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eikhenbaum chklovski jakobson tomachevski jirmunski propp brik tynianov vinogradov TEORIA BAN Ba Ney formalistas aed EDITORA GLOBO), Copyriahc © 1970 by Editare Globo S.A 1 digo — mai de 1971, 2 edicio — jumbo de 1973, Capa de JOAO AZEVEDO BRAGA tos exlsivos desta ‘em lingua por oxo Alegte — Rio. Gra da Bai SUMARIO Preficio — Boris Schnaiderman Ix tas russos no Brasil — Dionisio XXHIT PRIMEIRA PARTE ‘A PROBLEMATICA DO FORMALISMO I A Teoria do “M um 3 ‘A Arte como Procediment 39 Sobre a qu munski 37 ‘A Escola post Trotsky m Il ‘As Tarefas da Estilistica — V. V. Vinogradov . a Os Problemas dos Estudos Lit nov e R, Jakobson 8 A Nogio de Construgio — J. Tynianov 99 105 9 vi. MARIO SEGUNDA PARTE © POEMA Ritmo e Sintaxe — O. Brik Sobre © Verso — B, Tomachevski TERCEIRA PARTE A NARRAGAO Sobre a Teoria da Prota —B. Eikhenbaum Temétiea — B. Tomachevski ‘A Constusio da Novel e do Romance — V. Chklovski Como & feito O Capote de Gogol — B. Eikhenbaum As Transformagies dos contos fantisticos — V. Propp APENDICE ss para uma Teoria Literdtia — Dionisio de Ol! ledo Bt 141 137 169 205 227 24s PREFACIO Estranho destino, o do assis No inverno de 1914-1915, -a e de lingiisties, eo pelos organizadores ao seeretério da Academia, A. A. Chikhmatov. Bram muito jovens os membros 4 se patenteia a Seguranga com q) mas da arte e da literatura. 0 fato da lingiiistiea indiea uma faixa de py nante no movimento entio apenas esbogado, particularin tudo da.fungdo poética essio seria usada mais ta fato importante da linguagem, até entio lingifstica tradicional, 4 aquela filosofie, refletir esta ou aquela opi ponto de vis on processo, isto & 0 principio da organizagio da obra e | dato estético, jamais im fator externo, = SN'Roman Takabeon eecroven wim trecho famoao, quo ae quase um manifesto do. movimento “A poesia 6 linguagem em sua fungio estétice “Deste modo, o objeto do estudo lterério nio 6 a literatura, sas a literariedade, isto 6 aguilo que torna determinads obra uma x Boris Schnaiderman bra literdria, Kno entanto, até hoje, os historiadores da literatura, ‘mais das vezes, assemelhavam-se & policia que, desejando prender determinada pessoa, tivesse apanhado, por vie das dividas, tudo e todos que estivessem num apartamento, ¢ também os que passassem almente na rua naqvele instante. Tudo servia pare os histo iteratura: os costumes, # paiealoai ‘a, & filo |. Em lugar de um estiido da literatura, eriava-se um congo: ‘meredo de disciplinas mal-acabadas. Parecia-se esquecer que estes elementos pertencem as ciéneiss correspondentes: Histéria da Filo- sofia, Histéria da Cultura, Psicologia, ote, © que estas dltimas podiam, naturalmente, utilizar também os monumentos literérios como documentos defeituosos lo da literatura quer tornar-se eess0” como seu iuieo “her Deste modo, © de exitiea sociol jovimento voltava-se no $5 contra os exeessos joa © polities, da submissioda estétien a, étiea, sobretudo © par contra a_metafisica © dos. simbolistas_russos, para quem o texto literdrio.apared ‘pees cone. wma das maneiras de busear o “ine- 9 extraterreno, trabalho crftico dos assim vase para o contingents, 0 imediato, 0 palpével, 0 anall Como lembra ainda Romen Jakobson, 9 Circulo Lingiifstico de Moscow contava, entre seus membros poetas como Maiakovski, Pas: lam e Assigiev®, Isto nio se devia a mero asato: 08 8 dos formalistas eram os mesmos da poesia mais ‘avangada da época — a de Kbliébnikov ¢ Maiakovsh Pasternak (tio diferente do posta agressivamente velhice!), a do Mandelstam dos anos da Revolugio (tio afastado do neoclissieo de toque ligeiramente simbolista dos anos anteriores!), poesia violenta e imediatista das raas e dos comfcios, & qual nio conseguiram perinanecer indiferentes sequer os