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THE PERFECTIONISTS BOOK 2

Conclusão da Série

The Good Girls


As Boas Garotas

SARA SHEPARD
Sinopse
Mackenzie, Ava, Caitlin, Julie e Parker têm feito algumas coisas não tão
perfeitas. Mesmo que todas elas tenham falado sobre matar o valentão
rico Nolan Hotchkiss, elas não chegaram a ir até o fim. Foi apenas uma
coincidência que Nolan morreu exatamente da forma como elas
planejaram... certo? Exceto que Nolan não foi o único que elas
fantasiaram matar. Quando alguém que elas nomearam morre, as
meninas se perguntam se elas estão sendo incriminadas. Ou elas
estavam prestes a se tornar os próximos alvos do assassino?
ELAS SÃO DOCES...
MAS MORTAIS!
Prólogo

—E
le merece ser punido.
É assim que começa, com uma declaração simples
assim. Você pode dizer isso de um namorado que partiu
seu coração quando ele beijou aquela nova garota piranha. Ou daquela
ex-melhor amiga que mentiu sobre você para salvar a sua pele. Ou de
um valentão que foi longe demais. Você está com raiva e mágoa, e no
fundo, tudo que você quer é se vingar.
Isso não significa que você vai fazer isso, é claro. Você pode
fantasiar sobre cumprir seus desejos mais sombrios... mas você é uma
boa pessoa. Você não iria realmente em frente com isso. Mas, como
cinco meninas aprenderam, às vezes até mesmo pensar em vingança
pode levar ao perigo — e ao assassinato.
Em outras palavras, tenha cuidado com o que deseja. Porque você
pode obter exatamente o que você quer.
Em uma sala de aula aparentemente normal em uma escola
aparentemente normal em uma cidade aparentemente normal de
Beacon Heights, Washington, trinta adolescentes estão sentados na
escuridão enquanto as palavras FIM atravessam a TV de tela plana na
frente deles. Eles haviam acabado de assistir O Caso dos Dez Negrinhos,
um filme antigo em preto e branco sobre justiça, punição e assassinato.
Essa era a classe de filmografia, uma disciplina optativa do último ano
popular em Beacon High que era ensinada pelo adorado — e, pelo
menos de acordo com a maioria das meninas, totalmente lindo — Sr.
Granger.
Quando Granger acendeu as luzes, ele tinha um sorriso soberbo de
eu-sou-bonito-e-você-deve-me-admirar no rosto. — Incrível, não é? —
Ele rapidamente dividiu a turma em grupos. — Discutam. Sobre o que
você acha que realmente é este filme? Coloquem algumas ideias em
seus papéis. — Granger atribuiu uma dissertação com tema aberto para
todos os filmes que eles assistiram. Pode parecer mais fácil dessa
maneira, mas sua correção era brutal, assim como todas as outras
classes na ultra-competitiva Beacon High, então discussões em grupo
para chegar aos temas das dissertações eram fundamentais.
No fundo da sala, Julie Redding sentou-se com um grupo de
meninas que eram, em sua maioria, pessoas relativamente estranhas
para ela. Mas ela as conhecia de passagem: Havia a gênia musical
Mackenzie Wright — falavam que ela tinha tocado no palco com Yo-Yo
Ma. A linda Ava Jalali estava sentada na frente delas, e ela tinha feito
alguns bicos de modelagem triviais e, aparentemente, saiu na revista
Glamour como uma “ditadora de tendências das ruas”. Havia a estrela
do futebol, Caitlin Martell-Lewis, que era cheia de tiques como um
animal enjaulado. Ao lado de Julie estava sentada a única que ela
conhecia bem — sua melhor amiga, Parker Duvall, cujo único talento
estes dias era ser uma pária. E, claro, havia a própria Julie, a garota
mais popular da escola.
As meninas não se conheciam muito bem ainda. Mas, em breve,
elas iriam.
No início, elas falaram sobre o filme, que era sobre matar pessoas
que tinham feito coisas terríveis — aquilo era simplesmente punição, ou
assassinato? De repente, Parker respirou fundo. — Eu sei que é meio
doentio — ela disse, com a voz baixa, — mas às vezes eu acho que o juiz
do filme estava certo. Algumas pessoas merecem ser punidas.
Houve uma onda de choque através do grupo, mas, em seguida,
Julie falou, sempre rápida para vir em defesa de Parker. — Tem razão
— ela entrou na conversa. — Quer dizer, eu conheço algumas pessoas
que merecem punição. Pessoalmente, o primeiro na minha lista seria o
pai de Parker. O juiz o eliminaria facilmente. — Ela odiava o pai de
Parker pelo que ele tinha feito com Parker. As cicatrizes disso ainda
estavam por todo o seu rosto, e desde aquela noite, Parker tinha
passado da garota mais popular da escola para... bem, uma estranha
danificada. Parker não tinha sequer tentado recuperar os amigos que
ela tinha se distanciado, embora talvez fosse mais fácil se esconder do
que revelar exatamente como ela estava danificada.
Parker acenou para Julie, e Julie deu na mão da amiga um aperto.
Ela sabia que era sempre difícil para Parker falar sobre o pai dela. — Ou
que tal Ashley Ferguson? — Parker ofereceu, e Julie fez uma careta.
Ashley era uma garota do penúltimo ano que tentava duramente ser
como Julie, comprando exatamente as mesmas roupas, retuitando tudo
o que ela postava, até mesmo pintando seu cabelo da mesma cor que o
de Julie. Isso estava começando a ficar um pouco assustador.
As outras meninas no grupo se moveram. Elas não tinham certeza
se elas gostavam para onde isso estava indo, mas elas também sentiam
o puxão muito familiar da pressão das suas colegas.
Mackenzie limpou a garganta. — Hum, eu escolheria Claire, eu
acho.
— Claire Coldwell? — Os olhos de Ava Jalali se arregalaram. As
outras estavam tão surpresas quanto ela — Claire não era a melhor
amiga de Mackenzie? Mas Mackenzie apenas deu de ombros. Ela deve
ter tido suas razões para escolher Claire, Julie pensou. Todo mundo
tinha segredos.
Ava bateu as unhas vermelhas brilhantes em cima da mesa. — Eu
escolheria a nova esposa do meu pai, Leslie — ela decidiu. — Ela é...
horrível.
— Mas como vocês fariam isso? — Parker pressionou, inclinada
para frente. — Por exemplo, Ashley. Ela poderia tropeçar no chuveiro
enquanto ela está lavando seu cabelo imitador. Se vocês fossem cometer
o crime perfeito, o que vocês fariam? — Os olhos dela viajaram para
cada uma das meninas.
A testa de Ava franze em concentração. — Bem, Leslie está sempre
bêbada — ela disse lentamente. — Talvez ela pudesse cair de sua
varanda depois que ela terminar sua garrafa de chardonnay de todas as
noites.
Parker olhou para Mackenzie. — E você? Como você mataria
Claire?
— Oh — a música guinchou. — Bem... talvez atropelando ela e
fugindo depois. Algo totalmente acidental. — Ela pegou a garrafa de
água e bebeu um gole nervoso, então olhou ao redor da sala de aula.
Claire estava nesta classe... mas ela parecia não estar prestando
atenção. Apenas o Sr. Granger estava olhando para elas a partir de sua
mesa. Mas quando Mackenzie encontrou seu olhar fixo, ele sorriu e
olhou de volta para um bloco amarelo que ele estava usando.
— O pai de Parker poderia levar uma surra no pátio da prisão —
Julie ofereceu em voz baixa. — Isso acontece o tempo todo, não é?
Caitlin, que não tinha dito uma palavra, avançou sua cadeira mais
perto das outras. — Vocês sabem de quem eu me livraria? — ela disse
de repente. Ela olhou através da sala, seu olhar parando em um grupo
e, em seguida, o Sr. Granger, que estava olhando para elas de novo, até
que finalmente ela parou em um garoto no grupo três. O cara mais
gostoso da sala, na verdade. Mas sua boca bonita estava torcida em um
sorriso cruel, e seus olhos se estreitaram perigosamente.
Nolan Hotchkiss.
— Ele — Caitlin disse gravemente.
Cada menina arfou. Estava claro por que Caitlin odiava tanto
Nolan — a trágica morte de seu irmão dizia tudo — ele foi atormentado
até seu ponto de ruptura por Nolan. As próprias frustrações de cada
menina com Nolan começou a vir à tona. Ele começou rumores
desagradáveis sobre Ava depois que ela tinha terminado com ele no ano
passado. Mackenzie sentiu o rosto corar quando ela pensou em como
ela tinha se apaixonado pela sua atuação de Casanova — e enviou-lhe
algumas imagens seriamente embaraçosas. Julie odiava Nolan pela
mesma razão que Parker — se ele não tivesse drogado Parker naquela
noite, talvez seu pai nunca a teria machucado assim. Talvez Parker
ainda seria seu antigo eu, brilhante, feliz e cheia de vida.
Era verdade, cada uma delas pensou: O mundo seria um lugar
muito melhor sem Nolan. Ele era um monstro, e não apenas para elas,
mas para Beacon como um todo. Mas mesmo pensar essas coisas
parecia perigoso. Nolan poderia arruinar qualquer uma delas com um
estalar de seus dedos — e ele já tinha feito isso.
— Como vocês fariam isso? — perguntou Ava, olhando para baixo.
— Se vocês fossem matá-lo, eu quero dizer?
E assim elas falaram sobre isso — apenas por diversão. Elas
fizeram uma hipótese de uma maneira de matá-lo, com cianeto, como
em todos os filmes antigos. Não que elas fossem fazer isso.
Mas então elas vieram à tona com algo que elas fariam: pregar uma
peça em Nolan. Elas poderiam usar Oxy, sua droga preferida, para
reforçar sua cerveja. E então quando ele estivesse desmaiado, elas iriam
escrever mensagens embaraçosas sobre o seu rosto com canetas e
postariam as fotos online. Elas zombariam dele, assim como ele tinha
feito com todas elas.
Em um ponto durante a discussão, Nolan olhou para as meninas,
com uma sobrancelha levantada. Seu olhar parou em cada uma delas e,
em seguida, ele revirou os olhos e olhou para o seu grupo. Estava claro
que ele achava que ele não tinha nada para se preocupar.
Mas aqui está a coisa. Ele tinha. Porque uma semana depois,
Nolan estava morto — de envenenamento por cianeto. Exatamente da
forma como as meninas tinham originalmente planejado.
Após a morte de Nolan, as meninas ligaram umas para as outras e
falaram em sussurros em pânico. O que tinha acontecido? Tudo o que
elas fizeram foi fazer uma brincadeira com Nolan, com um único
comprimido de Oxy e algumas coisas estúpidas escritas em seu rosto.
Como o cianeto tinha ido parar em seu sistema? Isso não foi culpa
delas, elas disseram umas as outras. Elas eram boas garotas, cada uma
delas. Não assassinas.
Mas elas não podiam deixar de se perguntar: E se alguém tivesse
ouvido elas na sala de aula e decidiu tirar partido do seu plano? Outra
pessoa que odiava Nolan também, talvez? Esse era realmente o crime
perfeito — Nolan estava morto, e as meninas eram as principais
suspeitas.
De primeira as meninas pensaram que era o Sr. Granger. Elas não
tinham percebido que ele as observava cuidadosamente na sala de aula
naquele dia? Mas quando Granger apareceu morto, também, elas
estavam de volta à estaca zero. O assassino era outra pessoa.
Mas até que ponto esse alguém iria? E quanto a todos os outros
nomes da lista?
E se um deles for o próximo?
Capítulo 1

N
a manhã de domingo, Mackenzie Wright estava do lado de fora
da delegacia de Beacon Heights, olhando melancolicamente para
o meio-fio. Nuvens de tempestade pairavam baixo no céu. Seis
carros-patrulha estavam alinhados no estacionamento. Todas as outras
meninas da classe de filmografia já tinham ido embora, ou com seus
pais — os de Mac estariam ali a qualquer momento — ou por conta
própria.
Como se convocado por seus pensamentos, o sedan de seus pais
apareceu no estacionamento. O estômago de Mac capotou. Ela pegou
uma carona com Ava até aqui nesta manhã, mas depois os policiais
haviam ligado para seus pais, que haviam insistido em ir buscá-la. Mac
não conseguia imaginar como a família dela estava reagindo à notícia de
que ela tinha arrombado a casa de um professor que tinha sido morto
na noite passada — esfaqueado com sua própria faca de cozinha. Ela,
Mackenzie Wright, primeira cadeira de violoncelo, era uma suspeita de
assassinato.
O carro diminuiu a velocidade, e sua mãe saiu correndo do banco
do passageiro, envolvendo Mackenzie em um abraço firme. Mac
endureceu, surpresa. — Você está bem? — a Sra. Wright disse no
ombro de Mac, sua voz cheia de soluços.
— Eu acho que sim — disse Mac.
Seu pai tinha saltado para fora do carro, também. — Viemos assim
que pudemos. O que aconteceu? A polícia disse que você invadiu uma
casa? E tinha havido um assassinato? O que está acontecendo nesta
cidade?
Mac respirou fundo, dizendo as palavras que ela tinha ensaiado
durante os últimos cinco minutos. — Foi uma grande confusão — ela
disse lentamente. — Algumas amigas e eu pensamos que tínhamos
algumas informações sobre a morte de Nolan Hotchkiss. É por isso que
nós viemos para a delegacia de polícia. Mas então... bem, então as
coisas ficaram meio confusas.
Seu pai franziu a testa. — Você entrou ou não na casa de um
professor?
Mac engoliu em seco. Ela tinha estado temendo esta parte. — Nós
pensamos que ele estava em casa. A porta estava aberta. Tínhamos
algumas perguntas para ele, sobre a morte de Nolan.
Ela baixou os olhos. Seus pais haviam conhecido Nolan Hotchkiss
antes mesmo que ele tivesse morrido, todo mundo o conhecia. Os
Hotchkiss eram ricos e poderosos, mesmo no mundo influente,
fascinante e perfeito de Beacon Heights. O que seus pais não sabiam
era o que Nolan significava para Mac. Não muito tempo atrás, ele tinha
levado Mac para sair em alguns encontros. Cortejando ela, fazendo-a se
sentir bem, iluminando sua vida. Quando ele pediu algumas fotos, ela
não tinha nem se encolhido, posando atrás de seu violoncelo e sendo
fotografada.
Acontece que ele só queria as fotos para uma aposta — o que
Mackenzie percebeu quando ele dirigia por sua casa com seus amigos,
rindo e jogando dinheiro para ela. Você pode imaginar esse pesadelo
humilhante?
Pior, a polícia tinha encontrado essas imagens no telefone de
Nolan, o que para eles era um motivo bom para Mac ter assassinado
Nolan. Eles não tinham prova de nada ainda, mas ainda assim, isso não
era bom.
Foi por isso que Mackenzie e as outras meninas tinham ido à casa
de Granger para tentar limpar seus próprios nomes. Elas sabiam que
Nolan tinha algo sobre Granger — algo grande — e pensaram que talvez
Granger o matou para mantê-lo quieto.
A Sra. Wright segurou Mac no comprimento do braço. — Você
honestamente pensou que seu professor tinha algo a ver com a morte
de Nolan? Que tipo de professor que ele era?
— Não era um bom. — Mac se contorceu com o pensamento de
Granger brincando com algumas de suas alunas — o “algo grande” que
Nolan tinha conhecimento. Elas haviam descoberto isso quando Ava
encontrou uma mensagem ameaçadora de Nolan no telefone de
Granger. Ah, e Granger tinha dado em cima de Ava, também.
Depois que elas entraram na casa de Granger e encontraram
evidências concretas de que Nolan estava chantageando o professor,
todas elas foram para a delegacia juntas. Mas elas não tinham chegado
exatamente com a calorosa recepção que esperavam. Granger tinha
morrido apenas momentos depois que elas fugiram do local. O
namorado de Ava — ou talvez ex-namorado — tinha visto elas deixando
a casa de Granger e chamou a polícia.
A discussão incompreensível que ela tinha acabado de ter com
suas amigas passou pela cabeça de Mackenzie. Granger é o assassino
de Nolan? Caitlin tinha perguntado. Ou será que o assassino de Nolan
matou Granger, também — e fez parecer que fomos nós novamente?
Ninguém tinha uma resposta para isso. Tudo fazia sentido quando elas
pensaram que Granger matou Nolan, mas agora ficou claro que tudo
era mais complicado do que elas tinham pensado.
Seu pai atirou o braço em volta dela e puxou-a para perto,
arrancando Mac de volta ao presente. — Bem, nós acreditamos em você,
e nós vamos resolver isso — ele disse. — Eu já liguei para um velho
amigo que é advogado. Só lamento que isso aconteceu, especialmente à
luz de todas as coisas boas acontecendo agora.
Demorou um momento para Mac perceber ao que ele estava se
referindo: Ela deveria estar comemorando sua aceitação não-oficial para
Juilliard, em Nova York. Ela soube de uma ligação de uma amiga da
sua mãe — que tinha informações privilegiadas do escritório das
admissões — há dois dias, mas eles realmente não tinham chegado a
desfrutar o momento. Não que Mac se sentisse em clima de
comemoração, desde que a vitória foi manchada pelo fato de que Claire
Coldwell tinha entrado, também.
Seu pai guiou-a para o banco de trás do carro. — Estou feliz que
você está bem. E se você estivesse dentro daquela casa com um
maníaco com uma faca?
— Eu sei, eu sei — Mac murmurou em seu peito. — E eu sinto
muito. — Mas isso a fez se perguntar: E se elas tivessem permanecido
na propriedade de Granger, a uma distância segura, por um pouco mais
de tempo, elas teriam visto quem tinha entrado na casa dele e o
matado?
Ela estava prestes a entrar no carro quando ouviu uma risada
atrás dela. Do outro lado da rua em frente ao quintal dela estava Amy
alguma coisa, uma estudante do segundo ano que ela conhecia da
escola. Amy estava encostada numa árvore, com um copo de café em
suas mãos, apenas... encarando.
Mac colocou a cabeça para baixo. Quanto tempo a menina tinha
estado observando? Será que ela ouviu sobre Granger? Quanto é que
ela sabe?
Suspirando, Mac deslizou no assento ao lado de sua irmã mais
nova, Sierra. Sierra olhou para Mac com um pouco de cautela, quase
como se ela estivesse com medo dela. Mac olhou para frente, fingindo
que ela não percebeu, mas quando ela ouviu o nome de Nolan na rádio
de notícias local, ela se encolheu. Ainda continua a procura da pessoa
que envenenou o Sr. Hotchkiss na noite de...
— Chega disso — disse a Sra. Wright bruscamente, sua mão se
atirando para a frente para ajustar o seletor para a estação de música
clássica, que estava tocando Beethoven. Ninguém falou durante o curto
caminho para casa. Mac inclinou-se para trás e fechou os olhos,
sentindo-se profundamente e dolorosamente cansada. O silêncio só foi
quebrado quando pararam na calçada e a Sra. Wright limpou a
garganta. — Parece que você tem um visitante, Mackenzie.
Os olhos de Mac se abriram, e ela seguiu o olhar de sua mãe. Seu
primeiro pensamento foi que devia ser Claire, sua ex-melhor amiga. Um
temor a encheu. Após as tentativas de Claire para sabotar a audição de
Juilliard de Mac, Mac nunca mais queria vê-la novamente. O fato de
que ela teria que passar os próximos quatro anos com ela, na faculdade
que elas duas dedicaram suas vidas para serem aceitas — parecia como
uma espécie de piada cósmica.
Mas então sua visão se ajustou. Não era Claire sentada no
alpendre da família, girando lentamente as folhas brilhantes de um
cata-vento que se espremia no canteiro. Era o namorado de Claire — e o
menino que Mac amara em silêncio por anos. Blake.
A cabeça de Blake subiu quando o carro parou. Havia um olhar
desesperado e penetrante em seus olhos. Ele abriu a boca, mas as
palavras não saíram, e ele a fechou novamente. Mac sentiu um puxão
em seu coração. Seu cabelo desgrenhado e olhos azuis com longos cílios
ainda tirava o fôlego dela. E ele parecia tão... triste, como se ele sentisse
falta de sair com ela.
Então ela notou algo em seu colo. Era uma caixa confeccionada da
padaria da sua irmã na cidade, juntamente com um envelope branco
quadrado. Uma memória de repente a golpeou: o encontro com Blake
na padaria na semana passada, para que pudessem ensaiar canções
para sua banda. Parecia que tinha sido há muito tempo. Mac tinha
mantido distância de Blake por algum tempo — desde que Claire
começou a namorar com ele, embora ela sabia claramente como Mac se
sentia a respeito dele. Mas naquele dia na padaria, eles tinham... se
conectado, como nos velhos tempos.
Ela fechou os olhos, inundada com a memória de como seus lábios
se encontraram. Isso pareceu tão errado e tão certo, tudo ao mesmo
tempo.
Mas o ponto fraco dentro de Mac rapidamente virou um ferro duro.
Ela pensou na próxima vez que ela tinha visto Blake na padaria:
encontrando ele e Claire depois da audição de Juilliard. Eles estavam
juntos, lado a lado, uma frente unida. Eu disse a Blake para sair com
você, Claire tinha brincado. Eu sabia que você ia largar tudo, mesmo
praticando para sua audição. Ah, e todas as suas confissões a Blake?
Ele me contou tudo. Incluindo que você estava praticando Tchaikovsky.
Ela olhou para Mac com tanta raiva e ódio em seus olhos. E nós não
terminamos. Nós estamos mais fortes do que nunca.
Blake não tinha sido capaz de olhar para Mac quando ela lhe
perguntou se era verdade. Mas ele não precisava. Seus olhos abaixados
e a expressão de culpa tinha dito tudo.
Agora Mac se virou e seguiu seus pais para a casa através da
garagem. — Eu não quero falar com você — ela retrucou.
Blake saltou da varanda e correu até a calçada. — Eu sinto muito,
Macks. Sério. Eu sinto muito, muito mesmo.
Mac parou. Ela poderia ter choramingado. Sua mãe tocou em seu
braço. — Querida? Você está bem?
— Sim — Mac disse fracamente. Ela não tinha dito a sua mãe
sobre o drama Blake e Claire — elas não tinham exatamente esse tipo
de relacionamento. Ela deu a mãe dela o mais valente sorriso. — Eu só
preciso de um segundo, se estiver tudo bem?
— Alguns minutos — disse a Sra. Wright, olhando com cautela na
direção de Blake antes de entrar.
Mac virou e olhou para Blake. Ele estendeu a mão para seu braço.
Ela instintivamente tentou se afastar, mas depois murchou. O cheiro
quente de massa de cupcake e pó de açúcar flutuava dele.
— Eu sinto muito — Blake começou.
— Eu não quero ouvir isso — disse Mac, se sentindo cansada, mas
Blake pressionou.
— Macks. É verdade que Claire me pediu para começar a sair com
você. — Ele fez uma careta. — Mas quando eu percebi como você se
sentiu, e como eu me senti, eu queria colocar um fim nisso. Você é a
única que eu sempre quis. Eu não tive a intenção de te machucar. Eu
me senti mal por isso, tudo isso.
Mac zombou. — Isso não o impediu de levar a cabo o seu plano. —
Dizendo a Claire que ela estava praticando Tchaikovsky, de modo que
Claire poderia praticar a mesma peça e tocá-la primeiro. Tentando
distraí-la antes da audição mais importante da sua vida. — Você quase
arruinou tudo.
— Eu sei, eu sou um idiota. — Blake chutou uma pedra no chão.
— Só para você saber, eu terminei com Claire. Para sempre, desta vez.
Eu quero estar com você... se você quiser.
Nos momentos mais sombrios de Mac ao longo dos últimos dias,
ela imaginou uma cena como esta, onde Blake vinha rastejando sobre
as mãos e joelhos para implorar seu perdão. Mas agora que estava
realmente acontecendo, ela não se sentia tão satisfeita como ela tinha
pensado que ela sentiria. Ela olhou para ele agora, um pouco chocada.
Ele a ferrou, em seguida, teve a coragem de pedir para ficar com ela?
— Aqui — disse Blake, sua voz nervosa. Ele empurrou a caixa de
cupcakes e o envelope para ela. — Para você...
Mac sabia que ele não ia embora até que ela abrisse a tampa.
Dentro havia um único cupcake com um violino em forma de lagartas
doces. A cereja estava desleixada, estava claro que o próprio Blake
havia criado. Resumidamente, Mac tentou imaginá-lo: ele está sobre
uma tigela, em seguida, verifica o cupcake no forno, em seguida,
posiciona cuidadosamente as lagartas doces assim. Isso parecia um
grande esforço para alguém que ele tentou sabotar.
— Parabéns por entrar em Juilliard — disse Blake suavemente. —
Eu estou tão orgulhoso de você.
A cabeça de Mac disparou para cima. — Como você sabe que eu
entrei?
Blake piscou. Ele parecia travado. Foi quando Mac entendeu: Ele
sabia porque Claire lhe dissera. O que significava que eles ainda
estavam se falando.
— Eu ouvi isso de Claire, mas isso foi a última coisa que falamos
antes de nós terminarmos — disse Blake rapidamente, como se ele
pudesse sentir o processo dos pensamentos de Mac. — É incrível,
Macks. Você merece demais. — Ele se aproximou mais. — O que será
necessário para que você possa me perdoar? Eu tenho alguma chance?
Mac podia sentir os olhos cheios de lágrimas. Apenas alguns dias
atrás, ela teria dado qualquer coisa para ouvir Blake dizer isso — dizer
que ele a queria, que ele a escolheu. Por muito tempo ele tinha sido o
cara em um pedestal, o que ela tanto queria, mas não podia ter.
Mas agora ele não era nenhuma dessas coisas. Ele era apenas o
Blake que esfaqueia pelas costas. Blake, o cara que realmente eu não
entendia. Como eu poderia confiar nele novamente depois do que ele
fez? Como ele poderia ser aquele Blake perfeito e ideal que ela
fantasiava por tanto tempo?
Ela fechou a caixa da padaria. — Não há nenhuma chance — ela
falou, pegando o envelope fechado e andando para dentro.
E quando ela fechou a porta, ela fechou todos os pensamentos
sobre Blake firmemente atrás dela.
Capítulo 2

—J
ulie? — Um grito rouco soou pela porta do quarto de Julie
Redding na segunda-feira.
Julie rolou, puxou as cobertas sobre sua cabeça, e se
esforçou para voltar a dormir. Ficou tudo quieto por um momento, mas
então: — Julie? Julie! — Este chamado era mais urgente.
Com um grunhido de frustração, Julie afastou seu edredom branco
e sentou-se em sua cama. Sua camisola de seda era suave contra sua
pele. A luz solar agradável da manhã entrava pelas cortinas de gaze.
Aves cadenciadas deram as boas-vindas ao dia lá fora, e uma brisa
suave tomou conta de seu rosto através da janela aberta. O quarto dela
estava em perfeita ordem, assim como ela havia deixado na noite
anterior. Exceto por seu jeans James amassado e seu cardigã de
cashmere cinza — ambos da última temporada, comprados de segunda
mão — que ela tirou e deixou cair no chão antes de cair na cama.
Ao seu redor, o dia estava amanhecendo lindamente,
perfeitamente... mas Julie sentiu apenas escuridão e tristeza. Ela ouviu
o miado e o arranhado dos gatos — hordas e hordas de gatos — do lado
de fora da porta de seu quarto. E a voz desesperada de sua mãe.
— JULIE!
Julie saiu da cama e andou através de seu quarto, passando pela
cama de solteiro extra, onde sua melhor amiga, Parker, geralmente
dormia. Parker não tinha vindo aqui na noite passada — de novo.
Ela abriu a porta. A preciosa, inestimável e amada porta, a única
coisa que separava seu mundo do da sua mãe. A única coisa que
mantinha a bagunça mofada longe, protegendo o domínio de Julie da
contaminação do outro lado. Quando a porta se abriu, o cheiro
pungente de jornais mofados, pratos cobertos de alimentos, latas de
crostas de comida de gato e tecido molhado flutuou sobre ela. Ela
engoliu em seco para reprimir o reflexo do vômito.
— O quê? — ela rosnou para sua mãe, que estava no corredor
lotado. Culpa passou através de Julie quando o rosto carnudo da Sra.
Redding enrugou, mas ela empurrou-a para longe. A última coisa que
ela poderia lidar acima de todo o resto era sua mãe. Julie esfregou as
duas mãos sobre o rosto, tentando forçar seu cérebro de alguma forma
a entrar no estado zen. Sem sorte. O melhor que ela conseguiu reunir
foi uma calma exterior. Ela tomou um par de respirações profundas. —
Quer dizer, sim, mamãe? — ela disse, sua voz agora neutra e
controlada.
A Sra. Redding empurrou uma mecha de cabelo gorduroso fora de
seus olhos. — A escola já começou, você sabe — ela gritou. — Mas já
que você já está atrasada, você pode comprar para mim algumas Sprite
Diet e a areia dos gatos.
Julie apertou a mandíbula. — Eu não posso. Eu nunca mais vou
sair de casa.
— Por que não?
Julie olhou para longe. Por causa de você, na verdade. Por causa de
um e-mail horrível que alguém enviou para todo o corpo discente sobre
você.
Ela praticamente podia ver os olhares de insultos nos rostos de
seus colegas de classe; eles certamente leram os e-mails de Ashley
Ferguson por agora. Ela já sabia os apelidos cativantes que eles
rabiscaram no seu armário: JULIE PODRIDÃO, JULIE FEDORENTA, e
aquele que ela mais temia, GATA À BEÇA. Era o que as crianças em sua
antiga escola a chamavam, afinal de contas.
Portanto, não havia nenhuma maneira dela voltar, nunca. Julie
odiava admitir, mas Ashley tinha superado Nolan Hotchkiss no
departamento eu-vou-fazer-da-sua-vida-um-inferno. E, oh sim, houve
também toda aquela besteira sobre o assassinato de Granger. A história
tinha passado no noticiário ontem à tarde; sem dúvida Beacon estava
movimentada com isso. E se todos também soubessem que Julie e as
outras eram suspeitas? Em Beacon, as coisas tinham uma maneira de
se locomover, mesmo quando elas deveriam ser privadas. Ela podia
ouvir os sussurros. Não só Julie Redding vive em um buraco de lixo,
como também matou Nolan Hotchkiss e seu professor! Você não ouviu
que ela foi presa?
A coisa com Granger estava realmente mexendo com sua mente.
Justo quando ela e as outras pensaram que tinham encontrado o
assassino de Nolan, ele apareceu morto. Será que a mesma pessoa que
matou Nolan — a mesma pessoa, em outras palavras, que armou para
elas em primeiro lugar — também matou Granger? Mas quem poderia
ser? Individualmente, Julie e as outras meninas da classe de filmografia
tinham feito alguns inimigos — como Ashley Ferguson. Mas quem as
odiava coletivamente?
Ela suspirou, percebendo que ela não tinha respondido à pergunta
da sua mãe sobre faltar à escola. — Porque eu não sou mais bem-vinda
na escola — ela disse de forma vazia. — Porque tudo está arruinado.
Sua mãe deu de ombros, parecendo aceitar isso como uma
resposta. — Bem, eu ainda preciso da areia de gato e da Sprite Diet —
ela disse simplesmente. — Certamente você pode sair para isso.
Deus me livre de ela perguntar a Julie o que poderia estar errado.
Um, dois, três... Julie contou, usando sua técnica de contar para se
acalmar. Então, ela sentiu algo macio e furtivo passar pelas suas
pernas e quase gritou. Um dos animais sarnentos de sua mãe estava
tentando entrar em seu quarto. — Sai daqui — Julie murmurou, meio
chutando-o de volta para o corredor. O gato miou e desapareceu em
uma pilha de caixas que um outro gato, um preto que sua mãe sempre
chamava de Twinkles, estava de pé em cima. Um terceiro gato, uma
coisa emaranhada com um olho, estava em uma caixa de areia aleatória
no meio do corredor, olhando para eles.
Em seguida, Julie se virou para sua mãe. Ela estava farta disso. —
Desculpa — ela disse. — Sem Sprite Diet. Sem areia de gato. Vá você
mesma.
A boca da Sra. Redding caiu. — Como é?
Julie se contraiu ligeiramente. Já fazia um longo, longo tempo
desde que ela disse um não para a sua mãe. Desde que o
amontoamento da sua mãe tinha começado em pleno vigor, ela sempre
achou mais fácil apenas cumprir. Mas olha o que isso tinha trazido
para ela: Ela passou anos correndo ao redor, tentando ao máximo se
certificar de que ninguém nunca visse onde ela morava. Ela tentou
fazer-se absolutamente perfeita e impecável, de modo que ninguém
jamais soubesse a verdade. Mas agora o peso de seu ressentimento a
acotovelou, fazendo-a fervilhar.
— Eu disse vá você mesma — Julie repetiu com firmeza. — No caso
de você estiver interessada, mamãe, eu não posso mostrar meu rosto
para o mundo. Todo mundo sabe agora. — Ela acenou com a mão no ar
descontroladamente. — Sobre esse... esse lugar.
Ela estreitou os olhos, uma inundação nova de poder atravessando
ela. De repente, ela estava pronta para dizer todas as coisas que ela
tinha mantido reprimidas. E de qualquer maneira, qual era o ponto de
se deter agora que ela iria, provavelmente, para a cadeia?
Ela olhou para sua mãe novamente. — Eles sabem sobre você. E
agora eles vão me odiar novamente, exatamente como eles fizeram na
Califórnia. — Era bom dizer isso em voz alta. Julie sentiu mil quilos
mais leve, como se estivesse flutuando. — Oh, e mais uma coisa —
continuou Julie. — Eu também me sinto um pouco desconfortável de
sair porque eu sou procurada por um assassinato que não cometi. Isso
é uma desculpa boa o suficiente para você?
A Sra. Redding olhou para Julie sem expressão. Depois de um
longo momento, seus olhos se estreitaram. — Como você ousa não me
ajudar! — ela gritou. Ela deu um passo em direção a sua filha, os olhos
esbugalhados do rosto avermelhado.
Julie deu um passo para trás. Com uma sacudida de pânico, ela
percebeu que sua mãe tinha atravessado o limiar... e estava em seu
quarto. A Sra. Redding nunca tinha posto os pés lá dentro. Mesmo
através de sua doença, ela parecia entender que este era um espaço
sagrado. O coração de Julie bateu contra as costelas, e ela sufocou um
soluço. Com seu cabelo pegajoso e roupão puído, sua mãe parecia ainda
mais despenteada contra o pano de fundo com as peças de mobiliário e
um tapete impecável.
— O que diabos de bom há em você? — a Sra. Redding estalou,
batendo os braços ao redor como uma maníaca. — Você era uma
criança inútil, e agora você é uma adolescente inútil. Você apenas pega,
pega e pega, e você nunca faz nada para mim. — Seus olhos se viraram.
— Seu pai sabia como você era inútil.
Julie congelou. — Pare. — Ela não queria que sua mãe fosse por
este caminho.
Mas a Sra. Redding sabia que ela a tinha atingido. — É por isso
que ele foi embora, você sabe. A primeira vez que ele segurou você, ele
se virou para mim e disse, “Bem, talvez nós vamos acertar da próxima
vez”. Ele viu através de você. Você é a razão pela qual ele nos
abandonou. Você nunca foi boa o suficiente para ele.
— Por favor — Julie disse fracamente, murchando em si mesma, o
surto de confiança que ela tinha sentido apenas momentos antes
desaparecendo. Esta sempre foi a arma secreta da sua mãe. E sempre
foi a coisa que dizimou Julie completamente.
— Então você não vai para a escola hoje, hein? — a Sra. Redding a
desafiou. — Eu não estou surpresa. Seu pai sempre disse que você não
era inteligente o suficiente. Você é um pedaço de nada. Uma inútil, não
serve para nada, pedaço de nada. Claro que você está sendo acusada de
um assassinato! Você provavelmente fez isso, sua cadela estúpida!
Ela disse mais do que isso, muito mais, mas as palavras em breve
borraram juntas, passando sobre Julie como eles tinham feito desde
que ela era uma menina. Sua mãe sempre tinha sido maldosa, mesmo
antes dela enlouquecer. Julie lembrava de chorar bastante quando ela
era pequena, uma vez até mesmo perguntando: — O que posso fazer
para que você me ame? — Ao que sua mãe tinha apenas rido e dito: —
Torne-se outra pessoa.
Foi quando Julie se tornou... bem, a Super Julie. Mesmo como uma
criança de seis anos de idade, ela tinha corrido ao redor fazendo tudo o
que sua mãe pedia — antecipando cada necessidade sua, trazendo seus
chinelos, uma caixa de Sprite Diet, seus tabloides semanais favoritos.
Era por isso que ela estudava mais do que ninguém em sua classe, se
vestia bem, escovava os cabelos ruivos até que eram os mais brilhantes
de todas as meninas em sua classe.
Mas nunca tinha sido suficiente. Não importava o que Julie fazia
ou como ela fazia, sua mãe a desprezava. Julie frequentemente sentia
como se a represa de palavras fosse pior do que o mar de lixo batendo
na porta de seu quarto.
Quando elas se mudaram para Beacon Heights, ela pensou que ela
pudesse começar de novo, e por um tempo, ela tinha conseguido. Mas
talvez sua mãe estivesse certa. Talvez Julie fosse o problema. Se ela
tivesse apenas tentado mais esconder seu segredo de Ashley, ninguém
mais na escola teria descoberto. Se ela tivesse apenas tentado com mais
empenho corrigir sua mãe, então não teria havido um segredo em
primeiro lugar. E se Julie tivesse apenas tentado impedir a si mesma e
as outras de drogar Nolan, se ela tivesse feito um melhor trabalho em
disfarçar sua caligrafia para que os policiais não a reconhecessem no
rosto de Nolan, se ela simplesmente não houvesse invadido a casa do
Sr. Granger, talvez ela e as outras não seriam suspeitas. Se Julie fosse
mais esperta, melhor, mais forte, então ela seria capaz de descobrir
quem tinha entrado na casa depois que elas saíram e o matou. Porque
agora ela não tinha a menor ideia, e a menos que ela descobrisse isso
rápido, ela iria para a cadeia.
Talvez fosse tudo culpa dela.
Em algum lugar distante, Julie pensou ter ouvido uma campainha.
A Sra. Redding parou no meio das palavras. Julie ouviu novamente,
desta vez com mais clareza. Era a campainha.
A mãe de Julie se virou para ela. — Bem, você vai atender ou não?
Julie, que se jogara na cama e se enrolou em uma bola fetal
apertada, sentou-se lentamente e piscou. — Uh, claro — ela disse
fracamente.
— Ótimo. — A Sra. Redding levantou-se de cima da cama de
Parker e se arrastou para fora da porta, deixando um ciclone de pêlo de
gato rodando atrás dela. — E depois que você fizer isso, você pode ir
comprar minha areia de gato e a Sprite Diet.
— Ok — Julie disse em uma voz baixa.
A campainha tocou novamente. Julie esfregou os olhos, sentindo
quão vermelhos provavelmente estavam. E se fosse Ashley? A menina se
materializou em seus pensamentos, seu cabelo vermelho-dourado no
mesmo tom do de Julie, suas roupas tão cuidadosamente copiadas, seu
sorriso tão sacarino e maldoso. Desde aquele e-mail, Julie tinha tido
pesadelos sobre Ashley emboscando-a várias vezes. Ashley saindo de
um bolo em uma festa de aniversário, enfiando a cabeça em uma cabine
de um banheiro privado, até mesmo interrompendo Julie em uma
depilação. — Você sabe a verdade? — Ashley ria o tempo todo. — Ela é
uma aberração nojenta! Ela vive em uma pilha de lixo! Suas roupas são
feitas de pêlo de gato! — E quem mais estivesse no sonho — um amigo,
um conhecido, até mesmo um estranho — ia olhar para Julie em
horror, compreendendo a sua verdadeira natureza.
Mas, no entanto, talvez fosse apenas Parker na porta. Parker
precisava dela agora. E Julie se perguntou onde sua amiga tinha ido
após a delegacia ontem — depois que tinham conversado sobre quem
poderia ter entrado na casa depois delas, Parker tinha decolado pela
floresta, insistindo que ela queria ficar sozinha. Julie deveria ter
seguido ela. Parker era muito frágil para ficar sozinha.
Ela escorregou de sua cama e envolveu um luxuoso roupão
atoalhado em torno de si mesma. Lentamente, ela percorreu seu
caminho pelo corredor, seguindo o farol quadrado de luz que entrava
por uma pequena janela no alto da porta da frente.
Assim que Julie estava a alguns passos da porta, a luz ficou
escura. Um rosto bloqueou a janela, olhando. Ela congelou em seu
caminho, seu coração pulando em sua garganta. Ela reconheceu os
olhos verde-oliva, a bela pele escura: Era Carson Wells. O cara novo na
cidade, com quem ela tinha sido tola o suficiente para sair em alguns
encontros antes de tudo desmoronar.
Um pequeno grito escapou de seus lábios. A sua desgraça já não
estava completa?
Ela saltou quando a campainha tocou novamente. Lentamente, ela
andou para trás, pressionando-se contra a pilha de caixas — talvez ela
pudesse escapar e fingir que não havia ninguém em casa.
O rosto na janela ficou mais perto do vidro. As mãos de Carson
protegeram os olhos quando ele pressionou o nariz na janela. — Julie —
ele gritou, seu sotaque australiano afiando as vogais em seu nome. —
Julie, eu sei que você está aí. Abra a porta.
Julie encolheu para trás outro passo. Ela começou a hiperventilar.
— Você não pode se esconder aí para sempre. Eu só quero
conversar com você.
Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Sim, certo. Ele queria provocá-
la. Ou talvez censurá-la por não dizer a verdade. Seja lá o que ele ia
dizer, ela não queria ouvir.
Carson ficou em silêncio por um momento, observando-a através
da pequena janela.
— Por favor, fale comigo.
Ela olhou para cima. Sua voz era tão doce, tão sincera. Algo dentro
dela revirou. Ela queria desesperadamente de alguém para ajudá-la,
acalmá-la, especialmente depois da polícia, de Ashley e das palavras
cruéis de sua mãe.
Ela obrigou-se a dar um passo para a frente, depois outro. Ela
sentiu como se tivesse caminhado um quilômetro quando seus dedos
finalmente se fecharam sobre a maçaneta. A porta se abriu, e o ar
fresco caiu sobre ela como uma chuva de primavera. Julie olhou a
grama orvalhada, os carros ainda molhados com a chuva da noite
passada, o jornal na varanda do seu vizinho. E Carson.
Ela saiu para a varanda e fechou a porta firmemente atrás dela.
Ela não podia olhá-lo diretamente, mas em vez disso manteve os olhos
focados na coleção de caixas vazias, latas de refrigerante, latas de
comida de gato e sacos semi-usados de alimento das aves que
desarrumavam o alpendre. — O que você quer?
— Eu só queria ver como você estava — disse Carson suavemente.
— Eu tentei mandar uma mensagem, mas seu telefone estava
desligado.
Julie deu de ombros. Ela desligou o telefone depois que o e-mail de
Ashley foi enviado. Ela não podia enfrentar as consequências.
— E você não foi para a escola.
Julie fungou sarcasticamente. — É bastante óbvio o porquê, não é?
Ele zombou. — Eu só quero estar com você, Julie. Eu não me
importo com o que as pessoas pensam.
Ela olhou para ele, confusa. — Mas e quanto aquela sua foto com
Ashley?
Ele inclinou a cabeça. — Que foto?
— No Mercado Pike Place Fish. Ashley disse: Isto é o que Carson
pensa de você agora. Você parecia... — ela parou. Ele parecia, bem,
totalmente enojado.
Carson estreitou os olhos. — O Pike Place... — Então ele se
iluminou. — Eu tirei uma foto com Ashley lá, sim. Nós estávamos lá
para uma viagem de classe, algumas semanas atrás.
— Algumas semanas atrás? — Julie repetiu.
Carson assentiu. — James West a tirou, e ele nos disse para fazer
uma cara de louco. Ashley agarrou a minha mão, e eu só fui em frente.
— Ele balançou a cabeça em descrença. — Espera, ela a enviou para
você agora? Essa menina é horrível.
— Eu sei — Julie explodiu, e de repente ela explodiu em lágrimas.
Carson colocou os braços em volta dos ombros de Julie e puxou-a.
Ela ficou tensa, mas depois relaxou em seu peito, respirando o cheiro
de roupa fresca de sua camisa de flanela.
Mas então ela se inclinou para trás. — Como você pode não se
preocupar com a verdade sobre mim? — ela perguntou. — Porque é
verdade, Carson. Tudo isso, bem, pelo menos as coisas sobre a minha
mãe, de qualquer maneira. — Ela fechou os olhos, revivendo as coisas
horríveis que sua mãe tinha acabado de dizer para ela. — É nojento. Eu
sou nojenta.
Carson a empurrou suavemente para trás para que ele pudesse ver
seu rosto novamente. — Você, Julie Redding, é linda. E inteligente. E
engraçada. Não há nada sobre você, nem mesmo o seu dedo mindinho,
que poderia ser considerado repugnante.
Então, surpreendentemente, Carson inclinou a cabeça para frente
e roçou os lábios com os seus. Julie nem sequer acreditava que estava
acontecendo até poucos segundos depois, quando sua dormência
diminuiu e ela realmente sentiu seus lábios nos dela. Eles estavam se
beijando. Realmente se beijando.
E então algo a atingiu: Este era seu primeiro beijo. Não era bem
como ela imaginou que seria, é claro, em seu roupão de banho, em sua
varanda frontal miserável, em plena vista do mobiliário quebrado,
multidões de decorações de Natal e até mesmo alguns gatos arranhando
postes sobre o gramado. Mas foi um beijo puro, doce e sensual mesmo
assim.
Quando acabou, Carson se inclinou para trás e sorriu
graciosamente para ela. — Obrigado — ele respirou.
— Eu que deveria estar agradecendo a você — disse Julie. — Você
tem certeza sobre isso? Sobre... mim? Porque, quero dizer, você não tem
ideia de quão cruéis as pessoas podem ser. Isso vai ser brutal. Tudo
bem se você não quiser estar associado comigo. Eu vou entender.
Ele acenou com a mão. — Eu não me importo.
Ela piscou com força. — Você tem... certeza?
— Bem — ele disse com falsa seriedade, — isso depende. É do meu
entendimento que você mesma não é a Mulher Louca dos Gatos de
Beacon Heights. Isso está correto?
Julie não podia deixar de rir em voz alta. — Isso está correto — ela
respondeu com um sorriso fraco. — Eu sou simplesmente uma inocente
espectadora da coleta dos gatos.
— Então está resolvido. Você está oficialmente absolvida de toda a
responsabilidade dessa... — Carson apontou para a casa atrás dela,
suas sobrancelhas enrugadas enquanto ele procurava a palavra
apropriada, — hum... situação. E você é oficialmente minha namorada;
se você quiser ser. Quem tiver problema com isso pode lidar comigo.
Julie sorriu para ele. Ela não podia acreditar em seus olhos, seus
ouvidos... ou seu coração. E assim, cada coisa horrível que sua mãe
tinha dito a ela recuou para o fundo. Talvez, apenas talvez, ela não
estivesse tão danificada afinal de contas. Talvez ela estivesse bem —
valia a pena ser cuidada por alguém. Valia a pena ser amada por
alguém, também.
Mais do que qualquer coisa na terra, Julie queria acreditar que
Carson estava certo.
Capítulo 3

S
egunda-feira à tarde, Caitlin Martell-Lewis parou em um
estacionamento vazio, exceto por um Cadillac verde sob um
dossel de árvores. Quando ela saiu de seu próprio carro, seus
ouvidos zumbiam com o silêncio pacífico, e seu nariz se contraiu com o
cheiro de grama recém-cortada e flores recém-plantadas. Ela olhou para
além dos portões de ferro forjado e para as colinas salpicadas com
lápides. De repente, ela ouviu um som atrás de uma árvore, e seu
coração capotou. Por alguma razão, ela sentiu como se estivesse sendo
seguida... talvez pela polícia. Será que ela estava? Eles estavam
seguindo todas elas ao redor, tentando encontrar algo que pudesse ligá-
las à morte de Granger?
Mas então ela olhou de novo. Era apenas um esquilo.
Suspirando, Caitlin travou seu carro, embolsou suas chaves, e fez
seu caminho até o túmulo de seu irmão. Ela provavelmente poderia
fazê-lo com os olhos vendados neste ponto — passar a lápide com os
grandes anjos em cima dela, virar à direita no cara que foi enterrado ao
lado de seus dois greyhounds italianos e, em seguida, subir a pequena
colina e ficar sob a árvore. Ei, Taylor, começou o monólogo em sua
cabeça. Sou eu de novo. Sua irmã louca, faltando a prática de futebol
para desabafar sobre o quão louca a minha vida se tornou.
Havia tanto que ela tinha a dizer a Taylor, que havia falecido no
final do ano passado... e tanto que ela desejava que ele pudesse dizer a
ela, coisas que ela nunca iria saber. Como o quanto ele sofreu nas mãos
de Nolan Hotchkiss, ou por que ele decidiu que seria mais fácil morrer
do que mostrar seu rosto doce na escola por apenas mais um dia. Será
que tinha havido um golpe final? Caitlin provavelmente nunca se
perdoaria por não ter visto os sinais nele mais cedo. Se ela tivesse, ele
ainda estaria aqui?
Ela girou em uma árvore. O túmulo de seu irmão estava à frente e
uma nova estatueta de Dragon Ball Z estava pousada em cima de sua
lápide. Caitlin parou, confusa. Ela era a única pessoa que colocava
novas figuras de ação em seu túmulo. Bem, ela e...
Seus pensamentos foram interrompidos quando uma figura
apareceu atrás de outra árvore. Era Jeremy Friday. A única pessoa que
se importava o suficiente para deixar para Taylor lembrancinhas.
Jeremy virou e viu Caitlin ao mesmo tempo. Suas sobrancelhas se
ergueram, e seus olhos suavizaram. Sua expressão parecia
esperançosa, o que encheu Caitlin com todos os tipos de emoções —
amor, alívio, excitação e ansiedade, também. Ela observou seu corpo
magro, sua camisa de Star Wars e seus jeans escuros. Se você tivesse
perguntado a ela algumas semanas atrás se ela se interessaria por
alguém como Jeremy, Caitlin teria rido. Mas ele era perfeito. Um
diamante bruto. Ele tinha estado debaixo de seu nariz o tempo todo, e
ela não tinha visto o quão especial ele era.
E o que era ainda mais perfeito? Que Jeremy estava sorrindo para
ela em vez de estar carrancudo. A última vez que ela o viu foi há duas
noites atrás no porão dos Friday, quando todas as coisas com Granger
tinham ido por água abaixo. Josh, seu ex-namorado e o irmão de
Jeremy, havia pego eles juntos, e em vez de seguir em frente para seu
novo relacionamento, Caitlin tinha meio que... fugido. Ela assumiu que
Jeremy a odiava por isso.
Mas quando ela deu um passo em direção a ele, ele a puxou para
um abraço. — Eu sinto muito — desabafou Caitlin, sobrecarregada. —
Sobre tudo. Me desculpa por eu ter simplesmente corrido daquele jeito.
Eu apenas... eu não sei.
— Está tudo bem. — Jeremy beijou o topo de sua cabeça. — Você
foi pega de surpresa.
— Isso é um eufemismo — disse Caitlin enfaticamente.
— Mas, bem — Jeremy vacilou, brincando com seu cabelo. — Você
ainda quer ficar comigo? Quero dizer, eu entendo que isso é realmente
complicado, então...
Em resposta, Caitlin se levantou na ponta dos pés e o beijou,
cortando-o. — Isso responde à sua pergunta? — ela arfou, quando eles
se separaram.
Ele descansou sua testa contra a dela. — Isso praticamente me diz
tudo que eu preciso saber.
Eles olharam para o túmulo de Taylor. Caitlin se perguntou o que
Taylor iria pensar sobre o rumo dos acontecimentos — sobre agora ela
estar com Jeremy, que era peculiar, meio-geeky e o melhor amigo de
seu irmão mais novo, em vez de Josh, o atleta popular. Tinha
acontecido inesperadamente: Caitlin tinha encontrado com Jeremy no
túmulo de Taylor algumas semanas atrás, quando ela estava passando
por um momento particularmente tempestuoso — ela não tinha certeza
se queria continuar a jogar futebol, ela não sabia se ela estava com o
cara certo, ela ainda estava tão confusa e irritada sobre Taylor, e ela e
as outras tinham acabado de fazer aquela brincadeira com Nolan. Eles
começaram a conversar, e Caitlin tinha percebido quão facilmente ela
tinha se conectado com Jeremy. E o quanto ele entendia o que ela
estava passando. Josh nunca sequer perguntou sobre Taylor. Ele
parecia pensar que evitar questões incômodas era a resposta.
Jeremy mudou seu peso. — Então, você já conversou com Josh? —
ele perguntou, como se houvesse uma grande placa sobre a cabeça de
Caitlin dizendo o que ela estava pensando.
Caitlin ficou rígida. — Sim — ela disse vagamente, fazendo uma
careta.
— Foi uma experiência, hein?
Ela chutou a grama. Ela foi até Josh essa manhã na escola — o
que tinha sido estranho o suficiente por causa de toda a coisa com
Granger. As meninas estavam literalmente chorando porque Granger
tinha morrido, colocando ramos de flores em sua porta e se reunindo
durante o almoço para orar para ele ao redor do mastro. Caitlin tinha
ficado espantada que mesmo as meninas que tinham aparecido no
telefone de Granger — como Jenny Thiel — tinham sido as que mais
choravam ou tinham sido as adolescentes mais perturbadas entrando
nos escritórios dos orientadores durante as aulas. Era como se
estivessem cegas sobre o quão idiota o cara era. E embora o advogado
de Caitlin tivesse falado que a polícia estava sob obrigação de manter o
seu envolvimento com a morte de Granger em segredo, uma vez que
ainda não foram acusadas oficialmente, Caitlin tinha quase certeza de
que as crianças de Beacon pegaram o rumor mesmo assim. Ela
conseguiu olhares ferozes durante todo o dia, como se todos
acreditassem que ela era culpada. Até mesmo as meninas em sua
equipe de futebol estavam olhando estranho para ela — mas, no
entanto, ninguém tocou no assunto, então talvez ela estivesse apenas
paranoica.
Era o meio da manhã quando ela correu até Josh. Ele estava de pé
em seu armário com Guy Kenwood e Timothy Burgess, seus
companheiros do time de futebol. Eles cruzaram os olhos, e Caitlin
tinha congelado em seu caminho, sabendo que ela ia parecer uma idiota
se ela se virasse e fosse para o outro lado. Pelos olhares que Guy e
Timothy estavam atirando nela, estava claro que eles tinham descoberto
que Caitlin estava agora com o irmão de Josh. Caitlin se perguntou, por
uma fração de segundo, exatamente como Josh tinha dito a eles. O seu
irmão mais novo e menos popular roubar sua namorada não era
exatamente algo para se gabar, afinal de contas.
— Bem, em primeiro lugar, ele não olhou para mim — Caitlin disse
a Jeremy, empurrando as mãos nos bolsos. — Mas então eu o puxei de
lado e tentei explicar.
Jeremy fez uma careta. — Tenho certeza que foi tudo bem.
— Eu disse a ele que nós não estávamos conectados há algum
tempo, e era apenas uma questão de tempo, sabe? — Ela engoliu em
seco, pensando na expressão furiosa de Josh logo que Caitlin tinha dito
tudo isso. — Ele ficou muito surpreendido. E ferido. Mas então... bem,
eu não sei. Ele estava bem, no final.
— Sério? — Jeremy parecia curioso. — O que ele disse?
Caitlin respirou. — Ele apenas disse que, se isso é o que eu queria,
então ele queria que eu fosse feliz — ela explicou. Ela tinha ficado
espantada quando Josh tinha dito isso, na verdade — era tão gracioso e
maduro. Eu não vou ser um daqueles caras patéticos que não pode lidar
com isso. Eu não estou entusiasmado por você estar com Jeremy, mas eu
acho que não posso impedi-la, não é?
— Eu esperava que ele fosse ficar zangado — concluiu Caitlin,
espiando Jeremy. — Foi bom que ele não ficou.
Jeremy assentiu. — Bem, ele está me ignorando por dias. Apesar
de que é melhor do que ele me insultar, o que eu imaginei que ele
estaria fazendo em pleno vigor. Talvez o nosso menino esteja crescendo.
— Talvez. — Caitlin sorriu fracamente. Em seguida, ela foi atingida
com uma pontada. Cada coisa boa em sua vida, ela percebeu, foi
contrabalançada por algo triste ou ruim. Aqui estava ela com Jeremy,
mas no túmulo de Taylor — e com Josh tão magoado. Ali estava ela,
mais feliz do que ela estava em anos, mas ela também estava sendo
acusada de um assassinato. Nada vinha fácil.
Ela olhou para Jeremy, com Granger agora em sua mente. —
Então, eu acho que você ouviu falar sobre o Sr. Granger e meu
envolvimento. Não é o que parece, no entanto.
Jeremy acenou com a mão. — Por favor. Eu sei disso. Mas por que
você estava na casa dele?
Ela encolheu os ombros, sentindo-se desconfortável. Ela não podia
dizer a Jeremy a verdade toda. — É uma longa história. Mas tem a ver
com Nolan. Algumas amigas minhas e eu pensávamos que Granger
tinha matado ele.
Jeremy arregalou os olhos. — Sério?
— Bem, talvez não mais — disse Caitlin fracamente. Encontrar a
ameaça de Nolan para Granger parecia a prova perfeita — é claro que
Granger queria Nolan morto para proteger a sua reputação. Mas e se
Granger foi morto porque ele sabia algo mais, algo sobre o assassino de
Nolan? Ainda pode haver todos os tipos de segredos lá fora.
Um casal de idosos apareceu no topo da colina e caminharam para
baixo do caminho. De repente, sentindo como se eles já não tivessem o
lugar só para eles, Caitlin virou-se para Jeremy. — Pizza?
— Claro — ele disse, com um sorriso irrompendo em seu rosto.
Eles se dirigiram para o Gino, um lugar pequeno e familiar perto
do cemitério que estava felizmente vazio àquela hora do dia. Além das
fatias de torta branca, eles conversaram sobre coisas normais — a
participação de Jeremy na próxima feira de ciências, programas que
eles gostavam na TV, e como a equipe de futebol de Caitlin iria votar na
capitã esta semana. Caitlin ainda estava em cima do muro sobre o que
o futebol significava para ela, mas no fundo, ela não podia deixar de
sentir-se nervosa sobre a eleição. Ser capitã era algo que ela quis desde
sempre, e parecia estranho apenas deixar para lá quando ela realmente,
finalmente, tinha a chance.
Não houve uma única menção de Josh, Granger, Nolan ou a
polícia, uma mudança bem-vinda. Uma hora mais tarde, depois de um
beijo no carro de Caitlin, Jeremy subiu em sua Vespa e rugiu para
longe, prometendo ligar para ela mais tarde. Sentindo-se muito mais
contente, Caitlin foi para casa. Ela esperava ter algumas horas para si
mesma, mas quando ela parou na calçada, os carros de suas mães já
estavam lá, ambas em casa do trabalho.
Suspiro.
Ela colocou o carro na garagem, pegou sua bolsa do futebol e a
mochila, e se preparou para o que viria a seguir. A rádio NPR estava
soando na cozinha — uma notícia sobre a criação de galinhas de fundo
de quintal. Ela podia ouvir o chop chop chop constante de uma faca
acertando uma tábua de corte e água corrente na pia. Ela poderia dizer
a partir da variedade familiar e reconfortante de sons que Sibyl e Mary
Ann, suas duas mães, estavam cozinhando juntas. Caitlin foi na ponta
dos pés tão silenciosamente quanto pôde em direção à escada, mas
tarde demais — Mary Ann olhou para cima e a viu. — Querida? — ela
gritou.
Caitlin suspirou. Lá se foi ter alguns minutos para si mesma. —
Uh, oi — ela disse, permanecendo onde estava nas escadas.
Os olhos de Mary Ann estavam tristes. — Quer nos ajudar a
preparar?
Na verdade, não, Caitlin pensou, mas ela sabia que recusar
significaria que uma de suas mães iria segui-la ao andar de cima e faria
perguntas ainda mais melancólicas e intrusivas do que as que elas
fariam aqui. Então ela se arrastou até a cozinha e aceitou uma tábua de
corte e um pimentão que Sibyl ofereceu.
— Então, como foi seu dia? — Sibyl perguntou com cautela, seus
olhos passando rapidamente de Caitlin e de volta para seu próprio
trabalho de cortar.
— Foi bem — respondeu Caitlin.
Ela sentiu suas mães trocarem um olhar. Ela sabia que elas
queriam mais. Mary Ann limpou a garganta. — Eles, hum, falaram
sobre aquele professor?
Caitlin cortou cuidadosamente a parte de cima do pimentão. —
Sim. Bastante.
Outra troca de olhares. As mães de Caitlin tinham estado
silenciosas e preocupadas quando elas receberam a chamada no
domingo de que ela potencialmente tinha sido parte de uma trama de
assassinato. Ela disse a elas uma e outra vez que era apenas uma
infeliz coincidência, mas ela não estava inteiramente certa que elas
acreditaram nela. Assim como ela não tinha certeza de que elas
acreditavam nela sobre Nolan — Mary Ann tinha feito comentários
pontuais sobre o suprimento de Oxy de Caitlin, afinal, pedindo-lhe para
se livrar do estoque. E embora soube-se que tinha sido cianeto que
tinha matado Nolan, não Oxy, havia Oxy no seu sangue, também. Como
os policiais não tinham arrastado elas de volta para a delegacia ainda, o
assunto tinha sido momentaneamente deixado de lado, mas Caitlin
sabia que estava nadando apenas abaixo da superfície, pronto para
entrar em erupção a qualquer momento.
— E você falou com Josh? — perguntou Mary Ann.
Ela olhou para cima. Suas mães estavam olhando para ela
ansiosamente. Claramente, elas queriam que ela falasse com Josh.
Sibyl Martell e Mary Ann Lewis eram as melhoras amigas dos pais
Friday e, embora não tivessem dito isso abertamente, ficou claro que
Caitlin terminar com Josh para ficar com Jeremy tinha posto um friso
em sua programação social. Seu encontro habitual no sábado com os
Friday havia sido cancelado neste fim de semana. Então tinha o brunch
de domingo, que eles faziam no primeiro dia de cada mês, e seus
jantares semanais regulares nas quartas-feiras. E Caitlin tinha ouvido
as duas sussurrando em seu quarto na noite em que isso aconteceu —
antes que ela tivesse sido levada à delegacia por entrar na casa de
Granger, quando Josh era tudo o que ela tinha que se preocupar. Por
que você acha que ela está fazendo isso? elas haviam dito em baixos
murmúrios. Será que ela está agindo contra nós? Talvez isso tenha algo
a ver com Taylor? E: Pobre Josh. Ele deve estar devastado.
Ela odiava a parte Pobre Josh. E quanto a pobre dela?
Caitlin deve ter inalado com raiva, porque Sibyl pousou a faca. —
Querida. Se você acha que estamos com raiva de você pela coisa com
Josh e Jeremy, nós não estamos.
— Estamos apenas tentando entender — Mary Ann interrompeu.
— Seja lá de quem você goste, está tudo bem. Mas os dois meninos são
tão... diferentes. Não temos certeza do que você tem em comum com
Jeremy.
Caitlin olhou para cima, seus olhos relampejando. — Eu não tenho
nada em comum com Josh.
Suas mães pareciam confusas. — Mas vocês dois têm o futebol. E
vocês gostam de fazer as mesmas coisas. E vocês têm tanta história.
Caitlin zombou. — Como se isso fosse tudo? — Ela empurrou seu
pimentão meio fatiado para longe. — Sabe, se vocês realmente me
conhecessem um pouco melhor, vocês entenderiam por que Josh e eu
não temos nada mais a dizer um ao outro. Mas vocês só querem que eu
seja a mesma Caitlin previsível de sempre. — Ela começou a sair da
cozinha.
— Querida! — Mary Ann chamou por ela. — Não é nada disso!
— Nós apoiamos você! — gritou Sibyl.
— Que seja — Caitlin disse por cima do ombro. Ela queria que isso
fosse verdade — inferno, como um casal do mesmo sexo com uma filha
adotada da Coréia do Sul, a aceitação deveria ser a sua especialidade,
certo? Mas parecia que elas estavam tentando dizer as palavras certas,
sem realmente querer dizê-las.
— Volte! — Mary Ann gritou em tom de queixa. — Nós ainda não
conversamos sobre o Sr. Granger!
— Eu não fiz isso — disse Caitlin enquanto subia para o quarto
dela. — Isso é tudo que vocês precisam saber.
Ela olhou para baixo por uma fração de segundo. Suas mães
estavam de pé ao pé da escada, parecendo tão tristes, confusas e
impotentes. Caitlin sabia que ela estava levantando uma parede. Era
provavelmente a mesma parede que Taylor tinha levantado também. E,
no entanto, bem... ela simplesmente não conseguiria explicar a elas.
Nem sobre Jeremy, porque elas não entenderiam.
E nem sobre Granger... porque elas não podiam saber.
Capítulo 4

