Você está na página 1de 126

A Grande Pirâmide e a Era de Aquários¹

Newton Almeida Sampaio²

RESUMO: Este estudo propõe a existência de uma correlação entre a constelação de Cygnus e a
Grande Pirâmide, cujos dutos, câmaras e corredores guardariam, através do emprego de uma
linguagem matemático-astronômica sofisticada, um registro do início da era zodiacal de Aquários.

IDEIASCHAVE: Correlação entre a Constelação de Cygnus e as pirâmides do planalto de Gizé;


Correlação entre a Constelação de Cygnus e as câmaras, dutos e corredores da Grande Pirâmide;
Enchentes do Rio Nilo e a visão de mundo dos egípcios antigos; Ânfora de Aquários; Círculo Norte
Polar Celeste, Precessão dos Equinócios e a Estrela Polar Polaris.

ABSTRACT: This study suggests the existence of a correlation between the Cygnus constellation
and the Great Pyramid, whose ducts, chambers and corridors would keep, by the using of a
sophisticating mathematic-astronomical language, a registration of the Aquarius‟ zodiacal era
beginning.

KEYIDEAS: Correlation between the Cygnus Constellation and the pyramids of the Giza plain;
Correlation between the Cygnus Constellation and the Great Pyramid chambers, ducts and
corridors; Nile River Overflows and the ancient Egyptians world view; Aquarius‟ amphora;
Celestial North Polar Circle, Equinox Precession and the Polar Star Polaris.

HIPÓTESE: A Grande Pirâmide é uma replicação de relações astronômico-esferométricas entre


segmentos de círculos celestes que são circunscritos a um recorte triangular da esfera celeste e que
interligam estrelas circumpolares, estrelas da constelação de Cygnus, pontos eclípticos e
equatoriais. Tais relações preservam um registro do início da era zodiacal de Aquários através do
emprego do uso de uma funcionalidade precessional entre:

(1) o Círculo Norte Polar Celeste;

(2) grandes círculos que interceptam as estrelas Vega, Thuban e Polaris – que são estrelas situadas
sobre ou nas imediações do Círculo Norte Polar Celeste – e as estrelas Gamma Cygni, Eta

_______________________

1 – Manuscrito que trata do simbolismo mitológico egípcio próprio da IV dinastia e sua vinculação às especificidades
astronômicas presentes nos dutos e corredores da Grande Pirâmide.

2 – Graduando em Psicologia pela Universidade Federal do Estado do Pará – e-mail: new0607dimas@hotmail.com.

Página 1 de 126
Cygni de Cygnus – que se situam coincidentes com ou tangentes a outro grande círculo, que, por
sua vez, é coincidente com o Disco Galáctico;

(3) a Ecliptica – sobre a qual “correm” os pontos vernal e outonal ao longo das eras precessionais;

(4) círculos horários que interceptam as estrelas Vega, Thuban e Poláris, considerando-se
isoladamente o momento precessional em que cada uma dessas estrelas ocupa o Polo Norte
Celeste;

(5) o Equador Celeste – que, tal como o Equador Terrestre, é dividido em horas, minutos e
segundos, sendo estas medidas de tempo conversíveis a graus com os quais podemos medir
ângulos celestes; e

(6) pontos eclípticos e equatoriais que delimitam arcos que, por sua vez, guardam ângulos que
também são mantidos pela Grande Pirâmide, cuja construção teve por fim preservar um registro
destinado aos dias atuais, momento precessional em que Polaris torna-se estrela polar e quando
a era zodiacal de Aquários tem início.

METODOLOGIA:
O método utilizado para a confirmação da hipótese levantada valer-se-á de:
(1) Familiarização do leitor com especificidades da cultura egípcia, fundamentalmente nas áreas da
geografia, clima, subsistência e religião, à altura da IV Dinastia do Antigo Império, quando,
segundo os registros históricos oficiais, a Grande Pirâmide foi construída;
(2) Definição de conceitos nas áreas da Astronomia e da Geografia que se mostrarem importantes
para o estudo;
(3) Uso do banco de dados astronômicos virtual do Fourmilab (www.fourmilab.ch/cgibin/yoursky),
o qual dispõe também de aplicativos que possibilitam a realização de simulações de mapas
celestes em datas e horários específicos, tendo-se como coordenadas centrais as mesmas da
Grande Pirâmide;
(4) mapas;
(5) quadros;
(6) fotografias;
(7) e desenhos.

1.0 INTRODUÇÃO.
Neste estudo demonstrarei que os objetivos que levaram à construção do complexo de Gizé são bem
distintos daqueles que o corpo das várias teorias afirma, as quais vão desde concepções de que a
Grande Pirâmide seria um tipo de registro em pedra de várias das narrativas bíblicas (Russel, 1886),

Página 2 de 126
até proposições que a apresentam como uma espécie de dispositivo tecnológico para produção de
energia elétrica (Dunn, 1998), passando ainda por ideias de que as três pirâmides daquele complexo
refletiriam tão-somente o imaginário simbólico-religioso dos homens que a construíram e cuja
produção arquitetônica e artística estaria repleta de referências a entes astronômicos que, ao
surgirem no horizonte leste, traziam consigo sinalizações das mudanças de estação caracterizadas
principalmente pelas cheias e vazantes do Nilo (Bauval, 1994).
Embora possa o erguimento daquelas pirâmides relacionar-se com motivos religiosos, este
estudo pautou-se pela busca de provas de que os fins para os quais aquele complexo foi erguido vão
muito além de um registro da experiência humana com o numinoso, e que, na verdade, sua
construção relaciona-se com a intenção do construtor – que viveu na era zodiacal de Touro – de
registrar de forma rigorosa e objetiva, e em um tipo sofisticado de linguagem, o início da era
zodiacal de Aquários, que nesta análise, e por meio de várias provas irrefutáveis, será identificado
com Osíris, a mais importante divindade do período em questão.
Neste estudo, será demonstrado que a construção do Complexo de Gizé envolveu o emprego
de arcabouço tecnológico-científico excessivamente avançado quando comparado com aquilo que é
oficialmente atribuído ao período histórico em que se deram aquelas edificações, e, à medida que
avançar na leitura, convencer-se-á o leitor de que foi empreendido um nível de conhecimento em
Astronomia absurdamente superior àquilo que nossos registros afirmam já se tinha acumulado pelo
homem de então. E talvez ainda fique impressionado quando, diante das incontroversas evidências,
refletir que, não obstante sua extrema complexidade e sofisticação, esses conhecimentos antecedem
em até quatro milênios as descobertas basilares da Astronomia Moderna, feitas em grande parte
somente à altura do período entre os séculos XVI e XVII da Era Cristã, pelos astrônomos
Copérnico, Kepler, Ticho e Galileu (Gleiser, 1997).
Parte da fundamentação de que se vale esta pesquisa tem por causação meus estudos constantes
do ensaio publicado em 2011 e que identificaram relações entre os panteões sumério e egípcio, e a
relação existente entre o simbolismo mitológico-religioso dessas civilizações com os entes celestes
significativos para as cosmogonias dessas regiões-berçários da civilização humana (Sampaio,
2011). Mas é estritamente fruto deste meu novo estudo a descoberta da existência de uma relação
funcional precessional entre os entes astronômicos representados por aquelas divindades e outros
entes físicos celestes, tais como o Disco Galáctico, a Eclíptica, o Equador Celeste, Círculo Norte
Polar, círculos horários, algumas constelações e os nodos entre os planos de alguns dos entes
citados.
O presente trabalho, diferentemente de tudo que já se produziu em Egiptologia nos últimos
séculos, demonstrará que a explicação para o significado das antigas estruturas de Gizé, inclusive o
da própria Esfinge, só se torna possível quando nos desvencilhamos das “molduras” conceptuais,
paradígmas errôneos a que tantos estão submetidos, e nos permitimos a uma análise do objeto em

Página 3 de 126
estudo providos de um bom pensamento lógico-matemático e de boas ferramentas tecnológicas.
Penso estarem entre os teóricos presos a esses modelos inadequados os professantes do dogmatismo
científico, que nada aceitam além daquilo oficialmente registrado nos anais da Ciência, e aqueles
que, não compreendendo as vias sócio-históricas que possam ter levado ao fato, tudo atribuem a
supostas interferências de seres biológicos exógenos ou ou recorrem a entidades metafísicas para
explicá-lo – cabe aqui ressalvar, todavia, que não pretendo, de modo algum, negar as existências
desses fenômenos; apenas não me valho dos embasamentos sugeridos pelos que lhe são adeptos
para a proposição de minha tese.
Meu pensamento sobre Gizé e sua enigmática arquitetura antiga é, portanto, livre de qualquer
dos enfoques já aplicados para sua compreensão, e a superação do dogmatismo de tais
interpretações tradionais e a dispensa das explicações alternativas é o matiz diferencial deste meu
trabalho, que levará o leitor a uma apreensão objetiva daquilo que aqui está proposto. Qual seja:
que uma relação funcional precessional, preservada durante pelo menos quarenta e cindo séculos, é
mantida pela configuração dos dutos e corredores da Grande Pirâmide e as estruturas antigas do
Complexo de Gizé, construídos para funcionarem como um registro das especificidades
astronômicas que só se configurariam no tempo em que Polaris tornar-se-ia estrela polar. Ou seja,
especificidades astronômicas que só são válidas no tempo em que vivemos, quando a Era de
Aquários tem início e quando as coordenadas celestes atuais se dão a partir do cruzamento dos
círculos horários que se originam em Polaris e convergem para o Polo Sul Celeste com os círculos
paralelos ao Equador Celeste de nossos dias.

2.0 CONSIDERAÇÕES INICIAIS.


2.1 Descrição física do rio Nilo.
Nathaniel Platt, tomando a geografia do Egito como fator indispensável à grandeza da civilização
egípcia, nos diz que sem as cheias que, de junho a outubro, anualmente transbordam o Nilo, todo o
Egito seria apenas um deserto (Platt, 1961, p. 23). E é graças a essas cheias que o rio Nilo, há mais
de cinco mil anos, vem proporcionando riquezas para as sucessivas civilizações e culturas que
floresceram às suas margens. O limo transportado pelas águas, e o controle da vazão destas por
meio de barragens, há muito têm assegurado a irrigação permanente das planícies banhadas por
aquele rio, responsáveis por produzir três colheitas por ano: no inverno, trigo, cevada, cebola e
linho; no outono, arroz e milho; no verão, algodão, cana-de-açúcar e oleaginosas.
O Nilo é o mais extenso rio do globo, com um curso de 6.695 km, no sentido sul-norte, e
uma bacia de cerca de 3.349.000 km2, ou cerca de um décimo da área do continente africano.
Localizado na região nordeste da África, nasce nos altos planaltos lacustres dos territórios da
Tanzânia e Uganda, atravessa o Sudão e o Egito, e desemboca no Mediterrâneo. Seu caudal médio
anual é de 3.100 m cúbitos por segundo.

Página 4 de 126
A complexidade do sistema hídrico da região em que se encontram as cabeceiras do Nilo
torna difícil a identificação do início de seu curso. Sua fonte mais distante é o rio Kagera, no
Burundi, depois forma os limites de Tanzânia, Ruanda e Uganda, e deságua em seguida no lago
Vitória, a partir do qual toma o nome de Nilo Vitória, até desaguar nos lagos Kyoga e Albert. Ao
entrar no Sudão, recebe o nome de Al-Jabal e continua sendo assim denominado até sua confluência
com os rios Al-Ghazal e Sobat. Após a confluência com o Sobat, a corrente principal toma a
denominação de Nilo Branco até a confluência com o Nilo Azul, que é procedente do planalto
etíope e desagua próximo à cidade de Khartum. Depois desta cidade recebe seu último grande
tributário, o Atbara. Abaixo da confluência com o Atbara, o Nilo descreve uma ampla curva em „S‟
na direção noroeste, e forma cinco cataratas antes de penetrar no lago Nasser. A partir desse lago,
onde se encontra a represa de Assuã, o rio corta o Egito até seu delta, que começa próximo ao
Cairo, onde se divide em dois braços, Damietta e Rosetta, intercalados por diversos canais naturais
em uma zona de aluviões férteis e com numerosas lagunas.

Figura 01: Sinuosidade do Nilo desde suas nascentes nos planaltos da Tanzânia e Uganda, passando pelo Sudão e Egito
até sua desembocadura no Mediterrâneo. Fonte: Encyclopedia Britannica, Inc.
No vale do Nilo estão localizadas as mais importantes cidades do Egito e do Sudão. Suas
águas banham as cidades de Assiut, Lúxor, Assuã e Khartum; e em seu delta situam-se as cidades
do Cairo e Alexandria.
O regime do Nilo é pluvial tropical, com grande irregularidade no volume das águas. Suas
enchentes são consequência das chuvas de verão que caem sobre o planalto etíope, com mais

Página 5 de 126
intensidade no mês de setembro, e que elevam o nível de suas águas em até sete metros. O primeiro
projeto para o aproveitamento das águas do rio data da época de Amenemés II, que construiu um
grande açude nos arredores da cidade de Gizé.

2.2 A importancia das cheias do Nilo.


O Nilo, desde tempos imemoriais, tem sido a base de tudo para as populações habitantes de suas
margens. Era o Nilo que fornecia a água necessária para a sobrevivência e o plantio no Egito. No
período das cheias, que aconteciam entre junho e novembro, chegando ao máximo em setembro, as
águas do rio transbordavam seu leito normal cerca de 20 km e inundavam suas margens, carregando
altas quantidades de Aluvião, que era abandonado por ocasião das vazantes e que fertilizavam o
leito maior, depositando ali uma camada riquíssima de lodo, um húmus composto de lama e
sedimentos, que era aproveitado por seus habitantes com sabedoria para o cultivo da terra tão logo o
período das cheias passasse.
O cultivo de cereais, que se realizava anualmente, particularmente nas planícies inundadas
da bacia do Nilo, constituiu a base da economia egípcia. As terras altas, que se regavam através de
elevadores de água (os shadufs) eram reservadas, em sua maior parte, a jardins. A abundância ou a
carência dependiam de que as cheias do Nilo alcançassem o ponto ideal, de forma que, por uma
parte, inundava todas as terras cultiváveis, sendo que, por outra, arrasava a população ou escavava
um novo leito ao rio (Boekhoff-Winzer, 1968, p. 98).
Como já dito, sem o Nilo, o Egito não existiria. Não haveria água nem terra fértil para
plantar. O nível de chuvas é baixo, cerca de 100 a 150 milímetros na média anual; o clima é quente,
mesmo no inverno, e as temperaturas raramente caem abaixo de 13°C. As águas do rio são
utilizadas para irrigação desde a antiguidade, e seu curso inferior se apresenta como um longo oásis
que corta o deserto, além de banhar uma série de importantes cidades situadas em seu trecho
navegável.
Os agricultores egípcios plantavam grãos, lentilhas, feijão e hortaliças na lama úmida do
Nilo. As plantações cresciam rapidamente e davam boas safras. Os camponeses cavavam canais de
irrigação para espalhar a água das enchentes o mais distante possível e para garantir o
abastecimento quando a inundação terminasse. Eles construíam máquinas engenhosas para captar a
água do rio e irrigar os campos. Onde havia terra suficiente, eles plantavam, e, entre os frutos dessa
rica terra, colhiam também maçãs, uvas e figos.
Os egípcios das aldeias caçavam animais selvagens que vinham beber das águas do Nilo, e
também pescavam em barcos ou jangadas de papiro, de onde se atiravam as lanças, redes ou anzóis.
Algumas vezes saíam para matar crocodilos ou, menos frequentemente, hipopótamos, animais
considerados muito perigosos. Era importante também exterminar as pragas que ameaçavam as
colheitas, principalmente os camundongos, e para isso os egípcios criavam gatos e também

Página 6 de 126
contavam com a chegada dos falcões, que ajudavam bastante na “guerra” contra os roedores
atraídos pelos grãos das colheitas de verão.
Vacas, burros, ratos, cobras-d'água, cães e crianças vagavam nas águas rasas das margens do
Nilo, e as mulheres também se juntavam ali para lavarem roupa, enquanto se descontraíam rindo e
conversando.
Algumas plantas cresciam naturalmente nas margens do Nilo e eram bastante aproveitadas.
Com o sisal, por exemplo, faziam esteiras e cestos, e com os botões do lótus decoravam os
banquetes dos ricos.
Os antigos egípcios também usavam a lama e argila do Nilo na fabricação de tijolos para
construir e reparar suas casas.
O Egito Antigo era, na realidade, um extenso oásis com mais de 1.000 quilômetros de
comprimento por dez a vinte quilômetros de largura. O Vale do Nilo compreendia o Alto Egito, ou
Terra do Sul, e o Baixo Egito, ou Terra do Norte. O Baixo Egito ocupava a vasta planície aluvial
formada pelo trecho setentrional do rio e seu delta. Segundo Heródoto, historiador grego do século
V a. C., "O Egito é um dom do Nilo", sem o Nilo e suas cheias, o Egito seria apenas a parte oriental
do Saara. Nenhum rio do mundo sustentou a perenidade de uma civilização, de uma cultura e de um
Estado, durante tanto tempo como o Nilo o fez. Nascido bifurcado, resultado do Nilo branco e do
Nilo azul, vindos ambos das profundezas do coração da África, ele cumpre uma sinuosa trajetória
de quase sete mil quilômetros. Rasgando com suas águas mansas o deserto, termina por desaguar no
Mediterrâneo. No seu berço o Nilo é assistido por um monte de pedras e, ao longo das suas
margens, o rio é contido pelas areias finas do Saara. O Sol inclemente acompanha suas correntes o
tempo inteiro. Foi nas suas beiras que se multiplicou o papiro, utilizado como o papel da época, e
que proporcionou que se registrasse nele grande parte da sabedoria da Antiguidade. O Nilo, tal
como os rios da Mesopotâmia, é, assim, um dos rios mãe da humanidade, tudo por primeiro surgiu
por lá, e dali espalhando-se para o restante do mundo.

2.3 Formação do Estado egípcio.


Quando, ao final da Pré-história, secaram-se as esteparias situadas a leste e oeste do rio Nilo, e não
havia mais possibilidade de caça pela ausência de pastos, seus habitantes emigraram para o Nilo e
se estabeleceram nos outeiros situados sobre o nível das águas. Escavaram os bosques do rio,
desaguaram os lamaçais e lavraram a terra. Já desde o princípio foi necessário construir canais e
reservatórios que asseguravam o abastecimento normal de água para os campos. Esses novos
habitantes do rio se viram obrigados a ampliar seu horizonte visual para mais além dos estreitos
limites de seus próprios povos, e surgiu, então, uma organização da força de trabalho destinada à
tarefa de construção de canais e diques que se mostraram imprescindíveis para sua subexistência, e

Página 7 de 126
esse arranjo da força humana com fins coletivos originou os primeiros intentos de administração
suprarregional (Boekhoff-Winzer, 1968, p. 72).
Entretanto, ao considerarmos a sedentarizarão do homem nas terras que margeiam o Nilo
como uma elaboração estratégica para a garantia de sua sobrevivência, não devemos subestimar o
papel imprescindível que também tiveram seus antigos hábitos nômades para o nascimento do
primitivo Estado egípcio. A aparição de um Estado egípcio como império unitário e o feito de que
sua cultura, no mais amplo sentido, adquirira a forma que conhecemos, supõe dois motivos: o
primeiro circunscreve-se a esses componentes opostos que formavam o povo egípcio dos tempos
primitivos; o segundo nos remete ao papel decisivo que desempenhava certo estrato caçador de
costumes nômades (Boekhoff-Winzer, 1968, p. 72).
W. Kaiser fez manifesto, graças aos dados arqueológicos de seu trabalho e pertencentes a
ultima etapa da Pré-história, que um dos grupos de povos nômades existentes na região que se
estende desde Abydos até Tebas foi se deslocando paulatinamente entre Norte e Sul até o momento
em que no extremo do delta entrou em contato com outros povos que possuíam uma cultura mais
desenvolvida. Tratava-se das antigas cidades do Delta, como Sais, Buto, Busiris, e Mendes, cujos
fundadores pertenciam aos grandes grupos de habitantes do Mediterrâneo Oriental. Destes lugares
partia um antigo tráfico comercial que, cruzando o mar, se dirigia ao Norte, a Biblos e às cidades da
Anatólia. Suas concepções religiosas, como também sua cultura, eram semelhantes àquelas dos
povos habitantes do Mediterrâneo Oriental. Imagens como da Grande Deusa e do deus agonizante
tinham aqui sua origem; os ritos que santificavam e asseguravam os labores do campo tiveram aqui
particular desenvolvimento. Enterravam seus príncipes em meio a complicadas cerimônias que
tinham por objeto facilitar a viagem dos mortos ao mundo de seus antepassados. (Kaiser apud
Boekhoff-Winzer, 1968, p. 72).
Sobre estas populações do Delta, erigiram seu domínio os povos chegados do Sul,
pertencentes à chamada cultura Negade II. Sua cosmovisão era formada por cenas de sua luta com
as feras africanas. A caça no cenário selvagem das estepes converteu-se no modelo que dá forma a
sua explicação do mundo; a figura do animal era para eles a encarnação da força. O soberano
purificava-se em sua solitária luta com o poder animal, e sua superioridade lhe permitia constituir-
se como primeira força do mundo. Devido a essa superioridade e primazia de força, quando a
soberania dos grupos Negade II se estendeu, aproximadamente, desde Gebelen até a costa, este
domínio unitário não se desintegrou; a região não se desmembrou novamente em distintas
cabecilhas, devido ao fato de ser um deus universal quem governava e cuja superioridade ninguém
ousava por em dúvida. Os pensamentos e sentenças do soberano exerciam uma misteriosa
influência em todo o país, apesar de se acharem separados de sua presença corporal – presença que,
entretanto, para os egípcios daquele tempo, nunca deixava de atualizar-se nos céus cravejados de
falcões. No soberano concentravam-se todas as forças vitais. Somente ele, uma vez tendo ascendido

Página 8 de 126
ao trono, criava um novo mundo do caos; somente ele, dispondo de suas forças ativas do Ká e
Hemuset, engendrava as criaturas. O Curso do mundo, o crescimento da vegetação e o êxito na caça
dependiam unicamente de seus atos, que imediatamente repercutiam no mundo. Seu bem-estar era o
bem-estar do mundo; se desaparecia o poder do soberano, a desordem influenciava no curso dos
astros e a fome invadia a terra (Boekhoff-Winzer, 1968, pp. 72, 73).
Disso surgiu a necessidade não apenas de substituir o soberano por outro depois de um
período de 30 anos de governo, mas também a vontade de todos por assegurar o curso do mundo
mediante a manutenção do poder total do rei. Aquele que servia adequadamente ao rei assegurava
esse curso do mundo. Deste modo, formou-se em torno do rei um grupo de pessoas, procedente do
círculo principesco, que lhe vestia, alimentava e que o levava em camarote. Ao mesmo tempo,
surgiu a necessidade de delegar aos príncipes algumas das atividades do soberano, tais como a
direção de campanhas, a execução de decretos e a administração de grandes edificações. Em todos
estes casos, uma parte do poder do rei devia investir aqueles que até o momento eram homens
impotentes – procedimento perigoso, que exigia uma consolidação mágica do interessado, que tinha
por objeto evitar que a extrema força da palavra real causasse efeitos letais. Vemos, deste modo,
como no transcurso da I Dinastia faz sua aparição uma burocracia, que mantém a unidade do
império, constitui-se em portadora de prerrogativas reais e executa a palavra criadora do soberano,
que lhes chega através de numerosos decretos e mandatos (Boekhoff-Winzer, 1968, p. 73).
Nesta época encontra seu equilíbrio a forte pugna que existia entre os pertencentes à Negade
II, conquistadores do país, e aos oprimidos moradores da região norte. Enquanto nos detemos nos
umbrais da História para contemplar de que forma os povos submetidos são tratados sob tal
condição e se pratica contra eles uma rigorosa discriminação por parte dos mandatários do
estamento dominante, e como ambos estamentos estão separados por determinados preceitos tabu, a
concepção do rei como deus universal experimenta um progressivo avanço que o leva, em última
instância, a não encontrar frente a si mais que “submetidos”. Entretanto, a oposição existente entre
as províncias meridionais do país e as regiões do Delta submetidas, trouxe como consequência o
fato de os primeiros reis terem deixado de residir em Tinis, no Egito médio, para fixar sua nova
habitação no extremo Delta, tendo como objeto poder vigiar ambas as partes do país de uma
maneira mais adequada. O sítio da nova habitação foi onde Menes (chamado, nas inscrições da
época, Horus‟ Aha, o “guerreiro”) fundou a fortaleza do “Muro Branco”, origem da futura cidade de
Mênfis (Boekhoff-Winzer, 1968, p. 75).
Mênfis não constituiu a única residência nem tampouco a única capital administrativa do
império egípcio. Contudo, é preciso reconhecer que as trocas e eleições de novos centros do império
não foram acidentais, mas que se impuseram por necessidades estatais. O translado do centro
imperial para “Muro Branco” garantia uma estreita vigilância das regiões submetidas do Delta. De
qualquer modo, as concepções culturais e religiosas das cidades do Delta ocupadas incidiram

Página 9 de 126
diretamente sobre a corte do estamento dirigente. Praticamente, Mênfis constituiu não apenas
política, mas também culturalmente, “a balança de ambas as regiões”, como felizmente se a
denominou. Mênfis conservou sempre sua significação de verdadeiro ponto médio do Egito,
inclusive naqueles momentos em que outras cidades foram eleitas como residência oficial. Essa
capital estendeu-se, no mínimo, desde a atual Bedrasa até Lischt, o que subentende uns 25 km, e
ocupou vários centros que procediam, em parte, das colônias formadas pelos sacerdotes dos mortos
a serviço dos antigos reis falecidos, e em parte da construção de novas fortalezas. Em Mênfis, os
reis do Império Antigo, desde Zoser, edificaram seus monumentos funerários, aquelas
incomensuráveis pirâmides nas quais o corpo do rei falecido devia conservar-se seguro. O bem estar
dos mortos dependia também, pelo menos nos tempos dos grandes construtores de pirâmides das
dinastias III e IV (Djoser, Snofru, Khufu, Chefra), de que seu rei lhes seguisse protegendo no outro
mundo do mesmo modo como o fez em vida. O soberano permanecia como senhor dos súditos de
seu reinado inclusive depois de sua morte. Isso significa que quando o povo erigia para seu
soberano aquelas edificações mortuárias, desproporcionais para o tempo em que foram concebidas,
possuía a firme convicção de estar assegurando sua própria continuidade na outra vida; pois para o
egípcio do Império Antigo não havia nada tão catastrófico como não poder contar com um soberano
que lhe dispensasse sua proteção. Até o final dessa época não havia consciência da possibilidade de
uma existência como ser individual, concepção que despertava no egípcio a imagem do caos e da
desgraça (Boekhoff-Winzer, 1968, p. 75).
Sua experiência na luta do homem com as forças caóticas de seu ambiente na difusa Pré-
história, assim como a de que somente uma organização rigorosa garantiria o sustento de todos,
induziu ao egípcio antigo a considerar que a tarefa do homem consistia em assegurar a ordem no
mundo. Originariamente entendido como sentença do rei, a ordem do mundo era vista, já desde os
tempos dos grandes construtores de pirâmides, como uma criação única e ancestral de Rá, deus do
Sol. A ordem do mundo como tarefa a ser obrigatoriamente cumprida devia constituir-se na
aspiração de todos e de cada egípcio individualmente. Esta lhes chegava por intermédio do rei, que
era o único que conhecia a criação de seu pai, o deus do Sol, assim como mediante os ensinamentos
dos sábios, que, expostos à experiência de sua longa vida, haviam chegado também a conhecê-la.
Esta ordem do mundo – em egípcio Maat – constitui, pois, o fundamento de toda a cultura egípcia
antiga, fundamento no qual se assenta a teoria da realeza, da qual se extrai o princípio da dualidade,
isto é, a unidade de dois conceitos contraditórios: dois países, dois distintivos reais, duas
administrações, duas coroas e duas formas de santuário erigiram-se dentre grande número, e
configuram como pares a forma de aparição da ordem unitária, em contraposição à pluralidade
originária (Boekhoff-Winzer, 1968, p. 76).
Entretanto, Maat exige dos homens que submetam ao entendimento sua caótica vida
instintiva. Não se reprovam apenas o ódio e a inveja, a ira e a falta de domínio, mas também o amor

Página 10 de 126
e a aflição, como produtos do sentimento são considerados caóticos e, em consequência,
reprováveis. Maat implanta o ideal dos “silenciosos”, isto é, dos que possuem o autodomínio e que
unicamente fazem o que Maat prescreve, porque é útil. O homem possui uma vontade livre para
fazer ou deixar de fazer o que deseja; entretanto deve ater-se às consequências, isto é, à intervenção
do guardião da ordem (Boekhoff-Winzer, 1968, p. 76).
A determinação em seguir Maat apresenta-se como uma tendência constante no modo antigo
de vida egípcio, que é, naturalmente, reflexo de sua interioridade. Isto influi não apenas em sua
vestimenta (trajes brancos em lugar do “inquieto colorido”) e em suas relações sociais ou seu meio
familiar, mas também, é claro, em sua expressão artística, a qual devia sempre excluir os
acontecimentos momentâneos e as impressões subjetivas (Boekhoff-Winzer, 1968, p. 85).

2.4 A antiga religião egípcia.


2.4.1 A enéade heliopolitana e a influência da cultura do Mediterrâneo Oriental.
O poder de qualquer ser vivente ou objeto que pudesse influir no meio ambiente constituiu a
concepção fundamental da religião egípcia. As débeis forças podiam ser vencidas, enquanto que as
poderosas deviam ser aplacadas. O egípcio primitivo em qualquer lugar via forças que, localmente
vinculadas, deviam ser tomadas em consideração: assim, na selva, a leoa; o crocodilo, no rio; a
deusa das árvores, na margem do deserto; a serpente, no campo, etc. Essas forças eram aplacadas
por oferendas, que, por sua vez, transmutavam-se em disposição favorável ao demandante. Sobre
essa infinidade de forças locais surgiu, nos primórdios da história, o rei, que, como supremo deus
do universo, regia o mundo egípcio mediante seus decretos, inclusive onde não se achava
pessoalmente, pois era imaginado como um falcão celeste cujas asas protegiam o Egito do caos
existente para além de suas fronteiras.
A experiência da imortalidade do Sol frente à caducidade do rei conduziu, durante a IV
dinastia, à implantação do deus Sol, Rá, como deus universal em vez do rei, e isto implicou em
consequências circunscritas ao âmbito da transcendentalidade: iniciaram-se, na esfera religiosa, as
divindades locais, que, se até então haviam sido menos poderosas que o rei, converteram-se logo
em forças sobrenaturais e, portanto, mais poderosas que o soberano. Deste modo, surgiu a
necessidade de outorgar servidores próprios e domínios àqueles deuses e de submetê-los à
intervenção estatal. Pela primeira vez, aparece, assim, o dualismo entre o Estado e o templo, e,
segundo a importância do lugar, incrementou-se a importância do deus: Min em Achmim, Month
em Tebas, Hathor em Dendera e Ptah em Mênfis. Os sacerdotes, a essa altura, já iniciavam as
formulações de sistemas teológicos que adotavam a forma triádica (pai-mãe-filho) ou que, então,
discorriam sobre a origem do mundo como resultado das ações de dinastias divinas, como se deu
em Heliópolis. Segundo o sistema heliopolitano, no princípio surgiu do caos o criador ancestral
Atum, que, de si mesmo, criou o ar (Schu) e a umidade (Tefnut); estes criaram a terra masculina

Página 11 de 126
(Geb) e o céu feminino (Nut), e destes nasceram os deuses Osiris, Isis, Seth e Néftis. E coube a
Hórus, o filho de Osiris e Ísis, ser incorporado da manifestação mítica dos soberanos.
Tão logo o Sol converteu-se em supremo deus do Egito, surgiram dificuldades advindas do
problema com a vida depois da morte, posto que até então o rei falecido procurava por seus
contemporâneos defuntos no submundo. Dado que no reino dos mortos o Sol era visível somente
durante a metade de seu périplo, buscaram um soberano dos mortos mais poderoso que o Sol, e o
acharam em Osiris, que, como deus defunto, habitava incessantemente o Submundo.
Os três parágrafos anteriores foram por mim traduzidos do texto sobre a religiosidade dos
antigos egípcios ao tempo da IV dinastia, e foi extraido do livro de Boekhoff-Winzer (1968, p.
125), e sua leitura nos põe em contato com os fatos que propiciaram o surgimento da Enéade
Heliopolitana: Schu, Tefnut, Geb, Nut, Osiris, Isis, Seth, Néftis e Hórus.
Tendo-se em vista que Heliópolis situava-se na borda sul do delta, onde hoje é o Cairo, e
que Osiris seria originalmente padroeiro da cidade de Busiris (referência), situada na parte norte
daquele delta, mostra-se razoável adotarmos aqui as concepções de autores como Boekhoff-Winzer
(1968, pp. 72, 105), que admite a influência de uma cultura mais desenvolvida pertencente aos
povos do Mediterrâneo Oriental sobre os sistemas religiosos dos habitantes de várias das antigas
cidades do Delta do Nilo, como Busiris e Mendes – de onde, como já dito, partia um antigo tráfico
comercial que, cruzando o mar, se dirigia ao Norte, a Biblos e às cidades da Anatólia –, cujos
fundadores teriam sido originários dos grandes grupos de habitantes daquela parte do Mediterrâneo
e teriam entrado em contato com grupos de povos nômades provindos, majoritariamente, de regiões
marginais ao Nilo, especificamente entre Abydos e Tebas. Uma vez adotada a possibilidade de
essas interferências culturais terem se dado de fato, e tomando-se por certo que as culturas de vários
povos do Mediterrâneo Oriental e seus sistemas religiosos replicavam, com pouquíssimas
alterações, a dos povos mesopotâmicos, passei, então, a vislumbrar semelhanças entre os resultados
de meus estudos sobre a cultura e sistemas religiosos dos povos do Entre rios e outros povos de seu
entorno e um dos sistemas religiosos egípcios mais antigos, que é a já referida Enéade
Heliopolitana. Sistemas religiosos tais como o assírio, o babilônico, o hitita e o caldeu replicam
aquele que lhe é mais antigo, o sumério, e a este pertence uma das epopeias cosmogônicas mais
famosas, o Enuma Elish. Comparando os resultados de minhas análises desta conhecida epopeia
suméria com as de outros autores, como Zecharia Sitchin (1976), L. W. King (1902), Anton Deimel
(1936) e W. C. Lambert (1966), eu pude, em um primeiro passo, vislumbar uma tentativa de
elaboração de uma explicação científica dos mitos, das crenças e das religiões através da
identificação dos personagens daquela epopéia com entes astronômicos tais como a Terra,
Mercúrio, Vênus, a Eclíptica etc., e destes com os antiquíssimos personagens daquele sistema
religioso (a Enéade Heliopolitana), tais como Geb, Shu, Tefnut, Nut etc. [adicionando-se àquela
enéade ainda o Sol (Anu), a Lua (Gaga) e Imensidão Celeste (Anshar), constantes do grupo dos

Página 12 de 126
Doze Grandes do panteão sumério porém ausentes na enéade de Heliópolis] (fig. 02). E, em um
segundo momento, detive-me na busca do estabelecimento da relação daquelas divindades e seus
representantes celestes com as mudanças sazonais que intervinham na variação do volume das
águas dos rios Tigre, Eufrates e Nilo e com a dinâmica dos acontecimentos terrenos imbricados
com essa mudança de estações, tais como os períodos do plantio e colheita, construção de diques,
abate do gado etc. (Sampaio, 2011).
Alguns meses depois de essas relações terem sido concebidas, apliquei-as como novo
paradigma na tentativa de um novo olhar que viesse, de algum modo, ampliar meu entendimento do
imaginário dos habitantes do Nilo à altura da IV Dinastia – o que, talvez, também pudesse incluir a
compreensão dos motivos que levaram à construção do Complexo de Gizé, com especial destaque
para sua maior estrutura: a Grande Pirâmide.

Figura 02 – Os panteões egípcio e sumério e seus represetantes astronômicos.


Ao longo do estudo veremos que, de fato, essa dinâmica céu-terra – muito mais do que
apenas uma relação de representação estática entre entes celestes e seus símbolos no solo egípcio –
dominava ativamente o imaginário do antigo habitante do Nilo, e a compreensão de seu mecanismo
mostrar-se-á como peça fundamental para os achados propostos por este trabalho.

