Você está na página 1de 4

Direito Penal IV

Crimes Contra a Dignidade Sexual


1. Estupro:
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§1ºSe da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14
(catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§2º Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

A partir de 2009, o legislador unificou as figuras de constranger alguém a ter conjunção


carnal, mediante violência ou grave ameaça, ou a praticar ou permitir que com ele se pratique
outro ato libidinoso. Verificamos que o núcleo do tipo é o verbo constranger, seria, portanto,
uma modalidade especial do constrangimento ilegal. Para que que configure o estupro, é
necessário que o agente atue mediante violência ou grave ameaça – entendemos como violência
a utilização de força física no sentido de subjugar a vítima a forçando a praticar a conjunção
carnal ou que com ela se pratique o ato libidinoso -. A grave ameaça pode ser direta, indireta,
implícita ou explicita, podendo assim serem empregadas diretamente a vítima, ou a pessoas ao
seu redor que de certa forma produzirá um efeito psicológico, essa ameaça deverá ser séria,
causando na vítima temor pelo agente.
Cifra negra: são os crimes não conhecidos oficialmente, aqueles não punidos, nos casos de
estupro geralmente as vítimas possuem receio de comunicar o fato a autoridade policial por
conta da estigma existente na sociedade.
A expressão “outro ato libidinoso” versa sobre todos os atos de natureza sexual, ainda
que não seja conjunção carnaval, mas que possuam a finalidade de satisfazer a libido do agente.
Por conjunção carnal entende-se como a penetração do pênis na vagina da mulher.
Insta salientar que o constrangimento empregado pelo agente pode ser para obrigar a
própria vitima a praticar um ato libidinoso diverso de conjunção carnal, podendo atuar em seu
próprio corpo como a masturbação, no corpo do agente como a pratica do sexo oral, ou mesmo
quando o agente obrigada a vitima a praticar com uma terceira pessoa e este fica assistindo.
Classificação doutrinária: quando se tratar de conjunção carnal, o crime será de mão
própria no que diz respeito ao sujeito ativo e próprio quanto ao sujeito passivo, haja visto que
para conjunção carnal pressupõe uma relação heterossexual. Quando se tratar de ato libidinoso,
será comum, em relação ao agente e a vítima.
Objeto material e bem juridicamente protegido: os bens seriam a dignidade, liberdade
e o desenvolvimento sexual. O objeto material seria a pessoa contra a qual é dirigida a conduta
praticada pelo agente, sendo homem ou mulher.
Sujeito ativo e sujeito passivo: Na conjunção carnal, o sujeito ativo será o homem ou a
mulher, devendo o sujeito passivo ser do sexo oposto. Na prática do ato libidinoso, qualquer
pessoa pode configurar o sujeito ativo bem como do sujeito passivo.
Consumação e tentativa: Quando a conduta do agente for dirigida a ter conjunção carnal
com a vítima, o delito de estupro se consuma com a penetração do pênis do homem na vagina
da mulher, aqui não importa se total ou parcial e não há também necessidade de ejaculação.
Quando for a conduta do agente dirigida a praticar ou permitir que com ele se pratique outro
ato libidinoso, consuma-se o estupro no momento em que o agente, depois de constranger
mediante violência ou grave ameaça, obriga a vítima a praticar ou permitir que com ela se
pratique outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal. É possível a configuração da
tentativa, por exemplo, quando logo depois de tirar a roupa da vítima, preparava-se para a
penetração e por algum motivo foi interrompido. Cabe tentativa também quando o agente vier
a praticar o constrangimento sem que consiga praticar o ato libidinoso.
Elemento subjetivo: O dolo é o elemento subjetivo necessário ao delito de estupro. Não
há necessidade de por exemplo o agente agir com finalidade especial de saciar a sua lascívia,
libido, o dolo definido aqui quer dizer do fato de tão somente constranger a vítima com a
finalidade de, com ela, ter a conjunção carnal ou praticar ou permitir que com ela se pratique
outro ato libidinoso, não importa aqui a motivação. Não é admissível a modalidade culposa.
Modalidades comissiva e omissiva: Trata-se de um crime comissivo, analisando o núcleo
constranger. Porém, o delito pode ser praticado via omissão imprópria, quando o agente goza de
status garantidor – aqui é quando o agente tem o dever de livrar a vitima de tal violência, mas
permite seja por qual for o motivo, um exemplo seria de quando um agente penitenciário que é
encarregado de vigiar os detentos, percebe que um grupo de presos segura um companheiro de
cela para obriga-lo a coito anal, vendo aquela situação nada o faz, responderá assim em estupro
por omissão. Vale lembrar:
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O
dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

Modalidades qualificadas:
§1ºSe da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14
(catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§2º Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Existem duas modalidades qualificadas previstas em lei. Sejam elas o especificado no §1º
deste artigo, quando a conduta resulta lesão corporal grave ou se a vítima é menor de 18 e
maior que 14 anos – para Greco, quando se tem a informação de maior que “14 anos”, será tido
como qualificado também quando a vítima sofrer a violência no dia que complete os 14 anos,
não sendo necessário como para outros doutrinadores, que para se configurar essa qualificadora,
precisaria que se passasse 1 dia do aniversário de 14 anos. - devemos lembrar, art.129:
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incuravel;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Além dessa modalidade qualificada que resulta lesão corporal grave, descrita no §1º,
temos a segunda modalidade qualificada no §2º, quando a conduta do agente resulta morte da
vítima. Para Greco, o agente pode causar na modalidade culposa o resultado das duas
qualificadoras. Caso o agente tenha agido com as finalidades de, praticar o estupro e bem como
de causa lesão corporal grave ou morte, este será responsabilizado por duas infrações penais,
em concurso material de crime.
Causas de aumento de pena:
Art. 226. A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; 
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador,
preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela;
III – (REVOGADO)
IV – de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:

Estupro coletivo

1)Mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes;

Estupro corretivo
2) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.
Vale aqui frisar que quando se tratar de estupro praticado por 2 ou mais agentes, estaremos
diante da qualificadora existente o IV, 226, que aumenta de 1/3 a 2/3 e não aplicaremos o
inciso I., que será aplicável somente aos outros crimes.
Por estupro corretivo, podemos dizer o exemplo de quando uma jovem moradora de
comunidade é estuprada “porque” mantinha alguma relação de amizade com policiais. Ou
mesmo quando as vítimas são lésbicas, bissexuais ou transexuais e os agentes a estupram para
“corrigir” a orientação sexual.
Além disso, existe a causa de aumento de pena prevista no art.234-A, incluída em 2018:
Art. 234-A.  Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:
I – (VETADO);
II – (VETADO);
III – de metade a 2/3, se do crime resultar gravidez.
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que
sabe ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência.

O inciso IV quando se trata do agente transmitir a vítima doença sexualmente transmissível de


que sabe ou deveria saber ser portador, para Greco, deve-se entender que tais expressões
dizem respeito ao agente ter atuado, com dolo direto ou mesmo dolo eventual.
Pena, ação penal e segredo de Justiça: será de iniciativa pública incondicionada. E os crimes
contra a dignidade sexual, ocorrerão em segredo de justiça.

Você também pode gostar