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colaborativo
Técnicas têxteis
latino-americanas
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“Andina” é um bordado
que homenageia as
mulheres originárias
que tecem uma luta pelo
reconhecimento do seu
território. Por Andrea
Orue. @primaverade83
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Apresentação
T
rinta pessoas de várias cidades brasileiras e três países reunidas
para construir, coletivamente, um glossário sobre o fazer têxtil no
Brasil e na América Latina. A proposta parecia desafiadora, es-
pecialmente em um momento em que o contato virtual é a única
possibilidade de encontro. Mesmo diante do desafio, a vontade
de estar junto e compartilhar potências, foi o que nos moveu a realizar este projeto.
Para tornar essa ideia palpável, criamos um formato ousado, mas que se mostrou
eficiente para que a proposta fosse concretizada. O grupo foi dividido em qua-
tro subgrupos, conduzidos pelos integrantes do Instituto Urdume. Dentro disso, os
participantes foram convidados a escolherem sobre quais técnicas gostariam de se
aprofundar, dentro de quatro conjuntos propostos: fiação, cestarias e tecelagem,
guiado por Gustavo Seraphim, bordados e rendas, acompanhado por Nathália Ab-
dala, tricô e crochê, conduzido por Estefania Lima e costuras, emendas, estamparia
e tingimento, gerido por Paula Melech. O planejamento e apoio no decorrer do
curso - como a gestão das quatro salas de Zoom que ocorriam de forma simultânea
- ficaram a cargo de Paulo Lencioni, convidado para a realização do projeto.
O primeiro dia, 23 de março, foi reservado para que todos pudessem se apresentar e
conhecer melhor um ao outro. Em seguida, introduzimos o conceito de glossário e o que
pretendíamos com ele. Também aproveitamos para explicar como seriam os próximos
encontros e trazer elementos importantes para que a construção coletiva fosse possível.
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Ilustração de
Erika Dantas. Colagem
de retalhos. Aquarela
e colagem digital
A cada dia do curso, nos reuníamos todos, terial robusto e personalizado. Não tive-
primeiramente, na “sala principal”, onde mos a intenção de conseguir abarcar todas
conversávamos sobre as propostas do dia e as técnicas têxteis brasileiras e latino-ame-
para trocar informações, dúvidas e outras ricanas – visto que é um trabalho que exi-
questões que surgissem no processo. Em giria muito mais tempo de dedicação por
seguida, cada subgrupo era direcionado conta da complexidade da pesquisa, já que
para uma “sala paralela”, onde aconteciam não é fácil encontrar dados organizados
os trabalhos dos temas específicos, guiados sobre essas manifestações.
pelos monitores do instituto.
Com isso, privilegiamos técnicas inseridas
A partir do momento em que estavam inseri- em cada região, descrevendo-as e comple-
dos nos subgrupos, a proposta era pesquisar mentando-as com temas transversais que
as diferentes técnicas em um recorte regional, surgiram durante as conversas e pesquisas
fazendo um mapeamento sobre as diversida- com das integrantes do curso. Entre os as-
des e especificidades de cada técnica. Além suntos levantados estão questões de gêne-
disso, buscamos nos aprofundar nos detalhes ro, a coletividade, as narrativas para valo-
singulares de cada território, pesquisando e rização das artes têxteis, o território como
registrando texturas, materiais, ferramentas força e muitos outros.
utilizadas e os processos de feitura.
Por fim, a ideia de construir um glossário
De forma a organizar melhor as regiões, se- colaborativo foi realizada da melhor forma
paramos um território a ser percorrido a cada possível, abrangendo um amplo território
dia: no primeiro, pesquisamos Norte e Nor- de saberes e fazeres que, além da dimensão
deste do Brasil, no segundo, Centro Oeste, de registro, contou com observações empí-
Sudeste e Sul e, por fim, América Latina. Por ricas das participantes. Algumas delas, in-
conta da impossibilidade de estar presencial- clusive, foram as criadoras das ilustrações
mente nos locais, as pesquisas foram feitas na que estampam esse glossário. Não se trata
internet, em livros, revistas, dissertações e ar- de um documento fechado, ao contrário,
tigos científicos e também com base nas refe- é algo que permanece vivo e aberto para
rências e experiências pessoais de cada uma. novas contribuições de quem queira somar
neste coletivo, ampliando o alcance do re-
A contribuição da vivência de cada inte- gistro sobre as artes manuais têxteis no ter-
grante foi fundamental para criar um ma- ritório brasileiro e latinoamericano.
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participantes
Abadhia Maria de Oliveira I Ar- Adriana Gragnani I Socióloga e advogada,
tista têxtil com a técnica de crochê de grampo onde ainda milita profissionalmente. Dedica-se à
há 50 anos, interessada em processos criativos pesquisa de arte têxtil, especialmente o bordado.
identitários no bordado livre. Gestora de pro- Com esta técnica já participou de três bienais in-
jetos sociais com metodologias participativas. ternacionais de arte têxtil, além de exposições.
Ana Paula Albuquerque I Formada em Desenho e Plástica com mestrado e doutorado em Educação,
professora e fotógrafa, trabalha com temáticas que envolvem as Artes Visuais, pesquisa e a educação. Interessa-
da em trabalhos artesanais desde criança, ultimamente se dedica ao tricô e crochê tunisiano.
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Daiana da Silva Fernandes I Artesã nas técnicas de maxi
tricô e crochê. No bacharelado em Ciências Sociais pela Universi-
dade Regional do Cariri, o artesanato, além do sustento financeiro,
proporcionou inspirações e temas de pesquisa; foi bolsista CNPQ em
projeto na área de Antropologia da técnica e na linha de patrimônio e
cultura popular. Atualmente é mestranda em Antropologia.
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Gustavo Seraphim I é formado em direito e mestrando em
Mediações e Culturas pela UTFPR. Atua como gestor de projetos
culturais, é co-fundador do Instituto Urdume e coordenador do
Fio da Conversa, iniciativa que investiga os fazeres manuais têx-
teis, as relação de gênero e as representações de masculinidades.
O primeiro deles diz respeito à desvalorização das artes manuais têxteis, que remonta à ocu-
pação das terras americanas por Espanha e Portugal e o assentamento de suas colônias de
exploração econômica. Distinguindo-se de outros países da Europa, que tinham apreço pelas
corporações de ofício, na Península Ibérica o valor social do trabalho manual era especial-
mente baixo. Sendo assim, desde o início da colonização, os trabalhos manuais na América
Latina foram desprezados pelos “homens livres”, ficando a cargo de indígenas e negros escra-
vizados, que eram racializados e inferiorizados pelos colonizadores, assim como os próprios
trabalhos manuais. Sistema que, em grande medida, vigora até os dias de hoje.
Ponto que se liga a outros dois pontos fundamentais da história dos fazeres manuais nesta
região: o apagamento da cultura dos povos originários e africanos, e a difusão das artes
europeias por ordens religiosas, que tiveram papel fundamental no projeto educacional e ci-
vilizatório das Américas. Jesuítas, beneditinos, franciscanos e carmelitas foram responsáveis
por, nos primeiros séculos de colonização, organizarem reduções, igrejas, escolas, conventos
e mosteiros. Todos construídos com intelectualidade e projeção europeia, mas materiais
locais e mão de obra indígena e escravizada.
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Aquarela de fundo:
Rejane de Oliveira
Souza, 2021.
Trançado.
Ilustração de
Gustavo Seraphim.
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Embora houvesse, nestas ordens religiosas, O que no começo eram apenas espaços para
majoritariamente masculinas, uma clara hie- reclusão feminina, por influência da Revolução
rarquização do conhecimento intelectual e das Francesa, no final do século XVIII, tornaram-
artes liberais, que buscavam criar uma cultura se congregações aptas a responder às necessi-
de elite, na base delas estava o povo, os “ir- dades da sociedade (eurocêntrica) naquele mo-
mãos leigos”, que desempenhavam as mais mento. Neste sentido, as instituições religiosas
diversas práticas manuais, desprezadas pelos passaram a ter função de formar o homem para
religiosos, mas fundamentais para a manuten- a política, moralidade social e civismo republi-
ção daquelas estruturas. cano, e as mulheres para serem boas esposas e
mães deste cidadão. Período que coincide tam-
Outros pontos que marcam profundamente bém com a feminização do catolicismo na Fran-
os fazeres têxteis são as questões de gênero e ça e expansão de suas congregações por novos
o racismo. A título de exemplo, podemos ci- territórios, incluindo as Américas. Somando-se
tar suas origens em tradições trazidas da Eu- a isso, no começo do século XIX, chegaria ao
ropa, por meio das ordenações femininas que Brasil a Missão Artística Francesa, que tinha o
aparecem na região, a partir do século XVI objetivo de fundar uma escola de ciências, artes
na América espanhola, e nas últimas décadas e ofícios no Rio de Janeiro, e influenciou forte-
do século XVII e início do século XVIII na mente a cultura nacional.
América portuguesa. No Brasil, em especial,
a adesão tardia se deu por dificuldades criadas A partir de então, os franceses passaram a ditar
pela Coroa portuguesa. Na época, havia pou- o comportamento das elites, o modelo de vida
cas mulheres brancas na colônia e se elas se social, referências intelectuais, religião, moda
tornassem celibatárias, tornando-se religiosas, e as artes manuais têxteis no país. A renda re-
não cumpririam sua função de “reprodutoras nascença, por exemplo, muito utilizada por
biológicas”, além de atrapalharem o plano de Henrique II, rei da França, chegou ao Brasil
embranquecimento da Coroa. com a ocupação do Convento Santa Teresa na
Paraíba, feita por religiosas francesas, sendo
Ainda assim, uma demanda patriarcal oposta - transmitida às mulheres do sertão paraibano
a criação de um local para onde poderiam ser no começo do século XX.
encaminhadas as filhas “não casáveis” - acabou
fazendo com que a Coroa cedesse espaço para Vale destacar também, que ainda no século
as ordenações femininas. Surgiram primeiro os XIX foram fundados nas Américas uma série
recolhimentos, casas religiosas semelhantes aos de colégios de freiras, nos quais às alunas cabia
conventos, porém livres dos compromissos dos o aprendizado das letras, músicas cantadas e to-
votos solenes e que abrigavam em sua maioria, cadas ao piano e trabalhos manuais nos moldes
mulheres negras, indígenas e pobres e, poste- franceses (rendas de agulha, bordados e crochê).
riormente, os conventos, estes sim para mulhe- Todos dotes desejáveis para uma boa moça:
res com dote e “sangue nobre”. educação literária, musical, moral e também de
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prendas domésticas. No mesmo período, a
disciplina de trabalhos manuais têxteis in- O eterno retorno
tegrou-se aos currículo escolares brasileiros
públicos e particulares, tendo peso signifi- do encontro
cativo na educação feminina das moças de
elite e como necessidade do dia a dia das Tendo em vista tantas influências externas, todo pe-
moças pobres, indígenas e negras. ríodo de colonização do território brasileiro, Império
e começo de República, foi marcado pelo empobreci-
No Brasil, mais um ponto que marca a mento de linguagens e de suas correlações com modos
história das artes manuais têxteis é o ápi- de vida dos nativos e escravizados, sendo isto, con-
ce do fluxo migratório já vivido pelo país, sequência do viés utilitário pelo qual os colonos avalia-
no fim do século XIX e começo do século ram estes saberes. Mesmo assim, em grande medida,
XX. Após a aprovação da Lei Áurea, sem foram indígenas e negros os responsáveis pela execu-
nenhuma compensação ou alternativa ção, não só de suas próprias técnicas, mas também da
para os libertos, e com o objetivo de em- transformação e transmissão de técnicas tradicionais
branquecimento da população, o Estado europeias no Brasil e em toda a América Latina. Aqui
adotou uma política de imigração e distri- podemos citar artes manuais têxteis europeias que hoje
buição de lotes de terras para que brancos são patrimônios locais, como a renda de agulha que
europeus viessem ocupar o território. aculturou-se ao Brasil a partir de características pró-
prias e difundiu-se mais que todos os trabalhos manu-
Com isto, o bordado, que havia sido ais entre mulheres caiçaras, ribeirinhas e camponesas
moda entre burguesas abastadas no sé- nordestinas - a exemplo da renda de bilro ou o borda-
culo XVII, e passou a fazer parte do do filé - ou o tricô masculino na Ilha Taquile, no Peru.
dia a dia da vida de pequeno-burgueses
e operárias nos séculos seguintes, che- No mais, é preciso destacar que assim como afirma
gou ao país ainda mais forte em diversas Ailton Krenak no texto “O Eterno Retorno do En-
regiões do país, junto com o tricô e ou- contro” (1989), não houve apenas um encontro en-
tras prendas manuais necessárias para a tre as culturas dos povos do Ocidente e as culturas
manutenção da casa, além de uma série do continente Americano, mas infinitos deles. Neste
de outros artesanatos típicos vindos dos cenário, se alguns povos indígenas e suas culturas fo-
países natal dos imigrantes. Tudo isso, ram dizimadas em 1500 ou 1800, outros povos só en-
somado a um outro valor diverso àquele traram em contato com o homem branco no fim do
dado aos trabalhos manuais no país. Nas século XX, conservando sua própria sabedoria. Da
colônias, enquanto, com orgulho, os ho- mesma forma, diversas comunidades quilombolas
mens imigrantes trabalhavam no campo, e espaços de resistência foram mantidos na região,
as mulheres dedicavam-se ao enxoval e à conservando a riqueza de técnicas têxteis artesanais
produção de peças para o lar. que se mantém vivas por toda a América Latina.
