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Come citar este artigo Namero completo Mais informagées do artigo Site da revista em redalyc.org Praxis educativa \: 1809-4031 11809-4309 UNLPam Kohan, Walter Omar ‘Tempos da escola em tempo de pandemia e necropalitica Praxis educativa, vol. 15, 22016212, 2020 UNLPam DOI: hites:/ldo\.org/10,5212/PraxEdue.18.16212.067 Disponivel am: hips: redalye-orgarticulo oa Balyods ‘Sistema de Informagéo Cientifica Redalye Rede de Revistas Cientificas da América Latina e do Caribe, Espanha e Portugal ‘Sem fins lucrativos acadi ito da iniiativa nica projeto, desenvolvide no ‘acesso aberto r Praxis Educativa ISSN 1809-4031 eISSN 1809-4309 © httpsi/doi.org/10.6212/PraxEduc.v.15.16212,067 ‘Tempos da escola em tempo de pandemia e necropolitica School times in a time of pandemic and necropolitics ‘Tiempos de la escuela en tiempo de pandemia y necropolitica Walter Omar Kohan" hups.//orcid.org/0000-0002-2263-9732 to esté inspirado em uma five apresentada junto A Maura Corcini, oxganizada pela Associagio Nacional de Pés-Graduacio ¢ Pesquisa em Edueagio (ANPE¢). Ble tem quatro segies. A primeira, “A necrologia, a pandemia, o Brasil”, desereve a forma em que 0 governo bolsonarista desenvolve uma necropolitiea, inclusive a parti da teigica pandemia do COVID-19 que, atualmente, se expande pelo Brasil e pelo mundo. A segunda, “A educagio, entre a nccropolitica ea pandemia”, anuncia duas dimens dessa mesma pandemia e 0 que ela nos permite perceber em relagio a escola, como instituigio ¢ como forma. A terceira, “A pandemia e os tempos da escola”, apresenta a especificidade de trés tempos presentes na educacio: kbrines, kaiise aiin. Finalmente, a ultima segio, “O tempo da infincia: Isabel(a) € 0 tempo imprevisivel da leitura e da eserita”, retoma uma inspiragio infantil e alguns sentidos que dela emanam para lembear do valor e do sentido da inflncia na edueagio. Palavras-chave: Tempo. Escola. Nectopolitica Abstract: ‘The present text is inspired by a live presented with Maura Corcini, organized by the National Association of Graduate Studies and Research in Education (ANPEd). It has four sections. The first section, “‘The necrology, the pandemic, Brazil”, describes the way in which the Bolsonarist government develops 2 necropolitics, including from the tragic COVID-19 pandemic that is currently expanding throughout Brazil and the world. The second section, “Education, between necropolitics and pandemic”, announces two dimensions of this same pandemic and what it allows us to perceive in relation to school, as an institution and as a form, The third section, “The Pandemic and the school times”, presents the specificity of three educational times: chron, kairos and aion, Finally, the last section, “The time of childhood: Isabel(a) and the unpredictable time of reading and writing” resumes a childlike inspiration and some senses that emanate from it to remember the value and meaning of childhood in education Keywords: Time. School. Necropolitcs. Resumen: El presente texto estd inspirado en una presentacién en vivo con Maura Corcini organizada por la Asociacién Nacional de Posgrado ¢ Investigacién en Educacién (ANPEd), Tiene cuatro secciones. La * Professor titular da Unive dade do Estado do Rio de Jancito (VER), pesquisacor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecaolégico (CNPq) ¢ da Fundacio de Amparo 4 Pesquisa do Estado do Rio de Jancito (PAPER). Coordenador do Projeto “Filosofia na lafineia da Vida escolar” (CAPES:Priny). E-mail: Praxis Educativa, Ponta Gross v, 15, €2016212, p. 1-9, 2020 Disponivel em: ‘Tempos da escola em tempo de pandemia e necropolitica primera, “La necrologia, la pandemia, Brasil”, describe la forma en que el gobierno bolsonarista desarrolla una necropolitica, incluso a partir de la trigica pandemia del COVID-19 que actualmente se esti expandiendo por Brasil y por el mundo. La segunda, “La educacién, entre la necropolitica y la