Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INGLESA A DISTÂNCIA
ELLA - A DECOLONIAL PROPOSAL OF DISTANCE ENGLISH TEACHING-LEARNING
Resumo:
Este artigo tem o objetivo de problematizar a produção de material didático, explicitando
algumas atividades criadas por um viés decolonial, dentro do ELLA: English Language
Learning Laboratory, um laboratório virtual dotado de inteligência artificial voltado ao
ensino de língua inglesa a distância para instituições federais de ensino superior. O ELLA
está ligado ao grupo de pesquisa Linguagem Natural e Inteligência Artificial, do qual
fazemos parte, formado por uma equipe transdisciplinar, principalmente das áreas de
Linguística Aplicada e Ensino de Inglês e Ciência da Computação. O ELLA é responsivo às
questões sociais emergentes e se preocupa em oportunizar para que a(o) sua(seu)
estudante possa se legitimar no aprendizado em língua inglesa. Utilizamos para esse
artigo uma metodologia qualitativa de cunho bibliográfico decolonial que perpassa pela
Linguística Aplicada Crítica no contexto da produção de material didático. Temos
trabalhado em uma perspectiva epistemológica que questiona o silenciamento das vozes
do Sul como produtora de conhecimento e de saberes e é nesse aspecto que o ELLA está
sendo desenvolvido, colocando-se como meio de produção de saberes em alinhamento às
questões de relevância social. O resultado esperado é que as(os) estudante consigam
tomar a palavra e se posicionarem em uma língua outra.
Palavras-chave: Inteligência artificial. Translinguismo. Inteligibilidade. Tomada da
palavra.
Abstract:
This paper aims to problematize the production of teaching material, explaining some
activities created by a decolonial bias, within ELLA: English Language Learning Laboratory,
a virtual laboratory with artificial intelligence that teaches English language from a
distance learning to federal institutions of higher education. ELLA is linked to the research
group Natural Language and Artificial Intelligence, of which we belong, formed by a
transdisciplinary team, mainly in the areas of Applied Linguistics and English Teaching and
Computer Science. ELLA is responsive to emerging social issues and is concerned with
providing opportunities for its student can legitimize herself/himself in English language.
In this paper, we used a qualitative methodology of decolonial bibliographic that
permeates Critical Applied Linguistics in the context of teaching material production. We
have been working in an epistemological perspective that questions the silence of southern 1
voices as a producer of knowledge and it is in this aspect that ELLA is being developed,
1
Mestranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Uberlândia. Bolsista CAPES. E-mail:
izaiden@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9495-7422 Lattes:
http://lattes.cnpq.br/0229096247950294
2
Doutoranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: giselly@ufu.br Orcid:
https://orcid.org/0000-0002-8962-2230 Lattes: http://lattes.cnpq.br/5771970287386431
placing itself as a means that produces knowledge in alignment with social issues. The
expected result is that the students can get the tomada da palavra and position
themselves in another language.
Keywords: Artificial intelligence. Translinguism. Intelligibility. Tomada da palavra.
1. Introdução
Aprender uma língua é sempre, um pouco,
tornar-se um outro.
(Christine Revuz)
3
A tomada da palavra é aquela que excede a ordem da instrumentalidade da língua e os sentidos excedem a
ordem da proposição lógica, é a tomada da palavra que afeta e transforma o sujeito como tal, pois linguagem e
constituição subjetiva estão intimamente ligadas (SERRANI-INFANTI, 1998, p. 146).
4
Laboratório de Aprendizagem de Língua Inglesa. Projeto financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior – CAPES, conforme proposta aprovada no Edital CAPES/UAB nº 03/2015 de inovação
tecnológica. Tal projeto foi idealizado e é coordenado pela Profa. Dra. Simone Tiemi Hashiguti.
possibilidades do sistema tecnológico e assim, trabalharmos as questões que envolvam o
processo de ensino-aprendizagem que são atreladas a diferentes temas do cotidiano,
possibilitando que a(o) estudante se legitime no aprendizado e se posicione em uma língua
outra.
Utilizamos para esse artigo uma metodologia qualitativa de cunho bibliográfico
decolonial que perpassa pela LAC no contexto da produção de material didático. Inicialmente,
para a compreensão da área, apresentamos alguns aspectos da LAC, no que tange o processo
de ensino-aprendizagem da língua com um viés social, o que possibilita o deslocamento
epistemológico eurocêntrico para uma valorização do que é local. Em seguida, descrevemos
o ELLA, mediante a unidade Matters of health5 (AMADO; FAGUNDES, 2019), para
problematizarmos a elaboração de material didático na perspectiva decolonial.
5
Problemas de saúde.
6
Termo usado para se dirigir a pessoas que não se enquadram no seu gênero, seja por orientação sexual ou
identidade.
contemporâneo e renarrar as questões sociais, para que haja um rearranjo e uma
reconstrução de uma agenda anti-hegemônica, o que faz com que os linguistas aplicados
sejam desafiados e se reposicionem passando a produzir conhecimento que seja pertinente e
com expressão, no qual o sujeito é olhado por um prisma sócio-histórico.
A LA é uma área mestiça, pelo fato de conseguir dialogar com diversas áreas, em uma
busca permanente por soluções a respeito do uso da língua, uma vez que, não há uma área
que não seja permeada pela linguagem. Por esse motivo, podemos dizer que existem várias
vertentes ou discursos formadores, sejam eles de caráter crítico (PENNYCOOK, 2001),
transgressivo (PENNYCOOK, 2004, 2006) ou indisciplinar (MOITA LOPES, 2006, 2009), que se
inscrevem nessas teorias e ressoam nas discussões atuais.