maiores poctas do préprio simbolismo russo: An¢ ‘Todorox, Théorie de Im Ittérature (antelogia. do. formaliamo tio du; Seuil, Paria, 2985, page 2. Prefdcio xI quando « velba estética ndo podia mais satisfuzer of jovens, » alianga entre eritica formalista e poesia arrojeda e revolueionéria parecia expressar 0 que mais so adoquava ao espirito da época. O3 romancistas de luvas de pelica, os postas de saléo e de porta de confeitaria, os estelas refinados e trenseendentes, haviam tomado fem grande parte o destino do A Riissia procurava estruta- rare em novas formas, contravann su ‘A par da tendéneia para a , do utilitarismo desenfreado, que eneont raizea também "a ideoligica e sua expressio ara-se na Riisia, to aos jornalistas franceses, que geralmente atribuem a0 1 smo tudo o que Ihes parece trazer'o solo do devanear e do reconesitos do jes: a mais imprecisa das definigdes, Uma todas essaa carscteristicas e, 20 mesmo tempo, pertencer so género classic. “Se em Ingar ia nos basearmos ‘unicsmente* sremos de nos desemaranhar Um hino de J. B. Rousseau, pelo espirito, natural- ngue de uma ode de Pindaro, uma sitira de Juvenal do uma sitira de Horécio, ‘Jerusalém Libertada’ da ‘Bneida’, e, no entanto, todos cles pertencem ao género eléssico, “‘Devem ser incluidas neste ginero aa poesias eujas formas eram conhecidas por gregos e romanos, ou ctjos modelos eles ‘not ei por conseguinte, incluem-se ai: a epopéia, o poeina di a tragédia, » comédia, « ode, a sitira, a epistela, o poem 1 éeloga, & elegia, 0 epigraraa ea {&bula, jue géneros de poesits devem entio classifiewr-se como poesia ieat “‘Aqueles que nio eram conhesidos dos antigos ¢ aqueles em que as velhas formas se modifiearam ou foram substituidas por outras®””. 3A. 8. Pushkin, cO poéel clasaitoheakot 1 romantiteneakols (Sobre posse cidssica ea romantica), tn Obras cotapletay, edigto da, Academie de Cléncias da URSS, V. VIL page, 323, xi Boris Scbnaiaerman ‘Teata-se de um raseunhs do poeta. Mas por ele ja se assumia para os russos, na década de 1820, 0 problema das novas i ias pelo romantismo, Roman Jakobson outros eseritos da época, que refletem 0 mesmo estavam forjando uma n0\ de novas formas de expr considerate, freqien. ute como a earacteristien essencial do romantismot. ‘Na déeada de 1910, diversos simbolistas esereveram traba- em que se dava uma definigio adequada de aspectos impor- Surgindo numa época de grandes discussées, na época em que © suprematismo de Maliéviteh, 0 construtivismo, a poesia eésmica las as nogies do con- eénieo por Meyerhold sucesso de imagens até entio conhecida no cinema, realizada uma eonlerincia i s6 tinha consciénela e que se aceit ‘um dos aspectos dialéticos do fendmeno literério. Referindo-ee mais tarde aos fundamentos tebricos do formalisnio rasso, Jakobson diria: "0 formalismo evoluia pera o método dialético, permanecendo ao mesmo tempo fortemente mar- 4 Roman Jakotson, Novisichala rfsteala podala — nabrossok plérvi, pegs. 128 Prefécio ado pela heranga mecanivista’™”. Sem divide, 6 preciso distin ‘estes aspectos nos trabalhos do formaliamo russe, 0 que Giminui a importéneia histérica, nem a oportunidade hoje em dia “Ali, trabathos do Ci do Braga: de desorigdo sincrénica da do ponte de uum ato eriador ima parte, do fundo da tra- or ontia parte, do fando ita sincrOnico, a forma da. pal dividui iguagem postion & aeentuar ede deformagio, sendo o carter, a tendé: existente: as préprias relagiea re alavra postica e da fingua de eomanieagio ora si0, em di erfodo, muito ora, em outras époeas, nao sic, pode-se dizer, sentidas!”, 0s formalistas adotaram formulagies agressi tética e, por veres, chegeram a afirmar a Khenbaum néo se cansou de repeti-l, base da obra pro- ea de seus manifestos. Ora, infelizmente, ao xv Boris Schnaiderman Prefécio 