, sobretudo nas escolas do interior do estado, estão vazias quando estas
mesmas existem. A vida ribeirinha e suas especificidades teimam em entortar
os padrões de formação acadêmica no universo dos rios e matas. Não obstante
a isso, ainda temos as considerações feitas pela Professora Doutora Rosemara
Staub de Barros, quando coordenadora do PARFOR faz público um relatório de
ações deste programa nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Itacoatiara,
Barreirinha e Manicoré, praticamente nas principais calhas fluviais que o curso
de música se fez presente. Para tanto, em específico, a investigação traz
números importantes sobre alunos formados, vagas criadas nas sedes
municipais, características do processo de formação dos professores e mapa do
alcance das atividades no estado. Aos detalhes de teorização confiamos à
Professora Doutora Lia Tomás, membro da Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-graduação em Música(ANPPOM) as questões sobre pesquisas em música
no Brasil como estado de conhecimento(2015), uma tese de verificação dos
planos de ensino no Amazonas pela pedagoga Cátia Lemos(2020) e fechando,
um suporte sobre trajetórias de criação artística no interior do estado pelo Mestre
Pedro Vanuzo Costa e sua dissertação defendida em 2020. Tais trabalhos
permitem criar uma imagem do que é o ensino da arte perante a complexidade
amazônica, tempo e espaço criativo. Dessa forma, o texto considera os anos de
desenvolvimento do curso de artes na Universidade Federal do
Amazonas(UFAM), obstáculos e avanços, visibilidade do real ao contrário do
imaginário brasileiro sobre a região e por fim, o potencial e esforço dos que
decidem trabalhar para a educação mesmo tangenciando indiferenças
governamentais. De maneira qualitativa e quantitativa, os resultados são
exclusividade de uma leitura bibliográfica e produção de conhecimento para o
crescimento do ensino no norte do país.
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Referências
BATISTA, Djalma. O complexo da Amazônia. (análise do processo de
desenvolvimento). Conquista. Manaus. 1976.
MOREIRA, Dulciane et al. INTEGRANDO APPS NAS AULAS DE
MUSICALIZAÇÃO INFANTIL DA ESCOLA DE ARTES-UFAM. AEC&D-Arte,
Educação, Comunicação & Design, v. 1, n. 1, p. 1-10, 2020. Disponível em:
https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/dcae/article/view/7478
RAMOS, Evandro José Santos; ZAGO, Rosemara Staub; NAJAR, Núbia Silva.
Licenciatura em Artes Visuais a Distância no Amazonas/BR. Octaedro. V.1, pl
2926 2933. Manaus. 2016.
TEIXEIRA, Wagner Barros; BRANDÃO, Raimunda Julia de Freitas. Parfor no
Amazonas: fronteiras, deslocamentos, e formação de professores de Espanhol.
Polifonia, v. 27, n. 47, 2020. Disponível em:
https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/view/10776
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segundo objetivo é o de compreender as dimensões espaço-temporais
abrangidas pelo catálogo construído no canal, por meio da demarcação dos
artistas, das cidades de origem, dos anos de lançamento dos fonogramas e das
gravadoras com mais aparições.
Referências:
CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano. Petrópolis: Editora Vozes,
1998.
MACHADO, Cacá. Entre o passado e o futuro das coleções e acervos de
música no Brasil. In: rev. hist. (São Paulo), n. 173, p. 457-484, jul.-dez., 2015.
STAMBOROSKI JR., Amauri Antonio. Música Popular Germânica no Sul do
Brasil: um panorama histórico da “bandinha” ao “pop do sul”. Funarte. Ministério
da Cultura. São Paulo, 2011.
VICENTE, Eduardo. Chantecler: uma nova gravadora popular paulista. Revista
USP, São Paulo, n. 87, p. 74-85, set./nov. 2010. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13831>. Acesso em 30 mai.
2021. VINCI DE MORAES, José Geraldo. Criar um mundo do nada. A invenção
de uma historiografia da música popular no Brasil. São Paulo: Intermeios; USP
– Programa de Pós-Graduação em História Social, 2019.
