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Intervenção Psico-Social

Apontamentos de: Célia Silva


E-mail: celiamrgsilva@gmail.com
Data: 2011/2012
Livro: Silva, Luísa (2001) Intervenção Psico-Social, Lisboa: Universidade Aberta.
Nota: Resumo mais curto – Para exame

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INTERVENÇÃO PSICO-SOCIAL
I - O que é a intervenção Psico-Social
Intervenção Psico -Social
· Lida com os problemas que as pessoas enfrentam no seu funcionamento social e com as dificuldades
das pessoas em resolver esses problemas.
· Dá apoio e orientação e baseia-se nas “maneiras de fazer”
· Não descura a atitude do indivíduo e vai orientá_lo para um apoio psicológico especializado.
Paralelamente, vai procurar intervir nas circunstâncias do problema, encarando a atitude do
indivíduo como um problema enquadrado num contexto e não como um problema isolado;
· A intervenção psicossocial é assim uma intervenção no domínio do subjetivo
Ajuda na resolução de situações de vida que a pessoa não se sente capaz, física e
psicologicamente, de resolver, por si só.
Não descora as atitudes da pessoa, mas foca-se nas circunstâncias do problema
O trabalhador social vai pôr os seus conhecimentos e capacidades ao serviço da procura dessa
resposta por parte da pessoa-cliente. Será ela quem tem de encontrar a resposta e organizar a
mudança da situação por forma a ser capaz de a dominar em vez de ser por ela dominada.
· Tem raízes num dos chamados métodos tradicionais do trabalho social - o método de "caso individual"
Equaciona os problemas na perspetiva da sua causalidade social e não apenas como se de
problemas psicológicos se tratasse.
Trabalho Social
· Surgiu como profissão nos finais do séc. XIX em resposta às necessidades sociais (miséria, concentrada
nas cidades)
· Até aí, desde a Idade Média, que a caridade do tipo religioso tinha assegurado a proteção aos pobres e
excluídos
Diagnóstico Social
· Foi o 1º método de trabalho sistematizado, definido por Mary Richmond
· Tentativa de definir o mais exatamente possível a situação social e a personalidade da pessoa
necessitada.
· Técnicas de Diagnóstico Social
Trabalho Social de Caso (é neste que se enraíza a atividade de intervenção psicossocial)
ò Tinha uma perspetiva que hoje diríamos sociológica de enquadramento das situações e
problemas individuais no contexto social
ü Adaptação das pessoas à organização social em vez de tentar modificá-las
ò Posteriormente adquiriu uma orientação predominantemente psicológica com fortes
influências da psicanálise
ü A tónica do trabalho social é colocada na estratégia para uma mudança, que
engloba as circunstâncias exteriores sem se restringir ao indivíduo ð O
individual não existe, ele é produto da sociedade
Grupo
Comunidade
Hoje a tónica do trabalho social é colocada na estratégia para uma mudança que não se encara apenas ao
nível individual, de desenvolvimento da pessoa, mas mudança que engloba as circunstâncias exteriores.

Contextos da intervenção psicossocial


· Problemas de funcionamento social
Aqueles que afetam a vida da pessoa na sua relação com a realidade exterior, aos diferentes níveis
da sua vida pessoal, familiar ou social (Ex: no plano das relações interpessoais, no plano
económico, no plano habitacional, no profissional, etc)
O objetivo da intervenção psicossocial não é o problema em si, mas a situação de vida que com ele está
relacionada e a forma como a pessoa lida com ela.
Os problemas podem ser :
· A separação dos problemas em internos e externos é meramente concetual
· Os problemas são todos internos e externos ð Qualquer problema “existe”para além da pessoa que o
vive (“existem” falta de casas, empregos, ect), mas o problema só existe porque há pessoas que o vivem
Nessa medida, os problemas em si mesmos, não são objeto da intervenção psicossocial.
1 Célia Silva
Eles serão objeto da intervenção de profissionais de psicologia ou serão objeto da intervenção de
profissionais da política social.
A intervenção psicossocial não tem como objetivo a simples resolução dos problemas (tentar arranjar
emprego a um desempregado), o que será matéria de intervenção psicossocial é a eventual dificuldade que a
pessoa tenha em, na sua situação (revoltada por estar desempregada), orientar-se na organização social (Ir
ao Centro de Emprego, enviar curriculuns, etc)

Objetivos da intervenção Psicossocial


· Objetivo imediato
Resolução do problema
· Objetivo mediato
Procura que no processo de resolução a pessoa-cliente desenvolva as suas capacidades para lidar
com outras situações-problema da vida em sociedade.

Objetivos da intervenção Social


· Contribuir para melhorar a relação da pessoa com o seu meio ambiente de forma a que possa atingir
a sua plena realização como pessoa e possam produzir-se transformações que promovam essa mesma
realização.
· Ao nível da pessoa, o apoio psicossocial traduz-se em diferentes ações que podem agrupar-se em 4 níveis
Capacitar as pessoas para assegurarem a sua sobrevivência (obter vestuário, tratamento
médico, etc)
Desenvolver comportamentos que favoreçam o sentimento de pertença e possibilitem às
pessoas estabelecer relações próximas com outros no seu meio ambiente (capacidade de
estabelecer relacionamentos pessoais)
Desenvolver comportamentos que conduzem ao crescimento e realização (Desenvolvimento
das capacidades e do nível de competência)
Desenvolver padrões de comportamento que possibilitem fazer face, com êxito, a situações
novas.
· Ao nível do meio social: poderemos agrupar a intervenção social em 5 níveis:
Facilitar o recurso às redes informais (família, amigos, vizinhança)
Favorecer o recurso a estruturas formais a fim de providenciar a resposta a necessidades
(materiais ou outras - ex: oportunidades de emprego).
Favorecer um funcionamento mais adequado das macro-estruturas (ex.: instituições
educativas, de saúde, de justiça, etc.)
Favorecer a emergência de novos papéis sociais que respondam às novas expectativas
Contribuir para a mudança, a nível legal, de políticas sociais, costumes e regras de
funcionamento social.