2.4.2 Enchentes e vazantes do Nilo: imbricações céu-terra e a divinização da natureza.


Considerando-se o caráter de fetiche animístico próprio da religião egípcia em seus primórdios
ainda em tempos neolíticos, e sua posterior evolução para o politeismo (Brough, 1965, p. 30), o
primeiro passo em busca do entendimento proposto em O Paraíso de Dimas e os Mitos: Uma Busca
das Origens da Religião (Sampaio, 2011) foi proceder à vinculação das antigas divindades egípcias
– já pareadas a seus respectivos entes celestes – com a variação, em função das cheias e vazantes,
da densidade populacional de algumas espécies endêmicas habitantes nas áreas marginais ao Nilo
ou ali introduzidas em tempo remoto, tais como leões, gado bovino, falcões, serpentes,
camundogos, gazelas etc.; em um segundo momento, buscou-se o estabelecimento da relação
daquelas divindades e seus representantes celestes com as mudanças sazonais que intervinham,
naturalmente, na variação do nível e volume das águas daquele rio.

Página 13 de 126
Para os antigos egípcios havia uma sagrada simbiose entre o Nilo e todos os reinos vivos da
Terra. Nada havia na natureza que dele não dependesse. Tão forte era essa crença que, em quase
todas suas representações sagradas, os seus deuses são pintados ou esculpidos de maneira
zooantropomórfica, isto é, têm simultaneamente forma humana e animal: Hátor, a deusa das
mulheres e do céu, tem chifres de vaca; Bastet, a deusa da guerra, tem uma cabeça de leoa; e Rá, o
deus-sol, um dos mais cultuados no panteão egípcio, ostenta sobre o disco solar uma cabeça de
falcão (referência). Uma exceção é o deus Osíris, ora de cor esverdeada, por representar o
brotamento da vegetação após sua morte indicada pelo final das cheias e por seu desaparecimento
no horizonte oeste por ocasião do solstício de inverno; ora de cor escura, por representar a terra
preta e úmida sobre as margens do Nilo depois da vazante, momento em que esse solo encontrava-
se enriquecido do húmus trazido pelas enchentes. Essa figura divina, apenas com exceção de sua
eventual representação com cor esverdeada, tinha aparência totalmente humana, o que nos leva,
naturalmente, a estranhar, já que a tendência em voga era a representação zooantropomórfica das
divindades mais destacadas. E Osíris era uma delas, senão a mais destacada dentre todas as
divindades de todo o panteão do Antigo Império.

Figura 03 – Ísis e Hórus, com a cruz Ansata em uma das mãos, e Osíris em seu trono de frente para o soberano egípcio.
Fonte:
A divindade Osíris com suas cores esverdeada ou escura faz referência, portanto, à
ciclicidade das cheias e vazantes do Nilo (Judd, 1996, p. 8), que em julho começava a se expandir
(estação Akhet, quando ocorriam os primeiros indícios de inundação), em setembro alcançava seu
nível máximo e em dezembro se encolhia. Essa periodicidade do volume das águas do rio refletiu-se

Página 14 de 126
em traço essencial da religião desses antigos que, a partir desse substrato simbólico, desenvolveram
a ideia do deus morto e redivivo, reproduzida na lenda de Osíris – a estória do deus morto à traição
pelo seu perverso irmão Seth e de seu ressurgimento depois de esquartejado e sepultado em
quatorze lugares distintos: o número de distritos que constituíam o Egito da época. O mito nos

Figura 04 – Os quatro grandes do Zodíaco. Fonte:


remete ao fratricídio relatado no Gênesis – a estória de Caim e Abel, os dois primeiros filhos de
Adão –, ao mesmo tempo em que pode ser tomado como arquétipo do Messias ressurreto do culto
cristão. Destaco, inclusive, que a ideia do Cristo morto e ressurreto como repetição do Mito de
Osíris pode ser corroborada pelo fato de Moisés, escritor do Pentateuco, ter sido educado sob a
cultura egípcia e ter vivido à época de Ramsés II (1290-1223 a. C.), durante a XIX dinastia do
Império Novo, portanto, pelo menos, dezessete séculos depois da formulação da Enéade
Heliopolitana, que pode ter se dado no período entre a unificação do país (3200 a. C.) e a I Dinastia
(3000 a. C.) – datas da unificação e início da I Dinastia conforme Boekhoff-Winzer (1968, p. 117).
Os registros da Egiptologia comumente relatam que os antigos egípcios imaginavam que a
vida tivesse emergido dos pântanos, e que eles concebiam a existência como uma harmonia entre o
mundo humano, o animal e o vegetal. Eles não faziam distinções entre os reinos, ao contrário de

Página 15 de 126
nossa cultura ocidental que tradicionalmente as separa em esferas distintas, reservando a superior
para os humanos e a inferior para as demais. Para aqueles antigos, tudo que era dotado de vida era
uma manifestação do sagrado.
A sacralização da existência, todavia, não era restrita ao mundo terrestre, e prova disso são
as inumeráveis referências aos aspectos celestes da Natureza, registradas, principalmente, nas
manifestações artísticas dos antigos egípcios, as quais são repletas de pinturas de constelações,
planetas, do Sol e da Lua, bem como dos céus noturnos e da faixa galáctica. Sabe-se que o zodíaco
egípcio é um dos mais antigos de que se tem notícia, e é dele que se originaram as quatro principais
constelações: Aquários, Touro, Leão e Falcão – deste último, falaremos de modo detalhado nas
considerações finais, e neste momento adiantamos duas informações que se fazem importantes: a
primeira é de ordem espaço-situacional, pois, embora esquecida por distorções dos registros
pictográficos e escritos, é sabido atualmente que sua localização se dava entre as constelações do
Sagitário e Escorpião; e a outra, por referir-se a alguma permutabilidade entre os registros egípcios
e sumérios, é de ordem histórico-cultural, pois, segundo a mitologia do Entre rios, o pássaro
zodiacal é uma águia, e, de acordo com a egípcia, esse pássaro é um falcão. Neste estudo será
considerado, portanto, que esse pássaro zodiacal esquecido através dos milênios, e que era situado
nas proximidades do centro galáctico, é um falcão (fig. 05).

Figura 05 – posições na abóbada celeste dos quatro grandes do zodíaco nas auroras, crepúsculos e meio da noite nas
datas dos equinócios e solstícios nos primórdios da civilização egípcia.
O ano novo egípcio era comemorado nas proximidades do equinócio de outono (21 de
setembro), a data mais significativa no Antigo Egito por ser carregada de sentido, já que era nesse
momento do ano que o Nilo encontrava-se com seu maior volume e seu nível aumentado em torno
de sete metros (o que acontecia no Akhet, estação das inundações). A carga de sentido atrelado a
essa data fica muito maior ainda quando passamos a considerar quais constelações figuravam na
abóbada celeste ao cair da noite, durante o crepúsculo daquele dia. Ao leste estava o Touro, no oeste
figurava o Falcão dentro do bojo galáctico e o meridiano local de Gizé destacava o Mar Celeste que
jorrava da ânfora de Aquário, e que – acreditava grande parte daqueles antigos – era o responsável
pelo enorme volume do Nilo naquela data específica (fig. 05 destaque em branco).

Página 16 de 126
Se inferirmos que as imbricações entre Zodíaco e natureza circundante não se restringiam a
Aquários e as águas que emanam de sua ânfora, mas que também envolviam as constelações do
Touro, do Falcão e do Leão, as quais eram igualmente representativas de aspectos da natureza
familiares àqueles habitantes do Nilo, descobriremos, depois de algumas relações e não muito
esforço, que essa dedução é correta, embora muito de seu significado tenha se tornado confuso ou
se perdido através das eras.
Os dias que seguiam o Equinócio de Outono iam lenta e simultaneamente baixando as águas
do Nilo e destituindo Aquários de sua posição de destaque que era alcançada quando ocupava a
parte dos céus cortada pelo meridiano da região. Assim, com o passar dos dias, o Portador das
Águas ia pouco a pouco descendo a abóbada celeste em direção ao oeste, onde se punha três meses
depois por ocasião do Solstício de Inverno.
Durante a lenta e contínua vazante que durava três meses – ao longo da qual o Touro ia
subindo do leste em direção à parte mais alta dos céus –, a porção de terra que ia sendo deixada
pelas águas, e que agora era fertilizada pelo rico húmus trazido pelo rio, ia rapidamente produzindo
nova e variada vegetação (estação do Peret, quando se davam as semeaduras) que logo servia de
forragem para o gado doméstico e vida selvagem de hábito herbívoro. Estes, equipados pela
filogênese, dispunham de um mecanismo biológico que os fazia procriar exatamente quando o
alimento era abundante (referência), e isso se dava no Solstício de Inverno, quando o nível do Nilo
atingia seu mínimo e quando vários quilômetros das margens do rio estavam cheios de gramíneas e
capim novos e a constelação do Touro destacava-se das demais quando era cortado pelo meridiano
local da região (fig. 05 destaque em preto).
A partir do Solstício de Inverno, a passagem dos dias ia lenta e continuamente destituindo o
Touro de seu lugar de destaque, de onde vagarosamente descia com direção para o horizonte oeste.
Havia mais de três meses os campos, embora ainda bastante úmidos, estavam livres das águas e
repletos da forragem já crescida (estação do Shemu, quando se davam as colheitas) , da qual se
alimentavam as vacas que aleitavam seus bezerros e as gazelas que aleitavam seus filhotes, e toda a
fauna bebia do Nilo estreitado ao máximo nesse período. Esses dois fatores ambientais – a presença
de bezerros novos e filhotes de outras fêmeas mamíferas e o estreitamente do rio – agiam
conjuntamente para atraírem os leões, que, rondando nas aldeias e circunscritos em uma área muito
menor, aterrorizavam os aldeões... E, nos céus sobre eles, a constelação do Leão era cortada pelo
meridiano local no Equinócio de Primavera (fig. 05 destaque em vermelho).
E, por último, quando o Leão já descia para o horizonte oeste, e quando o solo, já ressecado
e temporariamente abandonado pelos agricultores depois de ter sido realizado as colheitas de toda
sorte de hortaliças, frutos, grãos e sementes, estava tomado pelos camundongos – considerados por
aqueles antigos habitantes do Nilo a maior praga depois dos gafanhotos –, os inumeráveis bandos de
falcões chegavam do leste atraídos por aqueles pequenos mamíferos roedores que, por sua enorme

Página 17 de 126
quantidade em campo aberto, lhes serviam de presas fáceis. Simultaneamente a isso, então, a figura
do Falcão Sagrado atingia o alto da abóbada celeste e era cortado pelo meridiano da região (fig. 05
destaque em amarelo).

2.4.3 Osiris e o louvor à água: arquétipos para Aquários e sua ânfora.


No excerto do capítulo IV de Escada Para o Céu, Zecharia Sitchin (1980) nos apresenta uma boa
noção de como se dava a preparação do corpo do faraó para sua viagem para a Outra Vida e do
imaginário dos antigos egípcios sobre essa questão:
Imaginemo-nos no magnífico templo funerário do faraó. Depois de terem mumificado e
preparado o corpo, os sacerdotes Shem agora cantam para os deuses, pedindo-lhes para abrir
um caminho e portões. O mensageiro divino já chegou ao outro lado da porta falsa, pronto a
ajudar o faraó a passar pela parede de pedra e iniciá-lo em sua viagem.
Ao passar pela porta falsa no lado leste da tumba, o Ka do faraó recebia instruções sobre o
rumo que deveria tomar. Para não haver equívocos, ele era explicitamente alertado para não
seguir para o oeste. „Os que para lá vão, jamais voltam!‟ Seu destino era o Duat, na Terra
dos Deuses da Montanha. Lá, ele entraria na „Grande Casa dos Dois... a Casa de Fogo‟,
onde, durante uma „noite de anos somados‟, seria transformado num Ser Divino, ascendendo
„para o lado leste do céu‟.
O primeiro obstáculo na rota do faraó era o lago de Juncos, uma grande área pantanosa
constituída por uma série de lagoas contíguas. (...)
(...)
O lago de Juncos ficava situado na margem leste dos domínios de Hórus. Além dele,
localizavam-se os territórios de seu adversário, Set, as „terras da Ásia‟. (...)
Ainda descrevendo a viagem do faraó para a Outra Vida, Sitchin (1980, c. III) assinala, entre
outros destaques, os seguintes trechos do Livro dos Mortos e Textos das Pirâmides.
Primeiro trecho:
Salve,
Dois filhos de Shu!
Salve,
Filhos do lugar do Horizonte...
Posso subir?
Posso prosseguir viagem como Osíris?
Segundo trecho:

Esta caverna é o amplo salão de Osíris


No qual é trazido o vento;

Página 18 de 126
O vento norte, refrescante,
Te erguerá, oh, rei, como Osíris.
Terceiro trecho:
Saudações, divino Ascensor;
Saudações, Ascensor de Set.
Fica em pé, Ascensor de deus;
Fica em pé, Ascensor de Hórus,
Pelo qual Osíris foi para o céu...
Senhor do Ascensor...
Para quem dareis a Escada de deus?
Para quem dareis a Escada de Set,
De modo que Pepi possa por ela subir ao céu
E prestar serviço como cortesão de Rá?
Permita que a Escada de deus seja dada a Pepi;
Permita que a Escada de deus seja dada a Pepi
Para Pepi poder por ela subir ao céu.
Quarto trecho:
Oh, este Pepi!
Tu partiste
Tu és um glorioso,
Poderoso como um deus, sentado como Osíris!
Tua alma está dentro de ti;
Teu poder tens atrás de ti;
(...) a coroa-Misut está junto de tua mão.
Tu ascendes para tua mãe, a deusa do céu
Ela segura teu braço,
ela te mostra o caminho para o horizonte,
para o lugar onde está Rá.
As Portas Duplas do Céu estão abertas para ti.
As Portas Duplas do Céu estão abertas para ti.
Tu sobes, oh, Pepi... equipado como um deus.
Quinto trecho:
Tu encontras Rá parado lá;
Ele te saúda, pega teu braço;
Ele te conduz para o celestial Palácio Duplo;
Ele te coloca no trono de Osíris.

Página 19 de 126
Boekhoff-Winzer (1968, p. 120) diz-nos, ao nos contar sobre o uso de pedras nas
construções de templos para que estes durassem “para a eternidade”, que fazia parte da ritualística
desde o Antigo Império o uso de um lago sagrado disposto para a barca do deus e situado junto ao
templo, atrás do qual também havia uma tumba de Osíris de frente para a casa do nascimento, lugar
em que se celebrava o jovem deus. Pouco mais adiante no texto, quando fala das transformações
pelas quais passou a antiga e originária religião egípcia através dos Impérios Médio e Novo, o autor
nos conta sobre a substituição de um antiga condenação caracterizada pelo lançamento do
desfavorecido ao Nilo por outra que aniquilava o condenado pelo fogo, tal qual os animais
considerados “maus” ou encarnação de Seth – como cerdos, gazelas e alguns pescados – eram
oferecidos em holocaustos diante do deus. Tal substitituição dera-se – continua o autor – porque, a
esse tempo, a morte no Nilo voltou a ser considerada como morte feliz, pois se acreditava que o
condenado, ao afogar-se nas águas sagradas do rio, era assimilado diretamente por Osiris, que se
manifestava como Nilo (Winzer, 1968, p. 125). Retornando algumas páginas, ao expor sua
concepção da visão egípcia de mundo nos começos dos tempos históricos, nos conta dos reflexos
que as experiências com as cheias anuais do Nilo e a pluralidade de imagens trazidas pelas
modificações da paisagem provocaram sobre o surgimento dos mitos. Afirma que a repetição anual
da experiência vinculou-se ao extraordinário da criação do mundo e ao processo de
antropomorfização das forças naturais – o que tinha a finalidade de tornar familiares
acontecimentos que, do contrário, permaneceriam inefáveis (Winzer, 1968, p. 86).
Na página seguinte, o autor conta que os rituais não eram celebrados unicamente em razão
de sua finalidade, mas que, desde tempos primitivos, eram concebidos como atos míticos atrelados
a paralelos terrenos – e destaca que aí se funda a crença de que todo ato dispõe de sua
correspondente significação mítica. Ainda no mesmo parágrafo, o autor separa como exemplo dois
mitos originários de áreas culturais distintas e que são bastante representativos do imaginário
religioso do período em questão e mesmo em outros que o sucederam: o mito da luta dos irmãos e o
da morte de Osíris. No primeiro, “a luta dos irmãos”, tomam parte Hórus e Seth, que combatem
entre si pela supremacia. Hórus arranca os testículos de Seth, enquanto este, a seu tempo, vaza um
olho de Hórus, de modo que ambos perdem sua integridade orgânica. A “recuperação do olho” é o
acontecimento misterioso cuja significação acha-se ligada a inumeráveis atos ritualísticos. A morte
de Osíris remonta às concepções ancestrais dos pastores do âmbito do Mediterrâneo Oriental; Osíris
perece em sua luta com as feras, mas logra ressuscitar na terra por interseção de sua irmã Ísis.
Outras significações procedentes de determinados acontecimentos no vale do Nilo converteram
Osíris em imagem mítica da fertilidade da terra que anualmente é submersa por suas águas. Estes
acontecimentos, ligados a aspectos antigos e secundários, alcançaram, em tempos históricos, a
interpretação capital de qualquer ritual (Winzer, 1968, p. 87).

Página 20 de 126
Destacando a importância que a geografia e o clima tiveram no desenvolvimento da
civilização no Antigo Egito, Gerrit Judd (1966, p. 8) assinala que uma das teorias mais aceitas
concebe como causa da origem do surgimento da civilização a migração de muitos grupos de
fazendeiros do Neolítico, que, além de abandonarem as regiões menos produtivas em que
habitavam, teriam vindo para as terras marginais ao Nilo também devido à superpopulação de suas
regiões originárias. Uma vez estabelecidos nos vales do rio – continua Judd –, estes fazendeiros
defrontaram-se com um crítico desafio. A falta de chuva e a cheia anual do Nilo apresentaram
problemas difíceis para o Egito do Neolítico. Lidar com os problemas da terra de modo bem
sucedido dependeria de irrigação de larga escala, o que se conseguiria drenando os charcos e
operacionalizando um sistema elaborado de diques e canais de modo a controlar a preciosa água.
Obviamente, trabalho desse tipo requereria tanto liderança quanto cooperação de muitas pessoas.
Gradualmente, os habitantes das zonas interioranas dividiram-se em grandes comunidades, cada
uma constituindo-se em unidade política no emprego de uma tarefa econômica coletiva. Em outras
palavras, a cheia do Nilo operou como um estímulo básico na formação das incipientes cidades-
estados egípcias. Evidências convincentes apoiam esta conclusão. O antigo símbolo linguístico
egípcio (um hieróglifo) para “província” consistia de uma representação pictórica de um projeto de
irrigação e drenagem. E o autor encerra o parágrafo assinalando que „o culto da água, ou da água e
da terra, tinha um lugar proeminente nas religiões ancestrais egípcias, mesopotâmicas e de outras
civilizações que se desenvolveram em vales de rios‟.
Ao nos contar sobre o nível de preocupação com a vida depois da morte que foi
característica dos antigos egípcios, Nathaniel Platt (1961, pp. 27, 28) assinala que tal inquietação
era tão premente a ponto de inclusive dotar os sacerdotes de um poder suficiente para, em alguns
casos, destronarem os faraós. A vida daquelas pessoas era intimamente ligada com as idéias sobre
uma outra vida que teriam depois de morrerem, e acreditavam que a entrada para o mundo vindouro
abriria-se unicamente àqueles que pudessem provar que durante a vida neste mundo agiram,
sobretudo, de modo honesto. Osíris, deus da justiça e imortalidade, atuava como juiz no Reino dos
Mortos. Era ele que decidia se o falecido era digno da imortalidade. Por esse motivo, os antigos
egípcios pediam para seus corpos embalsamados e envoltos em linho serem acompanhados nos
interiores dos ataúdes de seus amuletos, certificados de boa conduta assinados por sacerdotes, e
cópias d‟O Livro dos Mortos. Este listava muitos pecados dos quais o morto tinha que estar
inocentado. Entre as coisas que o falecido deveria jurar a Osíris estavam: „Eu não assassinei. Eu não
roubei. Eu não menti.‟
Em 2008 – um ano antes de publicar os estudos que correlacionam as estrelas de Cygnus
com as estruturas do Planalto de Gizé e que comprovam a localização, no subsolo do deserto a
algumas poucas dezenas de metros ao sul da Pirâmide de Chefra, de uma entrada que corresponde à
posição relativa da estrela Deneb e que leva a um sistema de passagens subterrâneas que

Página 21 de 126
supostamente uniriam todas as estruturas arquitetônicas de Gizé –, Andrew Collins (2009)
comunicou ao Dr. Zahi Hawass, então ministro de antiguidades do Egito, sobre seu achado.
Inicialmente, Hawass não levou Collins muito a sério, mas em 2010 decidiu concentrar as
escavações no lugar, e lá encontrou as passagens ocultas. Com essa descoberta, corroborada pela
perfeita sobreposição, realizada por um satélite artificial (nome), de quatro das estrelas de Cygnus
(Delta Cygni, Gamma Cygni, Gienah e Deneb) às três pirâmides mais famosas e à entrada
correspondente da estrela Deneb, ficou assim comprovado a legitimidade da teoria de Collins, que,
desde então, passa a desbancar, por conseguinte, a famosa correlação de Robert Bauval e Adrian
Gilbert (1994) entre as mesmas pirâmides e as estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka do cinturão de
Órion.

Figura 06 – A entrada para o sistema de passagens subterrâneas. Fonte: Website oficial de of Andrew Collins.

Resumidamente, e tomando por retrospectiva os pontos trabalhados neste subítem que


intenta fundamentar os primeiros indícios da identificação de Osíris com Aquários:
a) Zecharia Sitchin assinala que, ao passar pela porta falsa no lado leste da tumba, o Ka do
faraó recebia instruções sobre o rumo que deveria tomar, e que, para não haver
equívocos, ele era explicitamente alertado para não seguir para o oeste. Seu destino era o
Duat (3), na Terra dos Deuses da Montanha, localizada depois do lago de Juncos que
ficava situado na margem leste dos domínios de Hórus.

Página 22 de 126
b) Zecharia Sitchin destaca, em sua interpretação dos Textos das Pirâmides e Livro dos
Mortos, nos quais o faraó, em sua viagem para a Outra Vida exalta os „filhos do lugar do
Horizonte‟ e lhes pede permissão para seguir viagem como Osíris; nos quais também se
fala de um „vento norte‟ que, tal como ergueu Osíris, erguerá também o faraó aos céus;
de um „ascensor de deuses‟ pelo qual Osíris foi para o céu; e de um „Palácio Duplo
Celestial‟ onde se situa o trono de Osíris; e que comparam o faraó a um deus glorioso e
poderoso, sentado (nos céus) como Osíris e equipado como um deus.
c) Boekhoff-Winzer assinala que fazia parte da ritualística desde o Antigo Império o uso de
um lago sagrado disposto para a barca do deus e situado junto ao templo, atrás do qual
também havia uma Tumba de Osíris de frente para a casa do nascimento; que a morte no
Nilo era considerada como morte feliz, pois se acreditava que o condenado, ao afogar-se
nas águas sagradas do rio, era assimilado diretamente por Osiris, que se manifestava
como Nilo; e que significações procedentes de determinados acontecimentos e suas
experiências no vale do Nilo, converteram Osíris em imagem mítica da fertilidade da
terra que anualmente é submersa por suas águas.
d) Gerrit Judd assinala que o culto da água, ou da água e da terra, tinha um lugar
proeminente nas religiões ancestrais egípcias, mesopotâmicas e de outras civilizações
que se desenvolveram em vales de rios.
e) Nathaniel Platt assinala que a entrada para o mundo vindouro abriria-se unicamente
àqueles que pudessem provar que durante a vida neste mundo agiram, sobretudo, de
modo honesto; e que Osíris, deus da justiça e imortalidade, atua como juiz no
julgamento que tira ou dá o direito de entrada no Reino dos Mortos ao faraó.
f) Andrew Collins, depois de correlacionar as estrelas de Cygnus com as estruturas de
Gizé, propôs ao arqueólogo Zahi Hawass que concentrasse suas escavações no deserto
atrás das pirâmides, onde foi encontrada uma entrada que corresponde à posição relativa
da estrela Deneb e que leva a um sistema de passagens subterrâneas;
g) Escavações feitas no lado sul da Grande Pirâmide em 1954 desenterraram os restos de
uma velha barca em estilo antigo e que media 54 metros. A antiga embarcação,
designada como “barca funerária de Quéops”, é concebida como representativa da
„Barca Sagrada de Osíris‟, peça importante e cujo uso se fazia durante os rituais fúnebres
de passagem para o Mundo dos Mortos.

_______________________________
3 – Reservo-me a tratar do Duat (“O Ascensor de Deuses“, “A passagem para a morada dos deuses”, “O Portal para o
Submundo, a Outra Vida”) em publicação posterior para não alongar ainda mais o presente trabalho.

Página 23 de 126
Nesses destaques, temos:
1. As ideias: „lago sagrado‟, „ barca do deus‟, „tumba de Osíris‟, „Osíris e a fertilidade da
terra submersa pelas águas do Nilo‟, „culto da água e da terra‟;
2. As ações: o faraó em sua viagem para a Outra Vida exalta os filhos do lugar do
Horizonte situado a leste do Egito (domínios de Hórus) e lhes pede permissão para
seguir viagem como Osíris; um vento norte que ergueu Osíris erguerá também o faraó
aos céus; um ascensor de deuses pelo qual Osíris foi para o céu;
3. As localizações: um Palácio Duplo Celestial onde se situa o trono de Osíris; uma velha
barca em estilo antigo, concebida como sendo a Barca Sagrada de Osíris, arrancada do
subsolo do lado sul da Grande Pirâmide; o faraó, um deus glorioso e poderoso, sentado
(nos céus) como Osíris e equipado como um deus;
4. As atribuições: Osíris, deus da justiça e imortalidade que atuava como juiz no Reino dos
Mortos.

Figura 07 – Osíris sentado sobre sua Barca Sagrada com Isis à popa, na constelação de Touro, e Néftis à proa,
na constelação do Escorpião. Fonte:
De posse dessas ideias, ações, localizações e atributos, podemos relacioná-los e imaginá-los
contextualmente: o faraó em sua viagem para a Outra Vida, diante do Ascensor de Deuses pelo qual
Osíris foi para o céu, exalta os filhos do lugar do Horizonte e lhes pede permissão para seguir
viagem; nesse instante o vento norte que um dia erguera Osíris aos céus começa também a elevar o
faraó para o alto. O rei aspira alcançar o Palácio Duplo Celestial onde se situa o trono de seu deus
cuja Barca Sagrada veleja nas águas de um lago celestial também sagrado; Osíris, deus da justiça e
imortalidade – e deus da fertilidade da terra que anualmente é submersa pelas águas sagradas do
Nilo – decide então sobre o destino do rei, que é admitido finalmente entre os habitantes do Reino

Página 24 de 126
dos Mortos. O faraó, jubiloso, passa então à condição de um deus também glorioso e poderoso,
sentado como Osíris sobre sua barca e equipado como um deus.
Dessas ações imaginárias, podemos destacar as ideias de que o Ascensor de Deuses refere-se
a um ponto ou região celeste em particular e a uma determinada data e horário específico, e que é
tangente ao horizonte leste através do qual o Ká do faraó, deixando o solo terrestre tal como um
falcão, segue viagem para a Outra Vida no Reino dos Mortos, localizado nos interiores de um
Palácio Duplo Celestial, onde, se admitido, acompanhará Osíris em sua eterna viagem sobre uma
Barca Sagrada Celestial que veleja nas águas de um lago também celestial. É possível ainda que se
depreenda uma referência a um momento específico do ano pela análise das ideias implícitas na
frase “nesse instante o vento norte que ergueu Osíris aos céus começa também a elevar o faraó para
o alto”, e estou convencido de que esse momento era o antigo Ano Novo egípcio.
Podemos ainda extrair noções mais exclusivas que relacionam a divindade Osíris com a
substância água que, naturalmente, mais caracteriza Aquários: as ideias presentes nos enunciados
„lago sagrado‟, „barca do deus‟, „Osíris e a fertilidade da terra submersa pelas águas do Nilo‟, „culto
da água e da terra‟, „Cenotáfio de Osíris situado sobre um lago com um canal às voltas‟; e que
assinalam a relação do deus com aspectos astronômicos e geográficos, tais como: „o faraó em sua
viagem para a Outra Vida exalta os filhos do lugar do Horizonte situados a leste do Egito e lhes
pede permissão para seguir viagem como Osíris‟, „um vento norte que ergueu Osíris erguerá
também o faraó aos céus‟, „um ascensor de deuses pelo qual Osíris foi para o céu‟, „um Palácio
Duplo Celestial onde se situa o trono de Osíris‟, „o faraó, um deus glorioso e poderoso, sentado (nos
céus) como Osíris e equipado como um deus‟; e que ainda atribui a Osíris uma condição de
supremacia quando o destaca como „deus da justiça e imortalidade que atuava como juiz no Reino
dos Mortos‟.

2.4.4 O ano novo no Egito Antigo e os quatro principais do Zodíaco: Homem, Pássaro, Leão e
Touro.
Quando se dava o Ano Novo no Antigo Egito, Horanki (Esfinge) tinha a sua frente, durante a aurora
da data referida, um imenso “mar” formado por Iteru (Nilo), e tangente ao horizonte leste estava a
figura de Hórus (Pássaro Sagrado) (4), fitado por Horanki e situado nos interiores do chamejante
Duat (bojo da Via Láctea); o Leão (que começo supor tratar-se de Seth) era cortado pelo Meridiano
de Gizé, e Ísis (Touro) se punha no horizonte oeste.

_____________________
4 - Confira nas considerações finais, no subítem 4.2.9, os achados que embasam a identificação e localização espacial
de Hórus, o pássaro mitológico egípcio mais conhecido.

Página 25 de 126
Doze horas depois, as posições se invertiam: quando avistado no horizonte oeste instantes
depois do crepúsculo, o bojo galáctico com Horus em seus interiores era a parte mais iluminada dos
céus noturnos. O meridiano de Gizé interceptava Osíris sobre sua barca sagrada (fig. 09), e no
horizonte leste destacava-se a figura de Ísis. Nessas datas e momentos específicos, o reluzente bojo
galáctico era o lugar para onde ocasionalmente corriam Marte e Júpiter, enquanto percorriam Nut
(arco eclíptico), e ainda o lugar celeste nas proximidades do qual muitas vezes também eram
avistados, por ocasião das auroras e crepúsculos, os filhos do horizonte: os planetas Shu (Mercúrio)
e Tefnut (Vênus).
Na metade da era taurina (3300 a. C.), Hórus, situado nos interiores do bojo galáctico, tinha
junto de si o Ponto Outonal, e Ísis, situada em um ponto da Eclíptica diametralmente oposto, tinha
perto de si o Ponto Vernal. A data de Ano Novo, sendo muito próxima do Equinócio de Outono e
coincidente com as cheias de Iteru, era a desencadeadora das festas ansiosamente esperadas ao
longo dos últimos doze meses, e que tomariam todo o dia claro e parte da noite.
Nut constituía-se em via celeste para a Barca de Rá (o Sol) em sua viagem periódica para o
Duat, que era concebido ainda como „Portal para o Submundo‟, „Passagem para a Outra Vida‟,
„ninho do pássaro sagrado‟, „Casa de Hórus‟, lugar imaginado como a „passagem para a morada dos
deuses‟ e lugar para onde se dirigiam os „divinos planetas‟ (Sampaio, 2011). E Osíris, sentado sobre
sua Barca Sagrada, situava-se em Nut a meio caminho tanto de Ísis como de Néftis/Escorpião, em
sua „viagem de um milhão de anos‟ nos interiores do Palácio Duplo Celestial (Esfera Celeste
dividida pelo Disco Galáctico em dois hemisférios – figs. 10, 11).

Figura 08: Néftis como escorpião. Fonte:


Ocasionalmente, os celebrantes eram agraciados com a presença de Chon (Lua), cuja luz era
refletida, a partir do crepúsculo, nas águas de Iteru, abundantemente esparramadas sobre Geb (terra,
superfície às margens do Nilo).
No crepúsculo da data do Ano Novo, no período precessional referido, destacavam-se três
estrelas em especial: Sirius, no leste, na constelação Cão Maior, indicativa do Ano Novo;
Aldebaran, o “Olho do Touro”, também no leste, representada pelo globo vermelho entre os cornos
de Ísis (fig. 07), a deusa da fertilidade; e Antares, no oeste, na Constelação do Escorpião, indicada

Página 26 de 126
pelo disco sobre a cabeça de Néftis/Escorpião (fig. 07), cuja figura muitas vezes era representada
com uma cabeça de mulher e o corpo daquele aracnídeo (fig. 08). E o meridiano de Gizé – como já
dito – interceptava Osíris, concebido por aqueles antigos como o responsável pelas grandes águas
de Iteru.

Figura 09: Delineamento da antiga constelação de Osíris sobre sua barca há muito substituído por Aquários e
sua ânfora.
Como foi assinalado nos primeiros momentos deste tópico que trata da religião do Egito
Antigo, a Cultura do Mediterrâneo Oriental influenciou significativamente os sistemas religiosos do
Antigo Egito. O mesmo se dava quando uma dinastia divina do Mediterrâneo Oriental atingia seu
final e era substituida por outra cuja consolidação significava o extermínio dos antigos sacerdotes,
destruição dos lugares de adoração e adaptação dos rituais e textos sagrados ao culto da imagem do
novo deus. No mesmo período em que a supremacia do deus Marduk se consolidava em terras
babilônicas, o culto a Amon-Rá ganhava força no Egito, em detrimento da adoração a Osíris. Sobre
este mesmo tema, no capítulo nove de O Paraíso de Dimas e os Mitos – Uma Busca das Origens da
Religião (Sampaio, 2011), destaco que o Enuma Elish apresenta como grande herói o deus Nibiru,
enquanto versões babilônicas atribuem esse papel a seu deus Marduk, e que isso pode ser
compreendido se tivermos em conta que o rei Hamurabi (1792/1750 a. C.) fundiu os antigos
registros sagrados contendo os mitos populares dos antigos sumérios em um único livro: a “Epopeia

Página 27 de 126
do deus Marduk” – que, a propósito, era lida no início de todas as festas de seu reino para
consolidação da supremacia nacional do novo deus.
Tal como se dera com o Nibiru sumério (o Hórus egípcio), a localização originária de Osíris,
sentado sobre sua barca celestial em sua eterna viagem nas águas sagradas do rio celeste que a
levam, e a localização de suas irmãs Ísis e Néftis (constelações onde se destacam as estrelas
Aldebaran e Antares, que o guiavam como holofotes naturais em sua viagem rumo ao Duat) são
levados ao esquecimento para que a hegemonia de Amon-Rá se consolide. E no lugar de Osíris e
sua Barca Sagrada surge Aquários e sua ânfora, de onde passariam a jorrar as águas responsáveis
pelas enchentes do Nilo, tal como a constelação continua a ser ilustrada até os dias atuais (fig. 09).
Em suma: esta primeira análise, através do que vimos neste subítem sobre religião, tem como
fim adiantar alguns dos embasamentos com os quais proponho que Aquários é uma representação
modificada da mesma faixa zodiacal onde figurava Osíris sobre sua barca sagrada. Muito mais
sobre essa relação será visto ao longo do desenvolvimento deste trabalho.

2.5 Conceitos astronômicos e geográficos relevantes para o estudo.


Para um entendimento mais efetivo das propostas e descobertas deste estudo, necessitaremos
primeiro rever alguns conceitos pertinentes aos campos da Astronomia e Geografia.

2.5.1 Polo Norte Celeste e Polo Sul Celeste.


São os dois pontos da Esfera Celeste interceptados pelo prolongamento do Eixo Rotacional da
Terra.
2.5.2 Esfera Celeste.
A Esfera Celeste é o resultado do “mapeamento” dos céus através do cruzamento de ascensões retas
(RAs) que interceptam os polos celestes e declinações (DECs) que são são obtidas pela medição da
distância em graus relativamente ao Equador Celeste. O sistema de coordenadas celestes mais
conhecido é o Sistema Equatorial de Coordenadas Celestes, e é análogo ao sistema de coordenadas
da superfície de nosso planeta, ou seja, através do cruzamento de círculos verticais que interceptam
os polos geográficos e círculos horizontais paralelos ao à linha do Equador.

2.5.3 Eixo Rotacional da Terra.


É o eixo imaginário que intercepta os polos geográficos e celestes, e que está inclinado atualmente
de um ângulo de 23,5 graus (obliquidade) em relação ao plano orbital da Terra (Eclíptica).

2.5.4 Obliquidade.
Obliquidade é a inclinação do eixo rotacional de um planeta relativamente a seu plano orbital (plano
eclíptico).