7 tem-se a tendéncia de josos e ingénuos do seus arautos com jn inovadoras de sens pesquisadores cien- individuos de visio, apegades as tradigdes pop Politica assumiram posigdes francamen! rrussa — esbooo primeiro, a periodologia das escolas potticas. pottica se desgasta de tempos em tempos, e entio se toma preciso absorver gusjar eotidiano outras formas © const Por fconseguinte, 0 que Khliébnikoy ¢ Maiskovéki estavam realizando ivro, ndo era mais do que seguir a norma ns do 1, sobretudo, com o que este escreven em seu tio atacado livro Trochos de correspondéneia com amigos! sando particularmente Boris Bikhenbaunt dedioi ay de aha vida a am ade ni guagen J. Tynlanoy mostrou, rnucioso da obra de Tolsto. J de trabalhos, que. esta oposigao eldgieos-romantico, hogio importads, foi muito menos importante, do ponto de ¥i di formagio da nove Tinguagem literéria, que & luta entre “areai- isto 6, entre ox que se apegavam a um tipo salt) ume eoleténea de rows trabanoe ‘eseritores Ge ee oqiiéncia inovavam, de classe ¢ de grupo st postiques, pag. 10 nabrossole ple @ Roman Jskobson, «Vera une sclonce 10 Roman Jakohson, Noviélchala Péskaia. pots Boris Schmaiderman dents, como ax reministncan origi. ’, € que nos dao um To ve Ge expresso. Hicheabeum toda a abordagem da core ino uma saesnio de ergs meta da eteniaimente Tos estes trabalhos da eacla fo (( pare aspects importantes do prom \\ de rover os coneios traiaiznne aa |} campo literdrio, iss. Ne rade, t20 diferente da ‘‘caga ao formalismo”” 108 depois, era algo que ajudava a chegar ampla ¢ abrangente dos fendmenos liters. lo Li de Copenha- roblema, de um A tone propiosta. por Eikhenbaum a Courfinkel, no lveo ‘olstl ae nen pigs 8637. Prefécio XVI pobtica era considerada como soma dos processos da arte, Definigio ‘que precisava do uma retificagdo essencial: nio se trata de soma mecinies, mas de um sistema de processos: estes so re si segundo leis e formam uma hierarquia earacter' formagao postion consiste nos deslocamentos dest ‘que muda € a hierarquia dos processos no quadro dé pobtico dado, a hierarquia dos géneres, a ia ds artes e a relagio da arte com os domfnios particular a Felagio da arte verbal com 01 Com o proprio desenvolvimento dessas tt toda a eiénoia da linguagem, por colocou a questio fundamei f parte ¢ 0 todo, e estabeleceu a erénica e histériea. E isto na ame que ela fornece a prova de que o deslocamento nfo perteneo simplesmente A diaeronia, mas também a sineronia: o deslocamento 6 vivido de mancira ime. diata, ele 6 valor essencial de arte ‘Tratase, 6 claro, de uma 8 discernir elementos que estavam em desenv ‘anos do formalismo russo. Basta ler com ate de Jakobson e Tynianov'?, bem como eertos trabalhos deste, para se ter a confirmagio do quo se afirmon are melhor que se passa a tor da histéria fem conta os fatos apontados depois pelo Cireu Thadamente nas segundas, enfim, uma fecundidade de elaboragio te6riea que nos fornece novas armas de anélise. : ta motodologia nio pode ser despresada nem esquecida, gratia sobre o formalismo russo nio so raras as refe- crise que o movimento estava vivendo quando sobreveio 10 J, Tynlanov © Roman Jakobuon, Probliémt Inutchénia Mteratsrl 4 laztké (problemas do estudo da Uterstura © ds lingua), Novl Let, 3025, XV Boris Schnaiderman f sua extingio violenta. Esta erise existin de fato, uma erise de evolugio, de busca de formulagies mais exatas e consistentes, mas nada ‘digo diminui, historieamente, a gravidade ‘de sia extingéo representou um retroeesso tremendo nos estudos li- er o artigo de Gorki sobre 0 assunto™, para “os esteredtipos formadas sobre 0 que teria pascavam a atuar como verdades indis- se pereeber a qué ‘método formal sido 0 n auido do pais, dediearam-se quase todos # estudos literérios fem fimbito mais