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Da violência
Norbert Elias afirma que o período entre a Idade Média e o século XX se caracteriza, no
Ocidente, por uma progressiva transformação da economia social (p. 28).
O progressivo cerceamento da violência que se dá durante o período mencionado leva,
segundo o autor, a uma progressiva pacificação social, possível graças ao monopólio da
violência por parte dos Estados absolutistas. Uma das práticas que contribui para isso é
também a do esporte, que se apodera das emoções, rivalidades e afetos. O espaço
público e o privado adquirem gradualmente o costume da não violência, ou ao menos de
uma violência controlada (pp. 28/29).
A proliferação de estudos sobre a violência nos anos 1970 se explica pela conjuntura da
época, na qual a violência é considerada um meio para o corpo social estabelecer uma
espécie de comunidade resistente em face do Estado (p. 30).
A violência faz parte da vida social e se constitui de rupturas que consolidam possíveis
regulações do social (p. 31).
A interpretação “funcionalista” levada a cabo nos anos 1970, anteriormente descrita, pode
ser explicada pelo fato de que a violência que se dava naquele período parecia mais
“branda” do que a experimentada durante a Segunda Guerra (p. 32).
A obra Ditos e escritos, de Michel Foucault, contém, embora não de maneira sistemática,
reflexões acerca da violência (p. 33).
Erasmo de Roterdã, em sua obra Queixa da paz, afirma que “a natureza ensinou a paz e
a concórdia” e que dado tal estado natural não se acredita que “os homens que brigam e
se combatem são dotados da razão humana” (p. 33).
Foucault afirma, em sentido contrário, que “O mundo é sem ordem, sem encadeamento,
sem forma, sem beleza, sem sabedoria, sem harmonia” e que “O mundo ignora toda lei”.
De tal modo, ele coloca o conflito no coração da existência social, sendo que o homem é
o sujeito que inventa e constrói a partir desse disparate e dessa desordem (pp. 33/34).
Os atores sociais estão num esquema que lhes permite inventar outros modelos, fazer
emergir outros mecanismos (pp. 34/35).
A partir dessas constatações, o historiador adota uma postura específica: pela introdução
do conhecimento indica os meios para a luta, para o combate (p. 35).
Foucault afirma que “entre violência e racionalidade não há incompatibilidade” e que não
se deve “combater a razão-desrazão dos homens no momento em que se exerce a
violência, mas analisar a natureza da racionalidade que produz essa violência a fim de
transformar eventualmente seu curso” (p. 35).
A relação de poder tem também por racionalidade instituir tanto liberdade quanto coerção
(p. 36).
A tudo isso, Foucault responde de maneira a fazer ficar de pé situações que a opinião
acredita contraditórias (p. 37).
Desde o fim da Idade Clássica o poder não está mais em face de sujeitos sobre os quais
o domínio último é a morte, mas em face de seres vivos sobre os quais o domínio
exercido é a vida. E as guerras vão se realizar não mais em nome apenas do soberano,
mas em nome da existência de todos (pp. 37/38).
Em vez de ser considerada como uma consequência social, a violência pode ser
mostrada como o objeto ou tema principal de uma política. É preciso compreender as
formas de racionalidade que fazem jorrar a violência (pp. 38/39).