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“Judite” é uma homenagem
a mulheres que encontraram
no fazer manual a compra
da sua liberdade e autonomia.
Bordado por Andrea Orue
@primaverade83
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O imaginário popular da produção
manual têxtil no século XX
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Revista Feminina, 1915 e
1922, acervo do Arquivo
Público do Estado de São
Paulo (APESP)
Outra grande novidade da primeira metade do “Lãs Sams”. No mesmo caminho seguiram as
século XX foram as indústrias têxteis, que passa- propagandas e revistas Pingouim Mon Tricot,
ram a produzir fios e linhas para trabalhos ma- da Paramount e Barbante, da Círculo, estas mais
nuais, lã e algodão no princípio, e mais tarde po- recentes. Muito do imaginário que temos hoje,
pularizando os produtos elaborados com fibras principalmente do tricô, crochê e bordado como
sintéticas vendidas no varejo. Muitas delas tam- uma atividade da vovó, vem justamente desse
bém passaram a produzir suas próprias revistas, tempo, que durou aproximadamente até o fim da
explicando didaticamente pontos de bordado, Segunda Guerra Mundial.
tricô e crochê, e publicando as famosas receitas,
muitas vezes sem contextualização. A partir daí as manualidades têxteis sofreram um
baque. Entre as décadas de 1940 e 1960, apesar
Este é o caso, por exemplo, do tricô de Aran, tricôs da figura da mulher como cuidadora do lar ainda
trançados e representativos de clãs europeus, que estar presente, havia uma tensão entre este papel
foram totalmente descontextualizados de seus sig- e o papel que ela passava a ocupar com o traba-
nificados no processo de midiatização dos padrões. lho na esfera pública. O consumo de produtos que
facilitassem a vida, o conforto e a praticidade fica-
Uma das publicações mais famosas da época ram em alta e, mais do que nunca, as manualida-
era a Revista Tricô e Crochê, especializada em des têxteis passaram a ser vistas como formas de
trabalhos de lã e linhas, e publicada pela Fábri- aprisionamento da mulher, restrita a donas de casa
ca Santista, cujo objetivo final era a venda das e aposentadas, portanto incompatíveis com o novo
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ritmo de vida que se configurava cada vez mais ção dos artesanatos tradicionais e regionais e de-
urbano. Em paralelo, no campo muitas mulheres signers de moda e decoração passaram a utilizar
seguiram fazendo os artesanatos típicos de sua a mão de obra de artesãs para inclusão de peças
região para venda e subsistência manuais em seus catálogos, dando novo fôlego a
técnicas com renda, tapeçaria e tecelagem.
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Ilustração de
Erika Dantas. Colagem
onde funcionava uma fábrica de tecidos em de retalhos. Aquarela
Bangladesh, motivou a criação de movimen- e colagem digital
tos por uma moda mais justa e, consequen-
temente, mais artesanal e consciente. Assim
sendo, a busca por materiais e soluções susten-
táveis para a produção de têxteis também au-
mentou, muitas delas encontradas em saberes
ancestrais, onde os territórios, e seus saberes,
voltaram a ganhar força, muitas vezes inter-
mediados por ações de marketing e design.
REFERÊNCIAS
A narrativa, que vinha se perdendo juntamente
com o fazer à mão - Walter Benjamin já di- Carvalho, M. D. Educando Donzelas: traba-
zia, “as histórias não são mais conservadas. lhos manuais e ensino religioso (1859 - 1934), dis-
Elas se perdem porque ninguém mais fia ou sertação, Faculdade de Filosofia, Letras e ciências
tece enquanto ouve a história.” - passa a ga- Humanas, USP, São Paulo, 241 págs,2017
nhar novo valor na busca por autenticidade e
através do redescobrimento de saberes deco- Favaro, C. Penépoles do século XX: a cultu-
loniais. Inclusive, estando o saber das mãos ra popular revisitada. História, Ciências, Saúde –
muito ligado à narrativa, sentimos na orga- Manguinhos, Rio de Janeiro, Out. 2010
nização do glossário a dificuldade em encon-
trar estes saberes transcritos e catalogados, Frasquete, D. e Simili, I. A Moda e as Mulhe-
assim como a falta da pesquisa em campo. res: As práticas de costura e o trabalho feminino
no Brasil nos anos 1950 e 1960. História e Edu-
Por último, as artes manuais têxteis também cação (online), Porto Alegre, v.21, n.53, set/dez.
vêm exercendo cada vez mais um papel tera- 2017, p. 267-283
pêutico e de produção de saúde, em especial,
durante o período de isolamento social vivido Lima, E. Artes manuais têxteis e moda bra-
devido à pandemia de Covid-19. Alternativa sileira no século XIX. Caderno de Leitura Ur-
às telas, crochê, tricô, bordado, tecelagem e dume 02, Instituto Urdume, Curitiba, 201
macramê têm se apresentado como uma saí-
da para o bem-estar, geração de renda e diver- Kobayashi, E. A saúde via consumo: a represen-
são para gerações cada vez mais novas. tação idealizada das donas de casa, mães e esposas
nos manuais de economia doméstica e nos anúncios
Dito tudo isto, convidamos vocês a consul- das revistas O Cruzeiro e Manchete, 1940-1960.
tarem este glossário com um olhar ciente de História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Ja-
todas as tramas e questões socioculturais que neiro, v.25, n.3, jul.-set. 2018, p.743-761.
envolvem estas práticas no Brasil, de onde
vocês encontrarão mais informações, mas Orazem, R. Arte e educação: uma estratégia
também de outros países da América Latina, jesuítica para a catequização dos índios no Brasil
nossos vizinhos cujo idioma oficial é outro, colonial.Revista Digital Art& - ISSN 1806-2962 -
mas onde as mãos se entendem. Ano IV - Número 05 - Abril de 2006
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Indíce
Bordado
32 Bordado de Passira I Brasil
Bordado Livre I Nordeste
Bordado à Máquina 40
Bordado Rechiliê, Richilieu ou
Bordado de Protesto Richilieu I Brasil I Nordeste
41
36 Bordado do cangaço I Brasil
Bordado Ucraniano I Brasil I Sul
I Nordeste
Bordado da Cavalhada I Brasil
I Centro-oeste Bordados dos estandartes das
agremiações carnavalescas
Bordado do Bujari I Brasil I Norte I Brasil I Nordeste
Cestaria
50 Cestarias Ashaninka I Brasil
Trançado de capim dourado | Bolívia | Peru
do Jalapão I Brasil I Norte
52
Trançado Pitimbu I Brasil
Trançado de Toquilla I Equador
I Nordeste
53
51
Entrecruzar, entrelaçar e entretorcer:
Cestos Baniwa I brasil I Colômbia
os trançados das cestarias indígenas
Cordas
56 57
Macramê “Sprang” I Guatemala, México
e Colômbia
Micro-macramê ou Cavandoli
macramé Quipu / nó I Chile
23
Costuras
60
Costura
64
61 Colchas de retalho de Paraty
Pontos utilizados na costura à mão I Brasil I Sudeste
Crochê
68
Crochê da vovó 70
Crochê Tunisiano ou Crochê Afegão
Quadradinho da vovó ou Granny
Square Crochê Irlandês
69 Crochê rendado
Crochê filé
Rabo de Gato, I-cord ou Tricotin
Crochê com fio conduzido
71
Strikguerrilla e Yarn Bomb
(Intervenções urbanas) Crochê Jacquard I Brasil I Sul
72 73
Estamparia
78 80
Estamparia Cianotipia
Carimbo
Estamparia Artesanal da Aldeia Ofayé
Serigrafia
Anod I Brasil I Centro-oeste
79
81
Xilogravura
Estamparia manual dos indígenas
Estêncil Sateré-Mawé I Brasil I norte
Feltragem
83
Feltragem molhada e seca
25
Fibras Lã de Alpaca
Lã de Lhama
86
88
Fibras celulósicas
Seda
Fibras de celulose
Seda Criolla I méxico
Algodão naturalmente colorido da
Arumã
Paraíba I Brasil I Nordeste
Algodão
89
Lã
Buriti I BRASIL
87 Fibras sintéticas
Fiação manual
92 93
Fiação Desencaroçar, esgadelhar e cardar
Fuso Roca ou roda de fiar
Tecelagem
96 Navete
Urdidura/Urdume Lançadeira ou barquinha
Urdideira
Urdideiras de osso em Qaqachaka 98
Tear
97 Tear de pente-liço
Trama Tear de bastidor
Cala ou calada Tear de pedal
Urdume vazado
Pedalagem
Liços
Pente
99 Iconografia JalQ’a I Bolívia
Tear de cintura
Tear VerticaL 103
Tear Mapuche I Patagônia Iconografia Tarabuco I Bolívia
chilena e argentina
Técnicas: Pata Pallay; Ley Pallay; Watay;
Golon, Iskaman Uyayuc Dupla face
100
Repasso mineiro I Brasil I Sudeste
104
Puxadinho Português Aymara I Chile, Peru e Bolívia
101
Kilim, Kilin, Kelin, Klin 106
Pano da costa I Brasil I Nordeste
Tecelagem Adina
107
102
Trama VHS I Brasil I Sudeste
Tecelagem no Vale Sagrado I Peru
Tear Humano
Rendas 113
Renda Renascença I Brasil I Nordeste
114
111 Renda Irlandesa I Brasil I Nordeste
Tricô
126 128
Tricô Tricô à máquina
Tricô artístico (kunststricken) I Brasil Tricô Tunisiano
I Uruguai I Argentina I Peru Tricô “Carpetas” I Uruguai
127 129
Tricô de cinco agulhas Tricô Irlandês ou tricô de Aran
Tricô colorido Tricô peruano (a palitos) I Peru
Maxi tricô e tricô de braço
• Linhas de Sampa I São Paulo
Coletivos • Linhas do Horizonte
• Mãos de Minas
• Mulheres de fibra Maranhão
Referências
bord
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dado
31
Bordado Livre = O Bordado Livre, como o próprio Bordado à Máquina =
nome sugere, designa uma maneira de bordar dissociada O bordado à máquina é uma
de qualquer formalismo prévio, como observa-se em outros técnica considerada artesanal
tipos de bordados. Os pontos, materiais e suportes variam, por ser realizada em máquinas
podendo gerar peças para decoração ou vestuário. Nesta de costura domésticas, sendo
técnica, alia-se o conhecimento de pontos variados com a a costura conduzida manual-
imaginação da bordadeira, podendo incluir até mesmo téc- mente sobre o tecido com ou
nicas de pintura, como a aquarela, por exemplo. No Brasil, sem o auxílio de bastidor para
popularizou-se através de grupos e coletivos, como o Grupo esticar o tecido sobre o risco
Matizes Dumont e O Clube do Bordado. Os pontos atrás, do desenho que será bordado
haste, corrente, cheio, matiz ou pintura de agulha, nó fran- com linhas de algodão, seda ou
cês, areia, folha, pirulito e margarida são alguns dos mais de outros materiais.
populares em suas composições.