estreito, e que nZo implieassem em teorizagao, Al- guns empenharam-se em renegar com estrépito as conviegies da ‘véspera, como foi particularmente o easo de Vitor Chklovski. Outros tiveram atitade mais coerente, e no falton até quem acabasse no paredio de 0 caso do grande lingitista T. Polivanov, diseipulo predi in de Courtenay © amigo de Maiskovski, morto em janeiro de 19984, existira entre tica de Praga, de cujos pri N. 8. Trubietek6i e P. G. Boge- > de uma série de trabslhos esbo- gedos pela OPOIAZ ¢ pelo Cireulo Lingiistien de Moseou. Reve- Jouse igualmente fecwnda a relagio que existira entre os forma: durante maites anos, nsformaram em raridade bibliogrétiea. Na Rissa, movimento no era sequer citado em en: de literature, a nao ser aqui e ali como critica estreitamente sociolégien. Os ¢ entio surgidos con- no sentido de uma condenagio ‘vaga do movimento, sem que se tenha uma nogio exata do que ele fa ver, neste sentido, a i com que alguns nasse algo vergonhoso ou assustador. “Mesmo na época da completa proibigio do movi alguns estudioios ocidentais tiveram conhesim 38 Léon Robel, «Polivanoy et le concept de aurdité phonstogiques, change, n° cit, pag 118 Prefécio xix thos. Trata-se, porém, de casos sacional: Bttore Lo Gat fica ea poética na Rissia ide repereussdo 1947, A dos re 681. Desde entio, estndos e fora no original Vista 4 gadores de i 6 eonhecimente do partieularmente a no sentido da divulgagso crition®® ida_por Tevetan Todorov, ‘movimento ¢ de sua anélise formalismo ruse, vs nnte do. fendmeno fentemente, 08 ius diferentes de det porque nio ehegou as oina de prio Bev. 19 Bilore Lo Gatto, Liestetiea ¢ la poctica in Ruma, G. C Sansont aitore, Firense, 1047 BE Bruford, Titerary interpretation in Boris Schnaiderman | xx Strauss, er Daseadas numa enjos defeitos fc importineia dos trabalhos de Propp e para a polémica deste com ass, estudando também 0 fato de que ao mesmo tempo 1¢ Propp se dedicava A morfologia do conto pi ido Laie Correa de Araujo e Affonso de Roland: Barthes sobre Propp"*. 10 russe esto jgualmente exer- fato 0 zhtin sobre Dostoiewski, aparecido recentemente em tradugio ita a, Tende igualmente a passar pperplexidade resultante dos pri fe que resultavam ora numa ace reatrigies que se bascavam em iaml trértchestea Dortolévskovo (Pro 1999. Prefaicio aa ‘40 parece justa a acusagio de Ignazio Ambre no sentido de que este se teria entusiasmado demai de estudo, 0 que teria resultado em deformagio® de Erlich € um repositério valioso de informagées, apresentadas ana- litica e critieamente, e 0 resto depende das opinides deste ou aquele estudioso que trate de seu trabalho, Outras abordagens, porém, sio mais fragmentérias e freqilentemente discutiveis Uma boa visio das relagies entre 0 Circulo Lingiiistico de Praga eo formalismo russo e da importineia de ambos para os estudos literdrios modernos 6 dada pelo N° 3 da publieagio fran- esa Change, da qual j6 se traton aqui. Uma abordagem feliz das nogio do maneira aguda por Vitor Chiklovs todus as possiveis que ainda exiati Embora # Teoria da Informagio tenha tide nos dtimos anos considerivel desenvolvimento na Uniio Soviética, durante muito tempo o formtlismo russo continuava sob a condenagio declarada, uma situsplo que nio podia perdurar: os trabilhos jam aparecendo tornavam por demais aparente a im- portineia do que se fizera no pats, nesse campo, na déeada de 1920. 