Resumo
A problemática que se nos coloca a investigação acerca destes recintos incide em questões
que pretendem trazer à luz o número exato de amuralhados que existem na Província,
onde estão localizados, como, quando e por quem foram edificados, quais as técnicas
construtivas utilizadas na sua edificação e qual o seu estado de conservação atual. A
existência destes monumentos de pedra foi referenciada por investigadores como Vitor
Oliveira Jorge, Adriano Vasco Rodrigues, Camarate França e António de Almeida que,
nas décadas de 60/70 do século XX, constataram a existência de inúmeras muralhas nesta
Região do Sudoeste angolano. As informações recolhidas encontram-se maioritariamente
publicadas em revistas e boletins coloniais que têm sido o ponto de partida para a
investigação que se pretende desenhar.
O trabalho que aqui se apresenta é o resultado da análise às fontes bibliográficas que teve
como objetivos, por um lado, a contabilização dos amuralhados nela referidos e, por
outro, perceber a sua dispersão geográfica inserindo-os nas regiões a que,
administrativamente, pertencem. Este corresponde à primeira fase da investigação que
agora se inicia e que poderá ser levada a cabo nos próximos anos. Trabalhos futuros
passarão pela confirmação in loco dos amuralhados, pelo seu estudo e pela definição de
estratégias que visem a sua conservação e divulgação.
Pretende-se assim inaugurar um projeto de investigação que nos permita conhecer, não
só, o património arqueológico da região, mas também a história das populações que em
determinada altura sentiram a necessidade de edificar muralhas nas suas zonas de ação.
1
Abstract
The problem that we are faced with in the investigation of these premises focuses on
issues that seek to bring to light the exact number of walled in the Province, where they
are located, how, when and by whom they were built, what constructive techniques were
used in their construction and what is its they current state of conservation is. The
existence of these monuments of stone was referred to by Victor Oliveira Jorge, Adriano
Vasco Rodrigues, Camarate França and António de Almeida who, in the 60s and 70s of
the 20th century, noted the existence of an important wall in the region of Southwest
Angolan. The gathered information is mostly published in magazines and bulletins/
newsletters which have been the starting point for the research that is to be designed.
The work presented here is a result of an analysis of the bibliographical sources that had
as objectives, on the one hand, the accounting of the walled referred to in it and, on the
other hand, perceive their geographic dispersion by inserting them in the regions to which,
administratively, they belong. This corresponds to the first phase of the investigation
which is now underway, and which can be carried out in the coming years. Future works
will be based on the on-site confirmation of the walled, their study and the definition of
strategies aimed at their conservation and dissemination.
It is therefore intended to inaugurate a research project that allows us to know not only
the architectural heritage of the region, but also the history of the people who at one time
felt the need to build walls in their areas of action.
Key words: archaeological heritage, walled enclosure, survey, study, research project.
2
Introdução
O interesse pelo estudo dos amuralhados surge em 2013, ano em que, ao desfolhar a
separata do Boletim da Câmara Municipal de Sá da Bandeira, nº 38 (1975) tomei
conhecimento da existência do Recinto amuralhado do Eleu. A mesma separata, embora
se centre no levantamento e descrição do Eleu, faz referência à existência de outros
recintos na Província da Huíla.
Nesta busca de informação acabei por encontrar e consultar, para além do Boletim de Sá
da Bandeira, os artigos de António de Almeida e Camarate França, Adriano Vasco
Rodrigues e Vitor Oliveira Jorge que, fazem, igualmente, referência aos amuralhados. A
obra de Carlos Ervedosa, Arqueologia Angolana de 1980 é igualmente uma referência
nesta matéria.
António Almeida e Camarate França, por exemplo, pulicam, em 1960, o artigo, “Recintos
Muralhados de Angola” como resultado de levantamentos efetuados no âmbito das
Missões Antropobiológicas de Angola em 1955 revelando a existência de cinco
amuralhados na zona administrativa de Capelongo, Matala - amuralhados do Oci,
Txipunda Txa Njimbo, Cuacanda, Muomena e Camunengue, referindo ainda o
amuralhado do Kola e de Galangue.