Intervenção psicossocial e modelo médico


· Intervenção médica
O tratamento centra-se no objetivo de corrigir os seus defeitos de funcionamento.
· Trabalho Social
A sua ação é realizada em conjunto com o cliente, em todas as etapas, e orientada pelas
escolhas e decisões desse mesmo cliente - "ajudar as pessoas a ajudarem-se a si próprias".
Dirige-se às mudanças a provocar nas situações e na atitude da pessoa-cliente e não a mudanças
no seu funcionamento psíquico
O problema a que a intervenção psicossocial se dirige é encarado como "situação-problema"
(estão também implicados outros fatores, sociais, ou relativos ao funcionamento da sociedade)
"Empowerment", aumento de poder ou empoderamento.
ò Dar informação, passar conhecimentos, estimular a pessoa-cliente a que deles faça uso,
a que procure outras informações e outros conhecimentos ð Pessoa-cliente passa de
pedinte a atuante
As pessoas que recorrem à intervenção psicossocial são:
ò Pessoas que vivem em situação de exclusão social (pobreza, discriminação, etnia,
deficiência, isolamento por idade avançada, residência e área socialmente degradada, etc.)
ò São pessoas com uma aprendizagem social própria (vivência) ou transmitida
(socialização pelo grupo)
ò Impotência (não vale a pena)

2 Célia Silva
ò Desmotivadas
ü O profissional de trabalho social pode, com a sua atitude pessoal e profissional,
contribuir para desfazer essa relação de submissão-subjugação ou pode acentuá-
la.
ü O papel principal do profissional reside em conseguir persuadir a pessoa a
vencer esta atitude e a empenhar-se numa tentativa de resolução dos seus
problemas. Daí a importância da relação que entre ambos se vai estabelecer.

Situação-problema
· Trabalha-se com situações de vida das pessoas e não com aspetos isolados da sua vida.
Não é o problema em si que faz o objeto da intervenção psicossocial, mas é a situação de vida
em que o problema existe.
· Existem, contudo, situações em que a pessoa que as vive, tendo consciência de estar a enfrentar um
problema, não procura ajuda.
O técnico tem que discernir entre as situações que justificam a sua intervenção - por vezes contra
a vontade da pessoa-cliente - e aquelas em que a sua intervenção não se justifica.

Tipos de situações-problema
· A pessoa cliente identifica e pede ajuda
· Situações-problema para as quais a pessoa que as vive não pede ajuda:
A própria pessoa não tem consciência ð Uma vez abordada, concorda com a intervenção
ò Situações-problema que a pessoa procura resolver e cujos procedimentos, eventualmente,
alertam um profissional;
ò Situações-problema em relação às quais a pessoa toma atitudes de risco que alertam
terceiros
ò Situações-problema encarados pelos próprios numa perspetiva de fatalidade em que "não
há nada que se possa fazer" (doença crónica e incapacitante, mental ou física)
· Situações-problema em que a pessoa é forçada a aceitar a intervenção, ainda que contrariada:
Situações-problema que a pessoa que as vive rejeita que o sejam mas que colidem com o
funcionamento social integrado (ex.: delinquência, toxicodependência).
Situações-problema que embora a pessoa afetada não identifique como sendo problemáticas,
afetam de forma problemática a vida de outras pessoas - crianças ou outras pessoas em situação de
dependência.
A profissional de trabalho social tem de saber definir o âmbito da sua intervenção em função das
competências e limites do seu trabalho, isto é, das suas funções no contexto da instituição e que atua.

A relação com a pessoa-cliente


· A IPS tem por finalidade principal aumentar a capacidade da pessoa que vive uma situação-problema de
modificar a sua situação e, de forma geral, tornar-se mais capaz de lidar e modificar situações que for
vivendo ao longo da vida
· "Hoje é o ontem de amanhã"
Necessitará de examinar quais as mudanças que são necessárias na realidade do cliente para que o
trauma e as dificuldades da sua vida de hoje não reforcem antigos problemas nem lhe criem novos
desequilíbrios emotivos.
A intervenção psicossocial supõe que independentemente dos problemas que afetam as pessoas, a forma da
pessoa lidar com eles é também parte da situação-problema entendida como constelação relacional e social
na qual o problema existe.
· Supõe ainda que é à própria pessoa que compete liderar a estratégia de mudança da sua situação
pelo que a ajuda se dirige ao reforço das suas capacidades e desenvolvimento das suas
potencialidades.
· Na relação de ajuda compete à profissional aceitar a pessoa-cliente tal como ela é, com as suas
dificuldades, capacidades, emoções e forma de as exprimir.
Aceitação no sentido em que a profissional não vai criticar abertamente nem opor-se a trabalhar
com essa pessoa só porque não gosta da sua maneira de ser ou de se exprimir.
Em suma, o funcionamento emotivo do técnico de trabalho social está subordinado aos objetivos da relação
de ajuda que lhe compete a ele orientar.
· Muito diferente é o papel da pessoa-cliente para quem a forma de estar na relação tem a carga emotiva da
sua dificuldade de lidar com a situação-problema
3 Célia Silva
· Compton e Galaway ð 7 qualidades essenciais a todas as relações profissionais nos serviços que
lidam com pessoas:
A preocupação sincera com o outro
ò Deixamos usar os conhecimentos e competências que colocamos ao seu dispor
Capacidade de compreensão
ò Respeito pelo cliente e pela situação que ele está a viver. Guardar segredo.
Compromisso
ò Assumir a responsabilidade pela estratégia de ação que criamos e segui-la
Aceitação e expectativa
ò Acreditar e respeitar a capacidade dos outros
ò Elementos básicos da aceitação:
ü Conhecimento
ü Individualização
ü Confiança
Empatia
ò Perceber como as pessoas se sentem, sem nos identificarmos com eles (sofrer com eles)
Autoridade
ò Relação profissional está imbuída de 2 tipos de autoridade
ü Representar uma instituição com objetivos e meios de trabalho definidos
ü Estatuto e papel que a instituição atribui à profissional
ò A pessoa-cliente ao dirigir-se-lhe e solicitar a sua ajuda, implicitamente está a
reconhecer esta autoridade.
Congruência
ò Verdade e honestidade do profissional durante a duração do processo

Valores ð Crenças ð Princípios norteadores das opções (democracia, respeito pelas liberdades indiv.)
· Por vezes, na mesma situação, uns valores entram em contradição com outros (ex.: Testemunhas de Jeová
--> transfusões de sangue).
· É frequente que entre o técnico e o cliente se verifiquem diferenças de escala nos valores por que se regem
nas suas opções de vida.
Devemos aceitar o princípio de que a pessoa-cliente tem direito às decisões e opções que
respeitam à sua vida. Podemos:
ò Informar claramente sobre os direitos que lhes assistem
ò Esclarecer sobre a realidade social
ò Mostrar outros casos em que os individuos mudaram a sua vida
ò Dar informações claras sobre os procedimentos a tomar para vencer a situação
ò Mostrar que entendemos as dificuldades pelas quais a pessoa-cliente passa
ò Declarar e mostrarmo-nos disponíveis para falar do assunto sempre que a pessoa deseje
ò Certificarmo-nos que não há menores em risco pois nesse caso teremos de intervir
ü Neste caso deve informar a pessoa-cliente das suas intenções e dar tempo à
mesma para reavaliar as suas opções (por vezes a mesma sente alivio por alguém
fazer o que ela não é capaz de fazer)