2% Ignazio Ambroglo, Formalismo © avanguardia in Russia, Eaitori Riunitl, Rome, 108, pag. 100. Acryetyna Pomorska, Russlan formalist theory and its pootle am bance, Mouton, Hala, 1868 2% Umberto Eco, Obra aberta (tradusio brasllsra), Raitora Pere peetiva, Sie Pavio, 108, pig. 323 2a Boris Schuaiderman A PEORIA, 16m uma. im textos do formal Dionisio do ‘René Wellek ¢ Austin Warren foram os verdadeiros motiva- ores da edigdo brasileira da Teoria Literdria extraida do textos do vérios eriticos russos que se agruparam num movimento, hoje famoso mundialmente, conhesido eome o formalismo russo. Desde ‘que 2 obra desses dois eminentes tratadistas, tcheco um e norte. “is Schnaiderman nas, a esse propésito, o easo do poema, objeto, na époce, da anélise dos tratadistas de métrica, A grande critica ia brasileira (Jos6 Verissimo ou Otto Maria Carpeaux, por exemplo) nfo se ‘como 0 deveria fazer, pelo aspecto formal da obra de arte literéria, salvo na medida em que ela era considerada @ que nfo signifieava obviamente um | sav, Dionisio de Oliveira Toledo esacerto: era uma omissiy por Falta de elementos. Por isso, trata I vase, j4 se va, de uma er etivista, Assim, para o estudioso do poema s6 aobravam os manuais de versifieagio, / sempre repetidos, até por eseritores cléssicos*. Coutudo, quando se = } Cimento em diante, respeitar-se-ia, por Sa modifieagio do verso conforme a it : feriias ou a constatagdo de diferengas entre eos nos quais aparece a versificagio®. ‘Mas — como deixam bem claro nosios autores — tal proposigio, entre outras, nada mais era do que o atendimento da reivindiea- salistas russos sobre 0 assunto. Compreende- de Praga, endossara as mesmas idé trizes que governam este grupo teheco, todas las surgidas do \formalismo russo. se estabeleceram entre 0 es Foueault, Roland Bar- brasileira selaram 0 finteresse que jé havia pelo formalismo russo, eis que o primeiro ulilizava largamente o segundo para formular as teorias que per- seguist, Conhecen-se, nessa 6poca, a selegio de ensaios e a tradugio I 2 AntOnlo Feliciano do Casttho, Tratado do Metriflacto Portugucss, Imprensa, Neclonel, Lisboa, 1851; Glave Bllac © Guimaries Passos. Tra w'prancloco, Alves, 4044, Entre milton, scol Apresentasao xxv dos mesmos para o francés, reunidos numa edigdo da Seuil sob 0 titulo geral de Théorie de lo Littérature, com textos dos formalis- tas russos, por Tavetan Todorov. Era necessirio, a esta altura, tor- conhecides também no Brasil, Reunimos, entio, um grupo de Made de Filosofia da U. F.R.@. 8. (Ana Mariza iro, Maria Aparecida Pereira, Regina Levin Zilberman e An- tonio Carlos Hobifetdt) e, com 0 auxitio no infeio da Prof* Reasy! via Krveff de Souza e apés da Prof.* Rebeca Peixoto da Silva, principiamos a preparagio de uma edigdo brasileira, também do ria dos formalistas russos. (© nosso trabalho tornou-se aos poucos, e cada ver mais, dis- tinto do realizado por Tavetan Todorov. Nio s6 a disposigio da rmatéria € diferente como ainda acresventamos artigos de outros autores, traduzidos diretamente do russo ou do espanhol, eselarcée- dores da posigio dos formalistas ‘eoncepgio geral Finalmente, como apéndice, apresentamos um panorama ggeral de uma teoria literdria a fim de que 0 leitor dispusesse de ‘uma orientagio sistematica dessa diseiplina, 0 que néo oeorre nas ‘edigées fraucesa e italiana. Today’ apenas guiar o leitor, sem pi formalistas russos, julgam 50 autor refere.s, aqul, & guerra de 1914 © & revolugto marxiata a Résela. od era | XxXVL Dionisio de Oliveira Toledo nov sobre “O Mito Fundamental da Novela Os Deménios’, outro estu- do de Klebnikov sobre o smo ¢ 05 de Chukovsky ¢ Chiklovski sobre os problemas da criagdo poética a partir do ponto de vist da Forma, Pode-se dizer que estas primeiras tentativas continuam, depois, ds vitéria da Revolugao, naquels que se afirmou eomo a pri cola original eritiea junto ao triunfante positivismo off cola formatista ou do ‘formalismo’. Suas primeiras raizes deve ser buseadas, entretanto, antes, no trabalho dos professores Alek. sandr Vesselovsky ¢ Alexindr Potebuis, 0 primeiro eriador, na ‘mia, de enn otis hintnin «segunda da cla do eo-psicolégies. A Academia