Página 28 de 126
2.5.5 Equador Celeste.
O Equador Celeste é um círculo máximo celeste resultante da projeção na Esfera Celeste do círculo
formado pela linha do Equador Geográfico.

2.5.6 Círculos Horários e Grandes Círculos.


Círculos Horários são grandes círculos que, além de interceptarem o zênite e o nadir em uma dada
coordenada geográfica, interceptam também os polos norte e sul da Esfera Celeste. Cada círculo
horário, cruzando o Equador Celeste em ângulo de 90 graus, vai em direção aos polos norte e sul da
Esfera Celeste. Grandes Círculos apenas interceptam o zênite e o nadir de certa coordenada
geográfica, sem interceptarem os polos.

2.5.7 Zênite e Nadir.


O zênite é o ponto mais alto da abóbada celeste, considerando-se uma coordenada geográfica
específica; e Nadir é o ponto da esfera celeste diametralmente oposto ao zênite e unido a ele por
uma reta que passa pelo centro do planeta.

2.5.8 Ascensão reta (RA) e declinação (Dec.) de um ponto celeste.


A RA de um ponto celeste marca a distância que o círculo horário que intercepta o ponto celeste
tem do círculo horário que intercepta o Ponto Vernal. A Dec. de um ponto celeste marca a distânci
entre um circulo celeste paralelo ao Equador Celeste e este (fig. 10). As RAs são medidas em horas,
minutos e segundos (que são conversíveis a graus); e as Decs são medidas em graus, minutos e
segundos, podendo elas serem positivas (se o ponto celeste estiver no Hemisfério Norte Celeste),
negativas (se o ponto estiver no Hemisfério Sul Celeste) ou nulas (se o ponto coincidir com a Linha
do Equador Celeste.

2.5.9 Pontos vernal e outonal.


O ponto vernal é o ponto de intersecção entre o Equador Celeste e a Eclíptica; o ponto outonal é o
ponto diametralmente oposto ao ponto vernal e também é um ponto de intersecção entre o Equador
Celeste e a Eclíptica.

2.5.10 Hemisférios Celestes.


A Esfera Celeste é dividida pelo Equador Celeste do Sistema Equatorial de Coordenadas em dois
hemisférios, os hemisférios norte e sul celestes.

2.5.11 Hemisférios Celestes e Hemisférios Galácticos.

Página 29 de 126
Os hemisférios celestes do Sistema Equatorial de Coordenadas não coincidem com os hemisférios
do Sistema Galáctico de Coordenadas. Observe na figura 11 que o Polo Norte Celeste – onde nos
dias atuais situa-se a estrela Polaris, que é interceptada pelo prolongamento do Eixo Rotacional da
Terra que passa pelo centro do planeta – de modo algum pode ser confundido com o Polo Norte
Galáctico, cujo eixo passa pelo centro do Sol.

Figura 10 – Esfera celeste e o Sistema Equatorial de Coordenadas.

2.5.12 Ano Cósmico.


Um ano cósmico tem a duração de 25 920 anos e é constituído de 12 eras zodiacais de 2160 anos.
Isto está relacionado com o fenômeno da Precessão, que é decorrente do efeito gravitacional do Sol,
da Lua e dos outros planetas sobre a Terra e é o responsável pelo atraso anual de 0,013 grau sofrido
pela orientação do eixo rotacional de nosso planeta.

2.5.13 Tempo Sideral.


Determinamos a hora sideral em uma coordenada geográfica específica através da verificação de
qual meriano celeste é coincidente com o meridiano local. Cada meridiano celeste tem um valor
horário específico. Assim, por exemplo, se em um dado momento do dia em Gizé o meridiano

Página 30 de 126
celeste coincidente com o meridiano local for aquele cujo valor horário é 19h 56m e 18s, o tempo
sideral em Gizé naquele instante terá esse mesmo valor. Ou seja, 19h 56m e 18s.

Figura 11 – Planos longitudinal (disco galáctico) e transversal da Via Láctea e que interceptam o Sol.

2.5.14 Círculo Norte Polar Celeste.


É o círculo formado nos céus do norte por todos os pontos que em algum momento do Ano
Cósmico (momento precessional) constituíram-se em Polo Norte Celeste.

2.5.15 Estrelas circumpolares.


Estrelas circumpolares são estrelas coincidentes com a linha do Círculo Polar Celeste ou dela muito
próximas e que em algum momento do Ano Cósmico são interceptadas pelo Eixo Rotacional de
nosso planeta. Polaris, Thuban e Vega são exemplos de estrelas circumpolares e caracterizam-se
ainda por sua importância mitológica.

2.5.16 Plano Eclíptico.

Página 31 de 126
É a projeção do equador do Sol (Eclíptica) na Esfera Celeste. As órbitas dos planetas da família do
Sol obedecem ao plano eclíptico de nossa estrela.

2.5.17 Plano do Disco Galáctico e Plano Transversal ao Disco Galáctico.


Observe que nossa galáxia, a Via Láctea, por exibir uma forma basicamente circular e achatada,
comparável ao formato de um ovo frito com sua parte mais rombuda (o bojo galáctico) coincidindo
com a gema, apresenta necessariamente dois planos geométricos, um longitudinal (o plano do Disco
Galáctico), que obviamente coincide com sua maior extensão; e um transversal ao Disco Galáctico
e que perpassa os nodos dos planos do Disco Galáctico e eclíptico.

2.5.18 Nodos entre os planos do disco galáctico, eclíptico e equatorial.


Nodos são pontos comuns a planos astronômicos distintos. Assim os pontos Quatro Alpha (RA 6h;
DEC 23º 26.1‟ N) e Quatro Gamma (RA18h; DEC 23º26.1‟ S) são os nodos comuns aos planos do
disco galáctico e eclíptico; o ponto Quatro Beta (RA 18h52m7.2s; DEC = 0) é um do par de nodos
entre os planos do disco galáctico e equatorial; e os pontos vernal (RA 0; DEC 0) e outonal (RA
12h; DEC 0) são os nodos entre os planos eclíptico e equatorial.

3.0 DESENVOLVIMENTO.
3.1 Descrição da Grande Pirâmide.
Desde a infância tenho notado o efeito da dinâmica celeste sobre as constelações observáveis da
capital paraense e regiões interioranas do Estado – com destaque para as três Marias (Cinturão de
Órion) –, e o movimento aparente do Sol. Quando tinha quatro ou cindo anos, ao acordar para
urinar pouco antes do dia raiar, encantava-me com a resplandecente Estrela Dalva (o planeta Vênus)
sobre as águas negras do rio Acará, no lado leste de minha antiga casa ribeirinha construída em
madeira, cuja cozinha não tinha paredes. No inverno de 1996, já com 23 anos, estive na fronteira
entre França e Suíça, e naquela ocasião o movimento aparente do Sol chamou-me a atenção: a
altura máxima do astro relativamente à linha do horizonte naquele período do ano não era a mesma
observada em Belém do Pará, cidade situada praticamente sobre a Linha do Equador (Lat.
01°27‟21‟‟S; Long. 48°30‟16‟‟W). Voltando da Europa, passei a morar na fronteira do Brasil com a
Bolívia, numa casa cujo alinhamento também coincidia com os pontos cardeais, com os fundos para
o oeste, onde se destacavam na linda paisagem as montanhas bolivianas. Minhas observações do
deslocamento do Sol entre os cumes daquelas formações rochosas durante o crepúsculo mostraram-
me desta vez os pontos de parada dos solstícios. Mas, foi outra experiência com fenômenos
celestes, durante minha estada naquela fronteira, que mais me impressionou: em 10 de março de
2003, avistei às 4h30 da madrugada uma espécie de explosão estelar no ponto médio dos céus, que
se deu aparentemente no zênite do lugar. Essas experiências somadas estimularam-me então ao

Página 32 de 126
estudo da Astronomia e outras ciências na área das humanas que dela fazem uso atualmente, como a
Arqueologia e a Mitologia, e, entre os diversos autores encontrados nas pesquisas, estava o saudoso
Zecharia Sitchin, cuja série Crônicas da Terra é composta dos livros que há 12 anos têm-me
fornecido os dados necessários e auxiliado na seleção das diversas fontes usadas em minhas
investigações.
Meu intuito principal nesta breve introdução ao desenvolvimento de meu estudo é
exatamente a citação dos eventos que chamaram minha atenção para a coisa astronômica e o
consequente contato com as leituras que me iniciaram nesses estudos. Entre os autores, dou
destaque especial a Sitchin, e o faço com a intenção de ressalva de que, embora algumas
interpretações dadas por ele aos diversos achados de suas pesquisas sejam talvez equivocadas, isto
não anula a importância de seu magnífico trabalho, que pode ser medida pela quantidade enorme de
rico material analisado e disponibilização das diversas fontes utilizadas pelo autor. Sitchin deve ser
visto, portanto, como homem de ciência passível de limitações, do mesmo modo como o foram até
mesmo alguns dos expoentes do saber humano universal, como bem ilustram – conforme o cita
Marcelo Gleiser (1997) em A Dança do Universo: Dos Mitos de Criação Ao Big-Bang – os casos
de Copérnico e seu “aristotelismo”, Kepler e seus “sólidos platônicos” metafísicos e Ticho e sua
religiosidade ao resguardar a posição da Terra no centro de seu sistema „quase perfeito‟.
Portanto, muitos dos embasamentos usados nesta pesquisa referir-se-ão às fontes citadas por
Sitchin e a alguns dos próprios achados do autor, e – se me permitem a comodidade – começaremos
fazendo uso de uma transcrição ipsis litteris de uma longa descrição que ele fez da Grande Pirâmide
e de sua narrativa dos eventos que antecederam a construção daquela gigantesca e enigmática
estrutura – os melhores por mim já encontrados.
Conta-nos Sitchin (2002) em A Escada para o Céu:
Existem muitas pirâmides e estruturas piramidais no Egito, que salpicam toda a região que
vai desde o delta do Nilo, ao norte, até o sul (penetrando inclusive na Núbia). Mas, quando
alguém fala em pirâmides, todas as cópias, variações e “minipirâmides” de épocas mais
recentes são desconsideradas e tanto eruditos como leigos focam sua atenção nas vinte e
poucas pirâmides que, segundo se diz, foram construídas por faraós do Antigo Império
(cerca de 2700-2180 a. C.). Esses monumentos, por sua vez, estão divididos em dois grupos
distintos: as claramente identificadas com governantes da 5ª e 6ª dinastias (como Unas, Teti,
Pepi etc.), elaboradamente decoradas, e onde se encontram inscritos os famosos Textos das
Pirâmides, e as mais antigas, atribuídas a reis da 3ª e 4ª dinastias. São estas, as primeiras
pirâmides de que se tem notícia, que mais nos intrigam. Muito mais grandiosas, mais
sólidas, mais exatas e mais perfeitas do que todas que vieram depois, elas também são as
mais misteriosas, pois não fornecem nem ao menos uma única pista para revelar os segredos

Página 33 de 126
de sua construção. Quem as erigiu, como, por que e até mesmo quando, ninguém sabe ao
certo. Existem apenas teorias e suposições acadêmicas. (p. 295).
Os livros escolares nos contam que a primeira delas foi construída por um rei
chamado Djoser, o segundo faraó da 3ª Dinastia (cerca de 2650 a. C. pela maioria das
contagens). Escolhendo um lugar a oeste de Mênfis, no platô que servia de necrópole
(cidade dos mortos) daquela antiga capital, ele deu ordens para seu brilhante cientista e
arquiteto, Imhotep, para erigir uma tumba que superasse todas as outras já existentes. Até
aquela época, o costume reinante era escavar um túmulo no solo pedregoso, enterrar o rei e
depois cobrir a sepultura com uma grande lápide horizontal chamada „mastaba‟ que com o
tempo foi assumindo proporções muito substanciais. O engenhoso Imhotep, segundo alguns
eruditos, cobriu a mastaba original da tumba de Djoser com várias camadas de pedras
menores, assentadas em duas fases de construção, obtendo assim uma pirâmide em degrau.
Ao lado dela, dentro de um grande pátio retangular, foi erigida uma grande variedade de
prédios funcionais e decorativos, capelas, templos funerários, depósitos, alojamento de
criados etc. Em seguida, cercou-se toda a área com uma magnífica muralha. A pirâmide e as
ruínas de alguns desses prédios ainda podem ser vistos em Sakkarah (...). (p. 295).
Os reis que se seguiram a Djoser, continuam a nos contar os livros escolares,
gostaram muito do que viram e tentaram imitar seu antecessor. Parece ter sido Sekhemkhet,
que ascendeu ao trono logo depois de Djoser, que começou a construir a segunda pirâmide
em degraus, também em Sakkarah. Por motivos ignorados, ela nunca chegou a ser
terminada. É possível que o ingrediente que faltou tenha sido o gênio de Imhotep, mestre da
ciência e engenharia. Uma terceira pirâmide em degraus – na verdade, apenas um monte de
entulho contendo as ruínas de seus alicerces – foi descoberta entre Sakkarah e Gizé, ao
norte. Menor que as anteriores, ela é logicamente atribuída ao faraó que veio depois dos dois
anteriores, chamado Khaba. Certos especialistas acreditam que houve uma ou duas
tentativas posteriores, por parte de faraós não identificados da 3ª Dinastia, de construírem
pirâmides, mas elas fracassaram. (p. 296).
Agora temos de ir a uns 45 quilômetros ao sul de Sakkarah, a um lugar chamado
Meidum, para visitar a pirâmide que, cronologicamente, é considerada a quarta na fila. Na
ausência de indícios consistentes, presume-se que ela tenha sido construída pelo faraó que se
seguiu aos anteriores, chamado Huni. Por meio de evidências circunstanciais, afirma-se que
ele apenas iniciou a obra e que a tentativa de terminar a pirâmide coube a seu sucessor,
Snefru, o primeiro rei da 4ª Dinastia. (p. 296).
Ela começou, como as anteriores, sob a forma de uma pirâmide em degraus, mas, por
motivos totalmente ignorados, para os quais não existem nem mesmo teorias, seus
construtores resolveram fazer uma pirâmide “de verdade”, ou seja, com lados planos. Isso

Página 34 de 126
significava que uma camada de revestimento, constituída de pedras polidas, deveria ser
assentada num ângulo bastante agudo. Também por motivos desconhecidos, escolheu-se um
ângulo de 52 graus. Todavia, aquilo que, segundo os livros, seria a primeira pirâmide
verdadeira, terminou em triste fracasso. A camada externa, os enchimentos de pedras
menores e parte do próprio núcleo desabaram sob o peso das pedras colocadas umas em
cima das outras nesse ângulo precário. Tudo o que resta dessa tentativa é parte do núcleo
sólido, cercado de um monte de entulho. (p. 297).
Alguns estudiosos, como Kurt Mendelssohn, em “The Riddle of the Pyramids”,
sugerem que Snefru, quando essa pirâmide ruiu, estava construindo uma outra um pouco ao
norte de Meidum. Apressadamente, seus arquitetos modificaram o ângulo de construção,
que, sendo menor (43 graus), garantiu maior estabilidade e reduziu a altura e massa da
pirâmide. Foi uma decisão sábia, como comprova o fato de esse monumento,
apropriadamente chamado de pirâmide Torta, ainda permanecer em pé. (p. 297).
Incentivado pelo seu sucesso, Snefru ordenou a construção de outra pirâmide
verdadeira perto da torta. Ela é chamada de pirâmide Vermelha, devido à cor de suas pedras.
Supostamente ela representa a realização do impossível: uma forma triangular erguendo-se a
partir de uma base quadrada, com lados de 200 metros de comprimento, tendo uma altura de
100 metros. O triunfo, contudo, não foi obtido sem um pouquinho de trapaça: em vez da
inclinação perfeita, com 52 graus, as faces dessa “primeira pirâmide clássica” elevam-se
num ângulo muito mais seguro de 44 graus... E assim chegamos, como querem os eruditos,
ao máximo em construção das pirâmides egípcias. (p. 297).
Snefru foi o pai de Khufu, a quem os historiadores gregos chamavam de Quéops.
Imagina-se que o filho, seguindo os passos do pai, construiu a segunda verdadeira pirâmide,
só que muito maior e grandiosa, a Grande Pirâmide de Gizé. Ela ergue-se há milênios nesse
local, em companhia de duas outras, atribuídas aos sucessores de Quéops – Chefra (Quéfren)
e Men-Ka-ra (Miquerinos) –, e as três estão cercadas de templos, mastabas, tumbas e a única
e singular Esfinge. Embora atribuídas a faraós diferentes, elas obviamente foram planejadas
e executadas como um grupo coeso, perfeitamente alinhadas com os pontos cardeais e
também entre si. De fato, as triangulações que começam nesses monumentos podem ser
ampliadas para medir todo o Egito – e, para ser exato, toda a Terra. Os que primeiro se
deram conta disso em tempos modernos foram os engenheiros de Napoleão, escolhendo o
ápice da Grande Pirâmide como o ponto focal a partir do qual triangularam e mapearam todo
o Baixo Egito. (p. 299).
A tarefa ficou bem mais fácil quando se descobriu que o complexo de Gizé está
situado bem sobre o paralelo 30 norte. Ele foi construído na borda leste do platô líbio, que
começa na Líbia, a oeste, e estende-se até as margens do Nilo. Embora eleve-se apenas 45

Página 35 de 126
metros acima do vale do rio, Gizé oferece uma visão abrangente e não obstruída dos quatro
cantos do horizonte. A Grande Pirâmide fica na borda nordeste de uma protuberância do
platô e a poucas dezenas de metros ao norte e leste tem início um terreno arenoso e
lamacento, onde seria impossível erigir estruturas tão imensas. Um dos primeiros cientistas a
fazer medições precisas, Charles Piazzi Smyth (Our Inheritance in the Great Pyramid)
estabeleceu que o centro da Grande Pirâmide fica na latitude norte 29º 58‟ 55” – a um mero
1/6 de grau do paralelo 30. O centro da Segunda Pirâmide fica apenas a 13 segundos (13/3
600 de grau) ao sul do paralelo. (p. 299).
O alinhamento com os quatro pontos cardeais; a inclinação dos lados num ângulo de
52 graus e alguns minutos – no qual a altura da pirâmide em relação à circunferência que
circunscreve sua base é a mesma de um raio de círculo em relação com sua circunferência;
as bases quadradas, montadas em plataformas perfeitamente niveladas; todos esses
parâmetros denunciam um alto nível de conhecimento de matemática, astronomia,
geometria, geografia e, claro, arquitetura e construção, bem como uma enorme habilidade
administrativa para mobilizar a mão-de-obra e planejar e executar projetos tão imensos e de
longo prazo. O espanto aumenta ainda mais quando se percebem as complexidades
interiores, a precisão das galerias, corredores, câmaras, dutos e aberturas dentro das
pirâmides, suas entradas ocultas (sempre na face norte), os sistemas de fechamento e encaixe
– todos invisíveis para quem está do lado de fora, todos perfeitamente alinhados uns com os
outros, todos executados no interior dessas montanhas artificiais enquanto elas iam sendo
construídas camada após camada de pedras. (p. 299).
Embora a Segunda Pirâmide (Quéfren) seja apenas um pouco menor que a Grande
Pirâmide (alturas: 143,35 e 146,4 metros; lados da base: 215,64 e 230,58 metros), foi sempre
esta que despertou o interesse e a imaginação de estudiosos e leigos desde que os homens
puseram os olhos nesses monumentos. Ela foi e continua sendo a maior construção em pedra
do mundo, possuindo entre 2,3 e 2,5 milhões de blocos de calcário amarelo (núcleo),
calcário branco (revestimento polido) e granito (laterais e teto de câmaras e galerias
interiores etc.). A massa total, estimada em aproximadamente 2,6 milhões de metros cúbitos,
pesando 7 milhões de toneladas, segundo os cálculos, excede a de todas as catedrais, igrejas
e capelas somadas, construídas na Inglaterra desde o início do Cristianismo. (p. 300).
A Grande Pirâmide está assentada sobre solo artificialmente nivelado e eleva-se a
partir de uma fina plataforma, cujos cantos são marcados por conexões de função
desconhecida. Apesar da passagem dos milênios, deslocamentos continentais, o balanço da
Terra em torno de seu próprio eixo, terremotos e o imenso peso da própria pirâmide, a
plataforma de base, relativamente fina (menos de 7 metros de espessura), continua intacta e

Página 36 de 126
perfeitamente nivelada. O erro ou variação em seu alinhamento horizontal é de menos de 3
centímetros ao longo dos 231 metros de comprimento dos lados da plataforma. (p. 301).
À distância, as três pirâmides de Gizé parecem ter faces lisas, mas quem se aproxima
delas vê que elas são um tipo de pirâmide em degraus, construídas camada após camada (os
especialistas as chamam de “cursos”) de pedras, cada uma menor que a anterior. De fato,
estudos modernos sugerem que a Grande Pirâmide é em degraus em seu núcleo, cuja
estrutura foi calculada para suportar grandes esforços verticais. O que a fazia ter faces lisas
era a camada de revestimento. Essas placas foram removidas na época da dominação árabe e
usadas na construção da cidade do Cairo, mas algumas delas ainda podem ser vistas em sua
posição original no alto da Segunda Pirâmide e umas poucas foram descobertas na base da
Grande Pirâmide. Essas placas de revestimento determinavam o ângulo da pirâmide e
constituem as pedras mais pesadas empregadas na construção. As seis faces de cada bloco
foram cortadas e polidas com uma exatidão que só se encaixa dentro de padrões ópticos,
pois se ajustavam não somente às pedras do núcleo que cobriam, mas também a suas
vizinhas nos quatro lados, formando em seu conjunto uma área de precisão de 8,5 hectares
de blocos de calcário. (p. 301).
Atualmente as pirâmides de Gizé não têm mais os ápices ou espigões, também em
forma piramidal (os “pyramidions”), e que deviam ser de metal ou revestidos dele,
exatamente como as pontas dos obeliscos. Quem os retirou de tão grande altura, quando e
por que, não se sabe. O que se tem conhecimento, contudo, é de que em pirâmides de épocas
posteriores essas pedras de ápice, parecidas com o Ben-Bem de Heliópolis, eram feitas de
granito especial e possuíam muitas inscrições. A da pirâmide de Amen-em-khet, em Dachur,
encontrada enterrada a alguma distância dela tinha o emblema do Disco Alado e a inscrição:
“O rosto do rei Amem-em-Khet está aberto / Para ele poder contemplar o Senhor da
Montanha da Luz / Quando ele veleja pelo firmamento.” (p. 302).
Heródoto visitou Gizé no século V, época em que as pirâmides ainda mantinham as
placas de revestimento, mas ele não menciona a presença de ápices. Como tantos outros
antes e depois dele, o historiador grego ficou imaginando como esses monumentos –
considerados como uma das Sete Maravilhas do mundo antigo – podiam ter sido
construídos. Seus guias o informaram que tinham sido necessários 100 mil homens,
substituídos a cada três meses, e “dez anos de opressão do povo”, apenas para se construir a
rampa até o local da obra, para possibilitar o transporte dos blocos de pedra. “A pirâmide em
si exigiu vinte anos de construção.” Heródoto nos transmitiu a informação de que foi o faraó
Quéops (Khufu) que ordenou a construção da Grande Pirâmide, mas não explica como nem
por quê. Ele também atribuiu a Quéfren (Chefra) a construção da Segunda Pirâmide, “com
as mesmas dimensões da primeira, só que 12 metros mais baixa”, e disse que Miquerinos

Página 37 de 126
(Menkara) “também deixou uma pirâmide, mas muito inferior em tamanho àquela
construída por seu pai”, deixando implícito que se tratava da Terceira Pirâmide de Gizé. (p.
303).
No século I, o geógrafo e historiador grego Estrabão registrou não apenas sua visita
às pirâmides, mas também sua „entrada‟ na Grande Pirâmide por uma abertura na face norte,
escondida por uma pedra articulada. Depois de descer um corredor longo e estreito, ele
atingiu um buraco cavado no leito rochoso sob a plataforma, como tantos outros turistas
gregos e romanos já haviam feito antes dele. (p. 303).
A localização dessa entrada acabou sendo esquecida nos séculos que se seguiram e,
quando o califa Al-Mamun tentou entrar na Grande Pirâmide no ano de 820, precisou
empregar um verdadeiro exército de engenheiros, ferreiros e pedreiros para perfurar as
pedras, abrindo um túnel até o núcleo. O que o incentivou a empreender essa obra foi o
interesse científico aliado à cobiça, pois o califa estava a par das antigas lendas que
afirmavam a existência, no interior da pirâmide, de uma câmara secreta onde na Antiguidade
haviam sido escondidos mapas celestes e terrestres, inclusive globos, bem como “armas que
não enferrujam” e “vidro que pode ser dobrado sem quebrar”. (p. 303).
Rachando os blocos de pedra com aplicação de calor e frio alternados, arrebentando-
os com martelos e picaretas, os homens de Al-Mamun avançaram centímetro por centímetro.
Estavam a ponto de desistir quando ouviram o barulho de uma pedra caindo, indicando que
perto dali havia alguma cavidade. Com renovado vigor, eles continuaram quebrando as
pedras e acabaram por atingir o Corredor Descendente (fig. 19). Subindo-o, chegaram à
entrada original, que não tinham visto do lado de fora. Descendo, encontraram a cavidade
subterrânea descrita por Estrabão. Um túnel que dela saía não levava a lugar nenhum. (p.
303).
No que dizia respeito aos aventureiros, todos seus esforços tinham sido em vão. As
outras pirâmides fora de Gizé, que tinham sido demolidas ou penetradas, possuíam a mesma
estrutura interna: um Corredor Descendente, levando a uma ou mais câmaras. Todavia, na
Grande Pirâmide elas não existiam. Não havia mais segredos a serem descobertos... (p. 305).
O destino, porém, interveio. Fora o som de uma pedra caindo no vazio que
estimulara os homens de Al-Mamun a continuar o trabalho. Quando estavam para desistir
mais uma vez, viram uma pedra caída no corredor. Ela era triangular, um formato bastante
estranho. Examinando o teto, os trabalhadores descobriram que ela servira para esconder de
vista um grande bloco de granito posicionado em ângulo em relação à passagem. Esse bloco
esconderia o cantinho para uma câmara realmente secreta – jamais penetrada antes? (p. 305).
Como não tinham meios de mover ou quebrar o bloco de granito, os homens do
califa continuaram aprofundando o túnel que tinham escavado nas pedras de calcário, para

Página 38 de 126
dar a volta em torno dele. Descobriram então que aquele bloco era o primeiro de uma série
de pedras que granito e calcário que obstruíam um Corredor Ascendente, posicionado num
ângulo de 26 graus, o mesmo do Corredor Descendente (e exatamente metade do ângulo de
inclinação das faces da pirâmide). No alto do corredor, uma passagem horizontal levava para
um cômodo meio quadrado, com teto inclinado em V invertido (fig. 33), com um nicho
incomum em sua parede leste. Ele estava totalmente vazio e não tinha nem mesmo
decoração. Mais tarde descobriu-se que essa câmara fica exatamente no meio do eixo norte-
sul da pirâmide – fato cujo significado ainda não foi decifrado. Esse cômodo tornou-se
conhecido como a câmara da Rainha, mas o nome é baseado em ideias românticas, pois não
existe o menor sinal de evidências para corroborar essa designação. (p. 305).
A partir do final do Corredor Ascendente foi encontrada uma Grande Galeria,
mantendo o mesmo ângulo de 26 graus e estendendo-se por 46 metros de construção
intrincada e precisa (fig. 33). O piso rebaixado é flanqueado por duas rampas que
acompanham toda a extensão da galeria e em cada uma delas há orifícios retangulares,
igualmente espaçados. As paredes têm mais de 5,5 metros de altura e a largura da galeria vai
se estreitando progressivamente, de modo que, no seu ponto mais alto, o teto tem a mesma
largura do piso rebaixado. A galeria termina numa plataforma formada por um enorme bloco
de pedra. Dali, uma passagem, curta e estreita (apenas 1 metro de altura) leva a uma
antecâmara de construção complexa, equipada para abaixar com uma manobra simples
(talvez um puxar de cordas) três placas de granito sólido que podiam descer na vertical,
obstruindo a passagem e impedindo o avanço. (p. 306).
Outra pequena passagem, com altura e largura similares à anterior, leva para um
cômodo de teto muito alto, feito de granito vermelho polido – a chamada câmara do Rei (fig.
33). Ela foi encontrada vazia, exceto por um bloco de granito, lavrado de modo a sugerir o
formato de um ataúde sem tampa. Seu preciso acabamento inclui sulcos para a instalação de
uma tampa ou cobertura e suas medidas, como já bem determinado, demonstram um
profundo conhecimento de complexas fórmulas matemáticas. Na câmara também não havia
qualquer tipo de decoração. (p. 306).
Os homens do califa Al-Mamun certamente pensaram o que todos têm pensado
desde então. Toda essa montanha de blocos de pedra foi erigida somente para esconder um
“baú” dentro de uma câmara secreta? As marcas de fuligem deixadas por tochas e as
palavras do historiador Estrabão atestam que o Corredor Descendente foi bastante visitado
na Antiguidade. No entanto, o Ascendente estava perfeitamente lacrado ao ser descoberto
pelos trabalhadores de Al-Mamun no século IX. As teorias sempre afirmaram que as
pirâmides eram tumbas reais construídas para protegerem as múmias dos faraós e os
tesouros com elas enterrados de ladrões ou profanadores que poderiam perturbar a paz

Página 39 de 126
eterna do falecido. Sendo assim, o bloqueio dos corredores deveria ter sido executado logo
depois da colocação do sarcófago na câmara. No entanto, o que se encontrou foi uma
passagem obstruída com perfeição e, atrás dela, absolutamente nada, exceto um ataúde de
pedra. (p. 306).
Com o passar do tempo, outros governantes, cientistas e aventureiros entraram na
Grande Pirâmide e fizeram túneis e orifícios, descobrindo outros aspectos de sua estrutura
interior, inclusive dois conjuntos de dutos que alguns acreditam serem entradas de ar (para
quem?) e outros garantem que serviam para observações astronômicas (por quem?). Embora
os especialistas insistam em se referir ao baú de granito como “sarcófago” ou “ataúde” (pelo
tamanho, ele poderia mesmo acomodar um corpo humano), o fato é que não existe nada,
absolutamente nada para apoiar a afirmação de que a Grande Pirâmide era uma tumba de
faraó. (p. 308).

No capítulo 13 do mesmo livro (A Escada para o Céu), Sitchin fala sobre as câmaras de
construção, encontradas, em 1837, por um mentiroso e trapaceiro coronel do exército inglês,
chamado Howard Vyse. O autor descreve as estruturas e narra sobre as controversas circunstâncias
que levaram Vyse a definitivamente – e indevidamente – pôr seu nome nos anais da história das
pirâmides de Gizé. Descrevendo-as resumidamente aqui, essas câmaras de construção situam-se
exatamente sobre a Câmara do Rei e também são formadas por pedras de granito. Citando-as de
baixo para cima, elas são chamadas de “câmara de Davinson”, “câmara de Wellington”, “câmara de
Nelson”, “câmara da lady Arbuthnot” e “câmara de Campbell”. Segundo os especialistas em
construção, essas cinco estruturas foram situadas sobre a Câmara do Rei para uma maior resistência
ao peso mais intenso que há nos pontos próximos ao eixo vertical da pirâmide e distantes do ápice
(fig. 33).
Outras estruturas que se mostrarão importantes neste estudo são as portinholas de pedra
situadas ao final dos dutos da Câmara da Rainha, encontradas em 2002 por Rudolf Gantenbrink
através de sondagem robótica (fig. 19).

3.2 Sobreposição das estrelas de Cygnus ao complexo arquitetônico de Gizé.


Os mapas das figuras 12 e 13 mostram a sobreposição de seis estrelas da constelação de Cygnus
(Delta Cygni, Gamma Cygni, Gienah, Deneb, Eta Cygni e Beta Cygni) às três pirâmides mais
famosas e outras três estruturas do complexo arquitetônico de Gizé, construído, segundo os
registros oficiais, por Khufu (Quéops) e seus sucessores Chefra (Quéfrem) e Menkara (Miquerinos)
durante a IV Dinastia do Antigo Império. Os mapas referidos são constantes do admirável trabalho
de Andrew Collins (2009), que, depois de comunicar em 2008 seu achado ao arqueólogo mais
famoso do Egito, o Dr. Zahi Hawass, instruiu-o a concentrar suas escavações num ponto do terreno

Página 40 de 126
que, segundo o autor, corresponderia à estrela Deneb da cauda de Cygnus. Em 2010, e depois de
alguma relutância, finalmente Hawass seguiu as orientações de Collins, e encontrou a algumas
poucas dezenas de metros a oeste da Pirâmide de Chefra uma entrada que corresponde à posição
relativa da estrela Deneb e que leva a um sistema de passagens subterrâneas que supostamente
uniriam todas as estruturas arquitetônicas de Gizé.

Figura 12 – Sobreposição da constelação de Cygnus às estruturas do planalto de Gizé, no Egito, de acordo com a
correlação de Andrew Collins. Fonte: “Beneath the Pyramids – Egypt‟s Greatest Secret Uncovered”.

Figura 13 – Comparação das sobreposições das estrelas de Órion e Cygnus às estruturas do planalto de Gizé. A
ilustração mostra Delta Cygni, Gamma Cygni, Gienah e Deneb (estrelas de Cygnus) representadas em Gizé pelas
pirâmides de Khufu, Chefra e Menkara e a entrada que leva ao sistema de passagens subterrâneas, respectivamente.
Fonte: “Beneath the Pyramids – Egypt‟s Greatest Secret Uncovered”.
Depois de tais descobertas, Collins passou a ser considerado como a “bola da vez” no
mundo da Arqueologia, com sua agenda anual repleta de eventos espalhados pelo mundo. Presumo,
todavia, que, além da revogação da famosa correlação proposta por Bauval e Gilbert (1994) entre as

Página 41 de 126
mesmas pirâmides e as estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka do cinturão de Órion, consequências
mais impactantes do magnífico achado do escritor e historiador inglês ainda estão por vir, e entre
elas deverão constar os achados propostos neste estudo, cuja fundamentação inexistiria sem os
achados de Collins.
Depois de certo tempo debruçado sobre este que é o maior dos achados de Collins, pude
perceber que, se forem incluídas as estrelas do Cisne que indicam as pontas das asas (Theta Cygni e
Zeta Cygni), e se considerarmos a Esfinge como representativa da estrela Vega, a mais importante
da constelação da Lyra e situada muito próxima do Cisne, e se ainda circunscrevermos com um
triângulo todos os pontos que se propõe neste estudo serem representativos das estrelas em questão,
perceberemos em um primeiro momento a existência de certa semelhança entre o lado do triângulo
onde está a Esfinge e o desenho esquemático das estruturas internas da metade norte da Grande
Pirâmide (compare as figs. 14,15). Essa analogia, que admito como não muito convincente num
primeiro instante, pareceu aumentar em um segundo momento quando se uniram as estruturas
daquele planalto através de retas (fig. 14). Assim, o segmento de reta horizontal que intercepta a
Esfinge e a Pirâmide de Chefra (Reta 3) estaria representando o segmento de reta celeste que
intercepta Gamma Cygni e Vega – o qual, dentro da Grande Pirâmide, seria representado pela linha
em que estão dispostos o Corredor Ascendente e a Grande Galeria; o segmento de reta vertical
coincidente com a linha norte-sul de Gizé (Reta 2) – e que, por isso, não pode deixar de interceptar
o cume da Grande Pirâmide – representaria o segmento de reta celeste que intercepta Eta Cygni e
Polaris – o qual, dentro da Grande Pirâmide, seria representado pelo Duto Norte da Câmara da
Rainha; o segmento de reta diagonal disposto de nordeste para sudoeste e que intercepta os ápices
das pirâmides de Menkara e Chefra (Reta 1) representaria o segmento de reta celeste que intercepta
Gamma Cygni e Thuban – o qual, dentro da Grande Pirâmide, seria representado pelo Duto Norte
da Camara do Rei; e o segmento de reta diagonal disposto de noroeste para sudeste (aquele que
intercepta a entrada para o sistema de passagens subterrâneas e tangencia o ápice da Pirâmide de
Chefra, Reta 4), representaria o segmento de reta celeste que intercepta Deneb, tangencia Gamma
Cygni e intercepta Eta Cygni – o qual, na pirâmide, estaria representado por seu eixo vertical.
A Egiptologia já há muito descobriu que, ao tempo em que a Grande Pirâmide foi
construída, o prolongamento do Duto Norte da Câmara da Rainha e o prolongamento do Duto Norte
da Câmara do Rei interceptavam, respectivamente as estrelas Polaris e Thuban (referência) –
ressaltando-se aqui duas informações: primeiro, que Thuban era a estrela polar à época da
construção desses dutos e que Polaris é a estrela polar de nossos dias; segundo, que a orientação
daqueles dutos apontando para estrelas circumpolares é a primeira pista intencionalmente deixada
de que seu arquiteto detinha conhecimentos sobre Precessão dos Equinócios.