A pessoa-cliente e o serviço
· A pessoa que está na sua frente não é apenas um portador de um problema ou de um pedido, mas um ser
humano com a complexidade de sentimentos, ideias, expetativas, histórias de vida anterior, que todos
temos

A decisão de procurar ajuda


· Antes de tomar a decisão de se dirigir ao serviço, a pessoa-utente viveu com o problema durante tempo +/-
longo, isto é, pensou nele, analisou-o, refletiu e talvez tenha posto em prática algumas tentativas de o
resolver.
· Face a um problema, a pessoa mobiliza as suas energias físicas e psíquicas em direção ao objetivo que
quer atingir.
Teoria da crise (M. Ranquet)
ò Estado de choque em que procuram "mudar magicamente" a realidade que lhes aparece
como absurda, impossível.
ò Mobilizam as suas energias e capacidades para fazer face ao problema
ò Repousam, uma vez o problema resolvido.
4 Célia Silva
· Face a um problema, a pessoa, provavelmente com sofrimento, tomou consciência das suas necessidades,
analisou-as, procurou soluções possíveis. Decidiu-se a procurar modificar a situação e procurou uma
relação profissional de ajuda.
· Durante este processo, muitas vezes longo, a pessoa confronta-se com dificuldades, fracassos, resultados e
respostas não satisfatórias, confronta-se com a sua própria incapacidade de transformação em acção o seu
desejo de mudança e, frequentemente, com o medo que anda sempre associado a qualquer perturbação do
quotidiano.
· Uma pessoa que pede ajuda sente-se vulnerável - não só por causa do problema que encara mas também
porque, ao pedir, fica em situação de desvantagem que é sentida como inferioridade e risco de
dependência. Pedir ajuda, ser ajudado, é confrontar-se com a humilhação de aceitar que não consegue
resolver o problema por si própria. Muitas vezes escondem a situação-problema.
· A passividade também pode ser devida à imaturidade.
· Uma vez que se decidiu a procurar este serviço a pessoa-cliente esperará concerteza ter uma resposta
concreta e imediata para o seu problema!

A Localização e o funcionamento do serviço são também condicionantes da 1ª relação das pessoas com o
profissional.
· Gabinete do trabalhador social ou domicílio da pessoa-cliente
· Deve haver sossego, atenção exclusiva e intimidade (nada de pessoas alheias à situação, telefones a tocar)
· A 1ª entrevista, aquela em que um utente apresenta um problema como pedido de ajuda, deve realizar-se:
Em tempo suficiente e com ambiente calmo para que se analise o caso apresentado e se procure
alcançar uma compreensão comum e uma base de acordo sobre o que se vai procurar obter e
como se vai atuar.

5 Célia Silva
II - O PROCESSO DE INTERVENÇÃO PSICO -SOCIAL
· H. Perlman
O processo de intervenção ("tratamento dos problemas") comporta 3 operações essenciais:
ò Estabelecer e compreender os factos que constituem o problema
ò Pensar os factos
ò Tomar uma decisão ou fazer uma opção
· O processo de ajuda individualizada é um processo de tratamento dos problemas porque utiliza os
procedimentos de forma ordenada e sistemática para que suscitem alguma reflexão e sentimentos
orientados para a ação.
· A ajuda psicossocial cria um clima de libertação e de apoio e estabelece um laço a que se chama relação
de ajuda
· Cristina de Robertis
Resume o processo de intervenção social como sendo:
ò Uma atuação operacional ð centrada nas dificuldades a resolver
ò Um processo contínuo e dinâmico sempre provisório ð Inscreve-se na realidade das
pessoas
ò Uma atuação subjetiva do trabalhador social pois exige:
ü Compreensão intelectual ð seleção de factos e conhecimentos aplicados à
situação
ü Compreensão afetiva ð vivenciar os seus problemas, senti-los
ò Uma abordagem ideológica ð Interferem as normas, valores e representações do
profissional
ò Partilhada com o cliente ð Só ele pode confirmar a compreensão da situação feita
pelo profissional já que só ele está de posse de todos os elementos.

A 1ª ENTREVISTA
A pessoa vive um problema
· A 1ª entrevista nunca deve ser abordada como uma ação de rotina
· A pessoa-cliente pode estar envergonhada ou agressiva, pois sente-se humilhada +por não ter sido capaz
de resolver o problema sózinha
· O profissional deve parar e pensar antes de chamar a pessoa para a 1ª entrevista
· Atitude do profissional
Cumprimente
Apresente-se
Pedir para se apresentar
Perguntar porque razão ela recorreu ao serviço
Tratá-la pelo seu nome e não num registo impessoal

Existe af etividade na relação prof issional


· Algumas emoções irão estar presentes pois são naturais, embora só algumas venham a ser partilhadas.
Outras serão ignoradas ou escolhidas.

Atitude racional vs emoções


· Ignorar que as emoções dos outros nos tocam também nas nossas e até que, por vezes, as nossas emoções
influem na forma de lidarmos com as emoções da outra pessoa, é o 1º erro contra o qual temos de nos
prevenir
· As pessoas, à 1ª vista, desencadeiam reações de atração ou aversão
· Tendência a projetar atitudes de pessoas proximas de nós nas pessoas-clientes (“pareces a minha mae”)
· Também por parte da pessoa-cliente este tipo de projeções ou transferências aparecem
É frequente que o 1º contacto seja marcado pela experiência de relações profissionais anteriores e
que a pessoa experimentou desânimo

Controlo consciente das emoções


· O profissional deve analisar e consciencializar essas emoções sempre que elas se produzem
· Não deixar que as projeções se insinuem na avaliação da situação-problema (agir racionalmente) ð
Dominar as suas reações
· No caso contrário, a profissional deve analisar o porquê da situação ter fugido ao controlo, ultrapassando o
seu papel de profissional.
6 Célia Silva
Observação da pessoa -cliente
· Aprender a observar a si e ao próximo
· Como se apresenta a pessoa utente? Tímida? Assustada? Bem-arranjada? Desleixada?
Vai ajudar-nos a compreender a atitude que a pessoa vai adotar face a nós
Essas observações vão influenciar, também, a reação do profissional
ò O profissional deve tomar consciência do que pensa e sente, pois só assim conseguirá
controlar os seus sentimentos e reações
A pessoa à frente do profissional está expectante e a procurar influenciar as suas reações

A 1ª entrevista é o iní cio de um processo que vai perdurar


· Esta 1ª entrevista, é o início de um processo que vai (provavelmente) desenrolar-se no tempo e que será
condicionado pela forma como se iniciou. Condicionamento que opera a 2 níveis:
Impressões ou perceções afetivas que a pessoa regista sobre o encontro (agradáveis ou
desagradáveis, fáceis ou dificeis, etc)
Aprendizagem ou experiência do processo

Analisar o problema no seu contexto


A função do profissional é ajudar a pessoa-cliente arranjar uma solução para o seu problema
O problema deve ser analisado em conjunto e visto de todas as facetas, de forma a encontrar uma,
ou várias, solução(oes) para o mesmo.