Bordado de Protesto = De acordo com a historiadora da arte britânica, Rozsika Parker 1, o bor-
dado como forma de protesto já acontecia discretamente no ocidente bem antes do século XX. As heroínas
bíblicas que se envolveram em atos de violência eram temas populares em todas as formas de arte por toda
a Europa no século XVII — evidência do envolvimento da época em questões de papéis de gênero e poder.
Enquanto os pintores homens representavam Dalila, Salomé e Jezabel, bem como Ester, Judite e Jael, as
mulheres e meninas bordadeiras, pelas evidências que sobreviveram, parecem ter evitado essas personagens
que destruíram homens, através de atos corajosos que salvaram seus respectivos povos. As obras têxteis sobre
o tema, que resistiram ao tempo, podem indicar uma forma de celebração ao comportamento "masculino"
nas mulheres através do mesmo meio que pretendia inculcar a feminilidade em suas produtoras.
O bordado como signo de protesto propriamente dito pode ser localizado a partir da primeira onda do movi-
mento feminista, no final do século XIX e início do XX, através de trabalhos em bordado que reivindicavam
direitos políticos, produzidos pelas integrantes de movimentos sufragistas. Destacam-se artistas como Janie
Terreno e Hannah Höch. A linguagem do bordado volta às ruas durante os protestos da segunda onda do
movimento feminista nos Estados Unidos, questionando o papel da mulher na sociedade. O movimento de
mulheres pela paz empregou bordados para fins de protesto durante os anos 1970 e início dos anos 1980.
Grandes faixas bordadas e apliques de cores vivas foram carregadas em muitas marchas. A iconografia dos
banners combinava o simbolismo do sufrágio, motivos tradicionais de paz e símbolos feministas.
As artistas setentistas empregavam o bordado como uma herança das próprias mulheres e, portanto, um
meio mais apropriado do que a pintura, muito mais associada a homens, para fazer declarações femi-
1 PARKER, Rozsika. The Subversive Stitch: Embroidery and the Making of the Feminine. London: I. B. Tauris, 2010.
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Bordado feito pela artista Priscila Soares, do @atobordado (São Paulo) como ma-
nifesto e contribuição para a campanha Tem Gente com Fome, que arreda fundos
para ações emergenciais de enfrentamento à fome na pandemia de Covid-19.
dando Águas (MG) e Linhas Marques Penteado, Jucelia da Silva, Karen Dolorez, Leonilson, Le-
do Mar. Em 2020 e 2021, o tícia Parente, Lia Menna Barreto, Nazareth Pacheco, Pola Fernan-
Sesc Pinheiros, em São Pau- dez, Rodrigo Mogiz, Rosana Palazyan, Rosana Paulino, Rosângela
lo, apresentou a exposição Rennó, Sônia Gomes, Zuzu Angel, entre outros.
Foto: Divulgação MAB
Arpillera feita por mulheres organizadas através do Movimento dos Atingidos por
Barragens para retratar e denunciar os desastres causados pelo rompimento de
barragens de rejeitos de mineração, em Mariana (2015) e em Brumadinho (2019).
ARPILLERAS = Técnica de bordado manu- near, etc) para decorar as aplicações. Os motivos
al sobre tela de sacaria de aniagem (de cânhamo são variados, em geral figurativos e muito deta-
ou linho grosso). O bordado, feito manualmen- lhados, aplicados para transmitir histórias, a vida
te, pode ser feito com aplicação de retalhos, ele- cotidiana e/ou os problemas políticos e sociais
mentos têxteis (pequenas bonecas etc), e outros enfrentados. Os bordados podem conter textos.
elementos (pequenos gravetos, etc) ou podem O acabamento do bordado é feito com algodão
ser realizados somente com pontos de bordado cru, podendo conter crochê ou acabamento com
com fios de algodão e/ou lã. Os retalhos são viés colorido. No verso do bordado, podem ser
aplicados com ponto invisível, ou ponto caseado deixados pequenos bilhetes guardados em um
ou espinha de peixe, e podem ser usados outros bolsinho, contando a história da bordadeira e do
pontos como correntinha ou cadeia, pesponto, li- próprio bordado.
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Tem sua origem em um grupo de bordadeiras de e Pará. Delas retiram-se as fibras para confecção
Isla Negra, no litoral central do Chile. A folcloris- das sacas que são destinadas ao armazenamento
ta Violeta Parra ajudou a disseminar esta técnica do café, da batata, do arroz e outros. Conhecido
nos anos de 1960, no entanto usou somente fios como serapilheira.
de lã e agulhas, usando principalmente os pontos
haste e correntinha e não usou retalhos. Poste- No Brasil, o Movimento de Mulheres Atingidas
riormente a técnica foi adotada para denunciar por Barragens (MAB) utilizou esta linguagem têx-
as violências vividas durante a ditadura de Pino- til como forma de sororidade e sobrevivência. Ao
chet nos anos de 1970. Muitas vezes os retalhos retratar suas mazelas e indignações, foram capa-
dos tecidos empregados na confecção eram das zes de estabelecer uma rede mútua de apoio entre
roupas das pessoas desaparecidas, sequestradas mulheres de dezenove estados brasileiros que acre-
ou mortas durante a ditadura chilena. ditam que, coletivamente, ao narrarem suas histó-
rias, são capazes de vislumbrar através da luta, um
Foram usados também como forma de atividade mundo mais justo. Os lindos e delicados desenhos
cooperativa e fonte de renda e com fins terapêu- bordados pelas arpilleras brasileiras contam a re-
ticos, pois as mulheres bordavam o que não podia alidade das comunidades afetadas por esses em-
ser dito, para relatar a sua dor, denunciar as suas preendimentos e já integraram uma exposição no
perdas e elaborar perguntas que seguem sem res- Memorial da América Latina, em São Paulo.
postas. Neste período, a técnica foi disseminada
por meio de oficinas organizadas pela igreja ca- Em Mato Grosso, grupos de artesãs fazem aplica-
tólica através do Vicariato de Solidariedade orga- ções de bordado utilizando sobras de tecidos. Os
nizado para ajudar as vítimas de violações dos di- retalhos são aplicados à mão em alto relevo sobre
reitos humanos, envolvendo familiares de presos uma base de pano, a serapilheira. Esta prática foi
desaparecidos, familiares de executados políticos catalogada e descrita pelo Programa do Artesanato
e ex-presos políticos. No Brasil, trata-se de um Brasileiro como arpilheria, e pelo Manual de Tipo-
tecido composto por fibras de malva ou de juta. logias e Técnicas do Artesanato Paulista como ar-
Ambas as plantas herbáceas, são cultivadas na re- pilharia. Ambas permitem que temas relacionados
gião Norte do Brasil, nos Estados do Amazonas à fauna e flora pantaneira sejam retratados.
35
Bordado Ucraniano I BRASIL I SUL = O bordado ucraniano, feito a mão e predominante-
mente em ponto cruz é uma das tradições que permanecem vivas até os dias de hoje na região Sul do
país. Transmitido de geração a geração, habitualmente são utilizados em paramentos religiosos, ritos
folclóricos (trajes de uso nos dias festivos) e nas roupas de uso diário. De cores exuberantes e com signifi-
cados próprios, trazendo características da identidade de cada região, os bordados variam em tamanho
e formas. Feito em cânhamo fino ou mini etamine e linha de meada, tem como base um gráfico e entre
os seus motivos flores, frutas e formas geométricas.
36
Bordado Madeira I BRASIL I SU-
DESTE = Oriundo da Região Autônoma da
Madeira, a maior das ilhas do arquipélago de
mesmo nome, pertencente a Portugal, o bor-
dado Madeira, assim como o vinho, é uma
marca que identifica a cultura madeirense.
Sua origem remonta à povoação da ilha no
século XV. Aprendido e ensinado de mãe
para filha, destinava-se desde a decoração
37
Foto: Carlos Rudiney/ Parceiro: ABRAPA Campanha @Soudealgodão. Cedido por Instituto do Bordado Filé
Renda ou Bordado Filé I
BRASIL I NORDESTE = Técnica
executada sobre uma rede de fios tra- A artesã Rosiene
da Silva Ramos
mados ou rede de nós, sendo essa uma tecendo o bordado
filé na região da
característica peculiar, pois sempre há lagoa Manguaba
a necessidade de dois processos para área da Indicação de
Procedência do Filé.
sua feitura: primeiro, a confecção da
rede de nós em fio de algodão com
espaçamento definido por um molde
ou muro e segundo, preenchimento
dessa rede com variadas combinações
de pontos. Alguns estudiosos classifi-
cam a técnica como bordado, outros
como renda. A catalogação interna-
cional a define como bordado. Sua
nomenclatura vem do francês “filet”
traduzido como “rede”, pois a rede
é parte intrínseca de sua confecção. Quanto à sua origem, há hipóteses de ser originário do antigo Egito e Pér-
Outra singularidade do filé é não sia. Sua difusão deu-se principalmente nestes últimos séculos em localidades
depender de risco, ou debuxo para como Minho (Portugal), Toscana e Sardenha na Itália e, Bretanha (França).
ser tecido. Albúns e peças antigas de Aportou no Brasil colonial, possivelmente como inclusão na educação das
padrões servem de referência para escolas cristãs católicas que ensinavam mulheres. No Brasil, ganhou influ-
novas peças. O preenchimento pode ência da cultura indígena, percebida através da tecelagem de palha e da
ser feito de memória, com pontos co- construção de instrumentos com fibras vegetais como na pesca.
muns a cada comunidade.
As antigas rendas ou bordado filé, eram tecidas exclusivamente em cor
No processo de construção da rede branca. Com o passar do tempo, foram sendo tingidas com pigmentos na-
utiliza-se linha de algodão fina. A agu- turais advindos de plantas de cada região onde era utilizada. Com a co-
lha, semelhante à agulha de construir mercialização de linhas coloridas, desenvolveu sua maior característica que
redes de pesca, pode ser confecciona- vem a ser o uso variado de cores. Alguns pontos recebem nomenclaturas
da em madeira, sendo menor e mais diferentes dependendo da região onde são produzidos.
fina, ou de metal, comum e grossa. A
dimensão da malha é definida pelo O estado de Alagoas é o maior produtor desta técnica, tendo o bor-
molde, preso em tela (bastidor) que dado filé ganhado a classificação de patrimônio imaterial de Alagoas
pode ser feita de palheta de bambu em 2014. O filé alagoano é passado de geração em geração na região
bem polida. Ao construir a rede, ela do complexo lagunar Mundaú Manguaba. As filezeiras, artesãs desta
é prontamente engomada, sendo em técnica, possuem como instituição para filiação o Instituto do Borda-
seguida, esticada no tear. Esta goma é do Filé - INBORDAL, orgão regulador e emissor de selo de origem,
feita de amido de milho. que faz a salvaguarda do bordado nessa região.
Bordado Seridoense ou Bordado de Caicó ou Bordado de Seridó
I BRASIL I NORDESTE= Este bordado típico da região de Seridó, no Rio Grande do Norte, tem
origens no Bordado Madeira, típico da Ilha da Madeira, e chegou ao país através das primeiras mi-
grações de famílias madeirenses para a região, destinadas a trabalhar nos engenhos de açúcar, durante
o século XVIII. Assim como no Bordado Madeira, o Bordado Seridoense retrata a natureza local,
compartilha uma infinidade de pontos e também respeita um processo específico de execução (riscado,
cobrir, lavagem, engomagem e armazenamento). A versão brasileira se difere no uso e mistura de cores
vibrantes, em comparação com as paletas monocromáticas do bordado madeirense, que, em geral é
branco, branco azulado ou castanho. São comumente bordados sobre o linho, percal ou polialgodão,
resultando em toalhas, caminhos de mesa, enxoval de criança, camisas femininas e jogos de lençol.