Página 42 de 126
Figura 14 – Correlação das estruturas do complexo de Gizé com Cygnus, e desta constelação com os dutos, câmaras e
corredores dos interiores da Grande Pirâmide.

Figura 15 – A Grande Pirâmide como uma réplica das posições relativas das estrelas de Cygnus, e as retas Um,
Dois, Três e Quatro.
A Astronomia nos diz que “círculos horários” são grandes círculos que interceptam os polos
norte e sul celestes (fig. 10), e que são, por isso, perpendiculares ao Equador Celeste. Ou seja,
interceptam a linha do Equador Celeste a um ângulo de 90 graus (Jones, 1951, p. 4), de modo que
cada círculo horário isoladamente ocupa, com o Eixo Rotacional da Terra, um mesmo plano
geométrico (tal como se fossem projeções radiais desse eixo sobre a Esfera Celeste – confira
„Esfera Celeste‟ na fig. 10), e que, exatamente por isso, seu segmento observável de uma
coordenada geográfica em particular alinha-se com a linha norte- sul geográfica e com o meridiano
local dessa coordenada em um dado momento do dia. De acordo com o exposto – e considerando-se
que a correlação descoberta por Collins e as adições propostas neste trabalho vistas até este ponto
sejam de fato reais –, percebemos que há, então, algo incongruente quando consideramos a

Página 43 de 126
disposição das estruturas do Complexo de Gizé relativamente ao Meridiano Local e à Linha Norte-
Sul da região.
Quando analisamos a figura 14, percebemos que é a Reta Dois que está alinhada com a
Linha Norte-Sul de Gizé, e que, por isso, sua projeção passando pelo ponto norte – onde sobe em
ângulo reto com o horizonte e percorre a Esfera Celeste alinhada com o meridiano local da região
(fig. 17) –, intercepta Polaris, estrela que adquiriu a condição de estrela polar somente nos dias
atuais, 45 séculos depois do erguimento daquelas estruturas. Se levarmos em conta que a estrela
polar da época era Thuban, somos conduzidos à inevitável conclusão de que era a Reta Um que
deveria estar alinhada com aquele eixo, e não a Reta Dois (compare as figs. 14, 15, 16, 17).
Faz-se já interessante destacar ao leitor que a disposição das estruturas do Complexo da
Grande Pirâmide obedece à disposição atual da constelação de Cygnus sobre ele às 19h56m18s
siderais em Gizé, momento em que a estrela Eta Cygni é “cortada” pelo Meridiano Local (fig. 16).
Chamo ainda a atenção do leitor para o fato de que tal disposição é própria dos dias atuais, quando
Polaris adquire a condição de estrela polar e quando a Era de Aquários se inicia.
Existem muitas outras evidências tão ou mais contundentes do que as vistas até aqui de que
o Complexo de Gizé foi construido para guardar alguma mensagem destinada aos dias em que
Polaris tornar-se-ia estrela polar, e, ao serem examinados os registros matemático-astronômicos que
descobriremos existir nas relações angulares das estruturas internas da Grande Pirâmide,
constataremos que esses registros, entre outras coisas, fornecem os valores de coordenadas celestes
específicas mantidas nessas relações, e que tais coordenadas pertencem ao Sistema Equatorial de
Coordenadas Celestes de nossos dias e ao momento precessional atual, quando Polaris torna-se
estrela polar, quando essa estrela é apontada pelo prolongamento do Duto Norte da Câmara do Rei e
quando a Era de Aquários tem início. Dito de outro modo: descobriremos neste trabalho provas
irrefutáveis de que o idealizador daquele complexo detinha um nível de conhecimento
absurdamente superior àquele que os registros oficiais da História afirmam já havia sido acumulado
pelo homem de então, dispondo inclusive de requintes de sofisticação na detenção do saber
astronômico, cujo domínio pode ser comprovado através do emprego que ele fez das leis da
mecânica precessional na elaboração de uma mensagem destinada aos dias do início da Era de
Aquários e guardada na disposição das estruturas do planalto em questão e na configuração dos
dutos e corredores da Grande Pirâmide.
Hoje, depois de pelo menos 45 séculos desde que aquelas estruturas foram construídas,
finalmente Polaris é a estrela polar (e podemos observar que a Reta Dois, representada no solo de
Gizé através das posições relativas das estruturas daquele complexo, aponta constantemente para
essa estrela), e a finalidade última deste estudo pautar-se-á pela formulação de várias outras provas
incontestáveis que confirmarão a hipótese aqui levantada de que a disposição das estruturas daquele
complexo e a configuração das estruturas internas da Grande Pirâmide foram projetadas de modo a,

Página 44 de 126
simultaneamente, indicarem essa condição da referida estrela e concretizarem o registro da
mensagem pretendido por Khufu, a qual – tal como constataremos de muitos modos neste estudo –
está relacionada com o zodíaco desta era que se inicia.

Figura 16 – Céus de Gizé às 11h46min UTC do solstício de inverno de 21 de dezembro de 2012, tendo como zênite o
ponto celeste sobre as coordenadas do eixo vertical da Grande Pirâmide (Lat. 29º58‟45.28‟‟ N; Long. 31º08‟03.11‟‟ E).
Fonte base da imagem: www.fourmilab.ch/cgi-bin/yoursky.

Figura 17 – Alinhamento da Reta Dois (reta azul central cujo prolongamento em amarelo intercepta Polaris)
com a linha norte-sul geográfica de Gizé, e cujo prolongamento alinha-se com o meridiano local (linha vertical
amarela).

Página 45 de 126
Deste modo, a pergunta que se delineia aqui não difere daquela que há muitos séculos vem
sendo formulada sobre a Grande Pirâmide e demais estruturas daquele planalto, e sua resposta tem
igualmente por objeto o desvelamento da obscura e inquietante finalidade daquele magnífico e
gigantesco ajuntamento de imensas rochas perfeitamente trabalhadas.
Antes que façamos, porém, qualquer proposta dos motivos e intenções que levaram o
soberano egípcio a realizar aquela colossal empreitada, mostra-se interessante e metodologicamente
adequado verificarmos primeiro outros fatos, evidências, provas e pistas intencionalmente
deixadas, e relacioná-los funcionalmente.

3.3 A pirâmide como replicadora de um recorte triangular da Esfera Celeste que circunscreve
Cygnus.
A ilustração da figura 18 representa a Terra situada aproximadamente no ponto do plano
eclíptico onde se faz nos dias atuais o solstício de verão, e tem ao fundo a faixa da Via Láctea onde
figura a constelação de Cygnus (circunscrita ao triângulo piramidal). Observe que as retas celestes
Um, Dois e Três partem, respectivamente, das estrelas Thuban, Polaris e Vega, estão “ancoradas”
nas estrelas Gamma Cygni e Eta Cygni de Cygnus e continuam com direção para os céus do
hemisfério sul galáctico. Note ainda que a Reta Quatro corta Cygnus ao meio e é coincidente com o
plano longitudinal da Via Láctea, ou seja, o Disco Galáctico.
O arquiteto da Grande Pirâmide circunscreveu as oito estrelas do Cisne em um triângulo, fez
um recorte do “pedaço” da Esfera Celestre circunscrito a essa figura geométrica, e usou esse
“recorte” dos céus como modelo para construir aquela pirâmide com a configuração de dutos e
corredores que apresenta e as outras estruturas do Complexo de Gizé com a disposição que
conhecemos. Mas, além das oito estrelas do Cisne, não poderia deixar de vir junto no recorte celeste
a mitológica estrela Vega, principal estrela da constelação da Lyra, vizinha muito próxima da
constelação de Cygnus.
Uma vez feito o recorte e tomadas as medidas, empreendeu o construtor a edificação da
maior das pirâmides, cujas câmaras, corredores e dutos, e mesmo angulação das faces obedecem à
correlação que mantém com o recorte dos céus que lhe deu origem. Assim, todas as estrelas do
Cisne têm repretações dentro da Grande Pirâmide (fig. 19), onde a Câmara do Rei representa a
estrela Gamma Cygni; a Câmara da Rainha representa Eta Cygni; Theta Cygni e Zeta Cygni
determinam a angulação das faces; Gienah e Delta Cygni são indicadas pelas portas descobertas em
2002 por Rudolf Gantenbrink; Beta Cygni é indicada pelo final do Corredor Descendente, próximo
ao fosso; e a intersecçao entre este corredor e o Corredor Ascendente é indicativo da estrela Vega.
Os dutos e corredores, e até mesmo o eixo vertical da Grande Pirâmide também representam
aspectos celestes: o Duto Norte da Câmara do Rei representa a Reta Um; o Duto Norte da Câmara

Página 46 de 126
da Rainha representa a Reta Dois; o Corredor Ascendente/Grande Galeria representa a Reta Três; e
o eixo vertical da pirâmide representa a Reta Quatro, que é coincidente com o Disco Galáctico.

Figura 18 – A relação das retas Um, Dois, Três e Quatro com os dutos, câmaras, corredores e eixo vertical da Grande
Pirâmide.

3.4 A Grande Pirâmide como mantenedora de ângulos celestes.


A linguagem usada na codificação empreendida na Grande Pirâmide é esferométrico-astronômico-
topológica, o que implica o uso de geometria espacial, conceitos astronômicos e da imagem de um
triângulo que circunscreve duas constelações (Cygnus e Lyra) cujas principais estrelas estão unidas
a três outras estrelas do Círculo Polar Celeste por segmentos de círculos celestes representados na
pirâmide por dutos e corredores. Por isso, necessitamos compreender agora o que aquelas retas Um,
Dois, Tres e Quatro, do ponto de vista conceitual da Astronomia, de fato representam; a que elas se
destinam; quais pontos relevantes dos céus elas interceptam; de que modo as declinações e
ascensões retas (que formam coordenadas celestes segundo um sistema equatorial de coordenadas)
desses pontos foram guardadas pelo idealizador dessas relações nos interiores da Grande Pirâmide;
e de que modo esses pontos estão relacionados com os ângulos guardados pelos dutos e corredores
daquela gigantesca e enigmática estrutura.

Página 47 de 126
Figura 19 – Correspondência entre as estruturas internas da Grande Pirâmide e as estrelas de Cygnus e segmentos de
círculos celestes.

3.5 Natureza astronômica das retas Um, Dois, Três e Quatro.


As retas Um, Dois e Três da figura 18 são representações planas de segmentos de círculos celestes
aos tempos precessionais em que as estrelas circumpolares Thuban, Polaris e Vega ocupam o Polo
Norte Celeste; as retas Três e Quatro constituíam-se em Grandes Círculos ao tempo de Thuban, pois
aqueles círculos celestes interceptavam o zênite e o nadir de Gizé quando Gamma Cygni ocupava o
zênite sobre a Grande Pirâmide àquele tempo.
Daqui em diante, todavia, não mais nos referiremos a esses entes astronômicos como “retas
celestes”, mas sim como segmentos de “círculos celestes”, e eventualmente designando-os
precisamente como segmentos de “círculos horários” e/ou “grandes círculos”, conservando-se neste
estudo, para um efetivo entendimento, apenas os números que as acompanhavam. Deste modo, os
círculos celestes Um, Dois, Três e Quatro eventualmente poderão ser denominados de “Grande
Círculo 1”, “Grande Círculo 2”, Grande Círculo 3” e “Grande Círculo 4”, podendo, ainda, os
círculos celestes Um e Dois serem denominados de “Círculo Horário Um” e Círculo Horário Dois”.
Resumidamente, a depender de qual estrela circumpolar estiver ocupando o Polo Norte Celeste no
momento precessional considerado, faremos uso dos círculos horários Um e Dois, que, exatamente
por serem círculos horários, também são grandes círculos – a exceção é para os grandes círculos
Três e Quatro, que, como já sabemos, não se caracterizam como círculos horários por não
interceptarem os polos (salvo se em algum momento do Ano Cósmico a obliquidade de nosso
planeta for suficientemente grande a ponto de fazer o Círculo Polar Celeste interceptar esses
círculos no ponto em que figurar o Polo Norte Celeste de então).

Página 48 de 126
3.5.1 A orientação do Corredor Ascendente/Grande Galeria guarda os 63.9584 graus do arco
eclíptico entre os pontos Três (ponto eclíptico) e Quatro Alpha (nodo ascendente dos planos
galáctico e eclíptico) e, consequentemente, fornece a ascensão reta do Ponto Três.
Observe na figura 20 que o Círculo Celeste Três intercepta Vega, ancora-se em Gamma Cygni
(onde forma um ângulo de 63.9584 graus com o Círculo Celeste Quatro, que é coincidente com o
disco do plano galáctico) e segue para os céus do hemisfério sul galáctico até interceptar o ponto da
Eclíptica chamado aqui de “Ponto Três” (RA 1h44m10s; Dec 11º 1‟ 14,88‟‟ N), cuja posição na
Eclíptica dista no momento precessional atual de 26.0416 graus do Ponto Vernal – que neste início
de era, quando Polaris é a estrela polar, começa a entrar na faixa zodiacal de Aquários.
Observe agora o Círculo Celeste Quatro/Disco Galáctico e veja que ele intercepta a Eclíptica
no ponto aqui chamado de “Ponto Quatro Alpha” (RA 6h; Dec 23º26.1‟ N), que é o nodo
ascendente dos planos galáctico e eclíptico e que, situando-se bem no meio da faixa galáctica entre
as constelações de Gêmeos e do Touro, nos dias atuais dista de exatamente 90 graus do Ponto
Vernal. Se observarmos com atenção aquilo que a figura 20 nos mostra, perceberemos que o arco da
Eclíptica delimitado pelos pontos Três e Quatro Alpha deverá conter os mesmos 63.9584 graus de
seu ângulo oposto, formado entre os círculos celestes Três e Quatro, e representado, na Grande
Pirâmide, pelo ângulo entre a linha do Corredor Ascendente/Grande Galeria e o eixo vertical
daquela pirâmide.
Façamos agora a abstração do ângulo.
Distância atual do Ponto Quatro Alpha Eclíptico (RA 6h) relativamente ao Ponto Vernal =
90 graus.
Distância atual do Ponto Três Eclíptico (RA 1h 44m 10s) relativamente ao Ponto Vernal =
26.0416 graus.
Diferença (distância entre os pontos) = 90 – 26.0416 = 63.9584 graus (ângulo mantido pela
pirâmide).

A operação acima confirma que o ângulo entre a linha do Corredor Ascendente/Grande


Galeria e o Eixo Vertical da Grande Pirâmide guarda os 63.9584 graus formados entre os círculos
celestes Três e Quatro. Portanto, o ângulo guardado na pirâmide é um registro do ângulo oposto ao
ângulo formado nos dias de Polaris entre os círculos Três e Quatro que interceptam a Eclíptica nos
pontos Três e Quatro Alpha, respectivamente.
Sabemos que o plano eclíptico é fixo e está orientado, em relação ao plano do disco
galáctico, a um ângulo de 60.2 graus. Sendo assim, o passar dos séculos não desconfigura sua
orientação espacial dentro da galáxia, e a qualquer era zodiacal os círculos celestes Três e Quatro
sempre interceptarão os mesmos pontos eclípticos (chamados aqui de pontos Três e Quatro Alpha).
Mas há algo mais digno de nota aqui: somente nos dias atuais, quando Polaris é a estrela polar,

Página 49 de 126
aqueles pontos eclípticos delimitam aqueles ângulos horários (26.0416 graus e 90 graus), e que
marcam precisamente os ângulos guardados na Grande Pirâmide (figs. 20, 30) entre a linha do
Corredor Ascendente/Grande Galeria e seu eixo vertical (63.9584graus) e entre a linha do Corredor
Ascendente/Grande Galeria e o Horizonte de Gizé (26.0416 graus).

Figura 20 – Esfera celeste, os círculos celestes Três e Quatro (disco galáctico) e a Eclíptica.

3.5.2 O Duto Norte da Câmara do Rei guarda os 57.40 graus do arco equatorial entre os pontos P
Equatorial (RA 22h41m43s; DEC = 0) e Quatro Beta do disco galactico (RA 18h 52m 7.20s; Dec 0
– nodo ascendente entre os planos equatorial e eclíptico) e, consequentemente, fornece a ascensão
reta dos pontos P e Um Beta.
Observe na figura 21 que o Círculo Celeste Um (que à época de Thuban fora um círculo horário, e
que na figura 21 está representado como semi-círculo) tem origem em Thuban, ancora-se também
em Gamma Cygni (onde forma um ângulo de 57.40 graus com o Círculo Celeste Quatro/Disco
Galáctico) e segue para os céus do hemisfério sul galáctico. Depois de interceptar o Equador
Celeste (Ponto Um Alpha: RA 22h; DEC 0) e a Eclíptica, aquele círculo celeste atinge e indica o
ponto celeste Um Beta (RA 22h 41m 43.19s; Dec 17º34‟45.12‟‟ S), situado na região delimitada
pelo triângulo que tem as estrelas Delta Aquarii, Upsilon Aquarii e Tau2 Aquarii como vértices
(doravante chamaremos esse triângulo de “triângulo Delta-Upsilon-Tau2 de Aquários” – fig. 24).

Página 50 de 126
Figura 21 – Esfera Celeste, o Disco Galáctico (Círculo Quatro),o semi-círculo Um e o arco equatorial entre o Ponto
Vernal e o Ponto Quatro Beta.
Observe na figura 21 o Círculo Celeste Quatro (Disco Galactico) e veja que ele intercepta o
Ponto Quatro Beta (RA 18h 52m 7.20s; Dec 0: coordenadas atuais do nodo ascendente dos planos
equatorial e galáctico), que é a extremidade oeste do arco equatorial, situado entre o Ponto Vernal e
aquele ponto. Se abstrairmos a diferença horária das ascenções retas entre os pontos Um Beta e
Quatro Beta, e convertermos minutos em graus, constataremos que os 57.40 graus guardados na
pirâmide entre seu eixo vertical (Disco Galáctico/Círculo Celeste Quatro) e o Duto Norte da
Câmara do Rei corresponde a essa diferença.
Façamos agora a abstração do ângulo.
Diferença, em minutos, entre as RAs dos pontos Um Beta (RA 22h 41m 43.19s; é Dec
17º34‟45.12‟‟ S) e Quatro Beta (RA 18h 52m 7.20s; Dec 0) = 229.60 minutos.
O Equador Celeste tem 1440 mim; dividindo-se, então, os 1440 mim pelos 360 graus do
círculo equatorial, teremos que 1 grau de arco = 4 mim (Jones, 1951, p. 5).

Página 51 de 126
Convertendo minutos em graus, por uma regra de três simples, teremos: 229.60 min / 4 =
57.40 graus
Se apenas empreedermos a operação oposta, convertendo o valor de 57.40 graus guardados
na Câmara do Rei para o sistema horário de coordenadas (3h49m36s) e somarmos à RA do Ponto
Quatro Beta (nodo ascendente), teremos então a ascensão reta dos pontos P Equatorial e Um Beta =
RA 22h 41m 43.19s, destacando-se que este último – o ponto Um Beta – é um ponto celeste situado
no triângulo Delta-Upsilon-Tau2 de Aquários, que é interceptado e indicado pelo Cìrculo Celeste
Um (sua declinação também é mantida pela pirâmide [17º34‟45.12‟‟ S], e disso falaremos de modo
esmiuçado adiante, quando tratarmos das declinações dos pontos Um Beta, Dois Eclíptico e Três
Eclíptico).
Confirmamos, deste modo, que a medida do ângulo entre o Duto Norte da Câmara do Rei e
o Eixo Vertical da Grande Pirâmide replica o ângulo de 57.40 graus existente atualmente entre os
círculos horários P Beta e N Beta (“P Beta” por interceptar o Ponto Um Beta; e “N Beta” por
interceptar o Nodo Ascendente, que é o Ponto Quatro Beta ), que interceptam, respectivamente, os
pontos celestes Um Beta e Quatro Beta. E o “atualmente” deve-se ao fato de o arco equatorial
delimitado pelos círculos horários P Beta e N Beta que interceptam aqueles pontos apresentar a
medida de 57.40 graus apenas nos dias atuais, quando Polaris é a estrela polar. Pois o plano do
Equador Celeste, cuja disposição atual não é a mesma de quando a Grande Pirâmide foi construída
e não também o será dentro de poucos séculos ou mesmo décadas, tende a ter sua configuração
atual alterada, e seus pontos interceptados por aqueles círculos celestes não delimitarão, com o
passar do tempo, um arco com a mesma quantidade de graus. Isso está relacionado com o fato de
não termos usado o Ponto Um Alpha como limite para medirmos a quantidade de graus até o Ponto
Quatro Beta (proponho que entre estes dois pontos havia 57.40 graus no tempo em que Thuban era
a estrela polar; não nos dias de Polaris). Observe na figura 21 que os pontos Um Alpha e Um Beta,
embora sejam interceptados pelo Círculo Celeste Um (que intercepta Thuban e Gamma Cygni e que
fora um círculo horário ao tempo de Thuban), nos dias atuais são interceptados por círculos horários
diferentes que partem de Polaris. Por esse motivo, o Ponto Um Beta, situado no triângulo Delta-
Upsilon-Tau2 de Aquários não apresenta a mesma RA que o Ponto Um Alpha coincidente com a
linha do Equador Celeste, e, devido a isso, o arco equatorial que hoje contém os 57.40 graus
guardados na Câmara do Rei é aquele delimitado pelos círculos horários P Beta e N Beta que
interceptam o ponto P Equatorial e o Nodo Ascendendente (Ponto Quatro Beta), respectivamente.
Isso se torna ainda mais claro se tivermos em conta que o ponto indicado pelo Círculo Celeste Um
(Ponto Um Beta) situa-se fora do círculo equatorial, fazendo com que o método usado para o
registro de sua ascensão reta na pirâmide fosse um tanto mais sutil que aquele usado para o registro
da ascensão reta do Ponto Três.

Página 52 de 126
Interpretando resumidamente o registro que guarda a ascensão reta do Ponto Um Beta,
temos que os círculos celestes Um e Quatro cruzam-se a um ângulo de 57.40 graus e interceptam os
pontos Quatro Beta e Um Beta, nos dizendo assim que no arco equatorial entre os círculos horários
P Beta e N Beta que interceptam os pontos há 57.40 graus (229.6 minutos), que, somados à RA
atual do nodo ascendente (Ponto Quatro Beta), nos fornecem a Ra atual do Ponto Um Beta (RA 22h
41m 43.19s), situado a leste do referido nodo e dentro do triângulo Delta-Upsilon-Tau2 de
Aquários.

3.5.3 Os 51 graus que compôem o ângulo entre o Duto Norte da Câmara da Rainha e o eixo
vertical da Grande Pirâmide não correspondem à medida do arco eclíptico entre o Ponto Dois
Eclíptico (RA 19h56m18s) e o Ponto Quatro Gamma (RA 18h – nodo descendente dos planos
galáctico e eclíptico).
A Câmara da Rainha não guarda o ângulo celeste entre os pontos eclípticos Ponto Dois (RA 19h
56m 18s; DEC 20º 25‟ 14‟‟ S) e Ponto Quatro Gamma (RA18h; 23º 26.1‟ S – nodo descendente dos
planos galáctico e eclíptico) formado entre os círculos celestes Dois e Quatro – tal como se deu com
os círculos celestes Um e Três relativamente ao Círculo Celeste Quatro.
RA Ponto Dois = 19h56m18s
RA Ponto Quatro Gamma = 18h
Diferença: 1196,3 min – 1080 min = 116,3 mim = 29,075 graus
Os círculos celestes Dois e Quatro interceptam, respectivamente, os pontos eclípticos Ponto
Dois (RA 19h56m18s; DEC 20º 25‟ 14‟‟ S) e Ponto Quatro Gamma (RA 18h; DEC 23º 26.1‟ S),
que estão separados de 29.075 graus (diferença das RAs em minutos: 116.3 min, que, convertidos
em graus, fica: 116.3/4 = 29.075 graus). Observe, entretanto, que o ângulo oposto ao ângulo
formado entre os círculos celestes Dois e Quatro – e que deveria estar representado pelo ângulo
formado entre o Duto Norte da Câmara da Rainha e o eixo vertical da pirâmide – não está
representado com esse valor (29.075 graus), e que, no lugar disso, o Duto Norte da Câmara da
Rainha está inclinadao a um ângulo de 51graus (compare figs. 18, 19, 32).
Essas constatações levaram-me a indagar sobre o porquê de a Câmara da Rainha apresentar
essa discrepância. E ao me debruçar à procura de justificativas que explicassem o porquê de o duto
norte daquela câmara – direfentemente do que vimos nos casos do Duto Norte da Câmara do Rei e
Corredor Ascendente/Grande Galeria – guardar um ângulo sem correspondência celeste, descobri
que isso se deve em parte ao fato de o Círculo Celeste Dois ser um círculo horário dos dias atuais,
pois tem origem em Polaris e intercepta o Polo Sul Celeste, e isso confere peculiaridades à Câmara
da Rainha que é representativa da estrela Eta Cygni que ancora o círculo celeste em questão. Por ser
o Círculo Celeste Dois um círculo horário – e por isso apresentar peculiaridades que lhe
possibilitam alinhar-se com o Meridiano de Gizé –, o registro da declinação do Ponto Dois Eclíptico

Página 53 de 126
indicado por ele prescinde de registros de dados adicionais, apenas necessitando de relações entre
os ângulos dos dutos registrados na câmara em questão, o zênite de Gizé e o ângulo entre o
prolongamento para baixo do duto norte daquela câmara e o horizonte.

Figura 22 – Esfera Celeste: caso do Ponto Dois Eclíptico.


Adiante, quando me detiver na abstração da declinação do Ponto Dois, esmiuçarei essas
questões.
2.5.4 A Grande Pirâmide guarda as declinações dos pontos Um Beta do Triângulo Delta-Upsilon-
Tau2 de Aquários, Dois Eclíptico e Três Eclíptico, medidas em relação ao Equador Celeste atual.
Como já se depreendeu ao longo da esplanação que fiz até aqui, o paradigma que adotei na análise
dos dados e emprego do método para a decifração do enigma guardado pela Grande Pirâmide é
substancialmente distinto daquele pelo qual outros teóricos têm tentado fazê-lo, pois nunca antes
tentou-se decifrar aquela estrutura à luz de uma interpretação que levasse em conta os conceitos
modernos da Astronomia de Posição e relações básicas de Geografia e esferometria espacial. E,
para avançarmos na detecção dos demais registros deixados por esse antigo cujo domínio de
Engenharia, Matemática e Astronomia já nos encanta (e, sem qualquer dúvida, também espanta), é
necessário admitirmos, embora se trate de algo totalmente anacrônico quando comparado com o
período histórico em questão, seu aparente irrestrito e absoluto domínio das ciências astronômicas

Página 54 de 126
avançadas, e que detinha, inclusive, conceitos sofisticados de Precessão dos Solstícios – principal
linguagem empregada na codificação que ora decifro e fenômeno cujas primeiras noções são
oficialmente creditadas a Hiparco de Nicéia, que vivera no séc. II antes de Cristo, ou seja,
aproximadamente 24 séculos depois de Khufu.

Figura 23 a – Coordenadas do Ponto Um Beta = RA 22h 41m 43s; Dec. 17º 34‟ 45.12‟‟ S.
Pelo que já vimos, não deve agora causar estranheza, então, minha afirmação de que o
construtor do Complexo de Gizé mapeou os céus em coordenadas segundo um sistema equatorial de
coordenadas tendo-se Polaris coincidindo com o Polo Norte Celeste exatamente como hoje é feito, e
que o fez para levar a termo sua principal intenção: registrar, usando-se coordenadas celestes
próprias dos dias atuais, o momento precessional em que Polaris seria a estrela polar. Valendo-se do
emprego de seu conhecimento preciso da mecânica precessional, esse antigo, fazendo uso da
sincronia existente entre o giro da roda zodiacal e o giro do Eixo Rotacional da Terra ao longo dos
círculos polares norte e sul, aferiu Polaris, a estrela da cauda da Ursa Menor, como estrela polar
coincidente com o início da Era de Aquários.
O genial construtor interceptou com os círculos celestes Um, Dois e Três, três pontos
celestes dos quais dois são pontos eclípticos – Ponto Dois (RA 19h 56m 18s; Dec. 20º 25‟ 14‟‟ S) e
Ponto Três (RA 1h44m10s; Dec. 11º 1‟ 14.88‟‟ N) e o terceiro – Ponto Um Beta (RA 22h 41m 43s;
Dec. 17º 34‟ 45.12‟‟ S) – é situado numa região coincidente com as águas que emanam da ânfora de

Página 55 de 126
Aquários, delimitada pelo Triângulo Delta-Upsilon-Tau2 de Aquários. Veja as figuras 23a, 23b e
23c, que fornecem as localizações exatas desses pontos.

Figura 23 b – Coordenadas do Ponto Dois Eclíptico = RA 19h 56m 18s; Dec. 20º 25‟ 14‟‟ S.
Contudo, de nada adiantaria aqueles círculos celestes interceptarem aqueles pontos – e
destaco aqui que não são pontos intrinsicamente importantes tal como o são, por exemplo, os pontos
que indicam intersecções de entes astronômicos relevantes, como no caso dos pontos Quatro Alpha
(RA 6h; Dec. 23°26.1‟ N) e Quatro Beta (RA 18h 52m 7.2s; Dec. 0), que indicam, respectivamente,
o nodo ascendente dos planos galáctico e eclíptico e o nodo ascendente dos planos galáctico e
equatorial, e o Ponto Quatro Gamma (RA 18h; Dec. 23º26.1‟ S), que indica o nodo descendente dos
planos galáctico e eclíptico – sem que as declinações desses pontos também fossem, de algum
modo, guardadas nos dois milhões e meio de blocos enormes de pedra precisamente trabalhados,
usados no erguimento da maior das pirâmides. Posto que, de outro modo, todos os pontos da Esfera
Celeste que são interceptados pelos círculos em questão deveriam igualmente ser considerados, e
isso tornaria extremamente difícil, senão impossível, a decodificação do registro ali empregado –
até mesmo porque minha pesquisa primeiramente descobriu o registro na Grande Pirâmide das
declinações daqueles pontos para depois deparar-se com o registro de suas ascensões retas
guardadas nas medidas dos ângulos que os dutos e corredores da pirâmide formam com seu eixo

Página 56 de 126
vertical e que replicam a medida dos ângulos de arcos eclíptico e equatorial interceptados pelos
círculos que apontam os referidos pontos e que são representados por aqueles dutos e corredores.

Figura 23 c – Coordenadas do Ponto Três Eclíptico = RA 1h44m10s; Dec. 11º 1‟ 14.88‟‟ N.


O incrível construtor arrumou um modo de especificar os pontos que queria indicar (figs.
23a, 23b, 23c).
Uma vez que a mensagem de Khufu destina-se aos dias do início da Era de Aquários,
quando Polaris adquire a condição de estrela polar, ele primeiro mapeou os céus tal como hoje é
feito: através de ascensões retas medidas pelos círculos horários que se originam em Polaris e
convergem para o Polo Sul Celeste atual e que são medidas apartir do ponto vernal adentrando a
faixa zodiacal de Aquários; e de declinações medidas pela distância entre o Equador Celeste dos
dias atuais e os círculos que lhe são paralelos e interceptam os referidos pontos. Tais medidas,
quando pareadas, formam então as coordenadas celestes que fornecem a localização de qualquer
ponto. Feito o mapeamento da Esfera Celeste tal como se daria 45 séculos depois dele, o idealizador
dessas relações aferiu as ascensões retas e declinações dos pontos a serem usados na codificação
pretendida e que adquire validade em nossos dias.
Segue a lista das coordenadas atuais segundo o Sistema Equatorial de Coordenadas dos
pontos celestes usados na codificação de que trata a Grande Pirâmide.
RA PONTO UM ALPHA = 22h
DEC PONTO UM ALPHA = 0

Página 57 de 126
RA PONTO UM BETA = 22h41m43s
DEC PONTO UM BETA = 17º34‟45.12‟‟ S (17.5792 GRAUS SUL)
RA PONTO DOIS ECLÍPTICO = 19h56m18s
DEC PONTO DOIS ECLÍPTICO = 20º25‟14‟‟ S (20.4205 GRAUS SUL)
RA PONTO TRÊS ECLÍPTICO = 1h44m10s (onde a Eclíptica marca nos dias atuais 26.0416
graus)
DEC PONTO TRÊS ECLÍPTICO = 11º1‟14.88‟‟ N (11.0208 GRAUS NORTE)
RA PONTO QUATRO ALPHA = 6h (onde a Eclíptica marca nos dias atuais 90 graus)
DEC PONTO QUATRO ALPHA = 23º 26.1‟ N
RA PONTO QUATRO BETA = 18h52m7.2s
DEC PONTO QUATRO BETA = 0
RA PONTO QUATRO GAMMA= 18h
DEC PONTO QUATRO GAMMA= 23º26.1‟ S
RA PONTO P EQUATORIAL = 22h41m43s
DEC PONTO P EQUATORIAL = 0
RA PONTO VERNAL = 0
DEC PONTO VERNAL = 0
RA PONTO OUTONAL = 12h
DEC PONTO OUTONAL = 0

2.5.5 A declinação do Ponto Um Beta, situado no triângulo Delta-Upsilon-Tau2 de Aquários.


Estabelecidas as fases anteriores, Khufu procedeu à etapa em que se ocuparia do registro das
declinações e ascensões retas daqueles pontos celestes presentes nas relações dos dutos e corredores
da Grande Pirâmide. E começou pelo Ponto Um Beta (RA 22h41m43s; DEC17º34‟45.12‟‟ S)
situado nas proximidades da ânfora de Aquários (de onde, segundo a mitoloia, jorram as águas do
“mar celeste” cujo símbolo é o mesmo usado na designação pictográfica para o Nilo – fig. 37) e
situado nos interiores do triângulo Delta-Upsilon-Tau2 de Aquários (fig. 24).
Para que a declinação do Ponto Um Beta (DEC 17º34‟45.12‟‟ S / 17.5816 GRAUS SUL)
pudesse ser guardada nas relações angulares dos dutos da Câmara do Rei – que representa Gamma
Cygni, estrela que ancora o Círculo Celeste Um que intercepta o Ponto Um Beta –, o construtor
lançou mão daquele recorte triangular que havia feito dos céus e o adaptou à realidade concreta de
uma pirâmide de quatro faces a ser construída em pura rocha no solo de Gizé (figs. 18, 19, 25). E a
escolha das quatro faces deu-se como referência aos quatro pontos cardeais (referência a Sitchin).
Essa pirâmide (fig. 25) deveria conter dutos e corredores que representariam seguimentos de
círculos celestes que ligam três das estrelas do Cisne às estrelas Thuban, Vega e Polaris do Círculo
Polar Celeste e a outros pontos celestes significativos na codificação empreendida. Esses dutos e

Página 58 de 126
corredores estariam dispostos em relação ao eixo vertical da Grande Pirâmide de modo a
possibilitarem o máximo de semelhança com a orientação que os círculos celestes representados
por eles têm em relação ao Círculo Celeste Quatro – que, nos céus, é o círculo do Disco Galáctico
que perpassa longitudinalmente Cygnus, interceptando as estrelas Deneb e Eta Cygni e
tangenciando Gamma Cygni.

Figura 24 – Coordenadas do Ponto Um Beta (RA 22h41m43s; DEC17º34‟45.12‟‟ S) e o triângulo Delta-


Upsilon-Tau2 de Aquários. Fonte da base da imagem: IAU, a SKY telescope.