Ouvir pacientemente s/ interrogar em exagero (entrevistar não é interrogar)


· Orientar o discurso da pessoa-cliente, em forma de questões e comentários, por forma a tomar
consciência de como a pessoa-cliente vê e encara o seu problema, e a compreender a situação-problema ð
Sem transformar a entrevista num interrogatório
· Nesta 1ª entrevista, a atitude do profissional deve ser marcadamente de uma grande disponibilidade
para:
Ouvir procurando compreender
Ajudar a exprimir aquilo que por vezes é confuso no discurso (na forma de dizer) e na
consciência.
· O profissional deve colocar a pessoa à vontade e tentar fazer com que a mesma fale do seu problema
livremente.
· O profissional deve evitar fazer perguntas que interrompam o curso do pensamento do utente, mas ir
fazendo interjeições de forma a mostrar-se atento e a incentivar o discurso
· Deve, também, ir fazendo intervenções sintéticas para confirmar que está a entender bem, mostrar que está
atento e ajudar a pessoa-cliente a corrigir o que transmitiu de forma errónea
· A atitude empática - procurar sentir como a outra pessoa sente - é um dos principais meios para
compreender a perceção que a pessoa-cliente tem da situação-problema.
A compreensão empática exige que sejamos capazes de pôr de lado as nossas próprias
considerações e sentimentos pessoais, de prestar atenção ao que a outra pessoa diz e a como diz,
aos sentimentos que transmitem as suas palavras, a sua entoação e a sua mímica.

Comunicação simples e clara


· As palavras e frases que usa devem ser simples e breves.
· Deve certificar-se que a pessoa a quem se dirige as percebeu.

Marcar os objetivos de f orma explícita


· A 1ª entrevista deve ter como objetivo fundamental:
Estabelecer uma relação exemplar com a pessoa-utente
Atitude ativa de orientação da pessoa-cliente na procura de solução para a situação-problema

Fazer com que a pessoa -cliente colabore na resolução do problema


· O utente deve expôr o problema como o sente para que o profissional se possa inteirar da situação de uma
forma mais global, antes de intervir.
· O profissional deverá tranquilizar o utente, assegurando-lhe que não tomará atitudes que o prejudiquem,
ou agir sem a sua autorização nos assuntos que lhe dizem respeito
· Existem papéis bem definidos em relação ao profissional e ao utente, que condicionam as suas atitudes:
Submissão do utente face ao serviço e aos seus profissionais
Tratamento frio e autoritário por parte do profissional, remetendo o utente para o “seu papel”

O profissional deve contribuir para que a pessoa-cliente passe do papel de “pedinte” para
o de “atuante” (autodeterminação e empowerment”)
7 Célia Silva
· Na 1ª entrevista estão já presentes todas as etapas do processo de intervenção psicossocial que
consiste em ð Análise / Definição / Avaliação / Decisão
Analisar a situação-problema em que se insere um pedido ou necessidade
Definir qual é o problema(s) prioritário(s)
Avaliá-lo(s) do ponto de vista das suas implicações
Decidir sobre a estratégia para modificar a situação.
· Uma 1ª entrevista realizada por um profissional diferente do que habitualmente recebe e acompanha
uma utente, pode ser uma estratégia a encarar em casos continuados ou crónicos, como meio de obter um
novo olhar sobre o problema e novas propostas de intervenção

A RESOLUÇÃO DO PROBLEMA
Centro do processo de intervenção (“por onde com eçar”)
· O processo de intervenção psicossocial centra-se na resolução do(s) problema(s) que a pessoa-utente nos
apresenta. Existe normalmente uma necessidade.
· Teremos de, em conjunto com a pessoa, decidir por onde começar
O quê? Quem? Porquê? Como? Com quem?
· Normalmente a resolução dos problemas em sociedade acontece de forma espontânea, mas nem sempre,
pois existem pessoas que os adiam, escondem, não os encaram, quando chegam a um profissional de
serviço social, o problema é deveras complexo.

Tomar consciência dos mecanismos automatizados


· Todos nós, ao longo da vida, aprendemos e desenvolvemos mecanismos de resposta aos diferentes tipos de
situações que se nos deparam no dia-a-dia.
· Estes mecanismo são de difícil mudança a menos que se tome consciência das atitudes que tomamos em
reacção às atitudes dos outros, etc.
· Existem pessoas que perante as situações ficam bloqueadas, outra reagem à mínima preocupação.

A relação da pessoa com o problema e a sua capacidade para o enf rentar


· Saber reagir eficazmente a um problema é uma aprendizagem que se faz ao longo da vida. Implica
essencialmente o treino de 3 capacidades:
Controlar as emoções reativas
ò Emoções primárias que tanto podem ser dominantemente de fúria como de medo e tanto
podem desencadear a tendência para reagir com violência como a de deixar passar
despercebido e não reagir.
Auto-observação na relação com o problema e com as pessoas nele implicadas
ò Face a um novo problema, as pessoas fazem projeções que as levam a reagir como se o
problema fosse o outro com o qual se confrontaram no passado.
ò A pessoa deve ser ajudada a expressar os seus sentimentos pois só a sua expressão ajuda a
torná-los conscientes.
ò Necessário a criação de um espaço:
ü Afetivo (preocupação e interesse)
ü De diálogo (“quer falar sobre isso?”)
ü De tempo (várias entrevistas)
ü Com atenção empática
ü Com orientação discreta
Observar o problema tal qual ele se apresenta
ò A pessoa que o vive, que está nele implicada, que o sofre, é paradoxalmente aquela que
tem mais dificuldade em percebê-lo com clareza ð Visão confusa
ò O profissional, pelo contrário tem muitas vezes uma visão simplificadora que ignora a teia
de relações que contribuíram para fazer daquela situação uma situação problemática
ò Criar condições para enfrentar eficazmente um problema em toda a sua complexidade,
exige que se o fracione nas suas componentes e se as analisem uma por uma ð ƒ

8 Célia Silva
CLARIFICAR E DEFINIR PRIORIDADES NOS PROBLEMAS E OBJETIVOS A
ALCANÇAR
· Tem como objetivo fazer com que a pessoa-cliente seja capaz de resolver o problema, bem como
todos os problemas em que o mesmo se possa fracionar

Clarif icação do probl ema


· Consiste em solicitar ao cliente que se exprima sobre a sua situação e os seus problemas
· Procura elucidar os factos de uma dada situação, mas também procura pô-los em relação com os
sentimentos e reações do cliente face à situação.