pandemia”, anuncia dos dimensiones de esta misma pandemia y lo que ella nos permite percibir en relacién con la escuela, como instituciéin y como forma. La tercera, “La pandemia y los tiempos de la escuela”, presenta la espetificidad de tres tiempos presentes en la educacién: kbrinos, kairésy aién. Finalmente, la titima seccién, “La époea de la infancia: Isabel(a) y el imprevisible tiempo de la lectura y de la escritura”, retoma una inspiracién infantil y algunos sentidos que emanan de ella para recordar el valor y el sentido de la infancia cen la educacién, Palabras clave: Tiempo. Escuela, Necropolitica A Isabel(a), que me ensina tanto sobre ler € escrever Introdugao Liste texto é um texto de infincias. Ele nasceu de uma apresentagio em uma five junto & ‘Maura Corcini, em 13 de maio de 2020, organizada pela Associacao Nacional de Pés-Graduagao ¢ Pesquisa em Educagio (ANPEd). Agradego 4 Maura, pela inspiracio e pela hospitalidade daquela tarde, e 4 Geovana Lunardi, presidenta da ANPEd, pelo convite para a live e, depois, para tornar aqucla apresentacao em um texto escrito para o presente Dossié. Quando estava tentando dar forma escrita aos rascunhos daquela tarde, sacudido pelas mortes pretas causadas pelo racismo que abala o Brasil, os Fstados Unidos ¢ o mundo, ¢ pelas mortes causadas, em parte, pelo COVID-19 ¢, em parte, pela brutal ittesponsabilidade do governo brasileiro, fui mexido pela inspiracio decisiva que estava precisando de uma voz infantil, Compreendi que este texto no poderia apenas dar voz. gravissima situacao politica e sanitéria em que se encontta atualmente o Brasil, ¢ que qualquer pensamento em romno da educagao ¢ da escola também deveria honrar a infincia e a dimensio infantil do tempo que estamos vivendo e do tempo educacional que a infancia pode nos fazer vi Com essa pretensfo € inspiragio, 0 texto esta dividido em quatro partes principais. Na primeira, “A necrologia, a pandemia, o Brasil”, descrevemos a forma em que a necropolitica do governo bolsonarista encontra na atual pandemia do COVID-19 uma extensio do seu modus operandi. Na segunda, “A educacio, entre a necropolitica ¢ a pandemia”, anunciamos duas dimensdes da pandemia c 0 que cla nos tem permitido perceber em relacio 4 escola, Na terccira, “A pandemia € os tempos da escola”, apresentamos a especificidade de trés tempos presentes na educacio, Finalmente, em “O tempo da infineia: Isabel(a) eo tempo imprevisivel da leitura e da escrita”, retomamos a inspiraco infantil ¢ alguns sentidos para repensar a forma em que nos relacionamos com a infincia na educacio. Ja € hora de comecar e apresentar a primeira inspiragZo infantil. Vem de uma fala de Isabel(a), menina acoriana de 9 anos: “Nao € quando a gente quer que pode ir escrever. As palavras vio sait més se escrevermos sem disposigio”. Obrigado, Isabel(a), pela preciosa dica: 0 tempo da cescrita, efetivamente, nao é 0 da nossa vontade, mas 0 de nossa disposicio. Precisamos dispor-nos, inteiramente presentes, se no queremos que nossas palavras saiam més. Com essa disposigio, presenca € atenco infantis, comecamos a escrever um texto que voltard A Isabel(a) e a sua vox infantil " Isabel(a,crianea agoriana, de 9 anos, ¢ filha da minha colegs ¢ amiga Magda e do Ricardo. Ela me autorizou a colocar assim seu nome, porque cla gosta. FE também achou muito “gira” uma versio iniial do presente text. Praxis Educativa, Ponta Grossa, v. 15, €2016212, p. 1-9, 2020 Disponivel em: ‘Walter Omar Kohan A necrologia, a pandemia, o Brasil ‘Vivemos um momento muito dificil no Brasil. Uma guerra. Em certo sentido, a guerra nlio € nova pois faz parte do projeto colonizador imposto ao longo dos sltimos séculos em toda a América, As comunidades indigenas, negras ¢, de forma mais geral, as mais empobrecidas que o digam. Trata-se de uma guerra permanente, constante, persistente, um projeto racista, miségino, assassino que se afana em excluir todas as formas da diferenga que nao se encaixam nele. O mais