A
lgo afiado arranhou a bochecha de Parker Duvall. Ela o
golpeou, mas ele só se recuperou e apontou para ela
novamente. Ela abriu os olhos e viu o mundo de lado, mas
antes que pudesse descobrir por que ela estava deitada e por que ela
estava no que parecia ser um campo, a cabeça dela começou a girar
descontroladamente.
Ela apertou os olhos fechados para parar o movimento de tontura e
de repente sentiu vontade de vomitar. Aha. Eu estive bebendo. Apenas
uma pequena pista do enigma.
Devagar, com cuidado, ela tentou abrir os olhos novamente. Desta
vez, ela foi capaz de manter as rotações longe e analisar seus arredores.
Estava claro, o sol alto no céu. Hastes pontiagudas e secas de grama
semimorta se projetava do solo, tanto quanto ela podia ver. Ao longe,
um enorme prédio estava à vista. Onde diabos ela estava?
Finalmente, Parker conseguiu sustentar-se sobre um cotovelo.
Movendo tão lentamente quanto podia, ela mudou para uma posição
sentada. Fumaça de cigarro flutuava para fora de seu casaco de capuz.
Então, eu estava bebendo e fumando. Deve ter sido uma noite louca.
Ela não tinha estado de ressaca há muito tempo. Mas quando ela
era a menina de ouro de Beacon Heights, quando sua chegada em
qualquer festa significava que o evento era um verdadeiro sucesso, ela
tinha sido uma profissional. Entornando bebidas com o resto deles. No
mesmo nível de copos dos meninos. Acordar na manhã seguinte era
uma merda, mas ela não ligava, sabendo que ela se divertiu.
Era fácil falar sobre os dias dourados: Ela era loira e bonita, com
um bando de amigos e um bando ainda maior de puxa-sacos. Ela era a
melhor de todas as suas aulas mesmo sem ter que tentar. Ela tinha o
selo de aprovação de Nolan Hotchkiss — eles eram próximos, uma
daquelas amizades platônicas que era ainda mais perto e mais legal do
que qualquer casal. E ela tinha uma melhor amiga maravilhosa, Julie
Redding, seu vínculo forte e significativo em um mar de relações
superficiais.
Sua vida era perfeita, certo? Exceto, oh sim, pela família dela. Uma
mãe que a odiava. E um pai que batia nela. Mas tanto faz. Talvez seja
isso que a fez tão boa em estar na vida de festas, porque em casa, ela
estava melhor morta. Ela teria mantido essa vida, também, se não
tivesse sido por Nolan... e a ira de seu pai. E agora, tudo tinha mudado.
Seu pai estava preso para o resto de sua vida. Ela não tinha mais um
lar para ir. E ela se tornou uma garota diferente — mais dura, mais
irritável, mais furiosa, uma Parker Bizarra. Ninguém a convidava mais
para nenhuma das festas. Bem, que todos se danem.
Parker estremeceu, de repente percebendo o quão frio estava. O ar
estava com o distinto frio da manhã, e parecia que ia começar a chover
a qualquer minuto. Aos poucos, o prédio à distância entrou em foco,
uma estrutura baixa e ampla de estuque barato em bege sujo com
portas uniformemente espaçadas de metal marrom. Um adolescente
com um uniforme laranja e vestindo um avental e um chapéu de papel
saiu de uma das portas com um saco de lixo gigante. Ele jogou em uma
lixeira e se dirigiu de volta para dentro. Então era um centro comercial,
talvez? Algum lugar com um monte de pequenas lanchonetes? Mas
como ela tinha chegado aqui?
Ela fechou os olhos e tentou pensar. A última coisa que ela
lembrava, porém, era de sair da delegacia de polícia com Julie. Bem-
vinda Parker 2.0, ela pensou. Completa com cicatrizes, mal humores e
apagões de memória!
Parker olhou para si mesma. Pelo menos ela estava com as
mesmas roupas, mesmo que elas estejam cobertas de sujeira. Ela bateu
levemente em seus bolsos. Sua mão bateu contra um nó duro em seu
casaco, e ela se atrapalhou para pegar seu celular. Terça-feira, 25 de
outubro, dizia na parte superior da tela, assim como a hora: 10:04 AM.
Ok, então ela só tinha perdido uma noite — ela se lembrava de partes
de segunda-feira. Ela rapidamente discou para Julie, mas foi direto
para o correio de voz.
Parker engoliu em seco. Era raro Julie não atender o telefone dela.
Algo mais tinha acontecido? Algo a ver com a investigação sobre
Granger? De repente, ela lembrou-se do arquivo de aparência séria que
ela tinha encontrado na casa de Granger quando elas estavam
vasculhando-a em busca de pistas. Havia escrito JULIE REDDING no
envelope, e não se parecia com uma pasta cheia de trabalhos velhos.
Será que isso tem algo a ver com o problema da mãe dela, com seu
êxodo rápido e vergonhoso da Califórnia? Era um segredo que Parker
sabia há algum tempo, algo que ela trabalhou duro para manter em
segurança. Antes que Parker tivesse percebido o que ela estava fazendo,
ela pegou o arquivo da gaveta de Granger e enfiou-o no bolso.
Ou teria sido de outra coisa? Parker tinha certeza que ela tinha
lido o arquivo — ainda na casa de Granger, de fato — mas ela não tinha
nenhuma lembrança do que ele dizia. Típico, ela pensou, acariciando
seus bolsos, desejando ter o arquivo com ela agora, embora se ela
tivesse, sem dúvida ela o deixou na casa de Julie. Seu cérebro só
funcionava metade do tempo e ela se lembrava o menos importante dos
detalhes, cortesia da última surra de seu pai.
Ela se levantou e começou a andar para a frente do centro
comercial, sentindo as pernas pesadas e inúteis. As lojas estavam
abertas, as suas luzes acesas, um pequeno cavalete anunciando uma
oferta diária em frente da loja Verizon no final do centro comercial. Em
seguida, ela enfiou as mãos nos bolsos de seu casaco e sentiu um
pedaço duro de papel no lado esquerdo. Era o cartão de Elliot Fielder,
com o seu número de celular rabiscado no verso. Ligue-me a qualquer
hora, ele tinha dito a ela na sua primeira consulta, que foi também a
primeira visita de Parker a um terapeuta.
Mas isso foi antes de ela o pegar perseguindo-a. E isso foi antes de
ela o confrontar e ele agarrar seu braço bruscamente, dizendo que ela
precisava ouvi-lo. Ouvir o quê? Julie tinha sussurrado no ouvido de
Parker quando elas foram embora. E Parker se sentiu como uma idiota
— ela deixou Fielder entrar em seu círculo interno, decidiu que ela
confiava nele, e disse-lhe tudo sobre a sua vida. E então ele traiu essa
confiança, seguindo-a.
Parker virou o cartão de visita em suas mãos. Ligue-me a qualquer
hora. Suas palavras a atraíram. Ela lembrou-se de sua voz carinhosa.
Mas ela não podia ligar. De jeito nenhum.
Alguém suspirou, e Parker olhou para cima. Um cara cheio de
espinhas em seus vinte e poucos anos em uma camisa do Subway
estava do lado de fora da porta, fumando um cigarro. Ele olhou para
Parker, em seguida, desviou o olhar. Parker cerrou os dentes e se virou,
indo na direção oposta, mas não antes de seu reflexo no salão de beleza
ao lado chamar sua atenção. Ela estava vestida com jeans pretos e um
casaco de capuz preto e sujo puxado firmemente em torno de sua
cabeça. Sua franja loira tinha crescido e caía sobre seus olhos. Então
seu olhar viajou para as saliências de uma cicatriz em sua bochecha.
Era apenas como todas as outras, formando uma teia nojenta através
do seu rosto.
Vergonha brotou em sua garganta, e ela sufocou um soluço. Não é
de admirar que o trabalhador do Subway tinha vacilado: Ela parecia um
monstro. Mas, no entanto, todo mundo olhava para ela dessa forma
estes dias — como se ela não tivesse nada que estar aqui na terra, como
se ela devesse apenas rastejar de volta sob a pedra de onde ela veio.
Doía o tempo todo. Apenas duas pessoas no mundo não vacilavam
quando a viam: Julie... e Fielder.
Esquivando-se ao virar da esquina e fora de vista, Parker pegou o
celular e olhou para o teclado. Reunindo sua coragem, ela teclou o
número de Fielder em seu celular e clicou em LIGAR. Julie ficaria tão
chateada, mas ela precisava falar com alguém.
O telefone tocou uma vez, e a respiração de Parker ficou rápida e
superficial, seu coração batendo forte.
O telefone tocou pela terceira vez. Finalmente, ele atendeu, e ela
ouviu uma voz familiar do outro lado. — É... Parker? — disse Elliot
Fielder, parecendo surpreso.
Parker piscou. Ela não esperava que ele reconhecesse o número
dela. — Hum, sim — ela disse. — Oi.
— Oi — Fielder respondeu. — Você está... bem?
Parker puxou o lábio inferior em sua boca. De repente, ela se
sentiu ridícula por estender a mão para alguém que ela mal conhecia e
alguém que a tinha enganado. Ela iria encontrar seu próprio caminho
na casa de Julie, elas iriam descobrir tudo juntas. — Sabe de uma coisa
— ela decidiu. — Não importa. Eu estou bem.
— Ouça, Parker... eu sei por que você está ligando.
Ela quase deixou cair o telefone e olhou em volta. Será que ele a
seguiu até aqui, nessa porcaria de centro comercial? Ela tentou localizá-
lo à distância, mas ela não viu ninguém por perto.
— Eu sei sobre o seu pai.
O cabelo na parte de trás do pescoço dela se levantou. — O que
tem ele? — ela perguntou asperamente.
Fielder exalou lentamente. — Espere, você não sabe?
— Não sei o quê? — Houve uma longa pausa. — Não sei o quê? —
Parker praticamente rosnou.
Sua voz estava trêmula quando ele finalmente falou. — Eu não
achei que seria eu quem lhe diria. Parker... — Ele fez uma pausa. —
Houve um acidente no pátio da prisão. Seu pai... bem, ele está morto.
Capítulo 5

T
erça à noite, enquanto Ava Jalali estava sentada à mesa da
cozinha, agonizando sobre sua lição de casa de física — ela
estava na classe avançada, para grande espanto de suas amigas
fashionistas somente-interessadas-em-seus-looks. Os conjuntos de
problemas estavam apenas ficando cada vez mais difíceis com cada
unidade. O que também estava tornando a lição praticamente
impossível era que ela estava à vista para o seu pai e sua madrasta
poder manter um olho sobre ela — ideia deles, não dela. Depois de sua
última complicação com a polícia, eles tinham mantido os olhos nela
quase 24 horas por dia, como se ela fosse uma delinquente juvenil
bomba-relógio.
Não que seu pai ou sua madrasta, Leslie, estivessem olhando para
ela de forma particularmente rigorosa. Seu pai estava lendo alguns
documentos de trabalho na ilha da cozinha enquanto tomava chá. E
Leslie estava correndo de um lado para o outro através da sala, seus
cachos mal se movendo enquanto ela se movia, e seu vestido de
caxemira flutuando graciosamente em torno dos joelhos. Primeiro ela
abriu um armário, e então outro. Tirou alguns castiçais, franziu a testa,
em seguida, vasculhou uma gaveta procurando alguns jogos
americanos. Surpreendentemente, Leslie estava fazendo tudo isso
enquanto equilibrava com cuidado uma taça de chardonnay em sua
mão. Pela contagem de Ava, esta era a número três e nem mesmo eram
cinco horas ainda. Que refinado.
— Droga — Leslie murmurou baixinho quando o liquidificador que
ela estava tentando carregar com uma mão e seu queixo — Deus me
livre ela largar a taça de vinho — quase escorregou de sua mão. Ela
empurrou-o dentro de um armário diferente e fechou a porta com tanta
força que Ava pulou em sua cadeira, seu lápis rabiscando em toda a
sua lição de casa de física. Ava tentou encontrar o olhar de seu pai, mas
o Sr. Jalali estava fazendo um trabalho realmente bom em fingir
desatenção. Sobre o que diabos Leslie estava tão excitada, afinal? O
vinho supostamente não deveria relaxar?
Leslie andou pela sala de jantar, ainda resmungando. Ela voltou
equilibrando uma pilha de talheres em uma mão, sua taça de vinho
apertada na outra. — Estes precisam ser polidos — ela gritou para o Sr.
Jalali.
Ele se mexeu desconfortavelmente em sua cadeira. Era evidente
que ele percebeu que ela estava agindo como uma maníaca, certo? E, no
entanto, tudo o que ele disse foi: — Eu vou avisar a governanta.
— Talvez você possa mandar Ava fazer isso. — Ava podia sentir os
olhos de Leslie sobre ela. — Polir a prata é uma habilidade útil.
O Sr. Jalali colocou a mão no ombro de sua esposa. — Querida,
temos quase uma semana para nos preparar. Há tempo de sobra.
Ava não podia deixar de olhar para cima de seus conjuntos de
problemas. — Preparar-se para o que?
O pai de Ava sorriu gentilmente. — A mãe de Leslie virá nos visitar
de Nova York. Ela vai ficar conosco por alguns dias, e Leslie decidiu dar
uma festa aqui em casa.
— E eu quero que tudo seja perfeito — Leslie interviu, dando um
peteleco rapidamente em uma migalha na bancada com uma unha
carmesim. Em seguida, ela disparou para Ava uma olhada. Que dizia,
muito claramente, Isso significa que eu não quero nenhum problema de
você.
Ava deu de ombros, embora por dentro ela estava fervendo. Leslie
nunca tinha lhe mostrado um pingo de bondade, e após a recente ida
de Ava para a delegacia de polícia pelo assassinato de Granger, ela se
tornou francamente uma bruxa. Ava olhou para seu pai, mas ele estava
olhando para o jornal de novo, como se ele não sentisse a tensão. Ava
ficou surpresa com o quão diferente seu pai tinha se tornado na
presença dessa mulher. Nos velhos tempos, os bons dias, ele e sua mãe
costumavam se preocupar com ela profundamente. Havia tanta risada e
animação na casa. Nada dessa limpeza frenética. Nenhum destes
olhares odiosos sujos.
O telefone tocou, e o Sr. Jalali pediu licença da cozinha para
atender em seu escritório. Leslie começou a contar as taças de vinho,
puxando para baixo um pouco e os colocando rudemente na pia. Ela
murmurou algo baixinho sobre elas estarem muito sujas. Ela parecia
que ia ter uma hemorragia cerebral naquele momento.
Ava fechou seu livro e olhou para Leslie. — Tenho certeza de que
tudo vai ser perfeito com sua mãe.
Má ideia. Leslie virou e olhou para ela, suas narinas dilatadas. —
Você não tem o direito de falar agora.
Ava pressionou seu lápis em seu papel. — Eu só estou tentando
ajudar. Muito estresse pode deixá-la doente.
Leslie aproximou-se de Ava em um movimento rápido. Ava poderia
sentir o cheiro das uvas fermentadas em seu hálito. — Eu estou
andando ao redor para tornar as coisas perfeitas, porque elas estão tão
imperfeitas. E eu estou falando de você, em primeiro lugar. — Ela
acenou com a mão para Ava. — Você se veste como uma prostituta. —
Ela apontou para os jeans skinny de Ava e, sim, talvez uma blusa um
pouco reveladora. — Não me admira que ninguém te respeite. O que
você estava realmente fazendo na casa daquele professor antes de
matá-lo, e fugir de lá?
Ava olhou para seus pés. Primeiro, ela odiava que Leslie soubesse
sobre o rumor que Nolan tinha espalhado sobre Ava negociar favores
sexuais com os professores por notas A. Ela também odiava que a
polícia tivesse incluído Leslie na conversa que tinham tido com seu pai
sobre por que ela estava sob suspeita de matar Granger. — Eu não o
toquei! — ela protestou.
Leslie revirou os olhos. — Sim, certo.
Ava não podia acreditar. Tampouco podia aguentar isso mais um
segundo. Ela fechou o livro, pegou seu caderno e lápis, e correu para
cima, onde ela se jogou sobre a cama e bateu na colcha de seda persa
com os punhos. Ela tinha sido um presente de seus pais após a sua
última viagem ao Irã, não muito tempo antes de sua mãe morrer.
Ava perdeu sua mãe. E ela não poderia estar vivendo sob o mesmo
teto que esta mulher. Por que ela odiava tanto Ava? Ela estava com
ciúmes?
Lá embaixo, ela ouviu os sons abafados de seu pai falando com
Leslie. Ele provavelmente estava perguntando onde Ava tinha ido, e
Leslie provavelmente inventou alguma história sobre como Ava tinha
feito uma observação mal-intencionada e petulante e, em seguida, fugiu
para o andar de cima como a criança mimada que ela era. Depois de
um momento, Ava ouviu a porta da frente abrir e fechar, em seguida, o
som de Leslie falando sem parar em tons ásperos na garagem. Uma
porta de um carro foi aberta e fechada, e em seguida houve o barulho
de um motor. Ava afastou a cortina e viu quando a Mercedes do seu pai
saiu da garagem. Eles tinham saído.
Ela suspirou e se virou, olhando para o teto. De repente, ela
sentiu-se dolorosamente sozinha. A quem ela poderia recorrer? Não ao
seu pai, que tinha sido sua rocha por tantos anos. Nem Alex, o
namorado que ela amava — eles não se falavam desde aquela noite em
que ele a viu sair da casa de Granger e chamou a polícia.
Alex. Ela ainda não conseguia acreditar que ele tinha feito uma
coisa dessas. Sim, ela sabia o que tinha parecido — ele a viu correr para
fora da casa de Granger, desgrenhada e corada, o vestido meio-
abotoado.
Doía-lhe que Alex iria assumir exatamente o que Leslie — que ela
tinha ido para a casa de Granger para um encontro sexual. Alex sabia
que Granger tinha batido nela, e que ele realmente tinha ficado com
suas outras alunas. Por que ele não poderia ter apenas lhe perguntado
o que estava acontecendo? Ela teria dito a ele. Não toda a verdade,
talvez, mas quase. Mesmo sobre o que elas tinham feito com Nolan.
Esse era o problema, porém: Alex não tinha perguntado. Ele tinha
apenas chamado a polícia e contado sobre ela. O namorado dela. Ela
não sabia se estava ferida, irritada ou ambos. Será que ele realmente
achava que ela era capaz de matar alguém? Será que ele conhecia ela
realmente?
Ela queria tanto perguntar por que ele tinha feito uma coisa tão
terrível. Porque por trás de toda a mágoa e traição, ela sentia falta de
Alex, tanto que doía. Não falar com Alex, não vê-lo, era tão estranho.
Era como se ela tivesse perdido metade de si mesma.
Seu telefone apitou, e ela pulou. Talvez fosse Alex. Ela mandou
uma mensagem pedindo duas vezes para eles conversarem, mas ele não
tinha respondido.
Mas era apenas Mackenzie. A escola foi estranha, né?
Ava tomou uma respiração. Isso era um eufemismo. Em todos os
lugares que ela se virava, as pessoas estavam soluçando nos
corredores. A porta de Granger foi enfeitada com flores, e duas meninas
hippies se sentaram na frente dela durante todo o dia, tocando músicas
de seus violões e pandeiros sobre flores, prados e céu — e os
funcionários de Beacon, que eram geralmente tão obsessivos sobre a
frequência, deixou elas fazerem isso. Houve vários anúncios de orações
ao redor do mastro da bandeira — o porquê do mastro da bandeira, Ava
nunca soube, mas as sessões de oração sempre pareciam gravitar lá —
e anúncios já haviam sido feitos de que o funeral de Granger seria
quinta-feira, e o comparecimento era obrigatório. Pior de tudo, as
crianças de Beacon tinham que saber alguma coisa, talvez apenas que
Ava estava na casa de Granger antes de morrer, ou talvez tudo, que ela
estava sob suspeita de matá-lo. Algumas vadias tinham destruído seu
armário do ginásio, derramando toda sua maquiagem, desodorante e
produtos para o cabelo que ela escondia lá. Ela foi deixada sem
salvação após a corrida ao redor da pista e teve de passar o resto do dia
parecendo uma bagunça suada.
Estranho é um eufemismo, ela escreveu de volta.
Você ouviu algo da polícia? Mac perguntou.
Não, disse Ava. Você?
Mac disse que ela não ouviu, também. Ava teve que admitir que
estava surpresa — ela tinha esperado outra visita até agora.
Especialmente se eles descobriram sobre a história de Ava com Granger
— ela o encontrou em sua casa não há muito tempo atrás para obter
ajuda em seu trabalho, e ele deu em cima dela. Ela sentou-se
nervosamente durante todas as aulas hoje, à espera de um policial
aparecer na porta da sala de aula, mas ninguém nunca chegou.
Ela suspirou, seus pensamentos voltando para Alex novamente. Se
ao menos ele tivesse respondido de volta. Se ao menos ele se explicasse
— e ela pudesse se explicar também. Ela virou o telefone sobre suas
mãos. Ela precisava falar com ele, mas ligar não produziu nenhum
resultado. Ele não tinha respondido a uma única das suas chamadas
ou mensagens — por que ele iria responder agora?
Então, ela decidiu, ela iria para a casa dele.
Quando ela se levantou, Ava teve um vislumbre de si mesma no
espelho e quase caiu na gargalhada. O cabelo dela se projetava em
todas as direções, sua cor da pele caramelo normalmente brilhante
parecia pálida e desgastada e havia olheiras residindo debaixo de seus
olhos. Ela deve ter perdido algum peso, porque seus jeans skinny
cederam em seus quadris, e os peitos dela não chegavam a preencher
sua blusa. Mas ela não tinha a energia para se transformar em seu
estado normal e perfeito — a menina que era inteligente e bonita. Alex
teria de vê-la assim. Talvez isso mostrasse a ele exatamente o quanto
ela estava sofrendo por causa do que ele tinha feito.
Pegar o carro provavelmente a levaria a mais problemas, então Ava
puxou a velha bicicleta de dez marchas da garagem e jogou a perna por
cima da barra. Enquanto ela pedalava, ela ensaiou o que ela ia dizer a
Alex quando o visse — se ela o visse. Eu sei o que parecia, mas essa não
era a verdade, ela começaria. Mas e se Alex a viu fazendo strip-tease
para Granger através da janela? O que ela diria — eu estava tentando
salvar a vida das minhas amigas porque tínhamos invadido sua casa e
pensávamos que ele era um assassino?
Deus, ela sentia-se nervosa. E isso era novo, também — ela não se
sentia nervosa na frente de Alex, nunca.
A casa de Alex era apenas a alguns bairros de distância, mas ela
estava sem fôlego quando ela chegou lá, e uma garoa começou a cair.
Ela prendeu a respiração quando ela se virou no bloco de Alex — era o
bloco de Granger, também. A casa de Granger ainda estava envolvida
com a fita amarela da polícia. Técnicos em jaquetas que diziam CENA
DO CRIME entravam e saíam pela porta da frente de Granger, e havia
uma van de notícias ociosa no meio-fio, sua antena gigante se
projetando a partir do topo. Ava se contraiu nervosamente, se
perguntando o que eles estavam encontrando lá dentro. Será que
Granger realmente sabia alguma coisa sobre o assassinato de Nolan e
isso lhe custou a vida? Ou os forenses estavam apenas cavando mais
provas contra ela?
Ela apertou os freios algumas casas à distância. Provavelmente foi
uma ideia terrível voltar à cena do crime. Os policiais podiam vê-la e
assumir que ela estava aqui para rir deles ou algo assim.
Ela olhou de soslaio para a casa de Alex. Estranhamente, ela
estava cercada por policiais, também. Dois carros da polícia com as
portas escancaradas bloqueavam a entrada de automóveis. E lá no
alpendre estava quatro oficiais, seus corpos tensos. Parecia que eles
estavam gritando com alguém.
Ava andou para trás do carvalho de um vizinho, não tendo certeza
do que ela estava olhando. Mas quando um oficial moveu-se
ligeiramente para o lado, ela percebeu que a pessoa na varanda com
quem eles estavam gritando era Alex. Ele estava acenando com as mãos
freneticamente. Então, diante dos olhos de Ava, dois policiais agarraram
Alex pelos braços e giraram em torno dele. Ele chutou, lutou e tentou se
afastar, mas a polícia apertou seu rosto contra a frente da casa.
Ava engasgou. — Não! — Doía ver o menino que ela gostava ser
tratado de forma tão brutal. Por que diabos eles estavam fazendo isso?
Em seguida, um dos policiais começaram a algemar Alex. Ava
deixou cair a bicicleta no chão e atravessou a grama, não tendo mais
medo de mostrar o rosto. Ela teceu através da multidão de
investigadores, repórteres e curiosos do bairro. — Não! — ela gritou
novamente. — Pare!
Alex estava lutando para se libertar. — Fiquem longe de mim! —
ele gritou. — Eu disse que eu não fiz nada!
— Você tem o direito de permanecer em silêncio — um dos policiais
estava dizendo a ele em voz alta. — Qualquer coisa que disser pode e
será usado contra você em um tribunal.
A boca de Ava caiu. Eles estavam lendo os direitos dele?
Ela havia chegado na passagem da frente. Ela empurrou em torno
de algumas pessoas aleatórias até que ela teve uma visão clara da
varanda. — Alex! — ela gritou antes que ela pudesse pensar
propriamente na situação. — Alex, sou eu!
Alex virou bruscamente a cabeça e encontrou os olhos dela. Sua
boca se abriu. De repente, um oficial tocou no ombro de Ava. — Nós
precisamos que você fique para trás. Esse cara pode ser perigoso.
Perigoso? Alex era o tipo de cara que coloca as aranhas para fora
em vez de esmagá-las. Ele tinha sido o único que tinha se contido em
ter sexo, dizendo que queria esperar até que fosse absolutamente e
positivamente especial e certo. — Por que ele está sendo preso? — Ava
gritou. Então ela olhou para Alex. — Alex, o que está acontecendo?
Alex ficou olhando através dela. Os policiais o empurraram pelo
gramado, segurando-o pelos braços. E quando eles o empurraram para
o carro-patrulha, um pensamento estranho começou a se firmar na
mente de Ava. Esse cara pode ser perigoso. Ela pensou no olhar vazio de
Alex quando o levaram dali. O que quer que tivesse acontecido, Alex não
poderia explicar a ela.
O policial fechou a porta do carro para Alex, em seguida, fez o seu
caminho para a frente. As sirenes já estavam piscando, e quando ele
abriu a porta, os repórteres caíram sobre ele. — Oficial! — eles
gritaram. — Qual é a natureza da prisão do rapaz? Você pode nos dizer?
Ava se inclinou para frente com o coração batendo.
O policial tocou o walkie-talkie em seu cinto, em seguida, olhou
para a câmera. — Tudo o que posso dizer é o que eu sei — ele disse com
a voz rouca, sua mão sobre a parte superior da porta. — O que posso
dizer por agora é que Alex Cohen está sendo preso pelo assassinato de
Lucas Granger.
Capítulo 6

J
ulie entrou no estacionamento da Lanchonete de Judy na terça-
feira à noite. Estava começando a chover, mas as luzes do
restaurante eram quentes, e as pessoas lá dentro pareciam felizes
e relaxadas. De repente, um flash de cabelos ruivos dentro da
lanchonete chamou sua atenção, e seu coração parou em seu peito.
Aquela era Ashley? Julie não tinha visto sua inimiga desde antes do e-
mail ser enviado, e ela ainda estava temendo o confronto inevitável.
Mas então ela olhou de novo. Era apenas uma menina com cabelos
de cor semelhante. Ela levava com a colher o que parecia ser um pudim
de arroz em sua boca e sorriu para o cara com quem ela estava sentada.
Julie respirou. Ela, portanto, não estava pronta para ver Ashley ainda.
Alguém bateu em sua janela, e ela olhou para cima com um
sobressalto. Era Parker — a razão de Julie ter vindo para a lanchonete
— e ela estava encharcada. Julie apertou em DESTRAVAR, e Parker se
jogou no banco do passageiro. — Você não me viu acenando? — Ela
perguntou, parecendo irritada. — Você poderia ter parado mais perto do
meio-fio.
— Desculpa — disse Julie. — Eu pensei que eu vi alguém lá
dentro.
— Ashley?
Essa era a coisa sobre Parker — ela conhecia Julie muito bem. —
Talvez — Julie murmurou.
Parker cerrou os dentes. — Eu odeio aquela menina. Tipo,
realmente, realmente odeio.
— Eu sei. Eu também.
— Sim, mas você está apenas enrolando e aceitando o abuso.
Então... — Parker se deteve sobre Julie, olhando para a blusa rosa, os
jeans skinny de lavagem escura e o rabo de cavalo alto. — Você está
com roupas de verdade. Você nem mesmo parece chateada.
Julie queria dizer a Parker que era por causa de Carson — ele
tinha ligado para ela naquele dia para checá-la, e eles conversaram por
quase duas horas. Mas às vezes era difícil dizer a Parker coisas felizes,
considerando a própria vida conturbada de Parker. Então, ela apenas
deu de ombros. — Eu estou tentando lidar com tudo.
— Eu acho que nós deveríamos fazer algo para Ashley, em
retaliação — Parker rosnou.
— Como o quê? — Julie perguntou quando ela saiu do
estacionamento. — Tirar o ar de seus pneus? Postar algumas coisas
más no Facebook? Só vai parecer como se nós fôssemos meninas
estúpidas do ensino médio tentando se vingar.
Parker deixou-se cair no banco e murmurou algo que Julie não
podia ouvir. Julie olhou para sua amiga por um momento. Parker
estava pálida, e ela parecia exausta e chateada, provavelmente por algo
mais sério do que Ashley.
Os limpadores de para-brisas apitavam ruidosamente. — Então...
onde você esteve, afinal? — Julie não tinha ideia de onde Parker estava
dormindo. Antes que ela tivesse recebido a ligação de Parker esta noite
dizendo que ela estava no restaurante e precisava de uma carona, Julie
tinha estado quase a pronto de reportar ela para o Pessoas
Desaparecidas. Claro, Parker tinha desaparecido antes, mas nunca por
tanto tempo, e nunca sem dizer a Julie para onde estava indo.
Mas, no entanto, elas não tinham sido procuradas por assassinato
antes.
Parker deu de ombros. — Por aí.
Julie fez uma pausa em uma placa de pare. — Apenas... por aí? —
Ela se perguntou se isso significava que Parker não se lembrava. Uma
onda de medo cravou através de seu peito. — Você quer falar sobre
isso? — ela perguntou timidamente.
— Na verdade, não.
Julie fechou os olhos. Ela desejou que Parker falasse sobre isso,
sobre qualquer coisa. Parecia que sua amiga estava recuando mais e
mais para dentro de si, especialmente depois da morte de Nolan. Se
apenas o terapeuta que ela tinha encontrado para ela tivesse dado
certo. Em vez disso, sempre que Julie até mesmo pensava em Elliot
Fielder e no que ele tinha feito para Parker, ela ficava cheia de tanta
culpa esmagadora que ela mal podia respirar. Ela tinha cometido um
monte de erros com Parker, erros horríveis que não conseguia desfazer.
Ela teria que ser muito, muito cuidadosa para cuidar dela de agora em
diante, ela prometeu a si mesma.
— Então, onde estamos indo mesmo? — perguntou Parker
languidamente, olhando pela janela para as árvores de pau-brasil que
passavam.
— Ava — respondeu Julie. — Ela ligou há pouco tempo. O
namorado dela foi preso pelo assassinato de Granger.
Parker levantou uma sobrancelha. — Espera. O namorado de Ava,
o cara que nos entregou?
— Sim. Estranho, hein?
— Definitivamente estranho — Parker disse calmamente quando
elas viraram na rua de Ava. Então, ela limpou sua garganta. — Quer
saber outra coisa que é estranho? Eu descobri esta manhã que alguém
matou meu pai.
Julie sem querer pisou no freio no meio da rua. — O quê?
— Sim. Ele morreu no pátio da prisão. Eles já o cremaram. Boa
libertação, certo?
A voz de Parker estava robótica e inexpressiva, e por um momento,
Julie achou que ela estava brincando. Mas havia dor atrás dos seus
olhos. E Parker não brincaria sobre isso.
Julie apertou a mão de Parker com força. — Oh meu Deus — ela
sussurrou. — Sinto muito. Mas talvez nós devemos estar felizes?
Parker puxou o capuz apertado em torno de seu rosto. — Eu sei. —
Ela olhou para Julie direto nos olhos, algo que ela raramente fazia
ultimamente, considerando suas cicatrizes. — Quero dizer, eu estava
sempre falando sobre como eu queria vê-lo morto, e agora ele está. É
como se o meu desejo se tornou realidade.
— O meu desejo, também — Julie disse fracamente. Mas,
estranhamente, a morte de Markus Duvall não lhe deu muita
satisfação. Isso não podia desfazer o que ele tinha feito para Parker.
Julie desligou o carro quando elas pararam em frente à casa de
Ava e olhou preocupada para sua amiga. — Tem certeza de que quer ir
lá agora? Nós podemos adiar isso.
Parker assentiu. — Estou bem. De verdade.
Julie deu-lhe um aperto de mão reconfortante. — Bem, se você
ficar desconfortável, podemos ir embora, está bem? E é noite de cinema
no meu quarto esta noite. Sua escolha. Mesmo algo com Ben Affleck.
Elas saíram do carro e começaram a subir o caminho. Pouco antes
que elas pudessem tocar a campainha, a porta se abriu. A madrasta de
Ava, Leslie, ficou no foyer. Seus olhos estavam frios, os cantos de sua
boca voltados para baixo, e ela se balançou para frente e para trás.
Quando o vento mudou, Julie podia sentir o cheiro de vinho branco em
seu hálito.
— Mais de vocês — ela disse amargamente, olhando para Julie e
Parker com desdém. — Todo mundo está no quarto dela. Por favor,
tentem não destruírem o lugar, ok?
Julie apenas balançou a cabeça, mas Parker olhou para a mulher,
inchando seu peito. — Na verdade, eu estava pensando em incendiar a
casa, obrigada. E talvez usar heroína em seu banheiro. Está bem?
— Parker! — disse Julie, acotovelando-a. Parker nunca foi boa com
figuras de autoridade. Seu pai costumava aproveitar-se disso.
A madrasta de Ava olhou de menina para menina, visivelmente
irritada. — Quem é você mesmo? — ela perguntou, suas palavras um
pouco arrastadas.
— Vamos lá — disse Julie, agarrando o braço de Parker e
arrastando-a para cima. Não é de se admirar que Ava reclame sobre
aquela mulher. Ela tinha o comportamento de uma cobra pronta para
atacar.
No andar de cima, a porta de Ava estava entreaberta. Ava estava
sentada em sua cama, enquanto Caitlin e Mac estavam estendidas no
chão. Todas pareciam chocadas, mas o belo rosto de Ava estava uma
bagunça marejada.
Julie deu-lhe um abraço apertado. — Você está bem?
Ava deu de ombros, pegando um lenço de papel. — Na verdade,
não. E você? Eu não vi você na escola desde aquele e-mail horrível. —
Ela olhou para Julie, em seguida, sorriu e balançou os brincos de
candelabro de Julie. — Eles são bonitos.
Julie baixou a cabeça. — Obrigada. E eu estou... chegando lá — ela
disse calmamente. — Eu poderia até voltar para a escola em breve. —
Isso graças a Carson, é claro. Ele reforçou tanto que ela realmente
achava que ela poderia enfrentar o ataque.
— Você deve totalmente voltar — disse Caitlin suavemente. — Não
deixe que eles a vejam suar. E nós vamos apoiá-la.
— Isso mesmo — Mac ecoou. — Nós vamos estar com você a cada
passo do caminho.
Julie queria abraçar todas elas. Na terrível dor de seu segredo
vazar, este conhecimento — que ela tinha novas amigas, meninas que
ela mal tinha conhecido há apenas duas semanas, que não iriam julgá-
la — parecia como um presente. Seja lá o que aconteça, elas apoiariam
umas as outras. Elas estavam juntas nessa.
Ava fechou a porta do quarto firmemente atrás delas, e todas elas
se entreolharam por um momento. Em seguida, Caitlin respirou fundo.
— Então. Alex.
— Eu não posso acreditar. — Julie olhou para Ava. — Você estava
realmente lá quando ele foi preso?
Ava assentiu, parecendo atormentada. — Eles o arrastaram para
fora da casa e o empurraram para dentro do carro. Foi brutal.
— Então você acha que ele... fez isso? — Julie perguntou a Ava
com cautela.
Ava puxou o lábio inferior em sua boca. — De jeito nenhum. Ele
não iria esfaquear alguém.
Mac limpou a garganta. — Mas e quanto a isso? — Ela entrou em
um site em seu celular. Um apresentador da estação local apareceu na
tela. — O mais novo suspeito no caso do assassinato de Granger, Alex
Cohen, tem um histórico de violência — disse o repórter em uma voz
grave. — Nós falamos com Lewis Petrovsky, um estudante que conhecia
Alex em sua antiga escola em Monterey, Califórnia.
Um cara com cabelo encaracolado selvagem e sardas apareceu. —
Nós todos sabemos sobre Alex aqui — ele disse. — Ele tinha uma ex-
namorada, Cleo, que ele simplesmente não conseguia superar.
Praticamente a perseguia. E uma noite ele machucou o novo namorado de
Cleo, Brett, realmente sério. Brett ficou hospitalizado por um mês. — Sua
boca tremeu. — Brett é meu melhor amigo. Eu fiquei tão preocupado com
ele.
O noticiário voltou para o repórter novamente. — O Canal 11
tentou entrar em contato com Cleo Hawkins e os pais de Brett Greene
para interrogatório, mas não puderam ser alcançados neste momento.
A boca de Ava caiu aberta. Ela olhou para o celular de Mac. —
Como isso pode ser verdade?
Julie sentiu uma pontada. Estava claro que Ava não tinha ouvido
essa peça do quebra-cabeça, nem de seu próprio advogado, e
certamente nem de Alex. Parecia como se alguém tivesse apenas dado
um tapa nela com força.
Mac fez uma careta. — Sinto muito que você teve que ouvir isso
desse jeito.
Ava não disse nada. Ela pressionou PLAY, e o vídeo começou de
novo. — Alex não é assim — ela disse depois de ter terminado.
— Isso se encaixa, no entanto — Parker interviu. — Ele vê você
fazendo um strip-tease para Granger, ele surta e o mata.
Ava olhou para ela com os olhos borrados de lágrimas. — Alex não
é do tipo que surta.
Caitlin bateu seus punhos fechados em seus joelhos. — Na
verdade, meu advogado me disse a mesma história sobre o garoto da
antiga escola dele. Aparentemente, os policiais encontraram uma
mensagem de Alex para Granger dizendo “Fique longe da minha
namorada ou eu vou te matar”.
Ava estava ficando cada vez mais pálida a cada segundo. — O quê?
— Alex a enviou depois que você confessou que Granger bateu em
você — disse Caitlin em voz baixa. Ela espiou Ava. — Seu advogado não
lhe disse nada disso?
Ava fez uma careta. — Eu nem sequer ouvi falar do meu advogado
ainda. E ele supostamente deveria ser o melhor. — Ela olhou para
baixo. — Mesmo com uma ameaça verbal e um motivo, e um suposto
histórico violento. — Ela disse suposto como se ela não acreditasse
totalmente. — Isso ainda não parece ser suficiente para prender Alex.
Caitlin tossiu desajeitadamente. — Bem, as impressões de Alex
estão por toda a maçaneta de Granger, também.
— Uou — Mac exalou.
— Por que eu não sabia nada disso? — Ava exclamou, com a voz
trêmula.
— Talvez o seu advogado ou seus pais estavam tentando protegê-
la? — Julie ofereceu.
Ava balançou a cabeça, parecendo chocada. — Eu simplesmente
não entendo.
Julie olhou para as outras. — Mas isso significa que nós não
somos mais suspeitas, certo?
— Isso é o que o meu advogado me disse — disse Caitlin
calmamente.
Julie teve que admitir que se sentia aliviada. Se ela nunca visitasse
a estação de polícia novamente, seria muito cedo. Ainda assim, o rosto
de Ava deixou a vitória agridoce. — Então, se Alex matou Granger — ela
começou, trabalhando alguma coisa em sua mente, — e se ele fez isso
por motivos de ciúmes, isso significa que Granger matou Nolan? E os
dois assassinatos não estão relacionados?
— Talvez. — Mac puxou os joelhos em seu peito. — Talvez tudo
seja esclarecido afinal de contas.
Ninguém falou por um momento. Julie olhou para longe de Ava.
Então Parker limpou a garganta. — Alguém foi morto recentemente,
também.
Todo mundo olhou para ela. De repente, Parker não podia falar.
Julie respirou, tendo uma sensação de que ela sabia o que Parker
queria falar. — O pai de Parker foi morto — ela disse.
As outras engasgaram. — Oh meu Deus — disse Ava. — Como?
Parker limpou a garganta, recuperando sua voz. — Ele foi
esfaqueado no pátio da prisão. Eles não descobriram quem fez isso
ainda, mas, obviamente, foi outro preso.
— Uau. — Mac correu os dedos ao longo da costura do edredom de
Ava. — Há um monte de morte por aqui.
Caitlin inclinou a cabeça. — Vocês não acham que isso é uma
coincidência muito estranha?
— Como assim? — perguntou Mac.
Caitlin olhou para Julie. — Julie, você disse que queria vê-lo morto
nas aulas de filmografia na mesma conversa sobre Nolan. E agora... ele
está.
Julie de repente se lembrou do que Caitlin estava falando. Antes de
elas planejarem como matar e depois a brincadeira com Nolan, elas
tinham cada uma nomeado alguém que elas matariam, e como elas
fariam isso. A escolha de Julie tinha sido o pai de Parker. E, pensando
sobre isso, ela não tinha dito, ele poderia ser esfaqueado até a morte no
pátio da prisão?
— Eu não quero ser paranoica, mas o momento disso é estranho —
disse Caitlin calmamente. — Primeiro Nolan morre exatamente como
nós planejamos, e, em seguida, o pai de Parker morre, também?
— Homens são mortos na prisão o tempo todo, no entanto — disse
Mac, olhando ao redor do quarto.
— Sim — Ava destacou. — Provavelmente não estão conectadas.
— Mas vamos bancar o advogado do diabo por um minuto —
Caitlin argumentou. — Vamos dizer que não seja uma coincidência.
Digam alguém... eu não sei, que ouviu essa conversa. — Ela olhou para
Julie novamente. — Eu gostaria que ainda tivéssemos aquelas
anotações que Granger tinha escrito sobre a nossa conversa. Você se
lembra do que elas diziam?
Julie se encolheu. Ela tinha encontrado um bloco amarelo no
escritório de Granger, que tinha notas que eram claramente da
conversa delas naquele dia. Ela olhou para Parker para confirmar.
Parker assentiu. — Dizia “Nolan — cianeto”. Se Granger matou
Nolan, então foi assim que ele conseguiu a ideia do cianeto e como ele
sabia que ele poderia nos incriminar.
— Ele tinha todos os nossos outros nomes nelas? — perguntou
Ava.
— Eu acho que sim — disse Julie. — Havia algo sobre Leslie, e
Claire...
Mac desviou o olhar para o teto. — Eu disse Claire. — Suas
bochechas ficaram vermelhas.
— E o pai de Parker — acrescentou Julie. — Granger tinha escrito
todos eles.
— Não Ashley Ferguson, no entanto — Parker acrescentou, e Julie
assentiu. Isso era verdade. Mas talvez ele simplesmente não sabia quem
Ashley era no momento. Ela não estudava filmografia.
— Você acha que é possível mais alguém ter nos ouvido, também?
— interrompeu Caitlin. — Além de Granger, eu quero dizer?
Julie franziu a testa. — Alguém mais na sala de aula?
Caitlin deu de ombros. — Eu não sei. Provavelmente.
— Mesmo se ouviram, o que você quer dizer? Essa pessoa
sorrateiramente foi ao pátio da prisão de uma prisão de segurança
máxima e esfaqueou um cara até a morte?
— Talvez? Vamos apenas deixar isso de lado. Quem mais estava na
sala naquele dia?
Ava fechou os olhos. — Ursula Winters. Renee Foley. Alex, mas ele
estava do outro lado da sala, conversando com Nolan.
— Oliver Hodges, Ben Riddle e Quentin Aaron — Mac acrescentou.
— James Wong...
— O pai dele é um congressista, e ele é um candidato para Harvard
com uma admissão precoce — interrompeu Ava. — Ele não faria nada
tão estúpido. Tira ele da lista.
— Oh, como nós não faríamos nada tão estúpido como fazer uma
brincadeira com alguém, porque estamos a caminho de Juilliard, de
bolsas de estudos de futebol e tudo mais? — disse Mac.
Ava empalideceu. — Ok — ela admitiu. — James Wong poderia ter
nos ouvido, também.
— Claire estava lá — acrescentou Mac. — Então talvez seja ela? Se
ela me ouviu dizer que eu queria que ela morresse, ela seria do tipo que
iria se vingar.
Caitlin bateu em seus lábios. — E quanto a Ursula? Ela quer me
vencer a qualquer custo.
— Matando pessoas? — Parker olhou para elas com ceticismo.
Julie tinha que admitir que parecia bastante extremo. Ninguém disse
nada.
Julie fechou os olhos, percebendo o que parecia. — Gente, isso é
loucura. Ninguém nos ouviu falando com exceção de Granger. E eu vi
aquele caderno de anotações com meus próprios olhos. Mesmo se a
polícia encontrá-lo, os nossos nomes não estão nele. Isso não prova
nada.
— O que aconteceu com o bloco de notas? — perguntou Caitlin. —
Você sabe?
Julie tentou pensar, mas elas tinham estado com tanta pressa
para sair de lá quando o Sr. Granger as surpreendeu ao voltar para
casa mais cedo. — Eu não tenho certeza — ela admitiu.
Parker parecia confusa também. — Eu pensei que eu o tinha
pegado, mas não tenho ideia de onde ele poderia estar.
— O que significa que ele ainda está por aí em algum lugar. — Ava
parecia preocupada. — A polícia poderia tê-lo encontrado na casa de
Granger. Ou alguém poderia tê-lo agora. A pessoa que realmente matou
Granger.
Mac tinha caído para trás em cima da cama enquanto elas
conversavam, os cabelos loiros sujos espalhados em torno dela. —
Pessoal — ela disse, — estamos girando ao longo de nada. A morte do
pai de Parker não tem nada a ver com isso, com a gente. Ele era,
provavelmente, um dos principais alvos considerando o que ele fez com
Parker. Quero dizer, as pessoas que machucam seus filhos geralmente
não são encurraladas na prisão? Esta é a última coisa que devemos nos
preocupar. E quão impossível seria para alguém na escola mandar
matar um prisioneiro?
— Ela provavelmente está certa — disse Julie.
— Sim. — Caitlin puxou os braços dentro de seu suéter e se
abraçou. — Desculpa eu ter trazido isso à tona.
— Está tudo bem — Mac disse, apertando-lhe o braço. — É bom
pensar em todos os ângulos. Mas agora, nós devemos olhar para o lado
positivo de tudo isso. É uma merda que Alex foi preso, mas isso
significa que estamos bem. Nós podemos colocar tudo isso para trás.
— Você está certa — disse Julie suavemente. Elas deviam estar
emocionadas, felizes e aliviadas agora, não se preocupando com teorias
aleatórias e malucas que não fazem sentido. Elas não iam para a
cadeia. Parker ainda estava com ela. Ela tinha boas amigas, também,
amigas que se preocupavam com ela, não importava o quê.
E talvez isso fosse tudo o que elas precisavam agora. Mas quando
ela se encostou para trás, ela não podia deixar de dizer mais uma coisa.
— Coincidência ou não, eu estou realmente contente que Markus
Duvall está morto.
Capítulo 7

Q
uarta-feira, Mac estava na frente do espelho do quarto,
segurando um vestido novinho em folha padronizado com
peônias vibrantes e chamativas. Sua mãe tinha presumivelmente
comprado naquela tarde, e ela colocou-o em sua cama com um bilhete
que dizia: Vista-me hoje à noite! Mac torceu o nariz. Com os óculos de
armação escura de Mac e o cabelo loiro selvagem e indomável, isso a
fazia parecer metade bibliotecária, metade Os pioneiros1, em outras
palavras, totalmente nada legal. Por que ela não podia simplesmente
usar jeans? A festa de Juilliard era tão sofisticada?
Mas talvez fosse. Era o evento oficial de boas-vindas de Juilliard do
Estado de Washington, afinal de contas. E ela estava animada para
encontrar alguns de seus novos colegas.
Ela estava menos animada sobre ficar cara-a-cara com Claire.
Mac não tinha visto Claire toda a semana. Ela estava evitando-a na
escola, indo para diferentes corredores se ela sabia que seus caminhos
se cruzariam, optando pela biblioteca durante o almoço. Ela tinha até
mesmo considerado faltar a orquestra, mas, estranhamente, Claire não
tinha ido. Normalmente, teria sido uma grande coisa, mas a prática era
opcional esta semana, uma vez que a orquestra estava começando a
aprender uma série de novas peças e não realmente ensaiando para
nada em particular. Mac se perguntou se Claire estava evitando ela,
também.
E ela estava evitando Blake, também — a cada vez que ela o via
nos corredores, ela se escondia em uma sala de aula para que eles não
tivessem que ver um ao outro. Quanto aquele cupcake, ela deixou
Sierra comer, nunca dizendo-lhe de onde tinha vindo. Ela assistiu
entorpecida enquanto Sierra lambia o açúcar de seu dedo, recusando
até mesmo uma mordida mais ínfima. E o cartão que Blake tinha dado
a ela? Mac tinha jogado no porta-luvas de seu carro, junto com os
cartões de seguro expirados e um monte de roteiros desatualizados. Ela

1
Os pioneiros: Série de TV que conta a história de uma família que tenta sobreviver em uma
região selvagem, enfrentando animais perigosos, índios, o clima e toda sorte de perigos. Essa
família chama-se Ingalls e é formada por Charles Ingalls, sua esposa Caroline e as filhas Mary,
Carry e Laura. O ano era 1870, o local, o oeste bravo dos Estados Unidos.
esperava que ela o visse anos mais tarde, quando ela estivesse ótima e
bem-sucedida e Blake realmente, realmente não importaria.
Ela deixou cair o vestido de volta na cama, revirando os olhos. Ele
provavelmente nem sequer cabia nela. Talvez ela devesse ficar em casa,
ela realmente não estava no ânimo para isso. Mas então ela se lembrou
da conversa que ela e as outras meninas tiveram ontem na casa de Ava.
Elas não eram mais suspeitas do assassinato de Granger. Parecia que
elas não eram mais suspeitas no caso de Nolan, também. Era como se
tivesse sido dada a ela uma nova vida, certo? Ela poderia muito bem
aproveitá-la.
E quanto a aquela conversa sobre a lista, a ideia de que alguém
tinha ouvido quem elas queriam mortos e estava agindo sobre isso?
Bem, isso era uma loucura.
Ok, ela decidiu — ela iria. Mas ela definitivamente não iria usando
aquele vestido de peônias. Ela caminhou até o armário, puxando de
lado alguns cabides, e selecionando um vestido escuro de malha bouclé
tricotado que ela comprara em Nova York quando eles excursionaram
por Juilliard no ano passado. Sua mãe se opôs — ele era meio curto —
mas talvez isso fosse uma coisa boa. Ela escolheu um par de botas e
um monte de colares de contas. Muito melhor.
Poucos minutos depois, ela preencheu os lábios com um pouco de
brilho, colocou um Tic Tac de laranja em sua boca, e se dirigiu para a
porta. — Tchau! — ela falou por cima do ombro para seus pais, que
estavam sentados no escritório, ouvindo uma ópera de Wagner com os
olhos fechados.
Trinta minutos mais tarde, Mac entregou as chaves para o
manobrista de um pequeno restaurante brasileiro chamado Michaela no
centro de Seattle. Ela respirou fundo e entrou. Um remix de bossa nova
tocava através dos alto-falantes, e havia lâmpadas de Edison em gaiolas
de metal penduradas em todos os lugares, derramando uma luz âmbar
lisonjeira no local. O barman estava misturando mojitos virgens atrás
do bar, e travessas cheias de banana frita e coxinhas de frango com
queijo estavam fazendo as rondas. Havia em uma longa mesa fora do
espaço crachás com os nomes de todos os participantes. Lá, dobrado ao
meio, estava o nome de Mac. Um arrepio passou por ela quando ela o
pegou. Ela tinha conseguido — ela estava indo para Juilliard. Sua pele
formigava com emoção e orgulho.
— Ora, ora, ora. Você veio, afinal de contas.
Mac piscou na penumbra e viu o rosto sarcástico parecendo de
uma fada de Claire aparecendo apenas a centímetros de distância. Ela
já tinha colado seu crachá em seu seio esquerdo: Olá, meu nome é
Claire Coldwell.
Mac engoliu em seco, empurrando os óculos para cima do nariz. —
Uh, eu tenho que... — Ela se atrapalhou, apenas querendo fugir.
Claire ficou na abóbada, não deixando ela passar. Ela era quinze
centímetros mais baixa do que Mac, o corpo pequenininho sempre algo
que Mac invejava, mas de repente ela parecia mais alta. — Blake me
deixou, você sabe — ela sussurrou. — Tudo por sua causa.
Mac olhou para seus saltos robustos, pensando sobre o que Blake
tinha dito a ela no outro dia. Então era verdade. Tanto Faz. Blake
romper com Claire não significava nada.
— Eu sinto muito em ouvir isso — disse Mac. E depois: — Com
licença. — Porque, realmente, o que mais ela tinha a dizer? Elas não
eram mais amigas. Elas não eram nada.
Ela deu uma cotovelada passando por sua ex-amiga e se
aproximando de um grupo de adolescentes — quaisquer adolescentes —
apenas para ter algo para fazer. Eles eram vários meninos agitados e
nervosos em jaquetas e gravatas, e uma menina em botas até o
tornozelo de salto alto e um vestido de renda preta que Mac adorou
instantaneamente.
— Oi, eu sou Mackenzie. — Ela estendeu a mão para um rapaz
magro e efeminado com as mãos de aparência delicada e pestanas
longas.
O rapaz apontou para o nome no crachá. — Olá, meu nome é
Lucien — ele disse ironicamente. — Eu toco flauta.
— Prazer em conhecê-lo! — Mac sorriu.
Os outros foram em torno do círculo dizendo seus nomes e
instrumentos. Em seguida, eles começaram a falar sobre a Cidade de
Nova York. — Alguém já esteve lá? — uma menina chamada Rhiannon
perguntou com admiração na voz.
Lucien assentiu com a cabeça. — Meus pais me levaram para o
meu aniversário do ano passado. É incrível — ele jorrou. — Eu mal
posso esperar para voltar.
— E é realmente caro, né? — disse um menino chamado Dexter
que tocava piano. — Eu ouvi, tipo, que um pacote de chicletes custa
cinco dólares.
— Sim, mas a energia compensa isso — Mac interviu. Ela tinha ido
a Nova York para um acampamento da orquestra com Claire, na
verdade. Ela empurrou de lado as memórias delas andando em torno da
Times Square com camisetas Eu-Amo-NY combinadas, comendo sacos
de doces da loja Candy Bar da Dylan, esgueirando para o palco do
Carnegie Hall para ver como era, e sendo perseguida pelo guarda da
segurança. — Embora você tem que ignorar os rumores. Nem todos os
lugares tem um assaltante ou um batedor de carteiras. E jacarés não
vivem nos esgotos.
Dexter bufou e revirou os olhos. — Sim, mas enormes ratos vivem
no metrô.
— Verdade. — Mac fez uma careta. — E eles são muito nojentos.
Todos fizeram ruídos enojados. Mac podia sentir o olhar de Claire
queimando em direção a ela, mas ela se recusou a se virar. Ela iria se
divertir esta noite, caramba. E isso significava que ela não arrastaria o
passado para o presente.
Um rapaz alto e loiro, com ombros largos e uma covinha se
aproximou. Mac verificou seu blazer, mas ele não estava usando um
crachá. — Esse parece com o grupo da diversão — ele disse com
entusiasmo.
Lucien tomou um gole de sua bebida. — Nós estávamos falando
sobre ratos de metrô. Dentro dos padrões das conversas para se
conhecer.
Os olhos do menino novo imediatamente travaram nos de Mac. —
Ratos de metrô? Eca.
Mac deu uma risadinha e resistiu ao impulso nerd de empurrar os
óculos no nariz. — Você tem medo?
O menino sorriu. — De ratos? Não. Eu cresci em uma fazenda. Mas
eu ouvi que a população de roedores em Nova York é superesperta.
Tipo, eles podem fazer truques. Pegar e rolar. Falar várias línguas.
— Discutir com motoristas de táxi? — Mac entrou na conversa.
O cara riu. — Pechinchar com os caras que vendem bolsas falsas
Gucci no Canal Street.
— Passar pelas cordas vermelhas dos clubes — brincou Mac, se
divertindo.
O cara estendeu a mão. — Eu sou Oliver. Eu toco piano.
Suas mãos eram aveludadas, mas com ligeiros calos nas pontas
dos dedos. Seu toque enviou uma carga da cabeça aos pés de Mac. —
Mackenzie. Violoncelo. Prazer em conhecê-lo.
— Prazer em conhecê-la, também, Mackenzie Violoncelo. — Ele
segurou seu olhar de forma constante. — Estou sempre impressionado
com a maneira como vocês violoncelistas carregam aquela coisa toda
para os lugares como se não fosse nada. Vocês fazem isso parecer tão
fácil.
— Nós aprendemos isso primeiro — brincou Mac. — Instruções
para Carregar Violoncelo. Antes mesmo de tocar uma nota. — Ela não
podia acreditar que as palavras estavam voando para fora de sua boca
tão facilmente. Ela nunca tinha sido capaz de flertar desta forma com
Blake. Talvez porque ela sempre colocasse tanta pressão sobre si
mesma em torno de Blake.
— Aha. Então agora eu sei. Eu sempre me perguntei. — Ele tinha
uma boa risada, Mac pensou — plena e aberta, quente. Mas, em
seguida, irritantemente, ela sentiu um pequeno puxão triste em seu
peito. Ele não é Blake, uma vozinha disse em seu ouvido.
Ela se encolheu. E daí? ela pensou ferozmente. Blake a tinha
magoado. Não, ela se corrigiu — Blake tinha ferrado com ela.
Ela se esforçou para se focar em Oliver. Ele estava contando
alguma história sobre uma outra violoncelista que ele conhecia da sua
escola, uma pequena menina japonesa cujo instrumento era quase tão
grande quanto ela, mas que dominava completamente o instrumento. —
E quanto a vocês do piano? — ela perguntou, quando ele terminou. —
Deve ter um monte de treinamento para aprender a mover um piano.
— Eu pareço com o tipo de cara que iria realmente mover seu
próprio piano? Há pessoas que fazem isso para mim. — Seus olhos
verdes brilharam. — É por isso que eu escolhi isso, em primeiro lugar,
para que eu pudesse ter meus asseclas fazendo todo o trabalho pesado.
Mac tentou manter uma expressão séria. — Entendo. Será que
Juilliard sabe? Que você é uma prima-dona, eu quero dizer.
Oliver se inclinou em direção a ela. — Não. E vamos manter isso
entre nós, não é?
Mac colocou as mãos nos quadris, simulando severidade. — O que
eu ganho com isso?
— Bem, nós veremos, Mackenzie Violoncelo. Não é?
— Eu acho que sim — ela murmurou. Oliver tinha um cheiro
limpo, como limões e algo salgado, lembrando-a do mar. Era um cheiro
totalmente diferente do cheiro adocicado de Blake. E isso é uma coisa
boa, ela se lembrou.
Alguém bateu em seu ombro, e Mac virou-se para encontrar-se
cara a cara com uma mulher de meia-idade em um terninho marrom. —
Olá, eu sou Olga Frank, funcionária de admissão do Noroeste! — A
mulher falou, sorrindo com todos os dentes. — Mackenzie Wright! Eu
estive procurando por você!
Mackenzie pegou a mão estendida da mulher. — É tão bom te
conhecer. Obrigada por tudo.
Olga acenou com a mão. — Oh, não me agradeça, querida. Você
ganhou o seu lugar. Agora venha comigo, há algumas outras pessoas
que eu quero que você conheça. — Ela puxou Mac pela mão em direção
a um grupo de adolescentes na parte de trás do restaurante. Mac olhou
para Oliver por cima do ombro, dando-lhe um sorriso de desculpas. Ele
piscou em resposta, e ela reprimiu uma risada. Flertar era divertido.
Após quinze longos minutos e uma pequena conversa sem fim com
dois violinistas, um violetista e um harpista mais tarde, Mac fez seu
caminho de volta através da multidão. Ela queria encontrar Oliver
novamente. Finalmente, Mac avistou-o no outro lado do bar,
conversando com alguém que ela não podia ver.
Mac olhou para o barman e fez um gesto para a tigela de ponche.
— Pode me dar dois desses? — O barman obedeceu, sorrindo enquanto
ele entregava os copos. Com as bebidas na mão, Mac dirigiu-se para
Oliver. Mas enquanto ela dobrava a esquina, ela percebeu com quem ele
estava falando.
Claire.
Sua velha amiga estava balançando seus cachos saltitantes curtos
e rindo levemente de algo que ele tinha acabado de dizer. Ela
casualmente tocou em seu braço quando ela começou a falar. Oliver
não se afastou.
Mac fervia. Claire estava em pleno modo de flertadora — e não era
uma coincidência que ela tinha escolhido flertar com Oliver. Mac estava
disposta a apostar que Claire o tinha visto com Mac anteriormente.
Mac estava a poucos centímetros de Claire e Oliver, sem saber o
que fazer. Ela estava tentando pensar em algo inteligente para dizer
para interromper sua conversa, quando Claire olhou para cima e
encontrou seus olhos. Então ela colocou a mão no cotovelo de Oliver
possessivamente e balbuciou, Capturado.
Ira explodiu através de Mac. De repente, ela sabia o que tinha que
fazer. Ela não ia recuar humildemente, do jeito que ela tinha feito
quando Claire tinha ido atrás de Blake. Desta vez, ela iria lutar de volta.
Com um deslizar confiante de seu cabelo, ela lambeu os lábios
para dar-lhes um pouco de brilho e caminhou direto para Oliver. Ele é
meu, ela pensou.
Desta vez, ela iria ficar com o cara. Não importava o quê.
Capítulo 8

