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Análise Psicológica (2002), 2 (XX): 191-202

Em torno do pensamento pós-formal

HELENA MARCHAND (*)

A vida adulta é de todas as fases do ciclo de dos adultos cultivados assim como a base das
vida a mais longa e, até muito recentemente, «a formas elementares do pensamento científico»
que melhor mantém segredos na nossa socieda- (Piaget, 1970/72, p. 6). Terão sido estas afirma-
de, e provavelmente na generalidade da história ções, amplamente criticadas, que levaram um
humana» (Levinson et al., 1978, p. IX). grupo muito ecléctico de autores a levantar a hi-
Os termos desenvolvimento humano e desen- pótese de que haveria (ou haveriam) um estádio
volvimento psicológico estiveram durante déca- (ou estádios) além do formal, que caracterizaria
das relacionados com a infância e a adolescên- (caracterizariam) melhor do que aquele a cogni-
cia, ou seja, com os 20 primeiros anos de vida. ção do adulto (cf. Marchand, 2001).
Tradicionalmente os estudiosos do desenvolvi- Surgiram, assim, a partir da década de 70, di-
mento psicológico analisaram o crescimento da versos artigos (cf. Arlin, 1975; Basseches, 1980;
criança e do adolescente, defendendo a maioria Case, 1992; Commons, Richards & Armon,
dos autores que o desenvolvimento termina antes 1984; Commons, Sinnott, Richards & Armon,
da vida adulta. Um dos autores a defender esta 1989; Kramer, 1983, 1990; Pascual-Leone, 1990;
posição foi Piaget quando escreveu a propósito Riegel, 1973; Sinnott, 1981, 1984, 1989; Stern-
do estádio operatório formal: «esta forma geral berg, 1984, entre outros), em que se postulava
de equilíbrio deve ser concebida como terminal, que a cognição continuava a desenvolver-se du-
no sentido de que não se modificará mais du- rante a vida adulta, assumindo formas mais com-
rante o resto da existência mesmo se é integrada plexas, menos directamente dependentes da ló-
em sistemas mais latos (lógicas polivalentes), e gica da verdade versus falsidade, do que a cogni-
no sentido de que reúne num sistema único os ção do adolescente. Essa complexidade decorre-
agrupamentos até então sem ligações operatórias ria da expansão da experiência social e da contí-
entre si» (Inhelder & Piaget, 1955, pp. 294- nua exigência, e desenvolvimento, de novas
-295). Ou, ainda, vinte anos mais tarde: «(o competências (cf. Kramer, 1983, 1990; Labou-
pensamento formal) constitui um sistema com- vie-Vief, 1980, 1992).
plexo, mas coerente, relativamente diferente da
lógica da criança: constitui a essência da lógica Baseadas no pressuposto de que a caracterís-
tica distintiva do pensamento do adulto seria a
aceitação e integração de diversas, e por vezes
incompatíveis, verdades (altamente dependentes
do contexto e do modo como o sujeito as percep-
(*) Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educa- ciona, sem que os sujeitos tenham necessidade,
ção da Universidade de Lisboa. tal como o adolescente, de procurar e de encon-

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trar uma verdade única) surgiram diversas teo- da divulgação feita por Klaus Riegel, uma gran-
rizações que tiveram por objectivo expandir a de influência na generalidade das descrições do
abordagem piagetiana do pensamento formal. pensamento pós-formal. Riegel (1973, 1975,
Tais teorizações provocaram um grande entusias- 1976, 1978) foi um dos primeiros autores a criti-
mo na comunidade científica. De acordo com car a afirmação de Inhelder e Piaget (1955) de
Sinnott (1993), estaríamos na presença de uma que as operações formais constituiriam o nível
«nova área» do desenvolvimento, dita «pós-for- de equilíbrio final. Para Riegel, o desenvolvi-
mal». mento consiste em mudanças contínuas e cons-
Embora a principal crítica a Piaget tenha inci- tantes, em que as contradições seriam o motor
dido sobre a afirmação de que o estádio das ope- dos progressos, não existindo, contrariamente ao
rações formais constituiria o último estádio da postulado por Piaget, níveis estáveis de equilí-
psicogénese, os autores do pensamento pós-for- brio. A seu ver, a estabilidade e o equilíbrio
mal puseram, ainda, em questão: 1) a falta de ocorreriam se a tarefa de desenvolvimento algum
parcimónia e de adequação empírica das provas dia estivesse completa, mas tal nunca acontece.
piagetianas na avaliação de sujeitos adultos, (2) De acordo com Riegel (1973, 1975, 1976), o
a separação do pensamento dos processos do eu sujeito não efectua necessariamente, tal como é
(self), do contexto, e da história, (3) a excessiva postulado por Piaget, uma equilibração dos con-
valorização, na conceptualização Piagetiana, da flitos. O pensamento dialéctico que caracteriza a
dimensão estrutural em detrimento das dimen- maturidade consiste, pelo contrário, em viver
sões dialécticas, e (4) o modelo das operações com as contradições, aceitando-as como tal. É a
formais, que apelaria em demasia para a lógica interacção dialéctica entre equilíbrio e desequi-
das tabelas de verdade. líbrio que torna o desenvolvimento possível.
