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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS PROFESSOR ANTÔNIO GARCIA FILHO


DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
INTERNATO II

MANUAL SOBRE INFECÇÃO DE FERIDA OPERATÓRIA

LAGARTO (SE)
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CAMPUS PROFESSOR ANTÔNIO GARCIA FILHO
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
INTERNATO II

MANUAL SOBRE INFECÇÃO DE FERIDA OPERATÓRIA

DEISEANE DE OLIVEIRA ALMEIDA

Este manual foi desenvolvido como critério avaliativo da


disciplina de internato II do curso de Bacharelado em
Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe, Campus
Professor Antônio Garcia Filho, sob a supervisão da
Professora Doutora Ana Carla Ferreira Silva dos Santos, da
Preceptora Técnica Enfermeira Mirelle Moreno de Oliveira.

LAGARTO (SE)

2022
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................3

2 FERIDA OPERATÓRIA.......................................................................................................4

3 SINAIS INFECÇÃO DE FERIDA OPERATÓRIA............................................................5

4 FATORES DE RISCO DE INFECÇÃO DA FERIDA OPERATÓRIA............................7

5 MICROBIOTA INFECTANTE DE FERIDAS OPERATÓRIA.......................................8

6 MEDIDAS DE PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DE FERIDA OPERATÓRIA.............10

REFERÊNCIAS........................................................................................................................14
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1 INTRODUÇÃO

As complicações cirúrgicas são eventos adversos que podem resultar em


incapacidades e mortes. Estima-se que sejam realizadas entre 187 e 281 milhões de
cirurgias de grande porte anualmente no mundo. Concomitantemente a esses avanços
estão às complicações destes procedimentos cirúrgicos, que variam entre 3% e 16%, e os
óbitos que podem alcançar entre 5% e 10%, em países em desenvolvimento. Dentre este
quantitativo, estão àquelas relacionadas às feridas operatórias (FO), que aparecem como
uma das causas mais comuns decorrentes de procedimentos cirúrgicos, que podem incluir
infecção, dor, hemorragia, necrose, seroma, hematoma, deiscência e evisceração.
(MOURA, 2018; SPIN, et al., 2022).

A expressão infecção hospitalar vem sendo modificada nos últimos tempos, pelo
termo Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), no qual a prevenção e o
controle das infecções passam a ser considerados para todos os locais onde se presta o
cuidado e a assistência à saúde (CUNHA; SILVA, 2020).

No ano de 2009 a Organização Mundial de Saúde destacou que as complicações


cirúrgicas correspondem grande parte de lesões onde esses eventos correspondem 3% a
16% de todos os pacientes hospitalizados, e mais da metade de tais eventos são
reconhecidamente preveníveis. A cada ano, um milhão de pacientes morrem durante ou
imediatamente após a cirurgia (SPIN, et al., 2022). Entre as complicações inerentes à
cirurgia encontram-se as relacionadas à ferida operatória, considerada uma ferida aguda,
causada pelo rompimento de uma estrutura e da função anatômica tegumentar normal,
com intuído de criar uma abertura em um espaço do corpo ou órgão e facilitar a exposição
de uma cavidade a ser manipulada durante o ato cirúrgico (CUNHA; SILVA, 2020).

Este manual aborda as medidas de prevenção de infecção de feridas operatória.


Com a finalidade de apontar medidas para limpar, proteger e promover a cicatrização da
ferida, evitar infeções, tratar a intensidade da dor e dando conforto psicológico ao
paciente. Também me fez ter interesse de estudar mais sobre este assunto a fim de poder
contribuir de forma adequada quando estiver atuando na área de enfermagem.
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2 FERIDA OPERATÓRIA

A Ferida Operatória é o resultado de um procedimento cirúrgico, quando suas


bordas estão saudáveis e apropriadas para serem aproximado e suturado, ou pode haver
uma ferida aberta no qual as bordas não estão saudáveis para iniciar um processo de
cicatrização (ALECRIN, 2019). Alguns fatores como idade, nutrição, oxigenação e
doenças crônicas podem prejudicar nesse processo de cicatrização. Existem alguns
fatores que podem complicar a FO como infecções, hemorragias ou quando os pontos da
ferida operatória se rompem. (VIEIRA, 2018).