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entender e compreender---o que normalmente é deixado de fora por nossos
filtros: o outro.
Referências
CHAVES, R., Performing sound in place: field recording, walking and mobile
transmission. Tese de doutoramento. Belfast, 2013. Disponível em
https://www.academia.edu/11339600/Performing_sound_in_place_field_recordi
ng_walking_and_mobile_transmission. Acesso em 13/01/2018.
DANTAS, P., Being in the Field: Process, Narrativity and Discovery in the Field-
Recording Work of Thelmo Cristovam and Alexandre Fenerich. Making it Heard:
a History of Brazilian Sound Art. New York: Bloomsbury Academic, 2019.
LANE, C.; CARLYLE, A. In the Field. The Art of Field Recording. Devon:
Uniformbooks, 2013.
VOEGELIN, S. A new generation of field recordists is challenging the myth of
the invisible figure with a microphone in work that celebrates presence rather
than absence. Wire, edição 364, 2014. Disponível em
https://www.thewire.co.uk/in-writing/collateral-damage/collateral-damage
_salome-voegelin. Acesso em 03/01/2018.
WRIGHT, M. P. The Noisy-Nonself: Towards a Monstrous Practice of More-
than-human Listening. Evental Aesthetics, 2017a. Disponível em
http://eventalaesthetics.net/vol-6-no-1-2017
-sound-art-and-environment/. Acesso em 03/01/2018.
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que não excluem a função decorativa da “TV souvenir”, papel de parede
eletrônico da canção, mas vão da performance de “companheira de solidões
compartilhadas” entre intérpretes e públicos à “deflagradora” de toda a linha
narrativa do videoclipe. Considerando que há uma lógica de organização dos
elementos significantes, ligada às atitudes produtivas, este trabalho integra o rol
de reflexões tecidas no Projeto “Música para olhos e ouvidos” (UFJF), cujo
principal objetivo é delimitar, num viés multiplataformas, as diferentes
concepções de televisão retratadas na/pela música.
Referências
COUTINHO, ILUSKA. Compreender a estrutura e experimentar o
audiovisual – Da dramaturgia do telejornalismo à análise da materialidade. In:
Cárlida Emerim; Iluska Coutinho; Cristiane Finger. (Org.). Epistemologias do
Telejornalismo Brasileiro. 1ed.Florianópolis: Insular, 2018, v. 7, p. 175-194.
COSTA, Stéphanie & ALVES, Wedencley. (2019). Evaluating resistances to
health promotion campaigns: Thresholds of Interpretation. Cambridge
University, 1997ParatextsGENETTE, G.
MACHADO, A. A televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2000.
MATA, Jhonatan. “Morte e vida em telas: análise das estratégias sensíveis
entre profissionais e público nas dez maiores lives musicais do planeta
num cenário de pandemia”.MusiMid2, no.1 (2021): 77-94
SOARES, Thiago. A Estética do Videoclipe. João Pessoa. Editora da UFPB,
2013.
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Brasileira de Educação Musical). Em mais um infeliz exemplo recente, o
candidato a prefeito de São Paulo, Arthur do Val, disse que as escolas precisam
ensinar a ganhar dinheiro e que “chega de aula de picho e break dance”, falando
pejorativamente sobre as aulas de Arte. Este trabalho se propõe a fazer uma
análise de como esses discursos conservadores que atacam as Artes e artistas
ganharam espaço na mídia e no senso comum e por consequência influenciaram
nos ataques à arte-educação e à educação musical. Aponta em seguida a
importância das Artes e da educação enquanto resistência nestes tempos
tóxicos que vivemos e sobrevivemos, para que possamos esperançar dias
melhores.
Referências:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 50 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
LINARES, Alexandre; BEZERRA, José Eudes Baima. Obscurantismo contra a
liberdade de ensinar. In: CÁSSIO, Fernando. (Org.) ? Educação contra a
barbárie?: por escolas democráticas e pela liberdade de ensinar. São Paulo:
Boitempo, 2019. p. 127-133.