Quando nos referimos a uma LAC, a compreendemos como “uma abordagem mutável
e dinâmica para as questões da linguagem em contextos múltiplos, em vez de como um
método, uma série de técnicas, ou um corpo fixo de conhecimento” (PENNYCOOK, 2006, p.
67). A LAC abre precedentes para se discutir, em uma perspectiva auto reflexiva, diversos
assuntos que, a priori, não tinham sido explorados e nem eram de interesse da LA, essa
criticidade, obrigatoriamente, “envolve um ceticismo constante, um questionamento
permanente, de premissas reguladoras da linguística aplicada” (PENNYCOOK, 2001, p. 10).
Os assuntos, hoje abordados pela LA, que tocam o ser humano mediado pela
linguagem, eram da ordem do indizível, do não enunciável, e apenas tratados por ela de forma
tradicional, discreta, sem um compromisso com a responsabilidade social, na tentativa de
manter o caráter de objetividade e neutralidade. Na perspectiva crítica, a busca é pela
pluralidade, pela inclusão, pois a LAC entende que é preciso ouvir as vozes dissonantes para
que haja a movimentação e a fluidez indispensáveis para que as outras vozes também sejam
ouvidas.
Nesse mesmo aspecto, a decolonialidade pode ser compreendida como um
movimento de resistência à lógica da modernidade/colonialidade. Esta lógica funciona mesmo
após o fim do colonialismo em que as ex-colônias já são estados-nação, porém, estas ainda
mantêm uma certa dependência sócio-histórico-político-econômico-cultural com os países
colonizadores que são os produtores que exportam o conhecimento no exercício da
dominação do outro.
Essa dominação pode ocorrer separadamente ou pelo imbricamento dos três tipos de
colonialidades, isto é, do poder, do saber e do ser (MIGNOLO, 2003). No âmbito da
colonialidade do poder (MIGNOLO, 2010; QUIJANO, 2000) há o exercício do controle da
economia, da autoridade, da natureza e dos recursos naturais, do gênero, da sexualidade, da
subjetividade e do conhecimento, sendo que este último recai diretamente sobre a
colonialidade do saber. No que tange a colonialidade do ser (MIGNOLO, 2003; MALDONADO-
TORRES, 2007) recai sobre essa o controle do gênero, da sexualidade e da subjetividade
juntamente com o controle da raça, a qual é “uma ficção útil, uma construção fantasmática 4
ou uma projeção ideológica, cuja função é desviar a atenção de conflitos [...] mais genuínos”
(MBEMBE, 2018, p. 28-29).
Os três tipos de colonialidades funcionam de forma entrelaçada, por isso, faz-se
necessário que a produção de material didático os leve em consideração, a fim de
problematizá-los e promover uma reflexão que possa deslocá-los para a virada decolonial, em
que a história é protagonizada pelos povos antes colonizados. No ELLA essa é uma premissa
que fundamenta todas as unidades e a programação da inteligência artificial. Neste artigo,
iremos nos concentrar em algumas atividades da unidade Matters of health, de nossa autoria,
para abordarmos a produção do material didático para o ensino-aprendizagem de língua
inglesa dentro da perspectiva decolonial.
7
Programa gratuito.
8
É a resposta retornada do sistema para a(o) estudante.
Figura 1. Animação da unidade Matters of health9
Fonte: EduCapes10
9
ELLA: English Language Learning Laboratory. Disponível em: <https://labvirtual.ileel.ufu.br/lab/>. Acesso em:
11 mai. 2020.
10
Animação disponível no site EduCapes: https://educapes.capes.gov.br/handle/capes/433891. Acesso em: 11
mai. 2020.
fomentar a construção de sentidos em língua inglesa. Desta maneira, o diferencial de nosso
material didático está no modo pelo qual as atividades são pensadas e apresentadas. Logo,
faremos um contraponto entre o modo tradicional e o decolonial, por meio de enunciados de
algumas atividades que estão na unidade Matters of health do ELLA, a fim de
problematizarmos sobre a inclusão da(o) estudante no processo de ensino-aprendizagem.
Consideramos, por exemplo, que atividades de escuta e repetição são importantes
para o desenvolvimento de habilidades, por isso, a nossa proposta para esse tipo de atividade,
figura 2, foi a de levar a(o) estudante a compreender os efeitos de sentido possibilitados a
partir do que é dito, juntamente com o modo de se dizer.
Figura 2: Atividade 1
Nossa perspectiva de linguagem é a da não transparência, uma vez que a mesma está
propensa ao equívoco, ao lapso, a falhas, “todo enunciado é intrinsecamente suscetível de
tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para
derivar para um outro [...], oferecendo lugar a interpretação” (PÊCHEUX, 2006, p. 53). Por essa
razão, ao ensinar a língua inglesa, a importância está na equação pronúncia + expressão facial
+ modos de dizer. Do mesmo modo que a(o) estudante não deve considerar a língua materna
como neutra, também não deve fazê-lo em língua estrangeira.
Na atividade 2, figura 3, usualmente os modelos tradicionais se restringem ao uso de
encenações para a prática comunicativa. Nossa proposta foi problematizar uma situação
comunicativa em que o agradecimento ressoou como uma forma de se evitar um possível
conflito.
7
Figura 3: Atividade 2
Figura 4: Atividade 4
Figura 5: Atividade 5
Figura 6: Atividade 6
Figura 7: Atividade 9
Figura 8: Atividade 11
11
Figura 9: Atividade 13
12
Fonte: ELLA – English Language Learning Laboratory
4. Considerações finais
Minha luta diária é para ser reconhecida como sujeito,
impor minha existência numa sociedade
que insiste em negá-la.
(Djamila Ribeiro)
5. Referências bibliográficas
15