Situações e problemas dinâmicos (evolução da pessoa f ace ao problema)


· As situações problemáticas evoluem em função dos relacionamentos e estruturas de acontecimentos
encadeados.
· O profissional deve tentar perceber esse encadeamento, para que possa entender qual o posicionamento da
pessoa-cliente face à situação problemática

Ver o problema por outro ângulo (com alguma distância)


· Uma das funções da ajuda profissional é proporcionar uma abordagem sistemática da situação-problema
que facilite a reflexão sobre ela (encarar de várias facetas)
· Esta fase de exploração ou clarificação da situação problemática é a 1ª etapa do processo de
intervenção psicossocial e vai possibilitar a definição de prioridades na estratégia a estabelecer.

Encarar os problemas com objetividade (nas suas várias dimensões)


· É fundamental conseguir uma atitude de “olhar e ver”, de ter uma perceção objetiva do problema.
· Ser objetivo na forma de encarar um problema é encará-lo nas suas várias dimensões.
· Neste processo, o profissional está num papel de ajuda porque, antes demais, está de fora do
problema, o que lhe permite encará-lo e analisá-lo sem angústia e sem os condicionamentos que afetam
a posição da pessoa-cliente.

Estabelecer um com promisso com a pessoa -utente para a t entativa de resolução do


problema ð Def inição de prioridades
· A principal finalidade de exploração - clarificação da situação-problema - é a de tornar a pessoa que a
vive capaz de enfrentar e resolver, um a um, cada um dos problemas em que ela se pode fracionar.
· A definição de prioridades obedece a alguns princípios - não rígidos mas adaptáveis à situação
problemática em concreto que se pretende resolver:
Ter presente o pedido do cliente
Enquadrá-lo nos dados resultantes da exploração da situação-problema (fornecem uma visão
mais completa e mais pormenorizada da situação, esclarecendo sobre as dificuldades da
pessoa-cliente ao lidar com a situação) ð •

REALIZAR UMA SÍNTESE INTERPRETATIVA E OPERACIONALð AVALIAÇÃO


(Organização da informação)
· Feita logo após a exploração da situação-problema na 1ª entrevista

Compreender o probl ema e a situação. Del inear um plano para a sua resol ução
· Profissional vai construindo hipóteses explicativas da razao de ser da situação-problema, tecendo
comentários e colocando questões, que lhe vão permitir fazer uma síntese-interpretativa da mesma
(diagnóstico – organização dos factos) ð situa o problema central como um problema isolado e
poderá confrontá-la com a visão da pessoa-cliente
A síntese-interpretativa é uma avaliação operacional que integra e relaciona os diferentes
elementos conhecidos, nas suas multiplas formas, com o intuito de isolar o problema inicial dos
outros fatores condicionantes ao mesmo
Esta síntese não se limita a um resumo, mas sim à organização da informação por forma a
apresentar a reflexão do profissional sobre a experiência da pessoa-cliente ð Apelidada de
avaliação
ò O objetivo da avaliação é a compreensão do problema, do cliente e da situação, de modo a
que se possa construir um plano para resolver ou minorar o problema
A síntese ou avaliação é uma nova visão do problema, que ajuda a pessoa-cliente a refletir
9 Célia Silva
Esta síntese é feita, mais ou menos, a meio da 1ª entrevista
ò Para a realização da síntese-interpretativa, o profissional deve interromper a entrevista
no momento em que se dá por terminada a exploração da situação-problema
ò Ter o cuidado de não introduzir preocupações exteriores aos dados recolhidos
ò No final da entrevista, já estará capaz de realizar uma síntese mais breve, mas mais
completa, que englobe a definição de prioridades e um esboço do acordo a fazer com a
pessoa-cliente, para a intervenção que se segue

Não dei xar que os valores inf luenciem a visão do problema


· Nesta fase há o risco do profissional se deixar influenciar pela sua escala de valores e de encarar a
situação da pessoa-cliente como se fosse vivida por si próprio
· O profissional tem de desenvolver a capacidade de reconhecer em si próprio as suas motivações e de as
distinguir do que serão as motivações da pessoa-cliente.
A pessoa-cliente pode ter tido uma vida muito diferente da do profissional, e dar valor a algo
diametralmente oposto ao que o profissional dá (mulheres sujeitas a violência doméstica
preferem continuar casadas a serem separadas, pois assim foram educadas)
ò Por outro lado, o profissional está consciente de que deve estar atento e procurar
intervir precocemente nos casos de violência familiar.
ò O profissional de intervenção psicossocial sabe que não pode ignorar esse elemento
da situação - a violência física conjugal -, que, embora não prioritário na análise da
pessoa-cliente, faz também parte da constelação de problemas a resolver.
· Na sua síntese-interpretativa, o profissional obedecerá a alguns princípios fundamentais:
Ter presente o pedido inicial
Enquadrar esse pedido na constelação de problemas que a exploração da situação deu a
conhecer
Explicitar a sua interpretação da situação e as razões em que a baseia ð aqui reside o
essencial do respeito pela pessoa-cliente e a prevenção contra interpretações abusivas
Orientar para a definição de prioridades na resolução da situação-problema

Inf ormar com clareza a pessoa - utente da lei tura que f azemos da situação
· Tal obriga o profissional a tomar consciência das eventuais ilações que lhe parecem viáveis mas que
apenas se sustentam na sua imaginação

Uma interrupção pode ser usada como técnica da entrevista


· Um bom recurso de trabalho com vista à realização da síntese-interpretativa, consiste em interromper a
entrevista no momento em que se dá por terminada a exploração da situação-problema. Cria espaço
mental para refletir
Breve (máximo 10 minutos)
Rever brevemente o que nos foi exposto
Relacionar os factos entre si
Procurar organizar a situação em torno de um problema central
Confirmar que temos dados suficientes que justificam a nossa organização dos factos (sintese-
interpretativa) e que não estamos a introduzir preocupações exteriores aos dados recolhidos
Brevemente, equacionar a proposta de proridades na resolução da situação
· Se possivel reunir com um colega, durante essa interrupção, para trocar impressões. Expondo-lhe a sua
síntese clarifica melhor as ideias