SANTOS, Micael Carvalho dos. A educação musical na Base Nacional Comum
Currricular (BNCC) – Ensino Médio: Teias da política educacional pós-golpe
2016 no Brasil. Revista da Abem, v. 27, n. 42, p. 52-70, jan./jun. 2019.
SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música? 5 ed.
Tradução de Maria Felisminda de Rezende e Fuzari. São Paulo: Cortez, 2008.
SUBTIL, Maria José Dozza. Marxismo, arte e educação: as potencialidades de
humanização pela educação artística. In: SCHLESENER, Anita Helena;
MASSON, Gisele; SUBTIL, Maria José Dozza. Marxismo(s) e educação. Ponta
Grossa: Editora UEPG, 2016. p. 227-244.
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"Silêncios, assim como as montanhas, serão consumidos pela vida
(eventualmente)" dos artistas Paulo Dantas e Thiago Rocha Pitta (BR) para o
Festival Novas Frequências, e “Ficções”, de Verónica Cerrotta (CH), publicado
pelo selo Música Insólita em 2021. Em ambos os trabalhos, objetos técnicos que
gravam, paisagens que são gravadas e sujeitos que gravam estão em
relação. Se por um lado é possível identificar cada um desses organismos como
forma individual de vida, é perceptível, igualmente, sua mistura. Seus modos de
existência são como extensões de um corpo ao outro: da ponta dos dedos de
quem grava ao corpo do gravador; do corpo que grava, à paisagem que o recebe
e o altera e é, igualmente, por ele alterado. Para discutir o tema da natureza no
plano das artes é preciso habitá-la e pensar suas figuras. Recuperando,
assim, alguma forma de existência possível. Suspender o binarismo que se
impõe entre distopia x utopia e produzir entre lugares habitáveis é papel da arte,
assim como pensar em um plano estético o que convencionamos chamar de
“natureza”.
Referências:
CERROTTA. Verónica. Entrevista concedida a Gabriela Nobre. Maio, 2021.
Disponível em: <https://musicainsolita.com/2021/06/08/veronica-cerrotta-
ficcoes/>
CHAVES. Rui. Field recording: presença, lugar e processo no trabalho de Lilian
Nakao Nakahodo e Paulo Dantas.
COCCIA, Emanuel. A vida das plantas. Florianópolis, Cultura e Bárbarie, 2018.
DANTAS, Paulo. Entrevista concedida a Gabriela Nobre. Agosto, 2020.
Disponível em: <https://musicainsolita.com/2020/08/28/paulo-dantas-
02022020/>
FLUSSER, Vilém. “Arte Viva” in Ficções Filosóficas. São Paulo, EdUSP, 1998.
HARAWAY, Donna. Staying with the trouble. Duke University Press., 2016.
________________. When Species Meet, Minneapolis: University of Minnesota
Press, 2007.
SIMONDON, Gilbert. Du mode d’existence des objets techniques. Editions
Aubier, 1989.
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governo, consolidava-se na Argentina o “Nuevo Cancionero”, movimento
estético- literário, que defendia a arte como instrumento de comunicação capaz
de conscientizar e instigar a população à ação política, tornando-a conhecedora
acerca da realidade do país; suas potencialidades folclóricas e culturais, suas
dores, esperanças, injustiças, violências, relações de exploração, etc. (DÍAZ,
2004). Mercedes Sosa, nascida na cidade de San Miguel de Tucumán, cidade
onde foi assinada a independência da Argentina, em nove de julho de 1935,
assinou o “Manifiesto del Nuevo Cancionero”. Durante toda a sua carreira foi
defensora dos direitos civis, da luta dos trabalhadores e tornou-se um dos
símbolos do movimento estético-literário desencadeado pelo documento.
