Você está na página 1de 3

EFETIVIDADE DA NORMA JURÍDICA

Efetividade, em um sentido geral, refere-se à capacidade que uma norma jurídica tem
de produzir efeitos jurídicos concretos. Assim sendo, a eficácia da norma diz respeito a uma
efetivação externa da lei que se realiza a partir do momento que produz efeitos para os quais
foi criada, de modo a justificar sua própria existência no ordenamento jurídico. Luís Roberto
Barroso, em breve síntese, afirma que:

“A efetividade significa, portanto, a realização do Direito, o desempenho concreto


de sua função social. Ela representa a materialização dos fatos, dos preceitos legais e
simboliza a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever-ser normativo e
o ser da realidade social.” (BARROSO, 1993, p. 79).

Portanto, o Direito não deve trabalhar apenas na vigência das regras, mas também, e,
sobretudo, na capacidade da norma estabelecer condições de atuação no mundo real, de modo
a tornar realizável o efeito jurídico idealizado a partir da efetividade.
No que tange a uma análise mais pormenorizada da eficácia da norma jurídica, o
professor Paulo de Barros Carvalho propôs em seu livro “Direito tributário: fundamentos
jurídicos da incidência” que fosse desdobrada a eficácia em três análises, denominadas de
eficácia técnica, fática e social.
A eficácia técnica é atingida quando são preenchidos todos os requisitos estatais para
sua produção formal e material de validade; uma lei, por exemplo, pode potencialmente
produzir efeitos, porém, na prática ainda depender da realização de atos pelo Estado que, até
aquele momento, não foram realizados, o que se configura como uma ineficácia técnica.
Carvalho aborda a ineficácia sob três aspectos distintos: ineficácia técnica sintática, ineficácia
técnica semântica e ineficácia técnica pragmática. A primeira ocorre sob duas circunstâncias;
quando a norma é impedida de produzir efeitos em decorrência da existência de outra norma
ou quando há ausência de normas regulamentadoras de igual ou inferior hierarquia. A
segunda diz respeito a questões do conteúdo normativo, pois sendo impossível a verificação
do fato, também será impossível a incidência da norma. Já a terceira decorre da ausência de
interesse pelos aplicadores do direito, o que ocorreu, por exemplo, com o crime de adultério
onde se tinha uma norma válida e vigente, mas que não gerava mais nenhum efeito visto que
os tribunais haviam cessado sua aplicação.
A eficácia fática se dá quando o fato descrito na hipótese normativa produz efeitos
sociais. Dessa forma, a norma tornar-se-á fatidicamente ineficaz quando a lei não possuir seu
objeto no mundo social, impossibilitando, assim, a sua produção de efeitos. Um exemplo
disso seria a positivação de uma lei que regulamentasse alguma tecnologia ainda não criada
ou disseminada, ou ainda algum fato causador de situações ainda não existentes na sociedade.
Em relação a eficácia do tipo social, esta caracteriza-se como a mais usual e refere-se
ao comportamento das pessoas diante das normas; seu cumprimento é atingido a partir da
aceitação e adimplemento pelos seus destinatários. A eficácia social pode ser atingida pelo
respeito espontâneo das pessoas às normas; pelo medo de ser punido ou pela punição
destinada aos que a descumprem. Nesse sentido, a “aplicação”, realizado por autoridades em
dado ordenamento e a “observância”, realizada pelos próprios indivíduos, considerados como
destinatários da norma, podem ou não estar associados, visto que algumas normas não
precisam ser aplicadas para produzirem efeitos, à exemplo da norma penal. Ademais, a
violação de uma norma jurídica não caracteriza necessariamente a sua ineficácia, já que à
norma é atribuída a legitimação de obrigar, permitir ou atribuir competência, baseando-se nos
valores positivados. Logo, caso um delito seja praticado, a norma manter-se-á eficaz e será
aplicada as competências coercitivas pela autoridade do Estado. Sendo assim, uma norma só
se caracteriza como ineficazmente social caso a “aplicação” e a “observância”, juntos, falhem.
Em síntese, uma norma pode preencher todos os requisitos de validade e vigência,
contudo, ainda assim, ser inoperante quando não produz qualquer efeito de eficácia. À vista
disso, a efetividade jurídica configura-se como um fim jurídico indispensável, capaz de
definir e determinar o impacto do Direito na sociedade.

REFERÊNCIAS

BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a efetividade de suas normas: limites e


possibilidades da constituição brasileira. 2.ed. Rio de Janeiro. Renovar, 1993.

BASSO, Ana Paula; SARLO, Oscar. Teorias do Direito e Realismo Jurídico. Florianópolis:
CONPEDI, 2016.

CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 6. ed.


São Paulo: Saraiva, 2008.

DIAS, Fabiano Fernandes. Validade, vigência e eficácia das normas jurídicas. Conteúdo
Jurídico, 2021. Acesso em: <https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/57108/validade-
vigncia-e-eficcia-das-normas-jurdicas>. Acesso em: 22 de jan. de 2022.
FERREIRA, Adriano. VALIDADE, VIGÊNCIA, EFICÁCIA, VIGOR. Direito Legal, 2015.
Acesso em: <https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/57108/validade-vigncia-e-
eficcia-das-normas-jurdicas>. Acesso em: 22 de jan. de 2022.

Você também pode gostar