N
aquela mesma noite, Caitlin e Jeremy estavam andando até a
rua principal de Beacon Heights. Eles tinham acabado de sair
do cinema, e eles estavam lambendo sorvetes de casquinha e
olhando as vitrines. O sol se pôs, todas as luzes das lojas estavam
acesas, e a rua tinha uma atmosfera festiva — estava tocando música
nos bares, um guitarrista na rua estava fazendo uma versão demais de
“Come Together” e grupos de adolescentes estavam reunidos em cada
canto, rindo e fofocando. Caitlin segurava seu cone em uma mão e a
mão de Jeremy na outra, plenamente consciente de como eles estavam
públicos. Mas ei, eles tinham que sair em público algum dia. E isso
parecia... bom. Certo. Ela estava com Jeremy Friday, não Josh Friday, e
ela estava totalmente orgulha disso.
Um respingo de sorvete de baunilha deslizou para baixo do queixo
de Jeremy, e Caitlin estendeu a mão para limpá-lo com o polegar. Ele
agarrou a mão dela e colocou o dedo em sua boca, lambendo o sorvete
dele. O corpo de Caitlin vibrou com a sensação de sua língua sobre a
ponta do seu dedo. Ela se inclinou para frente e puxou-o em direção a
ela, beijando-o com firmeza.
— Hummmm. Gosto de hortelã — ele murmurou em seus lábios.
— O meu favorito — ela suspirou de volta.
Jeremy olhou para ela com amor. — Eu sei. Sempre foi. Exceto
pelo seu breve flerte com espiral de caramelo no ensino médio.
Caitlin riu, mas por dentro, ela sentiu uma onda de apreciação. Ela
conhecia Jeremy quase sua vida inteira — eles passavam um tempo
juntos nos jantares dos Martell-Lewis com os Friday e até mesmo nas
viagens de família e, mais tarde, enquanto ela estava namorando Josh
ela passava muito tempo na casa dele. Ela não percebeu que, durante
todo esse tempo, Jeremy tinha estado prestando atenção nela de uma
forma que Josh nunca o fez. Ele lembrava de como ela odiava seu
professor de geometria dois anos antes, e que a primeira coisa que ela
tinha comido depois de ter obtido sua braçadeira foi o doce Laffy Taffy,
e que a sua maneira favorita de irritar Taylor tinha sido fingir tirar
coisas de trás de sua orelha, principalmente porque seu tio Sidney fazia
isso e ambos odiavam. Caitlin poderia garantir que Josh não se
lembrava de nada disso. Mas ouvir Jeremy referenciar todos esses
detalhes? Isso fazia Caitlin se sentir tão amada. Tão... notada.
Jeremy puxou-a para baixo em um banco de fora da loja de artigos
de papelaria. Ela se aproximou mais dele tanto quanto ela podia,
aproveitando o calor do seu corpo quando a brisa fresca da noite roçou
seu rosto. — Então, o que você achou do filme?
Caitlin franziu o nariz, e ele bateu levemente nele com a ponta do
dedo. — Eu amei. E você?
— Amei. Mas eu totalmente não entendi...
— ...como ele foi capaz de mudar as fórmulas e, em seguida, atrair
a coisa com os tentáculos para fora de debaixo do banco? — ela
interrompeu.
— Exatamente. É como se você lesse a minha mente. — Ele sorriu.
Caitlin se aninhou na jaqueta de Jeremy, a lã azul marinho
roçando contra sua bochecha. Josh nunca teria ido ver um anime
japonês com ela. Ele o teria dispensado com uma risada tipo “nerd
demais”.
Jeremy passou um braço em volta dos seus ombros e puxou-a
mais para perto. — Eu gostaria que pudéssemos ir para uma de nossas
casas, em vez deste banco frio e duro do parque.
Ela suspirou. — Eu sei. Mas talvez nós tenhamos que fazer isso em
breve. Minhas mães podem ter se acostumado, nunca se sabe.
Jeremy levantou uma sobrancelha. — As coisas estão melhores?
— Parcialmente. Desde que eu fui absolvida das acusações do
assassinato de Granger, elas pararam de me importunar. — Ela revirou
os olhos.
— Ei! — Jeremy sorriu. — Isso é incrível. E quanto as coisas
comigo?
— Elas se acostumarão com você, também — disse Caitlin com
uma voz suave.
Pelo menos, ela esperava que suas mães o fizessem. Mas quando
ela lhes disse que ia sair com Jeremy hoje à noite, seus sorrisos falsos
tinham diminuído um pouco.
De repente, seu celular tocou no bolso. Ela enfiou a mão para
agarrá-lo e atendeu sem olhar para o número.
— Parabéns, co-capitã! — Uma voz familiar gritou em seu ouvido.
Demorou um momento para Caitlin perceber que era sua treinadora do
futebol, Leah.
— Espera, o quê? — ela disse ao telefone. Ela podia sentir Jeremy
olhando para ela interrogativamente, então ela sorriu para ele e
murmurou treinadora Leah.
— Você e Ursula foram eleitas co-capitãs! — A voz de Leah estava
bastante retumbante. — Eu computei os votos da prática de hoje, e
vocês duas foram claramente as vencedoras!
Caitlin piscou. — Sério? — Ela não conseguia impedir que um
sorriso grande e estúpido se espalhasse pelo seu rosto. Ela pensou que
depois de tudo, suas chances seriam fuziladas. E apesar do fato de que
Alex havia sido preso, ela ainda estaria preocupada que a associação
com Granger seria uma marca contra ela. Não que alguém houvesse
deixado claro que eles sequer sabiam sobre a associação com Granger,
mas ainda assim.
E, no entanto... ela era a capitã de qualquer maneira. Seu sorriso
ficou mais amplo. Nem mesmo o fato de que ela tinha Ursula Winters
como co-capitã poderia derrubá-la. Caitlin e Ursula se conheciam há
anos, jogando em times de futebol e viajando juntas para campos de
futebol, mas sempre tinham sido rivais em vez de amigas. Parecia que
Ursula estava sempre tentando contradizer Caitlin. Se Caitlin dissesse
algo engraçado, Ursula recusava-se a rir. Se Caitlin sugerisse que o
time usasse faixas de cabelo combinadas no Dia do Espírito, Ursula
dizia que era uma ideia estúpida e elas deveriam usar pulseiras de
borracha em vez disso. Caitlin não sabia o que ela tinha feito para fazer
a menina odiá-la tanto.
Sua mente brilhou brevemente para a conversa que tiveram no
quarto de Ava — sobre a lista que tinham feito na aula de filmografia, e
como Ursula tinha estado nessa classe, também. Mas ela rapidamente
mandou o pensamento para longe.
— É isso mesmo! — Leah vibrou. — Parabéns, Capitã! Eu sei que
você vai fazer um grande trabalho.
Antes de desligar, Leah disse mais alguns detalhes sobre como ela
precisava começar a liderar treinos e ajudar nos planos de atividades
espirituais. Caitlin apertou o botão FINALIZAR e pressionou o celular
entre as palmas das mãos. Em seguida, ela respirou fundo e olhou para
Jeremy. — Eu sou a capitã! — ela exclamou, envolvendo os braços em
volta dele.
Jeremy ficou duro por um momento. — Capitã! — ele disse
lentamente. — Do... que, do time de futebol?
— Dã! Sim! — Caitlin soltou sua mão e pulou para fora do banco,
dançando uma jiga na frente dele.
Jeremy olhou torto para ela. — Então isso é uma coisa boa?
— Claro que é! — Caitlin parou, percebendo que algo estava
errado. — O que foi? Você parece... eu não sei. Irritado.
Jeremy pareceu alarmado. — Claro que não! Eu apenas... eu
pensei que você estivesse em conflito sobre o futebol. Isso é tudo.
Caitlin sentou-se novamente. — Isso não significa que eu quero
parar de jogar. — Ela pegou a mão dele. — Há um jogo em poucas
semanas onde as capitãs caminham para o campo com os respectivos
pares do Baile de Boas-Vindas. Você vai comigo? Por favor?
— Baile de Boas-Vindas? — Jeremy puxou o colarinho. — Oh,
Deus. Bailes não são a minha praia.
— Venha. Vai ser divertido! — Ela agarrou seu telefone,
percebendo que ela tinha um milhão de pessoas para chamar. Suas
mães, Vanessa a Viking, Josh...
Josh. É claro que ela não poderia chamar Josh — não com Jeremy
sentado bem ali. E, provavelmente, nunca. Isso era meio uma droga.
Josh apreciaria a coisa de capitã absolutamente do jeito certo. Ele não
iria perguntar se ela ainda se sentia em conflito. Ele não traria à tona
como ele odiava o Baile de Boas-Vindas.
Jeremy colocou as mãos em volta da cintura dela e deu-lhe um
aperto. — Ok, bem, se você está feliz, eu estou feliz. — Então ele se
levantou. — Nós devíamos ir. Venha, eu vou te levar.
Ele a levou em direção ao estacionamento, e Caitlin se arrastou
atrás dele, sua felicidade ficando um pouco entorpecida. Não era que
ela sentisse falta de Josh ou coisa assim. Ela certamente não o queria
de volta. Ela só queria que a reação de Jeremy tivesse sido... diferente.
Com mais entusiasmado. Com mais compreensão, da maneira como ele
fazia sobre todo o resto.
— Então — disse Jeremy, apertando-lhe a mão e trazendo sua
mente de volta ao momento. — Vamos fazer algo sábado à noite.
— Sério? — Os olhos de Caitlin iluminaram.
Jeremy assentiu. — Eu vou planejar todos os detalhes. Você
simplesmente aparece. Ok?
— Tudo bem — ela disse, subindo na motocicleta atrás dele e
sorrindo estupidamente. Ele iria levá-la para sair para comemorar, não
era? Talvez aquele novo lugar de churrasco que eles queriam
experimentar. Ou aquele lugar asiático com a comida picante que Josh
tinha medo.
De repente, Caitlin sentiu uma onda de euforia. Jeremy estava
reagindo da maneira certa. Ela era sendo boba ao duvidar dele.
Capítulo 9

Q
uinta-feira, Ava vestiu um vestido envelope cor de carvão que
batia na metade da perna. Ela vestiu calças escuras grossas e
botas até o joelho, cobrindo tudo com um blazer preto, em
seguida, agarrou seu mais amplo par de óculos escuros e desceu as
escadas para encontrar seu pai. Ela poderia ter listado mil lugares que
preferia estar indo do que na cerimônia do memorial de Lucas Granger,
mas Ava não tinha escolha.
— Jigar — seu pai cumprimentou-a, usando o nome de animal de
estimação iraniano que ele sempre tinha chamado ela. Sua mãe
costumava tentar chamar Ava disso, também, mas sua terrível
pronúncia sempre fazia seu pai rir, então ela desistiu e a chamava de
“Muffin” em vez disso.
Ava ajustou o cinto em volta da cintura e sorriu para ele. — Está
pronto?
— Sim, minha querida. — O Sr. Jalali estendeu a mão para a
maçaneta da porta, mas hesitou. Ele olhou para Ava como se ele
quisesse perguntar-lhe alguma coisa, mas, em seguida, ele sacudiu a
cabeça e começou a sair pela porta. — O que foi? — Ava perguntou
atrás dele, correndo para a Mercedes e deslizando no banco do
passageiro.
O Sr. Jalali ligou o carro, em seguida, deu-lhe um olhar longo e
sincero. — Eu odeio que nós estejamos indo para um funeral. — Ele
puxou o colarinho. — Eles ainda são difíceis, depois de todo esse tempo.
Ava engoliu em seco. Ele estava falando sobre sua mãe. Esse não
era o único funeral que ela tinha estado — houveram outros, mais
recentemente o de Nolan — mas o da sua mãe tinha sido, é claro, o
mais devastador. Ela pensou novamente nesse dia horrível quando ela e
seu pai estavam sentados na igreja — sua mãe havia ditado que seria
uma cerimônia multidenominacional, com tradições cristãs e
muçulmanas — ouvindo o pastor falar, olhando para a grande fotografia
de sua mãe que eles tinham escolhido para colocar em cima de seu
caixão. Ava tinha segurado a mão do seu pai firmemente durante toda a
cerimônia. Na outra mão, ela segurava o cão Beanie bebê que sua mãe
lhe dera alguns dias antes do acidente de carro. Ele tinha sido seu
último presente para Ava, e de repente ele parecia como a coisa mais
importante do mundo.
Ava olhou para seu pai agora, querendo dizer muitas coisas para
ele. Ela sentia tanta falta dele; parecia que havia uma enorme distância
entre eles agora, uma lacuna que ela queria construir uma ponte. Era
doce ele vir com ela para isso, ela percebeu. Ele não tinha que estar lá
com ela. Ela respirou, a ponto de dizer tudo isso, quando um barulho
soou através da janela aberta. Leslie correu para a varanda, com o
celular pressionado firmemente ao seu ouvido.
— Não, não, não — Leslie rosnou no telefone. — Eu disse que eu
não quero nenhuma tulipa. Tulipas tem aparência barata. Vocês não
entendem o ambiente que eu estou tentando criar aqui? Esta é uma
festa importante para a minha mãe. Talvez eu precise encontrar um
designer floral diferente. Porque não é tarde demais, e eu tenho certeza
que há... — Leslie ficou em silêncio por um milésimo de segundo. —
Ótimo. Foi isso o que eu pensei.
Ava conteve uma risadinha quando Leslie deu um passo para trás
e quase caiu no batente da porta, a mão livre tateando
descontroladamente no ar. Ela deve ter sentido os olhos de Ava sobre
ela, porque ela virou-se e a olhou. Em seguida, seu olhar voltou-se para
o Sr. Jalali. — Firouz? Quanto tempo essa coisa vai levar mesmo?
O pai de Ava deu de ombros. — Algumas horas, talvez?
Leslie parecia aflita. — Eu realmente preciso de você para me
ajudar com o design floral — ela reclamou, em seguida, revirou os
olhos. — Tanto faz. — Ela voltou para dentro da casa, batendo a porta.
O Sr. Jalali apertou sua mandíbula e saiu do espaço. Ava olhou
para a mini-bolsa entre suas mãos, o momento entre eles agora
quebrado. Depois de um minuto, seu pai limpou a garganta. — Leslie
está tentando muito duro, você sabe.
Ava olhou para ele descontroladamente. — De que forma?
— Ela quer se relacionar com você — o Sr. Jalali falou.
Ava bufou. A última coisa que Leslie queria era se relacionar.
— Ela te respeita muito — acrescentou o Sr. Jalali. — Ela está
muito impressionada com o quão bem você está indo na escola e o quão
alto você tirou nos exames de admissão das faculdades.
Ava olhou para ele. Mais provavelmente, Leslie pensava que Ava
tinha dormido com um dos fiscais dos exames de admissão para que ele
lhe desse algumas respostas. Por que era tão impossível de
compreender que ela tirava boas notas sozinha? E ainda mais estranho,
por que seu pai achava que Leslie era uma defensora de Ava? Ele era
realmente tão cego? O que mais sobre Leslie que ele não via?
Todas as coisas horríveis que Leslie tinha dito a ela dançavam na
ponta da língua, prontas para sair. Seu pai parecia não perceber quem
a mulher que ele era casado realmente era.
Mas, estranhamente, Ava não poderia dizer a ele. Parecia
mesquinho, como uma fofoca. Ela queria que seu pai visse as coisas por
si mesmo.
E, sinceramente, a conversa que ela tivera com suas amigas no
outro dia ainda estava preocupando ela. Ela disse a perfeitas estranhas
que ela queria Leslie morta. Ela não queria isso, é claro — ir embora
seria bom, mas morrer? Incomodava-a, também, que a lista estivesse
desaparecida. Alguém poderia tê-la encontrado? Esse alguém poderia
usá-la, escolhendo seus inimigos um a um, em uma tentativa louca de
incriminá-las? Mas quem? E por quê?
Não, isso é loucura — nem sequer valia a pena pensar.
Suspirando, ela se deixou cair em sua cadeira e olhou para fora da
janela, o dia cinzento e chuvoso, que combinava perfeitamente com seu
humor.
Em pouco tempo, eles chegaram na igreja. Eles seguiram a
procissão para o antigo edifício de pedra, a mão do pai de Ava
pressionado firmemente contra suas costas. Quando entraram, Ava
respirou. Cada banco estava cheio de ponta a ponta com seus
professores, colegas e amigos. Ela espiou Caitlin na frente, então Mac
algumas fileiras atrás. Ela olhou em torno procurando Julie, ela estava
certamente em algum lugar, mas ela não a viu na multidão de corpos.
Em seguida, um rápido movimento no corredor externo algumas fileiras
à frente chamou sua atenção. Ela viu o lampejo de um homem em um
terno escuro passar rapidamente atrás de um pilar, então reemergir no
outro lado. Ele era um detetive, falando em seu celular, seus olhos
esvoaçando através da fileira de Ava antes de finalmente parar nela. Ela
se encolheu. Ele tinha se movido para ficar em uma posição melhor
para observá-la? Mas porquê? Agora que Alex estava na prisão pelo
assassinato de Granger, elas não eram mais suspeitas. Certo?
Alex. Ava engoliu em seco. Não pense sobre isso, ela disse a si
mesma.
Sua atenção voltou-se para uma menina em uma blusa preta que
estava sentada debruçada soluçando alto em um tecido. Atrás de Ava,
uma outra menina de azul marinho chorava tanto que ela engasgou por
ar. Ava olhou ao redor da igreja e viu vários outros de seus colegas que
pareciam inconsoláveis. Deus, superem isso, gente, uma voz soou em
sua cabeça. Ele era apenas um professor. E um pervertido, ainda por
cima.
Então ela percebeu quem estava chorando. Lá estava Jenny Thiel
— cuja fivela de cinto do Texas tinha sido um destaque especial sob
seus peitos nus em uma série de fotos de Granger — olhando com
tristeza para uma montagem de fotos de seu professor morto ao longo
dos anos, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto inchado. E lá estava
Polly Kramer, cuja tatuagem de henna nas mãos tinha estado em plena
exibição em uma série lúgubre de fotos, se balançando para frente e
para trás, a luz da janela de vitral lançando seu rosto em uma sombra
escarlate. Justine Williams, Mimi Colt... elas estavam todas aqui. Cada
garota que tinha um lugar proeminente no iPhone de Granger. E todas
elas estavam soluçando como se o mundo tivesse acabado.
Elas realmente o amavam, Ava percebeu com um sobressalto.
Ava não tinha pensado que isso poderia ser mais nojento do que
um professor do ensino médio mexendo com várias de suas alunas, em
sua sala de aula, e levando-as a enviar-lhe fotos nuas. Mas isso era
pior, muito pior. Lucas Granger tinha convencido essas meninas que ele
as amava. Ele as havia manipulado, mentiu para elas, tudo para que ele
pudesse cumprir seus próprios desejos pervertidos. Ela poderia apenas
imaginá-lo sussurrando eu te amo para uma dúzia de meninas, e ela
podia ver a emoção e nervosismo em seus rostos enquanto elas
acreditavam. Ela ainda não conseguia entender por que a polícia
parecia totalmente despreocupada quando ela disse a eles sobre os
interesses de Granger em suas alunas. Será que eles tinham
investigado o que ela disse? Ela disse a eles que Granger tinha batido
nela, mas era quase como se eles não tivessem acreditado nela.
Desgostosa, ela tropeçou em direção a um assento em um dos
bancos traseiros, seu pai se movendo ao lado dela. Sean Dillon estava
sentado à esquerda e lhe deu um aceno rápido quando ela se sentou.
Ava olhou para o altar, onde um padre velho levantou de uma cadeira e
deu um tapinha em suas vestes antes de se aproximar do estrado. Com
o canto do olho, ela pôde ver Sean se virar para quem estava sentado do
outro lado dele, provavelmente sua namorada, Marisol Sweeney e
sussurrar algo, antes que ambos dessem risadinhas abafadas. Ela
tentou ignorá-los. Mas ela tinha uma sensação de que ela sabia do que
se tratava.
O padre ajustou o microfone, colocou as mãos com firmeza em
ambos os lados do púlpito, e contemplou a multidão. Na breve pausa
antes de falar, Ava ouviu um sussurro do banco atrás dela. Ela não
reconheceu a voz, mas ela ouviu as palavras, que eram definitivamente
para ela ouvir: — Alex Cohen nunca pareceu normal para mim.
E então veio a resposta: — Totalmente. Ele sempre foi um pouco
fechado, não é?
— Não me surpreende que ele bateu em alguém em sua antiga
escola — o sussurro aumentou atrás dela. — Ele sempre parecia que
estava prestes a explodir. — A outra pessoa deixou escapar uma
risadinha em resposta.
O pai de Ava mudou seu peso e virou a cabeça levemente. Era
evidente que ele ouviu eles, também. Ele estendeu a mão e deu na mão
de Ava um tapinha tranquilizador.
Ava piscou para conter as lágrimas. Ela se sentiu de repente
constrangida, mais do que consciente de que havia milhares de olhos
sobre ela. Claro que todo mundo estava olhando-a. Ela era Ava Jalali, a
ex-namorada do acusado do assassinato de Granger.
Ava sentiu um puxão em seu estômago, pensando em todas as
coisas que ela soube sobre Alex recentemente. Desde que aquele
primeiro garoto passou no noticiário, vários estudantes da velha escola
de Alex já tinham se pronunciado, confirmando que Alex bateu no novo
namorado de sua ex-namorada em uma polpa sangrenta. A única
pessoa que não falava, na verdade, era Cleo, a ex-namorada, e Brett, o
cara que ele tinha batido.
Alex nunca tinha contado a ela sobre nada disso. Ava nem sabia
que ele tinha uma namorada em sua antiga escola — e menos ainda
que ele tinha estado tão ciumento de seu novo namorado que ele lhe
deu um soco no rosto.
Mas, mesmo sabendo disso, Ava ainda não podia imaginar Alex
matando Granger. Isso era loucura? Seria insano querer acreditar que
ele era inocente? Ela ainda estava com raiva que ele tinha chamado a
polícia para ela naquela noite, mas ela não conseguia parar de amá-lo.
Ela não tinha desistido dele. Ainda não.
O padre limpou a garganta, trazendo Ava de volta ao presente. — O
acontecimento mais triste da vida nos reuniu hoje — ele começou com
uma voz suave. Uma mulher na primeira fila soltou outro soluço. —
Viemos lamentar a perda de um filho de Deus, um homem jovem que
tomou para si mesmo a realização de um chamado puro e precioso.
Lucas Granger. Um professor. Um guia. Um líder. Um homem que
tocou as vidas de todos ao seu redor. Como outro grande homem que
morreu muito jovem. — Ele fez uma pausa para causar efeito, deixando
suas palavras liquidar através da igreja lotada. — É isso mesmo. Jesus
era um professor, também.
Um coro de soluços e choros abafados ecoou pela sala. Ava sentiu
um gosto metálico na boca e lutou contra o reflexo de vomitar. Lucas
Granger pode ter sido muitas coisas, mas parecido com Cristo
certamente não era uma delas.
Capítulo 10

Q
uinta-feira à tarde, Parker estava sentada no estofamento áspero
de uma cadeira na sala de espera de Elliot Fielder. Seus pés
saltaram e bateram nervosamente no chão. Ela ainda não podia
acreditar que ela estava aqui — o quão desesperada ela estava que a
única pessoa a quem ela poderia recorrer era o terapeuta que tinha
praticamente perseguido ela?
Na terça-feira, depois de Fielder ter dito a ela sobre seu pai, ele
implorou para vir buscá-la. Mas Parker tinha mudado de ideia: Ela não
queria falar com ele logo em seguida. E assim ela pegou um ônibus de
volta para Beacon, vagando ao redor por algumas horas, e se encontrou
com Julie, resolvendo nunca mais falar com Fielder novamente.
Mas ela ainda estava lutando para processar tudo sobre a morte de
seu pai. Ela não podia acreditar que ele tinha ido embora. Realmente,
verdadeiramente ido embora. De alguma forma, ela esperava sentir uma
reação diferente. Alegria, talvez, até mesmo euforia. Em vez disso, tudo
o que ela sentiu foi entorpecimento — seguido pela dor de cabeça mais
forte que ela já sofreu. E ainda mais irritante, ela começou a reviver
todos os tipos de memórias terríveis de seu pai — os Maiores Sucessos
abusivos, por assim dizer. Ela precisava de uma maneira de expulsá-lo
de sua cabeça de uma vez por todas.
E foi por isso que ela acabou de volta aqui.
Seu celular vibrou no bolso de seu casaco com capuz, e Parker
saltou. Sua pele estava úmida com suor frio. Ela se atrapalhou para seu
celular com os dedos nervosos. — Alô?
— Onde você está? — A voz de Julie estava preocupada e tensa.
— Eu estou bem — insistiu Parker. Ela tentou soar firme.
— Por que você não estava na cerimônia?
— Que cerimônia?
Julie exalou. — De Granger.
— Você estava lá? — Parker não estava em forma para um funeral.
Mas ela não podia acreditar que Julie tinha mostrado seu rosto. Não era
como se Julie estivesse saindo e fazendo rondas sociais após o e-mail
em massa sobre a mãe colecionadora dela.
— Sim — respondeu Julie. — Quero dizer, eu me escondi do lado
de fora, basicamente, mas eu fui. E você deveria ter estado lá, também.
Não parece bom você simplesmente ignorar.
— Quem se importa? — disse Parker. Elas não eram mais
suspeitas mesmo.
— Eu me importava! — Julie retrucou. — Eu queria você lá! Parker,
nós realmente precisamos ficar juntas. Depois que tudo isso
aconteceu...
A recepcionista de Fielder apareceu na porta com um olhar
extremamente doce no rosto. — Parker Duvall? Ele está pronto para
você.
Parker cobriu o bocal com a mão e acenou para a mulher. Ela não
queria que Julie soubesse que ela estava no escritório de Fielder. Julie
iria matá-la.
— Desculpe, eu tenho que ir — Parker sussurrou ao telefone.
— Mas... — Julie começou. — Onde você está?
— Eu te vejo mais tarde, ok?
Parker clicou em desligar o celular e o colocou de volta no bolso.
Ela se levantou e seguiu a recepcionista para o escritório arejado e
grande de Fielder. Seu coração pulou uma batida com a visão dele,
sentado à sua mesa, fazendo anotações em um bloco. Seu corpo magro
de corredor estava totalmente relaxado enquanto ele trabalhava. Ele
parecia tão inofensivo e inocente. Nada parecido com um perseguidor.
Ela queria tanto confiar nele novamente. Mas como ela poderia
superar o que ele tinha feito, ou quão zangado ele tinha ficado quando
ele a pegou em seu computador?
A cabeça de Fielder levantou, e um sorriso cruzou seu rosto. —
Parker! É tão bom ver você. — Ele passou a mão pelos cabelos
despenteados. — Eu estou tão aliviado e tão feliz por você estar aqui. —
Ele apontou para a cadeira em frente à sua. — Por favor, sente-se.
Parker hesitou. Talvez esta fosse uma má ideia. Ela lutou contra o
impulso de fugir dele, passando pela senhora na frente, através da
porta do escritório e para a rua.
Fielder segurou seu olhar, como se ele entendesse o que ela estava
pensando. — Está tudo bem, Parker — ele disse suavemente. — É
seguro aqui. Eu não vou te machucar. Eu só estou aqui para ouvir.
Parker sentou-se, mas ela se inclinou para frente na cadeira,
pronta para saltar a qualquer momento. Ela enfiou as mãos nos bolsos
do casaco e esperou que ele falasse.
— Eu lhe devo um pedido de desculpas — Fielder começou. — E eu
realmente sinto muito por assustar você. Por segui-la.
Parker assentiu. — Você deveria sentir.
— Eu não estava perseguindo você. É só que... você disse que tinha
lacunas de memória. Eu estava apenas... por Deus, isso parece loucura
quando eu digo em voz alta, mas eu estava apenas tentando preencher
os espaços em branco para você. Com fotos.
Parker o olhou de soslaio. — Uh, isso soa como perseguir para
mim.
Fielder pressionou as mãos sobre os olhos. — Eu sei. Mas eu estou
te dizendo a verdade. Eu não estava tentando fazer nada... inadequado.
— Ele parou por um momento, como se decidindo se queria continuar,
então respirou. — Olha, Parker, eu tenho uma confissão a fazer.
Tecnicamente, eu não deveria dizer isso como o seu terapeuta, mas
minha mãe tinha um monte de... problemas quando eu estava
crescendo. — Ele parou de novo e engoliu em seco. — Ela foi uma
mulher incrível, brilhante, mas ela tinha um monte de lacunas de
memória, também. Como as suas. Eu não fui capaz de ajudá-la, e
então... então já era tarde demais.
Ele fechou os olhos por um momento, e quando os abriu, eles
estavam cheios de lágrimas que ameaçavam transbordar para suas
bochechas. Parker ficou atônita. — Você me faz lembrar dela — ele
disse calmamente. — As partes fortes e surpreendentes dela. E eu acho
que eu só quero fazer por você o que eu não fui capaz de fazer por ela.
Mas eu cruzei a linha, e eu percebo isso. Sinto muito. Eu sinto muito
mesmo.
O peito de Parker latejava, e ela percebeu que estava segurando a
respiração. Ela exalou bruscamente. Ninguém além de Julie nunca
falou com ela desse jeito. Ela se sentiu invisível por tanto tempo. Mas
ela importava para Fielder — isso era claro. E isso parecia bom.
— Como ela era? — ela perguntou em voz baixa. — Sua mãe, quero
dizer.
Fielder pareceu surpreso. Ele apertou os olhos, como se estivesse
vendo sua mãe novamente em sua memória. — Ela era doce, amorosa.
Realmente engraçada. Ela tinha seus problemas — ele riu. — Mas ela
era uma ótima mãe. Ela poderia transformar até as coisas mais chatas,
como lição de casa e fazer compras, em um jogo. E ela era tão, tão
inteligente. A pessoa mais inteligente que eu já conheci. — Ele sorriu
melancolicamente.
— Então, o que aconteceu? Como é que ela simplesmente...
esquecia das coisas?
Seu rosto escureceu. — Ela saía para uma missão, e então nós não
ouvíamos falar dela por um dia ou dois. Às vezes mais. — Ele olhou
para seu colo. — Eu prendia a respiração, imaginando cada vez se
aquele seria o momento que ela não voltaria. Mas, eventualmente, ela
entrava pela porta da frente. Ela nunca podia nos dizer onde ela estava,
porque ela não conseguia se lembrar — e ela parecia frustrada com as
perguntas. Então, eventualmente, meu pai e eu paramos de perguntar.
Estávamos muito felizes que ela sempre voltava.
Parker abraçou uma almofada do sofá. Isso soava muito parecido
com sua experiência. — Ela nunca conseguiu ajuda?
— Não. As coisas eram diferentes naquela época. E ela era tão
forte, ela nunca se queixou ou nos disse como ela estava com medo.
Quando eu fiquei um pouco mais velho, eu tentei falar com meu pai e
nosso médico sobre isso, mas nós não sabíamos o que fazer. E então,
um dia, ela não voltou para casa.
Eles ficaram em silêncio enquanto Parker absorvia suas palavras.
— Alguma vez você a encontrou? — Ele balançou a cabeça. — Onde? —
ela pressionou, de repente desesperada para saber.
Fielder se encolheu. — Não importa. O ponto é... — ele parou. —
Eu sinto muito, Parker. Isto não tem nada a ver com você. Deveríamos
estar discutindo seus problemas agora.
— Não, eu estou feliz que você me disse. — Parker inclinou para
frente, olhando nos olhos de Fielder.
Fielder balançou a cabeça. — Você sabe de uma coisa? Eu estou
feliz que eu disse a você, também. — Ele tossiu desajeitadamente. —
Então talvez isso signifique que você vai começar a voltar para sessões
mais regulares?
Seu olhar firme enviou uma sacudida através dela, e ela desviou o
olhar rapidamente. O brilho em seus olhos parecia familiar, mas ela
teve problemas para pensar sobre o que isso significava. Em seguida,
algo chegou nela: Era a maneira que os caras costumavam olhar para
ela quando ela atravessava uma festa. Seu rosto tinha aquele olhar
luminoso e esperançoso que até mesmo os jogadores de futebol mais
gostosos da escola tinham quando ela concordava em sair em um
encontro com eles. Atração.
Era algo que ela costumava sentir tão rotineiramente que ela
sempre tomava como certo. Mas então ela pensou em quão terrível seu
rosto parecia, quão danificada e arruinada ela estava. Não havia nada
sobre a Nova Parker que ele poderia estar atraído. Ela estava nojenta.
E ainda assim... ele poderia ter visto de alguma maneira a velha
Parker, situada bem no fundo? Porque ela sabia que em algum lugar, lá
no fundo, aquela Parker ainda estava lá dentro. E talvez, com ajuda, a
Nova Parker pudesse deixá-la sair.
Ela respirou fundo, encontrando seu olhar mais uma vez. — Sim —
ela decidiu. — Eu voltarei.
Capítulo 11

P
oucas horas depois, Julie deixou Carson pegar a mão dela
enquanto caminhavam através do estacionamento. Ela não
podia acreditar que estava fazendo isso, bem aqui na frente de...
bem, todo mundo. E mais do que isso, ela ainda não conseguia
acreditar que ele queria.
As pessoas passavam em ambos os lados. Julie não reconheceu
ninguém da escola ainda, mas ela sabia que eles estariam aqui — era
quinta-feira, a hora privilegiada para passear pelo centro da cidade. Em
seguida, uma menina familiar virou a esquina. Ela tinha uma bolsa
azul marinha Marc by Marc Jacobs que Julie reconhecia, porque Julie
tinha a mesma.
Ashley? O coração de Julie começou a bater forte em seu peito, e
ela sentiu as palmas das mãos úmidas. Ela puxou a mão.
— O que foi? — Carson virou-se para olhar para ela.
Julie se encolheu. — Nada. Desculpa. Eu apenas pensei que eu vi
alguém ali.
Carson olhou-a por um momento, depois deu de ombros e fez um
gesto para uma loja American Apparel. — Quer entrar?
— Não! — Julie disse um pouco mais alto do que era normal. Mas
todos em Beacon High compravam na American Apparel. Certamente
alguém que ela conhecia estava lá dentro.
Carson estava olhando para ela ainda mais estranhamente agora.
Ela engoliu em seco e tentou recuperar a compostura. — A American
Apparel é tão convencional — ela disse em uma voz leve. — Eu tenho
um lugar secreto que eu gosto ao virar da esquina. É tão exclusiva que
os funcionários olham de cima a baixo os clientes. Se você não tem pêlo
facial legal ou tatuagens ou, tipo, lê os blogs indie certos, eles reviram
os olhos.
Carson levantou uma sobrancelha. — Você tem certeza que eu sou
legal o suficiente para ir?
Ela sorriu, apesar de seus nervos. — Você, Carson Wells, é o mais
legal dos legais.
— Mesmo sem pêlos faciais criativos?
— Por favor, nenhum pêlo facial é criativo — Julie deu uma
risadinha.
Em seguida, Carson se inclinou e roçou os lábios contra os dela.
Julie espiou para ver se alguém estava olhando, mas todos os
transeuntes estavam cuidando de seus próprios assuntos. Claro que
estão, ela disse a si mesma. Ela precisava apenas relaxar. Ela poderia
fazer isso, certo?
Eles caminharam até a esquina e se voltaram para as ruas mais
pequenas fora da rua principal. A boutique favorita de Julie, Tara’s
Consignment, estava à frente. Era onde ela comprava a maioria de suas
roupas; coisas descartadas de designers por uma fração do preço, tudo
o que ela poderia pagar com seu salário de salva-vidas. Enquanto ela
olhava o filme E O Vento Levou na televisão, o proprietário estava
obcecado com o filme, ela lembrou-se da última vez que ela foi fazer
compras na loja Tara. Ela tinha comprado um bracelete cravejado para
Parker. Não que Parker tivesse ao menos usado ele.
Parker. As coisas ainda pareciam desestabilizadas entre elas. Elas
realmente não tinham se falado sobre o que aconteceu com o pai de
Parker, ou a coincidência de ele morrer não muito tempo depois de
Julie o haver nomeado na aula. Mesmo que Julie ainda não tivesse
certeza que ninguém as ouviu, ela tinha que admitir que era uma
estranha coincidência. Ela desejou que ela soubesse o que tinha
acontecido com as anotações que Granger tinha feito no bloco amarelo,
documentando o que elas haviam dito. Ela tinha jurado que ela tinha
pego o bloco de notas, mas quando ela vasculhou as coisas dela, ele não
estava lá.
Além disso, Parker estava desaparecendo com mais e mais
frequência ultimamente, e parecia que ela não conseguia se lembrar de
onde tinha estado. E sempre que Julie perguntava, Parker ficava
estranha e cautelosa, como se estivesse escondendo algo.
— Julie. — A voz de Carson perfurou seus pensamentos. Eles
estavam de pé na frente da Tara agora. Alguns adolescentes com
cabelos tingidos que Julie não reconhecia passaram por eles para
entrar.
— Desculpa — ela disse brilhantemente, sorrindo. — O que você
disse?
Carson colocou as mãos nos quadris. — Você tem certeza que está
tudo bem?
Julie suspirou. Era exatamente por isso que ela nunca teve um
namorado, ela sabia que nunca seria capaz de esconder seus
sentimentos. Ela queria ser totalmente transparente com Carson, ela
realmente queria. Mas não era fácil.
— Eu estava pensando sobre a minha amiga — ela admitiu. —
Parker... eu não sei se você já se encontrou com ela. Ela é meio
solitária. Estou preocupada com ela. Houve uma morte em sua família
recentemente, e eu acho que isso está mexendo com a cabeça dela.
Ele passou os braços em volta dos ombros dela e puxou-a para
perto. — Você é uma pessoa tão boa, Julie — ele disse, passando a mão
pelo cabelo. — Tão cuidadosa. Tão altruísta. E você é tão bonita. Você
sabe disso, certo?
Julie sentiu sua pele corar. — Obrigada...
Carson puxou-a de volta para ele e beijou-a com firmeza. Julie o
beijou de volta, perdendo-se no beijo. Finalmente, com sua cabeça
zumbido, ela se afastou e levou-o para a loja. Ela balanceou um pouco
enquanto caminhava, praticamente embriagada pelo beijo.
— Este lugar é incrível — exclamou Carson, enquanto caminhavam
para dentro, seu sotaque flutuando sobre as prateleiras de casacos de
lã, chapéus e os mais vendidos da Barney do último ano. Um cara no
balcão deu-lhes um olhar fulminante. Julie cutucou Carson para olhar
para cima. O cara das vendas estava coberto de tatuagens pretas, tinha
um bigode encaracolado e uma estranha barba pontiaguda, e estava
lendo uma história em quadrinhos.
— Acertou em cheio — Carson sussurrou, e os dois caíram na
gargalhada.
Então Carson caminhou para um longo corredor de fantasias de
Halloween, e não das caretas, mas sim de peças de época: de corpo
inteiro, saias rodadas de garotas do sul, laços, dramáticas roupas de
Noivas do Drácula, blazers e calças de Sherlock Holmes, roupas de
jóquei vibrantes e uniformes da guerra civil de aparência realista. Julie
o seguiu, espantada que estivesse tão perto do Dia das Bruxas — como
o ano estava passando tão rapidamente? Carson parou em uma
prateleira alta de vestidos de comprimento total e estendeu um vestido
ameixa profundo com uma bainha que mostrava as pernas para Julie.
Ela se aproximou e passou as mãos em todo o corpete sem alças,
deixando que seus dedos acariciassem a sobreposição de seda suave.
Era digno de um tapete vermelho. A costura era espetacular, e o corte
era requintado — o vestido era delicado, mas estruturado, obviamente o
trabalho de um designer mestre.
— Experimente — disse Carson. — Vai ficar incrível em você.
— Ok — Julie riu, parando na frente de uma vitrine redonda
repleta de ternos masculinos. — Mas só se você experimentar este. —
Ela estendeu um terno azul de três peças de veludo. — E isso. — Ela
pegou um chapéu-coco do alto da prateleira, levantou-se na ponta dos
pés, e o colocou em sua cabeça.
— Combinado. — Ele sorriu e se dirigiu para um dos dois
provadores de cortinas.
Julie escorregou para o outro e arrastou a espessa cortina em
frente, apertando-a nos cantos para bloquear quaisquer olhares
indiscretos. Ela tirou os jeans skinny e a blusa com gola canoa de
cashmere, sendo que ambos foram comprados nesta mesma loja alguns
meses atrás. O pensamento de Carson — não mais do que um metro de
distância, do outro lado da parede frágil separando seus dois
provadores — a fez estremecer. Ela podia ouvir o barulho da calça jeans
caindo no chão, e o farfalhar de sua camisa quando ele levantou sobre
sua cabeça. Ele estava praticamente nu, e tão perto. Julie rapidamente
entrou no vestido e estendeu a mão por trás dela para o zíper, mas ela
não conseguiu puxá-lo para cima.
Ela saiu do provador e ficou fora da cortina de Carson, esperando
que ele saísse. — Aham — ela disse, limpando a garganta com
impaciência simulada. — Eu sou a garota aqui, e eu estou pronta mais
rápido do que você.
Carson resmungou por trás da cortina. — Se eu não me engano,
sua roupa é composta por exatamente uma peça, enquanto a minha
tem muito, muito mais. — Julie ouviu o phhhhttt metálico de um zíper
e, em seguida, os aros da cortina rasparam alto quanto ele puxou o
tecido de lado. Ela começou a rir com a visão de seu corpo de um metro
e oitenta e sete envolto da cabeça aos pés de azul veludo. Sua rica pele
e seus olhos da cor do mar praticamente brilhavam contra a cor e a
textura do terno. Ela não tinha pensado que era possível, mas uma
roupa cômica só fazia Carson ficar mais bonito.
— Você está rindo de mim? — Uma expressão exagerada de choque
estava em seu rosto. — Pessoalmente, eu acho que estou demais.
Julie se esforçou para manter uma cara séria. — Está perfeito.
Absolutamente perfeito.
Mas Carson não estava ouvindo sua resposta. Ele notou seu
vestido — ou, mais precisamente, o corpo dela com o vestido. Ele
prendeu a respiração. — Uau.
Julie olhou para o vestido, que ela estava segurando com uma mão
fechada. — Ah, certo. Um pouco de ajuda aqui? — Ela apontou para o
zíper na parte de trás.
— Com prazer. — Carson deu um passo em direção a ela, seu
terno fazendo um barulho alto se enrugando enquanto ele andava. Ele
girou em torno dela e fechou o zíper de seu vestido. Em seguida, Julie
olhou no espelho. Coube nela com perfeição, confortável onde deveria
ser confortável, o corpete fazendo seu decote parecer de uma estrela de
cinema.
Ela virou-se novamente para encará-lo. Ele estava olhando para ela
com um olhar faminto em seu rosto. Julie gostava da sensação de seus
olhos sobre ela, mas de repente ela se tornou consciente da atenção de
uma vendedora voltando-se para eles. — Hum, você esqueceu seu
chapéu — Julie sussurrou para Carson.
— Oh, é claro — ele sussurrou de volta. Ele virou-se, agarrou-o do
provador e o colocou. Ele parecia delicioso. — Por que estamos
sussurrando?
Julie olhou para fora da janela da frente da loja para a rua vazia.
— Paparazzi.
— Certo. — Ele concordou com conhecimento de causa. — Eles
com certeza vão querer uma foto de você com esse vestido.
— Hum, eu acho que eles vão estar igualmente animados para vê-
lo nesse conjunto. Porque você parece...
Mas então Carson a cortou, agarrando-a pela mão e puxando-a
para seu provador. Em um movimento, ele puxou a cortina fechada,
girou em torno dela, e apertou-a contra o espelho. Seus lábios se
encontraram. Julie sentiu seu corpo contra o dela e passou as mãos
pelas suas costas, o veludo esmagando sob seus dedos.
— Vocês estão achando tudo certo?
Era o cara das vendas do balcão da frente, e parecia que ele estava
lá fora. Julie e Carson se separaram, trocando olhares arregalados e
culpados.
— Sim — Carson falou, ajudando Julie a ajustar o vestido e
endireitar sua jaqueta e o colete. Julie se virou de costas para ele e fez
um gesto para ele descer o zíper dela. Ela passou pela cortina para o
outro provador e rapidamente vestiu suas roupas, cuidadosamente
pendurando o vestido de volta no cabide, usando as fitas brancas
delicadas costuradas dentro.
O cara das vendas estava olhando para eles com a mão no quadril,
quando eles surgiram. — Vocês não deveriam compartilhar o provador,
sabiam.
— Desculpe! — Julie falou.
— Nós estávamos tentando salvar o meio ambiente — disse
Carson, o que nem sequer fazia qualquer sentido. Julie cobriu a boca,
certa de que ela ia explodir em gargalhadas.
Eles correram para a porta e caíram na risada assim que cruzaram
o limiar. Os lados de Julie doeram por ela estar rindo tanto. Carson
agarrou-a pela mão e deu-lhe um aperto. — Você, Julie Redding, é um
nocaute do tapete vermelho. Para não falar que é muito divertida em
um provador.
Julie sentiu o rosto corar. — O mesmo com você.
— Café?
— O Café Mud é ao virar da esquina. É o meu favorito.
— Lidere o caminho.
Eles caminharam de mãos dadas e encontraram uma mesa no
pátio, sob um aquecedor de ar livre. Julie pediu para ela um latte
desnatado como de costume, enquanto Carson pediu um cappuccino
com chantilly extra. Um casal jovem com um filhote de cachorro
gordinho em uma coleira estava sentado à mesa ao lado deles. Outros
casais e grupos de amigos enchia o resto das mesas, e havia sons de
conversas e risos no ar. Julie sentiu uma sensação estranha no peito.
Depois de um momento, ela percebeu o que era: felicidade. Pela
primeira vez, ela realmente entendeu o que suas amigas tinham dito na
casa de Ava no outro dia: elas estavam livres. Elas poderiam viver suas
vidas. Elas precisavam aproveitar isso.
Carson agarrou sua mão sobre a mesa. Mas, em seguida, uma
risada súbita acentuada e desagradável soou do outro lado da rua. A
cabeça de Julie virou-se em direção a sua fonte. Agrupadas na frente de
um caixa eletrônico estavam três meninas da escola. Elas estavam
olhando diretamente para ela, e elas estavam falando em voz baixa e
rindo mutuamente.
Julie apertou as mãos em punhos. Ela olhou em torno procurando
Ashley, certa de que ela estava lá à espreita, mas ela não estava à vista.
Encolhendo-se, Julie desabou em sua cadeira de alumínio. Talvez se ela
desaparecesse por tempo suficiente elas fossem embora.
— Ei. Está tudo bem — disse Carson, inclinando para frente. Ele
pegou a mão dela, mas Julie manteve as dela em seu colo.
— Ha — ela disse, soltando uma risada sombria.
— Ninguém nem mesmo está falando sobre isso na escola, sabe.
Julie não podia acreditar no quão ingênuo que ele era. — Por favor.
Nós dois sabemos que no momento que eu voltar para a escola, as
pessoas vão estar em cima de mim. — Ela olhou para a estampa de rede
na mesa. — Eu já passei por isso, lembra?
— Eu sei. Na Califórnia. Mas você me tinha lá?
Os lábios de Julie se contorceram em um sorriso. — Bem, não.
— Essas meninas ali? — Carson fez um gesto para elas. — Elas
têm segredos também. Eu garanto. Elas não são perfeitas.
Julie bufou. — É aí que você está errado. Estamos em Beacon
Heights. Todo mundo é realmente perfeito aqui.
Carson balançou a cabeça. — Suas vidas são tão bagunçadas
como a sua e a minha. A de todo mundo é. Confie em mim.
— Como a sua vida é bagunçada? — Julie queria mudar de
assunto.
Carson pegou a mão dela novamente, e desta vez ela a agarrou. —
Essa é a coisa. Não é mais... por sua causa.
Julie olhou para longe, com um nó na garganta. — Você não tem
que fazer isso — ela desabafou. — Você não tem que se sacrificar por
mim. Você é novo na cidade, bonito e legal. Você merece uma chance de
ser amigo de todos. Não apenas da aberração.
Agora Carson parecia zangado. — Pare de dizer coisas assim! Eu fiz
minha escolha, Julie. Eu nunca me importei com o que as pessoas
pensavam. Agora, quanto tempo vai demorar para que você volte para a
escola?
Os lábios de Julie vacilaram. — Eu não vou voltar.
— Você realmente acha que as coisas estão tão ruins assim?
Julie se virou. — Como você pode perguntar isso? Eu sou o alvo de
risos da escola.
— Suas amigas abandonaram você? Alguém lhe enviou mensagens
depreciativas?
Julie rolou a língua sobre os dentes. Ela tinha recebido alguns e-
mails de Nissa e Natalie, mas ela os tinha excluído sem abri-los,
temendo o pior até de duas de suas amigas mais próximas.
— E se eu levá-la para todas as classes? E eu vou chutar o traseiro
de quem olhar para você com gracinha. Que tal isso?
Julie riu, incerta, mas ela começou a se perguntar. Talvez a visão
de Carson, alto, sarado e assustadoramente gostoso ao seu lado,
afastasse o resto das pessoas da escola. Ela não odiava a ideia de ter
um guarda-costas tão bonito.
— Você vai voltar por mim? — Carson implorou.
Julie respirou fundo. — Ok. Eu vou tentar por um dia.
Carson sorriu docemente. — Ótimo.
— Mas se acontecer alguma coisa, qualquer coisa mesmo, estou
fora. Entendido?
— Nada vai acontecer, Julie. As pessoas não são tão ruins quanto
você pensa. Você ficaria surpresa. — Ele sorriu. — Além disso, uma
menina tão gostosa como você não deve desperdiçar sua vida escondida
em seu quarto. Ouça isso do cara que parece estar bem mesmo em um
terno azul de veludo amassado. Eu sei de tudo.
Julie sorriu, sentindo-se um pouco mais leve. Carson claramente
acreditava no que ele estava dizendo. Ela só esperava que ele estivesse
certo.
Capítulo 12