Através de suas interpretações, as obras folclóricas argentinas ganharam os
Estados Unidos e a Europa, principalmente as registradas por Violeta
Parra, Atahualpa Yupanqui, seu conterrâneo e Horácio Guarany. De autoria
deste último, interpretou (e gravou) uma de suas mais célebres canções Si se
Calla El Cantor, levada ao público pela primeira vez no álbum “El Potro” (1970),
de Guarany. Com o intuito de compreender o lugar de fala assumido pelos
artistas de então, adotamos como objeto de estudo a supracitada canção,
representativa deste movimento e por diversas vezes performada por Mercedes
Sosa. Por meio de uma leitura crítica, buscamos apresentar o potencial de
engajamento inerente às produções desse período. A fim de viabilizar a presente
leitura, nos valemos da perspectiva dialógica sustentada pelo filósofo da
linguagem Mikhail Bakhtin. Dentre as obras a que recorremos estão: Arte e
Responsabilidade (2003) e Para uma Filosofia do Ato Responsável (2010).
Referências:
BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Sâo Carlos. Pedro
& João Editores, 2010.
CHRISTENSEN, Anette. Mercedes Sosa, uma lenda: um tributo à vida de uma
das maiores artistas da América Latina. Tektime, 2020.
DÍAZ, Claudio Fernando. “Una vanguardia em el folklore argentino: canciones
populares, intelectuales y política em la emergencia del “Nuevo Cancionero”.” In:
Atas do II Congresso Internacional de Literatura
Argentina/Latinoamericana/Española, Mar del Plata, 2004.
BEIRED, José Luis Bendicho. Breve História da Argentina. São Paulo: Editora
Ática, 1996.
SADER, E.; JINKINGS, I.; NOBILE, R. e MARTINS, C. E. (orgs.).
Latinoamericana: Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do
Caribe. São Paulo: Boitempo, 2006.
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desconstrução do belo, na subversão dos padrões de beleza enraizados no
mercado musical – obrigando-nos à voltar até a acepção grega de aesthesis,
enquanto “afecção”, enquanto aquilo que te toca. Talvez o efeito de causar
aversão, quiçá ojeriza em ouvintes desprevenidos não seja de todo coincidência.
Quem produz arte tem um objetivo mais ou menos delimitado. E mesmo os que
tem crença na “arte pela arte”, objetivam a aesthesis, num maior ou menor grau.
Naquilo que convencionou-se como “antimúsica”, é patente o engajamento
político. Embora nos dias de hoje já existam artistas de vertentes correlatas que
não abordem liricamente temas correlatos à política, ainda são exceções os que
não se posicionam à esquerda – desde seus princípios, na primeira metade dos
anos 1980 - é ávido e potente o discurso político dentro dos meios perpassados
pelo grindcore. A união entre o espírito contestador inerente ao punk, à despeito
dos usos comerciais posteriormente atrelado ao movimento. As vanguardas
artísticas, não raro, se posicionam politicamente. Nas décadas de 1930 e 1940
intelectuais de todo o cone sul se organizaram em frentes antifascistas, num
movimento de reação ao avanço do autoritarismo. De maneira semelhante,
os punks do ABC e de São Paulo se organizaram junto à classe trabalhadora
durante a ditadura militar. Deste modo, ainda que permeado por uma maneira
não ortodoxa de fazer música, que torna inaudível ou, melhor dizendo,
ininteligível a temática abordada pelos compositores. O meio da música extrema,
entendido enquanto contracultura, tem se mostrado, antes de qualquer coisa, um
espaço propício ao fortalecimento de resistência; de debate e de fortalecimento
do antifascismo.
Referências:
COSTA, Fabiana Vieira da. Arte e Política na Filosofia de Herbert Marcuse.
2017. 123 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós-Graduação em
Filosofia, Ufop, Ouro Preto, 2017. Disponível em:
http://www.repositorio.ufop.br/bitstream/123456789/8250/1/DISSERTA%C3%8
7%C3%83O_ArtePol%C3%ADticaFilosofia.pdf. Acesso em: 24 jun. 2021.