Orientar para uma def iniç ão de prioridades na resolução da situação -problema


· A definição das prioridades no processo de intervenção decorre, em grande parte, da visão
interpretativa do problema, mas não se limita a ela.
Se o marido da Srº B se recusa a aparecer para uma entrevista, teremos de começar por
resolver outro tipo de problemas e não ficar à espera que ele se decida a aparecer
Uma visita ao domicílio não se realiza, e princípio, sem o acordo-prévio da pessoa-cliente.
Poderá fazê-lo, mas deverá ponderar as suas razões.
Quando uma pessoa-cliente nos fala de outra pessoa das suas relações, temos sempre de ter
presente que ela nos dá a sua visão sobre essa outra pessoa e não a visão que nós teríamos
dessa pessoa se a conhecêssemos pessoalmente. Assim se percebe o interesse em falar com os
vários elementos da família em vez de só com aquele que nos procurou.
· Tenhamos, também, em conta que a escolha das prioridades e sua ordenação no processo de
seguimento não atende só à importância de cada problema para a situação global, mas atende também a
outros critérios:

10 Célia Silva
ò O da urgência
ò O da facilidade de resolução
ò O da escolha pela pessoa-cliente.

O ACORDO/CONTRATO
Contrato
· Feito entre o profissional e a pessoa-cliente, que consiste:
Confrontação dos objetivos e projeto do profissional com o da pessoa-cliente
Explicitação e negociação em conjunto das escolhas por forma a desenvolver a mudança desejada
Forma e duração do trabalho
· O contrato ou acordo corresponde a 2 tipos de preocupações:
Obter o empenhamento ativo da pessoa-cliente na procura de respostas ou soluções para os
seus problemas
Limitar a duração do processo ao mínimo
· Trabalhar por contrato significa:
Concordar em objetivos, metas, meios de as alcançar e prazo final.
Avaliar os resultados, tomar consciência do caminho percorrido e, eventualmente, concordar
em estabelecer novo contrato, com clareza quanto às razões e responsabilidades do não
cumprimento do anterior.
Um maior domínio sobre a condução do processo, do ponto de vista da pessoa-cliente
· O acordo entre profissional e cliente serve para:
Dar uma ordem comum à forma de encarar o problema (compreensão e intervenção)
Facilitar a intervenção que fica claramente definida em pequenas ações e em objetivos com que
cada uma das partes pode lidar no espaço de tempo definido, sem que se perca de vista o
objetivo final;
Dar segurança à pessoa-cliente sobre a condução do processo
· É importante que o acordo tenha em conta a organização de uma estratégia em pequenos objetivos
realizáveis progressivamente e que têm em conta as capacidades do cliente ð ‚

O utente é o único a fazer opções e a tomar decisões


· É a pessoa-cliente que vive o problema e que terá de viver com a solução a encontrar
· O profissional deve expor claramente à pessoa-cliente que a sua contribuição para a solução é vital,
principalmente quando a mesma mostra indisponibilidade para tal (falta de tempo)
· O profissional deverá, calmamente, deixar transparecer que compreende a situação e colocar-se ao dispor
para a continuar a ajudar assim que a pessoa-cliente queira rever a sua situação
· O profissional deve ser franco e direto, fazendo com que a pessoa-cliente confie nele e colocando-se ao
dispor para a ajudar sempre que a mesma o solicite ð As indecisões são compreensíveis por parte da
pessoa-cliente
· Numa situação de indecisão por parte da pessoa-cliente, deve ser a mesma a expressar as suas
indecisões e não o profissional (nem deve cair na tentação de a confortar)
· O estímulo e incentivo que o profissional dá à pessoa-cliente no sentido desta vencer os obstáculos que
encontra ao longo do processo, assentam na convicção que ela sofre com a situação para a qual solicitou
ajuda, e portanto tem vontade de modificar a situação-problema

O ACOMPANHAMENTO
Acompanhamento
· Refere-se à continuação do processo, após a fase inicial em que se chegou ao acordo sobre a
intervenção a desenvolver.
· É estruturado através de uma sequência de entrevistas, regulares ou não.
· Ao longo do processo que se vai seguir à 1ª entrevista, a intervenção psicossocial tem como
objetivo principal:
Realizar os objetivos no menor prazo de tempo
Resolver os problemas da situação analisada em resultado do pedido da pessoa-cliente
(respeitando o calendário acordado)
· As alterações, pequenas e grandes, ao acordo e previsão inicial devem ser sinalizadas e ser objeto de
acordo.

11 Célia Silva
· O acompanhamento tem como funções principais:
Estímulo e apoio à autonomia, com ajuda ao nível da autoconfiança da pessoa-cliente nas
suas capacidades;
Orientação na aquisição de competências mediante prestação de informações sobre a
forma de lidar com os assuntos, e sobre os recursos existentes na sociedade.

Ações de acompanhamento
· Visitas ao domicílio
Meio de estabelecer uma relação mais próxima da vida real da pessoa-cliente
Deve ser combinada previamente com a pessoa-cliente ou anunciada via telefone ou carta
· Ações junto de pessoas significativas
Desenvolvidas em pessoas cuja relação com a pessoa-cliente lhes dê uma posição privilegiada
no contexto da estratégia de resolução da situação- problema.
O profissional pode entrar e contacto com os vizinhos de alguém sózinho e enfermo, por
forma a providenciar cuidados ao mesmo, ou da família de um adolescente que está com
dificuldades a lidar com um problema que o faz sentir mal em casa…
ò Mesmo assim terá de pedir a autorização da pessoa-cliente, caso contrário corre o
risco de abalar a sua confiança
ò Apenas em condições excecionais (doença mental, inconsciência da pessoa-cliente,
etc), o profissional poderá prescindir da autorização do mesmo
· Concertação de estratégias com outros profissionais
Recurso à intervenção junto de outros profissionais, usualmente de outras instituições, no sentido
de com eles concertar uma estratégia comum de apoio à pessoa-cliente na resolução da sua
situação-problema
· Envolvimento da família (falar com os membros)
Em alguns casos, a relação inicial, de iniciativa da pessoa-cliente, deve ser orientada para se
alargar a outros (às vezes a todos os) membros da família.
Por princípio, as entrevistas com outros familiares não serão realizadas se a pessoa-cliente não
estiver de acordo, podendo, em alguns casos, a continuação do processo ficar condicionada
(caso o profissional ache que não tem condições para evoluir com o mesmo)
· Informação (conhecimentos legislativos, administrativos e judiciais)
Ao fornecer à pessoa-cliente conhecimentos legislativos, administrativos e institucionais que
lhe possibilitam o exercício do direito de opção entre as soluções possíveis, lhe orientam a
tomada de decisões nas escolhas que tem de fazer, lhe facilitam a organização das ações que
tem de desenvolver e o guiam no recurso às instituições, o profissional facilita ao utente a
decisão de se empenhar, com a expectativa de ser bem sucedido.
· Apoio ao nível da reclamação/reivindicação direitos
A pessoa-cliente deve ser apoiada na prossecução correta das suas tentativas de repor a
legalidade ou de legalizar a legitimidade que lhe assiste.
Representar os interesses das clientes nos casos em que a instituição não os salvaguarda ou
quando não lhes dá resposta concordante com os seus direitos - também compete ao
profissional
· Intervenção ao nível das organizações
As pessoas com menor poder social estão, à partida, em posição de desvantagem para vencer
barreiras burocráticas.
Quando o profissional tem conhecimento de atitudes de dificuldades burocráticas ou atitudes
de discriminação por parte dos serviços ou seus profissionais, compete ao mesmo apoiar a
pessoa-cliente no seu esforço para vencer essa barreira.
· Arientação para as estruturas da comunidade
Muitas das pessoas que recorrem a intervenção psicossocial vivem em situação de relativo
isolamento social, fechadas no seu ambiente familiar e absorvidas pelos problemas do
quotidiano.
O profissional de trabalho social atua como facilitador do contacto entre a pessoa-cliente e a
comunidade que, diversificando a rede social da pessoa-cliente e possibilitando-lhe novas
experiências de realização pessoal, contribuirá certamente para o desenvolvimento das suas
capacidades de tomar a sua vida em mãos sem necessidade de recorrer a ajuda profissional.