A conservação de um máximo de semelhança com a imagem original do triângulo celeste


que circunscreve Cygnus e que contém os seguimentos dos três círculos celestes que perpassam a
linha longitudinal do corpo do pássaro mitológico fez parte do método utilizado pelo idealizador
dessas relações, e tal método mostrou-se necessário tendo-se em vista, como já dissemos, que a
linguagem usada deveria ser astronômico-esferométrico-topológica, ou seja, uma linguagem
científica universal e independente de culturas regionais, e que se valesse também das figuras
geométricas: o que a tornaria inteligível a qualquer homem de qualquer tempo futuro que viesse
dominar os conceitos universais empregados na codificação.
Mas, para termos um bom entendimento sobre o porquê de a declinação do Ponto Um Beta
estar guardada especificamente nas relações angulares dos dutos da Câmara do Rei, deveremos
resgatar à memória que o Círculo Celeste Um, que aponta indefinidamente o Ponto Um Beta
situado à frente da ânfora de Aquários e nos interiores do triângulo Delta-Upsilon-Tau2 de

Página 59 de 126
Aquários, origina-se em Thuban – que ocupava o Polo Norte Celeste à época da construção –,
ancora-se na estrela Gamma Cygni – que na época situava-se no zênite de Gizé uma vez a a cada 24
horas siderais –, interceptava um ponto qualquer do equador celeste da época, cruzava o círculo
eclíptico, interceptava o Ponto Um Beta e seguia finalmente para o Polo Sul Celeste daquele
momento precessional (fig. 21) – ressalto aqui que, por essas especificidades, é evidente que esse
círculo celeste era um círculo horário. Assim podemos ver que seria absolutamente coerente guardar
a declinação do Ponto Um Beta na câmara da pirâmide que representaria a estrela do Cisne que
ancora o círculo celeste que intercepta o ponto em questão, indicando-o com o registro de sua
ascensão reta e precisando-o com o registro de sua declinação, estando guardados ambos os
registros, portanto, nas relações dos dutos da Câmara do Rei. Veremos adiante que essa proposição
é corroborada pelo fato de o projetista ter usado o mesmo padrão para guardar também as
declinações dos pontos Dois e Três eclípticos.

Figura 25 – Ângulos entre os dutos e corredores da Grande Pirâmide e seu eixo vertical.
Feitas as considerações acima, passemos à análise estrita das relações que há entre os dutos
sul e norte da Câmara do Rei, e destes com a declinação do zênite da região.
Como já dito antes, a Grande Pirâmide é o registro de uma relação funcional entre: (1)
Círculo Norte Polar Celeste; (2) grandes círculos; (3) círculos horários; (4) a Ecliptica; (5) o
Equador Celeste; (6) pontos eclípticos e equatoriais; (7) e nodos entre os planos galácticos,
equatorial e eclíptico. E a construção da Grande Pirâmide estava, assim, condicionada pela difícil
tarefa de provimento de dados geométrico-astronômicos simultâneamente à necessidade de
manutenção da semelhança (topologia) entre a disposição relativa de seus dutos, corredores e eixo

Página 60 de 126
vertical e a disposição relativa de círculos celestes específicos que perpassam lateral e
longitudinalmente o disco galáctico onde as estrelas de Cygnus situam-se.
Sob a condição de que o Duto Norte da Câmara do Rei – que aponta o Polo Norte Celeste e
é representativo do Círculo Celeste Um – deveria formar com o eixo vertical da pirâmide –
representativo do Círculo Celeste Quatro/Disco Galáctico, que perpassa Cygnus – os mesmos
57.40 graus celestes existentes nos dias de Polaris entre os círculos P Beta e N Beta (fig. 21), o
antigo arquiteto teve que aferir, desta vez, em que latitude, na imensa extensão norte-sul do Baixo
Egito, construiria a Grande Piramide. E a latitude encontrada foi 29º58‟45.28‟‟ N. Ou seja, um
ponto do terreno sobre a protuberância nordeste do platô líbio onde o solo é extremamente firme,
mas além do qual não há estabilidade para construção de estruturas pesadas, por ser o terreno
movediço e lamacento (referência). (sugiro ter havido impossibilidade, por inadequação do terreno,
de o complexo de Gizé ter sido construído pouco mais ao norte, o que propiciaria um efetivo
alinhamento Eixo Vertical da Grande Pirâmide – Zênite – Eta Cygni às 19h56m18s siderais em
nossos dias).
A Astronomia mapeia a Esfera Celeste através de coordenadas do mesmo modo como a
Geografia o faz com o globo terrestre. Ou seja: do Polo Norte Celeste partem meridianos que
interceptam o Equador Celeste em ângulos retos e, em seguida, convergem para o Polo Sul Celeste.
A declinação de um ponto celeste (ocupado ou não por uma estrela) é sua distância angular do
Equador Celeste, e é considerada positiva para os pontos situados ao norte do Equador, e negativa
para os que estão ao sul (Jones, 1951, p. 4). Sabendo-se que o prolongamento do Eixo Rotacional da
Terra para o sul e para o norte intercepta os polos sul e norte celestes, concluímos, então, que o
valor da declinação do zênite sobre uma coordenada geográfica específica é o valor da própria
latitude dessa coordenada. Assim, se a latitude do eixo vertical da Grande Pirâmide é 29º58‟45.28‟‟
N, a declinação do zênite indicado pelo prolongamento para o alto daquele eixo será também
29º58‟45.28‟‟ N, que, em decimais, fica: 29.9792 graus norte. Resgatemos à memória ainda que o
prolongamento do referido eixo para baixo intercepta o centro da Terra.
Neste ponto da explanação, já dispomos, portanto, dos seguintes dados:
57.40 GRAUS: ângulo entre o Duto Norte da Câmara do Rei – que aponta o Polo Norte Celeste – e
o eixo vertical da pirâmide.
29.9792 GRAUS NORTE: valor do zênite interceptado pelo prolongamento do eixo vertical da
pirâmide.
17.5816 GRAUS SUL (17°34‟45.12‟‟ S): declinação do Ponto Um Beta nos dias atuais, quando
Polaris é estrela polar.
Uma vez dispondo dos três dados acima, o projetista pôde definir, finalmente, o ângulo que
o Duto Sul da Câmara do Rei deveria formar com a Linha do Horizonte de modo a perpetuar nas
relações angulares dos dutos e corredores da pirâmide a declinação que o ponto em questão teria

Página 61 de 126
quando Polaris adquirisse a condição de estrela polar. E, aplicou, para a dedução do ângulo, a
seguinte equação.
+ 57.40 – 29.9792 – X = – 17. 5816 graus
+ 57.40 – 29.9792 + 17.5816 = X
X = 45, 0024 graus
Temos então que a soma dos valores presentes no registro da pirâmide [(+ 57.40) + (-
29.9792) + (- 45.0024)] é igual à declinação atual do Ponto Um Beta (– 17. 5816) nos dias de
Polaris como estrela polar.
Mas aqui não podemos deixar de nos perguntar sobre o que poderia justificar os sinais
„negativo‟ e „positivo‟ dos números. E a resposta sugerirá que o idealizador dessas relações fez uso
da noção de simetria de números referente à oposição de hemisférios de uma esfera celeste segundo
um sistema galáctico de coordenadas.
Observe a figura 26. Se imaginarmos o sistema com o observador na coordenada galáctica
(x, y) daquela figura, Gamma Cygni ficará sobreposta pelo Sol. E se planificarmos o sistema
daquela perspectiva, teremos a Eclíptica em primeiro plano, com a faixa galáctica ao fundo (fig.
27).
Façamos agora a ampliação do destaque da figura 27 e, simultaneamente, procedamos à
circunscrição das estrelas de Cygnus e Vega por um triângulo e à escolha do lado do triângulo que
intercepta Beta Cygni (Albíreo) como base da figura 28.
Deste modo, teremos que, nessa representação plana do sistema, o eixo (reta verde) que liga
o ponto Vernal (RA zero hora; zero grau) ao Ponto Outonal (RA 12 horas; 180 graus) intercepta
Gamma Cygni sobreposta pelo Sol, ambos representados, por conseguinte, pela Câmara do Rei. E
teremos também que o eixo rotacional de nosso planeta intercepta Eta Cygni, sobreposta pela Terra.
Somando-se aos círculos celestes que já dispúnhamos, temos agora a projeção do plano do Equador
Geográfico na Esfera Celeste, ou seja, o Equador Celeste.
Em um ponto de nossa representação do globo terrestre (figura redonda azul situada no
retângulo escuro da figura 28) correspondente à latitude do paralelo 30 que passa por Gizé, façamos
agora uma pequena pirâmide (triângulo cinza sobre o disco azul). Consideremos também que Beta
Cygni (Albíreo) coincida com a base desse triângulo.
Sendo o eixo vertical da Grande Pirâmide coincidente com o Plano do Disco Galáctico
(compare as figs. 28, 29), os valores (+ 57.40) e (- 45.0024) pertencem a lados opostos da linha
daquele disco, que é um círculo máximo de acordo com o Sistema Galáctico de Coordenadas. O
primeiro valor (+ 57.40) está no hemisfério norte galáctico, e, por isso, deve ser considerado
positivo; o segundo (- 45.0024) está no hemisfério sul galáctico, e é considerado negativo.
O ângulo entre o zênite de Gizé e o Equador Celeste é de 29.9792 graus, e esse valor
numérico situa-se, naturalmente, a sul do eixo vertical da pirâmide, que, repito, é representativo do

Página 62 de 126
disco galáctico. Portanto, dentro desses parâmetros de equivalência e simetria numérica, deve ser
considerado também negativo.

Figura 26 – A Eclíptica, Gamma Cygni, Eta Cygni, o Sol e a Terra: planificação da Esfera celeste e a origem
da Grande Pirâmide.

Figura 27 – Representação plana da fig. 26 com o observador na coordenada “x; y” galáctica e com as estrelas de
Cygnus e Vega circunscritas pelo triângulo piramidal.

Página 63 de 126
Figura 28 – Relações entre os círculos celestes geratrizes da disposição dos dutos e corredores da Grande
Pirâmide, bem como da escolha da coordenada geográfica em que aquela estrutura foi construída. Os sinais “positivo” e
“negativo” fazem alusão aos hemisférios norte e sul do Sistema Galáctico de Coordenadas.

Figura 29 – A Grande Pirâmide como réplica do triângulo que circunscreve Cygnus e o Sistema Galáctico de
Coordenadas.
A interpretação empreendida, e que teve como fim explicar o porquê dos sinais „negativo‟ e
„positivo‟ dos números, apresentou como resultado em primeira mão que 45.0024 graus fora, de
fato, o ângulo que o Duto Sul da Câmara do Rei (fig. 25) deveria manter com a Linha do Horizonte
– representativa do eixo atual que liga o Ponto Vernal ao Ponto Outonal – para que a declinação do
Ponto Um Beta (DEC 17º34‟45.12‟‟ S / 17.5816 GRAUS SUL) fosse mantida por uma relação
coerente dos ângulos da Câmara do Rei. E, num segundo momento, seus resultados sugerem que o
idealizador dessas relações trabalhou conceitos que envolvem simetria de números e a concepção de
uma esfera celeste dividida em hemisférios norte e sul, com o disco galáctico como círculo máximo.
Essa conclusão será corroborada pelo fato de o mesmo padrão ter sido usado nos registros das

Página 64 de 126
declinações dos pontos Dois e Três, como em seguida veremos. Mas dessa vez usando-se as noções
dos sistemas equatorial e horizontal de coordenadas.

2.5.6 A declinação do Ponto Três.


(Por questões puramente expositivas, veremos primeiro o registro da declinação do Ponto Três
Eclíptico, e, em seguida, debruçar-nos-emos sobre como fora registrada a declinação do Ponto Dois,
que também é um ponto eclíptico).
Para a elaboração das relações que guardariam a declinação do Ponto Três Eclíptico, o
construtor já dispunha da própria declinação desse ponto (11º 1‟ 14.88‟‟ N / 11.0208 graus N), da
declinação do zênite sobre a pirâmide (29.9792 graus norte) e do ângulo entre o Corredor
Ascendente/Grande Galeria e o eixo vertical da pirâmide (63.9584 graus), faltando-lhe apenas criar
um ângulo no lado sul da Câmara do Rei cujo valor, somado aos outros ângulos, possibilitasse o
registro da declinação do ponto em questão.
Ressaltemos que a Câmara do Rei também participa no registro da declinação do Ponto Três
Eclíptico, e que o faz porque representa Gamma Cygni, que também ancora o círculo celeste que
intercepta o Ponto Três – o Círculo Celeste Três (fig. 30).
Neste ponto da explanação, já dispomos, então, dos seguintes dados:
- 63.9584: ângulo entre o Corredor Ascendente/Grande Galeria e o Eixo Vertical da Grande
Pirâmide.
+ 11.0208 graus norte: declinação do Ponto Três quando Polaris adquire a condição de estrela polar.
+ 29.9792 graus norte: valor do zênite interceptado pelo prolongamento do eixo vertical da
pirâmide.
Uma vez dispondo dos três dados acima, o projetista pôde definir que ângulo o novo duto
sul da Câmara do Rei deveria formar com a Linha do Horizonte para que pudesse registrar as
relações que facultariam no futuro a abstração da declinação do Ponto Três. E aplicou, para a
dedução do ângulo, a seguinte equação.
- 63.9584 + 29.9792 + X = + 11.0208 graus
X = + 11.0208 + 63.9584 – 29.9792
X = 45 graus
Temos então que a soma dos valores presentes no registro [(- 63.9584) + (+ 29.9792) + (+
45)] é igual a „+11.0208‟ (11º 1‟ 14.88‟‟ N), que é a declinação do Ponto Três Eclíptico no
momento precessional em que Polaris adquire a condição de estrela polar.
E novamente nos indagamos sobre o que explicaria os sinais „negativo‟ e „positivo‟ dos
números.

Página 65 de 126
Figura 30 – Ascensão reta e declinação do Ponto Três e o Sistema Horizontal de Coordenadas.
Observe a figura 30. Tal como vimos à página 64, essa figura é uma planificação da figura
26 representativa da Esfera Celeste, e privilegia o disco eclíptico que figura em primeiro plano.
Fazendo o vértice do triângulo da figura apontar para cima, e incluindo a faixa cinza ilustrativa do
solo de Gizé, empreendemos uma translocação imaginária do triângulo piramidal de seu lugar na
Esfera Celeste e o colocamos no planalto de Gizé.
Vemos na ilustração esquemática da figura 30 que o semicírculo eclíptico superior é
coincidente com o meridiano local de Gizé, com o Ponto Vernal (zero eclíptico) coincidindo com o
ponto sul cardeal de Gizé; o ponto nodal ascendente dos planos galáctico e eclíptico coincidindo
com o zênite apontado pelo vértice da pirâmide (90 graus eclípticos); o Ponto Outonal (180 graus
eclípticos) coincidindo com o ponto norte da região; e o ponto nodal descendente dos mesmos
planos coincidindo com o nadir de Gizé (270 graus eclípticos).
Sendo a base do semicírculo referido coincidente com a linha norte-sul geográfica de Gizé –
que nos céus é o eixo que liga os pontos eclípticos vernal e outonal –, ela representa então o
horizonte da região, e os valores (+ 45) e (- 63.9584) pertencem a lados opostos dessa linha
representativa do horizonte. O primeiro está no hemisfério norte segundo um sistema horizontal de
coordenadas, e, por isso, deve ser considerado positivo; o segundo está no hemisfério sul do

Página 66 de 126
sistema, e é considerado negativo. O ângulo entre o zênite e o Equador Celeste (29.9792 graus)
situa-se no hemisfério norte do sistema, e deve ser também considerado positivo.
Temos, então, como resultado em primeira mão, que 45 graus fora o ângulo que o Duto Sul
da Câmara do Rei deveria manter com a Linha do Horizonte para que a declinação do Ponto Três
Eclíptico (11º 1‟ 14.88‟‟ N / 11.0208 graus N) fosse mantida pela relação que há entre o valor do
zênite e os valores dos ângulos da Câmara do Rei (que representa Gamma Cygni, estrela do Cisne
que ancora o Círculo Celeste Três que intercepta o Ponto Três). E, num segundo momento, o
método utilizado sugere que o idealizador dessas relações, no registro da declinação do ponto em
questão, novamente trabalhou conceitos que envolvem simetria de números e a concepção de uma
esfera celeste divida em hemisférios norte e sul, mas desta vez com o horizonte local como círculo
máximo.
Temos ainda que 45 graus fora o ângulo que o novo duto sul da Câmara do Rei deveria manter
com a Linha do Horizonte para que a declinação do Ponto Três Eclíptico (11º 1‟ 14.88‟‟ N /
11.0208 Graus N) fosse mantida pela relação que há entre os ângulos da Grande Galeria, Câmara do
Rei e zênite de Gizé – destacando-se que a angulação desse novo duto é praticamente a mesma do
anterior, diferindo de apenas 0, 0024 grau, o que não justificaria e nem possibilitaria a construção
de ambos os dutos.

2.5.7 A declinação do Ponto Dois Eclíptico.


Proponho que o projetista da Grande Pirâmide, depois de ter mapeado a Esfera Celeste conforme o
faz a Astronomia atualmente – ou seja, através de um sistema equatorial de coordenadas que têm
Polaris e o polo sul atual como pontos fixos –, e aferido, na primeira fase do projeto de construção
da Grande Pirâmide, qual coordenada geográfica seria usada para a construção do complexo das
pirâmides, já dispunha, para a elaboração das relações que guardariam a declinação do Ponto Dois
Eclíptico, da própria declinação desse ponto (DEC 20º25‟14‟‟ S / 20.4205 GRAUS SUL), da
declinação do zênite (29.9792 GRAUS NORTE) e do ângulo que haveria entre o Duto Norte da
Câmara da Rainha e o eixo vertical da pirâmide (51 graus); só lhe faltando, então, a projeção de um
duto sul que guardasse um ângulo que, aplicado ao mesmo esquema usado para as abstrações das
declinações dos pontos Um Beta e Três Eclíptico, fornecesse a declinação do Ponto Dois Eclíptico.
Para uma tentativa de abstração do ângulo referido, apliquemos inicialmente aqueles dados
aos dois esquemas que levaram em conta, para a abstração das declinações dos pontos Um Beta e
Três Eclíptico, as noções de simetria numérica para oposição de hemisférios nos sistemas galáctico
e horizontal de coordenadas.
Se usarmos as noções de simetria numérica constantes do Sistema Galáctico de
Coordenadas, chegaremos ao seguinte resultado para os valores (+ 51), (- 29.9792) e (- X).

Página 67 de 126
Figura 31 – Ascensão reta e declinação do Ponto Dois eclíptico e o Sistema Equatorial de Coordenadas.

+ 51 – 29.9792 – X = - 20.4205
+ 51 – 29.9792 + 20.4205 = X
X = 41.4413 graus

E se usarmos aquelas do Sistema Horizontal de Coordenadas, chegaremos ao seguinte


resultado para os valores (+51), (+29.9792) e (+ X).

+51 + 29.9792 + X = - 20.4205


+ 51 + 29.9792 + 20.4205 = - X
X = – 51 – 29.9792 – 20.4205
X = - 101. 3997 graus
Mas logo percebemos que há algo errado, pois sabemos que nenhum dos módulos dos
valores encontrados (41.4413; 101. 3997) corresponde ao valor do ângulo com o qual o Duto Sul da
Câmara da Rainha está inclinado, e que, ao invés disso, aquele duto inclina-se com uma angulação
de 39.6 graus [39º36‟] (fig. 32).

Página 68 de 126
Figura 32 – A Grande Galeria, os dutos sul e norte da Câmara da Rainha e os dutos sul e norte da Câmara do
Rei. Fonte:

Bom. Se as noções de simetria numérica constantes dos sistemas galáctico e horizontal de


coordenadas não nos fornecem a declinação do ponto eclíptico em questão, isso nos aponta, então,
uma provável eficácia na abstração da declinação do ponto se adotarmos outro sistema celeste de
coordenadas.Tentaremos agora, portanto, a abstração da declinação do Ponto Dois Eclíptico através
das noções do Sistema Equatorial de Coordenadas (que tem, naturalmente, o Equador Celeste como
círculo máximo), já que o ponto em questão é interceptado pelo Círculo Celeste Dois, que é um
círculo horário nos dias de Polaris como estrela polar. Mas para um uma efetiva compreensão do
que se propôe neste subítem, nomearemos primeiro algumas especificidades da Câmara da Rainha.
Para entendermos as particularidades da Câmara da Rainha, necessitamos recapitular algumas
especificidades do Círculo Celeste Dois, que é, repito, um círculo horário nos dias atuais e que
permanentemente intercepta o Ponto Dois Eclíptico, além de estar ancorado em Eta Cygni, estrela
do Cisne representada pela Câmara da Rainha que guarda as relações que facultam a abstração da
declinação daquele ponto.
O Círculo Celeste Dois apresenta as seguintes especificidades:
1) é um círculo horário porque intercepta Polaris e o polo sul celeste, além de interceptar o
Equador celeste a 90 graus;
2) é um grande círculo porque intercepta o zênite e o nadir de Gizé;
3) está ancorado na estrela Eta Cygni de Cygnus, representada pela Câmara da Rainha;
4) intercepta o Ponto Dois Eclíptico entre as constelações de Capricórnio e Sagitário (fig. 33);

Página 69 de 126
5) o valor de sua ascensão reta é 19h56m18s, e, naturalmente, todos os pontos celestes
interceptados por ele terão a mesma ascensão reta, inclusive Eta Cygni e o Ponto Dois Eclíptico;
6) alinha-se com o Meridiano de Gizé uma vez a cada 24 horas siderais; e
7) Seu ponto interceptado pelo prolongamento do Eixo Vertical da Grande Pirâmide é o zênite da
região (29.9792 GRAUS NORTE).

Por apresentar tais especificidades, o Círculo Celeste Dois transfere ao Ponto Dois Eclíptico e à
própria Câmara da Rainha propriedades também específicas, e uma dessas peculiaridades é a
simplicidade que a abstração da declinação do Ponto Dois apresenta quando comparada com o
modo usado pelo idealizador daquelas relações para possibilitar o registro das declinações atuais
dos pontos Um Beta e Três Eclíptico.

Figura 33 – Interceptação do Ponto Dois Eclíptico pelo prolongamento do Duto Sul da Câmara da Rainha durante o
alinhamento nos dias atuais do Círculo Celeste Dois com o meridiano de Gizé.

O Círculo Celeste Dois, por ser um círculo horário nos dias atuais, alinha-se diariamente às 19h
56m e 18s siderais em Gizé com o meridiano local da região (fig. 33). Sendo o Ponto Dois Eclíptico
um ponto desse círculo celeste, é também interceptado pelo meridiano da região no mesmo instante
em que esse círculo celeste se alinha com o meridiano local. O projetista considerou razoável então

Página 70 de 126
que naquela câmara deveria haver um duto (o Duto Sul da Câmara da Rainha) cuja angulação
fornecesse a declinação do ponto e cujo prolongamento também interceptasse o Ponto Dois
Eclíptico toda vez que, no tempo precessional de Polaris, o Círculo Celeste Dois estivesse alinhado
como o meridiano local de Gizé: eis aí um dos principais motivos de a Grande Pirâmide ter sido
construída perfeitamente alinhada com os pontos cardeais.

Figura 34 – O Ponto Dois e o Sistema Equatorial de Coordenadas.


Constataremos agora que essa dupla interceptação do Ponto Dois Eclíptico de fato foi calculada
pelo projetista de modo a somente acontecer no tempo de Polaris, quando o Círculo Celeste Dois
transmuta-se em círculo horário e se alinha com o Meridiano de Gizé a cada 24 horas siderais de
Eta Cygni.
A angulação do Duto Sul da Câmara da Rainha obedece, portanto, a uma lógica diferente
daquela usada nas relações da Câmara do Rei para a abstração das declinações dos pontos Um Beta
e Três Eclíptico, e isso se justifica pelas especificidades do Círculo Celeste Dois, pois, sendo este
um círculo horário nos tempos atuais, alinha-se com o Meridiano de Gizé em intervalos fixos de 24
horas siderais, e, estando a Grande Pirâmide perfeitamente alinhada com o eixo norte-sul geográfico
da região, a própria angulação do Duto Sul da Câmara da Rainha já se faz suficiente para a
abstração do módulo da declinação do ponto em questão ( valor de X = 20.4208 graus / 20º25‟14‟‟),
que é interceptado pelo prolongamento do duto sul durante o alinhamento (fig. 33), bastando para
isso levarmos em conta que a soma dos ângulos formados entre o duto norte e o zênite (51 graus);
entre o zênite e o Equador Celeste (29.9792 graus); entre o Duto Sul da Câmara da Rainha e o
horizonte (39.6 graus); e entre o prolongamento para baixo do Duto Norte da Câmara da Rainha e o
horizonte (39 graus) é igual a 180 graus.

Página 71 de 126
Figura 35 – Altura do Ponto Dois Eclíptico, em 21 de dezembro de 2012 e ao tempo de Polaris como estrela polar, às
19h56m18s siderais em Gizé (11h46min UTC), segundo o Sistema Horizontal de Coordenadas.

Feitas todas essas considerações, é possível acharmos agora o modo com o qual a declinação do
Ponto Dois Eclíptico está mantida na Câmara da Rainha. Apliquemos, para isso, aqueles valores à
seguinte equação, tendo-se como parâmetro desta vez o Sistema Equatorial de Coordenadas (fig.
34).
51 + 29.9792 + X + 39.6 + 39 = 180
51 + 29.9792 + 39.6 + 39 -180= - X
- X = - 20. 4208 graus
X = 20.4208 graus.
Comprovamos, portanto, que, usando-se as noções de um sistema equatorial de coordenadas
(que tem o Equador Celeste como círculo máximo) e os valores angulares relacionados com a
Câmara da Rainha, é possível abstrairmos o módulo da declinação do Ponto Dois Eclíptico
interceptado nos dias de Polaris como estrela polar a cada 24 horas siderais de Eta Cygni, estrela do
Cisne representada por aquela câmara e que ancora o círculo horário que intercepta o referido
ponto.

Página 72 de 126
Não obstante, existe um modo mais prático de abstrairmos a declinação do Ponto Dois
Eclíptico. Projetando o Duto Sul da Câmara da Rainha a um ângulo de 39.6 graus relativamente ao
horizonte, o arquiteto daquelas estruturas intencionou fazer o prolongamento daquele duto
interceptar o Ponto Dois por ocasião dos alinhamentos, e isso nos fornece a altura e azimute do
ponto segundo o Sistema Horizontal de Coordenadas Celestes (altura: 39.6 graus; azimute: 180
graus – fig. 36), e que tem a linha do horizonte de Gizé como círculo máximo. E, para
confirmarmos essa proposição, basta que a distância entre o zênite e o Equador Celeste (a própria
declinação do zênite: 29.9792 GRAUS NORTE) e o valor da altura astronômica do ponto no
momento do alinhamento sejam subtraidos dos 90 graus existententes entre o zênite apontado pelo
eixo da pirâmide e o horizonte (fig. 35).
Façamos a dedução.
90 – 29.9792 – 39.6 = X
X = 20.4208 graus
(O site www.fourmilab.ch/cgi-bin/yoursky dispõe de um sistema de simulação da configuração
celeste, bastando para isso que sejam introduzidos horários e uma coordenada geografica
específicos, no caso, a própria coordenada do Eixo Vertical da Grande Pirâmide: 29°58‟45.28‟‟ N;
31°8‟3.11‟‟ E.).
No presente estudo, prescinde-se de datas específicas porque as posições do Sol, da Lua e
dos Planetas não importaram para o registro aqui decodificado.

Página 73 de 126
2.5.8 Sumário.
A Grande Pirâmide é substancialmente um registro das coordenadas equatoriais dos pontos celestes
Um Beta, situado no triângulo Delta-Upsilon-Tau2 de Aquários (RA 22h41m43s; Dec17º34‟45.12‟‟
S), Dois Eclíptico (RA 19h56m18s; Dec 20º25‟14‟‟ S) e Três Eclíptico (RA 1h44m10s; Dec
11º1‟14.88‟‟ N) indicados pelas retas celestes Um, Dois e Três e no tempo precessional em que se

Figura 36 a – Pontos Um, Dois e Três indicados pelas retas celestes Um, Dois e Três.
dá o início da era zodiacal de Aquários, com a estrela Polaris como estrela polar apontada pelo
prolongamento do Duto Norte da Câmara do Rei. Tais condições fazem com que o Círculo Celeste
Dois (que liga Polaris ao Ponto Dois Eclíptico) converta-se em círculo horário e possa alinhar-se
com o Meridiano Local de Gizé – o que só ocorre nos dias atuais. E o método para a abstração das
coordenadas equatoriais dos pontos referidos, registradas nas relações que os dutos e corredores da
pirâmide têm com o zênite e horizonte de Gizé, dá-se do seguinte modo.

Ponto Um Beta

Ascensão Reta:

RA do nodo ascendente (18h52m7.2s) – Ponto Quatro Beta, indicado pela linha do disco galáctico e
que está situado entre os planos eclíptico e equatorial – adicionada de 57.40 graus (229.6 minutos).

Página 74 de 126
18h52m7.2s mais 229.6 minutos = 22h41m43s.

Declinação:
Obtém-se a declinação do Ponto Um Beta através da soma dos ângulos vinculados à Câmara do Rei
e o zênite.
+ 57.40 – 45 – 29.9792 = – 17º34‟45.12‟‟.

Figura 36 –b – Síntese das relações dos dutos, corredores e eixo vertical da Grande Pirâmide com o Disco Galáctico
(Círculo Quatro), a Eclíptica, o Equador Celeste, e os círculos celestes Um, Dois e Três.

Ponto Dois Eclíptico

Ascenção Reta:

Mesma RA do Círculo Celeste Dois (19h56m18s) que intercepta Eta Cygni e o Ponto Dois
Eclíptico, pois esse círculo torna-se um círculo horário quando Polaris adquire a condição de estrela
polar.

Declinação:
Obtém-se o módulo da declinação do Ponto Dois Eclíptico através da soma dos ângulos vinculados
à Câmara da Rainha subtraídos de 180 graus.

180 = 51 + 29.9792 + Dec + 39.6 + 39


Dec = 180 – 51 – 29.9792 – 39.6 – 39

Página 75 de 126
Dec = 20.4208 graus

Ponto Três Eclíptico

Ascensão Reta:

RA do nodo ascendente (6h) – ponto indicado pela linha do disco galáctico (Círculo Quatro) e
situado entre os planos do disco galáctico e eclíptico – subtraída de 63.9584 graus (255.83 minutos).

6h menos 255.83 minutos = 1h 44m 10s

Declinação:

Obtém-se a declinação do Ponto Três Eclíptico através da soma dos ângulos do Duto Sul da Câmara
do Rei, do Corredor Ascendente/Grande Galeria e o zênite.
- 63.9584 + 45 + 29.9792 = + 11.0208 graus.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.

3.5 Achados.
3.5.4 Achado um: Cygnus, a Grande Pirâmide e Polaris.
Constatamos que a correlação proposta por Andrew Collins entre a constelação de Cygnus e o
complexo do Planalto de Gizé é de fato uma realidade. E, depois de havermos nos certificado,
através das várias provas apresentadas neste trabalho, de que a Grande Pirâmide é uma replicação
de relações astronômicas entre segmentos de círculos celestes que unem estrelas circumpolares a
estrelas de Cygnus, e que perpassam transversal e longitudinalmente aquela constelação, e de que
aquela imensa estrutura guarda uma relação funcional precessional entre o Círculo Norte Polar
Celeste, círculos horários, grandes círculos, a Eclíptica e o Equador Celeste, concluímos que a
precisão matemática e a assertividade dos conceitos astronômicos empregados pelo idealizador
dessas relações, preservadas no arranjo das estruturas daquele planalto e na disposição dos dutos e
corredores da Grande Pirâmide, não nos deixam dúvidas de que tais relações, elaboradas através do
emprego de conhecimento sofisticado e anacrônico ao período em questão, foram formuladas para
somente fazerem sentido nos dias atuais, quando – sabia seu formulador – Polaris coincidiria com o
Polo Norte Celeste, e quando a era zodiacal de Aquários/Osíris teria início.

Página 76 de 126
3.5.4.1 Prova um: A Reta Dois, a Linha Norte-Sul de Gizé, o Meridiano Local e o Círculo Horário
Dois.
A Reta Dois, representada no solo de Gizé através das posições relativas das estruturas daquele
complexo, simboliza o Círculo Horário Dois, que, depois de 45 séculos desde que aquelas estruturas
foram construídas e alinhadas com o meridiano e o norte geográfico de Gizé, pela primeira vez
intercepta a estrela Polaris, a estrela Eta Cygni do pescoço de Cygnus, o Ponto Dois Eclíptico e o
Polo Sul Celeste (figs. 14, 17).

3.5.4.2 Prova dois: Grande Pirâmide – uma replicação de um recorte triangular da Esfera Celestre
que circunscreve Cygnus.
O arquiteto da Grande Pirâmide circunscreveu as oito estrelas do Cisne e Vega (estrela da Lyra) em
um triângulo, fez um recorte do “pedaço” da Esfera Celestre circunscrito a essa figura geométrica, e
usou esse “recorte” dos céus atravessado por círculos horários e grandes círculos de tempos
precessionais distintos como modelo para construir a maior das pirâmides com a configuração de
dutos e corredores que apresenta (figs. 18, 19).

3.5.4.3 Prova três: o Corredor Ascendente/Grande Galeria, o Eixo Vertical da Grande Pirâmide e o
ângulo entre os grandes círculos Três e Quatro.
O ângulo entre a linha do Corredor Ascendente/Grande Galeria e o Eixo Vertical da Grande
Pirâmide guarda os 63.9584 graus formados entre os grandes círculos Três e Quatro ao tempo de
Polaris como estrela polar. Portanto, o ângulo guardado na pirâmide é um registro do ângulo oposto
ao ângulo formado entre os grandes círculos Três e Quatro que interceptam a Eclíptica nos pontos
Três e Quatro Alpha (fig. 20).

3.5.4.4 Prova quatro: os pontos eclípticos Três e Quatro Alpha e a configuração da Esfera Celeste
atual.
Sabemos que o plano eclíptico é fixo e está orientado, em relação ao plano do Disco Galáctico, a
um ângulo de 60.2 graus. Sendo assim, o passar dos séculos não desconfigura sua orientação
espacial dentro da galáxia, e a qualquer era zodiacal os círculos celestes Três e Quatro sempre
interceptarão os mesmos pontos eclípticos (chamados aqui de “Três” e “Quatro Alpha”) que
atualmente delimitam aquele ângulo de 63.9584 graus. Destaca-se aqui, porém, que é somente nos
dias atuais, quando Polaris é a estrela polar, que aqueles pontos eclípticos têm aqueles valores
ângulo-horários (Ponto Três = 26.0416 graus e Ponto Quatro Alpha = 90 graus), que são exatamente
os ângulos guardados na Grande Pirâmide entre a linha do Corredor Ascendente/Grande Galeria e
o Horizonte e entre a linha do Horizonte e o vértice da pirâmide (fig. 30).

Página 77 de 126
3.5.4.5 Prova cinco: o Duto Norte da Câmara do Rei, o Eixo Vertical da Grande Pirâmide e o
ângulo entre os círculos celestes Um e Quatro.
A medida do ângulo entre o Duto Norte da Câmara do Rei e o Eixo Vertical da Grande Pirâmide
replica o ângulo de 57.40 graus existente atualmente, quando Polaris é a estrela polar, entre os
círculos horários P e N que interceptam os pontos Um Beta e Quatro Beta (nodo ascendente),
apontados, respectivamente, pelo Círculo Celeste Um e pelo Círculo Celeste Quatro (fig. 21).

3.5.4.6 Prova seis: o Duto Sul da Câmara do Rei, o Eixo Vertical da Grande Pirâmide e a declinação
do Ponto Um Beta.
O Duto Sul da Câmara do Rei foi projetado a um ângulo de 45,0024 graus para que a declinação do
Ponto Um Beta (DEC 17º34‟45.12‟‟ S / 17.5816 GRAUS SUL) pudesse ser mantida pela relação
que os ângulos dos dutos da Câmara do Rei têm com o zênite e o horizonte de Gizé.

3.5.4.7 Prova sete: altura e declinação do Ponto Dois Eclíptico e a dupla interceptação do ponto.
O Círculo Celeste Dois é um círculo horário nos dias atuais, por isso, alinha-se diariamente e
durante um breve instante com o Meridiano de Gizé. Sabemos que o Ponto Dois Eclíptico é
pemanentemente interceptado por aquele círculo celeste, cujo ancoramento é feito pela estrela Eta
Cygni, que é representada pela Câmara da Rainha. Sendo assim, o construtor considerou razoável
que nessa câmara deveria haver um duto (o Duto Sul da Câmara da Rainha) cujo prolongamento
também interceptasse o Ponto Dois Eclíptico no tempo precessional de Polaris como estrela polar
no instante sideral exato em que Eta Cygni cruza o meridiano de Gizé (19h56m18s), momento em
que ocorre o alinhamento do Círculo Celeste Dois com o meridiano local (fig. 33).
Portanto, constatamos que a angulação com que o Duto Sul da Câmara da Rainha foi
projetado para o registro da declinação do Ponto Dois obedece a uma lógica diferente daquela usada
nas relações angulares que envolvem o Duto Norte da Câmara do Rei para a abstração da
declinação do Ponto Um Beta e nas relações angulares que envolvem o Corredor Descendente para
a abstração da declinação do Ponto Três Eclíptico, e que isso se justifica pelas especificidades do
Círculo Horário Dois, pois, sendo este um círculo horário nos tempos atuais, alinha-se com o
Meridiano de Gizé às 19h56m18s, horário sideral em que Eta Cygni cruza aquele meriadiano.
Por tais especificidades, e por estar a Grande Pirâmide perfeitamente alinhada com o eixo
norte-sul geográfico da região, a própria angulação do Duto Sul da Câmara da Rainha já se faz
suficiente para a determinação do módulo da declinação do ponto celeste por ele indicado, bastando
para isso levarmos em conta os 90 graus entre o horizonte e o zênite da região e os 29.9792 graus
entre o zênite e o Equador Celeste.