FAVARETTO, C. A contracultura, entre a curtição e o experimental. MODOS.
Revista de História da Arte. Campinas, v. 1, n.3, p.181-203, set. 2017. Disponível
em: ?http://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/mod/article/view/872?
OLIVEIRA, Ângela Meirelles. Palavras como balas. Imprensa e intelectuais
antifascistas no Cone Sul (1933-1939). São Paulo: Alameda, 2015. Resenha de
BEIRED, José Luis Bendicho. Para compreender o antifascismo na América
Latina. Topoi. Revista de História, Rio de Janeiro, v. 19, n. 37, p. 226-231,
jan./abr. 2018. Disponível em: DOI: https://doi.org/10.24978/mod.v1i3.872
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década de 1980, considerando-se também o contexto brasileiro acerca da
abertura política e, consequentemente, o fim dos Anos de Chumbo. Desse modo,
Nascimento e sua obra são os objetos analisados neste artigo, de forma a
auxiliarem na compreensão de economias simbólicas (BOURDIEU, 2015), no
que diz respeito à representação de um período histórico e às negociações
destas mimeses, a partir de expressões artísticas (com especial destaque à
música), bem como às estruturas de sentimento (WILLIAMS, 2011), que retratam
também a experiência coletiva histórica e sua expressão na cultura. Assim, a
leitura das narrativas presentes nos discos e nas parcerias de Nascimento
(DUARTE, 2009) e também a circulação do próprio artista, além de sua posição
em meio ao movimento de abertura política, culminam também na leitura de uma
geografia audível (ROBBINS, 2019). Ou seja, onde os sons do território e suas
experiências sociais reverberam também especificidade e identidade. A partir
das possíveis interpretações oriundas das narrativas dos discos de Nascimento,
lançados entre 1980 e 1985, procura-se destacar as estruturas que permitiram a
construção de tais montagens e cenas, considerando-se as experiências
sensoriais (nos discos e no contexto vivido), bem como as possíveis mediações.
A análise aqui proposta usará como metodologia a pesquisa bibliográfica, com
acesso a materiais históricos, como biografias, textos publicados em jornais e
revistas, bem como os discos lançados por Nascimento no referido período.
Assim, o artigo aborda aspectos de micro e macrouniversos para compreender
os desdobramentos e as articulações, no que diz respeito à indústria fonográfica
e sua contribuição aos debates e diálogos da época, bem como à configuração
da Indústria Cultural brasileira. O contexto, da censura à reabertura democrática,
e sua influência direta nas peças musicais produzidas durante o período da
Ditadura Militar são o ambiente essencial para entender as construções sonoras
possíveis no período. Do mesmo modo, este é o pano de fundo para
compreender potencialidades e articulações políticas também a partir do campo
das artes, sobretudo da música.
Referências
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo:
Perspectiva, 2015.
DUARTE, Maria Dolores Pires do Rio. Travessia – a vida de Milton Nascimento.
Rio de Janeiro: Record, 2009.
ROBBINS, Dylon Lamar. Audible Geographies in Latin America. Londres:
Palgrave/Macmillan, 2019.
WILLIAMS, Raymond. O campo e a cidade. São Paulo: Companhia de Bolso,
2011.
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"Um bom tempo para não fazer nada" - a atuação e a poética de Chico
Buarque, na Itália, durante seu autoexílio, em 1969.
Rodrigo Vicente Rodrigues
Referências
BASSNETT, Susan. Estudos de tradução. Porto Alegre: UFRGS, 2005.
BORGNA, Gianni. Storia della canzone italiana. Roma: Laterza, 1985.
CENNI, Franco. Italianos no Brasil. São Paulo: Edusp, 2003.
VALENTE, H. A. D. A canção romântica no Brasil nos “anos de chumbo”. São
Paulo: Letra e Voz, 2018.
NAPOLITANO, Marcos. A MPB sob suspeita: a censura musical vista pela ótica
dos serviços de vigilância política (1968-1981). Revista Brasileira de História.