S
exta à noite, Mac entrou no estacionamento do Umami, um
restaurante tailandês na moda no centro de Seattle. Ela colocou
seu Ford Escape em uma vaga e ficou sentada calmamente no
banco do motorista por um momento, observando as pessoas entrarem
e saírem do edifício rebaixado enfeitado com pisca-piscas. O lugar
estava lotado, e Mac podia cheirar suas asinhas picantes famosas até
mesmo daqui.
Ela estava chegando tarde — ela e um grupo dos aprovados de
Juilliard, incluindo Oliver, tinham feito planos para jantar hoje à noite,
muito animados para esperar até o próximo evento de boas-vindas para
se encontrar novamente. Ela abaixou o espelho e verificou sua
maquiagem uma última vez. Ela tentou colocar um delineador
esfumaçado e gostou da maneira que fez seus olhos realmente se
destacar sob os óculos. Assim que ela estava prestes a abrir a porta e
sair, um trecho de notícias no rádio chamou sua atenção.
— A polícia ainda está questionando o suspeito que eles têm em
custódia pelo assassinato do professor da escola Beacon Heights High,
Lucas Granger — disse um comentarista. — Alguns acreditam que a
morte de Granger também está ligada à do estudante de Beacon, Nolan
Hotchkiss.
Mac levantou as sobrancelhas. Interessante. Eles estavam dizendo
que Alex foi responsável por ambas as mortes? Não que ela realmente
conhecesse Alex muito bem, mas ele não parecia do tipo que
envenenava alguém com cianeto. Mas, no entanto, parecia que ela
realmente não sabia a verdadeira natureza de ninguém esses dias.
Só de ouvir os nomes de Nolan e de Granger deu-lhe dores de
estômago, e ela tomou mais algumas respirações profundas para se
recuperar. Tudo ainda parecia tão no ar. Ela só queria que alguém
confessasse a coisa com Nolan. Alex... um estranho... seja quem for. A
polícia podia não ter colocado ela e as outras meninas atrás das grades,
mas ela não conseguia afastar a sensação de que ela não estava segura
ainda.
Com um suspiro de resignação, Mac desligou o motor, jogou sua
bolsa de couro por cima do ombro e saiu. Enquanto atravessava o
asfalto, ela cantarolava o ritmo de uma música que tinha estado
executando em sua cabeça que ela não conseguia saber qual era.
Algumas notas depois, ela percebeu qual era: uma canção para a banda
de Blake que ele próprio escreveu.
Ela parou em seu caminho. Por que diabos isso tinha que surgir
em sua cabeça? Isso a incomodava sem fim. Ela precisava parar de
pensar em Blake de uma vez por todas. Especialmente agora que ela
poderia estar começando algo com Oliver.
Seu estômago vibrou vertiginosamente. No outro dia na festa
coquetel de Juilliard, Mac tinha jogado um jogo que ela nem sabia que
ela poderia. Quando todos começaram a sair, ela passeou até Oliver e
pediu seu iPhone. — Aqui — ela disse, digitando o número dela e
devolvendo seu telefone com uma piscadela confiante. — Agora você
pode me ligar. — Oliver tinha piscado para ela. — Ok — ele disse,
sorrindo. Quando Mac olhou para cima novamente, Claire estava
boquiaberta para eles. Ha.
E adivinha? Oliver tinha mandado uma mensagem para ela ontem,
e eles passaram a tarde inteira trocando mensagens sobre música, as
coisas que queriam fazer pela primeira vez em Nova York (Lincoln
Center para ela, clubes de jazz do centro para ele), o que eles estavam
assistindo na TV. Mac tinha sido tentada a perguntar a Oliver o que ele
pensava sobre Claire, mas ela sabia que iria fazê-la soar ciumenta.
Ela empurrou a porta da frente para o animado restaurante, onde
folhas de palmeiras pendiam sobre os clientes animados e garçonetes
entregavam copos em transpiração de chá gelado tailandês e bebidas de
coco. Ela viu uma mesa de banquete longa contra a parede traseira
onde o grupo, a maioria dos quais ela reconheceu, estava conversando
animadamente. Eles pareciam muito com ela, em suéteres de malha
grossos e óculos de armação grossas pretas ou tartaruga, irônicos
grampos de cabelo de menininhas, camisetas desgastadas de Mozart e
Interlochen no caso dos rapazes. Mac espionou Oliver recostado na
cadeira na extremidade esquerda da mesa, as mãos cruzadas atrás das
costas de sua cabeça loira, revelando bíceps esculpidos e antebraços
bronzeados. Ele estava ainda mais bonito do que ela se lembrava.
Oliver se virou e encontrou seus olhos, parando sua conversa no
meio da frase para sorrir para ela. Ele segurou o olhar dela enquanto
caminhava.
— Oi — Mac disse, em pé ao lado da cadeira.
— Oi, você também. — Oliver sorriu. — Eu tinha medo que você
não viesse.
— Não, estou apenas elegantemente atrasada — ela brincou.
Ela desviou os olhos dos seus e olhou em volta da mesa, acenando
para o grupo. Um coro de Ois e Olás se seguiram. Quando Mac tirou o
casaco e jogou-o sobre a cadeira ao lado de Oliver, ela sentiu uma mão
firme em seu ombro. Ela virou-se e engasgou.
— Esse é o meu lugar. — Claire atirou-lhe um sorriso gelado. Ela
acenou com a mão dispensando ela para o extremo oposto da mesa,
perto das portas do banheiro. — Tente lá do outro lado. Eu acho que eu
vi um vazio.
Mac apertou os dentes. Ela olhou para Oliver, que havia se
distraído com seu telefone. A pior coisa a fazer, ela decidiu, era agir
como se isso a tivesse incomodado. Oliver tinha estado trocando
mensagens de texto com ela, afinal de contas.
Ela jogou o cabelo sobre o ombro. — Ah, com certeza. Tudo bem. —
Então ela virou-se e dirigiu-se para a outra extremidade, onde Lucien,
que se parecia com um pássaro, e Rachel, surpreendentemente
parecida com uma modelo, deslizaram para dar espaço. Oliver levantou
os olhos da mensagem e fez uma cara triste, mas Mac apenas sorriu
para ele. Não havia nenhuma maneira de ela entrar em uma briga com
Claire na frente dele, mas ela também se sentiu derrotada. Claramente,
Claire tinha vencido uma rodada.
— Estou tão feliz que você veio! — Rachel falou animada, em
seguida, pressionou algo quadrado e frio nas mãos de Mac — um frasco
de bebida. Mac olhou para cima para encontrar o olhar de Rachel, mas
Rachel apenas sorriu conspirativamente. Mac deu um gole
experimental, o uísque amargo deslizando para baixo de sua garganta.
Lucien assentiu com a cabeça em aprovação para ela do outro lado da
mesa. Interessante, pensou Mac. Esses adolescentes de Juilliard eram
mais selvagens do que ela esperava.
Mac tomou outro gole de uísque e estava prestes a passar o frasco,
mas Rachel pegou o braço dela. — Não, mantenha entre nós — ela
sussurrou. — Você é legal, mas alguns dos outros são totalmente
certinhos hipócritas. — Ela revirou os olhos.
— Entendi — Mac disse calmamente, entregando-lhe de volta o
frasco. Rachel passou para Lucien, que tomou um gole secreto —
aparentemente, ele era um dos garotos legais, também. Era bom ser
incluída em um círculo secreto. Especialmente um que excluía Claire.
Um riso alto e garganteado soou do outro lado da mesa, onde
Claire estava flertando com Oliver. Ela estava em sua melhor forma, os
cílios rebatidos a mil por hora, rindo e jogando o cabelo. Oliver estava
rindo de suas piadas, mas Mac notou que ele se afastou quando ela
colocou a mão sobre sua coxa. Ha, ela pensou. Pelo menos ele estava se
afastando de seus avanços nesse momento. Mas será que ele o faria
sempre?
O frasco tinha voltado para ela, e ela agarrou-o e tomou outro gole.
O uísque começou a aquecer seu estômago e relaxar sua mente.
Quando Lucien começou a contar uma história sobre sua incursão
singular e desastrosa no teatro musical, ela riu alto e estridente. Ela
sentiu Oliver olhando para ela do outro lado da mesa — com ciúme,
talvez. Como se ele quisesse ter o mesmo tipo de diversão que ela estava
tendo. Bem, então venha para cá, pensou Mac. Largue a chata da Claire.
Eu sou muito mais divertida.
Mas então, quando Claire se levantou da cadeira com sua bolsa de
contas na mão e se dirigiu para o banheiro, Mac viu sua oportunidade.
— Volto em um segundo. Eu só preciso dizer oi a alguém — ela disse
para Lucien e Rachel. Com um passo determinado, ela caminhou para o
outro lado da mesa, sentou-se no assento ainda quente de Claire, e
empurrou a bebida de Claire — café tailandês, chato! — para longe. Ela
deu a Oliver seu maior e mais amplo sorriso sexy. — Olá! Há quanto
tempo.
Oliver sorriu de volta. — E eu aqui pensando que você estava me
ignorando.
— Oh, não. — Mac se inclinou para frente. — Só fazendo as
rondas, você sabe.
Oliver acenou para Rachel e Lucien. — O que está acontecendo lá
do outro lado na seção de asinhas? Vocês parecem estar se divertindo.
Os olhos de Mac dispararam de um lado para o outro. — Rachel
trouxe um pouco de uísque — ela sussurrou. — Ela o tem em um
frasco.
As sobrancelhas de Oliver levantaram. — Sortuda. Você pode fazer
com que ele chegue em mim?
— Só se você for bom — disse Mac, desfrutando de que ela era de
repente a intermediadora. Então ela colocou a mão no antebraço de
Oliver. Sua pele era quente e suave sob sua palma. — Então — ela
disse, — eu quero ouvir mais sobre crescer em uma fazenda. Foi
incrível?
Oliver olhou para ela de forma avaliadora. — Você parece ser a
única pessoa que pensa assim. Sempre que eu digo a outra pessoa, eles
me acham, tipo, um caipira!
Ela acenou com a mão. — Por favor. Fazendas são demais. Eu
costumava querer viver em uma quando eu era mais jovem. Você tinha
cabras?
Ele lhe deu um sorriso torto. — Cabras pigmeus, sim. Nós às vezes
deixávamos elas entrarem na casa.
Os olhos de Mac se arregalaram. — Isso é adorável!
Oliver assentiu. — Tivemos lhamas, também, e usávamos sua lã.
— Vocês ainda têm elas?
— Sim. Maisie e Delores. As minhas duas meninas.
Mac sorriu timidamente. — Eu adoraria conhecê-las algum dia.
Nunca acariciei um lhama antes.
— Eu acho que isso poderia ser arranjado — disse Oliver, com os
olhos brilhando.
— Uh, olá?
Mac olhou para cima. Claire estava sobre ela, com as narinas
dilatadas e as mãos nos quadris. — Você está no meu lugar — ela
sussurrou. — Mais uma vez.
— Oh, desculpa. Eu pensei que você tinha ido embora — Mac disse
docemente.
— Puxe uma cadeira, Claire — disse Oliver, apontando para uma
cadeira em uma mesa vazia nas proximidades. — Vocês duas já se
conhecem? Claire, esta é Mackenzie. Mackenzie, esta é...
— Nós já nos conhecemos — disse Claire rispidamente.
Oliver sorriu distraidamente. — Ah, certo. Vocês duas são de
Beacon! Bem, legal, então.
Não havia malícia em seus olhos. Não fazia sentido que ele
estivesse testando-as. Mas ainda assim, Mac não queria que Claire
sentasse aqui e arruinasse seu doce pequeno momento eu-vivi-em-uma-
fazenda com Oliver. Então, de repente, ela percebeu como ela poderia
fazer Claire ir embora de vez.
Sem pensar muito sobre isso — caso contrário ela iria perder
totalmente a coragem — Mac estendeu a mão, colocou as mãos no rosto
de Oliver e puxou-o para baixo em direção a ela. Ela o beijou, levemente
no início, depois com intensidade. Ele pareceu surpreso, mas
respondeu rapidamente enredando uma mão em seu cabelo e puxando-
a para mais perto. — Uau — ela o ouviu murmurar.
Eles se beijaram por alguns momentos. Mac podia sentir toda a
gente na mesa observá-los, então ouviu alguns sussurros. Ela está
bêbada, alguém disse. Isso é quente, alguém resmungou. Mas Mac não
se importava. Quando ela abriu os olhos, Claire estava do outro lado do
restaurante. Ela saiu pela porta da frente e logo estava na calçada.
Pobrezinha, Mac pensou com satisfação. Não conseguiu suportar o
calor, então você saiu da cozinha.
E, em seguida, ela sentiu a pontada mais ínfima. Ela estava agindo
como uma louca. Ela não beijava meninos em público. Ela não agia
rudemente com as pessoas, mesmo se elas fossem ex-amigas. Em quem
ela estava se transformando?
Oliver se afastou e olhou para Mac significativamente. — Eu não
tinha ideia que falar sobre lhamas deixava você tão quente.
Mac corou, tentando voltar ao presente. — O que posso dizer? As
lhamas são sexys.
— Você quer sair daqui?
Sua pergunta surpreendeu Mac, e ela imediatamente percebeu
quão idiota que ela era. É claro que ele queria sair daqui, ela tinha
simplesmente beijado ele apaixonadamente no meio de um restaurante.
Ela limpou a garganta. — Hum, está bem. — A última coisa que ela
queria era que ele pensasse que ela era uma puritana. — Vamos lá.
Oliver agarrou Mac pela mão, jogou algum dinheiro em cima da
mesa e acenou adeus. Mac ouviu mais sussurros, e Lucien gritou um
whoo!, mas ela não se virou.
Ele levou-a para um Prius azul escuro na extremidade mais
distante do estacionamento, em seguida, abriu a porta e segurou a mão
dela enquanto ela entrava. O carro cheirava a goma de mascar
Winterfresh, e havia um monte de CDs de Rachmaninoff espalhados no
chão. Mac olhou fixamente para a pequena bola de discoteca pendurada
no espelho retrovisor, seus pequenos painéis espelhados brilhando na
luz da rua acima.
Oliver deu a volta para o lado do motorista e deslizou em seu
banco. — Onde? — perguntou Mac uma vez que ele fechou a porta.
Mas, assim que as palavras escaparam de sua boca, Oliver se inclinou
sobre os assentos e puxou-a de novo, beijando-a profundamente. Ele
era um excelente beijador, roçando os lábios com os seus e segurando
seu rosto com as duas mãos.
— Que tal aqui? — Ele soprou em seu ouvido.
Mac tentou mover seu corpo para que a curva do banco não
estivesse cavando em sua coxa, mas ela só acabou batendo o joelho no
câmbio. Lutando para manobrar-se no espaço apertado, Oliver se
inclinou para o lado e apertou na buzina do carro, que explodiu através
do tranquilo estacionamento. Eles riram e caíram para trás em seus
respectivos lugares até que eles prenderam a respiração.
Oliver pressionou uma alavanca e inclinou seu banco até onde ele
iria, então reclinou o encosto, até que estivesse tocando no assento
traseiro. Com uma risada, ele agarrou o pulso de Mac e puxou-a para o
seu colo, de frente para ele. — Melhor? — Ele beijou seu pescoço.
— Hum, sim — Mac murmurou, tirando os óculos e colocando no
painel de instrumentos. Ela deixou ele deixar um rastro de carícias
suaves em seu pescoço, até sua mandíbula, através de sua bochecha.
Isso era bom, não havia como negar isso. Mas, de repente, Mac se
sentiu meio... diferente. Ela não sentiu o tipo de emoção que ela estava
esperando. Na verdade, ela meio que não sentia nada.
Mas por quê? O que havia de errado com ela? Talvez ela fosse
apenas uma aberração.
Ela tentou beijá-lo um pouco mais, mas quanto mais seus lábios
se encontravam, mais inquieta ela ficava. Finalmente, Mac afastou-se
para trás e colocou as mãos no colo. — Oliver, eu sinto muito, mas... —
ela parou, agarrando seus óculos novamente.
— Oh. — Oliver deslocou para trás. — Ei. Sinto muito. Você está
bem?
Ela fingiu esfregar as lentes limpas. — Uh, sim. Eu só deveria ir.
Oliver olhou para ela por um momento. Ele não parecia irritado
exatamente, apenas confuso. — Eu entendi isso errado?
— Não! — Ela balançou a cabeça. — Você é incrível. É só que eu...
— Ela o quê? Ela nem sabia. — Eu tenho que ir. — Ela ajeitou as alças
do sutiã e pegou sua bolsa, que tinha caído no chão. — Eu ligo para
você, ok?
E então ela estava fora da porta e no meio do caminho para o seu
próprio carro. Para seu horror, lágrimas escorriam pelo seu rosto e
misturando-se com as gotas de chuva que tinha começado a cair. O que
havia de errado com ela? Era porque ela tinha feito Claire ir embora?
Era porque ela arrastou um cara inocente para seu jogo estúpido? Era
porque ela se sentia tão cruel quanto Claire?
Quando ela chegou ao seu próprio carro, ela mergulhou a mão no
porta-luvas, desesperada por um lenço de papel. Só que seus dedos
roçaram algo mais. Era um envelope branco — o cartão que Blake havia
deixado com seu cupcake.
Ela entrou em seu carro, trancou a porta e abriu-o. Na parte
dianteira do cartão havia uma foto de uma girafa de óculos escuros, o
que, apesar de suas lágrimas, fez Mac sorrir. Ela era uma otária para
cartões bobos que caracterizavam animais vestidos, e Blake sabia disso.
Quando o abriu, a escrita bagunçada de Blake cobria a página.
Querida Macks, dizia. Você provavelmente vai me odiar para
sempre. E eu entendo — se eu fosse você, eu iria me odiar para sempre
também. Eu tomei uma decisão realmente estúpida. Eu nunca deveria ter
escutado Claire. Eu deveria ter sabido que ela estava sendo desonesta e
enganadora desde o início. Eu deveria ter sido honesto com você, e uma
pessoa mais forte, e porque eu não fui, eu provavelmente perdi você para
sempre. A única coisa que me resta são as memórias incríveis de nós
juntos. Você deixou um tubo de batom na minha casa da última vez que
esteve aqui, e isso provavelmente me torna uma pessoa estranha, mas eu
o carrego na case da minha guitarra, como uma espécie de lembrança
para dar sorte.
Eu sinto sua falta. Eu amo você. Eu faria qualquer coisa para ter
você de volta. Apenas diga como.
Blake
Lágrimas escorriam pelo rosto de Mac. E, de repente, ela sabia —
por isso ela se sentiu tão vazia beijando Oliver. Ele era um bom rapaz, e
ele provavelmente seria um bom namorado... mas ele não era a pessoa
que ela queria, a pessoa que ela não podia permitir-se ter.
Ele não era Blake.
Capítulo 13

N
a noite de sábado à seis, Caitlin vestiu um vestido cinza escuro
que mostrava suas pernas tonificadas do futebol, calçou suas
sapatilhas vermelhas favoritas e deu um giro total de 360 na
frente de seu espelho para que seu cabelo preto curto sacodisse. Ela
não era o tipo de se arrumar, mas esta noite pedia por isso. Ela parecia
perfeita. Ela esperava que ela estivesse vestida adequadamente para
onde eles estavam indo, mas Jeremy não estava dizendo uma palavra —
o que, Caitlin tinha que admitir, era parte da diversão.
Caitlin amava surpresas, o que Jeremy simplesmente parecia
saber; ela não conseguia se lembrar de dizer a ele. Ela também não
conseguia se lembrar de Josh surpreendendo-a com alguma coisa,
exceto pelo colar da grama do campo de futebol que ele tinha dado a ela
pouco antes de eles se separarem. E tinha sido uma surpresa tão
estranha: Ele tinha dado a ela bem na frente de suas famílias, e ele
estava em uma caixa de veludo de anel, por isso tinha parecido que ele
estava pedindo-a em casamento.
Caitlin rapidamente retocou seu brilho labial e estava prestes a ir
lá para baixo quando seu celular tocou em sua bolsa. Provavelmente
era Jeremy, ligando para provocá-la com uma pista sobre o encontro de
hoje à noite. Ele tinha feito isso durante todo o dia, embora ele só
dissesse coisas como “você vai gritar quando eu lhe disser”... o que
poderia significar qualquer coisa. Ele quis dizer gritar literalmente —
como se fosse assustador, mas também romântico? Talvez ele planejava
um cruzeiro de observação de baleias à luz de velas no Pacífico —
Caitlin tinha uma relação de amor e ódio com as baleias. Ou talvez ele
queria fazer uma maratona de filmes de terror sob o amontoado de
estrelas — ela se aconchegaria ao seu lado durante toda a noite. — Oi
— ela riu ao telefone, sem olhar para o identificador de chamadas.
— Onde você está?
— Ursula? — Por que Ursula Winters estava ligando para ela?
— Uh, estamos esperando por você — foi a resposta cortada de
Ursula. Então ela bufou. — Oh, meu Deus, você esqueceu
completamente. Ela esqueceu — Caitlin ouviu ela dizer ao fundo,
seguida por uma série de gemidos.
— Esqueci o quê? — perguntou Caitlin.
Ursula suspirou, como se estivesse esperando por isso. — A
iniciação das novas recrutas é hoje à noite, Caitlin. É sempre no sábado
após as eliminatórias. A treinadora Leah não lhe disse ao telefone?
Caitlin corou quente, então esfriou, entrando em pânico. A
treinadora Leah tinha mencionado isso? Ela estava tão animada que ela
não tinha realmente ouvido o discurso da treinadora. Mas Caitlin tinha
sido um membro da equipe por quase quatro anos. Ela sabia o que
fazer.
Ela olhou para seu reflexo no espelho, pronta para dizer a Ursula
que ela tinha planos. Mas as palavras morreram em sua boca. Este era
o evento de ligação mais importante para o time de futebol, e ela seria
uma capitã de merda se ela não fosse. Ela não tinha escolha, ela tinha
que estar lá. Ela teria apenas que reagendar com Jeremy. Ele
entenderia.
Ela disse a Ursula que ela estaria lá em vinte minutos, então
imediatamente discou o número de Jeremy. Ele respondeu ao primeiro
toque. — Eu estou a caminho agora, Senhorita Impaciente. — Houve
risos em sua voz. — Você está animada para ver o que a espera esta
noite?
— Na verdade, eu tenho realmente uma má notícia — Caitlin
desabafou. Ela já havia retirado seu vestido, vestido jeans e uma
camiseta, e estava indo para a porta da frente. — As iniciações do
futebol é hoje à noite, eu esqueci totalmente. Mas eu prometo que vou
compensar com você, ok? Vamos fazer uma coisa: eu vou cozinhar o
jantar para você amanhã à noite. Qualquer coisa que você quiser. Até
mesmo frango tikka masala. — Caitlin fazia um médio frango tikka
masala — suas mães lhe ensinaram — e Jeremy havia se queixado de
que ele não tinha chegado a experimentá-lo ainda.
Mas houve silêncio na linha. Caitlin entrou em seu carro e olhou
para seu telefone, se perguntando se eles tinham sido cortados. O
cronômetro ainda estava andando. — Jeremy? — ela perguntou
timidamente. — Você está aí?
— Você está brincando, certo? — Sua voz estava baixa e meio fria.
Ela colocou a chave na ignição. — Eu sinto muito, muito mesmo. É
uma coisa que fazemos todos os anos com as novas jogadoras. Uma
tradição de boas-vindas. Eu esqueci, e já que eu sou capitã, é minha
responsabilidade executá-la. Eu realmente tenho que estar lá.
— E você está me dizendo agora?
Caitlin fez uma pausa, com as mãos no volante. Onde estava o Sr.
Entendimento? — Eu disse que sinto muito — ela repetiu, sentindo um
puxão em seu estômago. — E eu prometo compensar com você. Nós
podemos reprogramar o nosso jantar, não podemos?
Jeremy deixou escapar uma risada surpresa. — Eu não estava
apenas levando-a para jantar. Eu estava levando-a para ver One
Direction.
— Oh meu Deus! — Caitlin gritou, sua mão voando para a boca.
One Direction era o seu segredinho sujo. Ela era uma garota Niall — ela
mantinha uma pequena foto do irlandês colada dentro da tampa do seu
iPad, apenas por diversão. Josh costumava revirar os olhos toda vez que
ele via. Ele preferia ter morrido, ou nunca mais jogar futebol de novo,
do que ver One Direction com ela. Esta era apenas mais uma prova de
que Jeremy era o melhor namorado de todos.
O que oficialmente a tornava a pior namorada de todas.
Ela fechou os olhos. — Oh, Jeremy. Eu sinto muito. Eu não sabia.
— É. Eu tinha conseguido assentos na primeira fila. Mas... tanto
faz.
Ele parecia tão devastado. E, de repente, Caitlin também estava.
Ela vasculhou seu cérebro por uma maneira de consertar isso. —
Espera... fica aí. Deixe-me ver se eu posso...
— Esquece. — Jeremy a cortou. — Desfrute da sua noite de trotes.
Antes que Caitlin pudesse responder, Jeremy tinha desligado. Ele
tinha desligado na cara dela.
Sua boca estava aberta. Ela rapidamente clicou em REDISCAR,
mas ele não atendeu. — Jeremy, me ligue de volta! — ela berrou em seu
correio de voz, em seguida, ela imediatamente ligou novamente. Ainda
sem resposta. Ela não podia acreditar. Ele estava zangado com ela?
Seu telefone tocou, e ela se lançou sobre ele, ansiosa para atender
a chamada de Jeremy. Mas era Ursula novamente. Caitlin esperou um
pouco, considerando suas opções. Se Jeremy tivesse atendido, ela teria
dito a ele que ela iria. A iniciação importava, mas não tanto como
assentos na primeira fila. Mas a incomodava, também, que ele não
tinha nem escutado a razão. Ele apenas desligou na cara dela.
Então ela atendeu a chamada. — Você pode comprar um pouco de
serpentina em spray no caminho? — Ursula queixou-se. — Já que você
claramente não fez nada para ajudar?
— Claro — disse Caitlin, murchando. — Eu estarei aí em breve.
Caitlin não conseguia pensar em nada que ela estivesse menos no
clima do que para as iniciações, mas ela dirigiu a curta distância de
carro para as instalações novinhas em folha esportivas e
multimilionárias de Beacon High de qualquer maneira. Ela parou em
uma das vagas do estacionamento da capitã da equipe — pela primeira
vez — e verificou-se no espelho. Seus olhos estavam inchados, mas não
havia nada que ela pudesse fazer sobre isso agora.
Ela tentou ligar para Jeremy novamente. Nada ainda. — Eu
provavelmente posso sair daqui por volta das nove — ela disse em seu
sexto correio de voz em uma hora. — Basta dizer a palavra, e eu estarei
aí. Obrigada, muito obrigada pelos bilhetes. É simplesmente... bem, é
incrível.
Então ela correu para o ginásio com as serpentinas em spray na
mão. Na visão dela, toda a equipe, novatas incluídas, levantaram-se e
começaram a jogar rolos de papel higiênico umas nas outras. Ursula
estava esvaziando o último pacote, lançando rolos sobre as cabeças
para as jogadoras na parte de trás. — Lançar! — Ursula instruiu, no
estilo sargento instrutor. — E... decorar!
— Sigam-me! — disse Caitlin, lembrando como era a iniciação. A
primeira ordem da atividade era papel higiênico em um monte de
árvores pelo campo de futebol. A capitã — ou as co-capitãs, neste caso
— sempre corriam o mais rápido que podiam para chegar lá, as outras
meninas seguiam atrás. As meninas mais lentas tinham que escalar as
árvores mais altas e jogar mais papel higiênico.
Ela pegou dois rolos e se dirigiu para as portas duplas que levavam
para fora. Ela estava na frente do grupo, correndo pelo campo em
velocidade máxima. Ela podia ouvir as outras meninas bufando atrás
dela enquanto elas projetavam seu papel higiênico e começavam a
envolvê-los nos galpões e cercas. Parecia estranho correr, estranho fazer
algo tão ativo e bobo quando Jeremy estava tão zangado com ela. Mas
não era como se ela tivesse uma escolha. Ela era capitã. Isso significava
algo.
Ela dirigiu o grupo para fora do campo, descendo a colina, e indo
para o principal caminho do campus. Quando todas as outras a
alcançaram, ela destacou algumas das corredoras mais lentas e
apontou para suas árvores. As novas jogadoras arremessaram os
pequenos carretéis brancos nos galhos, os pegaram quando eles caíram,
em seguida, os jogaram novamente. Em seguida, Ursula, que havia
alcançado elas também, começou um cântico de chamada e resposta: —
Ei iniciantes!
— Ei o que? — elas responderam.
— Ei iniciantes!
— Ei o que?
Caitlin gritou no topo de seus pulmões também, rindo da antiga
rima. Por um momento, ela até esqueceu de Jeremy. Mas então tudo
veio trovejando de volta. Ela enfiou a mão no bolso para seu telefone.
Ele ainda não tinha ligado.
As meninas pararam na quadra para recuperar o fôlego. Em
seguida, um estrondo de passos e vozes masculinas ricocheteou dos
edifícios escolares. A equipe de futebol dos meninos virou a esquina,
correndo em formação. Josh estava na posição principal na frente.
Caitlin olhou para ele por um momento. Ele encontrou seus olhos e
inclinou a cabeça um pouco. Foi quando Caitlin percebeu. Se alguém
poderia dizer que ela estava chateada, seria ele. Ela se virou,
envergonhada.
— Ok, vamos para o vestiário para o tratamento com Ki-suco —
Caitlin disse à equipe, tentando parecer jovial. Ela enfrentou as novas
meninas. — Meninas — ela gritou com voz de trovão. — Em formação. É
hora de colocar suas fraldas para o seu banho de Ki-suco!
As meninas gemeram e riram. Caitlin ia atrás delas, mas depois ela
sentiu alguém tocar seu ombro. Ela girou ao redor. Josh estava atrás
dela.
— Oi. — Seu tom era legal, mas ele estava estudando seu rosto
cuidadosamente.
— Oi — ela respondeu, sem jeito. Ela manteve o rosto virado para
longe dele, esperando que ele não tivesse uma boa visão de seus olhos
inchados.
— Você está bem?
Caitlin ficou surpresa com a verdadeira preocupação em sua voz.
Ela engoliu em seco. — Claro — ela disse rigidamente. — Eu estou
perfeita.
Josh cruzou os braços sobre o peito e manteve os olhos sobre ela.
— Vamos lá. O que está acontecendo?
Caitlin sentiu um sentimento de emoção em seu peito. Por que
Josh estava sendo tão bom para ela quando ela tinha lhe machucado
tanto? Ela encolheu os ombros. — Apenas coisas bobas. Nada de muito
importante.
— É Jeremy? — ele disse calmamente. Ele esperou pacientemente,
olhando para ela.
As mãos de Caitlin voaram para seu rosto e ela cobriu os olhos por
um segundo. — Sim. É Jeremy. Ele está... ele está com raiva de mim.
Eu esqueci sobre a coisa da equipe, e ele havia conseguido bilhetes para
nós para um show, e ele ia me surpreender. E agora ele está muito,
muito chateado. Eu me sinto mal.
Ela o espiou, esperando que ele revirasse os olhos e dissesse que
ela teve o que merecia, mas em vez disso, Josh apenas deu de ombros.
— Ele está com raiva por você ter dispensado ele, ou por você estar
fazendo uma coisa de futebol?
Caitlin franziu a testa. — Eu não sei. — Mas Josh tinha um ponto.
Se ela tivesse que cancelar com Jeremy por causa de algo mais — um
compromisso de família, ou algo da escola — ele teria desligado na cara
dela? Era como se o futebol fosse o gatilho.
Josh suspirou. — O problema de Jeremy é que ele vê as coisas em
preto e branco. Ou você é essa pessoa — Josh apontou o polegar na
direção de seus times, — ou você é essa pessoa. Você não pode ser
ambos.
A boca de Caitlin estava aberta. Era realmente verdade. E a
surpreendeu como ele apontou isso: não de uma maneira depreciativa,
mas simplesmente atestando um fato. Jeremy era Jeremy.
— Você é a capitã — Josh continuou. — Você tinha que fazer isso
pela equipe. Se ele se importa com você, ele vai entender.
Ele sustentou seu olhar por mais um momento, em seguida, virou-
se e gritou: — Vamos lá! — para a sua equipe. — Precisamos jogar
papel nos topos daquelas árvores, onde as meninas não podem
alcançar.
Os meninos riram e bateram nas mãos uns dos outros, e as
meninas vaiaram bem-humoradas. — Caitlin, vamos — Ursula gritou
do outro lado do campo. — Vestiários, agora.
— Um segundo — Caitlin falou de volta, os olhos ainda em Josh.
Ela queria agradecer a Josh pelo que ele tinha acabado de lhe dizer — e
por quão bom ele tinha sido, especialmente tendo em conta as
circunstâncias. Ele havia passado pelo edifício de matemática e estava
subindo em uma árvore enorme, um rolo de papel higiênico preso no
bolso de seu calção. Ela vagou por lá e viu quando ele desenrolou a
flâmula de papel para decorar os galhos. O papel era tão leve que foi
pego por uma ligeira brisa e soprou de volta para ele.
Então ele olhou para baixo e a viu. — Oh — ele disse. — O que foi?
— Eu só queria dizer que... — Caitlin começou. Ela engoliu em
seco. — Você realmente...
— O quê? — Josh inclinou em direção a ela para ouvi-la melhor.
Seus olhos se encontraram. Josh deu-lhe o velho sorriso que ele
costumava dar somente para ela. O coração de Caitlin deu uma
cambalhota.
Mas, de repente, ela ouviu um estalo de madeira.
— Merda — gritou Josh, o ramo debaixo dele estalando. Suas mãos
se debateram para pegar um outro ramo, mas seus dedos se fecharam
em uma moita de folhas em vez disso. Elas se arrancaram em sua mão,
e de repente ele estava caindo da árvore e sobre a grama abaixo. Ele
caiu com um estrondo feio apenas alguns centímetros de onde Caitlin
estava de pé.
Caitlin gritou e correu para o lado dele, seu coração batendo como
um tambor. Seus olhos estavam fechados. Ele parecia machucado. Isso
foi culpa dela. — Josh? — ela gritou, sua voz cheia de lágrimas. — Você
está bem?
Lentamente, seus olhos se abriram. — Eu... eu estou bem — ele
disse fracamente. Ele se sentou e olhou para ela, com um olhar
atordoado em seu rosto. — Eu acho que foi o meu tornozelo.
— Você consegue andar?
Ele pensou sobre isso, então balançou a cabeça. — Eu acho que
não — ele sussurrou.
Um monte de outras crianças tinha corrido até lá agora, também.
Abalada, Caitlin pegou o celular e ligou para o 911. A adrenalina corria
por ela quando o operador atendeu e disse que uma ambulância estaria
lá em breve.
Pouco tempo depois, uma ambulância rugiu, e dois paramédicos
corpulentos carregaram Josh para a parte de trás. Os nervos de Caitlin
estavam pulando por toda parte — ambulâncias sempre a lembravam
de Taylor, não importava quanto tempo ela vivesse. Ela observou
quando Josh olhou para ela a partir da maca. Ele estava rangendo os
dentes e apertando os olhos fechados para combater a dor. Ela se
libertou da multidão e colocou um pé no para-choque. — Josh, você
quer que eu vá com você?
Josh encontrou seu olhar, mas, em seguida, o paramédico pisou
no caminho. — Você é da família?
Ela balançou a cabeça.
— Namorada?
Caitlin recuou. Não era seu trabalho ir com Josh para o hospital.
Não mais. Ela congelou, a finalidade do fim de seu relacionamento de
repente muito real. — Não — ela disse calmamente. — Não sou.
O paramédico fechou a porta com um ruído alto. Com suas luzes
piscando, a ambulância deixou escapar um berro alto da sirene, virou-
se para fora do acesso de veículos e correu até a estrada principal.
Capítulo 14

N
a manhã seguinte na segunda-feira, Julie estava sentada em
seu carro, em marcha lenta no estacionamento de Beacon High.
As crianças estavam se reunindo em grupos para recapitular
seus fins de semana. Ônibus escolares bufavam com os freios, portas
estavam se fechando, e um grupo de meninas estava ao lado da ala de
arte com um grande banner com o rosto de Lucas Granger. O primeiro
sinal soou, indicando que havia mais quinze minutos até a aula
começar.
Ela totalmente não estaria pronta em quinze minutos.
Julie afivelou o cinto de segurança e colocou o carro de volta em
marcha. Então, ela sentiu uma mão sobre a dela. — Ei. Você consegue
fazer isso.
Ela olhou para cima. Carson queria pegá-la esta manhã, mas ela
insistiu em pegá-lo em vez disso, para que ela pudesse dar uma
escapadinha no meio do dia, se ela precisasse. — Vamos lá — ele disse,
com um sorriso caloroso. — Eu vou ficar com você a cada passo do
caminho.
Julie olhou cautelosamente para os estudantes que fluíam para
dentro do prédio. — Eu não sei — ela sussurrou. — Eu não posso
encarar Ashley.
— Sim, você pode. Se nós a vimos, vamos virar e ir em outra
direção, ok? Ou melhor ainda, vamos enfrentá-la, e dizer-lhe o quão
vadia patética que ela é.
Os olhos de Julie giraram para as meninas que seguravam o
banner de Granger. Ela não tinha estado de volta à escola desde que
Granger foi morto, e ela assumiu que o assunto teria começado a sumir
até agora. Mas parecia que havia mais fãs de Granger do que nunca.
— Vamos. — Carson abriu a porta do carro. Com um longo
suspiro, Julie desligou o motor, pegou sua bolsa e livros, e seguiu-o até
a escola.
Tinha sido apenas um pouco mais de uma semana desde que ela
tinha passado aqui, mas Beacon High tinha uma sensação diferente e
parecia diferente. Havia uma nova samambaia no saguão. Havia todos
os tipos de pôsteres de Granger nas salas. E Julie estava diferente,
também. Quando ela saiu, ela ainda era a Perfeita Julie Redding, com
um fluxo constante de pessoas a seguindo pelo corredor. Agora ela era
suja e vergonhosa, deixando apenas o cheiro de xixi de gato e comida
podre em seu rastro. Pelo menos é o que ela sentia.
Eles fizeram o seu caminho pelo corredor, Julie andando com a
cabeça baixa, Carson levando-a pelo cotovelo. — Julie! — alguém gritou
atrás dela.
Julie se encolheu com o som de seu nome, certa de que era Ashley.
Mas quando ela se virou, sua boa amiga Nissa Frankel estava acenando
para ela. Natalie Houma estava ao seu lado, ostentando um sorriso
totalmente normal.
— Você estudou para o teste de química? — perguntou Nissa em
um som monótono. — Eu estou tão ferrada. Tipo, quem precisa saber
como balancear equações?
— Hum, não... — Julie gaguejou, sentindo-se tonta. — Quero dizer,
sim, eu estudei. Um pouco. Mas eu acho que vai ser difícil.
— Você vem na sexta-feira, certo? — Natalie entrou na conversa. —
Você recebeu o meu e-mail, não é?
— Sexta-feira? — Julie não tinha ideia do que elas estavam
falando. Mais do que isso, por que elas estavam agindo de forma tão
normal, nem sequer mencionando o fato de que ela tinha faltado uma
semana? Então ela se lembrou de que Natalie tinha enviado um e-mail.
Vários, na verdade. Mas Julie não tinha lido eles.
— Minha festa de Halloween — explicou Nissa. — Nós precisamos
conversar sobre as fantasias no almoço. Estou pensando talvez em
super-heroínas sensuais. Ou princesas sexys da Disney?
— Você não pode fazer tudo sexy, Nyss — Natalie brincou,
revirando os olhos para Julie. — Certo, Julie?
— Hum... — O segundo sinal, que indicava que eles tinham apenas
cinco minutos antes de ir para a sala de aula, tocou antes de Julie ter a
chance de responder. Natalie apenas deu de ombros e saiu correndo
com Nissa, ambas acenando adeus para Julie. Julie virou-se para
Carson, com um olhar espantado no rosto. — Eu não posso acreditar
nisso.
Carson sorriu. — Está vendo? — Ele se inclinou e a beijou
suavemente na bochecha. — Eu disse que você ficaria bem. Então, isso
significa que você vai à festa de Halloween de Nissa comigo na sexta-
feira à noite? Talvez como uma sexy Cinderela? — ele brincou.
Julie sentiu-se rir. — Definitivamente não como Cinderela — ela
disse, empurrando-o de brincadeira. Ela não podia acreditar que estava
mesmo pensando em ir a essa festa. Mas talvez ela pudesse.
Eles caminharam até o armário de Julie, que para surpresa de
Julie não estava coberto com mensagens maldosas ou fotos de gatos.
Então Carson olhou para o relógio e fez uma careta. — Escute, eu odeio
fazer isso com você, mas eu deixei um livro no meu armário. Eu
realmente preciso dele.
Julie piscou para ele. O armário de Carson era do outro lado do
campus, e sua primeira aula era neste prédio. Se ela fosse com ele, ela
chegaria atrasada. Se ele ficasse com ela, ele chegaria atrasado. —
Hum... — ela disse. Ela olhou ao redor nervosamente. Seus colegas
estavam conversando, batendo as portas dos armários, estudando de
última hora nos últimos segundos com o nariz enterrado em livros
grossos, enviando mensagens apressadas antes do segundo sinal.
Ninguém estava prestando atenção nela, e pela primeira vez em muito
tempo, isso era uma coisa boa.
Está bem. Ninguém se importa. Então Julie viu Parker caminhar
pelo corredor e se sentiu ainda melhor. Parker tinha ficado com ela
ontem à noite, mas ela desapareceu em algum momento esta manhã,
enquanto Julie estava no banheiro, nervosamente vomitando. Ela não
esperava que Parker realmente aparecesse na escola.
— Vá buscá-lo — ela disse a ele, colocando seu brilhante cabelo
atrás das orelhas. Com Parker como substituta, ela ficaria bem. — Eu
vou ficar bem.
Carson parecia preocupado. — Você tem certeza?
Julie assentiu, observando enquanto Parker caminhava pelo
corredor em direção a ela. — Eu tenho que tentar algum dia, certo?
Ele a beijou novamente. O cheiro de seu xampu — algo com cheiro
de coco e delicioso — tomou conta dela. — Vejo você depois da aula, ok?
Eu estarei esperando bem aqui. — Ele se dirigiu rapidamente para o
corredor.
Julie pegou o braço de Parker quando ela passou, e Parker se
virou. Seu rosto estava na sombra sob o capuz, mas ela parecia
diferente de alguma forma. Demorou um momento para Julie desvendar
a expressão no rosto de sua amiga, mas quando o fez, foi um choque
total. Parker parecia feliz. — Ei! — exclamou Parker, dando um tapinha
no ombro de Julie. — Você conseguiu!
— Você conseguiu, também — disse Julie.
— Sim, eu percebi que eu iria aparecer. — Parker bufou
sarcasticamente, mas os cantos de sua boca viraram levemente. Antes
de Julie poder incomodar Parker sobre por que ela estava em um
humor tão bom, Caitlin, Mac e Ava foram na direção delas em um
abraço de grupo.
— Bem-vinda de volta! — Caitlin falou.
— Bom-dia, garota. — Ava acenou, uma pilha de pulseiras
barulhentas juntas em seu fino pulso. — É bom ver você aqui.
— Nós sentimos sua falta — disse Mac sinceramente, envolvendo
uma mão no braço de Julie e dando-lhe um aperto reconfortante.
— Obrigada, gente. — Julie estava totalmente subjugada por seu
apoio.
— Então. Almoço. Você e nós. — Caitlin estava usando seu tom
capitã de futebol durona. — Sem discussão.
— Vamos nos encontrar aqui. — Ava colocou uma mecha de cabelo
atrás da orelha. — Está bem?
Julie girou a combinação de seu armário, prestes a dizer-lhes que
já tinha planos para o almoço com Natalie e Nissa. Mas quando o
número final da tranca caiu no lugar, ela percebeu que o corredor tinha
ficado calmo. Ela olhou por cima do ombro por uma fração de segundo,
pensando que o corredor tinha esvaziado, mas ele ainda estava cheio de
crianças — crianças olhando para ela. Ao mesmo tempo, ela ouviu uma
risadinha a alguns metros no corredor.
Seu coração começou a bater forte. Talvez ela tivesse falado muito
cedo dizendo a Carson que ela estava bem. Seus dedos se enroscaram
na alavanca que abria seu armário, e houve um estalo nítido quando ela
abriu a porta. A trava ficou frouxa na sua mão, e a porta do armário se
abriu. Não havia tempo para parar. Julie sentiu o ping... ping... ping de
algo pequeno e parecido com um seixo caindo no topo de seus sapatos,
e, em seguida, uma avalanche de areia e poeira jorrou de seu armário,
cobrindo-a até os tornozelos e revestindo toda a frente de seu vestido
com uma película cinza. Um cheiro familiar levantou-se do chão,
cobrindo o interior de suas narinas.
Areia para gatos.
A boca de Julie caiu aberta, e uma nuvem de pó perfumado
aterrou em sua língua. Ela engasgou. Ava gritou, assim como Mac
saltou para trás, horrorizada, as mãos voando para o rosto, a boca
aberta em um alarmado O. Parker estava ao lado delas, as mãos
apertadas em punhos, o rosto vermelho de raiva. Alguns grãos finais de
areia caíram no chão; o som tilintante explodindo no silêncio atordoado.
Então, parecendo uma sugestão, Julie ouviu o primeiro riso a
alguns metros de distância, em seguida, as próximas gargalhadas, em
seguida, gargalhadas de forma geral e um coro de Puta merda e Cara,
isso foi incrível! Uma enorme multidão havia se formado. Julie viu os
rostos de Nissa e Natalie, que, além das meninas da classe de
filmografia, pareciam que eram as únicas pessoas que não estavam
rindo. Seus olhos se arregalaram enquanto olhavam para ela,
parecendo preocupadas, mas impotentes.
Alguns alunos do penúltimo ano se afastaram enquanto alguém se
empurrava para a frente da multidão. E então lá estava ela: vestindo
um vestido envelope parecido com o de Julie, com os cabelos em cachos
como os de Julie, e com um sorriso soberbo, triunfante e medonho.
Ashley, a garota que assombrou os pesadelos de Julie. Um punhado de
meninas a cercava, usando a mesma expressão cruel. Todas elas riam
maldosamente.
— Bem-vinda de volta, Senhorita Julie — Ashley entoou. — E aqui.
Eu achei que você podia querer isso. — Ela caminhou até Julie e
colocou algo em sua cabeça. Julie deu um tapa nele, seus dedos
tocando o plástico. Era uma caixa de areia. As crianças uivavam de
tanto rir, e ela ouviu o estalo revelador de iPhones tirando fotos.
Julie se encheu de lágrimas, desejando que ela tivesse algo a dizer,
alguma maneira de calar todos. Mas, em vez disso, tudo o que ela podia
fazer era jogar a caixa de areia no chão, caminhar para fora da areia de
gatos, e correr pela porta mais próxima para o estacionamento.
Ela correu alguns passos, mais grãos de areia para gatos se
derramavam para fora de suas roupas. Ela poderia dizer que todos
estavam olhando para ela das janelas, rindo. Uma vez que ela estava
longe o suficiente, ela deixou escapar um soluço doloroso. Como ela
podia ter sido tão estúpida? Ela sabia em seu interior que ela nunca
deveria ter voltado à escola hoje. Mas ela deixou Carson — doce e sem
noção — convencê-la.
De repente, algo horrível a atingiu: E se Carson estava sabendo
disso? Ele tinha sido o único a convencê-la a voltar, afinal de contas, e
ele a tinha abandonado em seu armário.
Mas antes que ela pudesse pensar nisso, Julie sentiu alguém
agarrar com firmeza seu braço. — Droga... — ela gritou, sacudindo a
mão e girando ao redor, pronta para lutar com quem tinha saído aqui
para atormentá-la mais. Mas ela estava cara a cara com Parker, que
parecia tão zangada e vingativa como Julie se sentia. Parker agarrou
Julie e abraçou-a com força, como se ela estivesse segurando Julie
contra uma tempestade.
— Eu não posso acreditar que aquela vadia fez isso com você —
rosnou Parker. — Ela vai pagar por isso.
— Foi tão horrível — disse Julie, as lágrimas caindo livremente
agora. Parker era a única que ela deixava vê-la chorar. — Toda aquela
areia de gato... todas aquelas pessoas rindo...
Parker puxou Julie mais perto quando seus ombros desabaram
com seus soluços. — Eu faço qualquer coisa por você, Julie — ela
sussurrou no ouvido de Julie. — É só você dizer a palavra, e ela vai
pagar.
Julie considerou por um momento, em seguida, afastou para trás.
O rosto de Parker estava selvagem, e por um momento, Julie de repente
estava com medo dela. — Não — ela disse, colocando um braço sobre o
ombro de Parker. — Somos melhor do que isso.
— Eu sei. — Parker respirou fundo. — Mas eu queria que nós
pudéssemos — ela sussurrou. — Eu queria, apenas uma vez, que as
pessoas tivessem o que elas mereciam.
Capítulo 15

N
aquela tarde, Mac, Ava e Caitlin estavam ombro a ombro na
calçada rachada e com ervas daninhas na frente da casa de
Julie. Claramente elas não foram as primeiras que a tinham
visitado desde que Ashley enviou o endereço de Julie em seu e-mail
explosivo: Colecionadora estava escrito com spray na frente da entrada
rachada, e Saia da Cidade, Lixo Branco Sujo tinha sido rabiscado na
porta da garagem. Magros gatos sarnentos se moviam para dentro e
para fora das decorações de feriado aleatórias no jardim da frente como
se fossem grandes arranhadores. Vários veículos descartados estavam
em blocos no pátio lateral. A grama não tinha sido cortada há eras; e
estava cheia de dentes de leão, e, provavelmente, de carrapatos.
Este não era um lugar que Mac sempre quis visitar. Mas o Subaru
de Julie estava na calçada — ela estava em casa. E elas precisavam se
certificar de que ela estava bem.
Mac se sentia terrível por Julie. Antes que ela tivesse chegado a
conhecê-la nas aulas de filmografia, ela sempre a admirava de longe —
Julie era esta garota brilhante, amigável e bela que sempre usava a
roupa perfeita e dizia a coisa perfeita. Era incrível que todo esse tempo
ela tinha estado pendurada por um fio e escondendo um enorme
segredo como esse. Mas Mac entendia o porquê. Esta era Beacon, afinal
de contas, o lar de crianças cujos pais eram executivos implacáveis,
laureados com o Nobel, e herdeiros de empresas da lista Fortune 500.
Não havia espaço para a imperfeição em Beacon, e certamente não para
o açambarcamento.
O telefone de Mac buzinou, e ela olhou para a tela. O que está
rolando? Oliver tinha mandado uma mensagem.
Seu coração afundou. Ela queria gostar de Oliver, ela realmente
queria. E ele tinha sido tão bom após sua ficada fracassada fora do
restaurante tailandês, mandando mensagens de texto para ela
casualmente, enviando textos engraçados com emoji. Mas cada vez que
ela via seu nome em seu celular, ela apenas sentia... nada. Ela não
deveria estar mais animada se ela realmente gostasse dele? Por que, em
vez disso, o rosto de Blake sempre aparecia em sua mente? Ela não
parava de pensar naquele cartão que ele tinha escrito. O brilho labial
que ele manteve em sua case de guitarra como um amuleto da sorte.
— Bem, vamos lá — ela disse as outras, deixando cair seu celular
no bolso, sem responder. Ela começou a subir a passarela, olhando um
gato de aparência astuta que tinha parado com a pata no ar na grama
marrom antes de escapar para uma piscina infantil deflacionada
coberta de sujeira. As outras meninas seguiram atrás dela, e ela
apertou a campainha da porta enferrujada, que soltou um som de
raspagem metálico. Uma sombra passou por trás da cortina na frente
da janela, mas ninguém apareceu. Depois de um momento, Mac
apertou a campainha novamente. Nada ainda.
— Ela tem que estar aí — Ava sussurrou. — O carro dela está aqui.
Todas elas se assustaram quando a cortina se abriu de repente,
puxada por uma mão invisível. O rosto inchado de Julie apareceu na
janela. Parecia que ela tinha chorado desde que ela saiu da escola
naquela manhã. Era como se uma luz tivesse saído dela, e agora ela
estava entorpecida, quebrada. Sem dizer uma palavra, Julie
desapareceu da janela. Por um segundo, Mac receou que ela tivesse
recuado de volta para sua casa, mas então a porta se abriu com um
gemido.
Um cheiro úmido e sujo escapou da casa e saiu para a varanda.
Julie estava na porta vestindo seu roupão de banho, sua brancura
praticamente brilhando contra o fundo de lixo, ferro-velho e riscos para
a saúde que pairavam atrás dela. Seus ombros caíram, e suas mãos
penderam inerte ao lado do seu corpo.
Ninguém falou por um momento, até que Ava quebrou o silêncio
constrangedor. — Viemos para levá-la para uma mani-pedi! — ela
cantarolou, alegremente demais.
Julie fixou os olhos no chão, onde uma pequena tribo de gatos
tinha se reunido perto de seus pés em chinelos. — Uh, sem ofensa, mas
ninguém está olhando para as minhas unhas.
Mac estendeu uma mão consoladora no braço de Julie. — Vamos
comer o bolo dinamarquês daquela padaria nova impressionante na
cidade, então. O lote da noite sai do forno justo agora.
Julie balançou a cabeça tristemente. — Obrigada. Mas eu não vou
sair. Nunca mais. — Seus ombros moveram para cima e para baixo. —
Desculpa, gente. Eu só vou voltar a dormir.
— Tem certeza? — perguntou Caitlin calmamente. Julie assentiu.
— Bem... ligue para nós, está bem? — acrescentou Caitlin. — Para
qualquer coisa. Mesmo se for super tarde da noite.
Não havia mais nada a fazer senão recuar no caminho para seus
carros. Ava e Caitlin tinham vindo juntas — Ava tinha se oferecido para
dar uma carona a Caitlin já que ela morava perto. Elas disseram adeus
a Mac e partiram. Mas Mac hesitou. Batendo a porta do carro, ela se
virou para Julie, que ainda estava de pé na varanda, olhando fixamente
para a rua.
— Eu sei como é — ela disse, em seguida, fez uma careta. Isso não
era exatamente verdade. — Quero dizer, eu fui caçoada, também.
Humilhada.
Julie pestanejou. — Foi? — ela disse, em voz baixa.
Mac deu um passo de volta em direção à casa. — Por Nolan
Hotchkiss. É por isso que eu... você sabe. Fui junto com tudo. — Ela
olhou ao redor, se perguntando se ela deveria dizer isso em voz alta ali
fora, mas não parecia como se houvesse alguém por perto. A casa
Redding era, provavelmente, o tipo de lugar que a maioria dos vizinhos
evitava passar por perto se pudessem.
Julie inclinou a cabeça ligeiramente. Então, ela olhou por cima do
ombro para a casa. — Você quer... entrar? — ela perguntou, um pouco
hesitante.
— Eu adoraria — Mac disse rapidamente, preocupada que Julie
fosse mudar de ideia.
A casa cheirava a mofo, urina de gato, e o rato morto que tinha
apodrecido sob a máquina de fazer roscas igual à da loja de roscas que
Mac trabalhou no último verão. Mas Mac fingiu que não a incomodava.
Ela manteve o olhar na frente, tentando não ficar boquiaberta para as
torres de caixas e pilhas de móveis quebrados e feios e pilhas de roupas
que chegavam até o teto. Julie andou pelo corredor, virando-se
lateralmente em pontos particularmente estreitos. — Caixa de gato —
ela disse, apontando para uma caixa de areia no caminho de Mac que
estava tão usada que não havia quase um ponto seco. Então ela abriu
uma porta no final do corredor. — Aqui. Este é o meu quarto — ela
disse, as bochechas rosas com embaraço.
Mac o atravessou e engasgou. Ao contrário do resto da casa, o
quarto de Julie cheirava a perfume e roupa fresca. Duas camas estavam
feitas ordenadamente lado a lado no canto, e os livros nas prateleiras
tinham lombadas retas. Era como se ela tivesse entrado em uma casa
diferente. Um universo diferente.
— É tão legal aqui — desabafou Mac.
— Sim, ao contrário de qualquer outro lugar. — Julie sentou-se na
maior das duas camas. — Sabe, eu nunca trouxe ninguém aqui... com
exceção de Parker. — Seu olhar moveu-se para uma mochila verde-
exército do outro lado do quarto, em seguida, ela deu de ombros.
— Então você disse a Parker sobre... — Mac fez um gesto em
direção ao corredor.
Um olhar arrependido nublou o rosto de Julie. — Sim, embora não
no começo. Eu deveria ter dito a ela mais cedo. Isso nos aproximou
muito mais.
Ela soltou um enorme suspiro. Mac estava prestes a perguntar o
que ela estava sentindo — toda a coisa com Parker tinha que ter tido
um preço alto para Julie — mas, em seguida, Julie disse: — Então, o
que Nolan fez com você?
Mac limpou a garganta. — Oh, apenas fingiu que estava a fim de
mim para ganhar algum dinheiro de seus amigos.
Os olhos de Julie se arregalaram. — Deus. Eu sinto muito.
— É, bem. — Mac brincava com sua bolsa, a memória correndo de
volta para ela. — Eu só sei qual é a sensação, disso tudo — ela disse,
olhando para Julie. — De pensar uma coisa, e ter sua vida indo em
uma direção, e depois ter o tapete puxado debaixo de você... e todo
mundo rindo à sua custa.
Julie se jogou sobre a cama. — O pior foi que eu fui para a escola
hoje e pensei que tudo ficaria bem. Eu sou uma idiota. Eu conheço
Beacon. Eu sei o que todo mundo aqui é capaz de fazer.
— Nem todo mundo — insistiu Mac. — Você tem a nós. — Ela
olhou para longe, pensando em Nolan, como ela queria
desesperadamente que ele estivesse realmente a fim dela. — Mas eu
entendo — ela acrescentou. Afinal, Nolan não foi nem mesmo o pior —
olha o que Claire tinha feito, conspirando para atrapalhar sua audição
de Juilliard. E elas supostamente eram amigas.
Ela mudou seu peso sobre a cama, e de repente sua bolsa virou e
um monte de coisas caiu para fora. Uma escova de cabelo deslizou pelo
chão, seguida da carteira de Mac. Ela mergulhou para recolher o
material, constrangida de estragar o espaço perfeito de Julie. Em
seguida, Julie disse: — O que é isso?
Mac seguiu seu olhar. O cartão que Blake tinha dado a ela no
outro dia tinha caído para fora. Ele caiu aberto, exibindo a mensagem
sincera de Blake do interior. Mac rapidamente o agarrou, mas pelo
olhar no rosto de Julie, ela provavelmente tinha visto um pouco dela.
Suas orelhas ficaram vermelhas. Ela baixou os olhos, sentindo um
súbito ataque de lágrimas. Ela não tinha dito a nenhuma das meninas
da aula de filmografia sobre a coisa com Blake. Ela não tinha contado a
ninguém. Era muito confuso, e ela estava muito envergonhada de sua
parte nela.
— Quer falar sobre isso? — Julie disse em voz baixa, com um olhar
preocupado no rosto.
— Não! — Mac gritou. Em seguida, ela balançou a cabeça. —
Quero dizer, Deus, eu não quero incomodá-la com os meus problemas.
Estou aqui para garantir que você está bem.
— Por favor, eu preciso de uma distração. — Julie inclinou para
frente. — O que está acontecendo? É um cara, não é? — ela disse com
conhecimento de causa.
Mac olhou para seus tênis Vans quadriculados. De repente, era
como se um vulcão retumbasse dentro dela, ameaçando explodir. — É
Blake Strustek — ela desabafou. — Ele tem sido um amigo por anos, e
eu o amava por anos, mas agora está tudo arruinado.
Ela contou toda a história sobre Blake — como ela tinha tido uma
queda por ele primeiro, mas Claire tinha começado a sair com ele; e
que, de acordo com Blake, Claire mentiu e disse que Mac não estava a
fim dele. Que eles estavam em uma banda juntos, e ultimamente, algo
tinha começado entre eles, escondido de Claire. Que ela nunca quis
magoar Claire. Mas quando ela chegou à parte sobre Claire e Blake
enganá-la, a fim de sabotar sua audição de Juilliard, a boca de Julie
caiu aberta.
— Não é assim que melhores amigas tratam umas as outras! — ela
gritou.
— Não que eu saiba — Mac disse sombriamente.
Julie cruzou os braços sobre o peito. — Agora faz sentido porque
você mencionou Claire naquele dia na aula de filmografia. Eu sempre
me perguntei.
Mac estremeceu com a lembrança dessa conversa. Assim que ela
disse o nome de Claire, ela se sentiu horrível, especialmente porque
Claire tinha estado do outro lado da sala e poderia ter ouvido. Ela tinha
acabado de ficar tão zangada com Claire naquele dia, no entanto — ela
tinha visto ela e Blake se acariciando no corredor, e todos os seus
sentimentos de traição e ressentimento haviam vindo à superfície.
— Eu nunca deveria ter dito isso... Eu só estava tendo um dia ruim
— ela suspirou. — Não é como se eu realmente quisesse vê-la morta.
— Claro que não — disse Julie com firmeza.
— E, quero dizer, só porque eu disse isso não quer dizer que vai se
tornar realidade — Mac disse em voz alta, pensando na teoria que
Caitlin tinha trazido à tona no outro dia na casa de Ava.
— Claro que não — disse Julie. Mas então ela se moveu
desajeitadamente. — Ainda assim. Eu odeio que esses nomes estão
ainda por aí, naquele bloco de notas. E, quero dizer, duas das cinco
pessoas que foram nomeadas... você sabe. — Ela desviou os olhos.
— Ninguém pode vincular isso a nós — disse Mac rapidamente. Ela
precisava dizer isso em voz alta, de alguma forma, para desfazer a má
sorte. — É uma teoria muito louca. Ninguém iria matar as pessoas que
nomeamos. Não faz sentido. Ninguém odeia todas nós assim... ou todos
que nós nomeamos.
O celular de Mac tocou, e ela olhou para a tela. A mãe dela estava
ligando. De repente, ela se lembrou que tinha feito planos para sair
para jantar com seus pais — mais celebrações por causa de Juilliard.
Ela se levantou, deslizando o celular no bolso. — Eu tenho que ir — ela
disse tristemente, olhando para Julie. — Você vai ficar bem?
Julie assentiu. — Obrigada por ficar e conversar comigo. Ajudou,
realmente... ter você aqui.
Mac assentiu com a cabeça e começou a sair do quarto de Julie,
odiando que ela estivesse deixando Julie dentro de um espaço tão
pequeno. Ela navegou em torno das caixas e dos gatos, e logo ela estava
fora de novo, respirando ar fresco. Mas seu peito ainda estava ofegante,
e ela sabia o porquê. Era por toda a conversa sobre a lista, e aquela
terrível conversa.
Ela perguntou-se, de repente, o que Claire estava fazendo nesse
momento. Ela estava em casa? Ela estava a salvo? Mac deve se
preocupar com ela? Era irônico — a menina que ela odiava, a menina
que a odiava, poderia ser a pessoa que mais precisava dela nesse
momento.
Capítulo 16

D
epois de deixar Caitlin, Ava agarrou o volante com força, sua
visão constante. Em vez de virar em direção a casa dela, ela
pegou a esquerda até uma estrada íngreme que não era
regularmente explorada. A menos que você estivesse indo para a
Penitenciária Upper Washington — o que Ava estava fazendo. Era onde
Alex estava sendo mantido. A fiança foi fixada em vinte e cinco mil
dólares, e seus pais, dois professores, ainda estavam tentando levantar
esse tipo de dinheiro.
Havia todos os tipos de coisas que ela deveria estar fazendo esta
noite, como estudar para um exame de história ou atualizar sua página
do Facebook sobre Lady Macbeth — um projeto para Inglês avançado.
Mas algo dentro dela havia rachado hoje. Era algo que ela não
conseguia explicar, um gatilho que ela não poderia colocar o dedo, mas,
de repente, ela percebeu, ela tinha que ir ver Alex na prisão. Não
importava quantos noticiários ela assistia de crianças dizendo que Alex
tinha violentamente espancado aquele garoto em sua antiga escola, ela
precisava ouvi-lo dizer isso a ela. Mais importante, ela precisava que ele
lhe dissesse que ele não era culpado, que ele não tinha matado
Granger.
Seu celular tocou, e ela olhou para baixo. Ei, eu ainda estou com
seu brilho labial, Caitlin mandou uma mensagem. Quer voltar para
pegar ele?
Ava tinha deixado Caitlin pegar emprestado seu brilho labial do
carro, mas não havia nenhuma maneira de ela voltar agora — ou
explicar o que ela estava prestes a fazer. Eu pego na escola, sem
problema, ela respondeu. Isso era estranho: Ela provavelmente poderia
dizer as meninas que ela estava indo visitar Alex. Mas ela queria manter
isso para si mesma, até que ela descobrisse um pouco mais.
Quando ela estacionou no complexo da polícia 15 minutos depois,
ela ainda estava tentando descobrir o que ela ia dizer. Revirando os
ombros, ela caminhou através de uma porta marcada com VISITANTES
e escreveu seu nome em uma prancheta.
Depois de um check-in aterrorizante com um processo de revista,
durante a qual Ava tinha certeza de que a policial feminina deu-lhe um
aperto extra ou dois, enquanto ninguém estava olhando, ela sentou-se
na sala de visitas. O piso de concreto estava manchado com
substâncias misteriosas, e as mesas de metal frio e cadeiras eram
aparafusadas ao chão. O ar tinha um cheiro acentuado nele, como se
urina e fluidos de limpeza tóxicos tivessem se fundido para criar um
novo tipo de oxigênio. O nariz de Ava queimou. O pensamento de Alex
sozinho neste lugar enviou um espasmo através dela.
A pesada porta de metal se abriu na parte de trás da sala, e Ava
reflexivamente saltou de pé. Um guarda do tamanho de um linebacker2
entrou pesadamente primeiro, então deu um passo para o lado,
revelando um Alex pálido, exausto e algemado. O coração de Ava saltou
em sua garganta, e ela sufocou um soluço.
Alex levantou a cabeça e olhou para ela. Seu olhar era tão intenso,
tão desesperado e tão triste. Ele parecia inconsolável. Ava resistiu ao
impulso de correr e envolver os braços ao redor dele.
— Alex... — ela começou.
— Sinto muito — ele disse ao mesmo tempo. — Ava, eu sinto
muito. Eu nunca quis que nada disso acontecesse. Eu não tive a
intenção de deixá-la em apuros. Eu sei que você não fez isso, nada
disso. — Ele prendeu a respiração, tentando conter a onda de emoção.
Ava suspeitava que ele estava tentando não chorar. Alex era o
emocional em seu relacionamento: Deus, ele chorou durante Toy Story
3. Essa memória fez ela querer chorar, de repente, mas ela se segurou.
— Você não fez isso, certo? — ela sussurrou.
Alex balançou a cabeça ferozmente. — Claro que não. Eu nunca...
Ava, eu nunca poderia matar alguém. Você me conhece melhor do que
isso.
Ava assentiu. — Eu sei. Eu só precisava ouvir você dizer isso. —
Ela se sentou no assento duro. — Mas por que você foi lá? Por que você
mandou uma mensagem de texto para Granger? E o que aconteceu na
sua antiga escola?
Alex se sentou em frente a ela e se inclinou sobre a mesa para ela
antes de continuar. — Bem, eu vou começar com o mais fácil. Eu
mandei uma mensagem para Granger com Não toque na minha
namorada novamente ou eu vou te matar porque você me disse que ele
tinha batido em você, e então a polícia nem sequer acreditou em você. —
Ele baixou os olhos. — Sinto muito. Foi estúpido. Eu apenas... me senti
tão impotente, sabe?
Sim, Ava pensou. Eu sei.