Página 78 de 126
Dito de outro modo: Por especificidades apresentadas pelo Círculo Horário Dois, existe
uma relação dos dutos da Câmara da Rainha com o zênite e o horizonte de Gizé que guarda a
declinação do Ponto Dois Eclíptico.
Vimos também que as especificidades do Círculo Horário Dois fazem com que o valor da
angulação que o Duto Sul da Câmara da Rainha tem com o horizonte seja a própria altura
astronômica do Ponto Dois Eclíptico segundo um sistema horizontal de coordenadas e
considerando-se o momento do alinhamento do Círculo Horário Dois com o Meridiano de Gizé (fig.
33).

3.5.4.8 Prova oito: O Corredor Ascendente/Grande Galeria, o Eixo Vertical da Grande Pirâmide e a
declinação do Ponto Três Eclíptico.
O Corredor Ascendente/Grande Galeria foi projetado a um ângulo de 63.9584 graus relativamente
ao eixo vertical da pirâmide para que a declinação do Ponto Três Eclíptico (Dec. 11º 1‟ 14.88‟‟ N /
11.0208 graus N) pudesse ser mantida pela relação que o ângulo daquele corredor tem com o Duto
Sul da Câmara do Rei, o zênite e o horizonte de Gizé.

3.5.4.9 Prova nove: A Reta Dois, a Reta Três, o Olhar da Esfinge e o Paralelo Trinta.
A cidade do Cairo e o planalto de Gizé situam-se sobre o Paralelo Trinta. A Reta Três coincide com
aquele paralelo – pois está orientada com o eixo leste-oeste da região – e intercepta, de oeste para
leste, o cume da Pirâmide de Chefra, passando entre os olhos da Esfinge, para depois interceptar o
ponto leste de Gizé, para onde se volta o Olhar da Grande Quimera do Nilo.
O Complexo de Gizé reproduz, portanto, a disposição da Constelação de Cygnus
relativamente aos pontos cardeais nos dias de Polaris como estrela polar, momento precessional em
que se dá o início da era de Aquários – e isto é o que de mais impressionante revela este trabalho –,
com a ressalva de que o complexo está propositadamente orientado no sentido noroeste-sudeste, e a
constelação, no momento do alinhamento, no sentido nordeste-sudoeste (figs. 38, 39 e 40).

3.5.5 Achado Dois: Especificidades da configuração da Esfera Celeste segundo o Sistema


Equatorial de Coordenadas e no tempo de Polaris como estrela polar versus planos galáctico e
eclíptico.
Os nodos (pontos de intersecção) entre os planos da Eclíptica e do Disco Galáctico apresentam, nos
dias atuais, quando Polaris é a estrela polar, valores de ascensão reta iguais a seis horas (90 graus) e
dezoito horas (270 graus). Constatamos ao longo do desenvolvimento deste estudo que as
especificidades da configuração atual da Esfera Celeste mapeada segundo um Sistema Equatorial de
Coordenadas – que tem os círculos horários partindo de Polaris, cruzando o Equador Celeste a 90
graus, e convergindo para o Polo Sul Celeste atual, e que ainda tem suas ascensões retas medidas a

Página 79 de 126
partir do Ponto Vernal quando este atinge a faixa zodiacal de Aquários (zero hora; zero grau) – está
diretamente relacionada com a condição da Grande Pirâmide como mantenedora de ângulos celestes
que se validam neste momento precessional marcado por Polaris como estrela polar e pelo Ponto
Vernal adentrando a faixa zodiacal de Aquários como signo indicador de uma nova era.
As provas para este achado são os próprios dados astronômicos encontráveis em qualquer
sítio eletrônico sério que trate de Astronomia de Posição.

3.6 Propostas.
3.6.4 Proposta Um: A influência do Mediterrâneo Oriental.
Interferências culturais de povos do Mediterrâneo Oriental – que por sua vez replicavam, com
pouquíssimas alterações, sistemas religiosos de povos mesopotâmicos – levaram-me a vislumbrar,
em meu ensaio publicado em 2011, semelhanças entre a cultura e sistemas religiosos dos povos do
Entre rios e outros povos de seu entorno e um dos sistemas religiosos egípcios mais antigos: a
Enéade Heliopolitana. Sistemas religiosos tais como o assírio, o babilônico, o hitita e o caldeu
replicam aquele que lhe é mais antigo, o sumério, e a este pertence uma das epopeias cosmogônicas
mais famosas, o Enuma Elish. Comparando os resultados de minhas análises desta conhecida
epopeia suméria com as de autores, como Zecharia Sitchin (1976), L.W. King (1902) e o trabalho
conjunto de W. C. Lambert e S. B. Parker (1966), eu pude, em um primeiro passo, vislumbar uma
tentativa de elaboração de uma explicação objetiva para a origem dos mitos, das crenças e das
religiões através da identificação dos personagens daquela epopéia com entes astronômicos tais
como a Terra, Mercúrio, Vênus, a Eclíptica etc., e destes com os antiquíssimos personagens da
Enéade Heliopolitana, tais como Geb, Shu, Tefnut, Nut etc. (fig. 02). E, em um segundo momento,
detive-me na busca do estabelecimento da relação daquelas divindades (mesopotâmicas e egípcias)
e seus representantes celestes com as mudanças sazonais que intervinham na variação do volume
das águas dos rios Tigre, Eufrates e Nilo e com a dinâmica dos acontecimentos terrenos imbricados
com essa mudança de estações, tais como os períodos do plantio e colheita, construção de diques,
abate do gado etc. (Sampaio, 2011).
Alguns meses depois de essas relações terem sido concebidas, apliquei-as como novo
paradigma na tentativa de um olhar que viesse , de algum modo, ampliar nosso entendimento do
imaginário dos habitantes do Nilo à altura da IV Dinastia – o que, para minha própria surpresa,
trouxe-me a compreensão dos motivos que levaram à construção do Complexo de Gizé, com
especial destaque para sua maior estrutura: a Grande Pirâmide.

3.6.5 Proposta Dois: A dinâmica celeste e as cheias do Nilo na concepção religiosa dos egípcios
antigos.

Página 80 de 126
Uma vez que para os antigos egípcios havia uma sagrada simbiose entre o Nilo e todos os reinos
vivos da Terra, e que nada havia na natureza que dele não dependesse, justifica-se assim seu tipo de
crença em que quase todas suas representações sagradas seus deuses são pintados ou esculpidos de
maneira zooantropomórfica; e considerando-se o caráter de fetiche animístico próprio da religião
egípcia em tempos neolíticos, e sua posterior evolução para o politeismo (Brough, 1965, p. 30), o
primeiro passo em busca do entendimento proposto neste estudo foi proceder à vinculação das
antigas divindades e seus representantes celestes com a variação da densidade populacional de
algumas espécies que habitavam as áreas marginais ao Nilo – tais como leões, gado bovino,
gazelas, falcões, serpentes, camundogos, etc. –, tendo-se em vista que as mudanças sasonais que
intervinham, naturalmente, na variação do nível e volume das águas daquele rio e na variação
populacional das espécies animais eram consequências da ciclicidade anual dos equinócios e
solstícios aferida pela dinâmica das constelações do zodíaco, outras estrelas e posicionamento do
Sol ao longo da linha do horizonte nas auroras e crepúsculos.
A concepção da extrema importância que o Rio Nilo sempre desempenhou para os
grupamentos humanos que habitaram suas margens, a ideia de dependência vital que aqueles
grupamentos sempre tiveram do rio, e ainda a convicção de que uma dinâmica entre céu e terra –
muito mais do que apenas uma relação de representação estática entre entes celestes e símbolos
egípcios às margens do Nilo – dominava ativamente o imaginário do egípcio antigo, levaram-me a
supor a existência de uma relação funcional entre a ciclicidade do nível das águas do rio e as
posições que as quatro principais constelações do zodíaco egípcio (Aquários, Falcão, Leão e Touro)
regularmente assumiam nas auroras e crepúsculos dos equinócios e solstícios no período
precessional em que o Complexo de Gizé foi construído, e sugerimos que esse mecanismo de
pareamento de estímulos celestes periódicos desencadeados pela translação da Terra ao Sol com
estímulos terrenos também periódicos desencadeados pelo ciclo sazonal das cheias e vazantes do
Nilo transmutou-se em uma relação simbólico-religiosa possivelmente fomentada pelo
comportamento supersticioso dos antigos habitantes daquele rio (fig. 05).

3.6.6 Proposta Três: Osiris, o deus da fertilidade e o louvor à água: arquétipos para Aquários e sua
ânfora.
Vimos que de muitos modos o deus Osíris vincula-se à substância água e à ideia de fertilidade. E
também as vinculações da divindade com o próprio Nilo já nos são familiar. No subitem 2.4 das
considerações iniciais, onde tratei da antiga religião egípcia, propus a identificação da divindade
com a constelação de Aquários. E grande parte do desenvolvimento corroborou, através de
evidências matemático-astronômicas irrefutáveis, nossa proposta de fazer da mais venerada
divindade egípcia e do Portador das Àguas símbolos antropomorfizados para o mesmo ente celeste:

Página 81 de 126
a faixa zodiacal onde figura o conjunto de estrelas formadoras de Aquários e sua ânfora, cujo
hieróglifo é o mesmo usado para designar o Nilo (fig. 37).

Figura 37 – Símbolo designativo tanto do Nilo como das águas celestes que jorram da ânfora de Aquários.

Como foi assinalado nos primeiros momentos do tópico do desenvolvimento que trata da
religião do Egito Antigo, a Cultura do Mediterrâneo Oriental influenciou significativamente os
sistemas religiosos do Antigo Egito. O mesmo se dava quando uma dinastia divina do Mediterrâneo
Oriental atingia seu final e era substituida por outra, cuja consolidação significava o extermínio dos
antigos sacerdotes, destruição dos lugares de adoração e adaptação dos rituais e textos sagrados ao
culto da imagem do novo deus. No mesmo período em que a supremacia do deus Marduk se
consolidava em terras babilônicas, o culto a Amon-Rá ganhava força no Egito, em detrimento da
adoração a Osíris. Sob este mesmo tema, no capítulo nove de O Paraíso de Dimas e os Mitos
(Sampaio,2011), destaquei que o Enuma Elish apresenta como grande herói o deus Nibiru,
enquanto versões babilônicas atribuem esse papel a seu deus Marduk, e que isso pode ser
compreendido se tivermos em conta que o rei Hamurabi (1792/1750 a. C.) fundiu os antigos
registros sagrados contendo os mitos populares dos antigos sumérios em um único livro: a Epopeia
do deus Marduk – que, a propósito, era lida no início de todas as festas de seu reino para
consolidação da supremacia nacional do novo deus. Do mesmo modo como se dera com o Nibiru
sumério (o Hórus egípcio), a localização originária de Osíris, sobre sua barca celestial em sua eterna
viagem em águas celestes sagradas, e a localização de suas irmãs Ísis e Néftis (constelações onde se
destacam as estrelas Aldebaran e Antares, que o guiavam como holofotes balizadores naturais, à
popa e à proa de sua mítica embarcação, em sua viagem rumo ao Duat) foram levados ao
esquecimento para que a hegemonia de Amon-Rá se consolidasse. Assim, no lugar de Osíris e sua
Barca Sagrada a velejar naquelas águas entre estrelas, surgiu Aquários e sua ânfora, de onde
passaram a jorrar aquelas águas, tal como a constelação é ilustrada até os dias atuais.

3.6.7 Proposta Quatro: O Olhar da Esfinge, a Flecha de Órion, o Círculo Celeste Três e o Ponto
Outonal.
Observe na figura 38 que a cidade do Cairo e o planalto de Gizé situam-se sobre o paralelo 30. E
nessa figura podemos perceber que a Reta Três (voltamos aqui à noção de “retas”, pois neste caso

Página 82 de 126
tratamos dos aspectos do registro que lidam com relações planas designadas pelas posições relativas
das estruturas daquele planalto) coincide com aquele paralelo, pois está orientada de acordo com o
eixo Leste-Oeste da região. Note ainda na figura 39 que a reta intercepta o cume da Pirâmide de
Chefra e a Esfinge.

Figura 38 – Gizé e o Paralelo 30. Fonte:

Compare agora a figura 39 com a figura 40 e perceba que o Complexo de Gize reproduz a
disposição da Constelação de Cygnus, no momento do alinhamento, relativamente aos pontos
cardeais, com a ressalva de que o complexo está orientado no sentido noroeste-sudeste, e a
constelação, no sentido nordeste-sudoeste.
Deve o leitor ter bem claro em sua mente que o complexo em questão reproduz a disposição
da constelação nos dias de Polaris, pois somente nos dias atuais o Círculo Celeste Dois
(representado pela Reta Dois que intercepta os polos geográficos e perpassa o eixo norte-sul da
Grande Pirâmide) adquire a condição de círculo horário, o que significa que intercepta os polos
celestes e pode alinhar-se com o meridiano local.

De acordo com o exposto, podemos afirmar que o Grande Círculo Três somente adquire sua
disposição atual, coincidente com o eixo Leste-Oeste, nos dias em que Polaris adquire a condição
de estrela polar. E é exatamente sobre o significado disto que falaremos agora.

Vimos à página 47 que o Grande Círculo Três é representado na pirâmide pelo Corredor
Ascendente/Grande Galeria (figura 18), e que, sua progressão em direção aos céus do hemisfério sul
galáctico, intercepta o Ponto Três Eclíptico (fig. 20). Entretanto não havíamos nos referido ainda a
sua progressão para os céus situados para além do Ponto Três. Para que o façamos agora,
observemos uma vez mais a figura 40, para acompanharmos sua evolução rumo aos céus do leste de
Gizé a partir de Vega. Partindo desta estrela, primeiro o Círculo Celeste Três intercepta o Círculo
Horário Dois (disposto de norte para sul e alinhado com o Meridiano Local). Em seguida intercepta

Página 83 de 126
Gamma Cygni e depois corta a Eclíptica no Ponto Três, situado na Constelação de
Peixes.

Figura 39 – Configuração do complexo arquitetônico de Gizé, posições relativas das estrelas de Cygnus e o Paralelo 30.

Figura 40 – Configuração da constelação de Cygnus nos dias atuais durante o alinhamento do Círculo Celeste Dois com
o meridiano local de Gizé às 19h56m18s siderais em Gizé.

Página 84 de 126
Façamos agora um recorte do destaque em marrom para ampliação. A nova figura (fig. 41)
nos mostra, então, o Grande Circulo Três seguindo para os céus do leste de Gizé depois de
interceptar o Ponto Três Eclíptico, e podemos acompanhar a progressão do círculo celeste no mapa
completo dos céus mostrado na figura 42.

Figura 41 – Ampliação do destaque na figura 40, com destaque para o Círculo Três e o Ponto Três Eclíptico.

Façamos também um recorte do destaque em marrom da figura 42 para ampliação e


acompanhamento da progressão do círculo celeste. A nova imagem (fig. 43) mostra-nos a
progressão da linha do Grande Círculo Três primeiro interceptando o arco e o corpo do Arqueiro
Órion antes de atingir finalmente o Ponto Outonal, que neste início da Era de Aquários começa a
entrar na Constelação do Leão.

Figuras 42: Mapa celeste completo com o Ponto Outonal em seu ponto médio. Fonte:

Página 85 de 126
Proponho que o Olhar da Esfinge – cujo nome original é Hor-em-akhet: Hórus no horizonte
– fita o leste exatamente porque era nesse ponto do horizonte que a figura de Hórus, cortado à época
pela linha do Equador Celeste (Ponto Outonal), surgia por ocasião das festas de Ano Novo que
aconteciam no período de maior volume das águas do Nilo. A Quimera do Nilo fitaria, assim, o
leste à espera do Ponto Outonal. Esse seria, então, o significado do rumo de seu olhar.

Figura 43 – Ampliação do destaque na figura 42, com destaque para os pontos Dois e Outonal e o arco e flecha de
Órion.

Uma vez rememorados esses aspectos das relações empreendidas pelo antigo arquiteto, e
destacando-se uma vez mais que tudo foi feito para tomar sentido quando Polaris ocupasse o Polo
Norte Celeste, podemos propor, então, que a estrela Vega é representada pela Esfinge, pois a
quimera situa-se numa linha de visada Leste-Oeste, representativa do Grande Círculo Três, entre a
Pirâmide de Chefra – que é representada por Gamma Cygni – e o Ponto Outonal hoje entrando no
Leão, quando este surge no leste por ocasião do equinócio de outono; e a estrela, do mesmo modo,
situa-se entre Gamma Cygni e o Ponto Outonal num segmento do Grande Círculo Três que se
alinha visualmente nos dias atuais com os pontos Leste-Oeste do horizonte de Gizé (compare figs.
39 e 40).

Contudo, havendo se passado 45 séculos desde que a quimera foi construída – tempo
necessário para o Ponto Outonal sair do Falcão Sagrado, passar pelas constelações do Escorpião, da
Libra e da Virgem e, finalmente, começar a entrar, neste início de Era do homem Aquário, na
Constelação do felino Leão –, o Nilo do Baixo Egito já não atinge mais o mesmo volume de águas
que alcançava pelos dias do Equinócio de Outono. Nem as Festas de Ano Novo, que eram
realizadas por ocasião das cheias, acontecem mais... Mas a Quimera do Nilo – tal como aquele
pensamento grego afirma – é superior ao tempo, e, apesar de já terem se passado quatro milênios e
meio desde sua construção, ela nunca deixou de estar implacável a fitar o leste à espera de ver o
Leão ser perpassado pela flecha do arqueiro Órion – o que só acontece em nossos dias.

Página 86 de 126
3.6.8 Proposta Cinco: Hor-em-akhet e os híbridos mitológicos: Touro-Pássaro e Homem-Leão.
Órion, acompanhado de seus dois cães de caça – Cão Maior e Cão Menor (fig. 44) – lança sua
flecha, que primeiro cruza o Ponto Três eclíptico, em seguida cruza os céus do hemisfério sul
galáctico e passa para o hemisfério norte da galáxia exatamente quando intercepta Gamma Cygni no
peito de Cygnus – observe que neste instante a flecha do Caçador atinge o coração do Cisne. Logo
depois intercepta Vega, e, após percorrer grande parte dos céus do hemisfério norte galáctico, atinge
o Ponto Outonal, que neste início de era do homem Aquários começa a entrar na constelação do
felino leão: HOMEM-LEÃO – os dois aspectos que caracterizam a Quimera do Nilo.

Figura 44 – O Caçador Órion e seus dois cães: Cão Maior e Cão Menor.

Destas relações depreendemos, então, que o olhar da Esfinge (Hor-em-akhet, que significa
“Hórus no Horizonte”) fitava o leste porque era nesse exato ponto do horizonte que a figura de
Hórus – àquela época situada nas proximidades do Ponto Outonal – surgia por ocasião das festas de
Ano Novo que aconteciam no período de maior volume das águas do Nilo. Somos levados a
concluir, portanto, que a Quimera do Nilo fita o leste à espera do Ponto Outonal.
Contudo, havendo se passado vários milênios desde que a quimera foi construída – tempo
necessário para que o Ponto Outonal saísse do Falcão Sagrado, passasse pelas constelações do
Escorpião, da Libra e da Virgem e, finalmente, começasse a entrar, neste início de Era do homem
Aquário, na Constelação do felino Leão –, o Nilo do Baixo Egito já não atinge mais o mesmo
volume de águas que antes alcançava pelos dias do Equinócio de Outono. Nem as Festas de Ano
Novo, que eram realizadas por ocasião das cheias, acontecem mais... A Quimera do Nilo,
entretanto, continua implacável a fitar o leste à espera de ver o Leão ser perpassado pela flecha do
arqueiro Órion – o que só acontece neste início de era, quando Polaris atinge o Polo Norte Celeste,

Página 87 de 126
quando o Ponto Vernal adentra a constelação de Aquários e quando o Ponto Outonal atinge a
constelação do Leão.

Percebemos, portanto, nestas análises, que o responsável por esses registros destaca o
Equinócio de Outono e o Ponto Outonal, que, nesses dias de Polaris – início da era de Aquários
(que é um homem) – começa a entrar no zodíaco do felino Leão. Isso tem a ver, naturalmente, com
os dois aspectos que mais caracterizam a Esfinge, quimera cujo significado remete a esta nova era
que se inicia: a era do Homem-Leão. Essa relação, dicotômica do ponto de vista mitológico, é
originária do modo como eras zodiacais eram designadas ao tempo da IV Dinastia, quando se deram
as construções que erigiram o complexo de Gizé , tempo no qual ainda era vigente o costume de
representar as eras através de uma figura híbrida que unisse as figuras zodiacais representativas das
faixas celestes tangentes à Eclíptica onde os pontos vernal e outonal encontravam-se. Assim, temos
que àquela época os pontos vernal e outonal posicionavam-se nas faixas do Touro e do Falcão,
situadas em posições diametralmente opostas do círculo eclíptico e tangentes à linha do horizonte,
nas auroras e crepúsculos dos equinócios. Exatamente por isso, portanto, temos que os símbolos
híbridos TOURO-PÁSSARO indicadores da era taurina usados em diversas civilizações mesclavam
as figuras de par de asas com par de chifres, ou mesmo registros pictográficos dessas culturas em
que qualquer representante bovino estava acompanhado de um falcão ou águia.

3.6.9 Proposta Seis: Khufu e o Sistema Equatorial de Coordenadas.


Proponho que, depois de haver mapeado os céus a partir de Polaris, o idealizador das relações
geométrico-astronômicas presentes na Grande Pirâmide passou então à fase de ancoragem dos
círculos celestes que interceptariam os pontos dos quais ele já havia abstraído as declinações e
ascensões retas.
Khufu posicionou-se, então, no ponto do planalto de Gizé que coincidiria mais tarde com o
eixo vertical da Grande Pirâmide, e dali observou os céus durante o crepúsculo. A data era o
Equinócio de Outono, quando as grandes águas do Nilo do período refletiam – permitam-me um
pouquinho de poesia – a imagem de Chon/Lua durante o crepúsculo; quando Ísis/Touro figurava no
horizonte leste; e quando a imagem de Hórus/Pássaro era tangente à linha do horizonte oeste.
Thuban era a estrela polar, e o Círculo Celeste Um (que se constituía então em círculo horário) era o
círculo celeste coincidente com o meridiano local naquele instante. Considerando-se uma
progressão do ponto norte para o ponto sul, esse círculo interceptava primeiro a estrela Thuban, em
seguida cortava Gamma Cygni situada no zênite, para depois interceptar o Ponto Um Beta, à boca
da ânfora de Aquários. Depois de atingir o ponto, indicando-o, a progressão da linha do círculo
seguia para o polo sul celeste daquela época.
Através de algum modo para mim desconhecido (talvez com o uso de uma matemática
sofisticada), era possível a Khufu empreender uma progressão precessional aos céus e fazer Polaris

Página 88 de 126
coincidir com o Polo Norte Celeste (fig. 40), para então executar a ancoragem dos círculos celestes
e realizar a aferição dos ângulos que seriam registrados nos dutos e corredores da Grande Pirâmide.
Uma vez feita essa “progressão” e ancorado os círculos celestes, Gamma Cygni recuou um pouco
para nordeste, e Eta Cygni, em um ponto cortado pelo meridiano local, aproximou-se do zênite; os
círculos celestes Um e Quatro posicionaram-se em diagonal relativamente ao eixo Leste-Oeste; e os
círculos celestes Dois e Três formaram um cruz alinhada com os pontos cardeais (fig. 60).
Dispondo então da nova configuração celeste, Khufu manteve o Círculo Celeste Um
ancorado em Thuban e Gamma Cygni, permanentemente interceptando e indicando o Ponto Um
Beta, situado nos interiores do Triângulo Delta-Upsilon-Tau2 de Aquários e nas proximidades da
ânfora da mesma constelação; viu ele que o Círculo Celeste Dois, sendo então um círculo horário
alinhado com o meridiano local, partia de Polaris, interceptava Eta Cygni nas proximidades do
zênite, cruzava a Eclíptica, interceptando o Ponto Dois e, finalmente, indicava o polo sul de nossos
dias; ancorou o Círculo Celeste Três nas estrelas Vega e Gamma Cygni, fazendo sua progressão
interceptar, em um primeiro momento, o Ponto Três eclíptico, para, em seguida, interceptar e
indicar o Ponto Outonal de nossos dias, ou seja, entrando em Leão. Uma vez ancorado o Círculo
Celeste Três, Khufu adicionou aspectos mitológicos ao registro – o que lhe acrescentaria
consistência e possibilidade futura de decodificação – ao desenhar pela primeira vez a constelação
de Órion cujo ajuntamento de estrelas é perpassado pela progressão do Círculo Três, que se alinha
com a flecha do Arqueiro.

3.6.10 Proposta Sete: Khufu e o lugar de sua tumba.


Empreendemos algumas considerações sobre o imaginário humano à época de Khufu e nos
questionamos sobre os motivos pessoais que impeliriam o soberano àquela colossal e intrincada
empreitada, e propomos como justificativa um traço do ideário bem peculiar aos soberanos egípcios
do período histórico em questão: a obsessão pela ideia de eternidade. Sob esse enfoque, sugerimos
que uma possibilidade de explicação razoável para o comportamento de Khufu seria sua
preocupação com a segurança de sua múmia, já que a previsibilidade da ação dos saqueadores de
tumbas era óbvia (referência). Desvencilhar-se desse problema seria, portanto, crucial, e a
preocupação com a garantia da entrada de seu Ká no Mundo dos Mortos permearia tanto o
imaginário do rei como todos os passos do projeto de construção das estruturas daquele complexo.
Construir uma tumba absolutamente inviolável seria, portanto, imprescindível, e o modo como seria
construída e ocultada envolveria uma quantidade de força de trabalho e um nível tecnológico-
cientifico jamais vistos até então no planeta.

Usando de astúcia e engodo, Khufu construiu a câmara onde muitos esperaram encontrar sua
tumba – a Câmara do Rei –, e também nos deixou o acesso a ela. Mas os registros da Egiptologia

Página 89 de 126
não nos deixam dúvidas de que nem a múmia do soberano nem os objetos pessoais que se fazem
acompanhar o defunto jamais foram encontrados naquela câmara ou em qualquer outro lugar do
Egito (referência). Perguntar sobre a localização da tumba do faraó que construiu a maior e mais
enigmática das pirâmides é um questionamento milenar, e a resposta necessariamente nos remeterá
a um rápido retrospecto dos principais achados de Collins: a correlação entre a constelação de
Cygnus e as três pirâmides mais famosas do Egito e a entrada para um sistema de passagens nos
subterrâneos do planalto de Gizé.

Em 2010 Zahi Hawass, seguindo orientações de Andrew Collins, encontrou uma entrada,
que leva a um sistema de passagens subterrâneas, situada a oeste do complexo arquitetônico de
Gizé, no subsolo do deserto a certa distância da pirâmide de Chefra (fig. 06). Tal entrada, na
correlação proposta por Collins, é corresponde da estrela Deneb da cauda de Cygnus. Essa abertura,
segundo as palavras do escritor inglês, levaria à lendária “Sala dos Registros”, lugar que, segundo
os defensores das ideias de Edgar Cayce – sensitivo inglês famoso por inúmeras previsões que se
confirmaram verdadeiras – guardaria a tumba de Hermes, o mítico fundador do Egito. Ainda
segundo Collins, os interiores dessa câmara guardariam os registros de um domínio tecnológico-
científico de uma civilização extremamente avançada, cuja existência fora muito anterior aos
egípcios e que há muito fora devastada por fenômenos naturais cíclicos possivelmente
desencadeados por fatores astronômicos. De acordo com o que pensam os defensores dessa
possibilidade, a própria civilização egípcia e toda sua produção cultural, com especial destaque para
as estruturas do planalto de Gizé, teriam sido desenvolvidas pelos remanescentes dessa alta e
antiquíssima civilização perdida.

Deste modo, já que os dados não deixaram dúvidas de que cada estrela de Cygnus é
correspondente de alguma estrutura no planalto de Gizé e dentro da Grande Pirâmide, não seria
desrazoável supor a existência de uma estrutura ainda não encontrada no interior da maior das
pirâmides e possivelmente localizada em camadas de blocos acima daquelas onde o desonesto cel.
Richard R. Vyse encontrou em 1837 a câmara de Lady Arbuthnot (Sitchin, 1980, p.330). Não seria
plausível, então, tal como fez Collins sobre a localização da entrada para um sistema de passagens
subterrâneas, inferir a existência de outra câmara num ponto da pirâmide que também
correspondesse à estrela Deneb da cauda de Cygnus? Pensar que tal câmara contendo os restos
mortais de Khufu – seu idealizador, conforme os registros oficiais, e mantenedor dos registros da
civilização desaparecida de cujos remanescentes seria descendente, conforme os defensores das
ideias de Edgar Cayce – tenha sido construída e engenhosamente escondida para que fosse
encontrada somente num futuro distante, quando a evolução da ciência propiciaria as relações
necessárias para encontra-la, não seria um raciocínio aceitável em vistas de tudo que se viu neste
trabalho? Não haveria bom senso em considerar que a verdadeira tumba do faraó foi projetada sem

Página 90 de 126
qualquer acesso a ela para frustrar as tentativas dos saqueadores de tumbas que sabia o soberano os
séculos trariam? E que lá talvez se encontrem a múmia, inscrições em hieróglifos e objetos pessoais
mais estimados de um homem obcecado pela ideia de eternidade e cuja principal intenção fosse
manter seu sarcófago inviolável através dos milênios para somente ser descoberto em um tempo
longínquo, quando – tal como provavelmente acreditava o soberano em seu tempo e muitos de
nossos contemporâneos também esperam ser possível em futuro já não tão distante – os homens
atingiriam um grau de ciência capaz de reverter o processo de morte?

Muito do que vimos nestas páginas também nos leva a indubitavelmente crer que Khufu
preocupou-se sobremaneira com o que viria depois de sua morte, e os vários indícios constatados
neste trabalho sugerem que o lugar de sua tumba, tão procurado através dos séculos, e genialmente
ocultado até que tempos mais civilizados e cientificamente desenvolvidos chegassem, estaria,
paradoxalmente, à vista de todos: a Grande Pirâmide de Gizé. As inúmeras evidências e os diversos
achados deste trabalho sugerem que nos interiores da última das maravilhas do mundo antigo,
acima da quinta câmara situada sobre a Câmara do Rei e no ponto indicado pela estrela Deneb da
cauda do Cisne (fig. 19), estaria a múmia faraó e os registros de uma alta civilização perdida
preservados pelo soberano.

3.6.11 Proposta Oito: O registro de Khufu e a obliquidade do planeta.


Postulou-se neste trabalho que, tal como o Duto Norte da Câmara da Rainha representa um
segmento de um círculo horário dos dias atuais, o Duto Norte da Câmara do Rei representaria um
segmento de outro círculo horário, cujo polo norte era coincidente com Thuban. E é evidente a
existência de consenso entre estudiosos da Grande Pirâmide de que a Grande Galeria, por suas
dimensões imponentes, perfeição de entalhes e complexidade arquitetônica, juntamente com a
Câmara do Rei – construída em granito vermelho e com as mesmas distintas características daquela
galeria –, são as estruturas mais importantes daquela pirâmide.
Como tantos outros estudos que tentam explicar os motivos que levaram à construção da
Grande Pirâmide, as teorias sobre o propósito da construção da Grande Galeria são as mais
diversas, e nenhuma igualmente apresenta explicações suficientemente satisfatórias. Deste modo,
encaro como natural ser esperado que este meu estudo também se ocupe desta questão.
Sabemos que o teto do Corredor Ascendente é tão baixo que necessitamos nos encurvar
bastante para percorrê-lo, e que os dutos das câmaras do rei e da rainha são tão estreitos que só são
passíveis de serem precorridos por algo muito pequeno – tal como se deu com os dutos da câmara
da rainha, que foram percorridos pelo pequeno robô de 20 centímetros de Rudolf Gantenbrink em
2002 (figs. 32, 46).
Tendo proposto que os dutos norte representariam circulos horários aos tempos das estrelas
Thuban e Polaris, estimo ser razoável supor, então, que a Grande Galeria (que se segue ao Corredor

Página 91 de 126
Ascendente e conduz à Câmara do Rei, estando as duas estruturas dispostas numa mesma linha),
com toda sua imponência e perfeição de entalhes, tenha sido construída para representar mais que
um círculo horário, já que os círculos horários mencionados foram representados por estruturas que
lhe são inquestionavelmente inferiores.