39
Bordado Gola de Cabloco I BRASIL I
NORDESTE = Bordado de pedraria aplicado sobre
a gola, uma das peças do adorno corporal usado para
a “arrumação do caboclo” de lança do Maracatu de
Bordado Rechiliê, Richilieu Baque Solto ou Rural, da Zona da Mata Norte Per-
ou Richilieu I BRASIL I NOR- nambucana. A gola tem um formato de semicírculo e
DESTE = Técnica de bordado aberto, pode chegar a 2 metros ou mais de raio e é feita com
que se inicia geralmente com o desenho veludo preto forrado com um pano de algodão. O ris-
de flores, laços e arabescos sobre um pa- co é feito com um molde de papel sobre a metade do
pel manteiga. Posteriormente o desenho semicírculo, com o uso de giz.
é decalcado sobre um tecido, onde seus
contornos são bordados manualmente ou Este desenho é espelhado na outra metade do tecido,
à máquina. Concluída esta primeira etapa garantindo a simetria de padrões e figuras. A gola é
do bordado, os espaçamentos delimitados subdividida em três regiões: o “peitoral”, a “barra” e
pelo contorno do desenho são recortados as “costas” e é arrematada com uma tira de crochê de
manualmente. Com os espaços vazados fios de lã de diferentes cores, e aplicação de uma fran-
feitos, os desenhos recebem acabamento ja. Os motivos usados são variados, com contornos
e finalização, resultando em um trabalho contrastantes com figuras que definem a identidade
preenchido por espaços vazios e contor- individual ou coletiva do grupo, podendo ter caráter
nado por pontos de bordado como ponto mágico ou simplesmente estético. Em geral, os mo-
reto, zigue-zague e caseado. tivos são geométricos mas também figurativos, com
estrelas e flores, adornos, volutas e arabescos, poden-
Tradicionalmente, o richelieu é feito com do incluir desenhos que fazem referência a times de
linhas brancas sobre tecidos claros e leves futebol, super-heróis ou desenhos animados.
que não desfiam como o linho e a cam-
braia. De origem italiana, a técnica foi O bordado é feito com aplicação de lantejoulas de
trazida ao Brasil pelos colonos portugue- tamanhos variados com uso de miçangas e linha de
ses, onde hoje é praticada com ênfase no bordado de pedraria. O bordado pode ser: “aber-
Recôncavo Baiano. No século XIX, o Ri- to”, quando aparece a base do tecido, ou “fechado”,
chelieu começa a se apresentar como ele- quando o tecido é totalmente escondido pelas lante-
mento distintivo da mulher negra do Bra- joulas. As cores do bordado devem ter contrastes bem
sil escravocrata. Hoje, se destaca como definidos, sendo usadas lantejoulas leitosas (brancas)
uma tradição nas vestimentas das religi- apenas para marcar o contorno das figuras. Além da
ões de matrizes africanas. No candomblé gola, os demais elementos que fazem parte da indu-
é elemento simbólico e representativo ex- mentária do caboclo de lança são a fofa, o surrão ou
presso em uma moda singular caracteri- matinada, a guiada e o chapéu. Os bordados podem
zada pelos cuidadosos bordados de suas ser feitos por homens ou mulheres. Até os anos de
saias, batas, turbantes e panos de costa. 1980 as golas eram bordadas com aljôfar, vidrilhos e
canutilhos, que foram substituídos pelas lantejoulas
e miçangas, mais leves e baratas. O mesmo tipo de
bordado é usado para fazer a gola da indumentária
de outra figura do Maracatu Rural que é o caboclo
de pena ou arreiamá. A diferença é que a gola desse
personagem é de menor tamanho.
Bordado do cangaço I BRASIL I NORDESTE = Bordado típico do cangaço,
definindo um estilo colorido e ricamente decorado, próprio do vestuário do bando de Lampião,
marcando uma identidade própria. Era realizado a máquina com ponto corrido, com linhas com
pouca variação de cores (em geral, amarelo, vermelho, verde, azul, rosa e roxo), sobre tecido tipo
lonita, mescla ou brim grosso, azul, cáqui ou verde oliva claro. Era idealizado, realizado e usado
por Lampião e outros componentes do bando, homens e mulheres. Os motivos eram geométri-
cos (tipo faixas gregas), florais ou símbolos místicos para o bando (estrela de Salomão, cruz de
malta, estrela de Davi, flor de lis). Os motivos eram desenhados sobre papel pardo que orientava
o bordado a máquina e cobrindo todo o desenho. O bordado era aplicado sobre vestimentas
do bando, luvas, capas de cantil, capa de binóculo, mochilas e bornais. Atualmente inspira uma
padronagem típica do Nordeste brasileiro, como o bordado em couro de Espedito Seleiro.
41
Bordados das vestimentas da brincadeira do Cavalo-Marinho I BRASIL
I NORDESTE = Bordado manual em pedraria aplicado sobre peças do figurino de personagens da
brincadeira Cavalo Marinho, da Zona da Mata Norte de Pernambuco. Trata-se do bordado aplicado
no peitoral (peiturá), uma espécie de gola ou colete, usada pelo galante e o arlequim. É bordado sobre
tecido cetim ou veludo de diferentes cores, com lantejoulas coloridas e espelhos (e outros materiais
brilhantes), formando desenhos geométricos variados, arabescos ou com motivos florais, tendo como
acabamento franjas de tecido (ou de lã) coloridas. Os bordados, assim como as demais peças do traje
desta brincadeira, são realizadas pelos próprios participantes ou pessoas próximas do grupo.
Bordado ou renda
Labirinto, Crivo ou
Contato I BRASIL I
NORDESTE E SUL =
A técnica está no limiar en-
tre a renda e o bordado. O
ponto de partida é o risco
de um desenho no tecido.
Este é desfiado obedecendo
ao desenho, com auxílio de
agulha, lâmina e tesourinha,
desfazendo a trama original
Foto: Elyenai Fernandes
Bordado Ayacuchano I PERU = Bordado feito com lã que representa a flora da região de Aya-
cucho no Peru. Os fios costumam ser bordados sobre peças de lã feitas no tear. Coloridas e simétricas os
desenhos das peças são feitos à mão ou com moldes de papel e até jornal. O ponto tradicional desse bordado
é o ponto crespo. As cores entram muitas vezes como um degradê de tonalidades dentro de uma peça. As
flores ganham cores fortes. Seu processo de produção começa com a fabricação de tecidos planos em teares
de pedal de alpaca ou fibras de lã de ovelhas e, excepcionalmente em algodão. Esta atividade é realizada
principalmente por homens; no entanto, também podem ser encontradas oficinas onde apenas mulheres
participam. Com o tear concluído, inicia-se o projeto do produto. Os desenhos são inspirados na fauna e flora
locais. Em geral, os pontos utilizados são o haste, preenchimento (cheio), corrente, rococó, atrás, nó Francês.
43
Foto: Mariana Brunini
Artesã da
Cooperativa de
Mulheres Maroti
Shobo, da etnia
Shipibo, do Peru.
Bordado Kené I PERU = Bordado feito com padrões geométricos e labirínticos, mas também
figurativos, sem repetição, que expressam a cosmovisão e canções nos rituais com ayahuasca do povo
Shipibo, do Peru. Cada família tem um estilo diferente de kene, que passa de mulher para mulher. Atu-
almente são incluídas figuras de animais e plantas em meio aos grafismos, de acordo com a demanda do
turismo. Os bordados são aplicados nas vestimentas femininas e masculinas (saias e vestidos) e outros te-
cidos. Os tecidos podem ser de algodão totalmente manufaturados pelas indígenas ou industrializados.
Quando manufaturados podem ser tingidos com plantas ou terra e argila, em geral, de cor marrom, ou
podem ter a cor cru. O bordado é uma combinação de pontos atrás, sombra, espinha de peixe, corren-
tinha. Os fios podem ser de algodão ou lã muito fina, em geral com cores incandescentes, contrastando
com escalas de cores neutras. Este bordado foi considerado Patrimônio Cultural da Nação, no Peru.
Os desenhos kené também são aplicados no rosto, no corpo, em cerâmicas, nas coroas dos xamãs, nos
remos e outras peças de madeira. Kené quer dizer desenho, na língua shipibo-konibo.
Bordado MIÇANGAS E PEDRARIAS I Haiti = Com suas raízes africanas a arte das ban-
deiras bordadas com pedrarias e paetês representam a religião Vudu da costa ocidental da África que
chegou com os negros escravizados no Haiti. Os voduns são o centro da vida religiosa, de modo se-
melhante à intercessão aos santos e anjos na Igreja Católica, o que fez o vodum parecer incompatível
com o cristianismo e produziu religiões sincréticas como o vodu haitiano. A técnica é feita em tecidos
de algodão esticados sobre estruturas de madeira, similares a um bastidor quadrado ou retangular, que
posteriormente recebem desenhos contornados com cordões de miçangas e preenchidos com paetês de
diversas cores. Para o Vudu, o brilho dos paetês tem também significado espiritual.
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BORDADO ZULETA I Equador = O bordado equatoriano feito com fios de lã é conhecido pela
confecção de peças das mais variadas. As mulheres da comunidade bordam usando pontos de preenchi-
mento e outros como o ponto corrente. O bordado Zuleta já era feito há muito tempo na comunidade ao
norte do país, mas só passou a ser comercializado há aproximadamente 80 anos. O empreendedorismo das
mulheres foi apoiado pelo presidente do país Galo Plaza Lasso e sua esposa, Rosario Plaza que abriram es-
colas para que essas mulheres começassem a criar produtos como camisas masculinas, femininas, toalhas de
mesa, guardanapos de pano, tapetes, etc. As peças representam a natureza da região e formas geométricas.
Cada artista cria seu próprio desenho e o bordado é feito sobre tecido de algodão ou linho.
Bordado Polleras I Panamá = Os bordados que decoram as saias Panamenhas são varia-
dos na forma de fazer e nas cores. As saias são peças tradicionais do país usadas como traje típico das
festas folclóricas e têm origem espanhola. Os colonizadores trouxeram as saias de Sevilha que foram
adaptadas pelos panamenhos. Feitas de tecido branco, a saia é leve e é costurada em camadas. Tiras
de tecido são costuradas dando volume e leveza para as dançarinas. As flores que adornam cada peça
podem ser feitas de várias técnicas, às vezes são feitas de tecidos coloridos que são recortados e aplica-
dos na peça e depois são bordados com pontos do bordado livre. O tempo de confecção de uma saia
varia de dois a seis meses. Outra técnica utilizada, porém mais trabalhosa, são os preenchimentos
das flores em ponto crivo com cores diferentes. O bordado em ponto crivo chama atenção por sua
complexidade e pela mistura de padronagens que são criadas pelas bordadeiras.
BORDADO EM RELEVO COM FIOS fios metalizados, principalmente nas cores dou-
METALIZADOS E PEDRARIA I Bolí- rada e prateada foram adotados pelos bolivianos
via = Bordado usado nos trajes usados na festa para decorar os trajes típicos das principais festas
nacional conhecida como "La Morenada". Fes- nacionais. Os desenhos são feitos em papel car-
ta reconhecida, desde 2011, como Patrimônio tão, recortados e depois de pregados (com fio de
Cultural Imaterial do Estado Plurinacional da algodão num alinhavado) no tecido são cobertos
Bolívia. Com influência dos europeus que trou- com fios metalizados ( atualmente de poliéster)
xeram seus conhecimentos de bordado para a de diferentes espessuras e relevos. Por fim, os
cultura andina, os trajes folclóricos bolivianos são bordados recebem pedrarias e paetês. A roupa
confeccionados usando a técnica do GoldWork. depois de bordada é engomada com farinha. Isso
Criada na europa, esse bordado era feito com fios faz com que as peças do traje fiquem resistentes,
de ouro e prata para decorar as roupas da reale- os fios não se rompam ou amassem. Os fios de lã
za. Quando os espanhóis chegaram na América são usados muitas vezes como preenchimento de
Latina ensinaram a arte para os povos locais. Os áreas, para trazer altura ou volume no desenho.
cest
48
taria
49
Nesta foto o capim
dourado recém
colhido e na imagem
ao lado, transformado
em objeto artístico.