Para superar tais limitações foram propostas É notória a influência que o modelo dialéctico
tarefas específicas para avaliar o pensamento do exerceu na maior parte dos autores do pós-for-
adulto, foram feitas descrições do pensamento mal (por ex. Basseches e Kramer que designam o
do adulto em que diversas dimensões – cogni- último estádio de desenvolvimento de estádio
tivas, subjectivas, intuitivas, imaginativas, inter- dialéctico, entre outros).
pessoais (cf. Labouvie-Vief, 1992) – se encontra- O modelo relativista, baseado em axiomas e
vam integradas, e foram utilizados modelos al- propriedades de modelos de física, exerceu, tal
ternativos ao modelo piagetiano do pensamento como o modelo dialéctico, uma grande influên-
formal. Na opinião de diversos autores, existi- cia na maior parte das conceptualizações do
riam modelos – o modelo dialéctico (cf. Bas- pensamento pós-formal.
seches, 1984; Kramer, 1983, 1990; Riegel, Se Klaus Riegel foi o grande divulgador do
1973), o modelo relativista (cf. Sinnott, 1984, modelo dialéctico, Jan Sinnott (1981, 1984,
1991), a filosofia moral (cf. Armon, 1984), a teo- 1989, 1993), é a autora que mais se dedicou ao
ria geral de sistemas e o budismo (cf. Koplowitz, estudo das propriedades de dois modelos de
1984, 1990) – que, melhor do que o modelo da física (os modelos pré-relativistas, nomeada-
lógica das operações binárias, caracterizariam as mente o modelo de Newton, e o modelo relati-
complexas, e por vezes contraditórias, formas do vista de Einstein) e à análise das repercussões
pensamento, que se desenvolvem no fim da ado- que estes modelos têm nas diversas conceptua-
lescência e durante a vida adulta. lizações do desenvolvimento humano, em geral,
e do adulto, em particular. De acordo com Sin-
nott, os conceitos postulados em cada um dos
1. OS MODELOS DIALÉCTICO E RELATIVISTA dois modelos manifestam assunções quanto ao
saber de natureza diferente, absolutista no caso
De entre os modelos alternativos ao modelo do modelo de Newton, relativista no caso dos
piagetiano das operações formais destacam-se, modelos mais recentes.
pela influência que exerceram na generalidade Nas palavras de Sinnott (1993, p. 78), «uma
das conceptualizações do pensamento pós-for- conclusão que se extrai da nova física é que por
mal, o modelo dialéctico e o modelo relativista. vezes múltiplas e contraditórias visões da rea-
A filosofia dialéctica de Hegel teve, através lidade podem ser simultaneamente verdadeiras,

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embora inicialmente pareçam contraditórias». mologias noções como: operações dialécticas,
Esta conclusão teve um grande impacto em di- estudo do sujeito ao longo do ciclo de vida, des-
versas conceptualizações da cognição do adulto, coberta de problemas, relativismo lógico, con-
nas quais se postulam que verdades diferentes e textualismo, auto-referência, aceitação da contra-
incompatíveis são aceites e integradas pelo dição.
sujeito, sem que este sinta necessidade de pro-
curar e encontrar uma verdade única. A análise
piagetiana do pensamento operatório formal, de 2. ESTÁDIOS ALÉM DAS OPERAÇÕES
acordo com a autora, inspirar-se-ia na perspecti- FORMAIS
va newtoniana e, como tal, seria insuficiente pa-
ra explicar o pensamento do adulto. Para Sinnott As primeiras referências à eventual existência
(1984), o modelo «suave», relativista, ao conter de um estádio além do formal foram feitas por
e coordenar a lógica «forte», newtoniana, num Bruner (1959). Tal estádio não seria, na opinião
sistema mais abrangente de relações entre ele- de Bruner (e, mais tarde, na opinião de Gruber &
mentos, seria um modelo mais adequado, do que Vonèche (1976) e de Commons et al. (1984a,b))
o modelo da lógica bivalente das proposições, universal, pois apenas alguns cientistas o mani-
para formalizar o pensamento pós-formal. festariam. No entanto, a maior parte dos autores
Opinião semelhante é defendida por Arlin que postula a existência de um 5.º estádio não
(1984), quando afirma que o modelo lógico rela- tem em conta este aspecto e advoga que tal está-
tivista faz a combinação, a síntese, de vários dio caracteriza o pensamento do adulto em geral,
grupos INRC e integra a lógica hipotético-dedu- e não apenas de uma pequena elite.