São Paulo, v. 24, nº 47, p.103-126 – 2004.
24
Palavras-chave: Chico Buarque, canção ligeira, canção italiana, canção
brasileira, ditadura militar brasileira
Referências
BLAKE, David K. Timbre as differentiation in indie music. Music Theory
Online, vol. 18, n. 2, 2012.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. O que é a filosofia? São Paulo: Editora
34, 2010.
25
ELFEREN, Isabella van. Timbre: Paradox, Materialism, Vibrational
Aesthetics. New York: Bloomsbury Academic, 2021.
GARLAND, Shannon. Exigimos o Amor: A Música como Articuladora de Afetos
Políticos. In: CASTANHEIRA, J.C. S. et. al. Poderes do Som: Políticas
Escutas e Identidades. Florianópolis: Editora Insular, 2020. p. 127-152.
SHANK, Barry. The political force of musical beauty. Durham and London:
Duke University Press, 2014.
Referências
EWELL, Philip. A. Music Theory and the White Racial Frame. Music Theory
Online, novembro de 2019. Disponível em:
<https://mtosmt.org/issues/mto.20.26.2/mto.20.26.2.ewell.html>. Acesso em 28
de junho de 2021.
FACINA,Adriana; MOUTINHO, Renan Ribeiro; NOVAES, Dennis; PALOMBINI,
Carlos. O errado que deu certo: Deu onda, o debate da harmonia e a construção
da batida numa produção paulistana de funk carioca. Revista Eletrônica da
ANPPOM. Disponível em:
<https://www.anppom.com.br/revista/index.php/opus/article/view/opus2018a241
1>. Acesso em 28 de junho de 2021.
LOPES, Adriana Carvalho. Funk-se Quem Quiser: no batidão negro da cidade
carioca. Rio de Janeiro: Bom Texto, Faperj, 2011.
NOVAES, Dennis. Técnica, produção e circulação musical no funk carioca. Tese
de doutorado do programa de pós-graduação em Antropologia Social do Museu
Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2020. Disponível em:
<https://www.academia.edu/44132827/Nas_Redes_do_Batidão_técnica_produ
ção_e_circulação_musical_no_funk_carioca>. Acesso em 28 de junho de 2021.
26
Esboço sobre a recepção dos aparelhos tecnológico-musicais: A
invenção das tradições, costumes e rituais
Joabe Guilherme Oliveira
A música advinda das máquinas falantes era parte importante de uma nova era,
de uma fase do desenvolvimento do capitalismo liberal, batizada a
posteriori pelos teóricos de “Segunda Revolução Industrial”. E da mesma forma
que, em algumas propagandas podiam-se ver fábricas dentro dessas máquinas,
pode-se, por assim dizer, perceber uma nova ideia de música que vem acoplada
a elas, um espírito industrial, e que pode ser percebido em outros meios de
comunicação. A era mecânica da gravação e reprodução registra não só um
acontecimento econômico, cognitivo e cultural, mas também político, ela registra
o início e fim da Primeira República. Horas antes da proclamação da República,
fazia-se, no palacete do Príncipe D. Pedro Augusto, de acordo com Franceschi
(1984, p. 19), uma demonstração do segundo fonógrafo, que para cá veio por
intermédio do comendador Carlos Monteiro de Sousa. A divulgação dos
aparelhos de forma efetiva se dará pelas mãos de Figner no desenrolar da
República. O corpo e a alma dessas máquinas estavam, em seu sentido pleno,
em simpatia com o capitalismo liberal/industrial. Para um novo produto, novas
tradições, hábitos, costumes, reivenções e rituais tinham que ser criados, seja
por meio de um passado estabelecido por outros instrumentos, ou por meio das
problemáticas técnicas que surgiram com esses aparelhos. Isso era necessário,
dentro do processo de recepção, como fator de operação para essa indústria
fonográfica. Contudo, o distanciamento de aproximadamente um século do
período compreendido aqui, faz com que o pesquisador, que estuda a primeira
metade do século XX, fique cada vez mais dependente de dois tipos de fontes,
como bem lembra Hobsbawm (1997, p. 9), sendo elas: a imprensa diária ou
periódica, e outras publicações de governos nacionais e instituições
internacionais. No nosso caso procuramos fazer uma análise dos textos e
propagandas, sobre as tecnologias musicais, veiculados pela revista Fon-Fon,
uma das revistas ilustradas mais populares de sua época.