especifico do atual momento brasileiro é a viruléncia dessa guerra, seu cariter ostensivo, brutal, exterminador, o que o nosso colega da Universidade do Estado do Rio de Janeito (UER)), Jowio César Castro Rocha, denomina “a guerra cultural bolsonarista/olavista” (ROCHA, 2020, ap.) Como Rocha mostra, o governo Bolsonaro vive da morte, do exterminio que fazem parte do scu ‘modus operandi de maneira essencial. E. a consumagio da necropolitica baseada em um conceito de soberania, como o que A. Achile Mbembe firma: “[..J a instrumentalizagio generalizada da existéncia humana ¢ a destruisio material de corpos humanos ¢ populagdes” (MBEMBE, 2018, p. 10-11). Nesse sentido, Foucault tinha apresentado o trinsito do poder da soberania ao biopoder, por volta do século XVII europeu, como um trinsito do mote do fazer morrer deixar viverao mote do fazer viver edeiscar morrer FOUCAULT, 2006, p. 285ss.). Entre os séculos XVII ¢ XIX, consolida- se a nosao de populagio e, com cla, a de biopolitica, Autores como G. Agamben ¢ o proprio ‘Mbembe tém descrito a passagem mais contemporinea do império dla biopolitica (do grego bins = vida) & necropolitica (do grego nékros = morte). Essa passagem talvez.corresponda a um movimento recente nas sociedades europeias: de nosso lado do mundo, estamos jé instalados na necropolitica desde a chegada dos curopeus. O que & 2 necropolitica? Digamo-lo de forma simples, com a inspiragio de M, Foucault: entre nés, a necropolitica é um dispositive de governo para fazer morrer nia deicar viver. © momento atual é elucidativamente cruel. A pandemia gerada pelo COVID-19, longe de ser combatida firmemente, esta sendo veiculizada como mais um instrumento dessa necropolitica, quase como uma oportunidade de consolidar a politica da morte de forma mais répida, segura, econdmica. O bendito “mercado” tem dado sinais mais do que claros nesta primeira semana de junho de 2020: a mesma semana em que o Brasil bateu recorde de mortes, ultrapassando os 35 mil mortos"; 0 real valorizou-se quase 7% frente ao délar; a bolsa de valores de S20 Paulo subiu mais de 8%; “os mercados mostram sinais de recuperagio”, anunciam os jornais. Hi necessidade de dados mais claros para vera allanga entre a versio local do eapitalismo ¢ a necropolitica? Se houver alguma divida, basta escutar a Bolsonaro ainda nesta mesma semana (ou em qualquer outra): “A gente lamenta todos os mortos, mas é 0 destino de todo mundo” (2 de junho de 2020)*, Naturalizar € banalizar a morte faz parte da necropolitica. Antes, no comego da pandemia, © proprio tinha deixado ver antecipadamente o carter higienista de sua necropolitica: “Vio morrer alguns fidosos € pessoas mais vulnerdveis] pelo virus? Sim, vo morrer. Se tiver um com deficiéneia, pegou no °'No dia 7 de junho de 2020, a guerra tornou-se também interna com o desabafo insultante de Olavo de Carvalho a0 Jr Bolsonaro com um video cheio de aftontas ¢ insultos, postado nas redes sociais. Nas mesmas redes, ele voltou logo atris, Disponivel em: , Acesso em: 8 jun. 2020. » Painel COVID-19 do Ministério da Sasde, Disponivel em: , Acesso em: § jun, 2020, Nos tlimos teés dias, o Ministério da Sade atrasou os dados. Dia 5 de junho, logo depois de eolocat os dados dirios, © portal entroa “Fim manutencio” e o ministério da satide emitiu nota dizendo que iria recontar casos porque afirma que hi “dados fantasiosos”, Faltou dizer de quem é a motbosa fantasia. Sobre as cotagdes do délar, ver beb gov.br; sobre as cotagdes da Bolsa de Sio Paulo, ver , Acesso em: 16 jun. 2020, 4 Disponivel em: . Acesso em 16 jun. 2020. Praxis Educativa, Ponta Grossa, v. 15, e2016212, p. 1-9, 2020 Disponivel em: ‘Tempos da escola em tempo de pandemia e necropolitica contrapé, cu lamento”. Sio apenas exemplos, o desprezo i vida ¢ a diferenga € cotidiano, insultante, abominavel. Hoje morre uma pessoa por minuto pelo virus no Brasil. Dolorosamente, quando este texto estiver sendo lido, os némeros da morte serio ainda mais