tiva, e por Labouvie-Vief (1984), que distingue Riegel (1973) foi um dos primeiros autores a
uma lógica «dura» (que impondo limitações se postular a existência de um 5.º estádio de desen-
revelaria insuficiente para explicar o pensamento volvimento, caracterizado pelas operações dia-
pós-formal) de uma lógica mais «flexível» (que lécticas. Para Riegel, as operações dialécticas,
embora contendo aquela seria menos restritiva e pela capacidade que têm de integrar as contradi-
explicaria melhor a complexidade do pensamen- ções em sistemas mais latos, explicariam a di-
to do adulto). A lógica «dura», própria do pensa- mensão criativa do pensamento do adulto. Na
mento formal, manifestar-se-ia na busca exaus- sequência de Riegel, Arlin (1984), por exemplo,
tiva da verdade; nela «a realidade está ordenada propôs um 5.º estádio de desenvolvimento, de
em termos de verdades e de falsidades lógicas, descoberta de problemas, que se caracterizaria
sendo estas últimas rejeitadas...» (1984, p. 173). pela progressiva substituição da resolução de
Como consequência os sujeitos podem Ter bons problemas (actividade dominante, segundo esta
desempenhos em tarefas abstractas bem defini- autora, do pensamento do adolescente) pela ca-
das, falhando, contudo, em tarefas mais comple- pacidade de descoberta e formulação de questões
xas e deficientemente estruturadas em que se tor- sobre si mesmo e sobre a vida (actividade cons-
na necessário ter em consideração pontos de vis- tante e distintiva do pensamento do adulto). Nas
tas diferentes e, por vezes, conflituosos. palavras de Arlin (1984) «o argumento a favor
Para Labouvie-Vief (1984), a referência ao Eu de um 5.º estádio baseia-se na definição da des-
e aos outros em sistemas mais amplos só se ma- coberta de problemas e nas observações de que
nifesta nos níveis de desenvolvimento mais ele- ‘questões gerais’ são pouco frequentes no pensa-
vados (níveis intersistémico e autónomo), em mento do adolescente... Representa a capacidade
que se dá a expansão do absolutismo lógico dos adultos em colocar questões sobre si pró-
(isto é, da lógica da verdade ou «lógica dura») prios, sobre a profissão, e sobre os fenómenos
para o relativismo lógico (isto é, para a «lógica que os rodeiam. A natureza dessas questões re-
flexível»). quer a coordenação de múltiplas fontes e siste-
mas de referências. O modelo de Piaget não tem
A generalidade das descrições do pensamento em consideração este tipo de pensamento cria-
pós-formal fundamentou-se na epistemologia tivo e inventivo» (p. 265). Labouvie-Vief (1984,
dialéctica e na epistemologia da relatividade. 1992) advogou, por seu lado, que o pensamento
Tais descrições foram buscar a estas duas episte- do adulto se caracteriza pelo relativismo lógico e

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pela progressiva referência ao Eu. Nas palavras dores (1984a,b), com as 4 histórias e, mais re-
da autora, «com a reintrodução explícita do eu centemente (1995, 1998), com a prova da balan-
inicia-se a próxima estrutura, o nível autónomo. ça (balance beams); King e Kitchener (1977) e
A elaboração da autonomia é caracterizada pela Kitchener e King (1981, 1990a,b), com a entre-
mudança da lógica dos sistemas formais para a vista do juízo reflexivo; Kohlberg (cf. Colby &
lógica dos sistemas auto-referentes» (p. 176). Kohlberg, 1987), com entrevista do juízo moral;
Kitchener et al. (cf. Kitchener & Brenner, 1990; e Kramer, (cf. Kahlbaugh & Kramer, 1995),
Kitchener & King, 1981, 1990a,b), no seu mode- com a entrevista elaborada para a avaliação dos
lo de juízo reflexivo, advogam que nos estádios níveis de pensamento relativista e dialéctico)
mais elevados o conhecimento é concebido apresentadas e utilizadas pelos autores que pos-
como relativo, circunscrito, e resultando de uma tulam a existência estádios de desenvolvimento
constante evolução, passível de ser avaliada e além do estádio das operações formais dificulta,
reavaliada. Para Kramer (1983), o pensamento senão torna impossível, uma abordagem unitária
operatório formal é dual e absolutista (i.e., está das características deste nível de pensamento. É,
muito dependente da lógica da verdade/falsida- contudo, possível identificar, nas diversas des-
de) e não tem em consideração sistemas mutua- crições do pensamento pós-formal (cf. Kramer,
mente incompatíveis. O pensamento pós-formal, 1983,1989) algumas características que seriam
de natureza relativista e dialecticista, está mais específicas deste nível de pensamento: (1) a
independente da lógica bipolar (i.e., da dicoto- consciência e compreensão da natureza relativis-
mia verdade/falsidade), permitindo que os sujei- ta e não absolutista do conhecimento; (2) a acei-
tos se consciencializem da existência de sistemas tação da contradição, enquanto parte da realida-
mutuamente incompatíveis, decorrentes da na- de e (3) a integração da contradição em sistemas
tureza subjectiva e arbitrária do conhecimento abrangentes, isto é, num todo dialéctico (Kra-
(Kramer, 1983, 1990). Commons e colaborado- mer, 1989).