50
Cestos Baniwa I brasil I COLÔMBIA = Os Baniwa são um grupo indígena que ha-
bita regiões na Colômbia, na Venezuela e no noroeste do estado brasileiro do Amazonas e produz,
entre outros artefatos, cestos com fibras naturais de diversos tipos. Dentre estes destacamos: Balaio
waláya, cesta tigeliforme, considerada pelos artesãos Baniwa a mais trabalhosa, especialmente pelo
acabamento que requer o beiral. Há vários tipos de acabamento: em arumã natural ou apenas
raspado, sem tingimento; ou com grafismos coloridos, marchetados em uma ou nas duas faces. Os
Baniwa usam os waláya makapóko = balaios grandes, para recolher a massa de mandioca (antes e
depois de espremer no tipiti) e para servir beiju e farinha nas refeições. Urutu oolóda: tipo de cesta
em formatos grandes, sem desenhos marchetados, para reservar massa de mandioca (antes e depois
de espremer no tipiti) e também para guardar farinha, beiju e roupa.
51
Foto: Callum Wale / Unsplash
Sombrero de Jipijapa,
também conhecido
como chapéu Panamã
São identificadas diversos padrões na manufatura das cestarias indígenas, que variam de acor-
do com os diferentes povos e técnicas de trançados, onde se entretrançam dois ou mais ele-
mentos (fibras). Apresentamos algumas variações dessas técnicas, a título de exemplo:
53
cor
54
rdas
55
Macramê = Derivado do Punto a
groppo, espécie de renda feita sem bo-
binas - precursora da renda de bilro - o
macramê também pode ser classifica-
do como renda. Sua técnica consiste
na formação de um tecido através de
nós. Fez muito sucesso nas décadas de
1960 e 1970, e retornou ao gosto po-
pular recentemente com a nova onda
do faça você mesmo (DIY).
Micro-macramê
ou Cavandoli ma-
cramé = Variedade do
macramê usada para formar
padrões geométricos e de
Foto: Susan Wilkinson / Unsplash
56
Desenho
demonstrativo
da urdidura
do Sprang
"Sprang" I Guatemala,
México e Colômbia = A
técnica sprang é um um método
antigo de construção de tecidos
com elasticidade natural, anterior
ao tricô. Muito parecido com a
rede, é construído usando apenas
Fotos: Wikimedia Commons/ Domínio Público
Um quipu Inca,
do Museu Larco
de Lima
https://en.wikipedia.org/wiki/File:Inca_Quipu.jpg
Foto: Claus Ableiter em Wikimedia Commons
costu
58
uraS
59
Foto: Wallace Chuck / Pexels
Podemos separar a costura em “plana” e “artística”. A primeira feita por razões funcionais: fazer ou
remendar roupas ou peças domésticas, já a segunda, envolve primariamente a decoração, incluin-
do técnicas como: shirring, smocking, bordado ou quilting. A costura também é a base para muitas
outras artes e ofícios, como aplique, trabalhos em lona, e patchwork.
60
Pontos utilizados na costura à mão
Ponto alinhavo: o mais usado para unir os te- Ponto invisível: Feito com uma costura bem bai-
cidos em costura temporária. Consiste em fazer xa. Usa-se para unir duas bordas dobradas de teci-
uma linha tracejada com espaçamentos iguais. do ou uma borda dobrada e uma bainha. E ainda
para dar pontos finais em peças de artesanato.
Ponto corrido: É como o alinhavo, mas com um
espaçamento bem menor das linhas tracejadas. Ponto luva: Tem como base o ponto chulea-
do, podendo ser costurado com os pontos mais
Ponto atrás: muito usado para refazer costu- juntos e presos de três em três, criando aspecto
ras desfeitas. com relevo e volume ou costurado com pontos
mais separados.
Ponto caseado: usado para segurar as extremi-
dades dos tecidos que têm tendência a desfiar. Os Ponto Picado: Ponto corrido que apresenta
pontos são feitos na diagonal, de modo a pegar intervalos na parte da frente, porém no verso a
três ou quatro fios do tecido que pretendemos linha se apresenta de forma corrida.Utilizado
proteger. O espaçamento é curto e uniforme. para acabamento de bainha.
61
Projeto social Conexão Musas
desenvolve habilidades manuais,
como recurso terapêutico e de
geração de renda. Os fuxicos são
aplicados em peças de roupa,
bolsas e outros acessórios.
62
Patchwork = É a técnica que une retalhos de tecidos costurados à mão ou à
máquina, formando desenhos geométricos. Os trabalhos com patchwork sempre en-
volvem uma sobreposição de três camadas com retalhos unidos por costura e manta
acrílica criando um efeito acolchoado (matelassê). Para o arremate dos trabalhos de
patchwork, utilizam-se pespontos largos, mais conhecidos como quilt.
63
Foto: Divulgação/ Sesc Paraty
Colchas de retalho
de Paraty / Arquivo
Sesc Paraty
Colchas de retalho de
Paraty I BRASIL I SUDES-
TE = Chamadas também de colchas
Costura com couro de
de emendas, as colchas de retalho de
peixe I brasil I CENTRO-O-
Paraty ficaram famosas nas décadas
ESTE = O couro de peixes nativos do
de 1970 e 1980, quando eram feitas e
Pantanal, no Mato Grosso do Sul como
vendidas por mulheres caiçaras para
o pacu e a piranha, tirado do alimento
o sustento da casa e dos filhos. As
que as famílias das artesãs da Associa-
colchas ganharam projeção nacional
ção de Mulheres Amor-peixe conso-
atreladas ao nome de José Murilo,
mem, são utilizados para a produção
cujo um dos trabalhos faz parte da
de bolsas, cintos, carteiras, roupas,
exposição permanente do Memorial
agendas, pulseiras que valorizam a ico-
Da América Latina, em São Paulo.
nografia e tradição do Pantanal.
64
Boneco feito pela Justa Trama, empreendimento
organizado de economia solidária, composto por
uma cadeia produtiva que se inicia com o plantio
do algodão agroecológico e vai até a comercializa-
ção de produtos feitos com este insumo.
66
chê
67
De origem Arábe, o crochê Crochê da vovó = Diferente do crochê con-
(gancho em francês) popula- temporâneo que traz nas agulhas maiores e fios mais
rizou-se na França do século espessos o tempo célere da sociedade atual, o crochê
XVII como um ponto usado da vovó ou o crochê tradicional é feito com fios finos
para unir peças de renda. Nesta de algodão, usando assim agulhas menores. Peças com
técnica, usa-se uma agulha com temas simples ou complexos, mas elaborados com mais
gancho na ponta para puxar e tempo, que demonstram apreço aos itens domésticos
entrelaçar o fio, que pode ser como toalhas de mesa, bicos de pano de prato, bicos
natural, sintético ou mistura- em toalhas de banho, capas para almofadas, sofás e
dos. Seus pontos básicos são: mantas. Também são conhecidos os jogos de banheiro
correntinha, ponto baixíssimo, e de cozinha, além dos adereços infantis, como casaqui-
ponto baixo e ponto alto. nhos, toucas e meias.
Hoje os quadradinhos
também são marca
registrada de projetos
sociais que reúnem
pessoas para a
confecção de peças
que são doadas
Foto: Projeto Laços Unidos
no inverno, como é o
caso do projeto Laços
Unidos, em São Paulo
68
Crochê filé = O crochê filé é feito essen-
cialmente com correntinhas e pontos altos, al-
ternando entre espaços preenchidos e vazados
para criação de desenhos. A confecção consiste
em formar uma rede de correntinhas e pontos
altos em grupos, sendo esses grupos que for-
mam os motivos sobre a rede, dando forma e
criando imagens. Os gráficos podem ser espe-
cíficos para o crochê filé, mas gráficos quadri-
culados, como os de ponto cruz, por exemplo,
69
crochê tunisiano ou crochê afegão = é um tipo de crochê que usa uma agulha alon-
gada e, por alguns, é considerado uma mistura de crochê e tricô, com pontos mais fechados, formando
uma peça com pontos mais grossos, forando um tipo de relevo na peça. Na técnica as carreiras são com-
postas de duas partes: carreira de ida, e linha de volta. As voltas devem ser feitas com toda a carreira na
agulha. Quando se termina a primeira carreira, ao invés de virar o trabalho, deve-se iniciar a carreira de
volta. A carreira de ida é feita da direita para a esquerda, e a de volta, da esquerda para a direita.
71
Crochê Peruano = O cro- Bombeta de crochê I sudeste = O boné
chê peruano também conhecido de crochê foi criado pelas mãos de presidiários no final
como broomstick (renda de cabo dos anos 1990 - período de expansão das atividades de
de vassoura) ou crochê de olho de reeducação por meio do ensino artesanal nos presídios
pavão é feito com o uso de agulhas - eram feitas na reclusão e enviadas pelos detentos para
de crochê comum e um cilindro - serem vendidas por parentes fora das cadeias. Atual-
como o cabo de vassouras. mente estão presentes nos bailes funks nas periferias de
São Paulo, reproduzem em seus gráficos marcas de grife
e são feitos majoritariamente por homens.
Capitais do crochê I Brasil = Por ser uma das técnicas têxteis mais difun-
didas no território nacional, muitas cidades pelo país são conhecidas como capitais do
crochê. Entre elas estão Inconfidentes - no Sul de Minas Gerais - conhecida como capital
nacional do crochê, Barbosa Ferraz, capital do crochê no Paraná, Nova Russas, capital do
crochê no Ceará e Macaparana, capital estadual de Pernambuco.
72
Crochê de grampo
com entrelace do meio
em ponto baixo.
Grade em alumínio:
Abhadia Marya
73
As tiras produzidas podem ser de diversas largu- As formas que as peças tomam dependem da
ras, tamanhos e texturas e, o entrelace do meio criatividade de quem as produz, pois por serem
também pode ser alterado, gerando distintos tiras, podem ser transformadas em peças de dis-
modelos de desenhos. O ponto mais comum ou tintos tamanhos e formatos: retilíneas, redondas,
“ponto base” é o ponto baixo de crochê, porém circulares, quadradas, triangulares, ovalares, on-
até os mais diversos entrelaces utilizam os pontos duladas, entrecruzadas e, tantas outras de acor-
de crochê para criar inúmeros relevos, podendo do com as condições de hábitos e costumes do
ser lineares ou ziguezagueados, com maiores lugar onde são produzidas e, de acordo com os
ou menores tramados, variando de acordo com materiais que utilizam.
o que se quer de resultados e da espessura da
agulha e do grossor do fio, ficando a critério de Quanto à técnica não há uma publicação precisa
quem produz e, também do que se quer criar, de surgimento, nem quanto à data e nem à loca-
podendo inserir miçangas, contas, lantejoulas, lidade, pois em diversos países são encontradas
vitrilhos, ou outros adereços. peças feitas com essa técnica, variando apenas os
materiais e os usos. Pelo mundo há poucos livros
Ao estarem prontas elas podem ser unidas com com essa técnica, sendo da Rússia, Japão, Itália
crochê, tricô, frivolité, costura manual, ponto e Estados Unidos. Em geral o que se tem são al-
de rede ou qualquer outro tipo de entrelace, guns capítulos em algum livro de têxtil ou pági-
que consiga produzir algum tramado ou emen- nas dentro de algumas revistas de artesanato.
da entre as tiras, ou que faça a junção das ti-
ras com algum suporte que se queira adicionar Há um capitulo no livro “Trabalhos de Agu-
para concluir o trabalho (tecido, lona, couro, lha”, com segunda edição datada de 1896 (não
juta, ...etc, ou outras superfícies que agreguem conseguimos saber a data da primeira edição)
à peça o resultado esperado). que trata da técnica. Em 1884, Thérése de Dill-
mont publicou um livro com pontos de rendas,
Os fios podem ser todo e qualquer tipo de fio dentre as quais está essa técnica. No Brasil não
maleável tais como: fios vegetais: algodão fiado há livros publicados especificamente sobre essa
à mão ou mercerizado, cânhamo, sisal, chaguar, técnica, apenas revistas ou parte de alguma re-
tucum, juta, bananeira, bacuri, palha de milho vista de artesanato, ficando na mesma condição
e outras fibras naturais; fios sintéticos: nylon, po- que em outras localidades pelo mundo.
lipropileno, polietileno, lãs sintéticas, fitas vhs,
elastano ; fios animais: lã, crina de cavalo, lla- A primeira revista brasileira foi publicada no iní-
ma, alpaca, vicunha, pelo de cachorro e gatos, cio dos anos 40 e, somente no ano de 2005 houve
seda; fios de metal: prata, cobre, ouro, latão, zin- a publicação de outra revista com todas as peças
co, flandres. Existem peças feitas com enorme em crochê de grampo pela editora On Line e,
diversidade de fios sendo todos de uma mesma mais algumas outras da editora Escala, e mini re-
característica ou mesclando e entreando fios de vistas nos anos seguintes. Posteriormente o que
diferentes origens e texturas. se tem são algumas peças que foram esporadi-
74
camente publicadas em revistas de
artesanato ou trabalhos manuais.