impactantes. E, em uma sociedade racista ¢ machista, jd podemos antecipar quais serio os principais alvos da necropolitica. Uma das coisas que Bolsonaro nao diz é que, pelo seu cargo, ele deveria se ocupar, em um momento de pandemia, de gerar as melhores condigGes possiveis para que a morte nio chegue desnecessariamente antes do tempo. Também nfio diz que uma boa parte dessas mortes poderiam estar sendo evitadas. A vizinha Argentina é, desta vez, um bom exemplo, quase oposto em termos de como 0 governo reagiu perante a pandemia. Se, no Brasil, o governo desde o inicio da pandemia insistiu em minimizar e desqualificar a importincia do COVID-19 € que a economia nao poderia parar; na Argentina, adoptou-se, desde marco, um isolamento estrito nacionalmente. O primeiro caso de COVID-19 identificado na Argentina foi no dia 3 de marco, ¢ a primeira morte foi anunciada em 7 de marco. No Brasil, o primeiro dbito foi em 17 de marco e, embora existam diversas verses sobre o efetivo primeiro caso no pais, podemos considerar que os dois paises receberam 0 COVID-19 em um perfodo bastante préximo. Em 10 de junho de 2020, o Brasil tinha mais de 650.000 casos € mais de 35.000 mortes’; a Argentina tem pouco mais de 21,000 casos € 632 mortes” - 30 vezes menos casos de infectados ¢... 50 vezes menos mortes! Mesmo que a populagio do Brasil seja quase cinco vezes maior do que a da Argentina, a diferenca dos indices proporcionada é assustadora: no Brasil, ha um indice de 167 mortes por milhio de habitantes; na Argentina, o indice é de 15 — 11 ve niimeto de habitantes. cs menos © mimero de mortos em proporgses relativas a0 Ainda € preciso dizer mais alguma coisa? Talvez sim: estamos nos referindo 4 Argentina (nfo A Alemanha, 4 Franga, a Singapura, 4 Coreia do Sul ou 20 Canad4), que tem uma crise econémica muito mais aguda do que a do Brasil ¢ um sistema de satide piblica igualmente desatendido pelas politicas pablicas dos tiltimos anos; e que os setores que governavam a Argentina, até final de 2019, responséveis em boa parte por essa crise ¢ essa desatengio da saiide piiblica, impulsam agora uma campanka contra o isolamento social, a0 que chamam ironicamente de “infectadura”, com argumentos semelhantes aos defensores da necropolitica so Brasil.’ Fim coutras palavras, se © virus tivesse chepado 0 ano passado, talvez a Argentina estaria em uma situacio nao tio diferente da que o Brasil padece hoje: a necropolitica e o capital entre nds no tém nacionalidade ou atravessam todas elas. A educagio, entre a necropolitica e a pandemia Nesse cenario, a edueagio no Brasil encontra-se encurralada entre a pandemia ¢ a necropolitica. Enquanto assistimos a cenas de corpos apilhados nos hospitais e nos cemitérios das grandes cidades, alguém poderia perceber, com diferente grau de satisfacio, a morte da propria escola, Com efeito, para os discursos mais conservadores e regressivos, a pandemia poderia ser ‘uma oportunidade propicia para distancializar de vez a cducagao: se as priticas educativas podem 5 Disponivel em< _nups://noticiasuol.com.br/cohnas/leonardo-sakamoro/2020 03/27 /bolsonaro-quer- cconvencer-que-vide-de-idoso-c pedago-a-pagnt-ao-coronavieusibtm>, Acesso em 16 jun. 2020. © Dados extraldos do Conselho Nacional de Sectetitios de Snide (CONASS), dispon‘vel em: -. Acesso em 10) jun, 2020. 7 Dados extraidos. do Ministerio de Salud, —_Repuiblica_ Argentina, —_disponivel em: . Acesso em: 10 jun. 2020. © Ver, por exemplo, Lar antinanmntona marcharam ae Obelive, disponivel em: ‘Walter Omar Kohan continuar a distincia, qual seria a real necessidade de seguir mantendo escolas abertas com as pretensdes explicitadas até 0 cansago de ajuste nos gastos pablicos? Para que manter uma instituigao que vive em permanente crise, que exige recursos que poderiam ser usados com outros fins e que da conta pifiamente de suas fungdes ¢ sentidos sociais? Nao deverfamos aproveitar © virus ¢ desescolarizar de vez a sociedad?” A pandemia tem nos oferecido