res (cf. Commons, Richards & Kuhn, 1982; Ri-
chards & Commons, 1984, 1990)1 descrevem es- 3.1. A natureza relativista e não absolutista
tádios de desenvolvimento, qualitativamente dis- do conhecimento
tintos e logicamente mais complexos do que o
operatório formal, que se desenvolvem na se- O pensamento relativista – contrariamente ao
quência deste (o estádio sistemático; o estádio pensamento absolutista e dicotómico – caracte-
metassistemático; o estádio paradigmático; o es- rizar-se-ia: (1) pela aceitação de sistemas de co-
tádio transparadigmático). Nestes estádios os nhecimento incompatíveis (Kramer, 1983; La-
sujeitos tornam-se, progressivamente, capazes de bouvie-Vief, 1980; Perry, 1970; Riegel, 1973;
analisar e de coordenar diversos sistemas entre Sinnott, 1984, 1993) e (2) pela consciência da
si, criando supersistemas de natureza metateóri- natureza subjectiva e arbitrária do conhecimen-
ca. to (Kramer, 1983, 1990; Riegel, 1973; Sinnott,
1984, 1993).
De acordo com diversos autores (cf. Kramer,
3. CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO 1983; 1990; Labouvie-Vief, 1980), a concepção
PÓS-FORMAL. relativista do conhecimento desenvolve-se du-
rante a adolescência e o período de jovem adul-
A grande diversidade de teorizações e de me- to, graças à crescente expansão do espaço social
todologias (Basseches (1984), com a entrevista que confronta os sujeitos: (a) com diferentes
dos esquemas dialécticos; Commons e colabora- pontos de vista e com diferentes valores (Kra-
mer, 1989); (b) com a assunção de papéis, por
vezes, dificilmente conciliáveis; e (c) com a es-
colha de um rumo, de entre múltiplas possibili-
dades (Labouvie-Vief, 1980; Kramer, 1983).
1
De todas as teorizações do pensamento pós-formal, O relativismo é a dimensão do pensamento
a de Commons et al. é a que mais directamente se en- pós-formal mais dependente do contexto. No
quadra, expandindo-a, na perspectiva piagetiana. pensamento relativista o conhecimento deriva do

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contexto e é compreendido em relação a esse ções organicistas, contrariamente às assunções
contexto. Dado que o contexto está em constante contextualistas, defendem que a mudança ocorre
mutação, a maior parte das vezes desordenada, de um modo sistemático (e não aleatório), resulta
torna-se difícil fazer antecipações quanto às mu- da resolução dos conflitos (e não da sua coexis-
danças que ocorrerão e quanto às direcções que tência) e conduz a uma maior unidade e coerên-
essas mudanças irão sofrer. cia (e não a uma extrema multiplicidade). Para
No pensamento relativista o conhecimento Kramer (1989, p. 136), «na visão contextualista
depende, ainda, dos pontos de vista de cada um. do mundo, podem coexistir fenómenos ou siste-
Dada a diversidade de pontos de vista, o sujeito mas contraditórios, porque o seu sentido decorre
assume que a contradição constituí uma proprie- de contextos separados, não relacionados entre
dade inerente ao conhecimento e ao real. As se- si. No sistema dialéctico, a contradição tem um
guintes opiniões: «a interpretação de uma situa- papel importante, mas a contradição é mais
ção depende do modo como é percepcionada e aparente e temporária do que real e estável. É
interpretada», «cada pessoa, sociedade, grupo e um estádio momentâneo na actualização do co-
situação, é única», «(porque cada situação é nhecimento, resolúvel através da actividade e do
única e a mudança se faz ao acaso) não se pode desenvolvimento. Reflecte a constante dinâmica
predizer, com o mínimo de segurança, o que entre actualidade e potencialidade». Para que
acontecerá no futuro» (Kramer, 1989, pp. 137- não se caia no imobilismo, a que um extremo re-
139), constituem exemplos de respostas relativis- lativismo pode conduzir, torna-se necessário que
tas que manifestam consciência da natureza sub- a contradição seja integrada em sistemas mais
jectiva e arbitrária do conhecimento. inclusivos, constituídos por dois ou mais siste-
Na visão relativista do mundo, podem coexis- mas formais.