Foto: Fred Pacheco (Estúdio Javali/São Paulo) - Moledo: Danilo Marques - Produção:Eduardo Brito Arquivo pessoal Abhadia Marya
encontrados no Japão e na Rús-
sia com datas que variam entre
os anos de 1320 a 1400, com pe-
ças feitas para adornar roupas de
bebê ou vestes intimas de mulhe-
res ou adornos para cabelos ou
roupas de festa.
75
ESTAMP
76
MPARIA
77
ESTAMPARIA = Uma estampa é capaz de diferenciar não só um tecido, mas também uma
cultura ou um período. Na estamparia criam-se manchas ou figuras que decoram e atribuem ca-
racterísticas específicas, seja pela adição ou remoção da cor. Essa decoração pode ser feita de forma
contínua por todo o tecido ou em áreas específicas. Se caracteriza por um conjunto de processos de
impressão, utilizados de forma individual ou associada, responsável pela transferência e reprodução
de desenhos, imagens, formas e texturas sobre a superfície do substrato têxtil através da aplicação
de corantes, pigmentos, tintas e produtos químicos corrosivos (à cor e a fibras) e isolantes.
Carimbo = Carimbos
podem ser feitos de diver-
sos materiais, inclusive com
elementos da natureza ou
objetos do cotidiano. Para
criar as áreas de alto-relevo,
onde a tinta é aplicada, a
base pode ser entalhada ou
cola-se algum material a ela.
O carimbo então é pressio-
nado, aplicando a tinta so-
bre o tecido e formando a
Foto: Arquivo pessoal Mayara Sabino
Serigrafia = Na serigrafia, uma tela é feita de tecido de poliéster ou poliamida fixado sobre
uma moldura de madeira ou alumínio. As áreas que não se deseja imprimir podem ser vedadas na
tela por estêncil ou emulsão fotossensível. A tinta é aplicada com um rodo ou puxador passando pelas
áreas não vedadas e se depositando sobre o tecido. Esta técnica é amplamente utilizada em diversos
setores produtivos no Brasil, por sua qualidade e capacidade de reprodução de imagem. Não é à toa
que diversos grupos de artesãos do Brasil a utilizam para diferenciar seus produtos. Em Santa Luzia
do Itanhy, Sergipe, a Casa do Cacete cria um design contemporâneo e exclusivo que expressa suas
raízes do mangue através de estampas em camisetas e acessórios.
78
Camiseta com estampa digital da
xilogravura de Beatriz Lira e arte
gráfica de Denis Araujo, integrantes
do grupo @xiloceasa
Grafismos
dos indigenas
Sateré Mawé
pintado sobre
tecido.
A pintura à mão é feita diretamente no tecido utilizando várias ferramentas, como pin-
céis e esponjas. Transmitindo a ideia de impressão "feita à mão" a uma peça de tecido, o
processo é considerado lento para a produção de tecidos longos.
81
feltragem
82
Foto: Daniel Caron
Técnica que pode ser feita com
agulhas ou água e sabão tendo
como base a lã de ovelha pen-
teada. Cada método resulta em
uma textura específica e é apli-
cado dependendo dos atributos
que se procura, como resistência
ou fluidez. Na técnica molhada,
onde se emprega água e sabão
(wet felted), as fibras naturais são
friccionadas e lubrificadas pela
humidade e calor e, com isso, se
condensam, formando um sólido
tecido. Podem ser feitos tapetes, Trabalho feito
com as técnicas
calçados, vestimentas e acessó- de feltragem
seca e molhada.
rios decorativos.
83
fibr
84
ras
85
Fibras celulósicas = Com origem nas plantas, após
passarem por processos químicos são transformadas em fibras Fibras de
utilizáveis. As mais conhecidas são Rayon e Tencel, mas há celulose = Fibras
também fibras celulósicas do milho, do bambu e da soja. de origem vegetal que
constituem as plantas.
A mais comum é o al-
godão, mas há outros
como o linho e o cânha-
Algodão naturalmente colorido da
mo. Presentes em toda a
Paraíba I BRASIL I NORDESTE = Cultivado
América Latina, são fi-
há cerca de 20 anos no Semiárido da Paraíba, o algodão
bras elásticas, com gran-
naturalmente colorido é uma alternativa de renda para
de capacidade de trans-
os agricultores, além de contribuir para a preservação
piração e não absorção
ambiental. Com tonalidades que variam do verde aos
de umidade, excelentes
marrons claro e avermelhado, é plantado por pequenos
para climas quentes.
produtores em sistema de agricultura familiar.
86
Foto: Seyi Ariyo / Unsplash
Lã de ovelha = Merino, cor-
riedale, ideal e crioula são raças de
ovelhas (atualmente criadas em di-
versos países da América Latina) que
dão nome às lãs por elas produzidas.
De cor predominantemente branca,
também existem lãs desses ovinos
naturalmente coloridas, variando
do marrom ao cinza. Todas essas lãs
servem para a produção de fios finos
ou grossos, feltragem, tricô gigante e
outros usos, e o que as diferencia é a
Lã de espessura das fibras, o que se traduz
ovelha
tramada em maior ou menor suavidade.
Lã de Alpaca = A lã de alpaca é uma fibra de origem animal (coletada da alpaca, mamífero sul
-americano) reconhecida por ser suave, durável e de luxo. Mais quente que a lã de ovelhas, é uma fibra
não espinhosa e sem lanolina, o que a torna um material hipoalergênico, além de ser naturalmente
repelente de água e difícil de inflamar. Comum no Peru, Chile e na Bolívia (região dos Andes), existem
mais de 22 cores naturais dessa lã, com tons entre o branco, o preto, o cinza e o marrom.
88
Artesã da cooperativa mara-
nhense ARTECOOP, croche-
tando com o buriti. Trabalho
desenvolvido em parceria
com o MÃOS, projeto de
pesquisa e cocriação que tem
como missão fortalecer mu-
lheres artesãs brasileiras.
Plástico Precioso = O descarte de plástico tem sido um grande problema para a sociedade
atual. Assim, indivíduos, comunidades e empresas têm buscado formas de reutilizar esse material na
criação de novos produtos. Uma das iniciativas pioneiras nesse segmento é o Plastic Precious (Plástico
precioso), que foi criado em 2013 por David Hakkens na Holanda. O principal objetivo do projeto era
viabilizar a construção de máquinas de trituração e fundição de plástico que possibilitariam a produção
de chapas, estas podendo ser utilizadas na criação inúmeros produtos, como móveis, skates e acessórios.
Com o tempo a iniciativa se ampliou e hoje abarca outras técnicas. Por meio de um repositório presente
no website oficial é possível encontrar projetos do mundo todo, entre eles muitos relacionados à produ-
ção têxtil. Tutoriais mostram que a partir de uma sacola plástica que seria descartada é possível produ-
zir matéria prima a ser utilizada nas mais variadas técnicas, como tecelagem, crochê, tricô, entre outros.
89
fiaÇÃo
90
manual
91
Hilandera de algodón,
obra em aquarela do ar-
tista colombiano Manuel
Maria Paz (1820 - 1902).
Retrata uma cena na
província de Túquerres
(atual região de Nariño),
sudoeste da Colômbia.
Biblioteca digital/
Biblioteca Nacional
da Colômbia
Foto: Biblioteca Nacional de Colombia
FIAÇÃO MANUAL =
Transformar a fibra, ve- Fuso = O fuso é o instrumento mais antigo para fiar
getal ou animal, em fio, fibras têxteis que existe e pode apresentar pequenas va-
alongando e retorcendo riações a depender da região onde ele se encontra. Usu-
as fibras. É a torção que almente ele é composto de duas partes: um longo pedaço
confere resistência ao fio, de madeira, lixado nas extremidades e o tortera, peça
e para esta ação utiliza-se circular com um orifício no centro que se encaixa no
o fuso ou a roca manual extremidade inferior da madeira, isso dá o peso ao fuso
ou elétrica. permitindo-lhe gire como um pião ao girar a lã.
92
O cardar manual
94
agem
95
Tecelagem = Criação de
uma trama de fios horizontais
a partir do entrelaçamento com
os fios verticais da urdidura.
Urdidura/Urdume =
É o conjunto de fios que ficam
presos e tensionados, vertical-
mente, no tear. Ele é quem de-
termina o tamanho, a base e a
estrutura do tecido.
Urdideira = Instrumen-
to para medir, separar e cortar
os fios do urdume do tamanho
desejado para o trabalho a ser
feito. O modelo mais simples
Foto: Karolina Grabowska / Pexels
96
Trama: É o conjunto de fios horizontais que formam o Liços = Nos teares
tecido ao se entrelaçarem com os fios, verticais, da urdidura. tradicionais são peque-
nas amarrações em fios
alternados da urdidu-
ra, que permitem subir
Cala ou calada = Espaço entre os fios da urdidura ou descer esses fios. No
através dos quais se forma a trama tear de pente-liço, essa
função é cumprida pe-
los buracos que alter-
Urdume vazado = Técnica que consiste em deixar espa- nam com as fendas.
ços no urdume, deixando as passadas da trama soltas e aparentes.
Artesã tecendo
com apoio da
lançadeira
Lançadeira ou
barquinha = Peça
de madeira, com formato
de um pequeno barco,
onde é inserido um car-
retel de linha. Os cantos
arredondados facilitam o
deslizar na cala (por onde
passa o fio da trama), no
Foto: Kelly Lacy / Pexels
Tear de pente-liço =
Considerado um tear de
aprendizagem, tem esse nome
porque agrega duas funções
na mesma peça − liço e pente
− de fácil manuseio e monta-
gem do urdume.
Tear de bastidor =
Construído a partir de uma
moldura, com pregos à volta, Tear de pedal = Modelo tradicional europeu, apre-
pode apresentar vários forma- senta dois ou quatro quadros de liços, de fio de algodão
tos: quadrado, retangular, re- ou de metal, acionados cada um por um pedal. Quanto
dondo, triangular. mais quadros e respectivos pedais, mais complexos podem
ser os desenhos e padronagens criados. Foi introduzido na
América Latina pelos colonizadores.