12 Célia Silva
AVALIAÇÃO E FIM DO PROCESSO
· C. Robertis
O fim da intervenção do trabalhador social constitui a última fase do método.
Esta autora analisa esta última fase da intervenção como algo que acontece por si, algo que
não precisa de ser encarado como uma fase nova.

Prof issional deve preparar o utente para a f inalização do processo


· Em geral, os processos terminam quando os objetivos foram alcançados. Mas também podem
terminar por:
Iniciativa do cliente que deixa de se apresentar às entrevistas ou que recusa os serviços da
profissional (implica uma frustração profissional);
Encaminhamento para outro organismo, por razões que podem ser geográficas ou podem
ter a ver com a evolução da situação-problema que ganha em ser tratada a partir de outra
estrutura com objetivos ou funcionamento diferentes.
Tomar a decisão, conjunta, de considerar que a intervenção está concluída, pode ser motivo de alguma
angústia de separação, mas impõe-se precisamente porque só ultrapassando esse sentimento genuíno a
pessoa-cliente se reencontrará verdadeiramente autónoma.
· Compete à profissional de trabalho social conduzir a relação para o seu fim, falando disso
antecipadamente e criando as condições para que a pessoa-cliente possa exprimir os seus sentimentos
e ideias.
· Muitas pessoas vivem com dificuldade as separações e reagem-lhes com mal-estar, tristeza,
desinteresse em relação ao que têm de assumir.
· Ajudar a pessoa-cliente a lidar com esses sentimentos faz parte da finalização do processo.
· Nesta finalização, a profissional faz, com a pessoa-cliente, a avaliação do caminho percorrido, dos
seus esforços e dos resultados obtidos; reforça a autoestima e a convicção de que ela será capaz de, no
futuro, utilizar a experiência que viveu e, mais facilmente do que no passado, enfrentar as situações
problemáticas que lhe surjam.

Processo intervenção Psico-Social


· 1ª Entrevista
Resolução do problema (decidir por onde começar)
Definição de prioridades e objetivos a alcançar
Síntese-interpretativa
· Acordo/Contrato
· Acompanhamento
· Avaliação/Fim do Processo

13 Célia Silva
III - TÉCNICAS COMPLEMENTARES

14. O registo
· Um dos aspetos essenciais da condução do processo de intervençã psicossocial é a organização do
dossier ou “processo”, relativo a cada pessoa-cliente.
· O processo vai avançando, a partir de uma 1ª entrevista na qual foi estabelecido um acordo quanto a
objetivos e formas de para eles trabalhar até ser dado por terminado.
· É muito importante que toda a informação recolhida bem como as resoluções que foram
formadas e os resultados das ações fiquem convenientemente registadas num dossier organizado
e catalogado num ficheiro de fácil acesso.
· Um profissional raramente trabalha só. Na maior parte das vezes está integrado numa equipa com
outras colegas de profissão.
· Registar por escrito deve ser um hábito diário de cada profissional.
· De preferência, registará o essencial de qualquer ação empreendida relativamente à pessoa-cliente
imediatamente após o seu término.
· Manter bons registos metodicamente organizados significa também podermos relembrar, antes da
próxima entrevista, os acontecimentos e sentimentos da entrevista anterior.
· Os registos são ainda essenciais do ponto de vista da avaliação continuada da evolução do processo de
intervenção psicossocial com cada pessoa, bem como o são do ponto de vista da avaliação final.
No registo deve ficar bem claro, de entrevista para entrevista, o que evoluiu, o que vai ser
feito, por quem e em que prazo de tempo.

Como se organiza o ficheiro de processos


· Usualmente, o ficheiro de trabalho social contem, na realidade, 2 ficheiros:
Um feito de pequenas fichas de referência onde aparece o n.º do processo, nome e dados de
contacto da pessoa- cliente, a data em que foi aberta a ficha e a data em que foi concluído o
processo.
ª Este pequeno ficheiro só de fichas serve para que rapidamente se possa localizar o
processo no ficheiro de processos.
ª Manter os processos por ordem numérica é importante porque assim consegue ter
uma noção temporal relativamente a cada um e ao seu conjunto e pode com facilidade
ter uma noção clara do n.º de processos iniciados, do de concluídos e dos que se
mantém em curso.
O outro ficheiro é feito de dossiers, onde se registam, em formulário preestabelecido, os
dados pessoais da pessoa- cliente e os dados essenciais da situação-problema e do decurso do
processo de intervenção.

Modelo de Fichas
· Para além do n.º de processo, data de início e data de fim, a ficha contém elementos de identificação:
Inclui, usualmente:
Identificação do utente ð nome, data de nascimento, naturalidade, estado civil, profissão e
situação profissional,
Agregado familiar ð para cada pessoa do agregado: nome, grau de parentesco, nascimento,
habilitações, profissão, situação profissional, vencimento ou recursos próprios (em muitos
casos, o quadro de agregado familiar pode ser substituído com vantagem por um genograma)
Instituições envolvidas e pessoas de contacto.
· Em seguida, as fichas diversificam a informação que recolhem (de acordo com a situação-problema
em causa).
· Segue-se um espaço para:
Identificação do motivo da entrevista (pedido) e da pessoa que sinalizou o caso ao trabalho
social
Problemas identificados
Avaliação da situação
Plano de intervenção
· A partir daí, a ficha continua em espaço aberto para:
Registo de contactos e diligências.
· Em todas as fichas há sempre um local para a identificação da técnica que preencheu a ficha, isto é,
14 Célia Silva
que se ocupa do processo.