tir fenómenos ou sistemas contraditórios e in- A integração da contradição encontra-se nos
compatíveis, uma vez que o seu sentido decorre níveis mais evoluídos do relativismo de Kitche-
de contextos, e de pontos de vista separados e ner e King (1981), no nível autónomo de Labou-
não relacionados entre si (Kramer, 1989). Sendo vie-Vief (1980, 1984, 1990), e nos esquemas me-
assim, o pensamento relativista pode, em última taformais de Basseches (1984, 1989), entre ou-
instância, se a contradição não fôr integrada em tros.
sistemas globalizantes, conduzir ao imobilismo e
mesmo ao caos (cf. Kitchener & King, 1981;
Kramer, 1990). 4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES EM TORNO
DAS CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO
3.2. A aceitação da contradição e a integra- PÓS-FORMAL.
ção da contradição em sistemas abran-
gentes Depois de termos descrito as principais ca-
racterísticas do pensamento pós-formal, a saber,
A aceitação e a integração da contradição a compreensão da natureza relativista do conhe-
são, para a generalidade dos autores (cf. Arlin, cimento, a aceitação da contradição, e a inte-
1984; Basseches, 1984; Kramer, 1983; Labou- gração da contradição em sistemas abrangentes,
vie-Vief, 1980; Sinnott, 1984; Riegel, 1973), as iremos, agora, analisá-las criticamente. Começa-
características mais distintivas e salientes do remos pela noção de pensamento relativista.
pensamento do adulto, características que se de- Diversos autores, como acima foi descrito,
senvolvem, embora com grandes diferenças in- apoiando-se na teoria da relatividade de Einstein,
dividuais, sobretudo na meia idade. opõem o pensamento absolutista ao pensamento
Embora a maior parte dos autores do pós-for- relativista, sendo este último geralmente ca-
mal fale indiferenciadamente da contradição, racterizado pela aceitação de sistemas de conhe-
Kramer (1989) distingue a contradição postulada cimento incompatíveis, pela consciência da na-
na concepção relativista (que se fundamenta, tal tureza subjectiva e arbitrária do conhecimento, e
como foi dito, em assunções contextualistas) da pela sua dependência em relação ao contexto.
contradição postulada na concepção dialecticista Esta caracterização de pensamento relativista
(que deriva de assunções organicistas). As assun- levanta várias questões. A primeira consiste em

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saber se tal caracterização reflecte o que Einstein identificam diferentes níveis de relativismo, os
entendia por relativismo. São vários os autores primeiros níveis de índole mais radical – e.g., «o
(cf. Holton, 1998) que se interrogam sobre a le- conhecimento é idiossincrático, visto que variá-
gitimidade da aplicação de conceitos científicos veis situacionais não nos permitem conhecer
para domínios que ultrapassam as fronteiras da com toda a certeza»; «as avaliações dos dados
ciência em que surgiram, e sobre a fidedignidade são individuais» (nível 4 da escala de Juízo Re-
das interpretações desses mesmos conceitos. De flexivo de Kitchner e King) – e os níveis mais
acordo com Holton, a aplicação da noção de re- elevados, de índole mais integrativa em que,
lativismo a domínios não científicos baseia-se além da assunção de variáveis idiossincráticas e
geralmente em analogias pouco convincentes. A contextuais, se procuram as justificações episte-
teoria da relatividade não chega à conclusão de mológicas mais válidas – e.g., «embora não haja
que a verdade depende do ponto de vista do certezas quanto ao conhecimento e embora este
observador. Pelo contrário, reformula as leis da esteja sujeito a interpretações são possíveis jus-
física de forma que sejam válidas para todos os tificações epistemológicas quanto às melhores
observadores, independentemente do modo hipóteses explicativas ou quanto às soluções
como se movem ou do lugar que ocupam. Se- mais adequadas dos problemas» (estádio 7, da
gundo esta teoria as verdades mais importantes citada escala). Considerando-se, porém, que os
da ciência são independentes dos diversos pontos níveis mais elevados, em que a contradição é in-
de vista. Sendo assim, não parece ser legítimo tegrada em esquemas mais abrangentes, não são
invocar Einstein quando se postula que o conhe- universais (i.e., poucos adultos os manifestam),
cimento depende dos diversos sistemas de refe- pode-se concluir que o pensamento do adulto
rência, de diferentes pontos de vista, dos diferen- manifesta um relativismo imobilista e, eventual-
tes contextos. A física relativista, pelo contrário, mente, caótico (!), que pouco, ou nada, tem a ver
ensina-nos que podemos extrair de diferentes com o relativismo einsteiniano.