Referências
FON-FON: Semanário Alegre, Político, Crítico e Espusiante. Biblioteca
Nacional - Hemeroteca Digital. Disponivel
em:<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=259063&PagFis=1
>. Acesso em: 24 março 2019.
FRANCESCHI, H. M. Registro Sonoro por meios mecânicos no Brasil. Rio de
Janeiro: Studio HMF Ltda, 1984.
FRANCESCHI, H. M. A Casa Edison e seu tempo. 1ª. ed. Rio de Janeiro:
Sarapuí, 2002.
HOBSBAWM, E. J. E.; RANGER, T. A invenção das tradições. Tradução de
Celina Cardim Cavalcante. 6ª. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
MILLARD, A. America on record: a history of recorded sound. 2ª. ed. New York:
Cambridge University Press, 2005.
27
S.P. Metal: a flor-cadáver da contracultura paulista
Milton Medusa, Rodrigo Kurita, André Felipe Simões
O Heavy Metal representou desde um princípio um espaço de manifestação da
contracultura típica da década de 1970. No Brasil, o movimento rapidamente se
enraizou nos territórios "esquecidos"das cidades industrializadas, como os
antigos centros comerciais e as periferias. Esta comunicação visa descrever e
analisar a emancipação do Heavy Metal na década de 80 com o intuito de
correlacionar o nascimento de seus subgêneros assim como os principais
festivais que ocorreram à época. A proposta tratará de mostrar as referências
dessas bandas, como Iron Maiden e Judas Priest, assim como os festivais que
serviram de difusor do movimento como o Metal 4, realizado em 1986, no clube
Palmeiras, em São Paulo, e o South American Death Festival, em 1987, em
Santos. Ademais, far-se-á também um comparativo acerca dos produtores bem
como do papel da mídia na divulgação de novas bandas e/ou eventos de grande
porte. Especificamente a comunicação parte do lançamento das coletâneas S.P.
Metal I e II, entre os anos de 1984 e 1985. Essas coletâneas lançaram luz em
bandas como Avenger, Centúrias, Salário Mínimo, Vírus, Santuário,
Performances, Korzus e Abutre. Ao redor desse movimento surgiram festivais e
gravadoras independentes como a Baratos & Afins. Mediante tais justificativas,
o intuito desta pesquisa é avaliar as estratégias midiáticas de divulgação bem
como resgatar a importância do contexto histórico da cena do rock pesado
paulistano. Por fim, o estudo propõe uma comparação com a cena atual do heavy
metal brasileiro, principalmente discutindo como a era da "live" representa a
perda de uma energia vital do Heavy Metal: a interação performática. Este estudo
nasce do Grupo de Estudos Rock no Brasil, desenvolvido no Laboratório de
Musicologia da EACH-USP.
Referências
ARNETT, Jeffrey Jensen (1996). Metalheads: Heavy Metal Music and
Adolescent Alienation. Westview Press.
AZEVEDO, Cláudia Souza Nunes de (2009). É para ser escuro! - codificações
do Black Metal como gênero audiovisual. Tese de Doutorado em Música.
Programa de Pós-Graduação em Música – Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (UNIRIO)
CHRISTE, Ian (2003). Sound of the Beast: The Complete Headbanging History
of Heavy Metal. HarperCollins
DAPIEVE, Artur (1996). Brock: o rock brasileiro dos anos 80. São Paulo:
Editora 34.