As feridas são classificadas desde o conteúdo microbiano, tipo de cicatrização,


grau de abertura e ao tempo de duração. Quanto a causa, pode ser devido a procedimentos
cirúrgicos. Existindo assim fatores como a incisão, que ocorre quando não se há perda de
tecido e as bordas são fechadas por sutura. Já na excisão tem-se a remoção de uma parte
da pele ou órgão, e por último a punção definida por procedimentos terapêuticos para
diagnósticos como exemplo a biopsia (SANTOS et al 2022).

A ferida operatória consiste no ato intencional em condições assépticas, de criar


uma abertura em um espaço do corpo ou órgão, para facilitar a exposição de uma cavidade
a ser manipulada durante o ato cirúrgico, e após o ato cirúrgico se tem a aproximação das
bordas através das suturas. As FO são classificadas por fatores microbianos sendo elas:
limpa, limpa contaminada, contaminada e infectada (SANTOS et al 2022).

CLASSIFICADAS DAS FERIDAS POR FATORES MICROBIANOS


Caracterizada por lesões realizadas de forma asséptica em
tecidos onde não se tem o processo infeccioso. Já a ferida limpa
FERIDA
contaminada tem se um tempo inferior a 6 horas, é o tecido est á
LIMPA
colonizado por flora bacteriana pouco numerosa e não se tem o
processo infeccioso.
FERIDA Tem um período maior de 6 horas entre o trauma e o atendimento
CONTAMINADA e está colonizada pela flora bacteriana, mas não e virulenta
FERIDA Está potencialmente colonizada por detritos ou microrganismos
INFECTADA evidenciando assim sinais de infecção

Existem complicações que podem atrapalhar o processo de cicatrização da FO,


como exemplo, a hemorragia, que ocorre devido a lesão dos vasos sanguíneos da região
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afetada. Outros fatores que pode causar serias complicações e a deiscência, que se trata
do rompimento dos pontos da ferida cirúrgica na fase pós operatória. E por fim a
evisceração ocasionada pela exposição das vísceras (VIEIRA, 2018). Atualmente se tem
três tipos de cicatrização sendo elas classificadas por: primeira, segunda e terceira
intenção (SPIN, et al., 2022).

TIPOS DE CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS


PRIMEIRO Não se tem perda de tecidos e as bordas da pele e seus componentes
INTENÇÃO ficam próximos.
SEGUNDA Tem perda de tecido e as bordas da pele ficam distante neste caso a
INTENÇÃO cicatrização acaba sendo mais lenta do que comparada a primeira.
TERCEIRO Ocorre após a formação do tecido de granulação fazendo a
INTENÇÃO aproximação das bordas através do ato cirúrgico apresentando assim
melhores resultados na cicatrização.

De modo geral a retirada dos pontos deve ser feita entre o 6º e 7º dias de pós-
operatório, para suturas simples com pontos separados. Nas incisões que seguem as linhas
de força da pele e os pontos foram dados sem tensão, os pontos podem ser retirados mais
precocemente, em torno do 4º dia de pós-operatório. Em suturas intradérmicas contínuas
com fios não absorvíveis, os pontos devem permanecer por até 12 dias. Em condições
adversas (infecção, desnutrição, neoplasias, diabetes, déficits de vitaminas e
oligoelementos, etc) os pontos devem ser removidos mais tardiamente, isto é, entre o 10º
e 12º dias de pós operatório (SPIN, et al., 2022; CUNHA, 2020).