de Ci on ‘8 recompilagio das obras completas de século ds original) sua obra fundamental, Lingua ¢ Pensomento, que @ nova escola useria como pedra angular em sua concepgio das jos em um grupo,Opoiaz, shchestvo iauckeniia teorri pocticheskogo iazyka = Sociedade para o Bstudo da Lingua Potties), cuja vida durou de 1914 a 1923, os primeiros “formalistas’’ — V Jacobinsky, E. Potnanoy, 0. Briky B. Bikhenbeum, V. Jirmunski ed. 1 mntetido) ou bem istas, mais de eon- tefido do que de forma, Os problemas da forma haviam interessado também aos simbolistas depois deles, como sabemos, sos futuristas dos tipos de Klebnikov © Maiakovski; mas nestes casos tratava-se do a0 progresso da criagho, Os ‘formalistas’ tentaram a elaboragio ‘a sistomatizagio das obras literdrias a eo (em russo prion al no are Apresentugio xxvit totalmente © 0 contetido ¢ forma, a favor de uma os elementos da obra, a idsia como Frente & , hoje, os resultados sgulam seus caminhos con- em parte Xx) n Dionisio de Oliveira Toledo © Tynianov; a Poesia Rusta do Século XVII por Gukovsky 8 Poo- sia Russa do Séeulo XIX por Eikhenbaum ¢ Tynianov, ete. Neste tltimo grupo tém especial importincia os estudos ¢ en- saios sobre séeulo XVIII, dispersos nos volumes publieados pelos formalistas e também em seu drei, a revista Poetika, que comegou er publieada em 1919 e que apés um periodo de interrupedo foi recolhida pelo ‘Instituto Estatal de Histéria das Artes’ (1925.29 com a colaboragio de alguns dos primeiros formalistas, como Toma- chevsky, Tynianov, Jirmunski, Gukovsky, ete, enquanto outros joa a ele, mas es- lemas formais, reuniam seus estudos nos tomos de M.A. Pretrovaky. 10929 surgiu a erise definitiva dos estudos ‘formalistas’ 0 Quatro partes constituem a do Formatismo, incluindo os artigos: “A Teoria do Método Formal “Sobre a Questio do Método For- smalista e 0 Marxism de Construgio”, “Da Brolugio Literdria’ 5 IL, O Poema, parte constitutda Ritmo Sintaxe” e “Sobre © Sobre a Teoria da Prosa’ ‘Transformagies dos Contos Fai ma do uma Teoria Literdria”. 1 Bitore Lo Gatto, Wistorla de la Literatura Rusa, Lula de Carat, aitor, Bareclons, 1952. Apresentagio XxIX, rmalistes russos René Wellek e Austin Warren, Teoria da Literature, Buropa- | América, René Wellek, Histéria da Critica Moderna, He ‘Vitor Manuel de Aguiar e Silva, Teoria de Literatura, Live ria Almeida, Coimbra, 1969, Lingiistica © Comunicay Dostoivwski Artista, Ci ( Bibliogratia scessivel em portugués para o estudo dos for: PRIMERA PARTE. A PROBLEMATICA DO FORMALISMO, B. EIKHENBAUM A TEORIA DO “METODO FORMAL” tomou proporeses demasia, Para os ‘Form to objet (OPOtAz)» 4 B. Eikbenbaum nicamente de alguns prinet- ppelo estudo de uma maté- 5, @ no por este eo. Os trabalhos mneernentes 2 teor expri- jade su! entretanto, ao Tongo wularam-se tantes novos problemas © los a respeito de tris principios, que nio seria Initil tentar resumitos, ni como um sistema dogmético, mas como go histories, Tmporta mostrar como surgiu o trabalho dos fas, como e para onde ele evolu (0 elemento evolutivo é muito importante para a histéria do método formal. Nossos adversérios © muitos de nossos disefpulos nnio se deram conta disso. Estamos rodeados de celéticos © de epf- fam 0 método formal num sistema imével de leve servirthes para a elaboracio de termos, es, Podde-se Lacilmente eriticar este sistema, Falamos ¢ podemos falar ‘on aquele sistema completo, meto de um estndo, ‘ocupam ‘qunis os epiganos sie tio évi constrat ‘que 05 eeléticoseacham to agradé veis, Estabelecrmos s eoneretos e, nia medida em que eles podem ser apliondos a reqner uma mi jos, nds o fazemos imedintamente. Neste sentido, es a propésito de nossss, teorias; e toda Geve ser assim, na medida em que hi uma diferenca entre teoria e convieetio. Nao existe