28
musical das bandas Inocentes, Ratos do Porão e Garotos Podres, sem perder
de vista as diversas formações de sentido bem como estratégias musicais
comparadas com grupos estrangeiros, que eram a base referencial e musical
dos músicos brasileiros. Tais temas se justificam pelo período em que o
movimento ocorreu e que coincidiram com a mobilização dos movimentos
sindicais da região. Se desdobra como espaço de resistência e identidade que,
de certo modo, construíram as condições para o florescimento do movimento
musical de maior impacto na atualidade nas regiões que formavam o antigo
cinturão operário do Grande ABC, o Rap.
Referências
ESSINGER, Silvio (1999). Punk: anarquia planetária e a cena brasileira. São
Paulo: Editora 34.
FOUCAULT, Michel (2015). Microfísica do poder. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra.
MELÃO, Cesar Augusto. O punk sob o olhar da mídia: um estudo léxico-
discursivo. 2013. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa) -
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,
São Paulo
TEIXEIRA, Aldemir Leonardo. O movimento Punk no ABC Paulista: anjos: uma
vertente radical. 2007. 227 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) -
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007.
29
musicológicas, como apontam Janotti Jr e Sá (2019). Reconhecendo e
enfatizando a dimensão do caráter extramusical das noções de gênero na
música, Janotti Jr (2003) oferece uma metodologia de estudo desses com base
em três eixos analíticos, baseados em “regras econômicas que envolvem
práticas de consumo e endereçamento dos produtos musicais, regras semióticas
e regras técnicas e formais” (Janotti Jr e Sá, 2019, p.130). Seria possível
empreender em uma análise da música experimental a partir deste
direcionamento? Partindo em ordem inversa, podemos encontrar algumas pistas
das possíveis regras técnicas e formais, que correspondem ao terceiro eixo da
análise, e das regras semióticas, correspondentes ao segundo eixo, nos arcos
teóricos discutidos por Gottschalk (2016) em sua análise da música
experimental. O primeiro eixo envolve o que Janotti Jr e Sá (2019) descrevem
como “regras econômicas que envolvem práticas de consumo e endereçamento
dos produtos musicais” (p.130). Podemos considerar que, apesar de sua
proposta estética muitas vezes apontar para a direção contrária, a música
experimental em grande medida depende das regras mercadológicas já
estabelecidas para sua produção e circulação. A constituição de circuitos de
consumo, mesmo que distintos do que é distribuído de forma massiva e
produzido em série, ainda assim demanda o estabelecimento de dinâmicas de
mercado que, por fazerem parte de um contexto maior (em uma sociedade
fortemente ligada à indústria cultural), não conseguem se apresentar
inteiramente livres ou isolados destes. Faz-se necessário, também, reconhecer
que, em grande parte por conta da centralidade do consumo no processo de
fruição musical, as divisões dos gêneros musicais de caráter inicialmente
comercial acabaram se convertendo em elementos geradores de práticas,
conceitos e significados, se mostrando centrais para as diversas dinâmicas e
práticas de consumo observadas pelos ouvintes.
Referências
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Zouk,
2015
GOTTSCHALK, Jennie. Experimental Music since 1970. Nova York: Bloomsbury
Publishing, 2016.
JANOTTI JR, Jeder. À procura da batida perfeita: a importância do gênero
musical para a análise da música popular massiva. Revista Eco-Pós. Rio de
Janeiro. UFRJ. v.6, n.2, p.31-46, 2003
_________________. SÁ, Simone Pereira de. Revisitando a noção de gênero
musical em tempos de cultura musical digital. Galaxia (São Paulo, online), n. 41,
p. 128-139, mai-ago., 2019
SOARES, Thiago. O videoclipe no horizonte de expectativas do gênero musical.
Ecompós. Brasília, v. 4, p. 1-18, dez. 2005.
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"É necessário quebrar os padrões/ É necessário abrir discussões": Criolo
e população LGBT entre controvérsias e alianças possíveis.
Leandro Stoffels
31
(Org.). Mapeando cenas da música pop: materalidade, redes e arquivos.
1ed.João Pessoa: Marca de Fantasia, 2019, v. 2, p. 17-47.
32