Figura 46 – O Corredor Descendente, os dutos da face norte e a Grande Galeria. Fonte: National Geographic
Channel.

~~~~~ ~~~~ ~~~~ ~~~~ ~~~~ ~~~~ ~~~~ ~~~~ ~~~~ ~~~~ ~~~~ ~~~~ ~~~

Figura 47 – O eixo vertical da Grande Pirâmide, a Grande Galeria, o Duto Norte da Câmara da Rainha e a
Obliquidade da Terra.

Página 92 de 126
Vimos que a Grande Pirâmide é uma replicação daquele triângulo celeste que circunscreve
Cygnus e dos segmentos de círculos celestes que o perpassam; e também já nos é familiar a ideia de
que o Eixo Vertical da Grande Pirâmide representa o plano do disco de nossa galáxia. Mas a que se
deveu afinal a construção da Grande Galeria? Para que possamos responder a esse questionamento,
tomemos de volta aos céus então o triângulo piramidal... (fig. 47).
Se recobrarmos à memória a noção de que círculos horários são projeções do Eixo Rotacional
da Terra sobre o pano de fundo da Esfera Celeste, torna-se bem razoável a ideia de que os círculos
horários sejam impressões nesse pano de fundo da disposição na qual se encontra o Eixo Rotacional
da Terra em um momento precessional específico, haja vista a mutabilidade de sua orientação
conforme se dá o giro precessional. Deste modo, podemos afirmar que os dutos norte, sendo estes
representações de círculos horários aos tempos precessionais das estrelas Thuban e Polaris, podem
ser tomados como disposições distintas do Eixo Rotacional da Terra nesses momentos precessionais
em que cada uma das duas estrelas ocupou o Polo Norte Celeste.
Como já se depreendeu ao longo de todo o desenvolvimento, o registro de Gizé destina-se ao
momento precessional atual quando se dá o início da era de Aquário. Portanto prendamo-nos
exclusivamente à configuração celeste de nossos dias, quando Polaris é a estrela polar.
É fundamental a noção de que o Eixo Rotacional da Terra fixa-se, em sua origem, à Eclíptica –
em cujo plano realiza sua volta em torno do Sol –, e que essa origem coincide com o próprio núcleo
de nosso planeta. Desloquemos, então, a Terra – para efeito de ilustração – para o ponto de
intersecção entre seu Eixo de Rotação e o Círculo Três (fig. 47).
Diante da imagem trazida pela figura 47, alguém com um pouco mais de familiarização com o
corpo conceitual da Astronomia logo perceberia algo semelhante a um esquema representativo do
Sistema Solar na perspectiva de um observador nas coordenadas celestes RA 6h e DEC 23º 26.1‟ N
– onde a Eclíptica marca nos dias atuais 90 graus, entre as faixas zodiacais do Touro e de Gêmeos, e
onde está igualmente o nodo ascendente dos planos galáctico e eclíptico, posição do Sol em que se
dá o solstício de verão.
E sua impressão de estar visualizando a Eclíptica contra o fundo marcado pela faixa horizontal
galáctica aumentaria quando constatasse que a angulação entre a linha do disco galáctico e a
Eclíptica (60.2 graus) é relativamente próxima, em um contraste meramente topográfico, da
angulação entre o eixo vertical da pirâmide e a Grande Galeria (63.9584 graus).

Mas essa pessoa imediatamente argumentaria que daquela perspectiva, ao invés do Cisne, ter-
se-iam ao fundo o bojo galáctico e as constelações de Sagitário e Escorpião, e isso aparentemente
lançaria por terra nossa hipótese sobre a Grande Galeria como representativa da Eclíptica. Contudo,
não nos deve fugir à mente que absolutamente tudo que vimos neste estudo, deste a primeira página
de seu desenvolvimento até a presente, é uma decodificação daquilo que foi registrado na Grande
Pirâmide, que, como já sabemos, é uma replicação das relações que há naquela específica região

Página 93 de 126
celeste inscrita pelo triângulo que circunscreve Cygnus. Portanto, tudo tem de estar registrado ali,
nas relações que há entre aqueles arcos celestes delimitados pelo triângulo que cinscunscreve a
constelação e entre aqueles dutos e corredores da pirâmide que o representam. Se há algo sobre a
Eclíptica no registro deixado, esse algo necessariamente encontra-se lá, e isso nos confronta mais
uma vez e fundamentalmente com as relações que há naquele triângulo de Cygnus.
Mas o que mais haveria lá, então, que pudesse somar indícios para uma confirmação da
hipótese levantada de que a Grande Galeria representaria a Eclíptica? E a esposta é novamente os
ângulos.
O Duto Norte da Câmara da Rainha forma aqueles 51 graus com o eixo vertical da pirâmide e
representa o Círculo Horário Dois, que, por sua vez, pode ser tomado pelo Eixo de Rotação da Terra
nos dias atuais por lhe ser o resultado de sua projeção na Esfera Celeste. Aquele duto intercepta a
Grande Galeria a um ângulo de 65.0416 graus (fig. 47). Se a Grande Galeria for tomada pela
Eclíptica – que é centrada no Sol, astro representado pela Câmara do Rei construída
intencionalmente em granito vermelho –, terá seu eixo transversal (Eixo de Rotação do Sol)
formando um ângulo de 24.9584 graus com o Eixo de Rotação da Terra – representada pela Câmara
da Rainha. No entanto, esse valor é significativamente distante do valor atual da obliquidade do
Eixo Rotacional da Terra aferido pela Astronomia moderna, que é de 23.4392 graus
(23º26‟21.412‟‟), diferindo de 1,5192 grau.
Quando considero, porém, a exatidão dos vários outros registros vistos até aqui, e em face
dessa aparente discrepância, mais uma vez suspeito existir intencionalidade dos projetistas quando
assim o fizeram.
A questão que começa a se delinear neste ponto, é, portanto, sobre o porquê de Khufu não
haver registrado a obliquidade da Terra nos dias de Poláris (23.4392 graus), já que todos os outros
registros foram feitos para fazerem sentido somente nos dias atuais, quando essa estrela passa a
ocupar o Polo Norte Celeste.
A elaboração de uma resposta satisfatória nos remeterá a algumas análises sobre o que pode
estar implicado com o registro da obliquidade que se supõe aqui ter sido deixado por Khufu, e, ao
final, descobriremos que existem vários indícios que apontam para algo que pode ter a ver com um
fenômeno cujas causas ainda geram controvérsias entre os especialistas: as glaciações planetárias. E
para a necessária análise, valer-nos-emos das considerações de Zecharia Sitchin sobre os achados de
Norman Lockier (The Dawn of Astronomy, publicado em 1894) referentes às variações da
obliquidade de nosso planeta e das noções desenvolvidas pela teoria orbital de Milutin
Milankovitch (1879 – 1958), que relaciona ciclos astronômicos com os períodos glaciais.
Vejamos o que nos diz Sitchin.
Em Gênesis Revisitado (Sitchin, 2005), no capítulo 11, o autor relembra-nos que foi por
ocasião do 20º aniversário do primeiro pouso do homem na Lua que o presidente George Bush,

Página 94 de 126
falando das dependências do Museu Aeroespacial de Washington e ladeado pelos três astronautas
da Apollo 11 – Neil Armstrong, Edwin E. Aldrin Jr. e Michael Collins –, lançou o projeto de chegar
ao planeta externo mais próximo da Terra (Marte), e que “os defensores do projeto só consideraram
justificada uma missão tripulada ao Planeta Vermelho se fosse prevista a instalação de uma base
marciana, que seria tanto um prelúdio para viagens a planetas mais distantes, como a precursora de
uma colônia, um povoado permanente de terráqueos em um mundo novo”. (p. 238)
Mais adiante no texto, Sitchin assinala que, tal como a Terra, Marte está submetido a três
fenômenos que influenciam sua órbita em torno do Sol e que são os responsáveis pelas idades do
gelo por que passa o planeta de tempos em tempos – e Marte passa atualmente por uma dessas
fases, o que se constitui o principal obstáculo às aspirações da NASA de instalação de uma base
marciana. Vejamos mais sobre esses fenômenos nas palavras do autor.
Todos os estudos sobre Marte convergem para a conclusão de que ele está atravessando uma
idade do gelo, não muito diferente das que a Terra enfrentou periodicamente. As causas das
idades do gelo em nosso planeta, antes atribuídas a muitos fatores, hoje são consideradas
como derivadas de três fenômenos básicos relacionados com sua órbita em torno do Sol. O
primeiro deles é a própria configuração da órbita; ela, como já foi constatado, muda de mais
circular para mais elíptica num ciclo de cerca de 100 mil anos. Isso faz com que a Terra às
vezes esteja mais próxima e em outras mais distante do Sol. O segundo é a inclinação do
eixo da Terra em relação ao seu plano orbital (eclíptica), o que faz existirem as estações do
ano, pois a incidência de raios solares no hemisfério Norte nunca é igual à incidência no
hemisfério Sul, criando assim o verão e o inverno. Essa inclinação, porém, atualmente com
cerca de 23,5 graus, não é estável. A Terra, como um navio que balança na água, muda de
inclinação num intervalo de 3 graus para frente e para trás, num ciclo que leva
aproximadamente 41mil anos para se completar. Quanto maior a inclinação, mais rigorosos
os invernos e verões. Os fluxos de água e ar se alteram, agravando as mudanças climáticas, e
temos então os períodos extremante frios, que chamamos de “idade do gelo”, alternando-se
com os períodos quentes, denominados de “interglaciais”. O terceiro fenômeno é o balanço
que a Terra faz enquanto gira, com seu eixo como descrevendo um círculo no céu. Esse é o
fenômeno da Precessão dos Equinócios e seu ciclo tem uma duração de 26 mil anos. (p. 239)

Falando ainda sobre a obliquidade, o segundo fenômeno (que é a inclinação do eixo da Terra
em relação ao seu plano orbital), mas agora em outro dos volumes que compôem sua série Crônicas
da Terra, intitulado O Começo do Tempo (2004, p. 58), Sitchin nos conta dos passos que levaram
sir Norman Lockier a trazer respostas a muitas questões milenares da Egiptologia através da
Astronomia. Com a publicação de The Dawn of Astronomy, Lockier trouxe ao mundo a
astroarqueologia, como preferia chamar, sendo registrada oficialmente como “arqueoastronomia”.

Página 95 de 126
A nova ciência prometia definir a medida da antiguidade dos egípcios e babilônios, ainda
desconhecida à época de seu surgimento.
Tomemos, uma vez mais, as palavras de Sitchin em O Começo do Tempo (2004).
Um observador na Antiguidade poderia determinar com facilidade se o Sol sempre se ergue
no lado leste do céu, mas teria reparado (com um pouco mais de atenção) que no verão o Sol
parece elevar-se num arco mais alto do que no inverno e os dias são mais longos. Isso,
explica a moderna astronomia, se deve ao fato de que o eixo da Terra ao redor do qual
giramos não é perpendicular ao eixo de nosso movimento ao redor do Sol (a Eclíptica), e
sim inclinado – cerca de 23,5 graus hoje em dia. Isso cria as estações e os quatro pontos no
movimento aparente do Sol para o alto e para baixo nos céus (na linha do horizonte): os
solstícios de verão e de inverno, e os equinócios de primavera (“vernal”) e de outono (...).
Estudando a orientação dos templos antigos e não tão antigos, Lockier descobriu que
aqueles chamados de “Templos Solares” eram de dois tipos: os orientados de acordo com os
equinócios, e os orientados de acordo com os solstícios. Embora o Sol apareça todos os dias
no oriente e se ponha nos céus do lado oeste, só nos dias dos equinócios é que ele nasce
precisamente no leste e se põe precisamente no oeste (...). Portanto, Lockier deduziu que tais
templos “equinociais” eram mais universais do que aqueles construídos com o eixo para os
solstícios; porque o ângulo formado pelos solstícios mais ao norte e mais ao sul (para
alguém no hoemisfério norte, o inverno e o verão) dependia de onde estivesse o observador
– da latitude. Portanto, templos de solstícios eram mais individuais, específicos para a
localização geográfica (e mesmo a altitude). (p. 60)
Os resultados dos estudos de Lockier sobre o Partenon, em Atenas, nos falam de um „velho
Partenon‟, uma construção que, segundo o autor, pode estar em pé desde a guerra de Tróia, e o
„novo Partenon‟, com um pátio externo parecido com os templos egípcios, mas com o santuário ao
centro da construção. E que foi pela diferença de direção desses dois templos em Atenas que ele
teve sua atenção despertada para o assunto.
Lockier possuía plantas de vários templos egípcios, nas quais as orientações pareciam variar do
início da construção para reformas emprendidas muitos séculos depois, e ficou particularmente
impressionado com uma em que havia dois templos, de costas um para o outro, num local não
muito distante de Tebas, denominado Medinet-Habu. Seus estudos chamaram a atenção para as
semelhanças entre a “diferença de orientação” egípcia e grega, em templos que de um ponto de
vista puramente arquitetônico deveriam ser paralelos e com o mesmo eixo de orientação.
Depois de refletir o suficiente sobre essas questões, Lockier teve seu magnífico insight: “Poderia
essa orientação alterada dos templos resultar de mudanças na amplitude (na posição dos céus) do
Sol ou das estrelas que tenham sido causadas pelo eixo da Terra?” E ele achou que a resposta era
sim.

Página 96 de 126
Sobre as consequências dos achados de lockier, Sitchin sumariamente nos relata:
Agora sabemos que os solstícios resultam do fato de que o eixo da Terra é inclinado em
relação a seu plano de órbita ao redor do Sol, e os pontos de “parada” combinam com essa
inclinação. Porém os estrônomos estabeleceram que esse ângulo não é constante. A Terra
oscila, como um navio, de um lado para outro – talvez o resultado de algum choque que
tenha recebido no passado (pode ter sido [...] o impacto de um grande meteoro, cerca de 65
milhões de anos atrás, que teria extinguido os dinossauros). A atual obliquidade de cerca de
23,5 graus pode diminuir até talvez 21 graus, ou, por outro lado, aumentar até 24 – ninguem
sabe ao certo, já que a mudança de 1 grau demoraria milhares de anos (7000, de acordo com
Lockier). Tais mudanças na obliquiade resultam em mudanças dos pontos de parada do Sol.
Isso significa que a construção de um templo cuja orientação seja precisa para o solstício
numa determinada época não estaria adequadamente alinhada com essa orientação algumas
centenas – e muito menos milhares – de anos mais tarde. (p. 69)

Diante das várias evidências, Lockier concluiu então que, ao determinar a orientação de um
templo e sua latitude geográfica, seria possível calcular a obliquiade que prevalecia na época da
construção; e que, ao determinar as mudanças na obliquidade ao longo dos milênios, seria possível
concluir com razoável certeza a época de construção do templo.
Sobre a aplicação das descobertas de Lockier, Sitchin assinala:
Lockier aplicou suas descobertas primeiramente ao grande templo de Amon-Rá em Karnak.
Esse templo, que foi ampliado por vários faraós, consistia em duas estruturas retangulares
construídas de costas uma para a outra, num eixo sudeste-noroeste, significando uma
orientação para o solstício. Lockier concluiu que o propósito da orientação e o projeto do
templo eram de molde a permitir que um raio de sol , no dia do solstício, passasse por um
longo corredor, entre dois obeliscos, e atingisse o Santo dos Santos com um raio de luz
divina na parte mais interna da construção. Lockier reparou que os eixos dos dois templos,
de costas um para o outro, não eram orientados da mesma forma: o mais novo representava
um solstício resultante de uma obliquidade menor do que o mais velho. As obliquidades
determinadas por Lockier mostram que o templo mais antigo fora construído por volta de
2100 a. C., e o mais novo por volta de 1200 a. C. (p. 70)

O trabalho de Lockier que inaugura a Arqueastronomia (The Dawn of Astronomy) completa


120 anos, e ao tempo de sua publicação não se tinha conhecimento da relação que a obliquidade do
planeta tem com o processo de glaciação por que passa a Terra de tempos em tempos. Essa relação
passou a adquirir força com a teoria orbital de Milankovitch para períodos glaciais, que considera os
efeitos de três ciclos astronômicos distintos: excentricidade, precessão e obliquidade (referencia).

Página 97 de 126
Descrevamos cada um dos ciclos mencionados.
Excentricidade orbital é o fator astronômico responsável pela forma da órbita da Terra em volta
do Sol, que varia de menos a mais eliptica, podendo ir de zero a cinco por cento, e seu ciclo pode
durar 100 mil anos.
Precessão diz respeito à variação da orientação do eixo rotacional de nosso planeta ao longo
das eras, com o polo norte celeste variando de Polaris à Vega em um ciclo estimado em 26 mil
anos. Dependendo de o planeta estar no afélio ou periélio, resulta em maior ou menor constraste
sazonal.
Obliquidade orbital – que é o fator astronômico mais efetivamente relacionado com os avanços
e recuos das camadas polares durante os períodos glaciais – é a inclinação do eixo da Terra em
relação ao plano de sua órbita em volta do Sol, e seu período é estimado em 41 mil anos.
Embora os especialistas não estejam totalmente convencidos, estudos modernos situam a
variação da obliquidade entre 21.5 e 24.5 graus, com a atual em 23.5. E já têm por certo que uma
maior obliquidade gera estações com invernos e verões mais rigorosos, pelo fato de a radiação
solar, nessas condições, passar de menos a mais intensa sobre as latitudes médias – o que causa o
recuo das bordas das calotas polares pelo maior derretimento do gelo.
Por outro lado, uma obliquidade pequena propicia uma distribuição mais equilibrada de
radiação solar nos hemisférios norte e sul do planeta, condição que propicia o acúmulo de neve nos
polos, a formação do gelo e o avanço das bordas das calotas em direção às latitudes médias.
A Tabela de Obliquidade disponibilizada por Sitchin (2004, p. 70) mostra a mudança no ângulo
do eixo da Terra a intervalos de quinhentos anos, desde os 23 graus 26 minutos e 21 segundos do
presente (o autor arredonda a obliquidade atual de 23, 4392 graus para 23,5 graus) até 24,11 graus
em 4 mil antes de Cristo.
2000 d. C. cerca de 23,49 graus
1500 d. C. cerca de 23,54 graus
1000 d. C. cerca de 23,59 graus0
500 d. C. cerca de 23,64 graus
Ano Zero cerca de 23,69 graus
500 a. C. cerca de 23,75 graus
1000 a. C. cerca de 23,81 graus
1500 a. C. cerca de 23, 87graus
2000 a. C. cerca de 23,92 graus
2500 a. C. cerca de 23,97 graus
3000 a. C. cerca de 24,02 graus
3500 a. C. cerca de 24,07 graus
4000 a. C. cerca de 24,11 graus

Página 98 de 126
O resultado que se mostra provável nos leva a inferir que os dias atuais (tempo de Polaris)
devem marcar a obliquidade média, e são dois os motivos que apontam para essa suposição. O
primeiro relaciona-se com a ideia de que os especialistas estimam a variação da obliquidade em três
graus (de 21.5 a 24.5 graus). Sendo assim, se tomarmos como certo apenas os três graus de variação
e se considerarmos a obliquidade supostamente registrada na pirâmide como a obliquidade máxima
verdadeira (24.9584 graus) – que é 0.4584 grau maior que a considerada pelos especialistas – ,
poderemos abstrair as obliquidades média (23.4584 graus) e mínima (21.9584 graus).

24.9584 (máxima) – 3 = 21.9584 (mínima)


24.9584 (máxima) + 21.9584 (mínima) / 2 = 23.4584 (média)

Tomando-se, então, a obliquidade máxima que suponho ter sido guardada por Khufu (24,9584
graus) e subtraindo dela a atual (23,4392 graus – que infiro ser a média), teremos a diferença de
1,5192 graus. Isso nos diz então que aproximadamente metade do intervalo de três graus já foi
percorrido, o que deve ter levado 10 mil e 250 anos, já que o período do ciclo considerado é
estimado em 41 mil anos (o tempo necessário para a obliquidade assumir o mesmo valor, indo de
um extremo ao outro).
Passemos agora à interpretação dos dados.
De 10 mil 250 anos para cá, quando segundo a teoria (qual?) a obliquidade era a máxima, ela só
vem diminuindo, e continuará a decrescer, portanto, até seu valor mínimo (21.9584 graus), o que
nos põe então em uma contagem regressiva para o ponto mais severo do próximo período gelado,
que deve levar outros 10 mil 250 anos para ocorrer.
Mais duas informações talvez possam trazer mais indícios à hipótese de que a presente
obliquidade da Terra é a média (23,4392 graus) – o que subtende invernos e verões moderados,
menor contraste sazonal comparativamente ao período em que a obliquidade é máxima, ou seja,
mais abundância de água líquida no planeta ao longo de todo o ano. Por um lado, temos as estrelas
circumpolares interceptadas por dois dos círculos celestes vistos neste trabalho: o Círculo Horário
Dois intercepta Polaris, que marca o momento em que a obliquidade é a média e quando a era de
Aquário tem início; e o Círculo Celeste Três intercepta Vega, que talvez possa ser tomada como a
estrela circumpolar que, por um lado, pode ter marcado o período em que a obliquidade era
máxima, com invernos e verões extremamente severos, e, por outro, talvez coincida com o ápice do
próximo período gelado, quando a obliquidade será a mínima. Ambas estrelas demarcariam,
portanto, pontos relevantes do ciclo proveniente dos fatores de obliquidade e precessão, e que
estariam separados por 180 graus e pelo tempo sugerido pela teoria de Milankovitch (20 mil e 500
anos – metade do ciclo completo proposto pela teoria).

Página 99 de 126
Outras evidências seriam os próprios símbolos culturais – provenientes de prováveis registros
intencionais e resgatados pela Mitologia, que coatuariam como facilitadores para a decifração do
enigma –, marcadores do início desta era, quando possivelmente a água líquida é mais abundante:
uma ânfora segurada pelo Portador das Águas que é o mesmo Osíris sobre sua barca a velejar
naquelas águas celestes sagradas que segundo a visão de mundo antiga eram as responsáveis pelas
cheias do Nilo – ambos representados pelo mesmo hieróglifo... (fig. 37).
Depois dessas análises, os vários indícios sugerem legitimidade à identificação da Grande
Galeria com a Eclíptica, e a explicação que se mostraria viável para o fato de Khufu ter registrado
uma obliquidade diferente daquela dos dias de Poláris (23.4392 graus) fundamentar-se-ia na noção
de que ele não acrescentaria informação alguma se apenas registrasse um dado ao qual nós –
habitantes de um mundo globalizado – temos acesso direto: a obliquidade atual. Ao invés disso,
proponho que o registro deixado faz menção ao momento precessional em que a obliquidade era a
maior possível, com todas as implicações climáticas e antropológicas imbricadas com tal valor de
obliquidade.
Em face dessas constatações, é deveras tentadora a ideia de arriscar algum acréscimo às
explicações que intentam fornecer respostas ao por que primordial daqueles registros. E embora este
trabalho seja fundamentalmente descritivo – pois tentei ao máximo desviar-me das especulações –,
reservo-me, nestas páginas finais, algum direito de exposição nesses termos.
Os vários indícios parecem apontar para a ideia de que pessoas detentoras de um saber
tecnológico-científico avançadíssimo registraram na arquitetura da Grande Pirâmide e no arranjo do
complexo arquitetônico de Gizé informações alusivas a momentos precessionais e à obliquidade do
planeta específicos. Pensar sobre as prováveis causas e finalidades desse registro nos leva,
inevitavelmente, a algumas questões especulativas que se focam no fenômeno das glaciações, uma
vez que – segundo a teoria mais aceite, a de Milankovitch – o principal fator desencadeador das
variações térmicas do planeta é a obliquidade de seu eixo de rotação e o fenômeno precessional.

Estudos como os de J. Bisson (ano) (Mythes et réalités d‟un désert Convoité: le Sahara [Mitos
e realidades de um deserto cobiçado: o Saara]) e K. Walton (ano) (The Arid Zones [As Zonas
Áridas]), bem como o trabalho conjunto de Kevin White e David J. Mattin (ano) (Ancient Lakes of
the Sahara [Lagos Antigos do Saara]) trouxeram à luz os desdobramentos pré-históricos que
seguiram à última glaciação e que atuaram na formação da civilização egípcia. Se contrastarmos os
acontecimentos fomentadores da antiga civilização do Nilo com tudo que vimos estar registrado no
complexo da Grande Pirâmide – registro esse que dirime qualquer dúvida sobre a existência há pelo
menos 45 séculos de um saber extremamente avançado e que se mostra potencialmente detentor das
noções de Precessão dos Solstícios e variação de Obliquidade –, isso nos sugerirá então a
possibilidade de as bases da civilização egípcia terem sido lançadas por remanescentes de uma

Página 100 de 126


civilização anterior, assaz avançada e há muito quase que totalmente extinta pelas condições
extremamente inóspitas que se seguiram à última glaciação. Esses remanescentes, provavelmente
em sua maioria descendentes da realeza, nobreza, sábios e sacerdotes, teriam perpetuado ao longo
de séculos de severos dissabores climáticos o acúmulo científico de seu povo, e, uma vez livres da
ameaça, e havendo reiniciado o processo de proliferação da vida no planeta, teriam, então, dado
início a uma nova era de domínio e manipulação da Natureza e consequente fomento de novas
tecnologias, culminando na antiga e gloriosa Civilização Egípcia e seus feitos.

3.6.12 Proposta Nove: O Disco Alado e a Ave Sagrada. (desenvolvendo)


No capítulo doze de A Escada para o Céu, Zecharia Sitchin (2002), descrevendo as enigmáticas
pirâmides de Gizé, assinala que os ápices (os pyramidions) daquelas pirâmides nunca foram
encontrados. Feitos de granito especial com revestimento em metal e com forma também piramidal,
esses ápices de pirâmide possuíam muitas inscrições e o emblema do Disco Alado, a exemplo do
pyramidion da pirâmide de Amen-em-akhet, em Dachur, encontrado enterrado a alguma distância
da pirâmide, e que tinha a seguinte inscrição:

O rosto do rei Amen-em-khet está aberto,


Para ele poder contemplar o Senhor da Montanha da Luz
Quando ele veleja (desliza, „flutua‟) pelo firmamento.

No capítulo nove de meu ensaio O Paraíso de Dimas e os Mitos (Sampaio, 2011), onde
contrasto os comentários do Enuma Elish feitos por vários eminentes estudiosos do épico sumério, e
dessas análises retiro a minha própria interpretação, temos o seguinte sobre a identificação e
localização do Disco Alado:

(...)
Fascinante era sua figura, cintilante o erguer de seus olhos;
Altivo seu porte, autoritário como de velhos tempos.
Entre os deuses ele era intensamente exaltado,
Excedendo através de sua glória.
Ele era o mais supremo dos deuses, incomparável sua altura;
Seus membros eram enormes, ele era extremamente alto.

O trecho continua em tom bastante poético e ao mesmo tempo profundamente revelador, pois
nos adverte do que deveríamos esperar se porventura o avistássemos. As palavras “fascinante”,
“Altivo”, “glória”, “altura”, “alto” e principalmente “cintilante” nos dão a ideia de que Nibiru é uma

Página 101 de 126


figura iluminada, distinta e possivelmente destacada espacialmente em relação às outras
“divindades”.
“Fascinante era sua figura”, “Altivo seu porte”, “... excedendo através de seu brilho”, “... o
mais supremo dos deuses...”, “... incomparável sua altura...”, e “... ele era extremamente alto”: essas
frases sugerem que Nibiru, comparado aos outros deuses celestes à sua volta, tinha um “alcance”
muito maior, um poder superior que o punha em pé de igualdade com a até então indestrutível
Tiamat. Esses atributos de Nibiru o colocavam em um ponto elevado nos céus, sobre uma espécie
de pedestal onde “era intensamente exaltado” até pelos outros deuses.
Se lembrarmos de qual momento da epopeia estamos tratando, ficará mais fácil situarmos a
localização de Nibiru relativamente às posições dos outros divinos. Durante os momentos que
seguiam a inversão do Solstício de Inverno da Era do Touro, Nudimmud via- se em instantes de
“arrefecimento” da batalha, e podia “respirar mais fundo”. “Fez um mapa fiel do Universo” e deu
continuidade a seu plano, trazendo à existência Nibiru, cujo surgimento se deu em uma região
privilegiada situada “em altos céus” e no interior da “Câmara da Fortuna” e “Local dos Destinos”,
para onde corriam e de onde saiam outras divindades. Proponho que a localização da “câmara” onde
a sétima divindade foi gerada é coincidente com o bojo galáctico. Analisemos.
Durante os Solstícios de Inverno da era em questão – em que o ponto vernal estava no Touro
e o ponto outonal, no bojo galáctico, entre as constelações de Sagitário e do Escorpião –, por
ocasião da aurora, o bojo galáctico situava-se em um ponto do arco eclíptico a meio caminho entre
o leste e o oeste, e a sessenta graus do ponto sul do horizonte (a sessenta graus porque o ponto
outonal necessariamente é também um ponto do Equador Celeste, que, devido à latitude em que se
situavam a maioria dos zigurates mesopotâmicos, estava a 30 graus ao sul do zênite local).
Tenhamos bem claro em nossas mentes que o motivo de o bojo galáctico receber a
denominação de “Câmara dos Destinos”, “Local dos Destinos” se deve ao fato de ser cortado pela
Eclíptica, o “corredor” dos planetas-deuses que para lá se dirigiam durante a batalha referida no
épico em análise; e minha interpretação de que o bojo galáctico é a cabeça de Tiamat implica em
dizer, por conseguinte, que a cabeça do opositor de Nibiru tinha em seu interior o grande deus dos
sumérios.
Naquele momento específico do ano (inversão do solstício de inverno), Nibiru era visto como
um aglomerado composto de muitas estrelas azuis brilhantes quase no meio dos céus e cortado pelo
meridiano local. E por estar nas imediações das regiões celestes mais altas, a sétima divindade era
vista como “Altiva” e sua “altura” era “incomparável” relativamente às outras divindades.

Tiamat fez sua obra colossal,

O mal ela maquinou contra os deuses seus filhos,

Página 102 de 126


Mas teria que esperar, porque Apsu dormia enfeitiçado.

Então os dias se passaram, e sua ira foi aplacada.

Retirou-se da batalha e se escondeu nos Lugares Secretos.

Depois de Nudimmud haver desenhado o “mapa fiel do Universo” e “derramado o sono sobre
Apsu”, Tiamat, circunstancialmente impedida de agir, ocupou-se apenas da “maquinação” de sua
“obra colossal”. Tiamat estava sendo frustrada em sua intenção de se manter no zênite do lugar. O
momento – volto a dizer – era a inversão do Solstício de Inverno. O nascer e o pôr do sol haviam-se
afastado ao máximo para o sul, mas agora a nossa estrela, a cada dia, nascia mais próxima da linha
do Equador. Em outras palavras: Nudimmud interferia no arranjo celeste de modo a fazer o ponto
vernal (que estava no Touro) reaparecer no leste quando ele atingisse o zênite. Esses
acontecimentos causavam a destituição de Tiamat de sua privilegiada posição em altos céus
(diametralmente oposta ao Touro), porque o passar dos dias a estava “empurrando” para baixo, na
direção daquelas regiões menos privilegiadas nos céus ocidentais mesopotâmicos, e de onde logo
sumiria quando finalmente se escondesse por trás do horizonte.
Nada podia ser feito naquele momento, a não ser esperar e maquinar “sua obra colossal”, algo
contra que – supunha a Grande Serpente – os Divinos Irmãos [os Igigi: seus filhos mais velhos] não
poderiam combater.
“Apsu dormia enfeitiçado”: proponho que a lentidão celeste referida no épico diga respeito
aos momentos da translação do planeta que sucediam o equinócio de Outono da era taurina, quando
a Terra, abandonado as regiões próximas ao periélio, passava pela inversão do solstício de inverno.
Essa proposição baseia-se em uma das leis de Kepler que diz que a translação do planeta torna-se
mais lenta quando, em sua volta em torno de nossa estrela, abandona as regiões próximas ao
periélio.
Os eventos celestes ficavam mais lentos e mais calmos a partir da inversão do solstício de
inverno, pelo que pude interpretar nesse trecho do épico. Isto causava uma quase parada celeste,
uma lentidão na mecânica dos céus [“E em seguida derramou o sono sobre o Apsu”].
Compreendendo que o momento não estava propício para uma atitude mais agressiva [“... sua ira foi
aplacada”], Tiamat agiu estrategicamente, e retirou-se do combate [“Retirou-se da batalha e se
escondeu em Lugares Secretos”], admitindo para si mesma que a batalha estava perdida, mas já
maquinando como alcançaria o êxito na guerra.
Então finalmente Nudimmud/Aquários subiu e atingiu as regiões mais altas, próximas ao
zênite [Equinócio de Primavera], e Tiamat desceu para lugares secretos por trás da faixa oeste do
horizonte, onde parte de seu corpo logo sumiu. Embora a parte de trás de Tiamat logo sumisse
naquelas faixas baixas do céu, sua cabeça demorava mais três meses até desaparecer completamente

Página 103 de 126


“por trás das montanhas do norte” – o que acontecia nos momentos que antecediam o Solstício de
Verão.

Anu, primogênito de Anshar e conhecedor dos Lugares Secretos,

Espreitou Tiamat e soube de seus planos.

Ele correu para o lugar de Anshar seu pai, para ele tomou seu caminho.

Do grupo dos Divinos Irmãos, o Sol [Anu] diariamente descia a esses “lugares escondidos”, e,
por isso, podia espreitar Tiamat e saber de seus planos. Uma vez sabedor do que tramava, correu
para Anshar [“imensidão Celeste”], seu pai, para deixá-lo a par do que se passava.

E tudo o que Tiamat tinha traçado ele lhe repetiu,


Dizendo:

- Nossa mãe Tiamat concebeu um ódio de nós,

„Com toda a força de sua ira, ela se encheu de ódio.


„Todos os deuses se voltaram para ela.
„Acompanhada daqueles por ela criados,
„Estão todos unidos e juntos avançam.

„Corruptores, eles estão furiosos, eles tramam sem descanso dia e noite.
„ Eles se preparam para a batalha, fumegam e labutam;
„Eles uniram suas forças e estão fazendo guerra.

Anu conta a seu pai do ódio, da ira de Tiamat, dos furiosos deuses por ela criados e a ela
unidos, e que se dirigem para a guerra. Deixa-o ciente de que os inimigos estão fortemente unidos e
armados, e de que tramam dia e noite. Conta-lhe que sua inclinação para a luta é tanta a ponto de
soltarem fumaça de seus corpos enquanto labutam nos preparativos bélicos.

„Ummu- Hubur, que formou todas as coisas,

„Fez suas armas invencíveis,

„Ele gerou monstros- serpente,

„Com dentes afiados, e ferrões impiedosos.

„Com veneno, em vez de sangue, ele encheu seus corpos.

Página 104 de 126


„Ferozes monstros- víbora, ele os vestiu com terror,

„Com esplendor ele os vestiu, e lhes fez de estatura elevada.

„Quem os contempla é suplantado pelo pavor,

„Seus corpos estão repletos de aguilhões até a cauda

„E ninguém pode resistir a seu ataque.

Ummu- Hubur, o princípio gerativo de Tiamat, forneceu a seus aliados as armas com as quais
combateriam [“... dentes afiados, e ferrões impiedosos”, “... veneno em vez de sangue...”, “... estão
repletos de aguilhões até a cauda”]. Nesse trecho, das criaturas geradas são destacados os
“monstros- serpente”, os “monstros-víbora”.

„Após este feito, de enorme envergadura, ela fez onze monstros.

„Entre os deuses que são seus filhos, na medida em que ele deu seu apoio,

„Ela exaltou Kingu, seu esposo escolhido;

„No meio deles ela o ressuscitou ao poder.

„Levantou-o ao poder para marchar ante as forças,

„Para conduzir o anfitrião,

„Para dar o sinal de batalha, para avançar para o ataque,

„Para dirigir o combate, para controlar a luta.

„Tendo proferido seu feitiço,

„Na assembleia dos deuses, ela o elevou ao poder.

Depois de haver criado Kingu (e estrategicamente se retirado da batalha, por Apsu encontrar-
se sob o feitiço do sono que lhe impusera Nudimmud), Tiamat “partiu” para lugares secretos.
Devidamente escondida, ela procedeu então à feitura de diversas bestas-feras (os aspectos de várias
delas ainda serão relatados mais à frente), que seriam suas aliadas no embate seguinte.

Imaginemos a situação real.


Por ocasião da aurora no Equinócio de Primavera da era taurina, a figura humana de
Nudimmud/Aquários estava no zênite e Tiamat figurava nos céus ocidentais a pouca altura do
horizonte. O passar dos dias lentamente trazia Nudimmud/Aquários para mais baixo, na direção da

Página 105 de 126


cabeça da Grande Serpente [bojo galáctico], e também fazia com que as partes “mais altas” da
cabeça de Tiamat contornassem a faixa noroeste do horizonte, deslocando-se no sentido noroeste-
norte enquanto lentamente descia o corredor eclíptico. As partes posteriores da grande vilã logo
sumiam, enquanto as partes mais altas de sua cabeça iam pouco a pouco cruzando a linha do
horizonte, até sumirem totalmente, o que se dava por completo antes da inversão do solstício de
verão. Três meses depois, todavia, quando o Equinócio de Outono chegava, a cabeça de Tiamat
ressurgia no leste, e um novo ciclo dos eventos do épico tinha início.
Enquanto Tiamat estava “escondida em lugares secretos” tramava junto de seus aliados e
gerava aquelas medonhas criaturas (o pretérito imperfeito é intencional, pois a ação ocorria
periodicamente; e isto se dá porque a epopeia, como já dito, reflete os aspectos cíclicos da
natureza).
A essa altura Tiamat já havia gerado Kingu e aqueles medonhos seres, e somente aí passou à