a possibilidade de pensar ¢ de perceber as coisas de outra maneira. Kis a dupla cara do COVID-19: de um lado, ele infecta, contamina, atrofia, pelo menos temporalmente, alguns sentidos, principalmente o olfato e paladar; também ataca sobretudo os pulmées, gerando a falta de ar que, em muitos casos, leva 4 morte. Ele é letal e, como todo virus, vive da morte do corpo que o aloja. Fle é necréfilo. Contudo, 20 mesmo tempo, cle tem suspendido ‘um sistema que parecia inquebrantivel, impardvel, incontornavel. Como o sistema que suspende também vive da morte, podemos dizer que, implicitamente, ele € também bidfilo. Ao mesmo tempo, 0 virus ama a morte ¢ a morte da morte, a vida que pelo menos potencial ¢ indirctamente ibera. Lim dos aspectos do sistema capitalista que tem sido suspendido pelo virus é a experiéncia frenética, exigida, produtivista do tempo que esse sistema estimulava e da qual vivia, Voltaremos a essa experiéncia temporal ‘Também scus cfeitos sobre as escolas"” mostram a dupla cara do virus: pela primeira vez desde sua cxisténcia, todas as escolas foram obrigadas a fechar de vez. Ficamos todos subitamente sem escolas, no Brasil e no mundo, Fm um sentido, entdo, o virus decretou uma morte, pelo menos temporariamente, das escolas: as deixou sem vida interna, sem cheiros, sabores, sem ar. Contudo, a0 mesmo tempo, até os mais criticos da instituigio escolar, pudemos perceber 0 que nao percebiamos, pelo menos, com a clareza que a pandemia nos oferece, pois devemos também accitar que a pandemia tem a poténcia de mostrar tudo mais claramente, Notemos alguns dos principais aspectos relativos a essa escola que no percebfamos tio claramente ¢ que esse tempo de pandemia nos tem mostrado com chamativa nitidez (a relacio no € exaustiva): a diferenca radical entre as escolas puiblicas e particulares e, de um modo mais geral, entre a educagio publica ea educagio privada; o tanto de coisas que se fazem em uma escola, que no dizem respeito a apenas ao ensinar € ao aprender, mas & dimensio social da escola em um pafs como 0 Brasil, onde, para muitos setores da populagio, a escola € 0 local onde se faz a principal (04 Sinica) refeigio do dia e que no ha como fazer quando ela fecha as suas potas; a insubstituivel presenga de professoras de professoras que nfo podem ser substituidos(as) por quem no esta preparado para isso € menos ainda por sistemas tecnoldgicos auto programaveis ¢ executaveis; a inescusdvel necessidade de formar os ¢ as docentes atuantes nas escolas para que possam ser os € as docentes que desejam ser; as gritantes desigualdades da sociedade brasileira com uma altfssima parte da populacio sem as minimas condicdes de conectividade e aparelhagem como para atender a uma educacdo remota ou a distincia; a impossibilidade de se fazer escola sem corpos presentes, compos que se tocam, se abracam, se cheiram ¢ até se empurram ¢ se atropclam; a tensao entre a casa € a escola ou, em outras palavras, a importéncia de a escola ter um espaco proprio, separado, apartado das outras instituigdes sociais; ainda, em outras palavras, 2 impossibilidade de ser mie € A referéncia implicta a Ivan Ilich ¢ explicta e deliberada, Recentemente, em “Razones para reivindicar a esa vieja vaca sagrada llamada escuela”, Nicolés Arata lembra a interveneio de Ivéa Ilich no Congresso Pedagrgico Nacional Boliviano, em 1970, exortando os professorese as professoras bolivianos(as) a iberar a Bolivia de sea sistema escolar. A-expressio “velha vaca sagrada” ¢ do proprio lich, Como esclaece Arata, muito longe dos iteresss liberi de Illich, estio os que hoje querem aproveitar o momento para selva da escola. © texto de Arata esti publieado na série’ “Peasar_a Pandemia” do Observatorio Social del Coronavinus de CLACSO, dlisponivel em Jnups://wwwelacso.org/sazones-parareivindicara-esa-vija-vac-soprada-amada-eseuela/. Acesso em: 10 jun. 2020. 