2 Linebacker: Posição do futebol.


— Me desculpe eu nunca ter lhe dito sobre o que aconteceu na
minha antiga escola — ele continuou. — Eu não podia, na verdade. Mas
eu bati naquele cara porque ele estuprou a minha ex-namorada.
Ava engasgou.
— Ela veio até mim logo depois que aconteceu — ele continuou, —
e ela me implorou para não contar a ninguém. Seus pais eram loucos, e
eles teriam enlouquecido se descobrissem que ela não era... seja como
for. Eu não contei a ninguém. Mas eu não podia simplesmente deixar
para lá, tampouco. Eu não ia contar a ninguém seu segredo, mas
aquele idiota merecia pagar por aquilo que ele tinha feito. Quero dizer,
eu vi os hematomas sobre ela. — Ele balançou a cabeça e fechou os
olhos com a lembrança.
Ava exalou lentamente. Ela queria tanto acreditar nele, e ela
definitivamente poderia se identificar com a forma como ele queria
resolver o assunto com suas próprias mãos com o cara que tinha
machucado sua ex — ela e as outras tinham feito isso com Nolan, afinal
de contas. Mas ela percebeu que ela ainda estava com muita raiva,
também. — Ok. Mas por que você disse aos policiais que você me viu
naquela noite?
— Porque eu vi você. — Alex desviou o olhar. — E você não estava
exatamente... vestida. Eu estava chateado.
Ava olhou para ele. — Então, você assumiu o pior, sem me
perguntar?
Ele ergueu as mãos. — Não, eu não liguei para eles até mais tarde.
Eu vou explicar. Mas Ava... o que você estava fazendo lá?
Ava exalou e se preparou. — Não era o que parecia — ela começou,
com a voz trêmula.
— Então me explique o que era.
Seu coração estava batendo forte. Ela precisava confessar, ela
percebeu. Era a única maneira deles poderem reconstruir a confiança
que uma vez tinham tido. Mas ela poderia fazer isso? Ela olhou para
ele. — Tudo bem — ela disse calmamente. — Eu vou dizer a você. Mas
você não vai gostar.
Alex assentiu, mas um nervoso olhar atravessou seu rosto. — Ok.
— Você se lembra do que Nolan fez comigo no segundo ano? Os
rumores que ele iniciou sobre eu dormir com os professores para obter
notas mais elevadas? — ela disse, e Alex balançou a cabeça novamente.
— Bem, eu não era a única vítima de seu assédio moral, não chega nem
perto. Algumas das outras meninas e eu começamos a conversar na
aula de filmografia, nesse dia nós assistimos O Caso dos Dez Negrinhos.
Ava ganhou confiança enquanto falava, encorajada pela sensação
de puro alívio que ela sentiu apenas ao dizer as palavras em voz alta.
Ela disse a Alex sobre a brincadeira que tinham feito com Nolan, e como
alguém tinha utilizado essa oportunidade para matá-lo. Que elas de
repente pareciam culpadas — realmente, realmente culpadas — pela
morte de Nolan. Ela disse a Alex como Granger tinha batido nela
quando ela foi para sua casa para ajudar com seu trabalho. Alex fez
uma careta e fechou os olhos nessa parte.
Então ela lhe contou sobre as fotos e mensagens que ela tinha
encontrado no celular de Granger — e que Nolan tinha estado
chantageando-o. — Uau — disse Alex, um pouco chocado. — Aqueles
dois mereciam um ao outro.
— Totalmente — disse Ava. Ela explicou que elas tinham ido à casa
de Granger para procurar evidências que pudessem usar contra ele,
mas ele chegou em casa antes que elas pudessem sair. Finalmente, as
bochechas de Ava queimaram, e Ava descreveu que, em um esforço
para salvar suas amigas, ela sacrificou seu último resquício de
dignidade e enganou Granger para ele pensar que ela queria dormir
com ele. Quando ela mandou-o tomar um banho, todas elas tinham
escapado, embora Ava tinha corrido para o quintal e desenterrou o pen
drive com o comprovante da chantagem de Nolan, que Granger tinha
enterrado. Em seguida, ela tinha se juntado as outras no carro. Que foi
exatamente quando Alex a viu correndo pelo gramado, o vestido ainda
meio desabotoado.
— Eu me sinto mal só de lhe dizer tudo isso — disse Ava, sua voz
presa. — Eu me odeio por colocar essa coisa toda em ação em primeiro
lugar.
Alex balançou a cabeça. — Eu gostaria que você tivesse me
contado sobre a brincadeira, mas eu entendo por que você fez isso.
Nolan foi realmente um merda para você. E Ava. — Ele olhou nos olhos
dela. — Nada do resto disso é culpa sua.
Os lábios de Ava se separaram. — Obrigada — ela sussurrou. Era
incrível quão calmamente Alex estava aceitando tudo isso. Ela esperava
muito pior.
— Então, todas vocês estavam lá — disse Alex. — E todas vocês
saíram?
— Sim — Ava assentiu. — Por quê?
— Bem — disse Alex lentamente. — Eu vi você sair. Mas então eu
vi alguém correr de volta pelo gramado para a casa de Granger depois.
— Ele parecia apologético. — Eu achei que era você de novo.
Ava franziu a testa. — Eu fui para casa. E tomei um longo banho
quente.
Alex passou a mão pelo cabelo encaracolado e lançou-lhe um olhar
envergonhado. — É por isso que minhas impressões estavam na porta
de Granger. Eu corri para lá quando eu achei que você tinha voltado. —
Ele se mexeu na cadeira de metal. Ava notou pela primeira vez como a
camisa laranja da prisão pendia solta nele. — Eu queria pegá-la, mas a
porta estava trancada. Então eu ouvi um grito, e eu pensei que era você
gritando, e eu fiquei tão assustado. Eu pensei que talvez ele... — Alex
engasgou, em seguida, recuperou o controle de sua voz. — Eu tive medo
que ele tivesse feito algo. Com você. Foi quando eu chamei a polícia. Eu
disse a eles que eu tinha visto você entrar e que havia gritos. Mas
quando os policiais apareceram, Granger estava morto, e quem quer
que estivesse lá realmente se foi.
Ava olhou para ele, com o coração batendo forte. — E você não viu
quem era?
— Não. — Alex parecia frustrado. — Ela saiu sem me ver.
— Você tem certeza que era uma menina, no entanto?
— Definitivamente. Ela usava um capuz, ou talvez um gorro. Mas
ela tinha o corpo de uma menina, eu tenho certeza disso. Eu... eu
pensei que talvez você tivesse pego um casaco e voltado.
Ava passou a mão pela testa, tentando processar o que ele disse a
ela. — Você não disse isso a polícia?
Ele olhou para a mesa. — Claro que eu disse. Mas eles não
acreditaram em mim. Eles pensam que eu inventei a outra garota para
me cobrir pelo assassinato.
— Mas e quanto as impressões sobre a faca da cozinha? As suas
não estão lá, certo?
Ele deu de ombros. — Aparentemente não há impressões sobre a
faca. Quem fez isso estava usando luvas.
— Oh meu Deus — Ava sussurrou. Ela se inclinou para trás,
sentindo-se mal. As coisas estavam ainda mais confusas do que antes.
Ela não tinha ideia de como se sentir.
Alex se inclinou para frente e tomou as duas mãos de Ava nas
suas. O guarda pigarreou sugestivamente, e Alex endireitou-se
novamente. — Eu sinto muito, Ava. Eu deveria ter confiado em você. Eu
não deveria ter escondido nada disso de você.
— Eu não deveria ter escondido nenhum segredo de você, também.
— Ava estudou seus olhos profundos castanhos, sua pele lisa e feições
perfeitas por um momento. Ela tinha sentido tanta falta dele, era
fisicamente doloroso. — E eu te perdoo — ela sussurrou.
Alex deu um sorriso amargo. — Eu te perdoo — ele sussurrou de
volta. — E, por enquanto, isso é tudo que importa.
Eles sustentaram o olhar do outro por um longo momento. Havia
tantas coisas que Ava desejava que ela pudesse desfazer, mas por
agora, ela estava apenas feliz por ter Alex de volta. Mas ela realmente
não o tinha de volta: Ele ainda estava na prisão. E até que ela
descobrisse quem tinha realmente matado Granger, ele ficaria lá.
Capítulo 17

J
ulie estava sentada sobre o posto de salva-vidas, girando seu
apito. Ela estava no Beacon Rec Center, onde ela trabalhava,
observando uma piscina cheia de crianças abaixo. De repente,
uma menina em um tanquíni rosa olhou para ela e apontou. — Garota
dos gatos! — ela gritou.
Julie se encolheu. Como aquela menina sabia sobre ela?
— Garota dos gatos! — um menino se juntou, saindo da piscina e
ficando de pé na parte inferior da cadeira do salva-vidas. — Garota dos
gatos suja!
De repente, toda a piscina estava em alvoroço. Todo mundo estava
rindo, todas as crianças, as pessoas nadando voltas e até os outros
salva-vidas que patrulhavam o espaço. Quando Julie olhou para si
mesma, ela não estava usando a sua blusa Juicy e shorts Adidas, mas
sim uma camisola aparentemente feita de pêlo de gato. E o que ela
estava fazendo aqui, afinal? Ela não tinha prometido não sair de casa
novamente, até mesmo dizendo que estava doente no trabalho? E
quando ela olhou para a piscina, uma menina estava lá, com a boca
aberta em uma risada alta e malvada. Era Ashley. Ela estava ao redor
das crianças, apontando para Julie. — Ali está a garota dos gatos! —
Ashley provocou. — Vão pegá-la!
— Não! — Julie gritou. Ela olhou em volta procurando Parker,
quem ela sabia, por inerência, que devia estar por perto. — Parker,
socorro!
Assim que as crianças correram para Julie, ela acordou, atirando-
se em linha reta em seu carro. Ela olhou em volta. Era terça-feira, no
final da tarde.
O celular dela, que estava de alguma forma em sua mão, estava
tocando. Ela olhou fixamente para ele, ainda desorientada. O sonho
parecia demasiado real. Ela odiava quando isso acontecia.
O celular tocou novamente. Era um número local, um que Julie
tinha visto antes, mas não conseguia identificar. — Alô? — ela
resmungou ao telefone, com a cabeça ainda difusa.
— Senhorita Redding? — uma voz severa entoou.
Ela piscou com força. A voz era familiar, mas seu cérebro estava
muito confuso para saber o porquê. — Sim?
— Aqui é o detetive Peters. Eu deduzi que você não estava na
escola hoje.
— Isso mesmo — Julie respondeu cautelosamente, ficando mais
desperta e atenta. Desde quando os detetives de homicídios se
preocupam com a evasão escolar?
— Senhorita Redding, eu vou precisar que você venha até a
delegacia. Suas amigas estão a caminho também. Posso mandar um
carro patrulha pegar você, se você precisar. Eu estou supondo que você
está em casa?
— Uh, obrigada. Quero dizer, não, isso não será necessário. — Ela
esfregou os olhos com a mão livre. — Isso é para quê? — ela repetiu.
— Eu vou explicar tudo quando você chegar aqui. O que eu sugiro
é que você faça rapidamente. — Ele fez uma pausa. — E Julie... — Sua
voz de repente mudou de profissional e firme para obscura e
ameaçadora.
— Sim? — ela perguntou nervosamente.
— Nem sequer pense em não vir. — Ele desligou antes que ela
pudesse responder.
Trinta e cinco minutos mais tarde, Julie tropeçou para a delegacia
de polícia em moletom, um casaco com capuz volumoso e tênis. Seu
cabelo estava torcido em um coque frouxo empilhado em cima de sua
cabeça. Ela não tinha nenhuma maquiagem e ela não podia se importar
menos. O que isso importava, de qualquer maneira? Tudo que alguém
via quando olhava para ela era pêlo de gato, como naquele sonho.
O detetive Peters estava no lobby, coçando o queixo pontudo, com
um olhar sério em sua face. Ele tinha olheiras sob os olhos profundos e
migalhas de fast-food em sua camisa. Ele parecia abatido, como se
tivesse estado trabalhando todas as noites desde que Nolan morreu.
As outras meninas se amontoaram nas proximidades, parecendo
tão confusas e preocupadas como Julie se sentia. Julie ficou aliviada ao
ver Parker lá, seu capuz puxado para baixo sobre o rosto. Ela parecia
menos perturbada do que ela tinha estado no estacionamento da escola
no dia anterior, depois que Ashley tinha feito a brincadeira com Julie,
mas Julie poderia dizer pela forma como ela passou de um pé para o
outro e apertou sua mandíbula que ela estava tensa. Julie encontrou o
olhar de sua amiga, e Parker olhou de volta. Julie se perguntou onde
Parker passou a noite — ela não tinha nem aparecido na casa de Julie.
Na verdade, Julie não tinha falado com ela desde a brincadeira com a
areia de gato fora da escola. Parker tinha rejeitado suas ligações
novamente. Isso estava começando a ficar muito frustrante.
Então Julie pôs os olhos em volta das outras. O que está
acontecendo? ela murmurou, erguendo as sobrancelhas. Caitlin deu de
ombros. Mac franziu a testa.
— Agora que vocês todas estão aqui — Peters disse rispidamente,
— vamos em frente.
Ele levou-as através do mesmo labirinto de mesas e cubículos que
tinham passado no outro dia, para a mesma sala de interrogatório com
o mesmo espelho unidirecional. — Sentem-se, senhoritas.
Parker se sentou perto da porta, e Julie sentou-se ao lado dela.
Peters sentou numa cadeira na extremidade oposta da mesa. Seu couro
cabeludo era visível através de seu cabelo quando ele folheou uma
pasta de papel pardo recheada sobre a mesa. Então ele olhou para cima
e moveu lentamente seu olhar em torno de seu meio círculo, estudando
uma por uma.
Finalmente, ele falou. — Alex Cohen foi liberado da custódia.
Ava deixou escapar um suspiro. — Isso é maravilhoso! O que
aconteceu?
A expressão de Peters estava em branco, uma cara de pôquer
perfeita. — O que vocês meninas devem estar realmente preocupadas é
que todas as evidências estão apontando para vocês.
A cabeça de Parker disparou para cima, e Julie colocou uma mão
fria em seu pulso para acalmá-la. Caitlin e Mac audivelmente engoliram
em seco. O rosto de Ava caiu. O coração de Julie começou uma batida
constante contra suas costelas, e sua cabeça girou um pouco. Ela
estava esperando por isso, no entanto. Não estava?
— Depois de terminada a investigação forense, os seus
envolvimentos no crime parecem mais claros do que nunca — o detetive
continuou. — Suas impressões estão por toda a casa. — Ele parou por
um momento, deixando suas palavras serem absorvidas. — Se vocês
mataram Hotchkiss, então talvez Granger estava em cima de vocês. Em
seguida, vocês precisavam se livrar dele para que ele não falasse. — Ele
bateu sua caneta na mesa, clicando e desclicando no botão na
extremidade. — Agora — o detetive terminou, — alguém quer me dizer a
verdade, de uma vez por todas? Se vocês falarem agora, as coisas serão
muito mais fáceis para vocês. Eu sugiro que vocês nos digam o que
vocês sabem.
Julie não se atreveu a olhar para qualquer uma das outras
meninas. Ela podia sentir Parker praticamente vibrando com raiva e
frustração no assento ao lado dela. Não diga nada, ela quis dizer as
outras meninas. Porque o que elas poderiam dizer? Tudo o que tinham
feito as fazia parecer culpadas. Elas estavam morrendo de vontade de
saber se a polícia tinha encontrado a nota no bloco amarelo, a que
descrevia como elas matariam Nolan e todas as outras pessoas. Ela
rezou para que eles não tivessem.
Peters se voltou para Julie. Seus olhos se encontraram por um
momento antes que ele olhasse para a mão acariciando o braço de
Parker. Sua expressão era de estranheza, por um momento, então ele
anotou uma nota rápida na pasta. Depois de mais um minuto de
silêncio, ele respirou. — Tudo bem, senhoritas. Nós vamos fazer as
coisas da maneira mais difícil.
Ele se levantou da cadeira, deu um passo em frente a sala, e fez
sinal para alguém fora da porta. Uma mulher de meia-idade em óculos
de lentes grossas, um terninho terrível, e sapatos de salto meio-altos
entrou rapidamente, com os lábios apertados, e acenou com a cabeça
na direção das meninas.
— Esta é a Dra. Rose — disse Peters. — Ela é uma traçadora de
perfis psicológicos, e ela vai falar com cada uma de vocês uma por uma.
Então vamos ver se suas histórias correspondem. — Ele olhou
atentamente para todas elas. — Eu sei que vocês estão se colocando em
uma frente unificada, mas vocês não sabem tudo umas sobre as outras.
E a confiança é uma coisa complicada.
Ava franziu a testa. — O que você está insinuando? Que uma de
nós fez isso e não está dizendo as outras?
Peters encolheu os ombros e sorriu. — Você disse isso, não eu.
Ele virou-se para sair da sala. Pouco antes, ele parou à porta, girou
de volta e olhou para Julie. — Vamos começar com você — ele disse
sem rodeios, com um aceno da Dra. Rose. Então ele fechou a porta
firmemente atrás dele.
Julie podia sentir os olhos das outras meninas sobre ela, mas ela
não disse nada. Ela agarrou o braço de Parker e olhou para a mesa.
— Julie Redding, certo? — disse a Dra. Rose vividamente, fixando
seu olhar constante sobre Julie. Seus olhos pareciam enormes por trás
de seus óculos, como se estivesse segurando uma lupa até seu rosto. —
Vamos para o meu escritório. O resto de vocês, eu vou ligar para
marcar.
A mão de Ava levantou. — Os nossos pais sabem sobre isso?
— Sim, após as entrevistas vamos ter que dizer a eles — disse a
Dra. Rose. — Agora, Srta. Redding, venha comigo.
A Dra. Rose girou nos calcanhares e saiu pela porta. Julie engoliu
em seco e levantou-se, também. Ela olhou para Parker, e sua amiga lhe
deu um aceno encorajador. — Vai ficar tudo bem — ela sussurrou. Mas,
em seguida, Julie olhou para Ava, Caitlin e Mac. Elas pareciam
aterrorizadas.
Julie virou-se para Parker. — Você me encontra lá fora depois? —
ela sussurrou. Parker assentiu com a cabeça, e as outras garotas se
entreolharam preocupadas. Julie se perguntou se deveria pedir-lhes
para encontrá-la, também, mas a Dra. Rose limpou a garganta com
impaciência antes que ela pudesse.
Julie seguiu a Dra. Rose por um longo corredor e para um pequeno
escritório mal iluminado. A sala estava praticamente nua, exceto por
um punhado de diplomas emoldurados agarrados às paredes, uma
mesa de metal com um tampo laminado de madeira falsa, e duas
cadeiras. Julie inalou, exalou. Um... dois... três. Ela se sentiu mais
calma imediatamente. Ela ainda conseguiu sorrir para a médica quando
se sentaram em ambos os lados da mesa grande.
— Tudo bem — disse a Dra. Rose. — Vamos começar.
Julie olhou ao redor do escritório. — Onde está o detector de
mentiras?
— Como é? — perguntou a Dra. Rose.
— Você não vai fazer um teste de detector de mentiras comigo ou
algo assim? — Julie agitou as mãos no ar enquanto falava.
— Não, Julie. Não é isso o que eu vou fazer. — A Dra. Rose tirou os
óculos e os colocou sobre a mesa entre elas. Ela parecia mais legal,
quase amigável. — Nós só vamos conversar.
Nós só vamos conversar. Por um momento, Julie pensou em contar
a Dra. Rose que ela já tinha um terapeuta, até que ela se lembrou que
Fielder era um grande idiota assustador. — O que você quer saber?
— Bem, para começar, diga-me um pouco sobre sua vida. Sua vida
em casa, quero dizer.
Parecia que Julie tinha uma pedrinha alojada em sua garganta.
Porque que a mulher queria saber isso? Ela rodeou através de uma
série de mentiras, mas depois percebeu que elas provavelmente não a
levariam a lugar nenhum. A Dra. Rose certamente sabia de tudo, de
qualquer maneira. E se Julie mentisse, ela a veria como pouco confiável
— mais provavelmente como uma assassina.
— Uh, minha mãe e eu nos mudamos para aqui da Califórnia há
alguns anos atrás — começou Julie. — Minha mãe é... hum... ela tem
alguns... problemas.
A Dra. Rose assentiu e pegou um bloco de notas encadernado em
espiral branco. — E eles têm sido difíceis para você, não é?
Julie fez uma careta. Então a Dra. Rose sabia. Mas havia algo tão
amável em sua voz. Tão calmante. De repente, uma barragem desabou
do peito de Julie, e ela não conseguia formar as palavras rápido o
suficiente. — Ela é uma colecionadora. Uma séria, tipo, uma
acumuladora diagnosticável. Nossa casa é imunda, e eu acho que deve
haver vinte e seis ou vinte e sete gatos vivendo lá. E a minha mãe, ela é
simplesmente... realmente desajustada. E ela me odeia. Ela faz eu me
sentir como se eu fosse a causa.
A Dra. Rose assentiu, ouvindo atentamente. — E como é que tudo
isso faz você se sentir?
Julie considerou isso por um momento. — Humilhada.
Envergonhada. Eu não queria que ninguém em Beacon Heights
soubesse, porque quando as pessoas descobriram, na Califórnia, elas
foram... — Julie estremeceu. — Deus, elas foram tão cruéis. Eu era
apenas uma criança, sabia? Elas me chamaram de coisas ruins, e
ninguém as impediu. Nem os professores, nem seus pais. Foi... foi
horrível.
— E você estava com medo de que voltasse a acontecer aqui, não
foi?
— Sim. Então, eu tentei impedir desta vez.
— Como você fez isso?
Ela respirou fundo. — Eu mantive minha casa e o mundo exterior
totalmente separados; eu vivia duas vidas ao mesmo tempo. Eu nunca
convidei ninguém para a minha casa. Com exceção de Parker, ela sabia.
— Parker Duvall?
— Uh-hum. — Julie pigarreou. — Eu disse a Parker meu segredo.
E a partir de então, ela era bem-vinda. Mas não havia mais ninguém, eu
não podia arriscar que mais ninguém soubesse a verdade.
A Dra. Rose fez uma anotação no bloco de notas. — Continue.
Julie tentou espreitar para ver o que Rose tinha escrito, mas o
bloco estava fora de vista. — Então, hum, eu nunca namorei muito,
porque eu não poderia levar ninguém para lá. E funcionou, por um
longo tempo. Ninguém sabe, ao menos ninguém sabia, até o outro dia.
— Seus olhos se encheram de lágrimas.
A Dra. Rose fez mais algumas anotações. — O que aconteceu no
outro dia?
Julie soltou uma risada triste. — Ashley Ferguson. Foi o que
aconteceu no outro dia.
— Quem é Ashley?
— Ela é uma garota da escola que, tipo, me adorava, eu acho.
Vestia-se como eu, ela tingiu o cabelo como o meu. Ela me seguia ao
redor... era realmente estranho.
— Parece que ela realmente venerava você. Não é lisonjeiro em
algum nível?
Julie deu de ombros. — Eu acho que sim, talvez no início. Mas era
realmente demais. Quero dizer, ela apareceu no banheiro de um
restaurante quando eu estava em um encontro, roubou um batom
direto da minha bolsa.
A Dra. Rose rabiscou furiosamente. Julie estava tentada a se
inclinar e ver o que era importante o suficiente para anotar, mas ela
resistiu ao impulso.
— No outro dia, ela enviou um e-mail para a escola inteira dizendo-
lhes sobre... — Ainda era difícil dizer as palavras em voz alta. — Sobre
minha mãe. Sobre a minha casa. E sobre mim. Então agora todo
mundo sabe.
— E como é isso para você?
— É horrível. Eu não posso nem ir à escola. Bem, eu tentei ontem,
mas aquela v... quero dizer, Ashley encheu meu armário com areia de
gato. Ela é como um novo Nolan. — Assim que ela disse seu nome, Julie
se arrependeu.
Previsivelmente, as sobrancelhas da Dra. Rose levantaram. —
Nolan Hotchkiss?
Julie engoliu em seco, sua frequência cardíaca aumentando. Um...
dois... três... — Sim.
— Você está dizendo que Nolan fez coisas para você, assim como
Ashley?
Julie olhou para longe, estudando os quadros na parede. Letitia W.
Rose, PhD, da Universidade de Washington. — Não, ele fez coisas para
Parker. Eu o odiava pelo que ele fez. — A voz de Julie ficou rouca, e sua
garganta queimou com raiva. — Mas eu não queria matá-lo.
— Diga-me o que Nolan fez para Parker, Julie.
Julie suspirou. Ela repetiu essa história para a polícia muitas
vezes, e nunca ficou mais fácil contar. — Na noite em que o pai dela... a
atacou, ela estava em uma festa na casa de Nolan. Ela me ligou, e ela
estava gaguejando e parecia realmente confusa. Mas ela também
parecia assustada, como se ela estivesse fora de controle.
— O que ela disse?
— Ela disse: “Eu acho que ele me deu um pouco de Oxy”. — Julie
fez uma pausa. — Ela estava falando sobre Nolan, eles eram realmente
bons amigos. A coisa era, Nolan sabia que o pai dela era... detestável. O
pai de Parker batia nela o tempo todo, nada que ela fazia era bom o
suficiente. Drogas eram as coisas que o deixavam mais raivoso. Ele
ameaçou matá-la se ele a pegasse com elas. — Julie respirou. — Parker
achava que Nolan fez isso de propósito, como se ele achasse que seria
engraçado se seu pai a espancasse. — Ela apertou as mãos em punhos.
— Eu disse a ela que eu ia buscá-la e levá-la para casa. Ela estava tão
confusa quando eu cheguei na casa de Nolan. Ela me pediu para deixá-
la ir para a minha casa para que seu pai não a visse assim, mas, bem...
eu não tinha contado a ela sobre a minha... situação. Eu tinha medo de
deixá-la ir. Parker e eu éramos melhores amigas, mas ela era tão
popular. Eu estava com medo que ela me largasse se ela soubesse. —
Lágrimas de repente derramaram pelo seu rosto enquanto ela revivia a
memória. Parker tinha implorado e suplicado, e ela inventou uma
desculpa esfarrapada sobre como sua mãe estava dando uma festa e
não queria hóspedes. — Vai ficar tudo bem — ela disse a Parker,
enquanto ela dirigia para a casa de Parker, apesar dos protestos
drogados de Parker. Deus, Julie era uma idiota.
— Então você a levou de volta para a casa dela em vez disso — a
Dra. Rose terminou para ela.
Julie assentiu. Ela respirou fundo e encontrou forças para
terminar a história. — Essa foi a noite em que o pai dela... — ela vacilou
e fechou os olhos, desejando que ela pudesse afastar as memórias que
inundaram ela: dos meses que Parker tinha passado no hospital,
pontos cruzando seu rosto, pescoço e braços; os ossos quebrados de
Parker e membros inchados; Parker aprendendo a andar novamente.
Julie poderia ter evitado tudo isso se ela tivesse sido corajosa o
suficiente.
— Ela é minha melhor amiga, e eu deixei isso acontecer com ela. —
Julie balançou a cabeça e bateu os punhos em suas coxas. — Foi por
minha causa — ela sussurrou, sua voz cheia de raiva e autoaversão. —
Eu fui tão egoísta. Tudo o que importava era a minha reputação.
— Você não sabia o que iria acontecer, Julie. O pai de Parker fez
isso com ela, isso é culpa dele. Não sua.
— É legal da sua parte dizer isso — disse Julie. — Mas é realmente
verdade? É incrível que Parker me perdoou. Ela deve me odiar. — Ela
sentiu seu rosto enrugar. Eram coisas que ela nunca disse em voz alta,
nem para outro terapeuta, e nem para Parker. Talvez você não deveria
ter me perdoado. Eu sou inútil, afinal. Eu fiz isso com você. É minha
culpa.
A médica ficou em silêncio por um momento, mas seu olhar estava
no rosto de Julie. Parecia que ela estava pensando muito sobre algo. —
Então você sente que Parker a perdoou, Julie?
Julie atirou-lhe um olhar espantado. — Bem, com certeza. Quero
dizer, por que outro motivo ela ainda seria minha amiga? E eu nunca
vou deixar nada de ruim acontecer com ela novamente. Eu morreria
primeiro.
— Eu entendo. — A Dra. Rose deu a Julie um sorriso caloroso,
como se ela realmente entendesse. Então ela sentou-se ereta. — Então
você matou ou não Lucas Granger?
Julie se encolheu, surpreendida com a reviravolta rápida na
conversa. — Claro que não.
— E Nolan? Você o odiava, mas isso não foi você também?
— De jeito nenhum. — Julie pegou um fio solto em seu moletom.
— Eu não seria capaz de cometer um assassinato.
A Dra. Rose assentiu. — Não, eu não acho que você seria. Mas e
quanto a suas amigas?
Julie pestanejou. — O que tem elas?
— Você acha que elas seriam capazes?
Julie a olhou, tentando avaliar onde a Dra. Rose queria chegar.
Será que ela achava que uma das outras tinha feito isso? Ava? Parker?
Julie não podia suportar a ideia de Parker sendo questionada. — Claro
que não — ela disse com a voz rouca. — Nenhuma delas. — Mas pela
maneira como a Dra. Rose estava olhando para ela, ela começou a se
perguntar. Havia algo que ela e a polícia sabiam que Julie não sabia?
Ela tentou se lembrar de tudo sobre a noite que Granger morreu. Só
porque ela não tinha ido para a casa de Granger não significava que as
outras não tinham. Mas isso era uma loucura, certo? Ela não podia
começar a desconfiar delas agora.
— Ok. — A Dra. Rose se levantou. — Bem, isso foi muito útil. Eu
posso ter mais perguntas para você, então por favor, mantenha o seu
celular por perto. — Ela levantou-se e abriu a porta, estendendo o braço
para deixar Julie saber que ela estava livre para ir. — Obrigada pelo seu
tempo, Julie.
Julie levantou-se devagar, totalmente perplexa. Ela pegou sua
bolsa e passou pela médica. — Tchau.
Ela correu pelo corredor para o saguão, esperando encontrar
Parker esperando por ela, mas ela não estava lá. Frustrada, ela saiu
para a luz solar do final de tarde. Parker estava longe de ser vista. Julie
puxou o celular do bolso e discou o número de Parker. Direto para o
correio de voz. Por um breve segundo paranoico, Julie estava com medo
de que Parker tivesse ouvido tudo o que ela tinha dito sobre ela para a
Dra. Rose, incluindo o quanto Julie se culpava, e de repente ela decidiu
que ela culpava Julie também, e foi embora.
Ela esfregou os olhos, em seguida, foi para o carro dela. Por um
momento, ela ficou sentada no banco, não tendo certeza do que fazer.
Não havia nenhuma maneira de ela poder ir para casa. Ela não queria
falar com ninguém, tampouco. Então ela virou a ignição, saiu da vaga
do estacionamento, e simplesmente... dirigiu, em torno de pequenos
bairros, através do centro de Beacon, até mesmo perto do mar. Ela
realmente, realmente necessitava descontrair.
Mas a estrada não estava provando ser muito terapêutica, e depois
de circunavegar Beacon, ela ainda estava nervosa e ansiosa. Quando
ela olhou para o celular no banco do passageiro, ela percebeu que a tela
estava iluminada com dezenas de alertas do Instagram. Ela clicou no
aplicativo, e quando @ashleyferg marcou você em uma foto apareceu,
seu estômago girou.
Lentamente, ela clicou no Instagram. Era uma outra foto da casa
de Julie, mas desta vez, a van do Departamento de Serviços de Saúde
estava na frente dela. E havia um veículo com as palavras RESGATE
DE ANIMAIS DE BEACON impressas nas laterais. A foto mostrava os
funcionários e trabalhadores de pé na varanda ou transportando
transportadoras de gato para fora da casa. A mãe de Julie estava no
quintal, com a boca em um triângulo raivoso, seu cabelo bagunçado,
seu rosto mais insano do que nunca.
Julie engasgou. Quando isso tinha acontecido? Hoje? Então ela
olhou para a legenda.
Julie Redding, não mais a rainha dos felinos! #sem filtro.
Julie caiu sobre o banco atrás dela. — Oh meu Deus — ela
sussurrou. Ashley tinha chamado o controle animal para elas. Isso ia
ser um pesadelo. Esses gatos eram tudo com o que sua mãe se
preocupava... e agora eles estavam sendo levados embora. Isso
significava que a Sra. Redding iria concentrar toda a sua atenção em
Julie. Toda a sua ira.
Justamente quando ela pensou que sua vida não poderia ficar pior.
Aquela vadia.
Por alguma razão, a palavra ecoou em sua mente. De repente, ela
ouviu Parker dizendo isso ontem: Aquela vadia vai pagar, com aquele
olhar horrível no rosto. Ela olhou novamente para a postagem no
Instagram. Ashley tinha postado quase uma hora atrás. Parker já tinha
visto? Aquela vadia vai pagar. Eu vou me certificar disso. E mesmo
quando Julie disse que não poderia fazer isso, Parker tinha dito, eu
queria que nós pudéssemos. Eu queria, apenas uma vez, que nós
pudéssemos.
Oh, Deus. De repente Julie se perguntou se ela sabia exatamente
onde Parker foi logo em seguida. Ela estava se vingando?
Julie clicou em seu celular, ligando para o número de Ashley.
Ninguém atendeu. Ela rapidamente logou no site de Beacon High dos
estudantes e encontrou o endereço da casa de Ashley. Ela correu para
seu carro e para fora do estacionamento, apenas obrigando-se a
abrandar para que ela não ganhasse uma multa. Ela ligou para Parker
novamente e novamente. Ainda sem resposta. — Parker, onde você
está? — ela gritou. — Olha, eu espero que você não esteja surtando
sobre o Instagram. Porque eu não estou. Eu estou bem. Ok?
Ela tomou a direita, em seguida, a esquerda, em seguida, outra
esquerda. Um monólogo constante martelava em sua cabeça. Parker
provavelmente não está na casa de Ashley. Isso nem sequer faz qualquer
sentido, ela não é a mesma garota de antes, a menina que encarava as
pessoas e agitava as coisas. Você está sendo louca.
Julie bateu a porta do carro e correu até a entrada da casa de
Ashley. A porta da frente estava aberta. Quando ela correu através dela,
Julie ouviu um grito.
Adrenalina atravessou seu corpo, e ela seguiu o som no andar de
cima, no corredor e até um quarto. O quarto de Ashley tinha
exatamente a mesma colcha que Julie tinha, mas na versão queen —
Julie nem parou para pensar em como Ashley tinha descoberto isso. Ela
deu um passo mais para dentro do quarto e viu ondular um vapor da
porta do banheiro aberta, onde o chuveiro estava funcionando a todo
vapor. Ela invadiu o banheiro e viu a cena. Havia uma garrafa de
shampoo Aveda de alecrim e hortelã, a mesma marca usada por Julie,
caída no azulejo. Uma escova de dentes e um copo estava caído no
chão, também, assim como o que parecia ser uma estatueta de
cerâmica quebrada de uma vaca. Alguém os tinha jogado lá? A cortina
do chuveiro tinha sido arrancada da haste, mas a água do chuveiro
ainda estava fluindo em plena explosão. Então, Julie olhou para a
banheira. E foi então que ela viu.
Ashley.
Julie tinha certeza que ela gritou. Apesar de estar na banheira,
Ashley usava um roupão rosa distorcido, e ela estava encharcada. Seu
cabelo molhado escorria até a metade para o ralo. Seus dedos estavam
roxos. Seus olhos estavam fechados. Havia arranhões em seus braços, e
uma contusão se formando em sua têmpora.
A mente de Julie entrou em velocidade. Ela agachou-se ao lado
dela e pressionou os dedos contra a garganta de Ashley, em busca de
um pulso... mas não havia nada. Ela segurou a mão na frente da boca e
do nariz de Ashley. Sem fôlego, nem mesmo o farfalhar mais fraco.
— Oh meu Deus, oh meu Deus — disse Julie, olhando ao redor.
Ashley tinha escorregado? Mas quanto mais ela via a cena, mais parecia
que tinha sido uma luta — havia marcas de unha no papel de parede,
revistas estavam espalhadas por todo o chão, e, é claro, havia o fato de
que Ashley estava deitada na banheira em vez do tapete do banheiro.
Parker tinha feito isso?
Não pense nisso, ela disse a si mesma, mas tudo que Julie podia
pensar era quão determinado o rosto de Parker estava no outro dia. É
só dizer a palavra, ela disse. Só que Julie não tinha dito a palavra...
tinha? Seus pensamentos estavam confusos de repente. Tudo o que ela
podia pensar era naquele sonho louco que ela teve, aquele em que ela
gritou por socorro para Parker. Ela estava segurando seu telefone
quando ela acordou — e se ela tivesse ligado para Parker durante o
sono? Então ela pensou no Instagram de Ashley novamente. E se Parker
tinha visto isso e simplesmente... surtou? E se Parker tinha feito isso
por ela, matado por ela?
E então, como um flash, Julie estava de volta na aula de
filmografia naquele dia na sala de aula. Parker sorriu para o grupo e
disse: Ou Ashley Ferguson. Eu gostaria de vê-la escorregar e rachar a
cabeça enquanto ela está no banho lavando seu cabelo imitador.
Não. Não podia ser.
Julie voltou ao presente. Se Parker tinha feito isso, então suas
impressões digitais estavam, provavelmente, por todo o banheiro, e
agora as de Julie também estavam. Ela não podia chamar a polícia,
porque ela nunca poderia fazer isso com Parker. Ela sabia o que
precisava fazer, e ela sentiu uma onda de força dentro dela que ia deixá-
la fazer isso.
Julie tomou algumas respirações, se firmando, em seguida,
levantou-se dos joelhos e deslizou para frente. Ela cruzou os braços
pesados de Ashley sobre o peito e endireitou suas pernas. Então ela
olhou ao redor do banheiro para as ferramentas de que ela precisava.
Julie ia se livrar de todas as provas — cada gota, cada impressão
digital. Até mesmo do corpo.
Isso era o que você fazia por suas melhores amigas.
Capítulo 18

N
a quarta-feira, Mac entrou no estacionamento da escola e pegou
seu telefone. Ela estava pensando em uma determinada música
todo o caminho até aqui, um remix de Rossini e Rihanna, seu
compositor favorito e sua música prazer secreto favorita, e ela queria
assistir o clipe no YouTube novamente. Mas quando ela finalmente
encontrou o e-mail que continha o link, ela percebeu por que ela estava
pensando nessa música em particular: Blake tinha enviado algumas
semanas antes, quando eles estavam meio que saindo. Achei que você ia
gostar disso, ele tinha escrito, pontuando o e-mail com um XO.
— Pare! — ela disse para si mesma em voz alta, batendo as mãos
sobre o volante como um extra. Ela tinha convencido sua mente que ela
não daria a Blake outra chance, e ela tinha que se manter firme. Por
que isso era tão difícil?
Mas talvez houvesse outras razões para ela estar se sentindo um
pouco insegura esta manhã. Ela se encontrou com a Dra. Rose, a
traçadora de perfis psicológicos, ontem à tarde. Duas vezes Mackenzie
teve de se sentar em suas mãos para impedi-las de tremer, e três vezes
ela se pegou cantarolando uma parte de Dvořák, algo que ela fazia
quando estava nervosa. A Dra. Rose fez um monte de perguntas soando
benignas sobre a autoestima de Mac, seu envolvimento com Nolan (que
ela totalmente minimizou), se ela gostava das aulas de filmografia de
Granger, e por que ela sentiu a necessidade de seguir suas amigas para
a casa dele na noite em que ele foi morto. Mac não conseguia sequer
lembrar o que ela disse, ela tinha estado tão nervosa.
E então, estranhamente, a Dra. Rose perguntou a ela sobre as
outras garotas. Ava parecia muito enrolada, a médica comentou — ela
parecia traumatizada sobre a morte de sua mãe? O mesmo com Caitlin
— ela perdeu seu irmão, esse tipo de coisa tinha que deixá-la com raiva,
certo? E Julie tinha sua vida em casa perturbada, e Parker, também...
— Parece que você está envolvida com algumas amigas que têm
algumas bagagens sérias — concluiu a médica. — E você sabe, as
pessoas que têm... problemas, bem, elas podem agir de outras
maneiras.
Mac tinha olhado para ela. — Você quer dizer matando pessoas? —
ela perguntou.
A médica só piscou. — Claro que não — ela disse. — A menos que
seja isso o que você pense.
Mac não sabia o que pensar. Ela deveria suspeitar das outras? De
certa forma, fazia sentido: todas elas estavam lá naquela conversa na
aula de filmografia. E se uma delas matou Nolan, é claro que ela iria
matar Granger para calá-lo — e envolver as outras meninas como
cúmplices involuntárias. Caitlin odiava Nolan mais do que qualquer
uma delas. E quanto a Ava? Nolan tinha começado aqueles boatos
horríveis sobre ela, e Granger tinha batido nela. Talvez ela tivesse um
lado secreto violento.
Mas, em seguida, Mac sacudiu o pensamento. Estas eram suas
amigas. Elas não eram assassinas. Sua única esperança era que elas
poderiam passar por essas entrevistas sem levantar suspeitas e mais
perguntas sobre o seu envolvimento. A última coisa que ela queria era
que Juilliard descobrisse o que estava sendo questionado ou que seus
pais se preocupassem mais do que precisavam.
Suspirando, ela saiu do carro e começou a atravessar o
estacionamento e olhou para as outras mensagens em seu telefone.
Havia uma de Oliver, um simples Você está bem? Ela estremeceu, não
sabendo como responder, e decidiu não responder de jeito nenhum.
Quando ela fez seu caminho em direção a seu armário, Mac notou
pequenos grupos de crianças recolhidos no corredor. Elas estavam
sussurrando umas para as outras, em seguida, se separando e
formando novos grupos e sussurrando um pouco mais. O ar estava
cheio com uma carga elétrica. O que estava acontecendo? Então Mac
notou Alex Cohen em seu armário, com a cabeça baixa. Talvez essa
fosse a razão de toda a murmuração — Alex tinha sido acusado de
assassinato e passou esta semana na prisão, e agora ele estava de volta.
Mesmo que Mac acreditasse que Alex não era culpado e estivesse feliz
por Ava que ele tinha sido inocentado, ela ainda se sentia desconfiada
dele. Ele havia chamado a polícia para elas.
Ela abriu seu armário e começou a vasculhar através de seus
livros. Nissa Frankel abriu seu armário alguns centímetros longe
quando ela trocou frases rápidas com Hannah Broughton. — Ela
simplesmente se foi — Mac ouviu seu sussurro. — Foi isso o que sua
mãe disse a polícia.
As orelhas de Mac ficaram atentas. Quem foi embora? Julie? Mac
sabia que Nissa e Julie eram amigas. E se Julie ficou sobrecarregada de
falar com a Dra. Rose ontem e apenas... se foi?
Hannah colocou as mãos nos quadris. — Você acha que ela foi
sequestrada? Eu ouvi que o quarto dela estava, tipo, totalmente
impecável. O que era realmente estranho, aparentemente ela é uma
total imunda.
Mac colocou sua boca em uma linha. Julie definitivamente não era
uma imunda...
Nissa fechou seu armário com um clique alto. — Você acha que ela
fugiu?
Hanna balançou a cabeça com firmeza. — Se Ashley estivesse
fugindo, ela não teria, pelo menos, levado seu telefone? Você sabe que
ela não pode viver sem ele.
Os olhos de Mac se arregalaram. Ashley?
Ela virou-se para longe das meninas, pegou o telefone e conectou
no site de notícias local. Com certeza, a história principal era
Adolescente Local Desapareceu de Casa. A história explicava como os
pais de Ashley Ferguson tinham visto que ela estava desaparecida
quando chegaram em casa do trabalho. O carro dela estava na calçada
e seu telefone em seu quarto, carregando. Eles esperaram algumas
horas, pensando que ela tinha ido apenas dar uma corrida, antes de
finalmente chamar a polícia em torno das 22:00 horas.
Uma sensação de horror inundou Mac até que seu cabelo
praticamente se arrepiou. Ashley tinha estado na lista.
Batendo seu armário fechado, ela virou-se pelo corredor e viu
Caitlin e Ava falando em um amontoado no canto. Mac entrou em seu
círculo. — Ok, que diabos? — ela sussurrou.
— Eu suponho que você ouviu? — perguntou Ava, lançando seu
olhar para trás e para frente.
Mac assentiu com a cabeça. Quando ela levou a mão ao rosto, ela
percebeu que seus dedos tremiam. — Não devemos falar sobre isso aqui
— ela disse, olhando ao redor do corredor ocupado. — Há tantas
pessoas...
— Mas, gente — interrompeu Caitlin, sua voz estridente. — O que
está acontecendo?
Mac pegou um fio solto na manga de seu suéter. — Nós não
devemos assumir o pior — ela disse em voz baixa. — Pode ser
completamente alheio, ok? Ou Ashley pode ter fugido. Quero dizer, nós
dissemos que ela iria... vocês sabem... no chuveiro, certo? E não foi isso
o que aconteceu. Ela simplesmente desapareceu.
Mas quando elas se entreolharam, parecia claro que não era o que
nenhuma pensava. Caitlin começou a tremer. — Isso é nossa culpa —
ela sussurrou. — Nós dissemos esses nomes. E agora todo mundo está
morrendo.
— Pare. — Ava pegou o braço dela. — Nós realmente, realmente
não podemos falar sobre isso aqui.
— Talvez devêssemos nos entregar — disse Caitlin freneticamente,
sua voz aumentando. Estava claro que ela iria falar sobre isso ali,
então, não iria esperar. — Antes de qualquer outra pessoa ser morta.
Antes de qualquer outra coisa acontecer. O que vocês acham?
— E o que de bom isso iria fazer? — Ava sibilou. — Você realmente
acha que quem está fazendo isso vai parar assim que estivermos na
prisão?
— Talvez! — gritou Caitlin, sua voz fazendo virar algumas cabeças.
— Shh — Mac advertiu ela, esperando que os estudantes que
passavam assumissem que elas estavam falando sobre um teste de
história futuro. Ela inclinou-se para as meninas. — Você ouviu a si
mesma? — ela disse a Caitlin. — Você quer jogar sua vida fora por uma
estúpida conversa que tivemos? Como se nós fôssemos as primeiras
pessoas que falam sobre pessoas que querem mortas. Sem essa, Caitlin.
— Nós somos as primeiras pessoas cujas pessoas que queremos
mortas realmente acabaram mortas! — sussurrou Caitlin, sangue
bombeando em suas têmporas.
— Vamos pensar sobre isso logicamente — disse Mac, com a voz
baixa. — Talvez possamos desvendar isso nós mesmas. Devíamos
questionar algumas das meninas com que Granger estava brincando.
Quero dizer, elas tinham motivos para matar Granger, certo?
Ava assentiu. — Alex disse que viu uma menina ir para a casa de
Granger alguma hora naquela noite, depois que saímos. Poderia ter sido
uma delas.
— Isso cobre Granger — Caitlin concordou. — Mas e quanto a
Ashley? O pai de Parker? Não faz sentido.
— Existe alguém que faz sentido? — Ava estalou.
Mac não pôde evitar — seus olhos arremessaram em direção a Ava,
desconfiados. Ela pensou na sua própria conversa com a Dra. Rose. Era
difícil não ter algumas hipóteses. Ela mal conhecia essas meninas.
Ava endureceu. — Eu não machuquei Granger — ela disse na
defensiva, como se estivesse lendo a mente de Mac. — E eu não fiz nada
para Ashley.
— Nem eu! — disse Caitlin rapidamente. Ela olhou para Mac com
desconfiança súbita. — Onde você estava ontem?
A boca de Mac caiu aberta. — Por que eu iria machucar Ashley? —
ela perguntou, espantada. — Eu nem conheço ela!
Ava deu de ombros. — Por que qualquer uma de nós o faria? Talvez
você sabia que Ashley ouviu a conversa na aula de filmografia. Talvez
você teve que pará-la antes que ela espalhasse a notícia, da mesma
maneira que ela espalhou esse boato sobre Julie. Você tem muito a
perder, Mackenzie. Você acabou de entrar em Juilliard. Você precisa
proteger seu futuro, não é?
— Você está louca? — gritou Mac. Era uma coisa ela suspeitar das
outras, mas como elas poderiam suspeitar dela? Ela apontou para Ava.
— Eu poderia facilmente dizer a mesma coisa sobre você. E o seu
namorado? Ele tem um histórico de violência!
Os olhos de Ava brilharam. — Há muito mais na história do que
você sabe. Alex bateu naquele cara porque ele estuprou alguém.
— Sim, mas Granger bateu em você — Caitlin apontou, quase não
ouvindo a explicação de Ava. — Faz o maior sentido você querer vê-lo
morto.
— Eu sinto muito, mas nós esquecemos que Nolan levou seu irmão
ao suicídio? — Ava sibilou, os lábios se curvando. — Você faz mais
sentido ter feito isso. Você tem algum cianeto com você, Caitlin?
A boca de Caitlin caiu aberta. — Como você se atreve! — Ela estava
prestes a avançar em Ava, mas Mac pegou o braço dela.
— Apenas esperem um minuto! — Mac sentiu-se encaixar em um
quadro mais racional da mente. — Todas tomem um fôlego, ok? É claro
que todas as coisas que os policiais disseram para nós está mexendo
com nossas cabeças. Mas será que isso realmente faz sentido? — Então
ela olhou ao redor. Ava e Caitlin estavam tensas. Elas não fizeram isso,
ela disse a si mesma. Ela queria tanto acreditar nisso.
— E quanto a Julie? — disse Caitlin suavemente. — Alguém sabe
onde ela está?
— Eu tentei ligar para ela esta manhã, quando ouvi a notícia sobre
Ashley. — A garganta de Ava balançava. — Ela não atendeu. E eu tenho
certeza que ela não está na escola depois do que Ashley fez ontem.
Mac puxou o lábio inferior em sua boca. — Talvez devêssemos
perguntar a ela onde ela estava ontem, depois de nosso encontro na
delegacia de polícia. Essa foi a hora que Ashley... vocês sabem.
Ava arregalou os olhos. — Você não está dizendo...
— Claro que não — interrompeu Mac. — Ou... Eu não sei. Ashley
estava arruinando sua vida.
— E você viu o Instagram? — Caitlin sussurrou. — Ashley chamou
o Controle Animal para a mãe de Julie. Eles levaram todos os gatos. Era
sobre essa notícia.
Ava pôs as mãos nos quadris. — Vocês duas são muito rápidas em
apontar dedos.
— Assim como você — Caitlin estalou.
O sinal tocou, e todas elas se encolheram. Ava pendurou a bolsa
Chanel por cima do ombro. — Vamos conversar mais tarde — ela disse
firmemente a Caitlin.
— A não ser que estejamos na cadeia — Caitlin murmurou
baixinho.
As duas nem sequer olharam para Mac, o que lhe deu uma
pontada de arrependimento. Ela tinha ferrado tudo. Ela não deveria ter
estado até mesmo considerando qualquer uma delas como suspeita —
isso só as tinha separado. Elas precisavam ficar juntas agora, não estar
brigando nos corredores.
Ela empurrou os óculos no nariz e começou a descer o corredor,
ainda fumegando. Quando ela se virou para a sala da orquestra, ela
avistou Claire hesitante perto do quadro de avisos, lendo um anúncio
sobre os ensaios. Uma compreensão horrível a parou em seu caminho
enquanto a conversa na aula de filmografia corria de volta em sua
mente. Primeiro Nolan, em seguida, o pai de Parker, em seguida,
Ashley...
E depois... Claire?
Capítulo 19

O
resto do dia na escola foi um borrão enquanto Caitlin tentava —
e falhava — se concentrar nas classes e na prática do futebol.
Em química, ela continuou olhando para a porta, com certeza
alguém ia entrar e anunciar que Ashley Ferguson estava morta. No
futebol, ela manteve seu celular com ela — muito para desgosto da
treinadora Leah — à espera de uma chamada de que a polícia queria vê-
la novamente. Ou, pior ainda, uma mensagem que dizia que alguém
mais em sua lista estava morto. Ela manteve um olho em Ursula
Winters, também, se perguntando se Ursula estava por trás de tudo
isso. Ela estava em sua classe de filmografia. E se ela tivesse ouvido a
conversa naquele dia? Era por isso que Ursula estava rindo quando ela
tomou um longo gole da sua garrafa de Gatorade? Os arranhões nos
braços de Ursula eram de uma luta com Ashley Ferguson em sua casa?
Mas porquê?
Caitlin evitou suas novas amigas, também, assustada com a
conversa com Ava e Mac naquela manhã. Não que elas quisessem falar
com ela de qualquer maneira. Quando Ava a viu no final do corredor
entre o quarto e o quinto períodos, ela virou-se e caminhou na direção
oposta. Quando ela e Mac estavam próximas uma da outra na fila do
refeitório, Mac deslocou-se para a fila da salada para evitar falar com
ela. E acima de tudo isso, Jeremy também a estava evitando. Embora
talvez ela o estivesse evitando, também. Eles tinham tido algumas
conversas forçadas após o seu encontro desmarcado do sábado, mas
Caitlin poderia dizer que ele ainda estava chateado... e talvez ela ainda
estivesse chateada também. Ela tinha deixado mensagem após
mensagem na noite do show, tentando se desculpar e racionalizar com
ele. Ele estava vendo isso tão preto no branco.
Acima de tudo isso, sua consulta com a Dra. Rose era esta tarde.
Ela entrou na delegacia tão no limite que sentia como se até mesmo
suas pálpebras tremessem. Ela se sentia culpada — por tudo. O que
nem sequer fazia sentido. Só porque ela tinha sido parte de uma
conversa onde um bando de meninas nomeou pessoas que elas não se
importariam de ver mortas — e, em seguida, esses inimigos morreram
— não a tornava uma assassina. Não era como se suas palavras fossem
mágicas ou elas fossem Deus. Mas o que estava acontecendo? Quem
estava fazendo isso?
Poderia ser uma delas?
— Sente-se, Caitlin — disse a Dra. Rose, apontando para uma
cadeira em frente a ela. Caitlin sentou-se rigidamente, com as mãos no
colo. O relógio badalou ruidosamente no canto. Caitlin encarou as
lombadas dos livros no canto. Eles eram todas revistas técnicas
psicológicas que provavelmente iria colocá-la para dormir.
— Então. — A Dra. Rose bateu as unhas em sua prancheta. — Eu
ouvi que uma menina desapareceu na escola hoje.
A cabeça de Caitlin levantou. Ela não esperava que a Dra. Rose
falasse sobre isso. — Uh, sim — ela disse, tão casualmente quanto
pôde. — Ashley Ferguson.
— Você conhece ela?
Caitlin sacudiu a cabeça. — Na verdade, não. Ela está em algumas
das minhas classes, isso é tudo.
— Filmografia, certo?
Um calafrio percorreu a espinha de Caitlin. O que a Dra. Rose
sabia? — Uh, sim — ela disse vagamente.
— O homem que ensinava nessa classe morreu recentemente, não
foi?
Seu coração batia rápido. — Sim.
A Dra. Rose fez uma nota. Caitlin estava quase certa de que tinha
algo a ver com Granger — a conexão invasão-à-casa-dele com aula-de-
filmografia e Ashley. Deus, isso tudo parecia tão ruim para ela. —
Então, Ashley nunca lhe deu algum problema? Ouvi dizer que ela era
um pouco valentona.
Caitlin sacudiu a cabeça com um não honesto. — Eu mal a
conhecia.
— Mas ela estava dando problemas a alguém, não era? Alguém que
você conhece?
Caitlin sentiu um puxão em seu peito. — Bem, talvez — ela disse
em voz baixa.
— Você pode me dizer quem é. — A Dra. Rose inclinou para frente.
— Tudo o que você me disser aqui é confidencial.
Era estranho: Na escola, quando elas estavam falando, Caitlin
sentiu como se ela não pudesse mais confiar nas outras meninas, que
era cada uma por si neste momento. Mas agora, diante de uma policial
— bem, meio que uma policial, de qualquer maneira — ela não poderia
dizer a ela sobre Julie. Isso pareceria como uma enorme traição. Julie
era boa e doce. Ela não merecia a forma como Ashley a tinha tratado, e
ela não poderia ser capaz de cometer assassinato.
— Ashley enviou e-mails para toda a escola sobre a mãe de Julie
ser uma colecionadora, não foi? — a Dra. Rose disse suavemente.
Caitlin piscou. Então a Dra. Rose já sabia. — Algo como isso.
— Então ela colocou areia para gatos no armário de Julie, e ela
postou uma foto no Instagram. Isso está correto?
Caitlin baixou os olhos. Os policiais estavam verificando o
Instagram agora?
— Será que Julie pareceu chateada com o que Ashley estava
fazendo com ela? — perguntou a Dra. Rose.
Algo em Caitlin se soltou. — É claro que ela ficou — ela falou. —
Qualquer um ficaria. Ashley foi tão, tão má e Julie não tinha feito nada
para merecer isso. Julie é uma boa pessoa. Ela nunca faria mal a
ninguém, nem mesmo uma valentona.
— Houve alguma situação em sua vida em que alguém que você
amou foi intimidado, certo?
Caitlin congelou. — Bem, sim — ela disse em uma voz abafada. —
Meu irmão, Taylor. Nolan Hotchkiss implicava com ele. E então ele se
matou.
— Então, você está um pouco sensível sobre intimidações, não é?
Ela encolheu os ombros. — Eu acho que sim.
A Dra. Rose escreveu algo em seu bloco de notas. Caitlin desejou
que ela pudesse ver o que era. Isso dizia que Caitlin tinha motivo extra
para machucar Nolan?
— Eu não fiz nada — ela disse, de repente.
— Eu não estou dizendo que você fez — a Dra. Rose respondeu
agradavelmente.
Mais tarde, em seu carro, Caitlin quase corria por dois faróis
vermelhos e batia em um ônibus escolar que se aproximava, ela estava
tão distraída. Foi tão difícil de ler o que a Dra. Rose tinha pensado dela.
Ela suspeitava de Caitlin agora? Será que ela suspeitava de Julie? Ou
ela era apenas boa em fazer perguntas irritantes?
Ela dirigiu sem saber para onde estava indo, encontrando-se na
casa de Jeremy, embora ela não tivesse ligado para dizer que ela estava
chegando. Ela parou no meio-fio, pegou as chaves, e entrou — algo que
ela vinha fazendo há anos. Esta foi a primeira vez que ela tinha feito
isso por Jeremy, porém, não por Josh, e isso parecia um pouco
estranho.
Ela encontrou Jeremy na sala, assistindo a um filme em preto e
branco de zumbis que ela se lembrava vagamente de Taylor assistindo
uma vez. A memória a fez sorrir um pouco. — Ei — ela disse
calmamente.
Jeremy não olhou para cima. — Ei.
O estômago de Caitlin se abateu. Ela precisava dele agora.
Bastante. Ela se aproximou e sentou ao lado dele, tentando se apoiar ao
seu lado, mas seu ombro estava duro. Finalmente, ele colocou a mão
em seu joelho, deu-lhe um aperto, em seguida, a afastou novamente.
Pelo menos era algo... mas não era o suficiente.
— Como foi seu dia? — ela perguntou, virando-se para olhar para
ele. Mas ele manteve os olhos na tela, onde um zumbi estava rasgando
uma vaca.
— Muito bom.
Nenhuma pergunta sobre como foi seu dia. Nenhum detalhe sobre
o filme de zumbis que estavam assistindo. Nenhum comentário até
mesmo sobre o maldito tempo — ela aceitaria qualquer coisa neste
momento.
— Então você ainda está com raiva de mim? — ela perguntou.
Jeremy olhou para o chão por um momento. — Estou tentando. Eu
realmente estou. Só que pode demorar um pouco mais de tempo para
eu superar isso.
— Ok. — Pelo menos ele estava sendo honesto sobre seus
sentimentos. Ela pegou a mão dele. — Bem, você me avisa quando você
tiver superado totalmente, para que possamos dar uns amassos de
novo?
Jeremy não pôde deixar de rir. — Ok.
Antes que Caitlin pudesse dizer qualquer coisa, ela ouviu um som
estranho claudicante e arrastado, e Josh apareceu na porta. Seu rosto
estava vermelho pelo esforço, e ele apoiava-se em suas muletas. Seu pé
esquerdo e a perna estavam completamente engolidos por um enorme
gesso. Apenas os dedos dos pés estavam de fora. Quando ele viu Caitlin
e Jeremy, seu rosto obscureceu um pouco. Caitlin sentiu o corpo de
Jeremy ficar tenso ao lado dela no sofá.
Caitlin largou a mão de Jeremy e se deslocou para frente. — Essa
coisa é enorme — ela disse, apontando para o gesso. Ela não podia
fingir que Josh não estava aqui.
— É. — Josh começou a se arrastar para a lavanderia.
— Quão ruim é a sua fratura? — ela perguntou.
Ele parou na frente da TV. — Muito ruim. Eu posso não ser capaz
de jogar no próximo ano.
Caitlin arregalou os olhos. — Caramba. Eu sinto muito. — Mais
uma vez, ela não pôde evitar de achar que tinha sido culpa dela.
Josh apenas deu de ombros. — Quero dizer, o que eu posso fazer?
Eu vou fazer fisioterapia duramente. Vou tentar ao máximo, mas se eu
não puder jogar, eu não posso jogar. O treinador da UDUB prometeu
que eu ainda vou ter a bolsa.
Caitlin ficou chocada com sua atitude calma. Ela teria imaginado
que Josh estaria uma bagunça hostil. Se ele estava de mau humor, ele
normalmente saía e chutava a bola ao redor por um tempo. Ele nunca
pareceu tão relaxado ou feliz como ele se sentia depois de uma longa
prática. Mas ali estava ele, totalmente fora do jogo — com até mesmo
sua carreira universitária em perigo, e ele parecia... bem.
— Uh, você pode se mover? — Jeremy quebrou o silêncio. — Eu
não consigo ver.
Josh olhou para o irmão por um instante, depois deu de ombros e
passou para o lado, fazendo o seu lento e doloroso progresso através da
sala novamente. Caitlin assistiu ele recuar, observando que ele não
tinha dito nada desagradável para Jeremy sobre sua escolha de filmes,
ou fez Caitlin se sentir estranha de alguma forma por estar aqui com
seu irmão. Quando Josh tinha se tornado tão maduro? Romper com ela
tinha feito isso?
Então ela se virou e olhou para Jeremy, surpresa com sua
maldade. Jeremy encontrou seu olhar por um momento, seus olhos se
estreitaram, suas feições nítidas e em alerta. Parecia que ele estava
prestes a se defender... ou talvez brigar com ela. Por instinto, Caitlin
lançou-lhe um sorriso tranquilizador. Eu estou com você, ela esperava
que seu olhar dissesse a ele quando ela empurrou os pensamentos de
Josh para fora de sua cabeça. Não há necessidade de ficar com ciúmes.
Isso pareceu diminuir a tensão. O rosto de Jeremy relaxou em uma
expressão quase envergonhada. — Uh, obrigado! — ele gritou em
direção a Josh, e embora fosse totalmente falso, Caitlin apreciou o
esforço.
— Então, onde estávamos? — ela perguntou provocativamente,
deslizando mais perto dele. — Oh, certo, estávamos programando nossa
próxima sessão de amassos.
Jeremy colocou seu braço ao redor dela. Ainda mistificada pelos
pensamentos confusos que ela tinha sobre Josh, Caitlin inclinou-se
para Jeremy e sentiu seu corpo amolecer quando ela se enrolou nele,
pressionando-se juntos, formando uma curva perfeita.
Capítulo 20