registos todas as leis de física, possuindo estas Quanto à aceitação da contradição, e à sua
um significado invariante. Nas palavras de integração em sistemas abrangentes, interessa
Holton (op. cit., p. 154), «é por este motivo que, saber se não existem manifestações destas duas
em contraste com a física clássica, a relatividade condutas no nível mais elevado (nível B) das
moderna é simples, universal e, podemos mesmo operações formais. Tomemos, por exemplo, o
dizer, ‘absoluta’. O cliché em voga é, erradamen- grupo INRC (cf. Inhelder & Piaget, 1955), estru-
te, ‘tudo é relativo’, quando o ponto importante é tura subjacente ao pensamento formal. Ao resol-
que do vasto fluxo de todos os acontecimentos verem tarefas que pressupõem a coordenação de
podemos extrair exactamente o contrário: ’Algu- uma operação inicial com a sua inversa, a sua
mas coisas são invariantes’»2. reciproca e a sua correlativa, os sujeitos não só
A interpretação da teoria da relatividade de são confrontados com situações contraditórias
como vão integrar essa contradição. Se se pode
Einstein efectuada por Holton lembra-nos mais
admitir que na génese do operatório formal tal
Piaget3 do que certos autores do pensamento pós-
coordenação se revela difícil, é legítimo supor
formal.
que no nível de acabamento do operatório formal
É verdade que alguns autores «pós-formais»
a coordenação se efectua, se generaliza e se
aplica a um número cada vez maior de possíveis.
A seguinte afirmação de Piaget é esclarecedora
quanto a este aspecto: «... a beleza do novo siste-
2
É de salientar que Einstein parecia gostar mais do ma (INRC) que então se impõe e que demonstra
termo Invariantentheorie do que ‘teoria da relativida- o carácter de síntese ou de acabamento (espe-
de’, designação aposta à primeira teorização de Eins- rando naturalmente ser integrado em sistemas
tein, por Planck e Abraham, em 1906. mais amplos) é que não há simplesmente justa-
3
Piaget, aliás, conhecia pessoalmente Einstein e a posição das inversões e das reciprocidades mas
ele várias vezes se referiu nos seus livros como, por
exemplo, A concepção do tempo na criança, obra que, fusão operatória num todo único, no sentido em
de acordo com Piaget, pretendia responder a uma série que cada operação será de agora em diante si-
de questões sugeridas por Einstein. multaneamente a inversa de uma outra e a recí-

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proca de uma terceira, sendo esta última ao possamos falar, numa perspectiva piagetiana,
mesmo tempo correlativa (ou dual) da primeira» de mudanças estruturais, ou de estádios, temos
(Piaget & Inhelder, 1971, p. 110). Sendo assim, que ter em consideração os vários critérios pos-
estas duas características, consideradas distinti- tulados por este autor (Piaget & Inhelder, 1971,
vas do pensamento pós-formal, poderão mani- p. 121), a saber: (1) cada estádio é caracterizado
festar-se já no nível das operações formais. A por uma estrutura de conjunto a partir da qual se
não consideração, por determinados autores do podem explicar as principais reacções particula-
pós-formal, dos níveis de desenvolvimento (de res, (2) a ordem de sucessão dos estádios é
génese e de acabamento) no interior do estádio constante, (3) as estruturas de conjunto são inte-
das operações formais, constitui uma lacuna im- grativas; cada uma resulta da precedente inte-
portante que pode conduzir à subvalorização grando-a a título de estrutura subordinada, e
das potencialidades deste nível de pensamento. prepara a seguinte integrando-se nela, e (4) qual-
Não está, portanto, esclarecido e comprovado quer estádio comporta um nível de preparação e
empiricamente que as operações formais sejam um nível de consecução. A passagem de uma es-
insuficientes para coordenar as diferentes refe- trutura inferior, menos geral, para uma estrutura
rências, nem que a eventual coordenação de vá- superior, mais geral, pressupõe, na concepção
rios tipos de referência represente um desenvol- piagetiana, um aumento de abstracção Esta abs-
vimento estrutural além das operações formais. tracção generalizadora obedece a leis de equili-
Em termos de conclusão, não deixa de ser cu- bração, isto é, reconstrói as operações da estrutu-
rioso que Kramer, ela própria defensora do pen- ra inferior num sistema mais equilibrado, mais
samento pós-formal, afirme (1983, p. 99) que: móvel e mais abrangente.