3 SINAIS INFECÇÃO DE FERIDA OPERATÓRIA

Clinicamente, a ferida operatória é considerada infectada quando existe presença


de drenagem purulenta pela cicatriz, esta pode estar associada à presença de eritema,
edema, calor rubor, deiscência e abscesso. Nos casos de infecções superficiais de pele, o
exame da ferida é a principal fonte de informação (ALECRIN, 2019). Em pacientes
obesos ou com feridas profundas em múltiplos planos (com após toracotomia) os sinais
externos são mais tardios (SPIN, et al., 2022). O diagnóstico epidemiológico das
Infecções de Sítio Cirúrgico (ISC) deve ser o mais padronizado possível para permitir a
comparação ao longo do tempo em um determinado serviço e também a comparação entre
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os diversos serviços e instituições. Para isto, o Center for Diseases Control and Prevention
(CDC), nos EUA, criou definições de ISC que são mundialmente usadas para vigilância
epidemiológica:

INFECÇÃO DE SÍTIO CIRÚRGICO INCISIONAL SUPERFICIAL


Deve ocorrer em 30 dias após o procedimento e envolver apenas pele e tecido
subcutâneo e apresentar pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas:
1. Drenagem de secreção purulenta da incisão;
2. Microrganismo isolado de maneira asséptica de secreção ou tecido;
3. Pelo menos um dos sinais e sintomas e a abertura deliberada dos pontos pelo
cirurgião exceto se cultura negativa: dor, edema, eritema ou calor local;
4. Diagnóstico de infecção pelo médico que acompanha o paciente.
INFECÇÃO DO SÍTIO CIRÚRGICO INCISIONAL PROFUNDA
Deve ocorrer em 30 dias após o procedimento se não houver implante ou um ano se
houver implante. A infecção deve envolver os tecidos moles profundos (músculo ou
fascia) e apresentar pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas:
1. Drenagem purulenta de incisão profunda;
2. Incisão profunda com deiscência espontânea ou deliberadamente aberta pelo
cirurgião quando o paciente apresentar pelo menos um dos sinais ou sintomas: febre,
dor localizada, edema e rubor exceto se cultura negativa;
3. Abscesso ou outra evidencia de infecção envolvendo fascia ou músculo, achada ao
exame direto, re-operação, histopatológico ou radiológico;
4. Diagnóstico de infecção incisional profunda pelo médico que acompanha o
paciente.
INFECÇÃO DE ÓRGÃO/ESPAÇO
Deve ocorrer em 30 dias após o procedimento se não houver implante ou um ano se
houver implante. Envolver qualquer outra região anatômica do sitio cirúrgico que não
a incisão e apresentar pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas:
1. Drenagem purulenta por dreno locado em órgão ou cavidade;
2. Microrganismo isolado de maneira asséptica de secreção ou tecido de órgão ou
cavidade;
3. Abscesso ou outra evidencia de infecção envolvendo órgão ou cavidade achada ao
exame direto, reoperação, histopatológico ou radiológico.
4. Diagnóstico de infecção de órgão/espaço pelo médico que acompanha o paciente.
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4 FATORES DE RISCO DE INFECÇÃO DA FERIDA OPERATÓRIA

O risco de ocorrência de ISC é determinado por: dose do inóculo microbiano no


sítio cirúrgico, virulência do microrganismo, resistência imunológica do paciente, status
fisiológico do sítio cirúrgico no final da cirurgia, que é influenciado pela quantidade de
tecido desvitalizado, técnica cirúrgica empregada e doença de base do paciente
(ALECRIN, 2019).

FATORES DE RISCO REFERENTES AO PACIENTE


Diabetes mellitus Um controle glicêmico adequado no pré-operatório e no
intraoperatório é recomendável; o controle glicêmico
no pós-operatório facilita a cicatrização e diminui o
tempo de internação.
Tabagismo O paciente deve ser orientado no pré-operatório a parar
de fumar ou diminuir o uso de qualquer forma de
consumo de tabaco
Obesidade Dificulta a cicatrização e a concentração tecidual
adequada do antibiótico profilático
Perda rápida e recente de Pode ser um fator de risco principalmente por estar
peso associada à desnutrição
Desnutrição Se possível postergar a cirurgia para que o paciente
melhore o estado nutricional, a albumina pode ser um
bom marcador para controle.
Idade avançada Avaliar custo-benefício da cirurgia.
Imunossupressão Secundária ao uso de corticóide ou outros
imunossupressores ou a doença de base, contudo, não
existe consenso sobre a eficácia em reduzir a
imunossupressão para realização de procedimentos para
controle de ISC.
Infecções de sítios distantes Devem ser pesquisadas e tratadas no pré-operatório.
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FATORES DE RISCO RELACIONADOS À ASSISTÊNCIA PRÉ-