uma ciéncia completa, a ciéncin vi enquanto supera os ertos, e no engnanto estabelece verdades "A finalidade deste artigo nko € polémica. O perfodo inicial de aisonssies cientificas * polémieas jornalfsticns terminon. fos novos trabalhios eientifiene podem responder a este polemicas, entre as quais Imprenen ¢ Revoluezo (1924, n° 5) me parceen digna. Minha tarefa prineipal 6 mostrar como, evoluindo ¢ fitendo-se 20 domfuia de seu estudo, o método torn oa coma fletomonte os limites do que chemames geralmente metodoloia ¢ Como ele se transformou numa eiéneie autinoma tendo por objetivo 4 literatura eonsiderada como série espectfiea de fates, Diversos A Teoria do "Método Format” 5 todos podem perteneer eo quedro desta ciéneis, na medida em ‘atengho se concentra sobre 0 earSter intrinseco da matéria ida, ‘Pal foi realmente o desejo dos formalistas desde o inicio rmbate eontra as velhss tradigies. O nome de igado a esie movimento, deve ser auténome a partir das quali- rio, Nossa tinico objetivo 6 a conseigncia teériea dos fatos que se des na arte literfria en- quanto tal, iia ow que pretends silo. Est ragio, sobretudo da estética, 6 ais oa menos todos ter deixado de Indo ais como o problema do belo, do sentido da arte, ete., estes estudos so concentraram sobre (05 problemas coneretos ‘propostos pela anilise da obra do arte (Kunstwvissenschaft). 0 problema da compreensio da forma artistiea fe de sva evolngio foi posto novamente em qnestio fora das premis ‘sas impostas pela estética eral. Poi segaido de iniimeros problemas coneretos dependentes de histéria ¢ da teoria da arte. Slogans revela ores apareceram, no género deste, de Woelflia, Hi Nome (Kunstgeechichte ohne Namen), até as tentativas sintomitieas do anilise concrete dos estilos e prove como o Ensaio de Estudo Comparative doe Quadras, de K, Poll. Na Alemanha a too. A Teoria do "Método Formal” 7 los tomados de empréstimo da estétiea, perdera a tal ponto a sensagéo de sea fo as disciplinas particulares, Pela forga de razzes bis nna Riissia um lugar anélogo. © método formal chamou a atengio sobre si ¢ tornow-se um locas, a ci8nci lo, era como ‘uit eapTTal Invobilizado, como um to- fava de seu valor por nio ser tocade. A antoridade pertenciam mais & se nos 6 possivel jerria da eatética em distancia que separava 0 problemas partioulares da ci ria os problemas gerais da estétiea reduziram-so consideravelmente. As nogées ¢ os prinel rados pelos formalistas e tomados pare fundamento de ‘isavam, guardando sempre o seu earster concreto, ‘A’ renascenga da poétiea que, nesta época, se iversitarias ie, apesar de todo o seu carter wwa fundada sobro eertos pr certos problemas par de acontecimentos histérieos, Jontariamente tomou uma forma despojada e nfo obser: ‘a5 convengdes mais primitivas. O método formal e 0 covaki) contra o sistema poi -malistis porque dava um ea Im Munstwerk dew Dichlers (Betlim, 2025. espiravam os simbolistas, 8 B, Eikbenbeusm ( de uma atitude cientifica ¢ objetiva em relagio aos fatos, Daqui vinha a nova atitude do ntifico que caréeteriza ot | formalistas: uma recuse , as interpretagées pico 2s coisas nos pedia ‘que nos separassemos ‘a « das teorias ideolopicas da arte, Era necessétio ccuparmo.nos dos fatos ¢, rejeitando sistemas ¢ problemas gerais, pertimos de rio, deste ponto ‘onde entrames em contato com 0 Zato artistic queria ser examinada de perto, a ciéneia se exigie conereta 0 principio de co da cidnela era 0 prinefplo organizador do méiodo formal. Coneentramos todos os eaforgos para por termo 2 situ nde a Titera fora considerada, segundo 8 expressio d ki, Fes Foi neste ponto que ae tor: ralistas com 08 outros mét Opondese a estes métodos, os formalistas lo o8 métodos, mas a eon! responsfvel de diferentes cincias ede es problemas cle inda