«as ainda não comprovadas diferenças na utiliza- A maior parte dos autores que postula níveis
ção da contradição, no pensamento formal e de pensamento além do formal, não explicita o
pós-formal, cria problemas para os teóricos do que entendem por estádio, e quais os critérios a
pós-formal (...)». que o hipotético 5.º estádio obedece (ver Mon-
nier & Wells (1980). Alguns têm conceptualiza-
ções muito restritas. Por exemplo, Arlin (1984),
5. JÁ SE PODE FALAR DE UM QUINTO como se viu, caracteriza o 5.º estádio de desen-
ESTÁDIO DE DESENVOLVIMENTO, ALÉM DAS volvimento pela modificação no modo como as
OPERAÇÕES FORMAIS? QUAL A NATUREZA operações formais são utilizadas, que se mani-
DO PENSAMENTO PÓS-FORMAL? festaria pela progressiva substituição da «resolu-
ção de problemas», pela «descoberta de proble-
As diversas descrições do pensamento pós- mas». A seu ver «o argumento a favor de um 5.º
-formal tiveram, como foi dito, por objectivo estádio baseia-se na definição da descoberta de
prioritário expandir a concepção piagetiana das problemas e nas observações de que ‘questões
operações formais. Não aceitando que o estádio gerais’ são pouco frequentes no pensamento do
das operações formais constitui o nível de equi- adolescente» (1984, p. 265). Não está, porém,
líbrio final foi postulada a existência de um 5.º provado que a «descoberta de problemas» seja
estádio que, melhor do que as operações formais, específica de um nível de desenvolvimento supe-
explicaria o pensamento do adulto. rior ao formal e que não se manifeste no estádio
Se é evidente que tudo leva a crer que durante formal. Quando Inhelder e Piaget (1955) falam
a vida adulta poderá haver desenvolvimento, na capacidade que os jovens passam a ter de for-
interessa saber se o 5.º estádio de desenvolvi- mular hipóteses, de construir teorias e sistemas
mento, que a generalidade dos autores propõe ou, ainda, de elaborar programas de vida, mos-
além do formal, manifesta uma mudança estru- tram que no operatório formal os sujeitos podem
tural, de nível superior à das operações formais. manifestar elevados níveis de «descoberta de
Ou se mais não é do que um conjunto de compe- problemas». No entender de alguns autores (Fa-
tências de âmbito específico, de natureza prática kouri, 1976; Gruber & Vonèche, 1976; Monnier
e contextual (cf. Labouvie-Vief, 1992). & Wells, 1980), a «resolução de problemas» e a
Analisar esta questão pressupõe que se analise «descoberta de problemas» constituem duas di-
o que os autores entendem por estádio. Para que mensões do pensamento operatório formal.

197
Outros, tais como Kitchener e King (1990a,b) rante a realização dessas tarefas. Nas palavras
defendem uma concepção estatística de estádio e dos autores «o estádio seria a classe mais ele-
fundamentam as suas teorias em métodos psico- vada de complexidade hierárquica em que a tare-
métricos, não se encontrando, porém, «uma ló- fa é realizada com sucesso» (p. 238). Tal noção
gica delineada a priori de estádios» (Commons de estádio não pressupõe, na opinião de Com-
et al., 1998, p. 245). mons et al. (1998), a emergência abrupta da nova
Commons e colaboradores, são dos autores realização e o desaparecimento da realização an-
que integram o movimento pós-formal que mais terior; pressupõe sim, a organização e transfor-
têm analisado as questões da natureza dos está- mação das acções do nível anterior, sendo essas
dios, e do modo de os avaliar. Numa primeira organizações caracterizadas por serem novas
fase (Commons, Richards & Khun, 1982), justi- (no sentido em que não podem ser realizadas em
ficaram a existência de um novo estádio, além níveis inferiores de acções) e efectuadas de um
do formal, pelos elevados níveis de abstracção modo não arbitrário. De acordo com estes auto-
que, na sua opinião, não se manifestariam no res, quando avaliados em tarefas de um domínio
pensamento formal. Para Commons et al., nos nocional específico, apresentadas segundo uma
níveis sistemático, metassistemático, paradigmá- ordem hierárquica de complexidade (cf. Com-
tico e transparadigmático, – contrariamente ao mons et al., 1995) – e não em tarefas correspon-
nível das operações formais, em que os sujeitos dendo a diversos domínios nocionais – os resul-
se mostravam incapazes de coordenar sistemas tados confirmam a sequêncialidade que haviam
lógicos complexos, e de os avaliar de um ponto postulado e já verificado anteriormente.