OPERATORIA
Tempo de internação pré- Principalmente se o paciente estiver em Unidade de
operatório Terapia Intensiva. A internação pré-operatória
prolongada favorece a substituição da flora endógena
do paciente, aumentando o risco de aquisição de
microrganismos multi-resistentes.
Tricotomia extensa Principalmente se os pêlos forem raspados, pois este
procedimento produz micro lesões que aumentam a
colonização da pele e dificultam a antisepsia da mesma.
Quanto mais precoce a tricotomia, maior o risco.

FATORES RELACIONADOS AO INTRA-OPERATÓRIO


Tempo intra-operatório Por aumentar o risco de contaminação da ferida,
prolongado aumentar a lesão tecidual, aumentar a imunossupressão
por perda de sangue, diminuir o efeito do antibiótico
profilático quando não repicado e aumentar o número
de suturas e uso do cautério
Técnica cirúrgica Como: manipulação intensa, abertura inadvertida de
víscera, controle inadequado de sangramento, espaço
morto, quantidade de tecido desvitalizado.
Uso de drenos Por permitir a migração retrógrada de bactérias da flora
da pele.

5 MICROBIOTA INFECTANTE DE FERIDAS OPERATÓRIA

Atualmente, devido à alta taxa de morbidade e mortalidade, a infecção de ferida


operatória é motivo de grande preocupação nos hospitais, podendo também causar danos
físicos e emocionais, afastando muitas vezes o paciente do trabalho e do convívio social
(SÃO PAULO, 2006). Geralmente, a infecção da ferida operatória pode ocorrer entre 4 e
6 dias após o procedimento, no entanto, de acordo com o Centro de Controle de Doenças
dos Estados Unidos (CDC), 98% da ISC pode se manifestar até 30 dias após a cirurgia,
ou mesmo 1 ano mais tarde, quando trata-se de prótese implantada (MOURA 2020).
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A ISC pode estar relacionada com a presença de microrganismos, sendo as


bactérias as que mais afetam as incisões cirúrgicas. Alguns desses patógenos fazem parte
da própria flora da pele em condições normais, no entanto, tornam-se patogênicos em
condições favoráveis para sua proliferação, causando assim as ISC. Como estratégia para
prevenção de ISC, realiza-se a antibioticoterapia profilática, no entanto, muitas bactérias
presentes no ambiente hospitalar tornaram-se resistentes à maioria dos antibióticos
utilizados no perioperatório devido à exposição a esses fármacos, aumentando os custos
do hospital, assim como prejudicando a recuperação do paciente (SÃO PAULO, 2006).

Os principais microrganismos são: S. aureus, S. epidermidis, Escherichia coli,


Klebsiella spp., Enterobacter spp., Pseudomonas spp., Enterococcus spp., Bacteroides
spp., etc. Algumas feridas que parecem infectadas podem não apresentar patógeno em
cultura, enquanto outras apresentarão crescimento de múltiplas espécies (SANTOS, et al.,
2016).

As feridas superficiais começam frequentemente na sutura cirúrgica e podem


apresentar dor, calor, edema e rubor. O pus pode exsudar-se, principalmente quando são
removidos um ou mais pontos para permitir a livre drenagem. A exsudação mal cheirosa
pode sugerir presença de bactérias anaeróbias, mas também pode resultar de outras
bactérias como Proteus spp (SANTOS, et al., 2016).

Os micro-organismos como Mycobacterium chelonei e Mycobacterium fortuitum


podem causar infecção, complicando a cirurgia cardíaca ou mamoplastia, cirurgia ocular
e outras cirurgias limpas. Tais micro-organismos podem causar doenças crônicas
desfigurantes (SANTOS, et al., 2016).