P
arker se sentou. Onde ela estava? Ela sabia que ela estava
dormindo e se sentia como se tivesse estado por um longo
tempo. Ela olhou em volta, procurando sinais familiares. Uma
sala quadrada com uma janela improvisada. Um cheiro de mofo no ar.
Lá fora, ela teve um vislumbre do lado de uma casa de estuque branco
ao longe. Espere um minuto. Ela conhecia aquela casa.
Ela levantou-se, rapidamente puxando para cima seu capuz e
localizando seus sapatos do outro lado do espaço. Ela estava na mata
atrás da casa de Nolan Hotchkiss. Há muito tempo atrás, alguém tinha
construído uma cabana de caça aqui. Ninguém a usava mais, mas, por
alguma razão, nunca havia sido derrubada. Parker e Nolan passavam
muito tempo lá quando eles eram amigos — eles costumavam chamá-la
de seu clube — e quando as coisas eram realmente uma merda em
casa, às vezes ela dormia aqui. Ela tinha trazido Julie aqui algumas
vezes, também, embora Julie dissesse que o lugar a assustava.
— Jesus Cristo — ela disse em voz alta. O que a tinha possuído
para vir aqui? Ela estava louca? Elas já eram suspeitas do assassinato
de Nolan — a última coisa que ela precisava era ser pega rondando
perto de sua propriedade. Ela realmente tinha enlouquecido.
Quando ela saiu pela porta, as madeiras ficaram quietas. Ela
caminhou em direção à casa dele e através de seu quintal. A fita da
polícia não cercava mais a propriedade; ela estava de novo parecendo
perfeita e imaculada, como se não tivesse acontecido o crime. Com o
coração acelerado, Parker caminhou pela grama orvalhada, em direção
ao ponto de ônibus a poucas avenidas de distância. Ela não viu
ninguém no caminho, nem corredores das 6 da manhã ou pais
passeando com cachorros. Ela tinha honestamente fugido para dormir
aqui?
Mas não a surpreendia, de certa forma. Como de costume, parecia
que ela nem estava lá.
Naquela tarde, Parker empurrou a porta pesada para o
Coffeeworks, um pequeno café desconhecido que ela tinha estado
frequentando recentemente. Não era o Café Mud, a nave-mãe legal de
aço e madeira recuperada onde a maioria dos estudantes de Beacon
High ia durante os períodos livres. Mas a iluminação fraca e o café forte
era exatamente o que Parker precisava agora. Algo sacudiu contra seu
rosto, e ela colocou as mãos para cima para ver o que era. Os brincos de
Julie. Os candelabros de fio de prata com as esferas bonitas. Ela tinha
esquecido que ela tinha pego eles emprestado. Ela estava esquecendo
mais e mais a cada dia. Na verdade, quando ela tinha falado com Julie?
Ela lembrava vagamente de estar sentada em um penhasco ontem à
noite sozinha, bebendo um pacote de seis cervejas, conversando com
Julie no telefone. Julie tinha estado em um de seus humores histéricos.
Julie tinha começado a dizer algo sobre como Mac tinha passado lá e
tinha dito a Julie várias coisas terríveis sobre Claire — aparentemente
ela praticamente aniquilou as chances de Mac entrar em Juilliard. Em
seguida, Julie tinha mudado o assunto para Parker. Ela perguntou
onde Parker estava e quando ela iria voltar para a casa de Julie. Ela
havia atormentado Parker, dizendo que parecia que Parker estava
guardando segredos. Você pode me dizer, Julie tinha insistido. Você
precisa me dizer. Mas Parker tinha gemido, revirando os olhos. Eu não
estou guardando segredos, ela disse. Mas, na verdade, ela estava
guardando um grande segredo: Ela começou a ver Fielder novamente.
Quando Julie continuou a importuná-la, Parker se sentiu
reprimida, e, em seguida, as coisas tinham se transformado em uma
briga novamente... e Parker não conseguia se lembrar do resto da
chamada.
Que é provavelmente porque ela tinha acordado onde ela estava
naquela manhã.
Parker esfregou o rosto com as mãos, sentindo as cicatrizes
salientes sob as palmas das mãos. Ela realmente necessitava se
reorganizar. Ela precisava falar mais com Elliot — hã, Fielder — sobre
foco. Talvez ele pudesse dar-lhe mais técnicas de visualização. Ela
fechou os olhos e tentou ouvir a sua voz calmante. Isso imediatamente
a acalmou. As sessões que ela tinha tido com ele até agora deviam estar
funcionando.
Então ela observou o lugar. A máquina de café expresso zumbia e
rugia, um barista jogou borras molhadas no lixo, e a porta se abriu e se
fechou atrás dela, enviando uma brisa de ar sobre suas pernas.
— Posso ajudar o próximo cliente? — o caixa de gênero neutro com
piercing e tatuagem gritou.
Parker se aproximou do balcão e pediu um café com leite triplo.
Assim que ela despejou alguns dólares no balcão, ela ouviu uma voz
familiar atrás dela.
— Então é aqui que você vem em vez da escola, hein?
Parker se virou. Era Ava, seu cabelo sedoso e longo emoldurando
seu rosto, seus olhos amendoados perfeitamente delineados com lápis
cor de ameixa. Seu tom de voz era amigável, e ela estava sorrindo.
— Oi — disse Parker. Ela encolheu os ombros timidamente,
percebendo que era depois do meio-dia, e ela não estava na escola. Mas,
no entanto, Ava também não. — Você está matando aula, também?
— Oh, eu só precisava de um pouco de cafeína. Eu provavelmente
vou voltar para o sétimo período. — Ava apontou para uma mesa perto
da janela. — Quer se sentar?
Parker deu de ombros. — Ok.
Elas pegaram suas bebidas e foram para uma mesa na parte de
trás, perto de um árcade de Pac-Man antigo que Parker tinha sempre
achado que era um toque agradável. Ava olhou para seu cappuccino.
Parker percebeu que ela nunca tinha realmente falado com Ava — ou
com qualquer uma das outras — sem Julie lá. Ela se perguntou o que
Ava pensava dela. Como uma parasita de Julie? Uma aberração, depois
de todas as coisas com seu pai?
Pare de enganar a si mesma, Fielder havia dito a ela em sua última
sessão. As pessoas não olham automaticamente para você e veem uma
aberração. Sorria de vez em quando. Você vai se surpreender com quem
sorrir de volta. Ok, isso foi um pouco Walt Disney-é-um-Pequeno-
Mundo feliz, mas talvez ela deveria tentar.
Ela sorriu com cuidado para Ava. — Como você está indo?
E assim, como Fielder disse, Ava lhe deu um sorriso em troca. —
Ok, eu acho. Mas eu estou apavorada por causa dos policiais. Você não
está?
— Sim, totalmente. — Parker agitou o açúcar em seu café com leite
com um palito de madeira. — É muito assustador. — Assustador não
podia sequer começar a descrevê-lo.
A polícia vai descobrir a verdade real, não se preocupe, Fielder tinha
dito a ela, quando ela deixou escapar tudo para ele em uma sessão
ontem — depois da qual ele tinha pegado café para ela, dizendo que a
cafeína poderia ajudar com suas dores de cabeça. Parker esperava que
ele estivesse certo, sobre a cafeína e a polícia. Ela odiava que elas
fossem suspeitas de novo.
— Como você está se sentindo sobre Ashley?
Parker colocou as mãos em torno de sua xícara de café. — Você
quer dizer pela areia de gato e o Instagram? Nada bem, honestamente.
— Uma imagem de dor e humilhação no rosto de sua amiga no corredor
no outro dia passou pela cabeça de Parker. E Parker não conseguia
entender como a vida na casa de Julie devia ser agora sem os gatos
como um escudo. Talvez fosse por isso que ela ficou longe de Julie nos
últimos dois dias.
Ava franziu a testa. Uma pequena ruga formou entre seus olhos. —
Não... eu quis dizer sobre Ashley estar desaparecida desde terça-feira.
Parker congelou, sua mente mudando de marcha. — Ela está o
quê?
— Seus pais não conseguem encontrá-la. A polícia está procurando
ela por toda parte. — A expressão de Ava era estranha. — Você não
ouviu?
Parker sentiu seus lábios começarem a tremer. Algo cutucou em
sua memória, mas ela não conseguia descobrir o quê. — Isso é terrível
— ela disse, olhando para longe. Por outro lado, era maravilhoso Ashley
ter desaparecido. Ela não iria mais atormentar Julie.
— Mas nós não devemos nos preocupar com isso, certo? — ela
disse. — Quero dizer, é onde você quer chegar com isso, não é? Só
porque nós dissemos alguns nomes não significa que nós temos
qualquer controle sobre eles morrendo, ou desaparecendo, ou seja lá o
que for.
— Talvez — disse Ava, distante. Ela começou a rasgar o
guardanapo em pequenos pedaços.
Parker engoliu em seco. Ava estava preocupada que alguém
estivesse matando as pessoas da sua lista?
— Bem, pelo menos Alex foi inocentado — Parker saltou, mudando
de assunto. — Tudo bem com vocês?
Ava agitou seu café. — Hum, sim — ela respondeu, ainda
distraída. — Eu acho que nós vamos ficar bem.
Parker assentiu com a cabeça, feliz por Ava. — Estou muito feliz
que tudo deu certo. Se apenas tê-lo inocentado não nos deixasse de
volta em apuros.
— Sim. — Ava olhou para o chão. Em seguida, ela espiou Parker.
Parecia que ela queria dizer alguma coisa, mas então ela olhou para
baixo e manteve a boca fechada.
— O que foi? — perguntou Parker.
Os olhos de Ava arremessaram de um lado para o outro. Mais uma
vez ela parecia estar reunindo sua coragem, mas depois a luz em seus
olhos esmaeceu. — Oh, nada. Ei, eu ouvi que Nissa Frankel ainda vai
dar uma festa na sexta-feira, apesar de tudo.
Parker deu de ombros. — Nissa nunca cancela suas festas. —
Quando elas eram amigas, Parker costumava dizer que Nissa poderia
estar com as duas pernas quebradas e ela ainda iria fazer a sua
celebração anual do Dia das Bruxas. — Eu provavelmente não vou, no
entanto.
— Sério? — Ava tocou em seu braço. — Talvez nós todas
devêssemos ir. Isso nos faria parecer normais, sabe?
— Talvez — disse Parker distraidamente, embora ela duvidava.
Algumas gotas de café driblaram do copo de Ava para a mesa. Ela
enxugou-as com um guardanapo, limpando a garganta, sem jeito. — Eu
amo esse lugar. Eu vim aqui depois de nosso encontro com os policiais
no outro dia, na verdade. Eu estava tão assustada, eu só queria o maior
frappé que eu poderia comprar. Aquilo foi muito estressante, você não
acha?
Parker apertou os olhos, tentando lembrar o que ela tinha feito
após a delegacia. Ela tinha dado um bolo em Julie, ela se lembrava, não
esperando para se encontrar com ela depois da entrevista de Julie com
a traçadora de perfis psicológicos. Ela se sentiu mal sobre isso mais
tarde — ela se lembrava que disse isso a Fielder ontem. Julie
provavelmente queria que eu ficasse lá para saber como tudo tinha ido,
ela disse. Mas eu apenas... não pude. Fielder tinha perguntado por que
a Parker, e ela disse-lhe que ela se sentiu compelida a fugir. Por causa
de algo que aconteceu? Fielder tinha perguntado, mas Parker disse que
ela não tinha certeza. Talvez fosse porque a ideia de alguém curioso com
a psique das pessoas assusta você, Fielder apontou. Você tem
problemas de confiança. Eu estou chegando a algum lugar?
Parker percebeu de repente que a Dra. Rose ainda não tinha
entrado em contato com ela para sua própria entrevista. Mas, no
entanto, isso provavelmente era bom: Ela já tinha um psicólogo. Ela não
precisava de outro.
Ela olhou para cima e notou que Ava não estava ouvindo mais. Ela
tinha visto algo perto da porta da frente e congelou em seu assento. —
Uh, oh — ela sussurrou.
Parker virou-se para ver uma loira com um bronzeado pesado e
impressionante andar direto para Ava. — O que... — Ela observou em
confusão quando a mulher de meia-idade em um vestido de seda cinza
agarrou Ava pelo braço. Depois de um momento, Parker a reconheceu
da casa de Ava no outro dia. Era a madrasta de Ava.
— Eu sabia que ia encontrá-la nesta merda! — a mulher cuspiu,
com um cheiro forte parecendo álcool e perfume.
— Oi, Leslie — Ava disse entre dentes cerrados. Ela se virou para
Parker. — Eu tenho certeza que você se lembra da minha amiga...
Leslie a cortou. — Eu vim todo o caminho da escola para assinar
sua saída para que você possa me ajudar a me preparar para a chegada
hoje à noite da minha mãe, e não conseguiram achar você, sua vadia
ingrata. — Leslie puxou Ava de pé rudemente, atirando perguntas. —
Você falta a escola muitas vezes? O que você acha que seu pai iria
pensar sobre isso? E como você se atreve a não estar lá para mim?
— Sinto muito — disse Ava. Ela se afastou de Leslie e endireitou
suas roupas. — Eu... eu esqueci. E eu achei que você não queria me
envolver. — Sua voz era forte, mas ponderada. Parker reconheceu o tom
— ela usava o mesmo com seu pai muitas vezes. Era sua voz não acorde
o monstro. Não diga nada para irritá-lo. Embora, inevitavelmente,
Parker sempre o fazia.
Leslie sacudiu a cabeça. — Oh, eu não quero você envolvida. Na
verdade, seria melhor se você estivesse ausente toda a semana. Seu pai
concorda.
Ava engasgou. Ela olhou ao redor do café. Os clientes estavam
olhando. — Ele nunca diria isso — ela sussurrou.
Leslie riu. — Basta perguntar a ele. Ele lhe dirá. Ele quer você fora
das nossas vidas completamente, Ava querida. E sabe de uma coisa?
Todas essas coisas que você está sendo acusada? Ele acha que você é
culpada.
Os olhos de Ava brilharam. — Você é uma mentirosa.
Leslie revirou os olhos. — Apenas uma reconhece outra.
O lábio inferior de Ava tremeu. — Eu deveria dizer a ele todas as
coisas que você diz para mim. O quanto você bebe. Eu acho que ele
merece conhecer a verdadeira você, não é?
A boca de Leslie caiu aberta. Com uma velocidade assustadora,
seus dedos com unhas grandes se enrolaram em torno do pulso de Ava
novamente. — Como você ousa.
Ava fez uma careta de dor. Parker olhou para as unhas de Leslie.
Elas estavam cavando tão profundamente na pele de Ava que pequenas
manchas de sangue começaram a aparecer. De repente, Parker foi
inundada com uma enxurrada de lembranças semelhantes sobre seu
pai. Ela sentiu os cortes na pele de Ava tão gravemente como se
estivessem no seu próprio braço.
Parker se atirou de pé. — Ei — ela começou, indo em direção a Ava
para puxá-la para trás.
Mas Leslie tinha soltado o braço de Ava como se nada estivesse
errado. Ela se virou para Parker, olhando para ela pela primeira vez. No
início, houve uma sugestão de um sorriso doce no seu rosto, mas, em
seguida, seus olhos se estreitaram, e seu olhar se tornou desprezível.
Ela se voltou para Ava. — Você irá me seguir. Agora.
Com isso, ela girou sobre os calcanhares elevados absurdamente e
marchou de volta para seu carro. Com lágrimas escorrendo pelo seu
rosto, Ava pegou sua bolsa, deixando seu café sobre a mesa, e com um
soluço doloroso, ela saiu pela porta da frente, também.
— Ava! — Parker a seguiu rapidamente sobre os calcanhares. —
Ava! Espera!
Mas Ava pulou em seu carro e bateu a porta antes de Parker poder
chegar até ela. Ela acelerou seu motor, saindo rudemente de seu espaço
de estacionamento, e foi embora.
Parker ficou sozinha no estacionamento. Pobre Ava. Por que
ninguém se levantou por ela? Por que ela não tinha feito isso, só agora?
Uma barragem de memórias inundou a mente de Parker: de seu pai
batendo nela, sua mãe de pé assistindo. Do som da voz de seu pai
quando ela chegou em casa drogada com Oxy... aquela noite. De sua
mãe dizendo “Oh, Parker, como você pôde?” Como se fosse tudo culpa
de Parker. Seu estômago se agitou, e sua cabeça continuou a girar.
Suas mãos tremiam, e sua respiração vinha em rajadas irregulares
enquanto ela tentava, desesperadamente, se controlar.
Assim que sua frequência cardíaca começou a abrandar, o telefone
de Parker deixou escapar um som jovial em seu bolso. Ela puxou-o para
fora, com a mão firme. Fielder, a tela dizia. Parker olhou para ele por
um momento, enquanto o telefone continuava a vibrar em sua mão,
então ela apertou IGNORAR. Ela queria vê-lo — ela sabia que ele
realmente se importava com ela, que agora ele podia ser a única pessoa
que realmente se preocupava com ela — mas ela não queria falar com
ele até que ela endireitasse seus pensamentos.
Recostando-se num banco, Parker fechou os olhos e tomou
respirações profundas e calmantes. Ela cheirou o cheiro de chuva no
asfalto, sentiu o ar frio passar contra sua pele. Ava, você não está
sozinha. Eu estou aqui por você, ela disse silenciosamente, enviando
seus pensamentos para Ava através da brisa.
Capítulo 21

L
ágrimas escapavam dos cantos dos olhos de Ava mais rápido do
que ela podia enxugá-las com sua manga. Ela piscou para clarear
a visão e ligou para Alex através do Bluetooth de seu carro.
Quando ele atendeu, sua compostura se desfez novamente. — Ela é tão
horrível! — ela chorou. — Eu não aguento mais!
— Uou... devagar — disse Alex. — Onde você está? Você está bem?
Ava tomou algumas respirações profundas e lentas, firmando sua
voz. — Estou bem. É só... Leslie. Ela simplesmente me atacou em
público, e agora eu tenho que ir para casa e vê-la novamente, e todo
este fim de semana vai ser cheio de tempo para a família e isso vai ser
tão terrível. — Ela não podia imaginar como a mãe de Leslie seria — se
ela tivesse sequer um décimo da atitude de Leslie, ela seria
insuportável.
Alex gemeu. — Sinto muito. Ela é tão malvada.
— Olha, me desculpa eu te perguntar isso, mas você pode me
encontrar na minha casa? Eu preciso de um escudo. E eu não sinto que
eu posso contar com o meu pai agora. — Ela estremeceu, pensando no
que Leslie tinha dito sobre ele não querer ela por perto. Não era
verdade, não era? Ele não achava que ela era culpada, não é?
— Claro — disse Alex. — Estou no trabalho. Estarei lá em quinze
minutos.
— Espera, você está no trabalho? — perguntou Ava, fungando. —
Você não deveria vir, então. — O chefe de Alex na sorveteria tinha dado
a ele seu emprego de volta logo que as acusações foram retiradas, mas
ela sabia que ia demorar mais tempo para a confiança das pessoas em
Alex ser totalmente restaurada. Este não era o momento para ele sair.
— Tem certeza? — perguntou Alex. — Por que você não vai para
minha casa em vez disso? Eu posso levar bolinhos com recheio duplo de
caramelo depois — ele ofereceu.
Ava suspirou, desacelerando em um semáforo. — Eu bem queria —
ela disse, imaginando a cena, saindo, comendo sorvete e sendo normal.
— Mas eu provavelmente deveria enfrentar isso.
— Eu estarei lá assim que eu puder, ok? Eu saio daqui em... — Ela
o ouviu puxar o telefone longe de seu rosto para que ele pudesse
verificar a hora. — ...90 minutos. Eu vou direto até sua casa. Ok?
— Ok. — Ava foi inundada com alívio e gratidão. — Eu amo você.
— Eu também te amo. Vai ficar tudo bem. Eu prometo.
Eles desligaram a chamada assim que Ava parou em sua garagem.
Seu coração afundou com a visão do carro de Leslie, estacionado em
um ângulo louco, seus pneus dianteiros no gramado. Como Ava poderia
encará-la? Mas, no entanto, qual era sua alternativa?
Assim que ela colocou o pé no primeiro degrau, ela ouviu a voz de
Leslie na cozinha, subindo e descendo em um discurso enfático. Ela não
conseguia distinguir as palavras, mas ela podia ouvir o tom irritado.
Ava sabia que Leslie estava dizendo a seu pai sobre ela, e de fato, um
momento depois, ela ouviu o murmúrio de seu pai em resposta. Sua voz
soava calmante. Talvez ele estivesse concordando com tudo o que ela
dizia.
Horrorizada e, definitivamente, não estando pronta para encará-
los, Ava subiu correndo as escadas para o quarto dela e bateu a porta
do quarto. Ela caiu sobre a cama, miséria cobrindo ela. Uma batida na
porta a fez saltar. Para seu alívio, a cabeça de seu pai espreitou para
dentro, não a de Leslie.
— Ava? — ele parecia inseguro.
Ava virou-se, olhando para a parede. — O quê? — ela perguntou
secamente.
Ele deu alguns passos para dentro do quarto. — Nós estávamos
esperando que você pudesse descer e ajudar a nos preparar para a
festa.
Ava não disse nada. Isso era a última coisa que ela queria fazer.
— Você sabe que eu espero que você seja simpática neste fim de
semana — disse o pai dela. — Significaria muito para mim e Leslie.
— Uh-hum — respondeu Ava, sem entonação.
Em seguida, ele limpou a garganta. — Leslie me disse que você
estava falando grosseiramente com ela — ele acrescentou em voz baixa.
— Isso é verdade?
Falando grosseiramente. Então o que Leslie estava fazendo com
ela? Ava olhou para o tapete. Enquanto se movia, seu pai engasgou. —
Ava — ele suplicou, estendendo a mão para seu braço, onde ainda havia
marcas vermelhas profundas onde as unhas de Leslie tinham cavado na
pele de Ava. — Onde você conseguiu essas marcas?
Ava olhou para o pai, em seguida, rapidamente se virou. Ela queria
desesperadamente dizer-lhe a verdade. Mas mesmo que ela dissesse a
ele, Leslie faria alguma coisa para se safar e descobrir uma maneira de
punir Ava por isso mais tarde. Qual era o ponto?
— Foi um acidente — ela murmurou. — Apenas uma coisa idiota
na escola.
O pai de Ava apenas olhou para ela, com os olhos arregalados e
tristes. — Você se tornou tão diferente — ele disse. — Tão... retraída. É
como se eu não te conhecesse mais. Leslie está preocupada com você.
Ava olhou para ele. Leslie o tinha convencido tanto, que ela estava
pirando com isso. Algo dentro dela rachou, como uma barragem se
rompendo. — Eu não estou diferente! — ela explodiu. — Você é o único
que mudou! Você é o único que não passa mais tempo comigo, ou me
dá o benefício da dúvida, e é como se você tivesse esquecido a mamãe,
e...
Um alto e repugnante baque cortou as palavras de Ava. Ava e seu
pai pularam da cama e correram para olhar para fora o som que tinha
vindo através da janela. Ava olhou para fora através do quintal, mas
não viu nada de errado. Então, ela olhou para baixo, e gritou.
Leslie estava deitada mole na grama. Seu corpo tinha caído em um
ângulo estranho, seus joelhos apontando de um lado, seu torso do
outro. Seu pescoço estava torcido em uma direção asquerosa e
antinatural.
Ava fez um pequeno som borbulhante no fundo de sua garganta. O
Sr. Jalali se empurrou ao redor dela para a janela. Quando ele viu sua
esposa, seu rosto empalideceu. — Querido Deus — ele sussurrou. Seus
joelhos se dobraram e ele agarrou o parapeito da janela para se manter
de pé. Ava o puxou de pé, e juntos eles correram escada abaixo e para
fora.
O chão estava molhado de orvalho do início da noite. Leslie estava
na mesma posição torta, mas de perto seu rosto parecia enrugado e
abatido, e um filete de Chardonnay borbulhava no canto de sua boca.
— Oh minha querida — disse o Sr. Jalali, caindo de joelhos e jogando-
se contra seu peito. — Oh, minha doce, doce querida.
— Pai, não toque nela! — Ava gritou. — Você poderia machucá-la!
O Sr. Jalali recuou, com os olhos cheios de medo. Ava ajoelhou-se
e encostou o ouvido à boca de Leslie, ouvindo sua respiração. Ela ouviu
uma leve inspiração, em seguida, uma expiração com sibilos. — Ligue
para o 911 — ela disse com a voz trêmula. Então, ela olhou para a casa.
Acima deles, as portas da varanda do quarto principal estavam abertas,
como se tivessem sido arremessadas para fora. Leslie tinha saído para
tomar um ar? Perdeu o equilíbrio e tombou?
Ava olhou de volta para Leslie, que tinha virado uma sombra
fantasmagórica de cinza. Seu coração começou a bater mais forte
quando ela se lembrou de suas palavras sobre Leslie naquele dia na
aula de filmografia. Talvez ela pudesse cair de sua varanda depois que
ela terminar sua garrafa de Chardonnay noturna.
Alguém tinha feito isso.
E então outra coisa a atingiu: Esse mesmo alguém ainda poderia
estar na casa agora.
Ava correu de volta para cima e encarou a porta da frente. Algo se
moveu no canto do seu olho, e ela se virou. Aquilo era uma sombra,
arrastando-se em direção ao quintal? Tropeçando para a frente, Ava
andou em volta das roseiras no canto da casa e entrou no pátio, que
estava meio decorado com elegantes mesas, talheres, flores e velas em
castiçais de prata elegantes, todos para a festa. Mas não havia ninguém
lá.
Tudo estava quieto. Ava sugou profundamente, ofegando bocados
de ar, terror, confusão e horror correndo por ela. Ela queria dizer a si
mesma que foi um acidente, que ela não tinha visto nada ali.
Mas ela sabia que, no fundo, isso não foi um acidente.
Capítulo 22

J
ulie sentou-se em um balanço no parque a poucas quadras de
sua casa. Era anexado a uma igreja, mas apenas algumas
crianças o visitavam, por isso ela sempre tinha o lugar para si
mesma. Ela vinha aqui quando ela estava se sentindo especialmente
estressada, ou quando parecia que as paredes em sua casa estavam se
fechando sobre ela, o que era, na verdade, com bastante frequência.
Apenas ficar sentada e balançando normalmente a acalmava,
especialmente com o pano de fundo do pôr do sol laranja e roxo
cintilando através das nuvens. Mas não esta noite. Talvez nunca mais.
Ela sentia-se dispersa e horrível. Ela não conseguia ficar em casa —
como todos os gatos se foram, sua mãe não tinha feito nada além de
lamentar em voz alta sobre como tudo era culpa de Julie — mas ela não
poderia ir a nenhum lugar, tampouco. Aparentemente, o Serviço Social
tinha sido notificado de que havia uma menor vivendo na casa cheia de
gatos, e alguém deveria vir entrevistar Julie em breve, mas isso não a
fazia se sentir melhor, tampouco. Então, o que eles iriam fazer, mandá-
la para um orfanato? Isso dificilmente parecia ser uma melhoria.
Parecia que o mundo inteiro estava se fechando sobre ela. Ela
pegou o telefone e tentou ligar para Parker mais uma vez, mas ainda
não houve resposta. Onde ela estava? E o que ela fez?
Julie tentou voltar para aquele dia horrível na terça-feira, mas ela
simplesmente não conseguia. Todos os tipos de cenários horríveis do
que Parker poderia ter feito com Ashley deslizou através de seus
pensamentos como água. Era mais fácil tentar bloqueá-los da melhor
maneira possível... pelo menos até que ela falasse com Parker e
perguntasse a verdade. Mas, no entanto, ela realmente queria saber a
verdade? Ela era, sem dúvida, uma cúmplice do crime da sua amiga —
se Parker tivesse sequer feito isso. E se ela não tivesse, bem, Julie ainda
seria uma cúmplice de alguém.
Ela fechou os olhos enquanto ela se lembrava dos membros
frouxos e lábios azuis de Ashley; a forma como sua cabeça balançava e
caiu para a frente quando Julie arrastou seu corpo pesado através das
madeiras; a lama que cobria os pés de Julie depois que ela abaixou o
corpo e rolou Ashley no rio atrás de sua casa; o barulho repulsivo de
Ashley batendo na água. E então veio o profundo abismo de
pensamentos que continuavam suspensos em sua cabeça, assustando
Julie ainda mais: E quanto a todas as outras coisas horríveis que
aconteceram? Nolan, Granger, o pai de Parker? Parker odiava todos eles
— ela poderia ter sido a pessoa por trás de todos esses assassinatos?
Julie tinha estado observando sua amiga ultimamente; dias inteiros
haviam se passado onde ela não sabia onde Parker estava. Ela tinha a
intenção de ser uma amiga melhor, se manter de olho em Parker, mas
sua vida pessoal tinha girado fora de controle, e ela não tinha sido
capaz de manter o controle de ambas.
Mas ela não tinha pensado que Parker iria fazer... isso. Julie
fechou os olhos, apavorada só de pensar nisso.
— Julie?
Ela olhou para cima bruscamente, então suspirou. Carson estava
na beira do campo de jogos, com os braços ao lado do corpo. Ele não
estava olhando para ela maldosamente, embora ele parecesse
preocupado.
Ela pulou do balanço e pegou o casaco do banco nas proximidades.
— Eu tenho que ir — ela disse abruptamente, sem encontrar seus
olhos.
— Espera! — Ele seguiu atrás dela. — Quero falar com você.
Apenas alguns dias atrás, o som de sua voz fazia seu coração
saltar uma batida. Agora ela não sentia... nada. — Eu não posso mais
te ver — ela disse sem rodeios.
Carson parecia que tinha levado um tapa. — Eu não entendo — ele
disse. — O que eu fiz?
Julie baixou os olhos. No início, ela pensou que Carson tinha
armado para ela voltar para a escola como um favor para Ashley. Um
pensamento louco, mas ela simplesmente não sabia se Ashley tinha ele
na palma da mão. Mas em uma das muitas mensagens que Carson
tinha deixado para Julie ao longo dos últimos dias, de alguma forma ele
havia sentido que ela estava preocupada com isso e disse a ela que
absolutamente não era verdade.
Ela acreditava nele agora, mas isso não importava. Ela não podia
estar mais com ele. Carson podia ter estado disposto a entender que
sua mãe era uma colecionadora, mas não havia nenhuma maneira de
ele entender que ela era agora uma cúmplice de assassinato. Se ele
descobrisse que ela tinha testemunhado, e o que ela tinha feito,
também. Ele não iria querer nada com ela.
E Julie não podia se dar ao luxo de estar perto de ninguém, exceto
de Parker. Ela precisava proteger sua amiga a todo custo. Ela arruinou
a vida de Parker uma vez; ela não iria fazer isso novamente. Era
simplesmente mais fácil dessa maneira.
Ela se virou e olhou para ele. — Eu só tenho um monte de coisas
acontecendo agora. Eu tenho que colocar minha cabeça em ordem.
Sinto muito.
— É a coisa com os gatos? O controle de animais? Como você está?
Julie queria rir. Ela desejava que sua vida fosse tão simples. — Não
é isso — ela disse. — É... complicado.
— Estou aqui para ouvir, de qualquer forma — Carson insistiu,
com sua voz suave. — Quem mais você tem para conversar?
— Eu estou bem. — Julie colocou as mãos nos bolsos e seguiu em
frente. — Eu tenho Parker.
Carson a seguiu. — Na verdade, Julie, precisamos falar sobre
Parker.
Julie se virou, o sangue escorrendo de seu rosto. O que Carson
sabia? O que ele estava sugerindo? — Não, nós não precisamos — ela
sussurrou, e então ela começou a correr.
Ela se inclinou para baixo do bloco, a jaqueta ondulando em suas
mãos. As luzes da rua haviam se ligado, e ela mal podia ver, mas ela
não queria parar de correr até que ela chegasse na sua propriedade. Em
um ponto, ela espiou por cima do ombro, aliviada que Carson não
estava seguindo-a. Precisamos conversar sobre Parker. Ela deveria saber
que não valia a pena se envolver com Carson. Agora ele estava tentando
interferir com ela e Parker. Ela não ia deixar ninguém ficar entre elas.
Assim que ela chegou ao seu meio-fio, seu telefone tocou
novamente. Era uma mensagem de Ava, que estava tentando contatá-la
bastante ultimamente. Leslie foi empurrada da varanda, dizia a
mensagem. Está em coma.
O estômago de Julie se abateu, e seus joelhos estavam bambos.
Outra pessoa da lista. Isso não poderia estar acontecendo. Em seguida,
seu coração parou.
Isso poderia ser o trabalho de Parker, também?
Ela discou freneticamente para Parker pela milionésima vez. Sem
resposta. Girando da entrada da sua casa, ela correu para seu carro e
se jogou no banco do motorista. Ela tinha que ir para a casa de Ava
agora.
Carros da polícia e ambulâncias invadiram a pitoresca rua
suburbana de Ava, suas luzes lançando um brilho estranho de cor ao
longo dos gramados bem cuidados. Julie estacionou longe da casa de
Ava e passou atrás das casas vizinhas, através dos quintais, atraída a ir
em frente para o que ela não sabia que estava procurando. Ela chegou
ao bosque de árvores em uma ligeira subida acima do quintal de Ava e
olhou em volta, de repente tendo uma premonição. Parker estava aqui
em algum lugar.
Ela mergulhou para a floresta. Apenas cem metros a frente, uma
figura familiar estava sentada encolhida na base de uma árvore
imponente, balançando de um lado para o outro. Julie engasgou. O
moletom com capuz de Parker estava puxado sobre sua cabeça, e seu
rosto estava coberto de sujeira. Seus olhos rolaram para cima. Apenas a
visão dela levou Julie até seus joelhos.
— Parker — Julie sussurrou enquanto ela se agachava. Ela
empurrou o capuz para trás do rosto de Parker, mas Parker não olhou
para ela. Julie colocou a mão em seu braço. — Parker? — ela
sussurrou.
Parker continuou a balançar e murmurar para si mesma, como se
Julie nem estivesse lá. Julie se inclinou mais perto, pânico crescendo
em seu peito. — Parker! — ela gritou, agarrando-a pelos ombros.
Parker parou seu movimento e ficou quieta. Ela olhou diretamente
nos olhos de Julie, seu olhar de repente lúcido. — Julie — ela
sussurrou. — Oh meu Deus, Julie. — Ela parecia apavorada.
Julie a puxou e segurou-a firmemente. — Está tudo bem, Parker.
Está tudo bem. Eu estou aqui.
O rosto de Parker enrugou e ela deixou escapar um soluço alto. —
Eu acho que eu fiz uma coisa horrível. Eu acho que eu fiz um monte de
coisas horríveis.
Capítulo 23

P
arker ouviu a voz familiar e confortante de Julie, como se
estivesse há um milhão de quilômetros de distância. Em
seguida, ela ouviu seu nome novamente, desta vez um pouco
mais alto, um pouco mais perto. Parker se concentrou em trazer-se até
a voz de Julie e, finalmente, ela estalou de volta no lugar. Ela sentiu o
solo úmido embaixo dela e ouviu o farfalhar das folhas nas árvores
balançando acima de suas cabeças. Ela estava na floresta. Atrás da
casa de Ava.
Casa de Ava. Todo o resto voltou também.
Memórias sensoriais a inundaram: seus bíceps flexionando
enquanto ela empurrava Leslie, com força; as unhas de Leslie
perfurando a pele de Parker enquanto ela a agarrava desesperadamente
lutando para recuperar seu equilíbrio; a sensação de alívio quando
Leslie soltou seu aperto e caiu, sua boca formando um O assustado e
silencioso sobre o parapeito da varanda antes de aterrar com um baque
ressonante na parte inferior. Parker tinha feito isso, mas era como se
seu corpo tivesse se movido no piloto automático ou algo assim. Ela não
se lembrava de tomar a decisão de fazer nada disso.
E, em seguida, mais memórias bombardearam ela, também. Ashley
Ferguson estava em seu banheiro, preparando-se para tomar um
banho. Ela se virou quando Parker veio por trás dela, com os braços
erguidos para defender-se, o rosto torcido de medo, mas não
exatamente com surpresa. Parker sentiu seus pulsos tencionarem
quando ela empurrou Ashley para trás, com força, contra o azulejo do
chuveiro. Então ela sentiu o movimento de sua perna e o contato de sua
canela nas panturrilhas de Ashley enquanto ela chutava debaixo dela.
O piso vibrou quando a cabeça de Ashley rachou contra o azulejo.
E quanto a sensação de grama fresca contra seus tornozelos
enquanto ela corria de volta para a casa de Granger depois que as
outras saíram? Ela sentiu o peso do cabo da faca em sua mão, e ela
recordou o olhar de surpresa em seu rosto quando ela entrou em seu
quarto, onde ele estava em uma toalha. — O que você está fazendo
aqui? — ele cuspiu.
Em seguida, um flash, e ela estava sentada em uma cabine em um
restaurante nos arredores da cidade, deslizando um grosso maço de
dinheiro para um cara mais velho grisalho com um chapéu puxado para
baixo sobre o rosto. Ela o encontrou na craigslist3. — Por favor, cuide
disso — ela disse, e ele concordou. E, em seguida, seu pai tinha morrido
no pátio da prisão.
Finalmente, seus pensamentos se voltaram para o início de tudo —
aquela festa na casa de Nolan... Ela sentiu o copo de plástico
escorregadio em sua mão quando Julie passou para ela, e ela sentiu os
dedos tremerem enquanto ela se atrapalhava com o frasco de cianeto
em seu bolso. Ela protegeu as mãos e fingiu cuspir no copo, como as
outras tinham feito, e ao invés deixou cair o pó na cerveja quente. Em
seguida, ela entregou o copo a Ava, que levou para Nolan.
Ela tinha feito isso. Ela tinha feito tudo isso. Todas essas lacunas
de memória — seu cérebro estava de alguma forma mantendo ela
protegida da verdade. E isso explicava por que ela tinha estado se
distanciando de Julie ultimamente: Ela não podia suportar dizer a
verdade, mas ela também não conseguia esconder algo assim de Julie
por muito tempo. Julie a conhecia melhor do que ela conhecia a si
mesma.
Um flash luminoso de um pensamento entrou em sua mente: Ela
não tinha contado a ninguém mais, tinha? Não. Não a Fielder. Ela não
teria feito isso. Não importava quantas vezes ele comprasse seu café,
não importava o quão segura e apreciada ele a fazia se sentir, ela nunca
teria dito isso a ele. Porque ele teria perguntado por que, e ele teria feito
Parker responder. Mas, no entanto, a resposta não era óbvia? Nolan
merecia. Assim como Ashley. Até mesmo Granger. Mas Leslie?
Instantaneamente, a face irritada da mulher quando ela confrontou Ava
no café surgiu na mente de Parker. Leslie tinha batido em Ava. Parker
com certeza sabia como era essa sensação.
O mundo girou violentamente, e ela cravou suas mãos na sujeira
para se firmar. — Eu acho que eu fiz uma coisa horrível — ela repetiu,
olhando temerosa para Julie. — Eu acho que eu fiz um monte de coisas
horríveis.
— Parker? Parker! — exclamou Julie. — O que você quer dizer? —
Seus olhos se arregalaram. — Você fez isso, não é? Todos eles? Você
está... seguindo a lista?

3 Craiglist: é uma rede de comunidades online centralizadas que disponibiliza anúncios gratuitos
aos usuários. São anúncios de diversos tipos, desde ofertas de empregos até conteúdo erótico. O
site da Craigslist também possui fóruns sobre diversos assuntos.
A cabeça de Parker começou a latejar e ser preenchida com um
barulho explosivo, mas ainda assim a resposta soou claramente: —
Todos eles mereciam.
Julie fez um barulho em algum lugar entre um suspiro e um
soluço. — Oh, Parker. — Ela parecia inconsolável. — Não, eles não
mereciam.
— Eles mereciam — insistiu Parker. Isso parecia tão, tão certo. —
Todos eles mereciam.
Julie parecia devastada, mas havia algo determinado em seu rosto
também. Ela colocou as mãos nos ombros de Parker, sua expressão
severa. — Você tem que me prometer uma coisa, ok? Você não pode
fazer isso de novo. A partir de agora, nós vamos absolutamente para
todos os lugares juntas. Eu não vou deixar você fora da minha vista. Eu
vou para a escola com você e vou para suas aulas, em vez das minhas.
Você vai ficar na minha casa todas as noites. Onde você vai, eu vou.
Parker assentiu. Ela se sentia muito trêmula e tonta para falar.
— A única pessoa que falta nessa lista é Claire Coldwell — Julie
continuou. — Nós ainda podemos salvá-la, Parker. Ela não merece que
nada de ruim aconteça com ela.
Os olhos de Parker se estreitaram. — O que você está falando? —
ela gaguejou. — Você me disse sobre o que Claire fez com Mackenzie.
Que ela, tipo, roubou seu namorado e basicamente sabotou seu futuro
e que Mackenzie tinha aparecido em sua casa em lágrimas. Claire é
uma pessoa horrível. Tão horrível quanto o resto.
Julie balançou a cabeça. — Não, ela não é, Parker. Ela é uma
vadia, com certeza, mas ela não merece ser machucada.
Parker cruzou os braços sobre o peito. — Eu preciso defender as
minhas amigas.
Julie colocou a mão sobre a de Parker. — Você não tem que fazê-lo
assim. Isso tem que parar, Parker. Você pode parar?
Parker olhou para a amiga. Julie parecia muito, muito chateada.
De repente, o peso do que ela tinha feito a esmagou. Ela fechou os
olhos. Claro que Julie tinha razão: Parker era um monstro. Ela
interpretou uma conversa ridícula numa aula de filmografia
literalmente. Mas nenhuma delas realmente queria aquelas pessoas
mortas.
Ela engoliu em seco, de repente se encontrando com dificuldade
para respirar. — Eu não sei mais quem eu sou — ela disse com a voz
rouca.
— Está tudo bem. — Julie acariciou o braço de Parker. — Eu vou
te ajudar. Eu prometo. Mas, por agora, temos que tirá-la daqui. Mantê-
la segura.
Parker engoliu em seco, com um gosto metálico na boca. — Você
quer me ajudar?
Julie assentiu. — É claro. Eu sou a pessoa que escondeu o corpo
de Ashley por você, eu estive te ajudando o tempo todo.
Parker piscou. O corpo de Ashley. Ela realmente tinha deixado
Ashley caída morta no chão? — Você sabia que eu estava lá?
— Imaginei que você estivesse lá — explicou Julie. — Eu limpei
tudo, limpei todas as impressões digitais. Eles nunca saberão que foi
você. — Então ela olhou para a propriedade de Ava. — Mas, quanto a
isso, vamos esperar que você não tenha deixado impressões. E quanto a
Granger, Nolan e seu pai... bem, eu vou fazer o melhor que posso.
Oprimida, Parker deixou escapar um soluço comovente e desabou
nos braços de Julie. — Eu não sei o que eu faria sem você — ela gritou
em meio a lágrimas. — Eu farei qualquer coisa que você disser.
— Ótimo — disse Julie. Ela ajudou Parker a levantar, e elas
caminharam pela floresta até o carro de Julie. Mas apenas alguns
passos, e Parker já podia sentir-se hesitante. Outra coisa dentro dela,
alguma parte profunda e obscura dela, tinha assumido quando ela
tinha feito todas aquelas coisas horríveis.
Como ela saberia que essa parte não assumiria novamente?
Capítulo 24

M
ac mal conseguia entender o que Ava estava dizendo através
de seus soluços histéricos. Ela apertou o telefone no ouvido,
tentando discernir algumas palavras claras. Finalmente, ela
montou uma frase, mas ela quase desejou que ela não tivesse.
— Alguém empurrou minha madrasta da varanda!
— Jesus — Mac engasgou. — Apenas respire, Ava. Respire. — Ela
usou o seu próprio conselho, inspirando e expirando lentamente. — Ela
está... ela...
— Ela está viva. Ela está em coma.
Mac fechou os olhos. — Oh, graças a Deus, Ava.
— O que está acontecendo, Mac? — Ava fungou no telefone. — O
que nós vamos fazer?
Mac levantou-se e fechou a porta do quarto. Seus pais estavam lá
embaixo preparando o jantar, mas sua irmã tinha passado muito tempo
rondando o quarto dela nos últimos dias. Mac não tinha certeza se
Sierra estava a apoiando ou suspeitando dela, mas de qualquer forma,
ela não queria que ela ouvisse qualquer parte desta conversa.
O que elas iriam fazer? Estava claro agora que isso não era uma
coincidência. O assassino estava seguindo sua lista como se fosse a
lista de números de telefones dos parentes que usavam quando a escola
era cancelada. E isso era, de alguma forma, sua culpa. Se elas não
tivessem dito esses nomes, nada disto teria acontecido.
Ela sentou-se na cama e agarrou seu telefone com força. —
Precisamos manter a calma e ficar juntas, ok?
— Sim. — Ava engoliu em seco. — A parte mais assustadora é que
a assassina estava na minha casa ao mesmo tempo que eu estava.
Mac estremeceu. Era um pensamento horrível. Ela tentou imaginar
o assassino lá embaixo em sua própria casa, neste mesmo segundo.
Seus membros ficaram frios com o medo.
— Eu poderia tê-la visto, talvez eu poderia tê-la parado, se eu
apenas tivesse conseguido procurar. — Ava começou a chorar
fortemente novamente.
Mac inclinou a cabeça com as palavras de Ava. — Eu ainda não
estou convencida do fato de que o assassino é uma menina.
— Alex disse que viu uma menina entrar na casa de Granger —
disse Ava. — E... Eu não sei. Isso parecer estar certo.
Houve um silêncio constrangedor. Então Mac percebeu uma coisa.
Pelo menos havia uma conclusão: Não havia nenhuma maneira de Ava
ser a assassina, e Ava tinha que saber que Mac não era, ou, caso
contrário, ela não teria ligado para ela. Talvez elas pudessem começar a
confiar umas nas outras novamente.
— Você falou com as outras? — perguntou Mac.
Ava limpou a garganta. — Eu mandei uma mensagem para Julie,
mas não tive notícias dela ainda. Eu vou tentar Caitlin em seguida.
Mac fechou os olhos, tentando imaginar uma das outras entrando
sorrateiramente na casa de Ava e empurrando uma mulher aleatória de
uma varanda. Elas não seriam capazes disso, ou seriam? Tinha que ser
alguém mais.
Elas desligaram a chamada, e Mac jogou o celular em sua cama e
caminhou pelo quarto, ansiosa. Seu violoncelo acenou, mas ela não
podia se imaginar tocando. Em seguida, seu celular vibrou debaixo das
dobras do edredom. Ela se atrapalhou ao redor para pegar ele. Blake
tinha enviado um Snapchat de um cupcake com granulados cor de
rosa, seu sabor favorito. E ele tinha desenhado pequenos óculos e um
bigode no cupcake. A visão disso de alguma forma a animou.
Mac fez uma careta. Não, não, não. Mas antes que ela sequer
soubesse o que ela estava fazendo, ela discou o número de Blake. Tocou
uma vez... duas vezes...
O que você está pensando? Ela rapidamente puxou o telefone para
longe e clicou em FINALIZAR antes que ele pudesse atender, clicando
em seu telefone para se certificar de que ela realmente tinha desligado,
e depois desligou-o, para que Blake não pudesse ligar de volta. Por que
você iria falar com Blake novamente, depois de como ele tratou você?
uma voz em sua cabeça a repreendeu.
Mas o cartão que ele tinha escrito estava escondido em sua gaveta
de roupas íntimas, sob um sutiã Miracle que ela sempre tinha sido
muito medrosa para vestir. Ela e Claire tinham comprado juntas, rindo
em segredo no provador de uma Victoria Secret.
Claire. Mac sentiu um puxão em seu estômago. Claire era a única
pessoa na sua lista que ainda não tinha sido atacada. Primeiro Nolan.
Em seguida, o pai de Parker. Em seguida, Ashley, e agora Leslie.
Mac voltou a pensar no que ela disse na aula de filmografia
naquele dia. Talvez um atropelamento, algo totalmente acidental. Ela não
quis dizer de verdade — apenas queria participar da conversa. E pelo
amor de Deus, era tudo apenas uma conversa! Mas agora, se alguma
coisa acontecesse com Claire, Mac iria se culpar para sempre.
Seu coração começou a sacudir em seu peito. E se o assassino —
quem quer que seja — planejou terminar a lista esta noite?
Mac tentou pensar. Ela tinha que impedir isso. Ela tinha que
proteger sua ex-amiga. Só havia uma coisa a fazer. Ela pegou uma
camiseta e correu para seu carro, gritando um rápido — Volto já — para
seus pais quando ela passou correndo por eles.
Cinco minutos mais tarde, ela parou na entrada da casa de Claire.
Felizmente, o carro de Claire estava estacionado na garagem, e havia
luzes brilhantes em sua janela do quarto no andar de cima. Mac exalou,
tomou um momento para se recompor, e olhou de um lado para o outro
da rua. Os únicos outros carros estavam estacionados nas calçadas
semicirculares. Ninguém estava ocioso no meio-fio ou sequer se virou
para o bloco. Ok. Isso era melhor. Mas ela ainda precisava ver com seus
próprios olhos que Claire estava segura.
Ela caminhou para a porta da frente e tocou a campainha. Passos
de salto alto soaram do outro lado da porta de entrada. Uma luz quente
e uma canção de Beethoven no sistema de som tomou conta de Mac
quando a Sra. Coldwell abriu a porta larga. A casa cheirava a massa
caseira e pão acabado de cozer.
— Mackenzie! Que prazer vê-la. — O largo sorriso da Sra. Coldwell
foi tão sincero, que enviou uma pontada através do coração de Mac. Ela
sempre amou os pais de Claire, que eram mais gentis e mais relaxados
do que ela própria.
— Quem é, mamãe?
A Sra. Coldwell se virou e sorriu para sua filha. — Olha quem veio
nos visitar!
Claire estava com os dedos curvados ao redor do topo da escada.
Ela estava usando uma desgastada camiseta com MELLO VIOLONCELO
e calças de pijama, e seu cabelo estava puxado com uma faixa de
cabeça. Seu rosto assumiu uma expressão incomodada quando ela viu
Mac. — O que você quer? — ela perguntou amargamente.
Mac piscou com força. Ela realmente não tinha pensado sobre o
que ela diria se ela encontrasse sua ex-melhor amiga inteira. Ela estava
tão aliviada ao vê-la ali de pé que ela não se importava o quão ridículo
devia ter parecido que ela tinha aparecido em sua porta como se nada
tivesse acontecido entre elas. — Eu... uh... eu só queria vir dizer oi —
ela soltou.
— Bem, isso não é legal? — perguntou a Sra. Coldwell em uma
melopeia. — Posso pegar um pouco de chocolate quente, Mackenzie?
Um cookie de chocolate caseiro?
— Tudo bem — disse Mac. A Sra. Coldwell sorriu por um
momento, em seguida, murmurou algo sobre deixar as meninas
sozinhas. Ela deslizou para a parte de trás da casa.
Mac se moveu desajeitadamente no hall de entrada, olhando para
as fotos na mesa de console. Havia ainda uma foto dela e Claire de
alguns anos atrás sobre o palco do Seattle Symphony Hall. Elas
estavam sorrindo com tanto amor uma para a outra, os braços ao redor
da cintura uma da outra.
Então ela olhou para Claire. — O que você está fazendo hoje à
noite?
Claire a olhou. Seu tom era ácido, sua expressão fulminante. —
Por que você se importa?
— Então você não vai sair de casa?
Claire ficou olhando para ela. — Parece que eu vou sair de casa? —
Ela colocou as mãos nos quadris. — O que você quer, Mackenzie?
Esfregar na minha cara que você está saindo com Oliver? — Ela revirou
os olhos. — Ele parece ser chato, se você quer saber. Eu nunca quis ele,
de qualquer maneira.
Mac puxou o lábio inferior em sua boca, querendo retrucar que
tinha definitivamente parecido de outra forma no Umami. Mas isso não
importava. Nada importava exceto manter Claire segura.
— Uh, eu não estou namorando Oliver — Mac desabafou. — Nós
somos apenas amigos. É isso que eu vim aqui dizer, na verdade. — As
palavras correram rápido, embora elas não fossem uma mentira. Ela
não tinha ouvido falar de Oliver há dias: Parecia que ele tinha entendido
a mensagem. — Ele é seu, se você quiser ele.
Claire fez uma careta. — Eu não quero as suas sobras. — Em
seguida, ela bateu a porta na cara de Mac.
Ainda assim, Mac não se sentiu mal. Problema resolvido, afinal.
Ela praticamente saltou ao longo do caminho, cheia de alívio. Claire
estava segura hoje à noite, pelo menos.
Ela apertou o botão em seu chaveiro e seu Escape apitou, piscando
suas luzes. Assim que ela puxou a maçaneta da porta e entrou, ela viu
um carro deslizando lentamente, como se estivesse observando,
descendo a rua em direção a ela com suas luzes apagadas. Mac
desabou no assento do motorista e olhou para fora da janela quando o
carro passou pela casa de Claire. Com um suspiro, ela reconheceu a
marca e o modelo de um Subaru Outback velho. E ela se encolheu
quando viu a figura solitária sentada atrás do volante com cara de
paisagem.
Aquela era... Julie?
Capítulo 25