3
Porém é apenas com as informações disponibilizadas no artigo de Vitor Oliveira Jorge,
1978, “Alguns elementos para o Estudo dos Recintos Muralhados do Planalto da
Humpata (Região Huíla, Sudoeste de Angola)” que se começa a ter uma noção mais ou
menos definida, quer do número de recintos existentes nesta região quer da sua dispersão
no território.
Carlos Ervedosa por sua vez refere-se mais concretamente aos amuralhados do Eleu,
Daundo, Ossi e Txipunda Txa Njimbo.
É importante referir que a recolha de informações não se esgota nos artigos e obras aqui
referidos, estando a pesquisa numa fase muito inicial. No entanto, a bibliografia e e as
informações orais de que dispomos, até ao momento, confirmam a existência de grande
parte dos recintos havendo a necessidade de confirmação destas informações no terreno.
Os grandes objetivos desta investigação passam pela necessidade de trazer à luz o número
exato de recintos existentes na Província da Huíla, de perceber a sua distribuição
geográfica, de fazer sua georreferenciação e mapeamento, de responder às questões:
quem, quando e por que razão foram os recintos edificados e de perceber se a técnica
construtiva usada foi a mesma em todos os amuralhados. A definição de estratégias que
visem a preservação e divulgação deste património serão igualmente objetivos a atingir.
4
Quantos e Onde se localizam os amuralhados?
As informações fornecidas pela bibliografia permitiram perceber que existe uma grande
concentração de amuralhados na Província da Huíla, e, embora ela nos dê pistas
relativamente à localização de alguns, a grande maioria está identificada apenas com os
nomes pelos quais são conhecidos.
Houve então necessidade de saber, por um lado, quantos amuralhados estão identificados
na bibliografia e, por outro, tentar localizá-los no espaço, enquadrando-os, inicialmente,
nas suas zonas administrativas.
Destes, foi possível perceber, também, que o Município da Chibia, mais concretamente a
comuna do Jau, é o que maior número de recintos concentra, com 17 amuralhados - o do
Eléu, o de Ococapunda, Umpah, Nancopo, Canga, Calondo, Munhere, Ompunda-yomuti,
Quetemo, Bome Cavambo, Pocolo, Mulemba, Dangala, Cangalonge, Cangalongue I e
Cangalongue II. Seguidamente surge o Município da Matala, zona de Capelongo, onde
foram identificados cinco recintos - o do Óssi, Txipunda Txa Njimbo, Cuacanda,
Muonema e Camunengue. Os restantes recintos encontram-se dispersos pelos Municípios
da Humpata, com três, Elumbi, Bianda e Camúcua; Lubango, com dois, o amuralhado I
e II da Huíla; Caconda, com dois, Uaba e Bissapa; Quilengues, com dois de Daundo e
Negola; Caluquembe, com um, o do Kola; Chiange, com um, o amuralhado do Chiange
e Cuvango com um, o amuralhado de Galangue.2
Estas são localizações gerais às quais será necessário associar as respetivas coordenadas
geográficas obtendo, assim, a localização exata de cada amuralhado, procedendo ao seu
mapeamento.
______________________________________________________________________
1
Instituto Superior de Ciências da Educação – Província da Huíla
2
Ver imagem 1 e 2 em anexo
5
Ainda relativamente ao número de recintos pensa-se que poderão existir outros ainda por
identificar.