eomo afirmagio fundamental que o objeto daeiéncia das particularidades expeciieas dos pode dar pretexto e < objeto objeto de cigneia literdri (iteraturnost), on seja, 0 que f otto, at agora, poi opoudose @ prender qual- quer um, apaubava ao act ela achasse no quarto, mesmo os que passassem ne rua 20 I toriadores da literatura se ser psicologia, da polities © de filoso de diseiplinas gastas em vez de ume eignei A Teoria do "Método Formal” 9 ravease esquecido que cada um destes objotos pertencem respectiva- histéria da filosofia, a histéria da cultura, Para realizar © consolidar est recorrer a uma estética especulativ série literdria com outra série de fal Ge aéries existentes squela qu srivia, teria entretanto uma funcio diferente. 0 confronto Tinga post lana ilustrou este procedi- mento metodolégico, Foi deseavolvide nas primeiras peaguisas da pra o trabalho dos formalistas sobre os problemas fandament {a postica. Enguanto que habitualmente os estudiosos tradicio orientavam seus trabalhos em diregio & histéria da eultura ou da Vida sovisl, os formalistas se orientaram para a apresentava como uma eifncia paralela & poética na sua de estudo, mas que ® abordava apoiando-se em outros propondo-se a outros objetivos. Por outro lado, os lin também interessados no método formal, na mei da Ningua poétiea podem, enquanto fatas de quel que existe por exe ‘quanto A ulilizagho ¢ delimitagio 1 nas propostes hi pouso por Potebni ‘isespulos reapareceram sob esta 0 sentido. ‘a confrontagéo da Iingua poética primeizo artigo, visndo em eada caso particular aramente pritico de ‘quotidiane (do pei 10 B. Bikbenbawm Foi importante constatar esta diferenga, néo somente para a criagéo de uma postion mas também para compreender a tendén- cis que tinham of futuristas para eriar gua“ transracio. fenguanto revelagio total do valor suténomo das palevzas, fendmeno observado em parte ia das crianeas, na glossola Tin dos sectérios, ete. AS cioual tiveram, uma importin demonstragio contra as a respeito dos sons rados aos futurisias, ural que os forma bre este terreno: era ne- sma dos sons, @ fas tenhem tido sua primeira batalhs ticas dos simbolistas o tirar em seguida as conclusies cient derivadas daf. Assim, chegou-se aos primeiros resultados, eonsagra- dos inteiramento ao problema dos sons na pocsia e da lingua trans- rravional. Peralelamente a Jacobins bre a Poesia e a Lit ros exemplos, que to puramente f6nico que poss ire 0 som e 0 objeto deserito ou & ‘ra impreseionista: ‘“O agpeeto arti- importante para a f ima pelavra que nfo signi . ado pela poesia, & maior parte estaja movimento harmonioso dos ér- ja relagéo com a lingue transracio- conde se supde nos sons um ‘do Trad. para» edigho france A Teoria do "Método Formal’ " nal gauha assim importineia de verdadeiro problema cientifico, ceujo estudo facilitaria a compreensio de muitos fatos da lingua pobtiea. Chkloyski formalon assim o problema geral; “'Se, para falar da significagéo de uma palavra, exigimos que ela sirva neces afirmagio eoneepgao de po | 2 B. Bikbenbaum A Teoria do "Método Formal a tos (trechos de Pushkin e de Lermontov) ¢ os dispunha segundo ta, 0 ritmo, os sons, @ sintaxe néo tinham mais diferentes classes. Depois de ter expressado suas dsividas a respeito secundaria, nio'sendo espectficas da poesi | da justice da opinido corrente, on seja, que a linguagem poética 6 ingus de image Siferentia specifica da arte ndo se exprimia através dos el ‘tog que constituem a obra, mas através da utilizagéo particular que neste caso, a prépria emente, acontecem aqui manifestagies diferentes tied comum, o prinefpio da simples combina- terial de F sea 08 sous seja Tal extensio matéries diferentes earacteriza 10 dos formalistes.

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