—C
aitlin? Você está me ouvindo?
O som da voz de Jeremy através do Bluetooth
trouxe Caitlin de volta à realidade. Sua mente tinha
estado vagando — assim como seu carro, aparentemente. Era quinta-
feira à noite, e ela estava dirigindo por aí sem rumo por pelo menos
uma hora, algo que ela sempre fazia quando ela só precisava de algum
tempo para colocar em ordem seus pensamentos. Estreitando os olhos
através de seu para-brisa, ela percebeu que ela tinha dirigido para fora
de sua própria vizinhança e para os arredores de Beacon Heights.
— Desculpa, eu estou aqui. — Ela tentou lembrar o que Jeremy
tinha dito ao telefone. Algo sobre uma maratona de filmes de ficção
científica em uma pequena casa de arte em Seattle na semana seguinte.
— Isso parece ótimo. E... oh. Toda a equipe está me incomodando para
ir à festa de Halloween de Nissa amanhã. Você vai, certo?
— Festa de Halloween? — Jeremy parecia circunspecto.
— Eu realmente não estou no humor, também, mas talvez seja
divertido — disse Caitlin. — Vamos nos fantasiar, tomar algumas
cervejas...
Jeremy bufou sarcasticamente. — Desde quando você me conhece
como alguém que gosta de se fantasiar e beber cerveja?
Algo dentro de Caitlin revirou — ela tinha realmente esperado que
Jeremy apenas dissesse sim sem reclamar. — Estou pensando em ir
como uma líder de torcida da UDUB, se isso ajuda — ela disse
sedutoramente, tentando manter o ambiente leve. — Trata-se de uma
supercurta mini...
Ele suspirou. — Ok, ok. Eu vou, mas só por você. — Ela o ouviu
engolir em seco. — Você está bem? Você tem estado meio... estranha,
ultimamente. Diferente de você mesma.
— Sim! Estou bem. Apenas muito cansada. — Ela bocejou como se
para enfatizar o ponto. — Eu não tenho dormido bem. Isso torna difícil
pensar direito.
— Então nada está acontecendo?
Jeremy parecia mais resignado do que irritado. Caitlin odiava
esconder coisas dele, construindo pilhas de mentiras entre eles. Mesmo
pequenas coisas: Apesar de seus pais terem sido informados, ela
escondeu de Jeremy sobre a traçadora de perfis psicológicos questionar
ela. Ela poderia ter explicado isso facilmente para ele, mas ela decidiu
não o fazer. E então havia algo pior: E se ele soubesse sobre Granger? E
como ele a veria se ele soubesse que ela se sentou em um círculo de
meninas e nomeou as pessoas que elas queriam mortas, e agora essas
mesmas pessoas estavam sendo assassinadas aqui e ali?
— É a coisa com a madrasta de Ava? — Jeremy adivinhou.
Caitlin respirou. — Sim — ela admitiu. A história tinha estado por
toda a escola. — Eu me sinto tão mal por Ava — ela disse.
Jeremy fungou. — Eu pensei que você me disse que Ava odiava a
madrasta.
Oops. Caitlin tinha dito isso a ele. — Bem, ódio é uma palavra forte
— ela disse rapidamente. Então ela olhou para fora da janela. — Sabe
de uma coisa? Eu acho que estou perdida.
— Onde você está?
— Na periferia da cidade. Pelo menos eu acho que eu estou.
— Por que você dirigiu até aí? — Sua voz estava aguda.
Caitlin freou quando uma caminhonete passou na frente dela. —
Eu não sei — ela disse distraidamente. — Eu só meio que... acabei aqui.
— Talvez não devêssemos falar ao telefone enquanto você está
dirigindo. E talvez você não deveria estar dirigindo quando você está tão
cansada.
— Sim — ela suspirou. — Eu te ligo quando chegar em casa. E ei...
— Sim?
— Estou animada com a maratona de filmes. De verdade.
Jeremy estalou a língua. — Bem, eu não estou animado com a
festa, mas ei. Pelo menos é uma desculpa para vê-la em uma saia de
líder de torcida.
Caitlin clicou no botão no seu volante para desligar a chamada, e o
carro ficou em silêncio. Havia um outro segredo que ela estava
escondendo de Jeremy, também: Ela e Josh tinham trocado algumas
mensagens nos últimos dias. Nada sério, na maior parte apenas um oi
aleatório ou como você está se sentindo, mas ainda assim. Josh era o
seu ex. Jeremy não ficaria feliz com isso.
Caitlin sabia que ela devia apenas cortar Josh, mas ela se sentia
tão mal que ela tinha sido a causa de sua lesão. Era bom conversar com
ele também. Ele estava muito mais calmo estes dias com a sua lesão.
Era como se a pressão de jogar futebol tivesse sido uma corda em seu
pescoço, cortando a circulação para seu cérebro — meio como tinha
sido para ela. Talvez eles tivessem mais em comum do que ela pensava.
Então isso significava que ela não tinha escolhido o garoto certo?
Claro que não, ela disse a si mesma. Você mesma disse — você está
apenas cansada.
O noticiário, que estava em um volume muito baixo no fundo,
chamou sua atenção, e ela virou-se. Os policiais ainda estão tentando
achar um suspeito no caso do assassinato de Nolan Hotchkiss, um
repórter disse em uma voz monótona. Hotchkiss foi morto há várias
semanas de envenenamento por cianeto em uma festa na residência de
sua família em Beacon Heights. Os detetives especulam que sua morte e
a morte de Lucas Granger, um professor de Beacon Heights, podem estar
conectadas, embora eles não tenham evidências para provar isso ainda.
Em outras notícias de Beacon Heights, a menina de dezessete anos de
idade, Ashley Ferguson, que desapareceu de sua casa há dois dias,
ainda não foi encontrada.
Caitlin estremeceu. Era uma maravilha que a notícia não tinha
mencionado o pai de Parker e a mãe de Ava naquela pequena sinopse,
também. Seria apenas uma questão de tempo até que os detetives
descobrissem que estavam todos ligados?
Ela deu uma volta em uma placa de pare, em seguida, desacelerou.
De repente, este bairro era familiar — especialmente a casa cheia de
lixo e caindo aos pedaços no final da rua. Caitlin tamborilou os dedos
no volante, surpresa consigo mesma. Ela tinha conduzido todo o
caminho para a casa de Julie sem perceber.
Ela passou a língua sobre os dentes e pressionou suavemente no
acelerador. Ninguém tinha visto Julie há dias; ela não tinha atendido
ligações ou respondido mensagens, tampouco. Era definitivamente
preocupante. Ela estava se escondendo por causa da coisa com Ashley?
Ela sabia que Ashley estava desaparecida, certo? E quanto a Leslie?
Como tinha sido sua entrevista com a Dra. Rose? Era como se Julie
tivesse sumido da face da terra.
Caitlin parou no meio-fio na frente da casa em ruínas de Julie,
pulou para fora de seu carro e caminhou em torno dos velhos aparelhos
e pilhas de lixo bloqueando a passagem. Enquanto ela se aproximava do
alpendre, uma voz rouca e desconhecida chamou das sombras.
— O que você está fazendo aqui?
Caitlin deu um salto, em seguida, procurou na escuridão. Ela
poderia apenas discernir o contorno de uma pessoa curvada nas
sombras perto da porta da frente. Ela deu um passo mais perto da casa
e olhou para a pequena figura de aparência derrotada cujo rosto estava
obscurecido por um capuz volumoso.
— Hum. Oi? — ela perguntou timidamente.
— Eu disse, o que você está fazendo aqui?
A cabeça levantou, e Caitlin engasgou. Era Julie. Uma versão
encolhida e pálida dela, de qualquer maneira. Esta pessoa tinha as
mesmas características, a mesma cor de cabelo emoldurando seu rosto,
mas seus olhos estavam vazios e sem vida, sua tez pálida, sua postura
rígida. Ela parecia... um zumbi.
Caitlin caminhou para ela com cautela. — V... você está bem?
— Estou bem. — Julie olhou para longe de Caitlin, estudando uma
pilha de jornais desbotados e molhados que pareciam colados ao canto
da varanda. Ao lado deles havia uma fileira de plantas secas marrons —
talos mortos, na verdade — em vasos de cerâmica rachados que
pareciam ter estado lá desde os anos setenta. — Mas, falando sério. O
que você está fazendo aqui?
Caitlin ficou alarmada com a frieza e a distância na voz de Julie, e
uma pontada de desconforto deslizou através de sua pele. Ela olhou ao
redor da varanda, sem saber onde descansar os olhos. — Eu... eu, uh,
só queria ver você. Nós não soubemos mais de você. Isso é tudo.
O olhar de Julie se virou para Caitlin por uma fração de segundo.
— Obrigada pela preocupação. Mas eu nunca mais vou para a escola
novamente.
Ela parecia tão certa e determinada. De um modo robótico. Caitlin
respirou fundo, se perguntando se deveria sequer pressionar ainda
mais a questão. Mas ela o fez. — Olha, eu sei que deve ser muito difícil
pensar em voltar, mas está tudo bem. Nós vamos estar lá por você: nós
te protegeremos. Além disso, eu não sei se você sabe disso, mas Ashley
não está... bem, ela não está na escola agora. Ela está desaparecida.
— Eu ouvi — disse Julie.
— Oh — Caitlin disse, surpresa. — Bem, tudo bem então. Mas você
não acha que é assustador? Considerando... você sabe. A nossa lista.
Julie se virou e olhou para ela, seus olhos ainda sem vida. Isso
enviou um arrepio pela espinha de Caitlin. — Tudo isso é assustador —
ela sussurrou. E então ela fechou os olhos e caminhou de volta para a
varanda. — Estou muito cansada — ela murmurou.
Caitlin assentiu com a cabeça e se levantou. — Ok. Vou deixá-la
descansar um pouco, então.
Julie se balançou em seus pés sem jeito. — Talvez. — Ela andou
para a porta da frente, com o rosto inclinado para baixo.
— Será que vamos ver você amanhã? — Caitlin deixou escapar,
encolhendo-se ante seu tom excessivamente animado.
Mas Julie não respondeu. Ela abriu a porta da frente, cambaleou
através dela, e fechou-a atrás dela com um ruído chiado.
Caitlin ficou na varanda da frente por mais um momento, muito
espantada para se mover imediatamente. Era como se ela tivesse falado
com uma garota completamente diferente naquele momento. Alguém
que ela não conhecia.
Ela sabia que deveria sair naquele instante, mas algo a fez
permanecer no local, escutando. Através da porta, ela ouviu a voz
abafada de Julie. Julie soou levemente agitada. Quando ela terminou de
falar, houve um silêncio — com quem quer que seja que Julie estivesse
conversando, falava muito baixinho para Caitlin ouvir. A voz de Julie
murmurou de novo, e então mais silêncio. Era sua mãe, talvez?
A cortina vibrou, e Caitlin pulou para longe, de repente sentindo
como se estivesse escutando atrás das portas. Ela se virou e começou a
descer as escadas, mas tropeçou em uma panela de metal enferrujada e
raspou sua canela com força. — Oh, porcaria! — Ela se inclinou para
esfregar sua perna, e quando ela o fez, ela teve um vislumbre de algo
escondido no canto da varanda, atrás dos jornais e vasos de plantas.
Era um balde de plástico com gotas de água da chuva coletadas na
tampa. Um símbolo vermelho de risco biológico — Caitlin reconheceu da
classe de química — estava estampado na frente. Ela aproximou-se e
leu o rótulo: ADUBO. E abaixo disso: Apenas para uso agrícola. Contém
Cianeto de Potássio.
Confusão e medo irradiou em ondas através do corpo de Caitlin.
Levou um momento para seu cérebro se recuperar. Ela olhou para o
balde, lendo as palavras mais uma vez.
Foi isso que matou Nolan.
Capítulo 26

S
exta à tarde, Julie estava sentada em sua mesa, olhando
fixamente para seu computador, enquanto Parker estava sentada
na cama atrás dela, folheando a revista Us Weekly. Era meio-dia
e ainda era tão estranho estar em casa enquanto todas as pessoas que
ela conhecia estavam na escola. Mas tanto faz. Ela nunca mais iria
novamente. Ninguém poderia fazê-la ir.
Julie logou no Facebook. Ela não tinha certeza por que — não era
como se ela fosse simplesmente começar a mandar mensagens para as
pessoas ou postar como se nada tivesse acontecido. Ela podia imaginar
a postagem: Desculpa eu não ter atualizado por uns dias! Eu estive muito
ocupada me recuperando da humilhação pública, evitando a polícia, e
acobertando a minha melhor amiga — a assassina em série. Bons
tempos!
Ela mal tinha terminado de digitar a senha dela quando dezenas
de notificações apareceram. Uma após a outra, elas mostravam as
banalidades felizes da vida — a vida normal que ela e Parker nunca
teriam novamente. Ela leu as mensagens sobre a festa de Halloween de
Nissa. Quem está pronto para começar a festa mais cedo? Vejo vocês na
minha casa em 3 horas! Apenas as fantasias são obrigatórias! Nissa
tinha escrito. Um grupo de pessoas tinha respondido com curtidas
entusiasmadas.
Julie tinha esquecido que era a festa de Halloween da sua velha
amiga hoje à noite. Por um breve momento, ela foi transportada para as
festas dos anos anteriores — tantos momentos felizes. Como a de dois
anos atrás: Ela vestida como uma dançarina de Vegas, com uma pluma
em cima de sua cabeça e um vestido brilhante que exibia seu corpo
tonificado. As pessoas tinham postado toneladas de fotos dela no
Facebook, e ela tinha sido eleita não oficialmente a melhor fantasiada
da noite. Ela dançou toda a noite com suas amigas, incluindo Parker.
Parker não tinha ido no ano passado, no entanto, seu ataque tinha
acontecido poucas semanas antes. Julie lembrava vagamente de ter ido,
mas realmente não se divertindo tanto quanto antes — ela ainda estava
muito abalada.
Ela sentiu a mão de Parker tocar seu ombro e se virou. Sua melhor
amiga estava debruçada sobre Julie, lendo a postagem. — Parece que
todo mundo vai — murmurou Parker, apontando para uma lista de
comentários abaixo do convite.
Julie olhou para a postagem, também. Seu olhar focou em um
determinado nome: Lá, no meio da página, Claire Coldwell tinha escrito
Conte comigo! Ela se virou e olhou para Parker, seu coração batendo
forte. Parker tinha visto o nome de Claire? Isso era um vestígio de um
sorriso determinado em seu rosto? Julie lembrou quão inflexivelmente
Parker tinha dito que Claire merecia pagar, também.
— Nós não vamos — ela disse enfaticamente.
Parker deu a Julie um olhar confuso, então ergueu as mãos em um
gesto de recuo. — Desde quando eu quero ir a uma festa?
Julie engoliu em seco. — Tudo bem — ela disse lentamente. —
Apenas me certificando.
Então ela fechou os olhos. Essa coisa de Parker estava mexendo
com ela nos melhores momentos e deixando-a em modo de
hiperventilação, de insônia e pânico o tempo todo. Apenas dois dias
atrás, ela achava que não havia nada que ela não faria por sua amiga, e
ela jurou que ela iria protegê-la a qualquer custo. Mas agora Julie não
tinha tanta certeza. Parker tinha matado pessoas, com suas próprias
mãos. Só saber isso fazia Julie se sentir culpada e responsável. Ter isso
em segredo, mesmo por Parker, era errado.
Por outro lado, como ela poderia entregar sua melhor amiga? A
única pessoa que tinha estado com ela em todo momento? Julie queria
que houvesse alguém que ela pudesse ir em busca de orientação. Ela
tinha até considerado falar com Fielder sobre o assunto, apesar de seu
comportamento questionável com Parker, mas eventualmente ela
decidiu que era muito arriscado. Ela não podia confiar nele, e se alguma
coisa acontecesse com Parker, ela nunca se perdoaria.
— Desculpa — disse Julie, lançando um sorriso a Parker. — Eu só
estou cansada e estressada. Não ligue para mim.
— Ei, eu compreendo totalmente — disse Parker. — Mas você não
acha que ficar enfiada aqui dentro provavelmente não está ajudando?
Julie ficou rígida. — Temos que ficar aqui... pelo menos até
descobrirmos o que vem depois.
— Quanto tempo é que vai ser?
— Eu não sei! — Julie sabia que ela precisava fazer um plano,
talvez uma rota de fuga para ela e Parker deixar a cidade. Ela tinha que
sair daqui antes que a polícia descobrisse tudo — ou antes que Leslie
acordasse e lembrasse que Parker a tinha empurrado. Mas ela se sentia
tão empacada. E exausta: Ela não poderia nem mesmo fazer o esforço
para dar o primeiro passo.
Um sinal sonoro fraco soou através da porta fechada do quarto.
Julie e Parker trocaram um olhar, seus olhos arregalados.
— Isso foi a campainha? — Parker sussurrou.
— Sim. — Pânico floresceu no intestino de Julie. Elas não estavam
esperando ninguém, e ela tinha certeza de que Caitlin e as outras
tinham entendido a dica de que ela só queria ser deixada sozinha. A
campainha tocou novamente.
— Julie, você não vai atender a porta? — a Sra. Redding gritou de
algum lugar no corredor.
Ela precisava atender, mas ela realmente não queria deixar Parker
sozinha. Finalmente, ela lançou um olhar de advertência a Parker. —
Fique aqui — Julie sussurrou para Parker. — Eu estou falando sério.
— Eu prometo. — Parker voltou a se sentar na cama e puxou os
joelhos em seu peito.
Julie caminhou cuidadosamente pelo corredor, evitando caixas.
Ela abriu a porta para encontrar os detetives McMinnamin e Peters,
parecendo estranhos em seus ternos e gravatas de pé no meio dos
destroços da casa de Julie. Seus rostos estavam sérios. Julie estava
aliviada que ela tinha dito a Parker para ficar em seu quarto.
— Olá, Srta. Redding — disse o detetive McMinnamin
bruscamente. — Se importa se nós fizermos algumas perguntas a você?
— Uh, não. — Julie manteve a voz neutra, mas sua mente estava
correndo. Será que ela deveria sair e falar com eles na varanda? Ou
será que eles achariam isso estranho e pensariam que ela estava
escondendo alguma coisa lá dentro? Mas se eles entrassem e vissem o
quão horrível sua casa era, isso não iria fazê-la parecer ainda mais
suspeita aos seus olhos?
— Por que vocês não entram? — ela disse calmamente, como se ela
convidasse as pessoas para sua casa rotineiramente.
Ela abriu a porta teimosa da frente, cutucou de lado uma pilha de
cobertores velhos com o pé, e os levou para a sala. Os detetives
estudaram a sala com uma observação desinteressada. Eles pareciam
não se incomodar, suas caras de pôquer profissionais intactas.
Julie passou por um caminho estreito através do espaço apertado,
até o sofá que ela honestamente tinha esquecido que estava na casa.
Ela pegou uma pilha de revistas mofando e colocou-a no topo de uma
coluna de caixas nas proximidades. Ela moveu uma torre alta de jogos
de tabuleiro — Ludo, O Jogo da Vida, Batalha Naval, Trivial Pursuit —
jogos que Julie nunca se lembrava de jogar mesmo quando ela era
pequena. Mesmo depois de tudo isso, ela mal deixou espaço suficiente
para os dois homens se sentarem. Pelo menos havia uma coisa positiva
em tudo isso: Os gatos foram todos embora, o Controle de Animais os
tinha levado alguns dias antes. O lugar ainda cheirava a urina de gato,
mas pelo menos não havia uma dúzia de criaturas se esfregando contra
as pernas dos policiais.
— Por favor, sentem-se. — Julie apontou para o sofá.
— Obrigado. — McMinnamin se sentou com um suspiro pesado,
puxando um pequeno caderno do bolso de trás.
— Eu ficarei de pé, obrigado — disse Peters em sua profunda voz
barítono.
Julie deixou de lado uma cesta repleta de sacos e potes de
amostras de cosméticos e pequenas garrafas de xampus de hotel, em
seguida, se sentou na ponta da mesa de café, tentando parecer o mais
natural possível. A sala ficou em silêncio por um momento. Julie ouviu
atentamente quaisquer ruídos no seu quarto no fim do corredor. Até
agora, Parker tinha estado silenciosa como um rato.
McMinnamin pigarreou. — Então, Julie, nós estamos realmente
surpresas que você está em casa esta noite. Ouvimos que há uma
grande festa de Halloween.
Julie pestanejou. Como diabos a polícia sabia disso? Será que eles
mantinham o controle sobre todas as festas de Beacon... ou apenas as
mais recentes, dado ao que aconteceu com Nolan? — Uh, eu não estou
realmente afim de festa esses dias — ela murmurou.
McMinnamin balançou a cabeça, como se isso fosse
completamente compreensível. — Nós gostaríamos de lhe fazer algumas
perguntas sobre uma de suas colegas de classe, Ashley Ferguson. Você
provavelmente sabe que Ashley tem estado desaparecida de sua casa há
uns dois dias. Certo?
— Uh-hum — Julie recitou.
McMinnamin olhou para ela com seus olhos azuis remelentos. — A
família dela está muito preocupada com ela, e nós estamos apenas
seguindo todas as pistas. Ouvimos que você e Ashley tiveram alguns
problemas.
Julie deu de ombros. — Ashley descobriu sobre... — ela apontou
para a sala, a casa, o quintal em torno dela, — tudo isso. A acumulação
de coisas da minha mãe. E ela expôs a toda a escola em um e-mail.
McMinnamin e Peters piscaram e esperaram que ela continuasse.
— Mas eu estava tentando ao máximo não deixar isso me atingir.
— Ela olhou de volta para os detetives, encontrando os olhos de
McMinnamin. — A escola pode ser brutal, às vezes.
McMinnamin franziu os lábios, como se imerso em seus
pensamentos, em seguida, clicou no topo de sua caneta algumas vezes.
— Onde você estava na terça-feira à tarde, depois que você saiu do
escritório da Dra. Rose na delegacia de polícia?
Julie fingiu pensar sobre onde ela tinha estado, ela tinha estado
ensaiando sua mentira por dias. — Eu estava com Parker. — As
sobrancelhas de McMinnamin elevaram ligeiramente, e ele olhou para
Peters. Peters concordou. — Estávamos fazendo compras. Durante toda
a tarde — Julie disse, confiante.
Os policiais olharam para ela, seus olhos se estreitando. — Parker
quem? — McMinnamin perguntou finalmente.
Julie resistiu à vontade de revirar os olhos. — Uh, Parker Duvall?
Minha melhor amiga?
McMinnamin olhou para seu bloco de notas. Ele rabiscou algumas
notas, em seguida, trocou um olhar silencioso com o seu parceiro. —
Certo. Parker Duvall — disse Peters. — Entendi.
Julie foi capturada com um súbito medo de que ela tinha dito a
coisa errada. Eles vão querer questionar Parker agora? Ela não tinha
certeza se Parker poderia lidar com isso. Talvez ela não devesse ter
mencionado Parker de jeito nenhum. Talvez ela devesse ter dito que ela
estava com Carson. Ele teria acobertado ela.
A voz de McMinnamin trouxe Julie de volta de seu devaneio. — Ok.
Obrigado pelo seu tempo, Julie. — Ele se levantou.
— Se você pensar em outra coisa — Peters acrescentou, — você vai
nos avisar?
— Claro — Julie assegurou-lhes.
McMinnamin apertou a mão dela. Peters bateu dois dedos na testa
como um adeus. Ela levou os homens à porta, tentando parecer como
se ela tivesse todo o tempo do mundo. Ela fechou a porta atrás deles e
inclinou-se contra ela, o alívio enchendo ela. Isso não tinha sido tão
ruim. Exceto pela parte onde ela basicamente guiou eles direto para
Parker. Mas eles não haviam perguntado onde Parker estava nem nada
— ou dado qualquer indicação de que queriam falar com ela. E no
momento que eles voltassem, tendo percebido que Parker geralmente
acampava na casa de Julie, Julie e Parker estariam muito longe.
Primeiro, porém, ela precisava fazer uma chamada. Tornou-se
dolorosamente claro para Julie que ela não podia lidar com isso
sozinha. Ela precisava de ajuda e só havia uma pessoa que ela podia
pensar para ligar, apesar de suas muitas e muitas reservas. Julie
caminhou ao longo do corredor de volta para o sofá da sala e sentou-se.
Ela não queria que Parker a ouvisse fazer isso. Ela pegou o celular no
bolso e clicou F-I-E na barra de pesquisa de contatos. O nome de Elliot
Fielder apareceu instantaneamente, e ela discou o número dele.
— Parker? — Ele parecia ansioso. — É você?
Parker? Julie estava confusa. Por que ele iria estar esperando
Parker ligar? Ela desligou o telefone reflexivamente e voltou pelo
corredor e entrou no quarto dela, pronta para fazer perguntas.
Esse era o problema, porém: O quarto estava vazio. Julie olhou ao
redor, seu coração balançando em sua garganta. — Parker? Parker?
Seu olhar focou na tela de seu computador. O Facebook ainda
estava aberto, mas a página mudara — agora a página de Mac estava
aberta. Julie se aproximou. A imagem estava destacada. Era de Mac e
um menino loiro que Julie não reconheceu, sentados em um carro
escuro, as cabeças inclinadas perto. Estava claro o que eles estavam
fazendo. A legenda estava abaixo dela: Uma vez vagabunda, sempre
vagabunda. Claire Coldwell tinha escrito.
Julie sentou-se. — Merda — ela sussurrou. Ela não sabia o que
esta situação era, mas sabia que uma coisa era certa: Parker tinha
estado olhando para ela. E talvez, para ela, foi a gota d’água, assim
como o Instagram de Ashley tinha sido.
Ela pulou da cama e ziguezagueou tão rápido quanto podia pelo
labirinto de resíduos do estofamento do corredor, de volta para a porta
da frente. Ela abriu a porta da frente. O quintal estava quieto, a rua
tranquila.
Parker tinha ido embora.
Capítulo 27

A
va olhou-se no espelho do banheiro no Hospital Memorial de
Beacon. Seus olhos estavam vermelhos, seu nariz estava
rachado e descamando e ela parecia destruída. Ela tocou nas
olheiras inchadas sob os olhos, puxou o cabelo para cima em um rabo
de cavalo bagunçado, e jogou um monte de lenços de papel amassados
dentro da lata de lixo de metal. Quando ela saiu do banheiro, ela
passou por um policial indo na direção oposta. Ela encolheu-se, mas o
policial nem sequer olhou para ela. Talvez ele devesse, ela pensou com
um sobressalto.
Leslie ainda estava em coma, fazendo pouco progresso, mas pelo
menos ela não estava piorando. O pai de Ava tinha passado cada
momento ao seu lado, e Ava tinha passado uma boa parte do tempo no
hospital, também. Não importava o quanto ela odiava Leslie, ela queria
estar aqui pelo pai dela.
A polícia tinha investigado a queda de Leslie e determinou que foi
um acidente — o nível de álcool no seu sangue tinha sido extremamente
alto, e ela já tinha estado agitada. Eles assumiram que ela bêbada
escorregou da varanda em seus saltos altíssimos. Ainda assim, Ava se
sentia nervosa sobre a coisa toda. Graças a Deus ela tinha um álibi
incontestável, uma vez que ela estava com o pai dela quando aconteceu.
Mas ela não podia deixar de pensar no bloco amarelo da casa de
Granger. Onde estava aquela coisa? E se alguém o encontrou?
Em alguns aspectos, Ava ansiava que Leslie acordasse. Pelo
menos, então, ela poderia ser capaz de dizer-lhes quem a tinha
empurrado.
Ela voltou à sala de espera e encontrou seu pai sentado em um dos
sofás desconfortáveis, uma xícara de café que estava provavelmente fria
em suas mãos. A mãe de Leslie, Aurora Shields, que tinha aparecido
poucas horas após o acidente de Leslie — uma situação incrivelmente
estranha, enquanto eles a deixavam entrar em sua casa, mas não
tinham absolutamente nenhuma ideia do que fazer com a mulher, que
se queixou sobre tudo, desde os lençóis desconfortáveis até a falta de
leite de soja na geladeira — estava sentada rigidamente na frente dele,
as mãos cruzadas no colo. A Sra. Shields olhou friamente para Ava
quando ela caminhou de volta. Ava se perguntou o que Leslie tinha dito
à mãe sobre ela. Provavelmente nada bom.
Ela deu a Sra. Shields um sorriso educado, caminhou até seu pai,
e encostou a cabeça no ombro dele. Ele olhou para cima e envolveu-a
em um abraço apertado. Enquanto a abraçava, Ava pôs os olhos na
papelada que ele estava lendo. “Cemitério McAllister” lia-se através da
página superior em um roteiro digno e sério.
Ava franziu a testa. — Você tem que pensar positivo, papai. Ela
não está... você sabe. Ainda. — Ela olhou para a Sra. Shields, que
estava prestando atenção claramente.
O Sr. Jalali balançou a cabeça, em seguida, dobrou os papéis em
seu colo. — Eu só estou tentando cobrir todas as bases, jigar. E de
qualquer maneira, Aurora e eu pensamos que seria uma boa ideia
apenas ver quais são as nossas opções. — Ele olhou para a Sra.
Shields, também. Foi quando Ava percebeu que provavelmente tinha
sido tudo ideia da mãe de Leslie. Jesus. Leslie estava em coma há
poucos dias e sua mãe já estava comprando uma sepultura para ela.
Talvez fosse por isso que Leslie era uma merda de mãe — ela tinha tido
um modelo terrível.
Ava deixou escapar um pequeno gemido, brevemente pensando
sobre sua própria mãe e seus arrependimentos sobre Leslie. O Sr. Jalali
olhou para ela com simpatia, os olhos molhados de lágrimas. — Isso
deve ser tão difícil para você, querida. Isso está trazendo de volta
lembranças para mim, também.
Ava se encolheu. Isso trouxe de volta memórias: Ela e o pai tinham
mantido vigília neste mesmo hospital depois do acidente de sua mãe,
embora não por tanto tempo. A morte da Sra. Jalali tinha sido
repentina, e tinha sido apenas uma breve espera no pronto-socorro
antes dos médicos dizerem que não poderiam salvá-la. Mas o cheiro de
hospitais ainda revirava o estômago de Ava, assim como a arte sombria
nas paredes, e os rostos pálidos de todos os membros da família à
espera para saber se seus entes queridos iriam se recuperar ou morrer.
Por alguma razão, quando ela ouviu a notícia sobre a mãe dela, Ava não
tinha começado a chorar. Em vez disso, ela caminhou atordoada para
as máquinas de venda automática e olhou para os lanches alinhados
em fileiras por trás do vidro. Ela colocou moedas na coisa e selecionou
batatas Bugles, o petisco favorito de sua mãe, como se comprá-los a
traria de volta.
Ava sabia que se Leslie morresse, ela não seria atingida com a
mesma dor — seria culpa, ao invés. Mas ela reconheceu o quão difícil
isso provavelmente seria para seu pai. Mesmo quão bizarro parecesse
para ela, Leslie tinha sido o segundo amor de sua vida e Ava tinha
aceitado isso. Ela acariciou seu braço, sentindo a necessidade de
confortá-lo. — Nós temos um ao outro. Nós sempre teremos. Vai ficar
tudo bem.
— Você é uma boa menina — o Sr. Jalali sussurrou, o que deu a
Ava uma pontada de culpa. Então ele olhou para ela. — Você não tem
uma festa de Halloween hoje à noite?
Ava balançou a cabeça. — Eu não vou te deixar sozinho. —
Especialmente com a Sra. Shields.
— Oh, Ava. — Ele suspirou. — Você deve ir, se divertir um pouco.
Eu sei o quanto você ama festas a fantasia. Alex vai?
Ava balançou a cabeça. — Ele tem que trabalhar até tarde.
Ela não pôde deixar de sorrir, apesar de tudo. Agora que Alex havia
sido inocentado de todas as acusações da morte de Granger, seu pai era
de repente um grande fã de Alex novamente.
— E suas amigas? — perguntou o Sr. Jalali. — Aquelas meninas
com quem você está saindo?
Ava tinha recebido algumas mensagens de Caitlin e Mac antes,
perguntando se elas deveriam ir para a casa de Nissa ou não. Mac tinha
decidido ir, para se manter de olho em Claire, ela era a única pessoa
que sobrou nessa lista, afinal. Caitlin havia dito que iria também. Ava
se sentiu culpada de repente, ela deveria ir com elas, elas teriam mais
força juntas.
Ela assentiu com a cabeça. — Ok. Eu vou. Mas papai, se precisar
de mim, ou se alguma coisa acontecer, você vai me ligar, certo?
— Claro. — Ele sorriu gentilmente. A Sra. Shields, no entanto,
olhou para Ava como se ela tivesse acabado de dizer que ela estava
saindo para o estacionamento para fumar metanfetamina.
Ela se virou para sair, pensando em como ela não tinha uma
fantasia e teria de tomar banho, se ela não quisesse cheirar a hospital.
Assim que ela chegou à porta, seu pai a chamou novamente. — Oh,
Ava? — Ele enfiou a mão no bolso da calça e tirou algo pequeno e
delicado. — Eu esqueci. Eu achei isso... eu acho que é seu, não é?
Ela atravessou a sala e estendeu a mão. Ele deixou cair na palma
da sua mão, e ela estudou por um momento. Era um brinco de
candelabro bonito de fio de prata e contas de âmbar brilhantes. Ela
balançou a cabeça. — Não é meu.
Seu pai parecia confuso. — Você tem certeza? Não é de Leslie, e eu
achei no andar de cima no chão do meu quarto...
Ava piscou com força. De repente, ela teve um lampejo de
reconhecimento — ela tinha visto aqueles brincos antes. Seu coração
parou. Seus olhos se arregalaram.
— Você achou isso no seu quarto? — ela gritou.
Ele assentiu, inclinando a cabeça. — Por quê?
Outro pensamento pendeu nos lábios de Ava, mas ela não se
atreveu a dizer em voz alta. O quarto com a varanda que Leslie caiu?
— O que foi? — o pai dela perguntou, inclinado para a frente.
— N... nada. Vejo você mais tarde. Te amo. — Ela se virou e correu
para a porta, sua mente de repente girando. Ela precisava chegar na
festa e encontrar as outras o mais rápido possível.
O brinco era de Julie.
Capítulo 28

N
a sexta-feira, um urso branco felpudo de dois metros e oitenta e
sete esbarrou em Mac e desajeitadamente derramou cerveja em
sua blusa com uma pata gigante. — Opa, desculpa! — ele falou
com uma risadinha abafada. Mac poderia dizer que era Sander Dennis,
que estava em sua aula de química. Sua namorada, uma menina do
penúltimo ano chamada Penelope Steward, gargalhou em seu tutu cor
de rosa, em seguida, caminhou ao redor da mesa do DJ para o barril.
— Onde está sua fantasia?
Mac olhou para cima. Thad Kelly, um graduando, estava vestindo
uma fantasia de um pássaro azul e uma faixa com “Insira 140
caracteres aqui” impresso nela. Ele olhou para Mac, bêbado, mesmo
que a festa tivesse acabado de começar, tipo, há cinco minutos.
Mac olhou para seus jeans boyfriend enrolado nas bainhas e seu
suéter de tricô grosso. — Eu realmente não tive tempo para pensar em
uma — ela disse.
— Chata! — Ele riu e partiu para longe.
Ela suspirou e observou a sala novamente. Se ela pudesse dizer-
lhe que ela não estava aqui para celebrar o Dia das Bruxas — ela estava
ali para salvar uma vida. Uma premonição horrível disse-lhe que esta
noite ia ser a noite que o assassino estava pensando em machucar
Claire. Era o ambiente perfeito: uma festa barulhenta e caótica, um
monte de álcool, muitos suspeitos.
A coisa exata que ela tinha dito quando elas estavam planejando a
brincadeira com Nolan na festa dele.
Mac estremeceu. Ela tinha que encontrar Claire. Ela tinha vindo:
Hoje cedo, ela postou no Facebook sobre sua fantasia supersecreta.
Mac também tinha notado uma postagem de Claire sobre ela no
Facebook, uma foto dela e Oliver, se beijando, com uma legenda
maliciosa — mas ela calmamente apagou de sua página e decidiu não
insistir nisso ou no fato de que Claire aparentemente tinha escapado
para fora do restaurante naquela noite e espionou ela e Oliver enquanto
eles estavam se beijando. Isso não poderia ficar no caminho de Mac
tentar salvá-la.
Mac tinha verificado as páginas de outras pessoas, também. O
Facebook de Ashley Ferguson ainda estava silencioso, apesar de um
monte de gente ter postado que eles estavam orando por ela. As pessoas
tinham postado na conta de Ava oferecendo suas condolências pela
madrasta dela, embora Ava não tivesse adicionado qualquer coisa há
um longo tempo.
A página de Julie estava tão silenciosa quanto. A última vez que ela
postou foi antes da coisa toda do e-mail, quando ela enviou um link de
um artigo chamado “Os Dez Melhores Downloads Pandora Para
Começar Seu Fim de Semana”. Certamente não havia menção de que
ela estava participando da festa.
Mac fechou os olhos e lembrou-se da imagem de Julie dirigindo
pela casa de Claire. Talvez houvesse uma explicação para isso. Talvez
Julie conhecesse alguém naquela rua. Talvez ela estivesse dirigindo
devagar porque ela estava à procura de uma casa em particular — não
apenas a casa de Claire. Pois, por que diabos Julie estaria por trás de
tudo isso? Por que ela iria arriscar tanto? Na verdade, talvez Julie teve a
mesma ideia de Mac: verificar Claire para se certificar de que ela estava
segura. Tinha que ser isso.
Uma música da Katy Perry soou, e um bando de crianças gritou e
começou a dançar. Mac deu mais um giro ao redor do pátio,
circunavegando a piscina, onde uma horda de estudantes do penúltimo
ano estava jogando um jogo agressivo de pólo aquático misto, as
meninas segurando firme seus biquínis enquanto elas atiravam-se para
cima e para fora da água.
Então Mac a viu. Lá estava Claire, sentada com Maeve Hurley, que
tocava violino. Claire estava vestida como um doce polvilhado de Candy
Crush e segurava uma cerveja. Mac estava tão emocionada que quase
aplaudiu.
Ela andou até lá. Quando ela estava a poucos passos de distância,
Claire olhou para Mac e estreitou os olhos. Ela começou a sussurrar
algo para Maeve. Maeve olhou para Claire e deu uma risadinha.
Mas isso ainda não deteve Mac de sua missão. — Ei, Claire — ela
disse, aproximando-se de sua ex-amiga.
Claire olhou para ela confusamente, então franziu o nariz. —
Fantasia legal. Ou falta de fantasia. Esta é uma festa a fantasia, idiota.
Ou será que é essa a sua fantasia, de uma idiota?
Então ela e Maeve trocaram um olhar, levantaram e foram em
direção a casa. — Espera! — Mac gritou.
Mas Claire não se virou.
Bem, tanto faz. Mac iria apenas manter um olho nela durante toda
a noite. Ela seguiu de perto por trás delas, estudando os rostos
fantasiados no meio da multidão para ver se alguém estava observando
Claire, talvez conspirando para machucá-la. Tudo o que ela viu foram
Marilyn Monroes vulgares, estrelas do rock desgrenhadas, dois robôs de
Daft Punk e cerca de uma dúzia de indispensáveis gatas sexys/bruxas
sexys/freiras sexys. Todas elas estavam prestando atenção em suas
bebidas ou tirando fotos umas das outras em seus telefones.
Ela seguiu Claire e Maeve através das portas de vidro deslizantes
para a cozinha, onde uma cabeça decapitada dolorosamente realista
estava pousada em uma bandeja entalhada. Próximo a ela estava uma
exibição de olhos doces e algo que vagamente se assemelhava a
cérebros humanos. Dois atletas rindo, com os olhos vermelhos e com
rostos culpados em camisas dos Seahawks não originais, saíram da
despensa, potes de manteiga de amendoim e caixas de bolachas caindo
de suas mãos. Eles se inclinaram para Mac, e ela esbarrou na menina
na frente dela. Que, na verdade, era Claire.
Claire se virou. — Cuidado.
— Desculpa. — Mac baixou os olhos para o chão.
Claire cruzou os braços, a cabeça de doces coloridos inclinada para
um lado. — Qual é o seu problema, Mackenzie? Por que você está me
perseguindo? Não está claro que eu não quero ser sua amiga de novo?
Mac pensou novamente na postagem no Facebook. Isso
provavelmente parecia estranho. — Sinto muito. Eu só...
— Você só o quê? — Claire gritou. — Você só vai me deixar em paz
agora. — Então ela se virou e subiu as escadas.
Mac pulou para a frente para seguir Claire mais uma vez, mas, em
seguida, uma mão apareceu em sua linha de visão, impedindo-a de
continuar seu caminho. Mac estava subitamente cara a cara com Blake,
vestido como Anthony Kiedis dos Red Hot Chili Peppers, sem camisa.
Ele tinha, Mac não pôde evitar de notar, incríveis abdomens.
Blake olhou para Mac, em seguida, para Claire, subindo as
escadas. — Eu sei que você pensa que fazer reparações é a coisa certa a
fazer — ele gritou por cima da música, — mas talvez seja uma causa
perdida.
Mac se afastou dele. — Você não entende.
— Sim, eu entendo. — Blake enfiou as mãos nos bolsos. — Você
está tentando ser uma boa amiga. Vocês têm estado juntas desde
sempre. Mas ela mudou, Macks. Claire não é a garota que você se
lembra.
— Eu não me importo com isso — disse Mac com força. — Eu
tenho que me certificar que ela está segura.
— Segura do quê? — Blake sorriu. — Segura de bebida?
Provavelmente é tarde demais para isso. Segura de ficar com um cara
aleatório?
Mac piscou. Não havia nenhuma maneira que ela pudesse explicar
isso para Blake. Mas talvez ela estivesse exagerando. O que poderia
realmente acontecer com Claire enquanto ela estava dentro da casa de
Nissa? Afinal, ela havia dito que ela mataria Claire atingindo-a com um
carro — e isso não poderia acontecer enquanto ela estava dentro de
casa. Ela começou a respirar fundo. Tudo o que ela precisava fazer, ela
percebeu, era certificar-se de que Claire não sairia.
Ela se voltou para Blake, assim que ele estava caminhando em
direção a ela. Era estranho — ela o tinha evitado na escola por
semanas, correndo para longe se ela o via nos corredores ou no
estacionamento. E agora, de perto, ele parecia diferente. Mais alto,
talvez, do que ela se lembrava; mais largo, mais bonito. Ele estava de pé
tão perto dela, também, que seu peito nu estava quase tocando o dela.
Ele estendeu a mão suavemente e tocou o cabelo de Mac. — Você
está muito bonita esta noite.
Mac zombou. Agora ela tinha certeza de que Blake estava
mentindo, considerando quão não-fantasiada que ela estava.
Blake deu um passo mais perto dela. De repente, Mac podia sentir
o cheiro adocicado de padaria que ele sempre exalava. — Eu sinto
muito sua falta, Macks.
Ela baixou os olhos. — Blake...
— E eu estive esperando, orando, que você pelo menos falasse
comigo novamente. Eu tenho estado miserável, Macks. A vida não é a
mesma sem você. Você leu meu cartão?
Ela queria sacudir a cabeça. Ela queria dizer-lhe que ela não se
importava com um cartão estúpido. Mas ela sentiu seus lábios
tremerem. Ela não poderia jorrar as palavras certas para fora. Então ele
tocou-lhe o queixo, inclinando-o para cima. Ele não disse uma palavra,
apenas olhou profundamente em seus olhos, e Mac se sentiu
desmoronar. Mil pensamentos competiram por atenção. Ela podia
confiar nele? Ele parecia sincero... mas ele parecia da última vez
também. Como ela saberia se ele queria dizer o que ele disse?
Mac sentiu-se inclinando-se para ele de qualquer maneira. Ela
queria confiar nele, ela precisava confiar nele. E talvez ela pudesse.
Os sons da festa escapuliram. Ela inclinou a cabeça para cima em
direção a sua e fechou os olhos, animada para sentir seus lábios nos
dela novamente.
— Mac! — Alguém agarrou seu braço, trazendo Mac de volta ao
presente barulhento e estridente. Ava estava ao lado dela, parecendo
tanto apressada e um pouco envergonhada. — Eu sinto muito, muito,
por interromper — ela disse, seu olhar pulando de Mac para Blake, —
mas temos que conversar.
Mac nunca tinha visto Ava parecer tão frenética. Seu coração
começou a bater forte. Ela voltou-se para Blake, seus lábios se
separando. — Hum, desculpa, eu...
Mas Ava a cortou e agarrou seu braço. — Agora.
Capítulo 29

C
aitlin ajeitou sua fantasia de líder de torcida da UDUB e saiu de
seu carro, que estava estacionado a alguns metros da casa de
Nissa em South Beacon, uma das áreas mais bonitas da cidade.
Ela já podia ouvir o baixo tocando lá dentro, e um bando de garotos
estavam de pé no gramado, bebendo de copos Solo vermelho não muito
escondidos. Um deles era Corey Travers, que estava na equipe de
futebol do colégio dos meninos, mesmo que ele fosse apenas um
calouro. — Ei, meninas! — ele gritou. — Bom jogo!
Caitlin e Vanessa — que Caitlin tinha pego no caminho —
sorriram. Corey estava se referindo ao seu jogo contra Franklin, que
aconteceu no início do dia. Elas tinham totalmente dominado, e Caitlin
se sentia muito bem sobre isso, especialmente desde que tinha sido seu
primeiro jogo como capitã.
Vanessa, que estava vestida como uma Viking — naturalmente, já
que Viking era seu apelido — deu uma cotovelada nas costelas de
Caitlin. — Ele é bonito.
— Ele é muito novo! — Caitlin riu.
— Isso não impediu você — brincou Vanessa, com os olhos
brilhando. Então ela olhou para Jeremy, que finalmente saiu do banco
da frente do passageiro de Caitlin e estava caminhando alguns passos
atrás delas.
Caitlin corou e bateu em sua cabeça, deixando o capacete de
Vanessa desequilibrado. Vanessa apenas riu e caminhou para o meio
da multidão, jogando suas tranças loiras longas e acenando em torno
de seu escudo de plástico.
Caitlin parou para deixar Jeremy alcançá-la. Ele tinha estado em
silêncio durante o caminho, e ele parecia meio incomodado e irritado
enquanto se arrastava através do quintal de Nissa. — Ignore ela — ela
disse rapidamente, esperando que Jeremy não tivesse se ofendido com o
comentário “muito novo”. — Ela é realmente legal quando você começa
a conhecê-la, eu prometo.
— Uh-hum — disse Jeremy.
Eles entraram, e os lábios de Jeremy pressionaram juntos
enquanto ele observava a multidão. Ele parecia tenso e irritado. Caitlin
o cutucou de brincadeira com um dedo, mas ele apenas ficou lá,
parecendo desconfortável com a fantasia de lenhador que ela remendou
para ele com as coisas em sua garagem. Isso não era a praia dele. Se
fosse por Jeremy, eles estariam em seu porão hoje à noite, assistindo
Dr. Who e namorando.
— Olha aquele esqueleto! — Caitlin falou em uma voz
excessivamente positiva, apontando para uma versão em tamanho real
na varanda. Então ela sorriu para a pessoa dentro com uma máscara
de alienígena marrom. — E aquele não é um personagem de Star Trek:
A Nova Geração?
— Uma versão ruim dele, sim — Jeremy disse acidamente.
Caitlin agarrou sua mão. — Venha. Vamos pegar um pouco de
cerveja. — Talvez Jeremy se animasse assim que ele estivesse um pouco
bêbado.
A sala estava lotada e suada, e a maioria das pessoas já estavam
bêbadas. Vários garotos estavam tomando cerveja pendurados de
cabeça para baixo no canto, e um enorme grupo estava brindando com
doses de gelatinas verde néon. Caitlin manteve um sorriso colado no
rosto o tempo todo, mas ela podia sentir o desgosto de Jeremy. Cam
Washington, que também estava na equipe de futebol dos meninos, veio
até ela e lhe deu um tapa forte na parte de trás. — Parabéns pelos dois
gols de hoje — ele falou arrastado, seu hálito cheirando a bebida.
— Obrigada — disse Caitlin em uma voz jovial. Ela fez um gesto
para Jeremy. — Você conhece Jeremy Friday, certo?
Cam olhou para Jeremy, com os olhos meio abertos. — Uh, não.
Acho que não nos conhecemos.
A mandíbula de Jeremy endureceu. Ele olhou para a mão
estendida de Cam, mas não apertou. Caitlin sabia exatamente o que ele
estava pensando: Cam conheceu Jeremy um zilhão de vezes. Ele era um
dos bons amigos de Josh e estava sempre na casa dos Friday. Ele
estava dando a entender que Jeremy não era suficientemente
importante para se lembrar.
Em seguida, outra voz ecoou. — Caitlin!
Caitlin olhou através da sala. Josh, vestido como David Beckham
por volta de seus dias no Manchester United, estava sentado em uma
cadeira, seu tornozelo mau apoiado sobre um divã. Pelo olhar de seus
olhos dilatados, Caitlin adivinhou que ele já tinha tomado várias
cervejas. Ela lhe deu um pequeno aceno, e ele acenou de volta. — Você
vai assinar o meu gesso? — ele perguntou em voz alta, segurando uma
grande caneta hidrocor.
Caitlin hesitou. Com o canto do olho, ela podia ver o rosto de
Jeremy ficando mais e mais vermelho.
— Vamos lá! — Josh gritou. — Você disse que iria, lembra!
O coração de Caitlin afundou. De repente, Jeremy deu meia-volta e
se afastou violentamente. Caitlin deu a Josh um sorriso meio irritado e
meio-apologético, então girou para ir atrás de Jeremy. Ela queria chutar
a si mesma. Ela disse que ia assinar o gesso de Josh quando ele
mandou uma mensagem para ela sobre isso hoje mais cedo.
Caitlin seguiu Jeremy para o corredor, que estava marginalmente
mais silencioso, exceto pela menina vomitando perto da porta dos
fundos. — Então, eu acho que seu irmão está um pouco bêbado — ela
disse, tentando parecer despreocupada sobre isso.
Jeremy lançou um rápido olhar para ela. — Você gosta mesmo de
mim?
Caitlin vacilou, surpreendida por sua intensidade. — Por que você
perguntaria uma coisa dessas?
Jeremy desviou o olhar. — Apenas parece que você prefere ter meu
irmão de volta. Como se talvez você esteja mudando de ideia.
Caitlin suspirou. Jeremy não era estúpido. Por um lado, ela
adorava isso nele, que ele estivesse tão sintonizado, tão consciente de
seus sentimentos. Mas, por outro lado, tornava difícil para ambos.
— Não — ela disse. — Eu não quero Josh de volta.
— Quando você esteve falando com ele?
Ela encolheu os ombros. — Ele me mandou uma mensagem sobre
seu gesso mais cedo. Eu concordei em assiná-lo porque eu estava
tentando ser legal.
Ele zombou. — Como se ele já tivesse sido bom para você.
— Isso não é justo — disse Caitlin. Ela respirou fundo. — Jeremy,
você e eu vamos ter de lidar com o seu irmão daqui para frente. Eu não
vou ser diretamente má com ele. Você não pode ficar com raiva de mim
só por eu falar com ele. Nós temos uma história. Você tem que tentar
me encontrar no meio disso, se comprometer um pouco. O que você não
parecia muito disposto a fazer ultimamente.
As sobrancelhas de Jeremy franziram juntas. — O que você quer
dizer com isso?
— Eu quero dizer... — O coração de Caitlin acelerou. Ela não
queria fazer isso. Mas algo tinha estado borbulhando dentro dela, tudo
parecia tão desajustado. Ela só tinha que dizer isso.
— Quer dizer, eu estou orgulhosa que eu jogue futebol — ela
desabafou. — Sim, eu ainda não tenho certeza de que isso será a minha
vida para sempre, mas eu gosto disso agora, e isso é importante para
mim. E você só... bem, você parece chateado que eu faça isso,
honestamente.
Os lábios de Jeremy se separaram. — Eu estava chateado porque
você desmarcou o nosso encontro...
— O que eu entendo — ela o interrompeu. — Mas você fez eu me
sentir tão culpada. Como eu ia saber que você estava me levando para o
One Direction? Não é como se você tivesse me dito de antemão.
— Porque deveria ser uma surpresa!
Caitlin baixou os olhos. — Eu realmente sinto muito sobre isso.
Mas, quero dizer, eu não poderia simplesmente abandonar a minha
equipe. A iniciação é uma vez no ano. É importante que as capitãs
estejam lá.
Jeremy moveu-se rigidamente. Caitlin se perguntou se ele estava
resistindo a revirar os olhos.
Ela suspirou e continuou. — E essas pessoas aqui, algumas delas
são meus amigos. Eu gosto de ir a festas, Jeremy. Se você der a eles
uma chance, talvez você gostasse deles, também.
Jeremy fez uma careta. — Duvido.
— Então talvez nós sejamos muito diferentes — disse Caitlin
calmamente. Ela odiava que ela estivesse dizendo isso, ela não queria
desistir de Jeremy. Mas ela não queria que ele se sentisse miserável
com ela, tampouco, e ele certamente parecia dessa forma agora.
Os olhos de Jeremy se arregalaram. Um olhar ferido atravessou
seu rosto. Mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Ava e Mac
apareceram correndo, com olhares ansiosos em seus rostos.
— Você viu Julie? — Ava disse firmemente.
Caitlin sacudiu a cabeça. Só de ouvir o nome de Julie a deixou
desconfortável. Ela não tinha sido capaz de afastar a sensação de que
algo estava seriamente errado com Julie na noite passada. Mas ela não
havia dito as outras sobre isso, esperando que Julie estivesse apenas de
mal humor.
— Nós precisamos encontrá-la rápido — Ava disse.
— Por quê? — perguntou Caitlin, sua preocupação crescendo.
Ava e Mac olharam para Jeremy. Ele recuou, sua expressão ainda
mais irritada do que antes. — Eu te vejo mais tarde — ele retrucou,
indo para a porta.
Caitlin pegou seu braço. — Você está indo embora?
— Não há nada para mim aqui — ele disse, e virou-se para
atravessar a multidão.
— Jeremy! — gritou Caitlin. — Como você vai para casa? — Ele
tinha vindo com ela, afinal de contas.
Mas ele não voltou atrás, girando em torno de uma múmia e
desaparecendo pela porta da frente. Os ombros de Caitlin desabaram. E
se ela o tivesse perdido para sempre? Simples assim? Ela queria ir atrás
dele, mas a julgar pelas expressões de pânico nos rostos de suas
amigas, algo estava seriamente errado.
Ava pressionou algo nas mãos de Caitlin. — Eu encontrei isso na
minha casa.
Caitlin olhou para baixo. Era um brinco. — Ok...
— É de Julie. Meu pai o encontrou no quarto dele. — Os lábios de
Ava tremeram. — O mesmo quarto com a varanda da qual Leslie foi
empurrada.
— E eu vi Julie no carro dela — Mac interrompeu, — dirigindo
muito devagar passando pela casa de Claire na quarta-feira à noite. E
ela nem mora perto de Claire.
A mandíbula de Caitlin caiu. — Eu fui vê-la ontem — ela admitiu.
— E, hum, eu vi algo em sua varanda. Era... era fertilizante. Bem, ele é
usado como fertilizante, mas é cianeto de potássio.
Mac engasgou e cobriu a mão dela com a boca. — E você está
apenas nos dizendo agora?
— Qualquer um poderia ter fertilizante assim — Caitlin protestou,
inundada de culpa. — E só porque você viu Julie dirigindo perto da
casa de Claire não significa nada. Ela poderia ter estado naquele bairro
por uma razão completamente diferente.
— Mas e quanto ao brinco? — Ava insistiu.
Caitlin vasculhou seu cérebro. Ela queria desesperadamente
encontrar algum pequeno detalhe, qualquer pedacinho de informação,
que inocentasse Julie. Mas ela não podia pensar. Havia muitas
evidências apontando para a mesma direção.
— Por que Julie faria isso conosco? — ela arfou.
Mas Ava e Mac não estavam ouvindo. Ambas estavam olhando
para o outro lado da sala, com seus olhares fixos na mesma pessoa.
Julie tinha vindo para a festa, afinal de contas.
Capítulo 30

J
ulie estava na porta que conduzia para a enorme sala de estar de
altura dupla de Nissa para o salão de trás. Ao redor dela estavam
bruxas, fantasmas, Kardashians e Mileys, e até mesmo um garoto
que tinha se vestido como o pássaro azul do Twitter. Alguns deles
estavam olhando para ela, horrorizados. Outros tinham sorrisos em
seus rostos. Todo mundo estava olhando o quão pálida ela claramente
parecia, como seu cabelo estava sujo, que ela estava usando uma
camiseta cinza da American Apparel e shorts pretos da Nike — não era
exatamente uma fantasia. Julie Redding tornou-se uma aberração,
certamente era o que eles estavam sussurrando. Mas isso não
importava. Depois desta noite, ela nunca veria nenhum deles
novamente. Ela só tinha que encontrar Parker primeiro. Mas por mais
que ela procurasse, ela não conseguia encontrar uma menina loira
pálida em um capuz preto sujo.
Julie tinha uma sensação horrível que Parker tinha visto aquela
postagem que Claire tinha escrito para Mac. Ela merece isso, Parker
tinha dito naquele dia na floresta. Ela é uma pessoa horrível. Será que
aquela postagem no Facebook sobre Mac foi a gota d’água para ela?
Ela estava ligando para Parker sem parar desde que ela percebeu
que ela tinha sumido, mas Parker não tinha atendido. Julie sabia que
ela tinha vindo aqui. Era a única coisa que fazia sentido, e isso partiu
seu coração. Parker tinha prometido. Ela estava muito mais doente do
que Julie tinha percebido. Ela precisava desesperadamente de ajuda,
ajuda que Julie não podia mais fornecer. Julie só esperava que ela
pudesse encontrar sua amiga e levá-la para ter ajuda antes de Parker
encontrar Claire.
Ela sentiu a mão de alguém em seu ombro e se virou. Ava, Caitlin,
e Mac juntaram-se ao redor dela. Caitlin parecia muito bonita em sua
fantasia de líder de torcida, e Ava parecia alta e imponente em um
vestido preto simples melindrosa. Mackenzie não tinha se fantasiado e
parecia um pouco desarrumada. Todas as três meninas pareciam
cautelosas e quase temerosas. — Julie, podemos conversar? —
perguntou Ava.
Julie franziu a testa. — Eu preciso encontrar...
— É muito, muito importante — Caitlin a cortou.
Julie olhou em torno de si. Elas estavam se aproximando dela,
encurralando ela.
— Tudo bem — ela disse com cuidado, seus arrepios aumentando.
— Mas só por um segundo. Eu estou meio que procurando alguém.
Mac visivelmente se encolheu. Ava tomou o braço de Julie e levou-
a através da porta de entrada e por um longo corredor em direção à ala
dos quartos. Estava mais tranquilo, embora elas pudessem ouvir
gargalhadas da sala de Nissa algumas portas abaixo. O leve cheiro de
maconha flutuava em direção a elas.
Julie olhou para suas amigas, suas expressões duras de repente
deixando-a desconfortável. Ela deixou escapar um riso nervoso. — O
que é isso? Vocês estão me assustando.
Elas olharam para ela por um longo momento. Por fim, Ava falou.
— Existe alguma coisa que você queira nos dizer?
Julie sentiu um puxão em seu estômago. Ela tinha muito a dizer a
elas... mas ela não se atreveu. — Hum, sobre o quê? — ela perguntou,
tão casualmente quanto pôde.
Ava tirou algo pequeno de seu bolso e balançou no rosto de Julie.
— Sobre isso, talvez?
Julie o arrancou de seus dedos. — Esse é o meu brinco! Onde você
encontrou isso?
Ava parecia aflita. — Na minha casa. No dia que Leslie foi atacada,
no mesmo quarto.
O coração de Julie despencou, e seu rosto enrugou em uma
expressão de dor. Parker. Ela deve ter pego emprestado.
— E eu notei cianeto de potássio em sua varanda — disse Caitlin
em voz baixa. — A mesma coisa que matou Nolan.
— Eu vi você dirigindo ao redor da casa de Claire — Mac
acrescentou, parecendo muito torturada.
— Julie, o que está acontecendo? — gritou Ava. — Você está
fazendo tudo isso?
Julie piscou com força, de repente compreendendo. — Espera aí,
vocês acham que eu fiz isso? — ela desabafou. Mas fazia sentido. Ela
ficou à espreita perto da casa de Claire só para ter certeza de que
Parker não estava lá. A mãe dela tinha Deus-sabe-o-que na varanda, e
certamente Parker sabia disso e tinha roubado um pouco. E Parker
usava os brincos de Julie quando ela empurrou Leslie da varanda.
— Eu sei o que parece — ela disse. — Mas, honestamente, gente.
Não fui eu. Vocês têm que acreditar em mim.
Ava parecia desapontada. — Julie, todos os sinais apontam para
você. O que devemos pensar? — Seu rosto enrugou. — A questão é...
por quê? Por que você faria isso conosco?
— Apenas confiem em mim, ok? — Julie disse freneticamente, seus
olhos lançando de um lado para o outro. O volume da música tinha
estado bombeando ainda mais alto, fazendo sua cabeça nadar. Ela
esticou o pescoço para procurar Parker, preocupada que ela pudesse
estar à caça de Claire. — Eu tenho uma explicação para vocês, mas eu
não posso dizer agora.
Ela tentou passar por elas, mas Ava pegou o braço dela. — Você
tem que nos dizer agora — ela sussurrou. — Nós não vamos deixar você
ir até você dizer.
Algo dentro de Julie estalou. — Me solta! — ela gritou.
— Não podemos fazer isso — disse Mac, formando uma parede
atrás de Ava.
Julie lutou para sair do aperto de Ava. — Me solta! Eu tenho que
detê-la!
A testa de Caitlin franziu. Mac inclinou a cabeça. Ava apertou
ainda mais apertado o braço de Julie. — Deter quem?
Julie olhou para elas loucamente. Deus, ela não queria dizer o
nome em voz alta. Assim que escapasse de seus lábios, ela trairia
Parker para sempre. — Não é óbvio? — ela gritou. — Quem não está
aqui agora? Quem mais sabe sobre a nossa lista?
— Você, Julie! — Mac praticamente gritou. — Você sabe! Você é a
pessoa por trás disso!
— Não, eu não sou! — Lágrimas se formaram nos olhos de Julie.
Ela praticamente podia sentir a presença de Parker nas proximidades,
Parker testemunhando isso. Odiando Julie. Finalmente percebendo que
amiga de merda Julie era, algo que Julie sabia o tempo todo. Ela
prometeu a Parker que ela guardaria o segredo. Tinha jurado por sua
vida nunca dizer a ninguém... e aqui estava ela, dizendo a todas.
Ela apertou as mãos sobre o rosto. — Eu não fiz mal a ninguém!
Foi Parker, ok! — Ela se contorceu para longe de Ava. — Eu estou
tentando mantê-la segura. E eu estou tentando manter Claire segura.
Mas Parker está doente, gente, e se vocês não me ajudarem a encontrá-
la agora, ela vai atrás de Claire.
Ela olhou para as outras, esperando expressões de choque... mas
também de compreensão. Mas Ava tinha ficado pálida. Caitlin estava
com a mão pressionada sobre sua boca. Mac parecia quase...
compassiva. E parecia que elas compartilhavam um segredo, algo que
não tinham dito a Julie.
Sua pele começou a formigar. — Então vocês vêm, ou não? — ela
perguntou abruptamente.
Finalmente Ava falou, com a voz trêmula. — Você quer que a gente
vá procurar Parker? — ela repetiu.
— Parker... Duvall? — Mac sussurrou.
— Sim — Julie cuspiu. — Nossa amiga. Parker Duvall. — Ela
piscou para elas. Todas elas pareciam ter congelado. — O que foi? — ela
retrucou. — Por que vocês não estão me ouvindo?
— Julie — Caitlin disse calmamente. Ela trocou um olhar com as
outras. Os olhos de Ava estavam cheios de lágrimas. O queixo de Mac
balançou.
Caitlin olhou para Julie novamente, sua expressão triste,
assustada e muito, muito preocupada. — Julie. Parker está morta há
mais de um ano.
Capítulo 31