Oliveira Jorge chega mesmo a admitir que o número de recintos pode ser superior falando
na necessidade de se realizarem trabalhos de prospeção e levantamento que cubram toda
a Província. Relativamente à sua área de pesquisa - Chibia, Humpata e Lubango - afirma
“que graças sobretudo às prospeções de Machado da Cruz, há conhecimento dos recintos,
quase todos concentrados na área administrativa do Jau (…) na qual aquele autor
assinalou dezassete e tais monumentos, sem que, mesmo assim, considerasse esgotantes
as suas pesquisas…” continua dizendo “que este tipo de estações deverá se bastante
abundante neste planalto, e que a sua distribuição está (…) muito condicionada pela maior
ou menor intensidade das prospeções realizadas”.(Jorge, 1978. p.227)
6
Hipóteses explicativas
À pergunta com que finalidade? Ribeiro, Moreira e Loureiro (1975) afirmam: “Esta
parece-nos ser a questão que nos oferece menos dúvidas quanto a uma resposta objectiva.
Efetivamente, as opiniões convergem em relação ao que se julga ser o factor principal: a
defesa.”
Almeida e França (1960), por exemplo, terminam desta fora o seu artigo: “(…) Serão
estas construções obra de Bantos e, por conseguinte, relativamente recentes – datando
quando muito do século XIX? (…) Contudo, as construções de pedra não são tradicionais
na região em que se situam, nem obras defensivas e muito menos habitações. Sublinhe-
se ainda que os próprios nativos, referindo-se ao recinto do Oci, afirmam que essas
construções existiam antes da chegada dos seus antepassados”
Dizem ainda que “Baseado nas fotografias dos recintos que lhe mostrámos, o eminente
arqueólogo Padre Henri Breuil admitiu, a principio, tratar-se de obras de Bantos muito
primitivos, impressão essa substituída ulteriormente por outra, segundo a qual os recintos
muralhados constituem testemunho de uma eventual e antiga influencia cultural de povos
do Mediterrâneo… (…) É provável que se esteja perante um fenómeno de imitação de
obras anteriormente existentes, ou então e simplesmente, na presença de uma tradição
arquitetónica que se perdeu; por isso só futuras e mais profundas investigações in situ
poderão contribuir para resolver tão interessante problema arqueológico…”
Jorge (1978) relativamente às mesmas questões diz que “Machado da Cruz pensa ser
legitimo dizer que o aparecimento deste tipo de construção se processou numa época
anterior ao conhecimento do ferro, à introdução da economia pastoril na região e em plena
vivencia da economia de colectores e caçadores”, diz ainda, tendo em conta o seu próprio
ponto de vista que “ Estamos, como se vê, a caminhar sobre conjecturas (…) parece-nos
7
mais coerente a ligação dos amuralhados a uma economia de produção (…) economia
essa que, não é muito antiga em Angola e basicamente se liga à Idade do Ferro. Não nos
repugna admitir uma data relativamente recente para a generalidade dos amuralhados (…)
não é de facto incoerente pensar-se que o embate de duas civilizações – a europeia,
portuguesa, e a africana, negra, com todo o predomínio tecnológico e militar da primeira,
e à medida que se processava a ocupação do Sudoeste de Angola, terá introduzido
elementos de crise e convulsão interna nas sociedades negras que as terá levado a um
estado de permanente alerta que justificaria a construção de amuralhados.”
Independentemente destas hipóteses ele chama a atenção para isso mesmo, para o facto
de serem apenas hipóteses interpretativas dizendo: “…tudo isto são hipóteses muito
gerais e cremos que a aquisição de conhecimentos mais seguros implicará um programa
interdisciplinar de pesquisas, históricas, etnológicas e arqueológicas, com uma recolha
sistemática de toda a documentação escrita de origem europeia, tratamento exaustivo dos
dados da tradição oral, e, finalmente estudo arqueológico dos amuralhados…”(Jorge,
1978.p 243)
8
Considerações finais
9
Referências Bibliográficas
Jorge, V. (1978). Alguns elementos para o estudo dos Recintos Muralhados do Planalto
da Humpata. (Região Huíla, Sudoeste de Angola). Revista Guimarães. Nº 87, p. 220-246
Ribeiro M., Moreira J., Ribeiro J. e Loureiro F. (1975). Recinto Muralhado do Eleu.
Boletim da Camara Municipal de Sá da Bandeira. Nº 38, p.3-14.
10
ANEXOS
17
11