14.1 Elaborar um relatório social


· Com frequência, o trabalhador social tem de redigir um relatório social destinado a apresentar a
situação de determinada pessoa-cliente a um juiz, a um médico, a outro colega de profissão noutra
instituição, etc. O registo atualizado do processo é então de utilidade indispensável.
· O relatório deve ser organizado de forma clara e sucinta, expondo:
A identificação da pessoa a quem se refere
A situação-problema em causa, enquadrada no contexto e antecedentes que lhe dão
significado
A evolução da situação desde o início do contacto com ela
A avaliação sobre a situação atual e suas potencialidades
O plano de intervenção em curso ou definido
E as propostas de intervenção, se tal for o caso
O relatório, obviamente, identifica o técnico que o elaborou.

O registo como base de pesquisa social


· Ao longo do tempo (devido às centenas de situações-problema de diferentes pessoas-clientes, em
variadas circunstâncias), há um conhecimento acumulado em cada trabalhador social sobre:
A realidade social da sociedade em que vive;
e sobre a prática de intervenção psicossocial nessa realidade.
· Sobre esses 2 aspetos, os seus registos são "enciclopédias" que cada trabalhador social tem obrigação
de explorar.
· Muito do conhecimento social existente tem sido produzido por metodologias de inquérito direto
a amostras de população.
Se não analisa a sua experiência e sobre ela não escreve, como pode a sociedade, como um
todo, aperceber-se?
A escrita mobiliza o pensamento pelo que quem não escreve sobre a sua prática profissional,
também provavelmente a pensa pouco e por isso não avançará no conhecimento e nas
competências. Age quase só por mera intuição.
· É através da reflexão sobre a sua prática profissional que a intervenção psicossocial ganha
consciência das necessidades de intervenção a outros níveis, seja o nível comunitário, de grupo,
organizacional ou de proposta de medidas coletivas.
· Qualquer profissional de trabalho social deve reservar uma parte do seu tempo anual para realizar,
pelo menos, no final do ano, um relatório da sua atividade
· Manter-se atualizado com o desenvolvimento do conhecimento é outra das obrigações de um
profissional

Organizar o seu tempo de trabalho


· Para além da avaliação qualitativa sobre o seu trabalho, procure ter uma noção de como usa o seu
tempo. Essa é uma condição básica para melhorar a sua organização.

15. Trabalho de Equipa (O REGISTO)


15 Célia Silva
· Um aspeto essencial da prática do trabalho social em qualquer área de intervenção é o domínio de
técnicas de trabalho em equipa.

· Alguns dos obstáculos + commumente identificados a um trabalho de equipa efetivo são:


O mito de que "tudo o que precisamos é espírito de colaboração";
O sentimento de que não se tem poder face ao poder e autoridade de "outros";
A tendência de olhar as diferenças anteriores em termos de "certo" ou "errado", em vez de
simplesmente "diferentes";
A dificuldade em lidar com os próprios sentimentos.
· A partir destes obstáculos, podemos sumariar processos de trabalho facilitadores:
Saber negociar diferentes pontos de vista resultantes das diferentes conceções da natureza
humana, da sociedade e da intervenção em função de um objetivo comum claramente
definido;
Reconhecer ao saber e ao papel profissional a sua dimensão de poder;
Reconhecer a inevitabilidade dos conflitos e a necessidade de negociar papéis;
Desenvolver a capacidade de agir com o conhecimento possível, como se fosse certo, embora
reconhecendo que não há certezas;
Estabelecer uma relação direta técnico a técnico e equipa a equipa, isto é, encontrar-se
pessoalmente;
Elaborar uma linguagem comum com uma clara definição dos conceitos;
Identificar um técnico de referência para cada caso;
Reconhecer o direito à objeção de consciência;
Existência de supervisão;
Existência de auditorias internas e externas;
Follow-up dos casos em que se analisem não só os resultados em relação aos objetivos
propostos para esse caso, mas também a eficácia (ou não) dos procedimentos utilizados;

Interação dos diversos Serviços dirigidos a Crianças em situação de negligência ou


maus tratos

1. Dificuldades inerentes à problemática


1.1 Definição de conceitos

16 Célia Silva
· Cada um dos intervenientes terá a sua própria definição do que é a negligência, o mau trato ou o
interesse da criança
· Na elaboração desses conceitos, do diagnóstico e do plano de intervenção há que estar atento às
dificuldades provenientes do etnocentrismo (posição de classe) e do relativismo cultural: diferentes
grupos sociais atribuem diferentes significados às mesmas ações.

1.2 Lidar com os próprios sentimentos


· Trabalhar em situações em que o abandono, os maus tratos, a negligência estão presentes é ir ao
encontro de algumas das nossas principais angústias enquanto seres humanos.
· Pode conduzir a um excessivo envolvimento emocional ou, ao contrário, a um igualmente excessivo
distanciamento dos técnicos (o que se traduz na dificuldade de deteção e tratamento destas situações).
· Por isso, a supervisão não só a nível técnico mas também emocional com um técnico treinado, é
importante.

2. Indefinição, duplicação e interpretações diferentes do que são as funções de cada serviço e de cada
técnico envolvido
· Será necessário negociar os diferentes papéis e funções a desempenhar por cada um dos técnicos e
designar um técnico de referência escolhido para manter uma relação mais próxima e andragógica
com o utente.
· Essa escolha deve ser feita em função da relação afetiva das pessoas com o técnico e ser sempre
suportada por uma equipa que, na rectaguarda, analise e avalie o processo em curso e ajude esse
técnico de referência a estabelecer o necessário distanciamento.

3. Inexistência de formação adequada e especialmente dirigida à problemática em questão


· Muita da informação recebida é teórica e parcelar.
· Para se trabalhar nesta área é necessária uma formação m ais dirigida ao treino de atitudes e
comportamentos do que à compreensão inteletual do problema (discussão de casos concretos com um
supervisor)

4. Inexistência de follow-up das situações


· Em geral não é feito o follow-up dos casos, nem uma análise dos procedimentos utilizados ou da
interação dos serviços

5. Outro obstáculo: n.º insuficiente de técnicos, a sua rotatividade e a colocação de técnicos recém-
formados nestas áreas sensíveis.

17 Célia Silva

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