A
va assistiu quando Julie Redding, uma menina que ela pensou
que ela conhecia, se espremeu contra a parede. Seu corpo inteiro
estava tremendo. — Não — ela sussurrou. — Isso não é verdade.
Você está mentindo.
Mac estava chorando agora. — Julie, Parker está morta. Seu pai a
matou. Ele... ele a espancou até a morte, naquela noite que ela voltou
para casa drogada com Oxy.
Julie cobriu a boca. — Não, ele não a matou. Ela sobreviveu.
Ava trocou um olhar devastado com as outras. — Ela não
sobreviveu — ela disse suavemente, com tristeza. — Tivemos vários
tipos de reuniões na escola, muito mais coisas do que nós tivemos para
Nolan e Granger combinadas. Você não se lembra? — Ava conseguia
lembrar perfeitamente. Parker tinha sido morta poucas semanas depois
da morte da mãe de Ava. Ava só tinha conhecido Parker
perifericamente, através de Nolan — eles haviam sido tão bons amigos,
e Parker tinha estado na casa de Nolan algumas vezes quando Ava
estava lá, também. Depois eles se separaram e Nolan começou todos
aqueles rumores sobre ela, e Parker tinha realmente se aproximado de
Ava, oferecendo-lhe apoio. Ele pode ser um babaca às vezes, Parker
tinha dito a ela. Quer que eu fale com ele para você? Mas Ava tinha dito
que ela ficaria bem. Ainda assim, ela tinha sido grata pela oferta de
apoio.
Ela se lembrou da manhã que ela descobriu que Parker tinha sido
morta. De primeira, foi disfarçado como um suicídio: Garota rebelde tem
uma overdose depois de uma noite de festa. Mas logo, a verdade veio à
tona por causa de todas as feridas no rosto e corpo de Parker.
— Foi você quem avançou sobre o pai dela — disse Ava em uma
voz rouca. — Foi você que fez ele ser preso. A mãe dela não queria falar.
— E você foi para o funeral dela — disse Mac.
— Você até mesmo falou — acrescentou Caitlin.
Mas Julie apenas piscou. O coração de Ava se partiu mais ainda.
Ela havia lido sobre o transtorno de estresse pós-traumático na aula de
psicologia no ano passado; e eles falaram sobre isso em mais de uma
reunião da escola. Fazia sentido, ela supôs: Julie tinha sido a melhor
amiga de Parker.
Mas Julie poderia ter passado tanto tempo fazendo isso sem
ninguém perceber que ela estava delirando? Ela poderia ter vivido o
funeral e a perda... e depois ter deletado tudo?
Caitlin estendeu a mão e tentou pegar a mão de Julie, mas Julie
recuou. — Isso não é verdade! — ela gritou, tão alto que as vozes na
sala de Nissa ficaram em silêncio por um momento antes de estourar
em risos histéricos. — Parker está com a gente o tempo todo. Você está
me dizendo que ela não estava em nossa classe de filmografia? Foi ela a
pessoa que iniciou toda aquela conversa!
Ava piscou. — Não, Julie. Foi você. Você foi a primeira pessoa a
dizer quem você queria que morresse.
— Na verdade, você disse duas pessoas — acrescentou Caitlin. —
O pai de Parker... e, em seguida, Ashley.
Julie balançou a cabeça. — Parker disse Ashley. Não eu. Ela
começou a conversa. Ela estava com a gente na festa de Nolan. E na
casa de Granger! — Todas balançaram a cabeça, mas ela pareceu não
notar. — Ela está aqui agora, também! Ela é a assassina! — Sua voz e
rosto estavam praticamente irreconhecíveis. — Ela é a pessoa fazendo
tudo isso, e eu sei que parece loucura, mas ela queria nos ajudar. Ela
estava apenas tentando nos proteger. É claro que é errado, eu sei disso.
Mas seu coração estava no lugar certo. — Ela levantou uma mão
trêmula e apontou para Caitlin. — Você finalmente tem consolo porque
Nolan se foi. — Ela apontou para Ava. — E admita, você ficaria feliz de
estar livre de Leslie. Você teria seu pai de volta.
— Shhh! — Ava assobiou, arregalando os olhos. Havia tantas
pessoas ao redor. Muitas pessoas podiam ouvir.
— Parker tinha boas intenções — Julie insistiu, sua voz
estranhamente calma e fria. Ela fixou em Mac com um olhar aguçado.
— Nenhuma dessas pessoas merecia morrer, nem mesmo Nolan. O que
significa que eu tenho que encontrar Parker antes que ela mate Claire.
E vocês vão me deixar fazer isso.
Julie pisou à frente, jogando Mac rudemente contra a parede, e
correu pelo corredor antes de qualquer uma delas poder reagir. Elas
correram atrás dela, mas ela tinha desaparecido, engolida pela
multidão.
Ava fez uma pausa na borda da massa amorfa de pessoas
dançando. Ela olhou para Mac. — Onde você viu Claire pela última vez?
O rosto de Mac estava pálido. — Aqui, eu acho. — Ela ficou na
ponta dos pés, tentando ver por cima das cabeças das pessoas.
De repente, um grito se levantou no meio da multidão. — Polícia!
— a voz de um menino gritou.
Todo mundo gritou. Pessoas fantasiadas corriam em todas as
direções, correndo para as portas e janelas, batendo uns nos outros e
empurrando a multidão para a frente. Ava lutava para se mover contra
a maré, tentando o máximo que podia encontrar onde Julie tinha ido.
Antes que Julie matasse novamente.
Capítulo 32

M
ac correu de cômodo em cômodo, gritando o nome de Claire.
Por favor, deixe ela ainda estar aqui dentro, por favor, deixe ela
ainda estar aqui dentro, ela pensou freneticamente. As
pessoas corriam para fora na direção oposta, fugindo da polícia. Lá fora,
carros de polícia estavam estacionados no meio-fio, sirenes badalando.
Mac ouviu gritos e passos trovejando, mas eles foram desaparecendo.
Todo mundo estava se dirigindo para a floresta, desesperado para não
ser pego. Claire foi para lá, também?
Ela correu para o jardim da frente. Os policiais estavam formando
um círculo solto ao redor do gramado, tentando conter a bagunça se
alastrando das pessoas correndo. Um policial tinha um megafone aos
lábios. Ele ecoou com informações. — Se você bebeu ou está debilitado
de outra forma, não fique atrás do volante de seu carro. Vamos levá-lo
para casa. Eu repito...
— Claire? — Mac gritou, pensando que ela viu a cabeça da sua
velha amiga em um grupo de pessoas. Ninguém se virou. Mais pessoas
passaram correndo. Mac olhou em volta procurando Julie, também,
mas ela também desapareceu. Seu coração bateu forte.
Mac ainda não podia acreditar no fato de que Julie achava que
Parker ainda estava viva — e mais do que isso, que Parker tinha estado
com elas, uma quinta menina em seu grupo. Ela alegou que Parker
tinha sido a pessoa que nomeou Ashley na aula de filmografia naquele
dia, mas Julie tinha dito o nome de Ashley por si mesma. Então... o que
isso significava? Parker era uma personalidade de Julie? Será que Julie
andava por aí na metade do tempo pensando que ela estava na pele de
Parker?
Mac estava surpresa que elas tinham deixado passar algo tão grave
bem debaixo de seus narizes. Em retrospectiva, houve momentos em
que parecia que Julie estava contradizendo a si mesma, mas Mac tinha
apenas pensado que ela estava discutindo um problema através de dois
ângulos. E não era como se Julie tivesse algum pai ou mãe percebendo
o que estava acontecendo — a mãe dela provavelmente nunca sequer
sabia onde ela estava. Ela poderia sair aqui e ali como quisesse. Se ao
menos elas tivessem a observado mais de perto. Vigiado ela mais. Elas
poderiam ter evitado isso? E pior, onde Julie estava agora?
Uma sombra passou correndo por Mac na rua, indo na direção
oposta dos carros de polícia. Mac viu a fantasia colorida e engasgou —
era Claire, e agora ela estava de pé sozinha no meio da estrada, olhando
para algo em seu celular.
— Ei! — Mac gritou, correndo em sua direção. — Claire!
Claire olhou para cima, mas seus olhos estavam vidrados. Seu
nariz enrugou com a visão de Mac. — Vá embora, já — ela disse em
uma voz entediada.
— Saia da rua! — gritou Mac.
Claire fez uma careta. — Por quê?
Só então, Mac ouviu o ronco de um motor de carro. — Claire! —
Mac gritou enquanto ela avançava. O carro acelerou novamente. Um
cheiro parecendo ácido subiu no ar. E, de repente, do nada, um carro
disparou para a frente, direto para o corpo de Claire.
— Não! — Mac correu para Claire. Faróis brilharam na estrada tão
brilhantes quanto uma lâmpada, iluminando ambas no brilho. O carro
estava se movendo rápido, aparentemente alheio ao fato de que os
policiais estavam apenas uns metros atrás delas. Finalmente, Claire
olhou para cima. Ela parecia cega pela luz branca. Sua boca estava
aberta e seus membros estavam moles.
— Se mexa! — Mac gritou. Ela chegou a Claire um milésimo de
segundo antes do carro, atirando-se contra o corpo de Claire e jogando
ela para a grama. Elas pousaram juntas do outro lado da rua, batendo
na calçada com uma força dolorosa. Claire gritou. Mac
momentaneamente não conseguia respirar. O carro guinchou próximo
delas, apenas uns centímetros de distância, descendo o bloco e virando
a esquina.
Mac ouviu um baixo choramingo atrás dela e se virou. Claire tinha
sentado, mas ela estava curvada, parecendo atordoada. Ela embalou a
mão esquerda na curva de seu braço direito. Então ela se virou e olhou
para Mac, arregalando os olhos quando ela pareceu perceber que Mac a
tinha salvado.
Sem dizer nada, Claire olhou para a mão dela. Mac olhou também.
Os dedos de Claire foram mutilados, torcidos uns sobre os outros em
uma configuração antinatural. Seu mindinho estava preso em um
ângulo horrível, claramente quebrado em mais de um lugar.
— Oh meu Deus — disse Mac. — Claire. Os seus dedos.
O rosto de Claire estava pálido. Ela abriu a boca como se fosse
falar, mas, em seguida, suas pálpebras se fecharam, e ela desmoronou
na grama.
Capítulo 33

U
ma hora depois, Caitlin estava com Mac e Ava no átrio da
estação de polícia. Os oficiais estavam correndo aqui e ali, e o
lugar parecia em pandemônio, telefones tocando, impressoras
estridentes e todos falando ao mesmo tempo. O coração de Caitlin ainda
estava acelerado. Ela esteve ao lado de Mac logo após Claire ser
atropelada por aquele carro, mas os paramédicos e os policiais tinham
enxotado elas para fora do caminho, enviando-as para casa. Mas elas
não podiam ir para casa. Elas tinham que vir aqui... e dizer a verdade.
McMinnamin apareceu na porta, seu olhar se estabelecendo sobre
as meninas. — Venham — ele disse com a voz rouca.
Sem dizer nada, todas o seguiram. O nariz de Caitlin se contraiu
com o cheiro de café velho e bolinhos muito doces. Ela procurou nos
rostos dos policiais por sinais do que tinha acontecido naquela noite.
Claire estava bem? Ninguém tinha ouvido qualquer coisa depois que ela
foi carregada para a ambulância. E se tivesse sido realmente Julie que
tentou atropelar ela? Certamente os policiais não suspeitavam delas
ainda, não é?
O policial levou-as para uma sala vazia e fez um gesto para todas
elas se sentarem. — Então. Noite agitada, hein?
Todas concordaram. As respirações de Ava saíam em pequenos
suspiros.
McMinnamin colocou as mãos nos quadris. — Vocês sabem de
alguma coisa, certo? É por isso que vocês estão aqui?
Caitlin olhou para Mac e Ava. Todas concordaram. Já era a hora,
Caitlin sabia, mas ela ainda sentia uma pontada. Parecia errado
entregar Julie. Elas haviam prometido ficar juntas.
Mac respirou fundo. — Nós achamos que é Julie Redding.
McMinnamin assentiu. Seu pomo de Adão balançou. — Ok, então.
Caitlin olhava para o chão. — Ela meio que... confessou — ela
admitiu.
Ainda era difícil processar o que tinha acontecido... o que Julie
era... e o que tinha realmente acontecido na casa de Nissa. Mas sim,
Julie tinha confessado. Mais ou menos. Ela disse que Parker tinha feito
isso, mas Parker não estava aqui.
— Mas então ela fugiu — acrescentou Ava. — Nós tememos que
tenha sido ela a pessoa que machucou Claire Coldwell.
McMinnamin assentiu. — Isso é o que nós estamos temendo,
também.
Caitlin levantou a cabeça para cima. — Espera. Vocês estão?
— Sim, temos estado observando Julie por algum tempo.
Caitlin olhou para o policial, ainda muito desorientada. —
Desculpa, mas como vocês descobriram tudo isso?
Como se fosse uma sugestão, a Dra. Rose, a traçadora de perfis
psicológicos, apareceu na porta. Ela usava um terninho bege e uma
expressão séria, e segurava um copo de café da Starbucks em sua mão.
— Detetive. Meninas. — A Dra. Rose acenou para cada um deles
enquanto ela atravessava a sala.
McMinnamin gesticulou para ela se sentar. — Caitlin estava justo
me perguntando como nós sabíamos que Julie Redding era a nossa
suspeita, doutora. Gostaria de responder a elas?
— Claro. — A médica sentou-se e coletou seus pensamentos por
um momento antes de falar. — Quando Julie e eu tivemos nossa sessão
privada na delegacia no outro dia, eu tive uma sensação do que poderia
estar acontecendo com ela. Ela vive em uma casa caótica e abusiva. Ela
está à procura de algum tipo de âncora e estabilidade. Eu trabalhei com
um monte de pacientes que têm o que chamamos de “transtorno
dissociativo de identidade”, e eu reconheci os sinais nela
imediatamente.
— É, tipo, quando as pessoas pensam que são mais de uma
pessoa? — perguntou Ava.
— Sim, Ava. É o que chamamos quando alguém, neste caso Julie,
acredita que tem duas ou mais identidades distintas e separadas. E não
apenas dois nomes, mas duas personalidades separadas. É quase como
ter duas pessoas completamente diferentes vivendo em um só corpo. E
para Julie...
— A outra pessoa é Parker — Caitlin interrompeu.
— Sim. Julie é Julie, e ela é Parker, em momentos diferentes, e às
vezes, ao mesmo tempo, também.
Caitlin engoliu em seco, o cheiro de antisséptico de repente
deixando-a enjoada. Ela esperava que houvesse outra explicação além
disso. Mas aqui estava. E, de certa forma, fazia sentido. Ela lembrou
quão estranha, mal-humorada e totalmente diferente de si mesma Julie
estava quando ela a encontrou no jardim da frente da casa de Julie
ontem. E se essa tivesse sido “Parker” que ela encontrou? Caitlin tinha
sabido que algo estava errado. Será que ela deveria ter feito alguma
coisa sobre isso? Alertado alguém? Mas, no entanto, como ela iria saber
que era algo assim tão... extremo?
A Dra. Rose se moveu em sua cadeira. — Quando ela disse aos
detetives McMinnamin e Peters no outro dia que o álibi dela na noite do
desaparecimento de Ashley era que ela tinha saído com Parker, bem,
isso basicamente confirmou minhas suspeitas — ela disse. — Julie
provavelmente ouve Parker em sua cabeça e provavelmente a vê como
uma espécie de alucinação. Ela é tão real para Julie como eu sou para
você agora. E eu estou supondo — a Dra. Rose continuou, — que, se
vocês pensarem sobre isso, vocês vão se lembrar de incidentes de
quando vocês pensavam que estavam falando com Julie, mas vocês
estavam na verdade com Parker, ou com a identidade Parker de Julie.
Caitlin assentiu com relutância. Assim como Mac. Em seguida,
Ava. Todas pareciam tão atingidas pela culpa. Caitlin sentia que elas se
sentiam tão enganadas quanto ela.
— Por que vocês acham que isso aconteceu com ela? — Mac
perguntou calmamente.
A Dra. Rose suspirou. — Julie não ajudou Parker na noite que o
pai de Parker a matou. Meu palpite é que ela assumiu a personalidade
de Parker logo após Parker ser morta porque ela não podia lidar com a
culpa. Tornar-se Parker era uma maneira de mantê-la viva; e Parker
serviu como uma saída para as partes mais irritadas da personalidade
de Julie. É do meu entendimento que Julie era muito popular, de alto
desempenho, e eu ouso dizer a estudante perfeita de Beacon Heights
High. Isso está correto?
Todas concordaram mecanicamente. — Isso é um eufemismo. —
Caitlin soltou uma risada triste e seca. — Ela era incrível.
— Inteligente, bonita, simpática... todos a amavam — disse Ava.
A Dra. Rose tomou um gole de café. — Bem, isso se encaixa. Julie
não poderia quebrar as regras, porque ela estava protegendo seus
próprios segredos sobre sua mãe, sua casa. Então, ela precisava manter
um exterior muito intocado. Ela não podia faltar a escola, ou falar
grosseiramente ou pisar fora da linha. Todo mundo precisa desabafar,
mas a perfeita Julie nunca poderia permitir-se fazer uma coisa dessas.
Ela tinha muita coisa em jogo. Parker, por outro lado, estava livre para
fazer e dizer o que ela queria. Incluindo obter sua vingança sobre as
pessoas que a machucaram ou a aquelas que ela era próxima. — Ela
olhou para as meninas. — Nolan Hotchkiss, sim, mas também Ashley
Ferguson, que estava arruinando sua vida. A polícia ainda não
encontrou ela, mas nós tememos o pior.
— Ela machucou minha madrasta, Leslie, também — disse Ava
com a voz embargada. — Eu disse a ela quão horrível Leslie era. Mas eu
nunca pensei que ela iria...
— E Claire, obviamente. — Mac apertou as mãos sobre os olhos. —
Claire tentou sabotar minha audição de Juilliard. Mas eu nunca quis
machucá-la.
Rose trocou um olhar surpreso com McMinnamin, depois assentiu.
— Ela estava atuando com suas frustrações porque ela podia — ela
disse. — Para “Parker”, não havia regras. Ela cruzou a linha muitas
vezes, quebrou todos os tipos de fronteiras. Tenho certeza que vocês
podem pensar em coisas que Julie disse que pareciam um pouco... fora
do lugar, talvez?
Caitlin piscou de volta para aquele dia na aula de filmografia.
Provavelmente tinha sido “Parker” quem tinha começado a conversa,
não Julie, porque Julie não teria se atrevido. Mas Julie havia apoiado
“Parker” rapidamente, ela se lembrava, adicionando o nome do pai de
Parker à lista quase que instantaneamente. Era perturbador pensar que
toda vez que ela se sentava em uma mesa de Julie, havia duas pessoas
olhando de volta.
Ela se mexeu desconfortável na cadeira da sala de interrogatório.
— Será que Julie percebe que ela tem duas personalidades diferentes?
— Você acha que há mais personalidades, além daquelas duas? —
Ava disse, ao mesmo tempo.
A Dra. Rose inclinou a cabeça, considerando isso. — Até onde
sabemos, é apenas Julie e Parker. Mas eu tenho que trabalhar com ela
ao longo de um período de tempo significativo para dizer com certeza.
Todo mundo ficou em silêncio. Um telefone tocou alto do lado de
fora. Um policial passou, resmungando para si mesmo.
— Tudo bem — Ava disse, inclinando-se mais perto do detetive e
da médica. — Eu entendo por que Julie, ou Parker, mataria Nolan, o pai
de Parker, até mesmo Ashley. Mas, supondo que tudo isso é verdade,
então por que ela mataria Granger? Porque ele estava atrás de mim e de
todas as outras meninas?
— Nós achamos que tinha algo a ver com isso. — McMinnamin
puxou um envelope coberto de lama rabiscado com JULIE REDDING de
sua pasta. — Nós encontramos no quintal de Granger sexta à noite.
Ele colocou um dedo sob a aba e puxou para fora uma pilha de
papéis. Era um relatório, escrito à mão pela Sra. Keller, conselheira de
Beacon High, durante a terapia de luto após o assassinato de Parker. —
A Sra. Redding mostra uma personalidade fragmentada preocupante —
ele leu em voz alta. — Ela parecia conduzir uma conversa com alguém
que não estava na sala. Quando perguntada sobre isso, a Srta. Redding
ficou muito agitada e secretória.
Caitlin fechou os olhos. — Por que a Sra. Keller não reportou este
fato a um médico no momento?
— Eu não sei — disse McMinnamin. — Talvez ela não reconheceu o
que estava acontecendo. Ou talvez ela só pensou que Julie estava sendo
dramática.
A cabeça de Mac disparou para cima. — Se você encontrou isso na
casa de Granger, então isso significa...
— Ele sabia. — Os olhos de Ava estavam enormes. — Sobre Parker,
quero dizer. Ou, bem, talvez não que a outra personalidade de Julie era
Parker, em si, mas que algo estava acontecendo.
— Isso mesmo. — McMinnamin esfregou os olhos com as mãos. —
Este relatório é altamente confidencial e deveria ter sido
cuidadosamente guardado. Mas, dado o que sabemos agora sobre a
ética questionável de Lucas Granger, acreditamos que ele percebeu algo
estranho em Julie e roubou o relatório do escritório da conselheira. O
que ele ia fazer com ele é uma incógnita.
Caitlin apertou os olhos, tentando juntar as peças. — Então é por
isso que Julie, ou Julie como Parker, matou Granger? Para manter o
segredo seguro?
McMinnamin assentiu. — As impressões digitais de Julie estão no
envelope, por isso sabemos que ela o pegou em algum ponto, se como
Julie ou como Parker, nós não sabemos. Nós supomos que ela achou na
casa de Granger na noite que as senhoritas estavam lá.
— Julie estava com medo que Lucas Granger a entregasse, e então
ela seria forçada a procurar tratamento — acrescentou Rose. — Vejam,
a maioria dos meus pacientes anteriores com identidades dissociativas
são muito resistentes ao tratamento. Eles criaram estas outras
personalidades para sobreviver e preencher alguns buracos
significativos em suas vidas. A minúscula parte lúcida que ainda existe
dentro de sua personalidade original sabe que a perda de uma dessas
outras identidades seria como uma morte. No caso de Julie, se ela for
forçada a buscar ajuda, então Parker, como Julie a entende, realmente
morreria. Julie iria perder sua melhor amiga de novo. Seria
absolutamente devastador para ela.
Todas concordaram com calma, mas por dentro, os sentimentos de
Caitlin estavam em fúria. Por um lado, Caitlin achava que elas deveriam
estar com raiva — Julie tinha assassinado três pessoas e armou para o
resto delas assumirem a culpa. Mas, por outro lado, como ela poderia
dizer que Julie era a responsável quando ela estava tão doente?
McMinnamin pigarreou. — Eu sinto muito que mantive vocês como
suspeitas por tanto tempo. Mas ainda existem alguns buracos que
precisamos que vocês preencham. Como o que vocês realmente estavam
fazendo na casa de Granger. E o que aconteceu na noite da festa de
Nolan? Eu sei que vocês estavam envolvidas. Vários sinais apontam
para vocês.
Caitlin sentiu um dardo de nervos, e ela baixou os olhos. Suas
amigas se moveram também. — Era para ser uma brincadeira — ela
disse com dificuldade.
— Nunca pensei que ele iria morrer — Ava sussurrou.
— Foi uma coisa terrível de se fazer — acrescentou Mac.
E Caitlin olhou para o detetive suplicantemente. — Será que isto
vai nos colocar em problemas?
McMinnamin cruzou os braços sobre o peito, com um suspiro. —
Depois de tudo o que aconteceu, tudo que eu quero é uma confissão. E
eu preciso que vocês nos ajudem a encontrar Julie. Ela está muito
doente. Ela precisa estar em custódia antes que qualquer outra coisa
aconteça. — Ele tossiu na mão dele. — É por isso que fomos para a
festa hoje à noite. Nós suspeitamos que Julie poderia estar lá. E nós
confirmamos que ela não estava em sua residência. Vocês podem
pensar em mais alguém que ela seja próxima, em algum lugar que ela
poderia estar?
Ava franziu a testa. — Bem, ela teve alguns encontros com um
novo garoto da escola, Carson.
McMinnamin balançou a cabeça. — Carson Wells. Nós já
verificamos com ele. Ele não tem notícias dela há dias, e ele está
preocupado, especialmente quando ele descobriu que a amiga Parker
que ela continuava referenciando morreu no ano passado. Temos
nossos caras procurando por ela em todos os lugares. Mas até que a
encontremos, ela está por conta própria.
Lágrimas quentes inundaram os olhos de Caitlin. Julie estava lá
fora em algum lugar, sem ninguém, ninguém de verdade, de qualquer
maneira, para ajudá-la. Como ela iria cuidar de si mesma? Será que ela
tinha algum dinheiro para comida ou um lugar para dormir? — Nós
temos que encontrá-la — ela sussurrou.
— Vocês não têm que me perseguir — disse uma voz baixa e
abafada.
A cabeça de todo mundo virou. Julie estava no corredor; quem
sabia como ela tinha passado pela recepção? Caitlin abafou um suspiro.
Julie usava um moletom sujo. Seu cabelo estava emaranhado e confuso
ao redor do rosto. Sua pele estava pálida, sua maquiagem borrada, e
havia olheiras profundas sob seus olhos. Caitlin não podia evitar se
perguntar quem estava olhando para elas, Julie ou Parker. Ela sentiu
pena de ambas.
— Eu estou aqui. E... você está certo. Eu estou doente. Eu preciso
de ajuda. — Julie sufocou um soluço. — Mas eu tenho um pedido, ok?
— Vamos tentar honrá-lo — Rose disse rapidamente.
Ela olhou de um lado para o outro, sua mandíbula tremendo. —
Eu quero falar com o meu terapeuta, e somente ele. Seu nome é Elliot
Fielder.
Capítulo 34

—P
assa os muffins, por favor? — Ava murmurou através de
sua boca já cheia.
Caitlin pegou a cesta da mesa de café e passou-a de
lado, deixando um rastro de migalhas de muffins sem glúten através do
sofá alastrado de Ava em forma de L. — Obrigada — disse Ava com
gratidão, colocando um em sua boca. — Estes são os meus favoritos. —
Ela estava prestes a falar poeticamente sobre como os muffins eram
decadentes e bastante saudáveis quando Caitlin a silenciou, apontando
para a TV através da sala.
— Uma atualização! — gritou Caitlin.
Mac pegou o controle remoto e virou-se. Uma repórter loira estava
na frente de Beacon High. Elas pegaram no meio da frase. — ...a
senhorita Redding confessou três mortes confirmadas: Nolan Hotchkiss,
Lucas Granger e Ashley Ferguson, cujo corpo foi descoberto por
mergulhadores da polícia em um rio atrás da casa dos Ferguson ontem,
justo onde Redding disse que estaria. Três das colegas de Redding de
Beacon Heights High perto de Seattle admitiram fazer uma brincadeira
com o filho do senador estadual Hotchkiss, Nolan, envolvendo
OxyContin, mas elas foram inocentadas de qualquer envolvimento na
sua morte e foram advertidas.
Ava deslocou nervosamente, se sentindo estranha que seu segredo
foi finalmente descoberto. Não que a repórter tenha chamado elas pelos
nomes... mas ainda assim. Elas haviam negociado para manter outros
detalhes do que elas disseram à polícia em segredo, também. Como que
elas tinham feito uma lista na aula de filmografia de pessoas que elas
queriam morta... e que essa lista penetrou na cabeça de Julie até que
ela sentiu a necessidade de se vingar de todos os seus inimigos. Ava
não queria contar à polícia sobre a lista, mas provavelmente era certo
esclarecer absolutamente tudo. Ainda assim, ela esperava que a polícia
nunca, nunca contasse a ninguém sobre isso. Ela não podia imaginar o
que o pai dela pensaria dela se ele soubesse.
A repórter continuou. — A própria Redding disse que não tinha
nada a ver com os assassinatos. Assume-se que a escola provavelmente
vai tentar um pedido de insanidade, já que seu caso de dupla
personalidade, de acordo com especialistas, é “extremamente grave”.
A tela piscou para uma foto da casa em ruínas de Julie, onde
técnicos de cena de crime em roupas de risco biológico de corpo inteiro
entravam e saíam, carregando caixa suja após caixa suja. Eles
passavam pela mãe de Julie de pé em sua varanda, seu cabelo
gorduroso empurrado para trás de seu rosto, seu roupão rasgado e
surrado e seus olhos loucos em exposição para o mundo ver. — Julie
nunca foi normal. Nunca foi. Seu pai sabia disso desde o início.
E de volta com a repórter, seu cabelo voando em uma peça sólida
na brisa: — Junte-se a nós esta noite às oito, quando o nosso próprio
Anderson Cooper descobrirá o que se passa dentro da mente de uma
adolescente assassina. Ele se sentará com a mãe de Redding para uma
entrevista cara a cara que você não vai querer perder. Agora, de volta a
você no estúdio, Kate.
Caitlin silenciou a TV de novo, e as meninas ficaram em silêncio.
— Por que eu não me sinto melhor? — Mac perguntou
miseravelmente.
Caitlin jogou o controle remoto no sofá entre elas. — Eu não sei se
é melhor ou pior não termos de ir à escola esta semana.
De repente, o telefone de Ava tocou no bolso da calça do pijama.
Ela tinha uma mensagem de Alex. Você está bem? O que posso fazer?
Ela sorriu e digitou uma resposta rápida, perguntando se ele viria
mais tarde. Ela estava tão feliz por tudo entre ela e Alex estar bem. Ele
a fazia se sentir protegida e segura.
Em seguida, uma sombra apareceu na porta. Ava olhou para cima.
Era seu pai, vestindo uma camisa e calças amarrotadas de veludo
cotelê. Ava olhou para seus pés. — Pai? — ela perguntou, preocupada.
— Está tudo bem? É Leslie?
O Sr. Jalali parecia em conflito. — Você se importa se eu falar com
você a sós por um momento, jigar?
— Claro — disse Ava, dando de ombros para suas amigas e
desaparecendo no corredor. Seu pai se inclinou contra a grade,
juntando suas mãos. O coração de Ava bateu forte. Talvez houvesse
algo de errado com Leslie. Ou, e talvez isso fosse pior, talvez seu pai
houvesse descoberto que Julie tinha empurrado Leslie da varanda por
que Ava desejava vê-la morta. E se ele a odiasse agora? E se ele a
quisesse fora de casa? Talvez ela merecesse isso, no entanto. Assim que
as pessoas começaram a morrer, assim que elas tinham tido um
pressentimento de que isso poderia não ser uma coincidência, ela não
tinha feito muito para manter Leslie segura.
Finalmente, seu pai respirou fundo e olhou para cima. — Leslie
acordou de seu coma esta manhã.
A boca de Ava caiu aberta. — Ela... acordou?
Ele balançou a cabeça, mas, estranhamente, ele não parecia tão
feliz. — Sim. E ela começou a dizer imediatamente que você fez isso com
ela.
O coração de Ava despencou. — Eu não fiz — ela chiou. — Você
sabe que eu nunca...
— Ava, por que você nunca me disse a verdade?
Ela piscou, paralisada. Seu pai parecia tão triste. — A verdade
sobre o quê? — ela perguntou em voz baixa.
O Sr. Jalali fechou os olhos. — Eu instalei câmeras de segurança
na casa alguns meses atrás, quando Leslie começou a dizer que ela
achava que a senhora da limpeza estava roubando de nós. Elas estão
na sala de estar, na sala de jantar e na cozinha.
Ava franziu a testa. — Você... fez isso? — Ela não sabia sobre isso.
Ele balançou a cabeça. — E agora, eu assisti algumas delas.
Assisti como Leslie interagia com você. Sempre quando eu estava fora
da sala, fora do alcance da voz. Mas as coisas que ela disse, jigar.
Coisas horríveis. Coisas que não eram verdadeiras. Elas eram os
mesmos tipos de coisas que ela disse quando acordou do coma esta
manhã. Eu nunca tinha ouvido ela falar assim, e eu fiquei tão surpreso.
É por isso que eu fui olhar as câmeras. — Ele inclinou-se para ela,
melancólico. — Por que você nunca me disse nada disso?
Ava piscou os olhos, surpresa. — P... porque eu não sabia se você
iria ouvir. — Um olhar de desgosto cruzou suas feições. — Você
começou a namorar Leslie tão rápido depois da mamãe — Ava disse
rapidamente. — E ela veio e simplesmente... mudou tudo sobre você. E
eu percebi que ela mudou a forma como você pensava sobre mim,
também. — Ela baixou os olhos. — Eu pensei que você não iria
acreditar em mim.
O Sr. Jalali abriu a boca como se quisesse protestar, mas fechou
novamente. Lágrimas silenciosas brotaram em seus olhos. Ele puxou
Ava perto e a envolveu em um grande abraço. — Sinto muito. Eu sinto
muito, muito mesmo — ele sussurrou.
Ava começou a chorar também. E ali se encontravam os dois, pai e
filha, trancados em um abraço pelo que pareceu uma eternidade. Ava
não sabia o que o futuro iria trazer, mas algo lhe dizia que Leslie
poderia não estar nele, ou, se ela estivesse, que suas vidas seriam
muito, muito diferentes. Parecia que seu pai estava de volta.
Verdadeiramente dela novamente, realmente cuidando dela. O que, de
alguma forma, apenas a fez chorar ainda mais.
De repente, ela pensou na sexta-feira na noite da festa de Nissa,
quando Julie havia dito a elas que “Parker” tinha matado todas aquelas
pessoas. Admita, você ficaria feliz de estar livre de Leslie, ela disse a
Ava. Você teria seu pai de volta.
Era um pensamento horrível, mas era verdade: Agora que eles
estavam livres de Leslie ou, pelo menos, da desconfiança que ela havia
criado em sua família, Ava tinha seu pai de volta. Mas só porque ela
queria isso não queria dizer que deveria ter acontecido dessa forma. Só
porque alguém era uma idiota... ou uma espancadora de criança... ou
uma vadia... isso não significava que ela merecia morrer.
Ela fechou os olhos. Ela não tinha certeza do que ela merecia nos
dias de hoje, mas uma coisa era certa: Ela nunca, nunca tomaria nada
como garantido. Nem com Alex. Nem com seu pai. Nem com sua
liberdade.
E ela nunca diria nada que ela pudesse se arrepender.
Capítulo 35

A
lguns muffins e um pouco de macarrão tailandês restante mais
tarde, Mac saiu da casa de Ava, debatendo se devia ou não ir
direto para casa. Ela estava com a mão na maçaneta da porta
do carro, olhando para o céu azul brilhante, o primeiro dia claro e
ensolarado que tiveram em semanas. O ar estava mais transparente,
mais nítido, mais limpo. As folhas das árvores balançando ao vento na
luz estavam saturados com verdes, amarelos e laranjas mais ricos do
que quaisquer cores que ela já tinha visto. Até mesmo o céu parecia
mais interminável, os pequenos sopros de nuvens mais suaves. Era
como se todos os seus sentidos tivessem sido despertados e revigorados.
Mas ela ainda se sentia inquieta. Inacabada. Havia algo que ela
precisava fazer.
Dane-se, Mac pensou.
Dez minutos mais tarde, ela parou na entrada de automóveis dos
Coldwell. O carro de Claire estava perto da garagem. Mac deu um
suspiro profundo para se acalmar e caminhou até a porta da frente. Ela
se preparou para uma recepção fria, até mesmo para uma porta bater
na sua cara. Mas ela sabia que tinha que tentar.
Ela tocou a campainha, ouvindo o tom familiar. Depois de um
momento, ela ouviu um som suave de pés arrastando como se alguém
se aproximasse do lado de dentro. Ela prendeu a respiração quando a
porta se abriu.
Claire usava um pijama de flanela decorado com notas musicais
dançando. Seu cabelo encaracolado estava preso para trás em cada
lado de seu rosto, e seus pés estavam abrigados em pantufas de
coelhinhos fofos gigantes. A manga esquerda de sua blusa folgada
estava rolada até o ombro, e abaixo dela seu braço estava curvado no
cotovelo e envolto no gesso mais grosso, mais resistente e mais
alarmante que Mac já tinha visto. Ele estendia-se desde logo abaixo do
ombro de Claire até a ponta dos dedos.
As duas meninas olharam uma para a outra por um momento. —
Oh meu Deus — Mac explodiu. Que totalmente não era o tom que ela
estava querendo para quebrar o gelo.
Mas quando ela olhou para cima, Claire estava sorrindo, não
chorando. — Eu sei. Muito impressionante.
Mac piscou com força. Claire não a tinha chutado para fora da
entrada ainda. — Hum, eu estava pensando mais como aterrorizante.
Claire suspirou. — É como um dispositivo médico e uma arma,
tudo enrolado em um só. E coça. Tipo, muito, muito mesmo.
— Isso é horrível.
Elas ficaram em um silêncio constrangedor. Claire se moveu. —
Você quer entrar?
Mac não teria ficado mais surpresa se Claire tivesse pego seu
violoncelo e batido na cabeça dela com ele. — Hum, você tem certeza?
— Bem, na verdade, eu preciso de um favor. — Claire virou e
começou a caminhar pelo corredor. — Talvez você possa abrir uma
pizza congelada para mim? É incrível o que você não pode fazer com
apenas uma mão.
Elas se dirigiram para a cozinha, onde Mac se ocupou com o
congelador e o forno. Ela tinha estado na cozinha centenas de vezes,
esquentou um zilhão de pizzas ao longo dos anos. Ela se virou e
encontrou Claire olhando para ela, com um olhar curioso em seu rosto.
— Então era por isso que você estava me seguindo a noite toda? —
ela perguntou.
Mac engoliu em seco. — Bem...
— Você sabia que Julie Redding estava vindo atrás de mim? Quero
dizer... eu mal conheço ela. E ainda assim você estava me seguindo por
aí como se você estivesse me protegendo.
Mac olhou para o chão, seu estômago revirando com a culpa.
Porque eu te coloquei em uma lista de pessoas que eu queria que
morresse. Como eu poderia explicar a Claire que o que ela tinha
pensado que era uma conversa inocente — ainda que totalmente cruel
— acabou sendo um manual de instruções de uma assassina em série?
Era tudo culpa dela que os dedos de Claire foram totalmente
esmagados, e sua carreira musical provavelmente tinha acabado para
sempre? Mac se perguntou se ela devia esmagar os dedos, também,
talvez isso seria uma punição que se encaixava com seu crime. Não
parecia justo que ela fosse para Juilliard ilesa depois de tudo isso.
Mas ela não podia dizer a verdade a Claire. Não agora. Talvez nem
nunca. — Hum, Julie disse algo que me fez perceber que você era seu
próximo alvo — Mac murmurou. Não era exatamente uma mentira. — E
eu não podia deixar isso acontecer com você.
Claire balançou a cabeça. — É assustador que ela tinha alvos.
— Eu sei — disse Mac, cansada. — Desculpa eu ter te seguido ao
redor como uma maluca, no entanto. Eu sei que provavelmente era
estranho.
Claire sorriu, e pela primeira vez em muito tempo, não havia
nenhum vestígio da conspiração ou da competitividade que tinha
definido a sua amizade pelo que pareceu uma eternidade. Era apenas
um sorriso genuinamente grato, e encheu Mac com calor e felicidade.
Ela percebeu o quanto ela tinha sentido falta de Claire. — Você me
salvou — Claire disse simplesmente. — Você totalmente não precisa
pedir.
Mac deu de ombros. — Claro que sim.
O cheiro de pizza aquecendo encheu a cozinha. Mac encontrou
seus olhos atraídos para o gesso de Claire novamente. Ela salvou a vida
de Claire, mas e quanto ao resto?
— Então, você nunca vai ser capaz de tocar de novo? — ela disse
calmamente.
Claire olhou para baixo. — Os médicos dizem que não parece bom.
Ou pelo menos que eu nunca vou estar no meu nível anterior.
Mac fechou os olhos. — Eu sinto muito.
Claire sentou-se na mesa da cozinha e começou a brincar com um
saleiro em forma de violoncelo. — Eu tive um monte de tempo para
pensar. E eu percebi... — Claire olhou para ela, quase parecendo
envergonhada. — ...que eu não tenho certeza se eu ainda quero ir para
Juilliard.
Mac franziu a testa. Certamente Claire estava apenas dizendo isso
para fazer ela mesma se sentir melhor. Ou talvez ela estivesse apenas
drogada das pílulas de dor que os médicos lhe deram.
Claire bateu o saleiro de violoncelo com o recipiente de pimenta de
violino. — Parece loucura, eu sei. Mas eu acho que eu percebi que eu só
queria ir porque... — ela soltou uma risada envergonhada, — porque
você iria. Eu só queria vencer você. Mas depois eu pensei sobre o que eu
realmente queria. E sabe de uma coisa? A Oberlin soa legal. Talvez eu
vou estudar música. Talvez não. Eu tenho várias opções agora, o que eu
nunca tive antes, quando era sempre apenas violoncelo, violoncelo,
violoncelo, sabe?
Mac não tinha certeza se devia rir ou chorar. Depois de todo o
esforço e sacrifício, todos os anos de acampamento da banda e
orquestra, a prática sem fim, a decepção e a mentira, o desgosto com
Blake... Claire não queria nem o prêmio final. Era como uma piada de
mau gosto com um estúpido final.
Mac ficou surpresa, também, quão de bom grado Claire tinha
admitido que ela queria vencê-la. Mas, no entanto, se ela pensasse
sobre isso, ela não agia da mesma maneira? Tanto quanto ela podia se
lembrar, Mac tinha sido intensamente, cegamente conduzida para ser a
melhor tocadora de violoncelo, para praticar mais que Claire, para
acertar cada performance quando Claire se atrapalhava, para arrebatar
a primeira cadeira quando Claire a tinha. Ela realmente queria ir para
Juilliard, mas isso não era quase seu objetivo principal. Mac tinha sido
igualmente competitiva, igualmente disposta a ir até os confins da terra
para conseguir o que queria. Ela não tinha provado isso, ao colocar o
nome de Claire na lista da classe de filmografia?
De repente, e provavelmente de forma inadequada, Mac explodiu
em um ataque de risos histéricos. — Eu sinto muito — ela desabafou.
— Isso não é nada engraçado. Eu não sei porque eu estou rindo.
Só que Claire começou a rir também. De primeira, foi hesitante,
mas depois balançou os ombros, e minúsculos rangidos saíram de suas
bocas.
— Eu realmente sinto muito — Mac disse novamente. — Eu tenho
que parar.
— Eu também — Claire engasgou.
Mas ambas continuaram rindo. Era como o velho jeito que elas
costumavam rir juntas: se curvando, segurando seus estômagos,
gargalhando tanto que havia lágrimas escorrendo pelos seus rostos.
Mac riu tanto que seus óculos embaçaram. Isso trouxe de volta muitas
boas lembranças: de Claire e Mac nos acampamentos de música, ou em
festas do pijama de fim de semana após a prática da orquestra, ou da
risada colossal que elas deram no fundo da orquestra no Carnegie Hall
por causa da braguilha aberta do maestro. Mac nunca pensou que ela
iria partilhar este tipo de momento com Claire de novo, ou que ela ainda
queria. Mas isso era tão bom.
Só depois de Mac ter limpado seus pratos de pizza, deslizando-os
na máquina de lavar louça, elas conseguiram manter uma cara séria. —
Então, eu queria te dizer — disse Claire, apertando os dedos de sua
mão esquerda, que mal estavam expostos na parte inferior do seu
gesso, para obter alguma circulação. — Eu realmente sinto muito pela
postagem no Facebook sobre você e Oliver. Foi idiota da minha parte.
Eu estava tão ciumenta.
Mac apenas deu de ombros. Isso parecia tão no passado agora. —
Não tem importância — ela disse baixinho.
— O que realmente aconteceu com Oliver? Eu menti quando eu
disse que não estava a fim dele. Vocês estão juntos?
Mac poderia dizer que ela realmente queria saber. A pergunta soou
tão familiar nos ouvidos de Mac — era a maneira como elas
costumavam falar sobre meninos, muito antes de Blake mudar tudo
entre elas. — Não — respondeu Mac, se sentindo um pouco triste por
como ela tinha acabado deixando Oliver pendente por tanto tempo. —
Nós não... entramos em sintonia.
Claire assentiu com a cabeça, um olhar sábio de repente em seu
rosto. — Claro que não.
— Ele é legal, no entanto. — Mac deu-lhe um sorriso genuíno,
também. — Você deveria ir atrás dele. Eu vou falar bem de você.
E então, como se fosse uma sugestão, o telefone de Mac começou a
vibrar em seu bolso, e antes que ela pudesse silenciá-lo, começou a
tocar uma música muito familiar de Bruno Mars. Merda. Ela nunca
tinha mudado o toque que ela tinha há muito tempo atribuído a Blake.
E Claire sabia.
Ela rapidamente cobriu a tela com a mão e olhou para Claire, de
repente entrando em pânico que toda essa risada, honestidade e
aproximação chegasse ao fim. Mas Claire estava sorrindo. — Está tudo
bem. Você pode atender. — Ela inclinou a cabeça para o telefone na
mão de Mac. — Ele sempre te amou, sabe.
Mac prendeu a respiração e ficou muito quieta. O telefone não
parava de tocar.
Claire baixou os olhos. — Eu sabia disso naquele primeiro dia na
Disneylândia, mas eu menti quando ele me perguntou e eu disse a ele
que você não estava interessada. Então, antes das audições, eu disse a
ele para sair com você e distraí-la. Eu só... — Sua voz falhou. — Eu não
tinha ideia do quão longe isso iria. Não é culpa dele, Mac. Eu o obriguei
para que ele não se sentisse culpado se ele não o fizesse. Ele não
queria.
Mac tomou algumas respirações, tentando processar isso. Era bom
que Claire tivesse esclarecido tudo. E era bom que Blake tinha estado
realmente dizendo a verdade. Ela se atirou para frente e abraçou a
amiga com força, sentindo-se aliviada. — Eu te amo — ela disse.
— Hum? — Claire deu-lhe um olhar estranho. — Eu acabei de lhe
dizer que eu sou basicamente uma vadia e você diz que me ama?
Mas essa era a coisa: Mac a amava, apesar de tudo. Não que isso
as tornasse iguais. Mac sempre se sentiria culpada por nomear Claire
naquela conversa. Isso estaria sempre no fundo da sua mente, a única
coisa na vida que ela mais desejava que ela pudesse voltar atrás. — Eu
só quero que sejamos amigas de novo — ela disse suavemente.
Claire gemeu e revirou os olhos. — Ok, deixa dessa coisa melosa.
Liga de volta para ele!
Mac olhou para ela com apreço, em seguida, clicou no telefone com
um dedo. — Oi — ela disse, um pouco timidamente.
Capítulo 36

C
aitlin fechou a porta do armário do ginásio. Ela estava fora da
escola por uma semana, mas não havia nenhuma maneira de
ela abandonar seu time de futebol. Especialmente hoje à noite,
quando elas jogariam contra a escola Bellevue. Era também o seu
primeiro jogo com as novas recrutas calouras.
— Vamos, Caitlin! — Suas companheiras de equipe passavam por
ela, apertando suas faixas de cabelo e batendo umas nas outras com as
suas toalhas e camisetas. Ursula soltou um whoooooop! alto e começou
uma torcida de chamada-e-resposta enquanto a equipe corria pela porta
do vestiário para o pátio. Ela atirou para Caitlin um sorriso por cima do
ombro, e Caitlin sorriu de volta. Era engraçado — não há muito tempo,
Caitlin tinha suspeitado que Ursula era sua pior inimiga. Que ela tinha
matado Nolan e incriminado elas. Espionando sua terrível conversa na
aula de filmografia e formando uma espécie de plano mestre. Parecia
tão ridículo agora.
Mas, no entanto, a verdade era bastante impensável, também.
Seus pensamentos se voltaram para Julie. A última coisa que ela
tinha ouvido, era que Julie tinha sido mandada para um manicômio de
alta segurança há cerca de trinta e dois quilômetros de distância. Era o
tipo de lugar onde ela não poderia ter visitantes por um tempo,
enquanto ela estaria dia e noite em uma terapia incrivelmente intensa.
Caitlin tentou imaginar como seus dias eram. Pelo menos ela estava em
um ambiente mais limpo, menos desordenado. Pelo menos não havia
gatos. Será que ela ficou triste de se separar de Parker? Será que isso já
aconteceu mesmo? Talvez fosse o tipo de coisa que levava meses, até
mesmo anos. É como uma morte, a Dra. Rose tinha dito. Caitlin se
sentia tão triste por Julie, apesar de tudo. Ela não podia imaginar ter
que passar pela perda de Taylor duas vezes.
Um apito soou, trazendo-a de volta ao presente. Caitlin ajeitou
suas caneleiras, colocou seu protetor de boca, e seguiu o resto de sua
equipe. Enquanto atravessava o estacionamento para o campo, ela
avistou suas mães na arquibancada e sorriu. As coisas estavam bem
entre elas novamente, pela primeira vez em um longo, longo tempo.
Ontem à noite, ela teve uma conversa franca com elas, e embora elas
ainda ficaram chateadas com ela pela brincadeira com Nolan —
especialmente porque tinha sido com seu Oxy — elas estavam do seu
lado novamente. Caitlin tinha finalmente admitido a suas mães quanta
raiva que ela sentia de Nolan, e quanto diretamente ela o culpou pelo
suicídio de Taylor. Ela disse a elas que ela releu o diário de Taylor mil
vezes nos últimos seis meses, tentando descobrir o momento exato em
que ele decidiu ir até o fim... o momento exato em que ela tinha perdido
a pista mais importante de todas.
Suas mães tinham apenas olhado para ela, com os olhos
transbordando de lágrimas, suas bocas bem fechadas para conter os
soluços. Em seguida, elas tinham chorado todas juntas, e era como se
tivessem finalmente reconhecido essa... coisa... a dor compartilhada que
estava lá com elas a cada momento de cada dia, mas era grande demais
para sequer falar. Apenas saber que elas estavam juntas nisso tornou a
dor um pouquinho menor.
Caitlin foi a última a chegar no campo. Ela fechou os olhos para
absorver o ar fresco da noite, o barulho da multidão, a treinadora da
equipe adversária gritando exercícios de aquecimento, o barulho de
buzinas no ar. Havia apenas uma coisa que ainda não estava certo, que
não tinha sido colocado de volta no lugar. Jeremy. Eles não se falavam
desde a festa de Nissa. Até mesmo Josh tinha ligado no dia seguinte,
pedindo desculpas pela embriaguez tê-lo feito pedir para ela assinar seu
gesso. — Foi por isso que meu irmão foi embora? — ele perguntou.
— Não realmente — disse Caitlin. E era verdade: Jeremy tinha ido
por causa de seus sentimentos, seu conflito. Ela não queria Josh de
volta. E Josh provavelmente não a queria de volta, também. Ela
entendeu isso ainda mais depois de seu telefonema, mas foi bom que
eles chegaram a algum tipo de paz.
Caitlin tirou a jaqueta aquecedora e jogou-a sobre a grama atrás
do banco. Ela tinha que se concentrar no jogo. Ela abaixou-se para
apertar um cadarço em sua chuteira, e de repente algo chamou sua
atenção nas arquibancadas. Jeremy estava sentado sozinho, seu rosto
pintado nas cores marrom e branco de Beacon High. Ele segurava um
cartaz gigante com VAAAAI, CAITLIN! manuscrito em letras grandes e
inclinadas.
A boca de Caitlin caiu. Apesar do fato de que o jogo ia começar em
apenas alguns minutos, ela correu para fora do campo e subiu os
degraus da arquibancada em direção a ele. — Olhe para você! Oh meu
Deus!
Jeremy sorriu timidamente. — Eu tive que vir e apoiar a minha
garota.
Caitlin sentiu lágrimas aparecem em seus olhos. — Sério?
— Bem, sim. — Ele sorriu para ela, mas depois seu rosto ficou
sério. — Eu pensei sobre o que você disse, e você estava certa, Caitlin.
Eu deveria te amar por exatamente quem você é, e você é uma jogadora
de futebol. Uma garota que vai a festas. Uma garota realmente sexy que
joga futebol e vai a festas, a propósito. — Ele tocou em seu braço. — E
você sabe de uma coisa? — ele continuou. — Eu amo essa garota. Cada
centímetro dela.
Caitlin pensou que seu coração fosse explodir. Ela abriu um
sorriso gigantesco e pulou nos braços de Jeremy. Ela apertou-o com
toda a força que podia, respirando-o. Era tão bom — tão certo — estar
com ele, aqui e agora.
Caitlin poderia ter ficado lá a noite toda, apenas segurando-o, mas
ela precisava voltar para sua equipe. Assim que ela se afastou de
Jeremy, ela viu Mary Ann correndo pelo campo de futebol, direto para
eles. Por um milésimo de segundo, Caitlin pensou que a mãe dela
estava zangada pela sua demonstração pública de afeto com Jeremy,
mas quando Mary Ann se aproximou, o olhar em seu rosto estava tenso
e estranho, até mesmo preocupado. Era, Caitlin percebeu, o mesmo
olhar que ela tinha quando ela descobriu que Taylor estava morto.
Mary Ann chegou a seu lado e, sem fôlego e ofegante, agarrou
Caitlin pelo braço e puxou-a para longe de Jeremy. — O que foi? —
gritou Caitlin. — O que está acontecendo?
Mary Ann prendeu a respiração e encontrou os olhos da sua filha.
— É Julie. Ela fugiu do hospital psiquiátrico. Ela... foi embora.
Capítulo 37

A
luz do sol brilhante iluminou a paisagem fora da janela do
quarto de hotel de Julie. Palmeiras pontilhavam o horizonte, e
carros brilhavam no viaduto quando a hora do rush da tarde
entrou em pleno funcionamento. Julie se inclinou para trás na cadeira
estofada dura e olhou para o céu azul sem nuvens. Seu corpo todo —
braços e pernas, dedos das mãos e dos pés — estavam relaxados. Sua
mente estava silenciosa pela primeira vez desde que ela podia se
lembrar. A ausência do estresse, do medo, era bonita e revigorante.
As últimas 24 horas foram um borrão. Julie não tinha ideia
exatamente do quão longe ela viajou, mas isso não importava. Tudo o
que ela precisava saber era que ela estava tão longe dos segredos e
crueldades de Beacon Heights quanto possível, onde ninguém iria
encontrá-la. Ela tinha deixado tudo para trás, despistando todos de seu
rastro — até mesmo os médicos e enfermeiros da clínica psiquiátrica,
até mesmo os policiais. Eles foram inteligentes, não havia como negar
isso, mas ela ainda tinha executado o seu plano com perfeição. Não
havia nenhuma maneira de ela ficar em uma instituição psiquiátrica,
pelo amor de Deus — havia limites, afinal, até onde ela iria por Parker.
Julie não sentiu nenhum remorso por ter mentido para a equipe do
hospital. Ela fez a coisa certa, dizendo aos médicos, policiais e
advogados que ela estava doente, deixando-os trabalhar com seu caso
muito raro e muito grave de transtorno dissociativo de identidade.
Afinal, escapar de um hospital psiquiátrico era muito mais fácil do que
escapar da prisão. De que outra forma ela teria sido capaz de fugir?
Mentir para eles, dizer-lhes que Parker era uma invenção da sua
imaginação era sua única escolha. E ela tinha feito isso por ambas, por
si mesma e por Parker. Mas Julie sabia a verdade: Parker era tão real
quanto ela. E Parker era a única que tinha cometido esses crimes. Não
ela.
Tinha sido Parker, porém, mesmo antes que ela se entregasse para
os policiais, que tinha lançado as bases do plano. Julie a tinha
encontrado na floresta quando ela fugiu daquela festa, e Parker tinha
pegado seus ombros e dito: — Vai ficar tudo bem. Nós duas ficaremos
bem. Eu tenho uma ideia. Devemos usar Fielder.
— Fielder? — Julie tinha franzido a testa. — Eu pensei que você o
odiava.
E então Parker confessou: Ela estava vendo Fielder, tanto como
uma paciente e, de certa forma, como um amigo (ela baixou os olhos
quando ela disse isso, no entanto). Ela disse a Julie que ela realmente
estava conectada com ele, e parecia que ele tinha um fraquinho por ela,
considerando o que tinha acontecido com sua mãe. — Ele vai vir vê-la
no hospital, eu prometo — disse Parker. — E depois... — ela sussurrou
o resto.
Julie tinha estado hesitante, mas ela tinha aceitado a palavra de
Parker. Então, ela se entregou à polícia. Deixou eles levarem ela para o
hospital, amarrá-la, sedá-la, mas eles prometeram, desde o início, que
iam tentar rastrear Fielder. Finalmente, ele chegou, todo vermelho e
assustado, seu cabelo voando em todas as direções ao redor de sua
cabeça, e sua camisa pendurada para fora sobre suas calças. Ele a
ouviu. Ela deu a ele a mesma lengalenga sobre Parker não ser real.
Fielder tinha acenado com a cabeça, com lágrimas em seus olhos. — Eu
quero ficar melhor — Julie tinha insistido. Fielder tinha colocado a mão
sobre a dela. — Eu quero isso para você, também.
Foi quando ele pegou o casaco que ela arrebatou o passe de
visitante do paletó dele. Ele não suspeitou de nada, sorrindo para ela
tristemente quando ele saiu, prometendo voltar na próxima semana.
Vinte minutos mais tarde, quando ela tinha certeza que ele tinha ido
embora e a enfermeira tinha mudado — ela ainda era tão nova que a
maioria das enfermeiras não a reconheciam — Julie trocou de roupa,
colocou o crachá em sua blusa (por sorte, só dizia E. Fielder, para que
ela pudesse ser uma Elizabeth, ou uma Elsa) e saiu de lá. Fácil assim.
Ela se sentia mal por ter usado Fielder? Na verdade, não. Ele tinha
perseguido Parker, e isso o fazia ser um esquisitão para Julie. E de
qualquer maneira, tinha sido ideia de Parker: Nós temos que tomar
medidas extremas para nos libertar, ela sussurrou para Julie naquela
noite na floresta. Fielder seria bom: Guardas podem suspeitar que ele
ajudou na sua fuga no início, mas uma vez que eles conversassem, isso
não iria prejudicar sua carreira. Ele apenas pareceria como um joguete.
O estômago de Julie rosnou, enquanto ela observava os carros
lentos e parando sobre a rampa da saída. Ela precisava de um pouco de
comida em breve. O tráfego avançou para frente. Tantas pessoas, Julie
pensou, presas em seus carros, presas em suas vidas, apenas à espera
de alguém sair de seu caminho. Mas eu não.
Foi melhor assim, Julie sabia. Não havia nada para elas em
Beacon Heights de qualquer maneira, não mais. Ela sentiu uma
pontada de saudade de Carson, que tinha sido tão bom para ela, mas
depois lembrou-se de que ele certamente pensava que ela estava louca,
como toda a gente da cidade. Assim como sua própria mãe, de acordo
com as entrevistas terrivelmente embaraçosas que ela tinha dado na
CNN, MSNBC, 60 minutos. Era melhor ter uma partida limpa. Ela devia
ter pensado em fazer isso há alguns anos.
Houve uma batida na porta e Julie pulou de seu assento. Ela
andou para o outro lado do quarto, passando pelas duas camas queen
size, pelo banheiro de azulejos e abriu a porta devagar. Quando ela viu
quem estava no tapete grosso no corredor, ela soltou um grito de
alegria.
— Oh, graças a Deus! — exclamou Julie, se atirando para frente e
envolvendo os braços firmemente em torno de uma Parker magra,
curvada e vestida com um moletom com capuz.
Parker estava fora da porta, sorrindo amplamente. Julie parecia
tão grata, como se ela temesse que ela nunca veria ela novamente. —
Posso entrar?
— Você não precisa de um convite. — Julie riu, abrindo mais a
porta.
Parker passou por cima do limiar, um saco de plástico cheio de
caixas de comida chinesa oscilando de um lado, o molho derramando e
começando a reunir em um canto do saco. — Com fome?
— Morrendo de fome. — Julie sorriu, um sorriso grande, largo e
ensolarado. — Graças a Deus está tudo bem — ela jorrou, estendendo
os braços e puxando-a para um abraço amigo.
— Oh, por favor — zombou Parker, empurrando-a. — Eu sou uma
lutadora. Eu sempre vou ficar bem, Julie. Você sabe disso.
— Eu sei, mas você arriscou muito.
Parker deu de ombros. Tudo o que ela tinha feito, na verdade, foi
se esconder enquanto tudo acontecia com Julie. Enquanto Julie se
entregava, enquanto Julie passava aqueles dias no hospital, enquanto
Julie escapava por pouco, aderindo cuidadosamente ao plano de
Parker. Ela sabia onde encontrar Julie depois, viajando muito longe
para chegar até aqui, sempre disfarçada. Afinal, Julie era a única que
tinha levado toda a culpa — pelo que Parker tinha feito.
E Parker estaria sempre em dívida.
Em seguida, ela se afastou e olhou sua amiga diretamente nos
olhos. — Eu sempre vou ficar bem, você sabe. Enquanto eu tiver você.
Julie sorriu. — Eu também.
Em seguida, elas se sentaram e dividiram a comida. Parker comeu,
comeu e comeu, de repente com mais fome do que ela tinha estado em
anos. Ela se sentia... viva novamente. Revivida. Tudo sobre esse
momento estava certo. Elas estavam sozinhas, mas elas tinham uma a
outra. De certa forma, Parker lamentava ter usado Fielder — eles
realmente tinham feito uma conexão, ela pensou. Mas ela não podia se
debruçar sobre isso. O importante agora era Julie. Finalmente, elas
estavam juntas, sem ninguém para ameaçar a sua ligação novamente.
O mais próximo de amigas para sempre.
E Parker e Julie juraram para si mesmas em um pensamento
singular, comunicado através de sua telepatia misteriosa que às vezes
elas tinham, que elas nunca, jamais se separariam novamente.

Fim!

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