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I. Considerações iniciais
*
A
versão mais ampla e modificada deste texto foi publicada na Revista IDE (2002) e foi
apresentado no 3° Forum de Reflexão e Debate sobre Psicanálise de Família/Casal na SBPSP.
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O trabalho psicanalítico com família supõe uma metodologia que tem como
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mesmo”.
Essas idéias levam-nos a eleger um processo terapêutico que favoreça
transformações de uma família estéril, em termos de vida mental, aprisionada
num funcionamento fusional, rígido e repetitivo (que poderíamos chamar de
“figura familiar combinada”), com seus membros mantendo relações
indiferenciadas quanto às suas funções e papéis, com negação da diferença
sexual e geracional, em um campo psíquico fértil, que possa expandir-se para
propiciar contenção e elaboração do sofrimento mental e desenvolvimento de
seus membros, de modo que possam individualizar-se com autonomia e
liberdade.
Convém lembrar que funcionamento individual e grupal não são certamente
separáveis em qualquer sentido simples. E um dos fatores mais importantes que
fica clarificado pelo trabalho psicanalítico com famílias é a forma pela qual os
mecanismos da mente individual encontram expressão em termos de grupo
familiar, e como ao tratar a família como um tipo de entidade ou unidade
psíquica, os processos inconscientes podem ser revelados. O sintoma individual
encontra seu significado na combinação das dinâmicas vinculares entre os
membros da família.
Por este vértice tomamos a clínica familiar e de casal como
fundamentalmente voltada para o contato com a relação dialética entre o
intrapsíquico e o intersubjetivo, buscando significado no contexto da sessão.
Acredito, por conseguinte, buscando a integração dessas idéias, que o
analista deverá encontrar espaço na sessão tanto para a análise da
subjetividade constituída em torno dos conflitos infantis e à repetição das marcas
primeiras dos objetos, ou seja, “marca da ausência”, como também para a
dimensão criativa advinda da relação entre o ego e o “outro em presença”, que
deverá brindar as demais dimensões desconhecidas provenientes do vincular,
portanto, do fato psíquico novo.
Haverá contato com o nível de angústia frente ao desconhecido e o medo
da mudança ao trabalhar-se “na transferência” e não “com a transferência”. A
compreensão da dinâmica no “aqui e agora” da sessão, por meio da função de
rêverie do terapeuta, aproxima-nos do impensável, do estranho ou terrorífico
sem nome vivido inconscientemente pela família.
De modo que entendo que a interpretação na análise de família deva
dirigir-se não somente à transferência tomada como projeção das experiências
emocionais vividas em outro tempo original em seus modelos identificatórios e
de relação de objeto (a subjetividade – o intrapsíquico advindo do infantil), mas
também aos acontecimentos inconscientes ocorrendo no “aqui e agora” da
sessão resultantes do vínculo singular estabelecido (dando acesso à
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Resumo
A partir de uma visão sobre as novas demandas da psicanálise atualmente
e a necessidade de, em sua expansão, trabalhar psicanaliticamente com
famílias, são feitas algumas reflexões metapsicológicas, visando fundamentar de
modo cada vez mais consistente esta prática.
São discutidos os conceitos de subjetividade (ligado ao infantil, ao
repetitivo) e multisubjetividade (ligado ao momento atual, ao fato psíquico novo),
e, respectivamente, os de relação de objeto e relação de sujeito decorrentes.
Baseadas em Bion, questões são levantadas sobre a possibilidade de
articulação entre diferentes vértices quanto ao enfoque teórico-clínico
relacionadas com a transferência, contratransferência, e a interpretação no
contexto familiar.
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Referências Bibliográficas:
- Berenstein, I (2001) – El sujeto y El outro: de la ausência a la presencia.
Buenos Aires, Paidos.
- Bion, W (1962) – Learning from experience. London: W.Heimann.
- Cypel, L R C (1998) – A Transgressão: da aquisição da capacidade para
pensar à conquista do pensamento livre. Sua expressão no indivíduo,
família e instituição. Rev. Bras. Psicanal, 32(2)
- Ferro, A. (1995) – A técnica da psicanálise infantil. Rio de Janeiro: Imago.