feitura dos “onze monstros” que, em relação a seus demais aliados, combateriam muito mais
próximos de seu “valente guerreiro” Kingu.
O trecho segue dizendo que “Entre todos os deuses seus filhos...” / “Ela exaltou Kingu” / “No
meio deles ela o ressuscitou ao poder”. Observe que Kingu apenas aguardava a ordem de Tiamat
para guerrear, porque já existia antes mesmo de Tiamat haver descido para os “Lugares Secretos”.
Por ocasião do Equinócio de Outono, quando os eventos do Enuma Elish tinham início, o
primeiro dos deuses celestes combatentes de Tiamat a chamar a atenção era Kingu [“Levantou-o ao
poder para marchar ante as forças/Para conduzir o anfitrião/Para dar o sinal de batalha/Para dirigir o
combate/Para controlar a luta”]. Onde estaria então esse destacado combatente, esse proeminente
guerreiro da Grande Serpente? A resposta é surpreendente e gera descrédito em um primeiro
momento: está situado no Aglomerado da Borboleta; ou melhor: é formado por várias estrelas
daquele aglomerado. O aglomerado localiza-se exatamente no interior da boca de Tiamat, dentro do
bojo de nossa galáxia, e constataremos que de várias de suas estrelas são formados o valente Kingu
e seu oponente Nibiru.

„Ela criou víboras e dragões, e o monstro Lahamu,

„E furacões, e cães de fúria, e escorpião- homem,

„E tempestades poderosas, e os peixes- homem, e carneiros.

„Eles carregam armas impiedosas, não têm medo da luta.

„Seus comandos são poderosos, ninguém pode resistir a eles.

Página 106 de 126


Figura 48 – O aglomerado da Borboleta (destaque em azul) situa-se no bojo galáctico (cabeça de Tiamat/Apófis) e é
apontado pela cauda do Escorpião e pela flecha de Sagitário.

Além dos “monstros-víbora” e “monstros-serpente” referidos anteriormente, o texto cita agora


“víboras”, “dragões”, “cães de fúria”, “escorpião-homem”, “peixes-homem”, “carneiros” e o
“monstro Lahamu”. Recorde-se que até então o Zodíaco como o conhecemos [com suas doze
faixas] não existia. O que havia era um arco eclíptico com uma figura humanoide
[Nudimmud/Aquários] em seu ponto mais alto, e que ia, por ocasião do Equinócio de Primavera,
desde o Touro no leste [Bell] até o “Local dos Destinos” (onde Nibiru e Kingu foram criados e para
onde os planetas deuses se dirigiam), no oeste.
Atente-se para o fato de que os aspectos cosmogônicos estão a todo tempo sendo trabalhados.
Já comentamos mais de uma vez que o Enuma Elish reflete aspectos periódicos da natureza, e agora
acrescentamos a essa ideia a informação de que Tiamat faz duas aparições durante um ciclo.
Evidentemente seu ciclo anterior apresentou todos os eventos celestes que ora são destacados, mas
por uma questão de beleza artística, e até mesmo para facilitar o entendimento dos fatos, foram
omitidos pelo autor sumério naquele primeiro momento.
Vemos, então, nas palavras do antigo escritor, surgirem essas medonhas criaturas que
combaterão em favor da Grande Serpente. Observe-se que sua contagem perfaz um grupo com nove
seres por ela criados [“monstros-víbora”, “monstros- serpente”, “víboras”, “dragões”, “monstro
Lahamu”, “cães de fúria”, “escorpião-homem”, “peixes-homem” e “carneiros”], que somados ao

Página 107 de 126


Touro [Bell], Aquários [Nudimmud] e ao “sagrado pássaro celeste” (este ainda não referido no
épico, mas que logo aparecerá) totalizam doze. Mas em momento algum o autor do épico sugere
essa banda de doze faixas celestes coincidente com a Eclíptica, que hoje chamamos de Zodíaco
[“círculo de animais”]. Isso foi criado pelo imaginário popular das gerações sucessoras (Ou...
incluir como argumento adicional a divisão temporal de base sexagesimal suméria), impregnado do
famigerado “DOZE” que povoou suas mentes criativas: se contassem os combatentes mais
próximos de Kingu e a ele os somassem, doze era seu número; se contassem os personagens da
epopeia, também eram doze [Apsu, Tiamat, Mummu, Lahmu, Lahamu, Anshar, Kishar, Anu,
Nudimmud, Nibiru, Kingu e Gaga (esta ainda não referida até aqui)]. Isso explica o posterior
surgimento da “Roda dos Animais” e suas doze faixas.
Baseados em conclusões prévias constantes do capítulo nove de O Paraíso de Dimas e os
Mitos (Sampaio, 2011), façamos agora um exame mais acurado do “valente guerreiro” de Tiamat e
seus onze auxiliares na grande batalha suméria.
Kingu, a estrela laureada por outras onze a sua volta, é aquela do alforje sobre o ombro
esquerdo da figura do arqueiro (fig. 49), extraída da página 218 do primeiro livro das Crônicas da
Terra de Zecharia Sitchin (1978). Sob o conjunto de doze estrelas está o monstro guerreiro Lahamu.
O trecho em análise contém a palavra “Lahamu” associada a certo “monstro” somente agora citado
pelo Enuma Elish. Em O Paraíso de Dimas e os Mitos havíamos dito que a palavra “Lahamu” se
tratava de um nome próprio pelo qual o planeta Vênus era chamado. Mas exatamente aqui algo
diferente disso parece acontecer...
Segundo Zecharia Sitchin, os símbolos gráficos sumérios correspondentes para “LHM” nas
palavras “LAHMU” e “LAHAMU” denotam as ideias “GUERRA”, “GUERREAR”,
“GUERREIRO”. Sendo assim, essas palavras podem conter pelo menos uma dessas acepções, e a
primeira dupla divina trazida à existência pode ser concebida então como “a dupla guerreira dos
divinos irmãos”.
Se recordarmos de sua posição espacial em relação à Tiamat, concordaremos que isso faz
bastante sentido, pois esses dois guerreiros [planetas Vênus e Mercúrio], durante auroras e
crepúsculos principalmente, atravessavam seu corpo em várias de suas evoluções em volta do Sol
vistos da Terra. De todos os “Divinos Irmãos” (exceção para Nibiru), são os mais “incisivos” no
combate à Tiamat por estarem dela visualmente mais próximos.
Deste modo o “Lahamu” do primeiro par divino gerado por Tiamat, embora traga a ideia de
belicosidade, nada tem a ver com o Monstro Lahamu criado pela Furiosa Serpente enquanto oculta
nos “lugares escondidos”. O primeiro é apenas um integrante da “dupla guerreira” dos Divinos
Irmãos; enquanto o segundo é o Monstro Guerreiro de Tiamat, que dará total suporte a Kingu, seu
guerreiro por excelência (figs. 49, 50).

Página 108 de 126


Figura 49 – Representação milenar controversa que proponho tratar-se de Kingu, extraída da página 218 de O DÉCIMO
SEGUNDO PLANETA, o primeiro livro das Crônicas da Terra, de Zecharia Sitchin.

Figura 50 – Localização espacial real de Kingu, o guerreiro de Tiamat. É formado por várias das estrelas do
Aglomerado da Borboleta que se situa no interior do bojo da Via Láctea, ou seja, na boca de Tiamat.

Isto posto podemos determinar agora a identidade e localização do “Monstro Lahamu”. De


acordo com a figura usada por Sitchin, ele está nas imediações do grupo de onze estrelas em volta

Página 109 de 126


de Kingu, e – como já vimos – segundo o Enuma Elish, esse destemido guerreiro de Tiamat
encontra-se dentro de sua boca [bojo galáctico]. Não nos resta dúvida, então, de que o Monstro
Lahamu, essa quimera guerreira divina e imortal, é a magnífica constelação de Sagitário, que
sabemos coincidir também com o bojo galáctico.

(...)
Enquanto ele abria seus lábios e falava ao Chefe da hoste, o fogo resplandecia em frente.
E Kingu e os deuses seus aliados
Encaminhavam em sua direção seus medonhos raios.
Nibiru mostrou-se valente e decidido,
Vestido com o halo de dez deuses,
Estava pronto para a batalha.

A estrofe ressalta os aspectos refulgentes de Nibiru. O trecho diz que, quando ele se dirigia a
Kingu, “o fogo resplandecia em frente”, e que o “valente de Tiamat” revidava com “seus medonhos
raios”. Complementa essa ideia dizendo que Nibiru estava “Vestido com o halo de dez deuses”.
Chegamos a um ponto em que não é mais possível adiar a apresentação do fulgurante e novo
herói do épico sumério, e todo o significado que sua forma e localização nos trazem [o “novo”
explica-se porque Nudimmud/Aquários, embora sendo uma “peça” fundamental e atuante na
derrota da serpente inimiga, teve de dividir com seu filho a glória pela vitória conjunta sobre a
adversária Tiamat, que só pôde ser derrotada depois que seu adversário mais potente, o “hábil para a
guerra e resplandecente” Nibiru, foi criado. Este combateu contra Kingu, o “general de Guerra” da
inimiga, derrotou- o, e dele tomou a “Tábua dos Destinos, que não era legalmente sua”. A atitude
do novo herói “trouxe” de volta a Eclíptica (“corredor dos divinos que leva à Câmara dos
Destinos”) para uma posição mais próxima de um emparelhamento com o Equador Celeste (devido
à inclinação entre os eixos do planeta e da Eclíptica), o que destituía Tiamat da posição que lhe era
conveniente e lhe arrancava de seu lugar de privilégio em “altos céus” (devido à Translação)].
A presença dessa águia (em ato de captura da presa e indicada pela “ponta” do aguilhão do
Escorpião e pela “ponta” da flecha do Sagitário) na faixa da Eclíptica coincidente com a Câmara da
Fortuna, e diametralmente oposta à faixa da Eclíptica onde se localiza a constelação do Touro [Bel],
quase que imediatamente nos faz também lembrar as figuras zodiacais de Aquários [figura
humanoide de Nudimmud] e do Leão.
Temos aqui a comprovação, através da constatação da existência física da figura de uma
“águia celeste” – o “pássaro sagrado” dos sumérios e egípcios (no caso destes últimos, um falcão) –
de que a visão de Ezequiel está relacionada com objetos celestes de fato demonstráveis: as
constelações de Aquários [face de homem], Leão [face de leão], Touro [face de touro] e Águia [face

Página 110 de 126


de águia].

Figura 51 – Nibiru é formado pela maioria das estrelas azuis do Aglomerado da Borboleta.

Figura 52 – Negativo da fig. 51. Compare o número de estrelas mais próximas em volta de Kingu com a
quantidade desses astros na figura 49, retirada da página 218 de O 12º Planeta.

Relembremos as palavras do sacerdote de Javé quando este narra sobre sua primeira visão que
teve dos quatro querubins às margens do rio Quebar, situado em domínios sírios em dias atuais.

E a semelhança do seu rosto era como o rosto de homem; e, à mão direita, todos os quatro
tinham rosto de leão, e, à mão esquerda, todos os quatro tinham rosto de boi, e também rosto de
águia, todos os quatro (Ez. 1:10).

Página 111 de 126


Mas como visto nas figuras 51 e 52, a imagem da Águia – como dito há pouco – não se
encontra solitária dentro daquela secção da Eclíptica; ela está acompanhada da figura de seu
oponente Kingu, o valente guerreiro de Tiamat.

Figura 53 – Constelação de Sagitário, faixa zodiacal que se confunde com os personagens “Kingu” e “Monstro
Lahamu” do mito sumério.
Se dermos nova olhada na figura 49, recordaremos dos aspectos celestes com os quais os
sumérios concebiam a figura do Monstro Lahamu. E se contrastarmos aquela imagem com a figura
do Sagitário (a divina e eterna quimera guerreira), não estranharemos a correspondência entre a
parte não humana deste (o cavalo) e o Monstro Lahamu sob Kingu nos interiores do bojo galáctico
[boca de Tiamat], onde o aglomerado da Borboleta (que contém Kingu e Nibiru) é situado. A parte
não humana de Sagitário corresponde, portanto, ao Monstro Lahamu (guerreiro a favor de Tiamat e
auxiliar de Kingu); e o arqueiro (sua parte humana) representa o próprio Kingu.
Somos levados, portanto, à conclusão de que o atual arqueiro Sagitário foi uma posterior
aglutinação da imagem concebida pelo imaginário antigo do também arqueiro Kingu com a figura
do Monstro Lahamu, todos localizados no interior do bojo da Via Láctea, e, portanto, no mesmo
lugar nos céus.
Por sua condição de herói no combate épico contra Tiamat e todas as bestas-feras suas
aliadas – voltemos ao ponto anterior às explanações sobre os arqueiros e o Monstro Lahamu – e
como “Divino Senhor dos Céus”, que os protegia das agruras trazidas pela medonha serpente,
Nibiru penetrou o mais íntimo do espírito daqueles antigos do Entre–rios, e sua consagração como
“padroeiro nacional” não demorou a acontecer. Seu símbolo (embora com aspectos um tanto
diferentes dos encontrados no Nibiru original) não tardou em escapar ao requintado ambiente
astronômico-religioso dos sacerdotes-reais e adquirir lugar reservado nos lares do populacho em
geral, motivo pelo qual foi logo reproduzido por toda a Mesopotâmia e regiões adjacentes e

Página 112 de 126


representado em formas sensivelmente distintas dentro e fora do Entre rios (fig. 54).

Figura 54 – Tábua de argila com caracteres cuneiformes e o Globo Alado, supremo símbolo religioso sumério, datada
de (?) mil a. C.

Babilônia e a supremacia de Marduk versus descaracterização de Nibiru.


A versão suméria do Enuma Elish apresenta como grande herói o deus Nibiru (representado
pelo Disco Alado), enquanto versões babilônicas atribuem esse papel a seu deus Marduk. Isso pode
ser compreendido se tivermos em conta que o rei Hamurabi (1792/1750 a. C.) fundiu os antigos
registros sagrados contendo os mitos populares dos antigos sumérios em um único livro, a “Epopeia
do deus Marduk”, que, a propósito, era lida no início de todas as festas de seu reino para
consolidação da supremacia nacional do novo deus (Sampaio, 2011).

Figura 55 – Representação milenar controversa, extraída da página 218 do primeiro livro das Crônicas da Terra, de
Zecharia Sitchin, O DÉCIMO SEGUNDO PLANETA.

Página 113 de 126


Tudo leva a crer que entre as medidas adotadas pelo soberano babilônio estava a
descaracterização de Nibiru, milenarmente representada por uma águia ou disco alado, e, a partir de
então, indicada por uma figura monstruosa também alada situada em frente ao Kingu, no mesmo
espaço em que figurava Nibiru. A escolha da figura antropomorfa de Kingu para representação
celeste da nova divindade suprema passaria então a representar o deus Marduk.

Variações do Disco Alado


As variações espaço-temporais do disco alado refletem, naturalmente, as crenças, costumes e visões
de mundo próprios das respectivas regiões e momento histórico em que cada uma dessas variantes
surgiu. Assim, temos que o conjunto de nove símbolos a seguir sintetiza, nas formas e itens
constitutivos de cada um deles, aspectos que refletem a cultura em que cada um apareceu. E nestas
propostas trago mais uma vez – além da menção a esses aspectos culturais que, é claro, de modo
algum podiam deixar de existir – vinculações com noções importantes no campo da Astronomia,
sintetizadas de modo simples e belo pelas mãos dos artistas e pela visão de mundo em que cada um
de seus artífices estava inserido.
Em nossa análise deste ponto, destaquemos primeiro os dois aspectos mais comuns a cada
uma das representações do disco alado: um par de asas e um disco que as une. Em seguida notemos
que sete delas apresentam um par de serpentes ou cordões que dão a volta no disco e pendem deste.
E por último destaco, nas figuras 56c e 56d, representações bem nítidas de pares de chifres.

Figura 56 a – Globo Alado do Egito.


(LEPSIUS. Denkmäler, vol. III. Pl. 3 b).

Figura 56 b – Globo Alado da Fenícia.


(RENAN. Missão da Fenícia, pl. XXXII).

Figura 56 c – Globo Alado da Assíria.


(LAYARD. Monumentos de Nínive, primeira série, pl. VI).

Página 114 de 126


Figura 56 d – Disco alado antropóide (LAYARD. Monumentos de Nínive, primeira série, pl. XIII).

Figura 56 e – Ahura Mazda.


(LAJARD. Mitra, pl. II. Fig. 32).

Figura 56 f – Combinação do Globo Alado com o Thunderbolt.

Figura 56 g – Moeda de Tarso.

Figura 56 h – Avatar de Vishnu.


(GUIGNIAUT, pl. IX, Fig. 47).

Página 115 de 126


Figura 56 i – (Jornal do Roy. Como. Soc. Londres, vol. XVIII. (Nova série), p. 397).

Baseando-se em monumentos encontrados em..., atual Telloh em domínios assírios, M. de


Sarzec (ano) nos faz saber em... (obra) que o globo alado egípcio é o mais antigo, podendo ter
surgido já à altura da IV Dinastia. Disso depreendemos então que a partir do disco alado egípcio
adveio qualquer outra variação desse símbolo, contemporânea a ele ou que dele esteja separada no
tempo.

Significado do Disco Alado e das partes dele constituintes.


Inicialmente, conheçamos algumas citações um tanto subjetivas – restritas, em sua maioria, às
esferas da religião ou do misticismo – sobre o simbolismo presente no Disco Alado.
Thomas Milton Stewart (2003), em Symbolism of the Gods of the Egyptians and the Light
They Throw on Freemasonry [Simbolismo dos deuses dos egípcios e à luz da Maçonaria], nos faz
saber que:

Horus, redentor dos egípcios, veio ao mundo para destruir os inimigos do grande
Deus, Ra. Portanto, Horus transformou-se para a forma do disco solar alado, e levou
com ele os deuses nekhebet e Uatchit sob a forma de duas serpentes. Depois de sua
bem sucedida guerra sobre os inimigos de Rá, Horus ordenou a Thoth, o Deus da
Sabedoria Secreta, que o disco solar alado com duas serpentes eretas deveria estar
em cada santuário, de todos os deuses das terras do Sul e do Norte.

O autor continua, esclarecendo que:

Os pontos simbólicos da lenda, que precede, são muito antigos, pois eles pertencem a
um período bem mais remoto. O disco alado, hieróglifo exibido de porta a porta
como parte da ornamentação simbólica de cada templo, é um símbolo que expressa a
vida após morte, até os dias de hoje.

O símbolo – quero dizer: o disco alado – é concebido, além do mais, como uma
representação da ascensão da alma para o Divino, com a ajuda das serpentes da sabedoria e do

Página 116 de 126


conhecimento, conforme o excerto de G. A. Gaskell (2004), em Egyptian Scriptures Interpreted
through the Language of Symbolism Presented in all Inspired Writings [Escrituras egípcias
Interpretadas através da linguagem do Simbolismo Presente em todas as sagradas escrituras]:

E o significado do disco solar alado é este: É o símbolo da aspiração perfeita para o


Divino, de purificação da natureza inferior, e da subida final, em união com o Uno.

Místicos egípcios usaram ainda o disco alado para a magia ritualística e invocações,
conforme o cita Murry Hope (1986) em Practical Egyptian Magic [Mágica Prática Egípcia]:

Símbolos emblemáticos do AR, que consiste em um círculo ou disco solar, com um


par de asas abertas. Nos rituais de magia, é suspenso sobre o altar, em direção leste e
usado ao invocar a proteção e cooperação.

E, por fim, destacamos que o disco alado ainda está sendo usado nos dias de hoje por grupos
como os maçons, os teosofistas e rosa-cruzes, conforme R. Swinburne Clymer em The Origin of the
Symbolism: Teachings of the Rose Cross College [As Origens do Simbolismo: Os ensinamentos dos
Rosa-cruzes]:

O disco alado é por excelência um símbolo Rosacruz, (...), e pode-se admitir que é de
origem egípcia. O disco alado é o símbolo da alma que se aperfeiçoou, fazendo seu
voo de volta para a origem da sua criação nos Campos Elísios do além.

Um traço deste meu trabalho, já bastante evidente a esta altura, é de que minhas conclusões
quanto ao significado dos antigos símbolos egípcios são advindas da relação que faço daquilo que a
Mitologia resgatou desses objetos alegóricos e as noções sobre a realidade objetiva da Astronomia.
E o mesmo se dá também neste caso, em que procuramos trazer significado ao disco alado.
Analisemos, então, o símbolo sob estes mesmos parâmetros.
Sobre o trono do Venerável Mestre, na sala de uma loja maçônica (fig. 57), temos o disco
alado, e sobre ele a imagem do Sol. A conclusão imediata, que nos aflora a mente sem qualquer
esforço – se, é claro, concebermos a tradição maçônica como um sistema responsável através do
qual saberes sofisticados milenares, acessados por poucos escolhidos, foram preservados até nossos
dias –, é de que o disco alado e o Sol são coisas, ou melhor, são entes astronômicos distintos.

Página 117 de 126


Que Sol e Disco Alado são entes distintos é o primeiro passo para a compreensão do que
representa o símbolo, cujo sentido só nos efetivamente alcançará depois que compreendermos o
significado das serpentes Uréus, e a que faz alusão o par de asas constitutivo daquele símbolo.

Figura 57 – O sol alado suspenso sobre o trono do Venerável Mestre, na sala egípcia de uma loja maçônica, no Grande
Templo. Fonte: http://www.sacred-texts.com/sym/mosy/mosy15.htm.

Figura 58 – Apófis pondo-se no horizonte oeste por trás da Grande Pirâmide, no crepúsculo do Equinócio de Outono da
era taurina, com Hórus em sua boca (bojo galáctico).

Para tanto, voltemos agora à página 14 e observemos que na figura 03 as divindades egípcias
Ísis e Hórus têm em uma das mãos o símbolo chamado de “Ankh” (conhecido pelo vulgo em geral
como “Cruz Ansata”). Lembremo-nos de que o correspondente celeste para Ísis é a constelação do

Página 118 de 126


Touro (ou constelação da Vaca, no contexto cultural do Egito Antigo), e de que o correspondente de
Hórus nos céus é o Pássaro Sagrado – ou seja, o aglomerado da Borboleta, como já proposto em
momento anterior deste trabalho. Hórus e Ísis ocupam posições diametralmente opostas no disco
eclíptico, nas quais se situavam, no tempo em que esses símbolos antigos foram criados para
sintetizar essas relações, os nodos entre os planos do Equador Celeste e da Eclíptica. Portanto, a
esse tempo, os nodos entre Eclíptica e Equador Celeste figuravam nas proximidades de dois outros
cruzamentos, os nodos entre o Disco Galáctico e a Eclíptica, onde, volto a dizer, localizam-se Ísis e
Hórus. Isso é corroborado ainda pelo fato de Ísis vincular-se com a Primavera, pois o Ponto de
Áries estava junto de si, e de o Falcão vincular-se com o Outono, porque o nodo oposto àquele
ponto estava junto dele. Sabemos que essas datas eram importantíssimas no contexto do Egito
Antigo, pois era exatamente nesses momentos do ano em que o Nilo fertilizava o solo e quando se
davam as colheitas. Todos esses indícios apontaram para o significado da Cruz Ansata, uma síntese
alegórica representativa dos nodos, mais especificamente do Ponto Outonal, ou seja, o cruzamento
entre Eclíptica e Equador Celeste ao tempo da Era de Touro, cruzamento esse representado pela
sobreposição das serpentes Neckebet e Uatchit, cujos corpos se cruzam na região do bojo galáctico
(disco alado). Assim temos que aquelas serpentes, com seus corpos sobrepostos a um disco e
cruzando-se entre si, representam o ponto outonal, ou seja, o nodo entre os planos eclíptico e
equatorial que, à época, figurava dentro do bojo galáctico e junto do Falcão Sagrado (fig. 59),
símbolo-mor do outono quando se davam as cheias do Nilo.

Figura 59 – O disco e o par de asas e o cruzamento da Eclíptica com o Disco Galáctico.

Página 119 de 126


Vejamos agora a que faz alusão o par de asas.

Vimos que o disco representa o bojo galáctico; que as serpentes Uréus dizem respeito ao
Ponto Outonal à época da era taurina, ou seja, ao cruzamento entre Eclíptica e Equador Celeste.
Falta-nos saber sobre o par de asas, cujo significado já nos é até familiar: é a representação de
Hórus, hoje conhecido como o aglomerado da Borboleta, situado nas proximidades do centro
galáctico, nos interiores do bojo da galáxia (figs. 51 e 52). Dessas relações temos então uma CRUZ,
um DISCO e um FALCÃO, que sintetizados pelo habilidoso e criativo artista da época em um
único símbolo, originaram o Disco Alado Egípcio (56a).

Proponho por fim que, ao final de séculos e séculos de adições e subtrações por que passam as
noções originais estampadas em símbolos mítico-religiosos – ou seja, transformações inerentes ao
processo de subjetivação cultural e à contextualização sócio-histórica dessas relações –, surgiram os
diversos símbolos religiosos e não religiosos conhecidos em nossos dias. Isso é bem retratado pela
cruz celta (um disco cortado pelas hastes de mesmo comprimento e cruzadas) e pelo símbolo cristão
mais famoso (com o qual, embora em circunstâncias diferentes, vinculam-se uma cruz e um
pássaro, neste caso particular, uma pomba); e também por símbolos diversos, como aqueles para
movimentos socais, tal como o nazismo, emblemas desportivos e marcas automotivas (todos
representados pela cruz e a águia).

3.7 Embaraços.

O empreendimento das relações feitas por Khufu e vistas neste estudo não nos deixam dúvidas de
que ele, de modo intrigante e desconcertante em vistas do período histórico em que viveu,
dominava conceitos que a Astronomia só viria formular pelo menos quatro milênios depois do
erguimento das estruturas que guardam tais relações. E cabe aqui, antes que finalizemos este estudo,
a consideração de, pelo menos, duas das possíveis consequências advindas do domínio dos
conceitos vistos neste trabalho em um período tão remoto da Antiguidade.

A construção do complexo arquitetônico do qual faz parte a Grande Pirâmide envolveu um


nível de conhecimento tecnológico-científico absurdamente sofisticado quando comparado com o
acúmulo cultural que a História oficialmente atribui ao homem à altura da IV dinastia egípcia, e isso
inevitavelmente nos conduziu a um questionamento sobre o modo como Khufu teve acesso a esse
nível de conhecimento. Sabemos que a mais arrojada empreitada do soberano jamais teria sido
possível sem as complexas noções vistas neste trabalho nas áreas da Astronomia, Geografia,
Geologia, Engenharia e Matemática. Como isso foi possível em um tempo em que – afirmam os
registros oficiais de nossa civilização – esse nível de ciência não existia, não sabemos.
Considerando, como exemplo, a Precessão dos Equinócios, sabemos que nossos anais afirmam que

Página 120 de 126


as primeiras noções sobre esse fenômeno foram desenvolvidas por Hiparco de Nicéia (160 – 125 a.
C.), que vivera no segundo século antes de Cristo, portanto 2400 anos depois de Khufu.

Por outro lado, todos hão de concordar que, embora essas incongruências se sustentem em
face da anacronicidade existente entre o nível de ciência usado na construção das estruturas em
questão e o período histórico em que foi empreendido, em hipótese alguma podem lançar qualquer
incerteza sobre o fato, a saber, que alguém usou um altíssimo nível de ciência em um tempo em
que, segundo os registros oficiais, esse nível de conhecimento não poderia existir. Essa situação nos
defronta imediatamente com o seguinte impasse, cuja possível solução assistir-se-á diante de duas
consequências mutuamente excludentes: ou a História ver-se-á obrigada a reconhecer que seus anais
não registram rigorosa e fielmente o desenrolar dos acontecimentos próprios da saga humana –
atitude que reformularia a história da ciência, admitindo-se que o conhecimento humano atingira,
em algum ponto cronológico remoto, níveis elevadíssimos e que, por algum motivo ignorado,
perdeu-se depois. Ou terá que admitir que Khufu, de modo absolutamente inusitado, teve acesso a
um tipo de conhecimento deveras sofisticado e cujo desenvolvimento não se dera por vias humanas.
Não há como fugir a esse embaraço, um nó grande e firme cujo árduo desate foge ao objetivo deste
meu trabalho e – tenho que admitir – à alçada deste incipiente autor.

Refletindo sobre essas questões, Zacharia Sitchin (1980) propõe que nem Khufu nem seus
sucessores Chefra e Menkara teriam construindo qualquer das três pirâmides que fazem parte do
Complexo de Gizé, e que estas já estariam lá muito antes deles. Sitchin habilidosamente argumenta
sobre a questão e nos deixa tendenciosos a acreditar que esses faraós apenas tiveram a boa ideia de
construírem seus templos mortuários e mastabas reais diante das imponentes estruturas, e que o
fizeram “depois de terem solicitado a devida permissão às respectivas divindades delas
proprietárias”. Mas logo percebemos que, se o que propõe Sitchin tiver se dado de fato, isso apenas
torna a questão ainda mais enigmática, pois retira o crédito da construção que, devido aos registros
do historiador grego Heródoto, a História tem feito a Khufu e seus sucessores – e, portanto, a um
período já marcado por um nível de conhecimento considerável – e o atribui a alguém que vivera
em um tempo mais remoto ainda.

5.0 CONCLUSÃO.

Deixamos o aeroporto internacional do Cairo e seguimos para o Guardian Guest House, hotel nas
proximidades do complexo das pirâmides e de frente para a Esfinge. Depois de apreciarmos a
culinária árabe do país, descansamos por duas horas.

Página 121 de 126


Uma plataforma foi preparada sobre o terraço do hotel para nossa equipe e equipamentos
eletrônicos, dos quais, no instante adequado, partirão comandos que acionarão projetores de laser
que estão dispostos sobre o solo ao longo dos eixos leste-oeste e norte-sul da Grande Pirâmide por
vários quilômetros sobre o planalto e cruzando o leito do Nilo.

Marcamos no relógio 20h22mim local quando o último integrante do grupo fez-se presente, e
nesse instante foi comentado que em meia hora dar-se-ia o alinhamento (fig. 60). A data é o
Equinócio de Outono, ano novo no Egito Antigo e momento em que se davam as grandes cheias do
rio.

Figura 60 – Os círculos celestes Um e Quatro e a cruz do alinhamento (círculos Três e Dois) nos dias de Polaris, às
20h52min de Gizé (19h56m18s siderais), no dia do Equinócio de Outono.

Depois de nos acomodarmos sobre aquele terraço, nos pomos a contemplar os quadrantes
celestes por alguns minutos, e, vemos, então, que a constelação de Cygnus, disposta de nordeste
para sudoeste, situa-se entre aquelas quatro partes da abóbada celeste e exatamente sobre as
pirâmides. Alguém diz, então, que faltam sessenta segundos para que Eta Cygni cruze o meridiano
local, e em seguida uma projeção de laser parte verticalmente do vértice da Grande Pirâmide e
intercepta a imagem da estrela, que neste exato instante passa a ocupar uma posição bem próxima
do zênite da região. Os projetores de laser dispostos ao longo do eixo norte-sul são também
acionados, e uma linha reta azul luminescente, coincidente com o meridiano local, é formada entre
os pontos norte e sul do horizonte, passando por Polaris, por Eta Cygni e pelo Ponto Dois Eclíptico,

Página 122 de 126


que é simultaneamente interceptado por outro feixe de laser proveniente do Duto Sul da Câmara da
Rainha (compare figs. 33, 60).

Em seguida, outros comandos são dados e os projetores de laser dispostos ao longo do eixo
leste-oeste são também acionados, e outra linha azul luminescente aparentemente transversal ao
Círculo Horário Dois é formada, e é perfeitamente coincidente com a parte do Círculo Três visível
de Gizé. Esse círculo celeste, numa progressão oeste-leste, primeiramente intercepta Vega –
representada pela Esfinge que encabeça as antigas estruturas do planalto –, em seguida passa por
Gamma Cygni, no peito de Cygnus – representada pela Pirâmide de Chefra –, e depois intercepta o
Ponto Três Eclíptico situado na constelação de Peixes. Se fosse possível a progressão além do
horizonte, após sumir no leste, interceptaria o Arco de Órion de modo a coincidir com sua flecha,
passando pela estrela Bellatriz do Caçador. Mais adiante, a progressão do círculo interceptaria,
finalmente, o Ponto Outonal, que nos dias de Polaris entra na constelação do Leão, e que pela
manhã aparecerá no horizonte leste de Gizé, trazendo consigo, segundo o antigo calendário egípcio,
um novo ano, e, segundo o registro mantido naquele planalto, uma nova era (figs. 42, 43, 44).

Diante da Esfinge, fixamos nossos perplexos olhos em seu enigmático olhar e nos
recordamos do pensamento grego que a enaltecera sobremaneira quando a considerou superior até
mesmo ao Tempo. Foram os gregos que a chamaram de Esfinge, sendo Hor-em-akhet seu
verdadeiro nome, cujo significado, já sabemos, é “Hórus no Horizonte”. Nada mais adequado, uma
vez que o olhar da Esfinge representa a chegada do Ano Novo que se dava pelo Equinócio de
Outono, momento do ano quando o Pássaro Sagrado Hórus surgia no leste por ocasião das auroras e
durante as cheias do Nilo e trazia junto de si o Ponto Outonal (fig. 05), que no tempo do Touro
estava na companhia daquele falcão zodiacal, cujo ninho é o reluzente bojo galáctico, local do
centro da Via Láctea; e neste início da Era de Aquários começa a estar junto do Leão.

De sobre a plataforma, continuamos a fitar a grande quimera e sentimos como se seu insistente
olhar para o leste nos convidasse a fazer o mesmo. Ao fazê-lo, sabemos que do outro lado dos céus
está o Ponto Outonal, aquele ponto eclíptico cortado pelo Equador Celeste e por ela pacientemente
esperado desde que seu olhar se abriu pela primeira vez para contemplar Hórus em seu ninho
reluzente ninho. Desde que deixara o Pássaro Sagrado, o Ponto Outonal percorreu a Eclíptica
durante quatro milênios e meio, até chegar aos dias atuais quando, finalmente, entra na constelação
do Leão e traz, deste modo, a Era de Aquários, indicada pelo ponto da Eclíptica que lhe é
diametralmente oposto, o Ponto Vernal, historicamente considerado como o indicador das eras, e
que finalmente começa a entrar na casa zodiacal de onde jorra o mar celeste responsável, segundo
as antigas crenças egípcias, pelas águas do Nilo e via da eterna viagem de Osíris sentado em seu

Página 123 de 126


trono de glória sobre a Barca Sagrada: o destino para o qual ansiosamente preparavam-se aqueles
faraós durante toda sua vida terrena.

A relação Ponto Outonal entrando em Leão (o felino leão) versus Ponto Vernal entrando em
Aquários (o sapiens homem) remete naturalmente aos aspectos da Esfinge: um leão com feições
humanas – uma pista fundamental e que ironicamente sempre esteve ali para a decifração do
enigma da quimera que encabeça todo o complexo desde sua construção, e que guarda a mensagem
do soberano cujo mais ardente desejo fora embalado por seu sonho de escapar dos braços
embreados da morte quando o mundo entrasse no zodíaco da divindade cuja Barca Sagrada veleja
eternamente naquelas águas celestiais, o mar dos céus fonte das águas de Iteru, que no Outono
transbordava em seu máximo e fertilizava o solo cujos frutos alimentaram a mais exuberante
civilização do mundo antigo... Essa divindade era Aquários/Osíris, cuja era ora iniciamos...

6.0 REFEERÊNCIAS. (em desenvolvimento)

Bauval, Robert & Gilbert, Adrian. 1994. The Orion Mystery – Unlocking the secrets of the
pyramids. Three Rivers Press. New York.

Bisson, J. 0000. Mythes et réalités d‟un désert Convoité: le Sahara. Editor. City.

Boekhoff-Winzer. 1968. Kulture-Geschichte Der Welt Asia Afrika Amerika. Edición Calabria.
Barcelona.

Borell, Antonio Peluzíe. 1970. Las Maravillas del Cielo. Quinta Edición, Danae. Barcelona.

Brough, Charles Henderson. 1965. The Cycle of Civilization. 1st Edition, Harlo Press. Michigan.

Clymer, R. Swinburne. 2010. The Origin of the Symbolism: Teachings of the Rose Cross College.
Kessinger Publishing. City.

Collins, Andrew. 2006. Beneath the Pyramids – Egypt‟s Greatest Secret Uncovered. 4th Dimension
Press. Virginia.

Dunn, Christopher P. 1998. The Giza Power Plant – Technologies of Ancient Egypt. Bear &
Company. Toronto.

Gaskell, G. A. 2004. Egyptian Scriptures Interpreted through the Language of Symbolism Presented
in all Inspired Writings. Editor. City.

Página 124 de 126


Gleiser, Marcelo. 1997. A dança do universo: dos mitos de Criação ao Big-Bang. Companhia das
Letras. São Paulo.

Hope, Murry. 1986. Practical Egyptian Magic. St. Martin‟s Griffin. City.

Hoyle, Fred. 0000. Astronomía. Edición, Editor. Barcelona.

Jones, Harold Spencer. 1951. General Astronomy. 3rd Edition, Edward Arnold & Company.
London.

Judd, Gerrit P. 1966. Tittle. 1st Edition, Macmillan Company. New York.

King, L.W. 1902. Enûma Elís: The Seven Tablets of Creation. London.

Lambert, W. C; PARKER, S. B. 1966. The Babylonian Epic of Creation. Oxford.

Oliveira Filho, Kepler de Souza. 2004. Astronomia e Astrofísica. 2ª Edição, Livraria da Física. São
Paulo.

Platt, Nathaniel. 1961. Our World. 2nd Edition, Frentice-Hall. New Jersey.

Russel, Charles T. 1886. The Divine Plan of the Ages and the Great Pyramid. Watch Tower
Bible & Tract Society. New York.

Sampaio, Newton. 2011. O Paraíso de Dimas e os Mitos – Uma Busca das Origens da Religião.
Biblioteca24horas. São Paulo.

Sitchin, Zecharia. 1976. The Lost Book of Enki. Editor. City.

Sitchin, Zecharia. 1978. O 12º Planeta. 11ª Edição, Best Seller. São Paulo.

Sitchin, Zecharia. 2002. A Escada para o Céu. 1ª Edição, Best Seller. São Paulo.

Sitchin, Zecharia. 2004. O Começo do Tempo. 1ª Edição, Best Seller. São Paulo.

Sitchin, Zecharia. 2005. Gênesis Revisitado. 8ª Edição, Best Seller. São Paulo.

Sitchin, Zecharia. 2005. O código cósmico. 2ª Edição, Best Seller. São Paulo.

Stewart, Thomas Milton. 2003. Symbolism of the Gods of the Egyptians and the Light They Throw
on Freemasonry. Kessinger Publishing. City.

Walton, K.0000. The Arid Zones. Editor. City.

Página 125 de 126


White, Kevin & Mattin, David J. 0000. Ancient Lakes of the Sahara. Editor. City.

Walker, John. 1998. Your Sky. Accessed at http://www.fourmilab.ch/cgibin/Yoursky

Página 126 de 126

Você também pode gostar