Tear de cintura = É
feito com dois rolos de ma-
deira: um amarrado em uma
base fixa, como uma árvore,
e o outro no corpo da tecelã,
por uma faixa em sua cintu-
ra, que realiza a tensão dos
fios. Encontra-se em povos
indígenas amazônicos, nos
Andes e América central. Foto: Pexels
Tear VerticaL = O tear vertical é o menos conhecido dos teares, embora seu uso sobreviva em
muitas regiões da América do Norte e nas terras baixas da América do Sul. Esse tipo de tear é mais
apropriado para produção de peças longas, largas e pesadas, principalmente tapeçaria com técnicas de
atar em esteiras e tapetes. Os teares verticais são característicos da região andina. No período pré-colo-
nial o tear vertical provavelmente foi usado para produzir tecidos longos e largos para embrulhar fardos
e toldos incas. As peças produzidas no tear vertical vêm ocupando cada vez mais a função artística, em
lugar da decorativa ou utilitária, no cenário contemporâneo. Combinados com a variação de cores e
texturas, o resultado tanto pode ser figurativo como geométrico, dando margem à criatividade da tecelã
ou tecelão. O artista têxtil uruguaio Ernesto Aroztegui desenvolveu um curso nos anos 80, ministrado
no Brasil, unindo técnicas e metodologia própria, que inspirou vários artistas.
99
Repasso mineiro I BRASIL I SUDESTE = Os repassos são códigos escritos que ser-
vem para indicar tanto a ordem da passagem dos fios do urdume nos quadros de liços quanto a
pedalagem. Realizada no tear de pedal de 4 quadros, a técnica é tradicional em Minas Gerais,
no Brasil, onde são produzidos tecidos com padronagens específicas que criam um desenho
único, por isso cada repasso ganha um nome que remete ao cotidiano das tecelãs.
Brocado I México = Esta técnica consiste em formar desenhos utilizando uma trama su-
plementar, que passa entre os fios do urdume com uma ordem pré-estabelecida, ao mesmo tempo
que se tece a trama básica. Utilizada em várias culturas no mundo, o brocado pode ser confundido
com um bordado. Tanto os desenhos como a forma de distribuí-los apresentam um forte sentido
de identidade, que em cada cultura tem seus significados específicos.
100
Cruz Andina em
Kilin. Peru
Os tingimentos também guardam uma sabedoria ancestral, com uma gama viva e variada de cores.
Tradicionalmente, as meninas começam a aprender o básico da tecelagem aos cinco anos, observan-
do suas parentes a fiar e tecer. Os primeiros tecidos que uma jovem aprende são uma faixa estreita,
as Jakimas (pequenos laços) de forma a adquirir os conhecimentos básicos do tear de cintura, que
necessitará para tecer desenhos e técnicas mais complicadas no futuro. Cada desenho faz parte da
identidade de uma região e seus significados nos remetem as forças da natureza.
102
Iconografia Tarabuco I Bolívia = Nesta cultura, a tecelagem têxtil foi, e ainda
é, um trabalho feito igualmente por homens e mulheres, utilizando um tear vertical. Diferentes
comunidades ao redor da cidade de Tarabuco aparecem hoje como uma cultura homogênea.
Eles falam a mesma língua, Quechua, celebram festivais e ritos comuns, como o conhecido ritual
phujllay, e acima de tudo usam roupas características, o que lhes permite ser reconhecidos como
"Tarabuqueños". Apesar dessa unidade, os tarabuqueños não possuem formas coletivas de orga-
nização que podem indicar uma única origem para todos eles. Mesmo assim, a unidade de suas
roupas e música atesta o dinamismo dos povos andinos, capazes de criar novas identidades. As
características iconográficas dos têxteis Tarabuco são a ordem e a simetria.
As figuras abstratas e desenhos complementares que aparecem são derivados dos estilos que
decoravam os artefatos de seus antepassados. Figuras icônicas são mais presentes no design con-
temporâneo. É possível encontrar representações do que cerca o ambiente dos tecelões indígenas:
cavalos, lhamas, pássaros, cenas diárias, pessoas locais, que compõem o tema. As tecelagens pela
miniatura são executadas com muito cuidado e delicadeza.
104
Ahuayo = Ahuayo (aguayo), tam-
bém conhecido como quepina ou manta
andina, é uma peça de tecelagem usada
para diversos fins, como por exemplo,
transporte de bebês ou mercadorias,
servir alimentos, expor mercadorias,
etc. Elas são utilizadas pelos povos pré-
colombianos e comunidades Aymaras e
Quéchuas. O aguayo resgata uma anti-
ga tradição, pois é uma peça totalmente
artesanal, desde o corte e fiação da lã de
ovelha, passando pelo trabalho exclusi-
vo das mulheres no tear manual. O co-
Mutirão e traição I BRASIL I Goi- as mulheres chegam cedo trazendo seus ins-
ás e Minas Gerais = Práticas de ajuda trumentos, como a roda de fiar, cardas e arco.
mútua que visam a execução de uma tarefa de Podem estar presentes crianças, contudo os
forma comunitária. No mutirão existe um anfi- homens não participam. O clima geral é fes-
trião que convida a comunidade a realizar uma tivo e lúdico. As mulheres cantam, comem,
determinada tarefa, a qual sozinho, por questões contam histórias e competem para ver quem
financeiras ou de disponibilidade de tempo, não fia mais novelos. Ao final do dia entregam à
seria passível de ser cumprida. Como agradeci- anfitriã o resultado do trabalho comunitário
mento o anfitrião sede sua casa e serve aos pre- e voltam para suas casas. Em certas ocasiões,
sentes fartas refeições durante o evento. A dife- elas retornam à noite com suas famílias para
rença entre mutirão e traição é que neste último festas conhecidas como pagodes.
o anfitrião não sabe que a ação ocorrerá.
Os mutirões e as traições são eventos cada vez
No contexto da tecelagem artesanal tradicio- mais raros. Contudo, algumas iniciativas indi-
nal é comum o mutirão de fiandeiras. Quando viduais e institucionais fomentam a realização
uma família acumula muito algodão colhido e desses eventos em meio urbano como forma
não há meios o bastante para fiá-lo, é combi- de socialização e manutenção dos saberes têx-
nado um mutirão. No dia marcado para ação teis tradicionais.
105
Eugênia Anna Santos, conhecida
como Mãe Aninha fundadora
do terreiro de candomblé Ilê
Axé Opô Afonjá em Salvador
e no Rio de Janeiro trajando
o pano da costa.
106
Trama VHS I Brasil I SUDESTE = Trama tecida
com reaproveitamento da obsoleta tecnologia de gravação
de vídeo, em formato analógico; usada por artistas, artesãos
e profissionais da moda e do design. Criados a partir da te-
celagem manual, crochê, tricô ou das tramas experimentais,
são produzidos a partir do reuso, podendo ou não o traba-
lho ser inteiro desse material ou junto de outras matérias
primas, a depender do profissional que a executa. Alexan-
dre Heberte, artista, João Pimenta, estilista, João Antônio
Pereira, artesão, e Ricardo Celestino, artista plástico, são
alguns que já fizeram uso desse material para criar peças as
mais diversas.
Vivência do
tear humano no
Sesc Paraty
TEAR HUMANO = Mãos que sobem e descem Cearense de Juazeiro do Norte hoje radicado em
segurando fios, fazendo a urdidura de um tear gi- São Paulo, o criador do tear humano, Alexandre
gante. Numa carreira todos levantam a mão es- Heberte inspirou-se em suas raízes para inventar
querda; na seguinte, a direita. Entre uma e outra, as próprias técnicas de tecer, bordar e ensinar, tor-
alguém passa o fio da trama e vai surgindo o tecido, nando-se um artista-tecelão reconhecido pela mo-
irreverente como um parangolé de Hélio Oiticica. dernidade de suas tramas experimentais.
E todos entenderam o princípio da tecelagem.
107
ren
108
das
109
Fotos: Natália Seeger
Renda de bilro
em processo pelas
mãos de rendeira
de Florianópolis
Renda de bilro I Nordeste e Sul = Técnica de renda tecida sobre uma almofada na
qual são presos os fios movimentados com a presença de pesos de madeiras ou bilros. Sobre a almo-
fada é colocado um papel grosso, conhecido como pique, que é perfurado com alfinetes ou espinhos,
dependendo da região, que vão compor o desenho da renda. Na ponta de cada fio de linha há um
bilro, ou peso, preso. O bilro é uma pequena peça de madeira torneada, podendo ser feita com outros
materiais. Na construção do tecido, as rendeiras movimentam os bilros, entrelaçando os fios.
Os materiais utilizados geralmente são os mesmos, diferenciando-se das origens europeias pelas adap-
tações feitas nos materiais para fabricação dos utensílios. A almofada brasileira é um cilindro de pano
forte, que pode ser saco de aniagem, estopa ou chita. O enchimento das almofadas é feito de folhas
secas e desfiadas de bananeira, capim ou algodão.
Os bilros são cabos esféricos, feitos com cabo e canela de uma só peça, ou de duas peças, com cabo de
noz, ou outra semente dura. O pique é o papelão onde está o desenho padrão que guia os pontos da
renda. Esse papelão tem tamanhos variados, dependendo da renda que se deseja produzir. Os piques
também podem ser feitos de papel cartolina ou caixas de sapato.
Os fios, que geralmente eram de algodão, agora são industrializados e podem ser de várias espes-
suras e cores. Os alfinetes normalmente são de metal inoxidável, mas alguns locais podem fazer o
uso de espinhos de certas árvores como laranjeiras e palmáceas. Os pontos e padrões feitos rece-
beram nomes populares do local de feitura.
110
Por sua origem, entende-se que tenha começado na Itá- Renda de bilro Tra-
lia, no século XV, nas cidades de Milão e Genova, deslo- moia I BRASIL I SUL= Va-
cando-se através das constantes trocas comerciais para riedade de renda de bilro carac-
Portugal, principalmente em cidades litorâneas como terística da região Sul do Brasil,
Vila do Conde e Peniche. Desembarca no Brasil junta- mais precisamente no estado de
mente com a colonização portuguesa, também consoli- Santa Catarina. Este nome re-
dando-se principalmente em comunidades pesqueiras. fere-se ao desenho feito na ren-
da que possui muitas tramas e
Em Portugal, era primeiramente destinada à orna- movimentos de zigue-zague. A
mentação de igrejas e vestes eclesiásticas, feitas tam- renda de bilro tramoia é um ar-
bém por jovens mulheres da alta sociedade, depois tesanato de forte referência cul-
começa a ser feita por moradoras de comunidades tural à identidade e à memória
pobres de pescadores. Hoje existem escolas e cursos do povo açoriano praticada há
de rendeiras em Portugal. 270 anos em Florianópolis.
111
Renda Cezarina I brasil I nor- Até 2020, no município próximo de Potengi,
deste = A Renda Cezarina é uma varia- Josefa Pereira de Araújo (Zefinha) natural de
ção da renda de bilros no Ceará, foi batizada Santana do Cariri, teceu da mesma renda,
com esse nome pois Cezarina Lacerda (1927- porém infelizmente não ensinou a alguém
2001) foi a única senhora da cidade de San- que continuasse a prática do ofício aprendi-
tana do Cariri (na região do Cariri no sul do do com a mãe, Helena. O que caracteriza
Ceará) que sabia fazer tal renda na década de a renda Cezarina é a utilização de linha de
1980. Ela aprendeu na infância com a mãe e algodão grossa (Anne, Camila Fashion e o fio
ensinou as filhas e outras mulheres próximas, cru de algodão) em cores variadas e o em-
que posteriormente continuaram o ensino da prego de apenas quatros pontos. Os objetos
técnica para outras mulheres do lugar. Em produzidos são os mais variados, como utili-
2010, quando somavam 10 rendeiras, se for- tários, roupas, acessórios e decoração, com
malizaram através da Associação das Rendei- destaque para as redes de dormir confeccio-
ras de Bilro de Santana do Cariri, e seguem nadas integralmente com a técnica.
produzindo, dando continuidade ao legado.
Rendas de agulha
Renda Renascença em processo pelas mãos da rendeira Jeruza Gomes parceira do projeto Ómana,
espaço de pesquisa e design voltado para a valorização dos têxteis brasileiros e suas mestras artesãs.
Barra de toalha feita em renda singeleza
pelas artesãs da Associação das rendeiras
de Singeleza em Paripueira/ AL.
Patrimônio cultural e imaterial
do estado de Alagoas.