de vista exterior ao próprio sistema – os sujeitos Sendo claro que a recente conceptualização e
tornavam-se capazes de analisar e de coordenar, metodologia de avaliação propostas por Com-
entre si, sistemas lógicos complexos, criando su- mons et al. (1998), constituem uma clarificação
persistemas de natureza metateórica. Em termos conceptual e uma abordagem metodológica rigo-
teóricos, tudo sugere que estamos na presença de rosa, interessa, agora, desenvolver estudos que
uma concepção de abstracção generalizadora validem empiricamente esta nova visão de está-
semelhante à postulada por Piaget (i.e., recons- dios e que clarifiquem a questão da sua sequên-
trução das operações da estádio anterior num sis- cialidade. Está, ainda, por esclarecer, por exem-
tema mais equilibrado, mais móvel e mais abran- plo, se as tarefas realizadas, com êxito, do nível
gente). Os resultados obtidos por Commons, sistemático representam o primeiro estádio do
Richards & Kuhn (1982), confirmaram tais re- pensamento pós-formal, ou mais não são do que
construções no que diz respeito aos estádios a expressão do nível operatório formal acabado,
sistemático, metassistemático e paradigmático e se os níveis metassistemáticos, paradigmático e
(os autores não encontraram resultados do nível transparadimático representam reorganizações
transparadigmático). Estes resultados, não fo- estruturais do pensamento formal, ou se mais
ram, porém, confirmados em investigações de- não fazem do que expandir esse mesmo pensa-
senvolvidas por diversos autores que estudaram mento. Expandir poderá, apenas, significar a in-
as relações entre pensamento formal e pensa- tegração das operações formais em sistemas
mento sistemático e metassistemático (Deme- mais latos, hipótese considerada por Inhelder e
triou, 1990; Kallio, 1995; Kallio & Helkama, Piaget (1955, p. 121), quando afirmam «... esta
1991; Kohlberg, 1990). Para estes autores, o forma geral de equilíbrio pode ser concebida
pensamento sistemático seria idêntico ao nível como final na medida em que não se modifica
designado por Piaget de «formal acabado» (i.e., durante a vida de um indivíduo (embora possa
Formal B), não podendo, portanto, ser conside- ser integrada em sistemas mais latos)». Reorga-
rado pós-formal. nizar as operações formais em níveis estruturais
Mais recentemente, num esforço apreciável mais elevados, pressupõe a reconstrução das
para clarificar a questão central do que se enten- operações da estrutura inferior (e não apenas de
de por estádio, Commons, Trudeau, Stein, Ri- uma operação, avaliada através de uma tarefa,
chards e Krause (1998) defendem uma noção de apresentada com diversos graus de complexida-
estádio baseada na complexidade hierárquica de, tal como é proposto por Commons et al.
das tarefas, e nos desempenhos dos sujeitos du- (1998)) num sistema mais equilibrado, mais mó-

198
vel e mais abrangente. A conceptualização de Cauble, 1976; Leadbeater & Dionne, 1981;
Commons e colaboradores (de todas a mais ló- Rowe & Marcia, 1980; Wagner, 1987), mostra-
gica e, no nosso entender, de todas a mais «pós- ram que tais dimensões se desenvolvem paralela-
-formal», na medida em que se enquadra, mais mente às operações formais. Nesta linha de con-
do que qualquer das restantes, num quadro pia- siderações, Kohlber e Armon (1984), depois de
getiano quer em termos teóricos, quer em termos distinguirem estádios «duros« – em que o desen-
metodológicos) e os resultados encontrados, su- volvimento ocorre numa sequência invariante e
gerem mais expansão do que reorganização. universal (por exemplo, os estádios piagetianos)
Seja como fôr, é necessário mais investigação,
– de estádios «suaves» – em que o desenvolvi-
de natureza longitudinal (sobretudo) e transver-
mento é condicionado por experiências particu-
sal, para clarificar esta questão. Só os resultados
lares que decorrem de diferenças de personali-
dessas investigações permitirão atribuir, ou não,
um estatuto verdadeiramente estrutural e, por dade, de educação, de classe social, de idade –
conseguinte, de «estádio duro» (cf. Kohlberg & concluem que a conceptualização de estádio
Armon, 1984), ao pensamento pós-formal, tal «suave» será a que melhor se adequa às particu-
como é conceptualizado por Commons e colabo- laridades do desenvolvimento do adulto.
radores. Dada a heterogeneidade de teorizações do
Quanto às restantes conceptualizações que pensamento além do formal, e dada a inconclu-
acentuam as dimensões contextuais, auto-refe- sividade das pesquisas até agora efectuadas, não
rentes, pragmáticas, metareflexivas do pensa- é, para já, possível determinar a verdadeira natu-
mento pós-formal, e em que se propõe uma reza do pensamento dito pós-formal. Sendo as-
abordagem mais integrativa do pensamento do sim, e defendendo nós que qualquer teoria cien-
adulto, em que «o subjectivo e o objectivo, o in- tífica e epistemológica deveria ter subjacentes
dividual e o colectivo, o eu e o outro, a razão e a pressupostos tais como, clarificação conceptual,
emoção, o pensamento e o corpo se encontram parcimónia e simplicidade, pensamos que seria
em genuína interacção» (Labouvie-Vief, 1992, p. preferível abandonar o termo «pós-formal» (a
223), tudo sugere que não constituem estádios única excepção seria, eventualmente, a concep-
além do formal, mas evoluções paralelas ao tualização de Commons e colaboradores) e falar
pensamento formal. Quanto a este assunto, não
simplesmente em cognição ou pensamento do
deixam de ser curiosas as opiniões de alguns au-
adulto.
tores, eles próprios defensores de níveis de de-
senvolvimento além do pensamento formal. Na
opinião de Gruber (1984), por exemplo, a teia de
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p. 221), «o termo pós-formal pode não implicar structural interpretation. In M. Commons, F. Ri-
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RESUMO Key words: Post-formal thought, the dialectical
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Passados 30 anos sobre as mais importantes teori- ment.

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