DIAGNÓSTICO DE INFECÇÃO DE FERIDAS CIRÚRGICAS


DIAGNÓSTICO
INFECÇÕES AGENTE ETIOLÓGICO
LABORATORIAL
Infecção pós • Staphylococcus aureus; Gram, Cultura do pus, aspirado ou
operatória • Staphylococcus epidermidis; tecido em ágar Sangue, ágar Mac
simples • Streptococcus grupo A; Conkey, Caldo tioglicolato

• Enterobactérias; empregando cultura em aerobiose e

• Enterococos; meio seletivo para anaeróbios em

• Bacteroides spp.; ambiente de anaerobiose estrita.


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• Clostridium spp.
Infecção de • Streptococcus grupo A; Gram, Cultura em aerobiose, em
feridas • Staphylococcus aureus; jarra de anaerobiose e microaerofilia
complicadas • Enterobactérias; (método da vela) do pus ou tecido.

• Pseudomonas spp.; Ágar sangue, Ágar Mac Conkey,

• Aeromonas hydrophila; Caldo tioglicolato, Ágar enriquecido

• Vibrio vulnificus; e seletivo para anaeróbios estritos.

• Bacteroides spp.;
• Clostridium spp.;
• Cocos anaeróbios;
• Cocos microaerófilos;
• Fusobacterium spp.

6 MEDIDAS DE PREVENÇÃO DE INFECÇÃO DE FERIDA OPERATÓRIA

O Ministério da Saúde em seu Caderno 4 intitulado “Medidas de Prevenção de


Infecção Relacionada à Assistência à Saúde”, da série “Segurança do Paciente e
Qualidade em Serviços de Saúde”, no Capítulo 4 (Medidas de Prevenção de Infecção
Cirúrgica), aborda todas as medidas medidas de prevenção de infecção de ferida
operatória. Segue abaixo as recomendações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006):

MEDIDAS DE CONTROLE DE INFECÇÃO DE FERIDA OPERATÓRIA


Objetivo: Sistematizar e gerenciar a avaliação de feridas e a realização dos curativos.
Conceitos: Curativo é um meio terapêutico que consiste na limpeza e aplicação de uma
cobertura estéril em uma ferida, quando necessário, com o objetivo de proteger o tecido
recém-formado da invasão microbiana, aliviar a dor, oferecer conforto para o paciente,
manter o ambiente úmido, promover a rápida cicatrização e prevenir a contaminação
ou infecção.
Princípios para o curativo ideal:
1. Manter elevada umidade entre a ferida e o curativo;
2. Remover o excesso de exsudação;
3. Permitir a troca gasosa;
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4. Fornecer isolamento térmico;


5. Ser impermeável a bactérias;
6. Ser asséptico;
7. Permitir a remoção sem traumas e dor.
Qualidade preconizada para um produto tópico eficaz para o tratamento de
feridas:
1. Facilidade na remoção;
2. Conforto;
3. Não exigir trocas frequentes;
4. Manter o leito da ferida com umidade ideal e as áreas periféricas secas e protegidas;
5. Facilidade de aplicação;
6. Adaptabilidade (conformação às diversas partes do corpo).
Tipos de Curativos: A escolha do curativo depende do tipo de ferida, estágio de
cicatrização e processo de cicatrização de cada paciente. Os apectos da ferida com
relação à presenção de inflamação, infecção, umidade e condições das bordas da ferida
devem ser avaliados.
Morfologia:
1. Local, número de lesões, dimensão, profundidade.
2. Mensurar as dimensões (comprimento, largura e profundidade) das feridas crônicas
com régua de papel descartável.
Grau de Contaminação:
1. Limpa, contaminada ou infectada;
2. Avaliar quanto à presença e aspectos: odor (fétido ou característico), exsudato
avaliar quanto à quantidade (pequeno, moderado ou abundante), as características
(seroso, hemático, serohemático, purulento, seropurulento, fibrinoso) e coloração
(esverdeado, esbranquiçado, amarelado, achocolatado, acastanhado);
3. Solicitar avaliação da CCIH em casos de feridas com suspeita de infecção para
orientação da antibioticoterapia e coleta de amostras para cultura.
Leito da Ferida: Fibrótico, necrótico, em granulação e epitelização. Mensurar espaços
mortos. Em casos de necrose, solicitar avaliação da cirurgia plástica.
Bordas da Ferida:
1. Maceração, contorno (regulares ou irregulares), retração, coloração;
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2. Área periferida: íntegra, fragilizada, avermelhada, ressecada, papel de seda,