113
Peças em renda irlandesa
produzidas pela Associação Da
Renda Irlandesa de Divina Pastora
114
Foto: Reprodução @rendatenerife
Renda NhandutiI / Teneri-
fe /Sol I Brasil | Paraguai
| Uruguai = A renda Nhanduti faz
com que a dança das mãos desperte o
corpo com a delicadeza do seu fazer. O
início da renda de trama radial se dá
com a montagem da teia (urdimento)
tendo como suporte o barbante e um
bastidor com ranhuras. Aqui se perde
de vista o tempo e a respiração passa a
ser outra. É preciso atenção na conta- Desenvolvimento da Renda Sol sobre bastidor
de Elizabeth Horta Correa (Nhanduti de Atibaia).
gem. A orientação é dada pelo capitão
(nome utilizado para designar o início
da feitura da teia) e delicadamente o raguai pelos colonizadores espanhóis tendo se disseminado
motivo (trama) vai tomando corpo. mais tarde em toda América Latina. No Brasil, em meados
Acredita-se que a origem desta renda é dos anos 50 foi uma das fontes de renda no município de
da maior ilha do arquipélago das Caná- Socorro e atualmente é difundida em Atibaia pela mestra Eli-
rias, Tenerife, e foi introduzida no Pa- zabeth Horta Correa (Nhanduti de Atibaia).
116
mento
117
Tingimento natural = O tingimento Os brincantes são pescadores, e uma particu-
natural é uma técnica intuitiva, por sua ligação laridade é o ritual onde os mesmos realizam o
com a vida das plantas que são sua base têxtil tingimento das suas vestes dentro da mata que
e tintória. Suas raízes, naturalmente, se asso- circunda a região. Antes do nascer do sol, os
ciam a conhecimentos de povos ancestrais que pescadores vão até a mata com o objetivo de
estão em contato com a terra. No Brasil, está encontrar cajueiros para que possam extrair
especialmente presente entre indígenas, qui- suas cascas para o tingimento das roupas, que
lombolas e comunidades rurais, como é o caso são feitas de algodão na cor branca. O proces-
das tingideiras da Central Veredas, no Vale do so de tingimento é todo feito na mata, pois a
Urucuia, Minas Gerais. É um saber em movi- cor arroxeada, oriunda do sumo da casca do
mento de expansão, que tem ganhado releitu- cajueiro ou do murici, só é alcançada quando o
ras em contextos urbanos, reunindo cores para processo é feito no local.
além das colhidas no quintal, como acontece
na marca Flavia Aranha, dedicada a combinar Após a extração das cascas, os pescadores fazem
princípios artesanais e recursos industriais para a fervura das roupas em uma panela com as cas-
apresentar o tingimento natural. cas do cajueiro e, em seguida, montam um varal
para pendurar as roupas.
As cores são conseguidas pelos corantes e pig-
mentos, em forma de pasta ou líquido. De ma- A roupa vai além da estética, é uma mensagem
neira simplificada, os pigmentos são insolúveis aos espectadores de que a brincadeira de coco
e se fixam nas fibras com ajuda de uma resina está relacionada à pesca artesanal. É uma manei-
(ligante), sua aplicação é superficial, não pene- ra de demonstrar pertencimento a um grupo es-
tra na fibra. Os corantes são solúveis e sua fi- pecífico, no caso, os pescadores e seus familiares.
xação é feita através de reações químicas, que
penetram na fibra e se incorporam. Na cidade de Valente, na Bahia, a Cooperati-
va Regional de Artesãs Fibra do Sertão (CO-
Na Praia de Iguape, no município de Aquiraz, OPERAFIS) trabalha com tingimentos feitos à
no Ceará, o tingimento natural está presen- mão a partir de matérias-primas como o sisal,
te como um elemento importante do Grupo o caroá, a palha de ariri, e ganham cores com
de Coco da Praia de Iguape. O grupo é uma os corantes naturais extraídos do Angico, da
manifestação cultural, tradicional, passada de Jurema, São João, Pau-de-colher, Baraúna e
geração a geração. Tem como características o Erva de Passarinho. As artesãs produzem, com
uso de instrumentos de percussão, a dança com a técnica do trançado, bolsas, chapéus, cestos,
‘’umbigada’’, usada para chamar outra pessoa caixinhas, tapetes, descansos de mesa, entre
para dançar, e o canto dos participantes como outros. Produtos: Peças decorativas e utilitárias
resposta ao refrão puxado pelo mestre. para casa e acessórios de moda.
118
É reconhecido como mordente, o agente (vegetal ou mineral) que serve para facilitar a união
entre o corante e a fibra, facilitando também a uniformidade e o brilho do tingimento. O
mordentado pode ser prévio ao tingimento (pré-mordentado) ou após o tingimento (pós-mor-
dentado). Os mordentes podem definir se o tingimento será natural (sem aditivos químicos)
ou poluente (com aditivos químicos).
Entre os mordentes naturais estão a casca de árvores, frutos, flores,sementes, pulque, taninos
e leite de soja. Entre os mordentes químicos, os mais usados são a soda cáustica e o aluminato
de potássio. No Peru, o tingimento é feito com o uso de cochonilha, anil ou índigo, antanco
ou chamiri, amieiro, Chilca, Mullaca e molle. Em Puebla, no México, um projeto de experi-
mentações , o Antesis, é conduzido por Anabel Torres que resulta na produção de tecidos de
fibras naturais, fios, tecidos e itens de decoração.
Grupo Coco da
Praia do Iguape
vestindo suas
roupas tingidas
naturalmente
119
Foto: Acervo Revolução Artesanal/ Ciça Costa
Oficina do Festival do
Fazer promovido pelo
movimento Revolução
Artesanal
120
Foto: Danilo Dilettoso @dadilettoso/ Reprodução @ miyazakiindigo
Oficina de
tingimento
com índigo
japonês da
pesquisadora
Kiri Miyazaki
121
Tingimento com pigmen-
122
Cultivo de cochonilhas
em cactos. Quando
masserado o inseto,
revela a cor carmim.
123
tric
124
cô
125
TRICÔ = O tricô é uma técnica para entrelaçar o fio (de lã ou outra fibra têxtil) de forma
organizada, criando-se assim um tecido que, por suas características de textura e elastici-
dade, é chamado de malha de tricô ou simplesmente tricô. Para sua feitura são utilizadas
agulhas retas de uma ponta ou ponta dupla, circular fixa ou intercambiável, e seus pontos
básicos são o meia e tricô. Os estilos mais comuns de tricotar são: o inglês, continental e
português. Em cada um deles a condução do fio e das agulhas ocorre de uma forma.
126
Foto: Pexels
Tricô de cinco agulhas
= O tricô com cinco agulhas é am-
plamente utilizado para confecção de
peças tubulares sem necessidade de
costuras, como gorros, meias e luvas.
Os pontos utilizados são os mesmos Casaco em tricô
do tricô tradicional e é possível utili- Intarsia, técnica que
intercala cores para
zar variação de cores. Com a expan- formar padronagens
são do uso das agulhas circulares, que
também produzem peças tubulares
sem a necessidade de muitas emen-
das, a utilização das cinco agulhas
para esse tipo de peças tem, aos pou- Tricô colorido = Existem muitas técnicas
cos, diminuído, sendo mais utilizadas para introdução de uma nova cor em uma malha de
para o tricô artístico. tricô, entre elas estão o Jacquard, Intarsia, Mosaico,
Armênio, entre outros. Cada uma delas apresenta di-
ferenças na hora de execução e na lógica de adicionar
uma segunda cor no trabalho.
127
A artista Jéssica
Costa trabalhando
em uma de suas
máquinas de tricô
Foto: Juss
No Uruguai, a ONG Manos del Uruguay, composta por 12 cooperativas, cada uma
delas localizada em uma pequena vila do interior do país, também seguem uitlizando
as máquinas, ativas a mais de 50 anos.
128
Tricô Irlandês ou tricô de Aran = É
uma variação da técnica do tricô tradicional com duas
agulhas, inicialmente produzida na Irlanda, tricotada
pelos pescadores das Ilhas de Aran, que por causa do
frio intenso precisavam de peças com um maior en-
trelaçamento dos fios. O que caracteriza a técnica é
um tricô com muitas texturas, o uso das tranças com
padrões geométricos inspirados na arte céltica (pon-
tos trançados, ziguezague, cordas, losangos e outros,
que se diferenciavam de acordo com o clã ou família
de pescadores, que os haviam criado (Byrne, O’Brien,
etc). Eram sempre produzidas em lã.
Saiba mais:
Peru, tecendo história - Chullo
Chullos peruanos, chapéus de malha usados pelos homens. Variando
de acordo com a região os chullos representam tradições e crenças.
colet
130
tivos
131
BRASIL Bordadeiras da Praia do
Sono I Paraty/ rj. Grupo de bor-
dadeiras da comunidade caiçara tradicio-
nal da Praia do Sono, que retrata através
de suas obras de arte a cultura local.
Coletivo AçafrãO.
Grupo de mulheres artistas
que investigam o bordar e
suas articulações com a arte
contemporânea, a educação,
cultura popular e produção
de publicações de artista. Coletivo Quadradinhos de amor I San-
@coletivoacafrao tos (SP). Grupo de mulheres da cidade de Santos (SP),
que se uniu para aquecer quem precisa e dividir momentos
de alegria e aprendizado. @quadradinhosdeamorsaopaulo
Coletivo Arte Mai-
nha I Península de
Maraú (BA). O proje- Coletivo EntrelaceS Grupo que estuda o borda-
to Arte Mainha se propõe do e sua contemporaneidade. @coletivoentrelaces
a desenvolver o turismo de
maneira sustentável em con-
junto com o fortalecimento Coletivo TecelãS. Arteiras e artistas que realizam
da identidade da mulher, intervenções artísticas com crochê e crochê solidário.
principalmente as mães, por @coletivotecelas
meio da capacitação conti-
nuada em produção de ar-
tesanato e distribuição mais Grupo Entrelaçadas. Grupo de mulheres que
justa da renda. se reúne em rodas de bordado para expressar arte e pai-
@artemainha.barragrande xão. @bordadoentrelacadas
133
Grupo Raizes. Produtos feitos por um coleti- Laços Unidos. Ação social promovi-
vo de artesãos, inspirados na natureza, com resgate da pelas empresárias e irmãs Ana e Anne
de saberes e impacto social. @raizes.isamorena Galante, da marca artesanal Srta. Galante
e da Escola de Artes Manuais, de São Pau-
lo. Desde 2013 elas vêm reunindo mãos de
Hafura Project I | Paraná e Qu- todo o Brasil para produzir quadrados de
ênia. Atuando em Londrina (PR) e no Quênia, crochê (ou tricô) que unidos viram mantas
o projeto tem a intenção de despertar o potencial coloridas, confortáveis e quentinhas para
de mulheres por meio de capacitação técnica, de- serem doadas para entidades sem fins lu-
senvolvimento pessoal e espiritual. @hafuraproject crativos. @lacosunidos
Mulheres do Jequitinhonha I
MINAS GERAIS / Ajenai. A AJENAI,
associação civil sem fins lucrativos ou econô-
micos, atua no desenvolvimento de projetos so-
ciais que visam proporcionar melhoria na qua-
lidade de vida de crianças, adolescentes, jovens
e seus familiares em situação de risco social e
econômico, moradores de comunidades rurais
do Vale do Jequitinhonha. www.ajenai.org.br
@mulheresdojequitinhonha
135
Fotos: Danilo Sorrino
Homens em
situação de cárcere
participantes do
projeto Ponto Firme
Coletivo Hombres
Tejedores faz
intervenção em
praça no Chile
Foto: Rodrigo Isla e Hombres Tejedores
137
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SUPERINTENDENTES
GERENTES
EQUIPE
Adriano Alves, Camila Hion, Carolina Barmell, Claudia Garcia, Enio Silva,
Gabriela Farcetta, Ligia Moreli, Marcela Pupatto, Marina Pinheiro, Nilva Luz,
Priscila Quedas, Rafael Munduruca, Renata Figueiró, Suellen Barbosa.
Instituto URDUME