descamativa, eczematosa.
Limpeza da Ferida:
1. Utilizar Soro Fisiológico (SF) 0,9% morno em jato, frasco com ponteiras para
irrigação.
2. Deve ser exaustiva até a retirada dos debris, crostas e do exsudato presente no leito
da ferida.
Feridas com cicatrização por primeira intenção (bordas aproximados por sutura):
1. Recomenda-se permanecer com curativo estéril por 24 h a 48 h, exceto se houver
drenagem da ferida ou indicação clínica;
2. O primeiro curativo cirúrgico deverá ser realizado pela equipe médica ou enfermeiro
especializado. O enfermeiro poderá realizar o curativo a partir do segundo dia de
pós-operatório (PO) ou conforme conduta;
3. Substituir o curativo antes das 24 h ou 48 h se molhar, soltar, sujar ou a critério
médico;
4. Remover o curativo anterior com luvas de procedimento;
5. Realizar o curativo com técnica estéril e com toque suave de SF 0,9% em incisão
cirúrgica;
6. Avaliar local da incisão, se não apresenta exsudato manter as incisões expostas até
a remoção da sutura. Nestes casos recomenda-se higienizar as incisões com água e
sabão comum durante o banho e secar o local com toalhas limpas e secas;
7. Registrar o procedimento e comunicar a equipe médica em casos de sangramento
excessivo, deiscências e sinais flogísticos.
Feridas com cicatrização por segunda e terceira intenção (bordas separados):
Feridas com tecido de granulação: utilizar coberturas que mantenham o meio úmido,
como: hidropolímero, hidrogel, AGE, alginato de cálcio e rayon com petrolato;
Feridas com cicatrização por segunda e terceira intenção (bordas separados):
1. Feridas com tecido de granulação: utilizar coberturas que mantenham o meio úmido,
como: hidropolímero, hidrogel, AGE, alginato de cálcio e rayon com petrolato;
2. Feridas cavitárias: utilizar alginato de cálcio, carvão (cuidado com as proeminências
ósseas), hidropolímero e hidrogel;
3. Feridas com hipergranulação: utilizar rayon com petrolato, bastão com nitrato de
prata e curativos de silicone;
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4. Feridas com fibrina viável (branca): utilizar coberturas que mantenham o meio
úmido, como hidropolímero, hidrogel, AGE, alginato de cálcio, carvão ativado e
rayon com petrolato. Remover apenas quando apresentar excessos;
5. Feridas com tecido necrótico: utilizar hidrogel ou colagenase. Caso não ocorra
melhora evolutiva, solicitar a avaliação da cirurgia plástica;
6. Feridas infectadas: sugerir avaliação da clínica médica e CCIH quanto à necessidade
de identificação do microrganismo para terapêutica adequada. Utilizar carvão
ativado, hidropolímero com prata e alginato com prata;
7. Feridas com tecido de epitelização e bordas: proteger o frágil tecido neoformado
com AGE ou rayon com petrolato.
Conduta para a Realização de Curativo em Paciente com Fixador Externo:
Limpar os locais de inserção dos pinos com Soro Fisiológico 0,9% removendo crostas
e sujidades. Após, realizar toque de álcool a 70%; primeiro na inserção dos pinos,
depois na área periferida e por último, no fixador. Posteriormente, ocluir com gazes,
acolchoado e atadura de crepom.
Manipulações de risco em pós-operatório de implantes cardíacos:
1. Manipulações dentárias, desbridamentos de tecidos necróticos/infectados,
colonoscopia, cistoscopia;
2. Indicação de antibioticoprofilaxia por 24 h.
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REFERÊNCIAS

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Tinoco; CAMPOS, Andreia Rodrigues; ALMEIDA, Giovanna Barreto de Oliveira;
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operatório. Revista Cienfica da FMC. Vol. 14, nº 1, 2019. DOI 10.29184/1980-
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MOURA, Iris Raquel Dantas. Fatores associados às complicações de feridas operatórias


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