1 © termo “escola” tem aqui uim semsido genérico, abrangendo creches, escolas de Knsino Fundamental ¢ Ensino -Médio, universdades ¢ qualquer outra forma de espaco pedagégico, Praxis Educativa, Ponta Grossa, v. 15, e2016212, p. 1-9, 2020 Disponivel em: ‘Tempos da escola em tempo de pandemia e necropolitiea docente, pai e docente ou filha/filho ¢ aluno ao mesmo tempo. Como podemos perceber, nfo sio poucas coisas as que o virus tem permitido apreciar. F, mais uma vez, a lista esta longe de ser exaustiva, Em outras palavras, uma visto atenta 20s efeitos da pandemia mostram, ao contririo do que as vozes que advogam pelo fim da escola querem concluir, o valor extraordind insubstituivel da escola, como instituigao hist6rica c social ¢, também, como forma de suspensio ¢ de profanacio (MASSCHELEIN; SIMONS, 2014), que permite aos que a povoam colocar o mundo sobre a mesa para colocé-lo em questio, entendé-lo, problematizé-lo e, quem sabe, imaginar e viver outros mundos, Vamos deter-nos em alguns aspectos especificos que a pandemia nos fez notar, cm particular uma certa experiéncia do tempo ¢, também, uma especial relagio com a infancia. A pandemia e os tempos da escola Um dos efeitos principais provocados pela pandemia naqueles envolvidos em processos educacionais recai sobre nossa experiéncia do tempo. Certamente, ela nos afeta diferentemente no pretendo simplificar algo tao complexo. Partirei de uma distincao primaria entre os que atuamos na educagio publica ¢ os que atuam na educagio privada, Naqueles submetidos as exigéncias de empresas dedicadas ao negécio educativo, a pandemia pode estar provocando uma sensagio de vertigem ainda maior em funcio da necessidade de se adequar veloz ¢ violentamente ‘uma situagao em que “a empresa educativa” nao pode parar. As cobrancas continuam as mesmas, s6 que com efeito multiplicado pela dificuldade de um contexto para o qual ninguém estava preparado, Ao contririo, em aqueles que trabalhamos na educacio publica, e mais especificamente nas universidades que suspenderam suas atividades de ensino, a pandemia provoca uma desaccleragio ¢ até uma suspensio da experiéncia do tempo educativo pela possibilidade de repensat os sentidos ¢ as condigdes do que se faz. Explicitaremos mais amplamente essa ideia. Com efeito, para os que temos o privilégio (que deveria ser um direito) de manter isolamento social, a pandemia ger 10 do mundo ter se detido. Para os que ficamos em quarentena, isso significa uma experiéncia de tempo suspenso, como se cle no passasse ou como se sua passagem tivesse efeitos relativamente pouco relevantes em fungio da detengio do mundo exterior. Efetivamente, estivamos habituados a pautar o que faziamos em casa aos compromissos fora de casa; todavia, quando o fora de casa para, 0 tempo em casa fica liberado dessa pressio. Esse efeito € muito semelhante ao que Masschelein ¢ Simons (2014) chamam de “suspensio”: na escola, enquanto forma escolar, o que vale fora da escola esté suspenso para que a escola possa fazet as suas operagdes pedagdgicas. Por isso mesmo, eles argumentam que a escola nasce simbolicamente quando ela fecha as suas portas, porque ela vive da separacio, da suspensio do que vale socialmente, Nesse sentido, seria impossivel pensar uma escola-casa ou uma escola em casa, pois justamente a escola nasce da separacio da casa e das outras instituigdes sociais. Lembremos que a palavra escola tem na sua raiz etimolégica uma palavra grega, skbolé, que significa justamente “tempo livre”, no sentido de tempo liberado das exigéncias extraescolares. Nessa dimensao, enquanto dure a quarentena ~ ¢ “‘suspendendo” também por um momento a radical distingio de Masschelein e Simons entre escola € casa —, nossa experiéncia do tempo torna- se escolar, no sentido de estar liberada das exigéncias habituais do mundo de trabalho. Nesse sentido, curiosa ¢ paradoxalmente, aqueles submetidos as pressdes de instituicdes educativas privadas viram-se impedidos de experimentar um tempo escolar pelo mercado educativo escolar, esse mesmo sentido, vale perceber que os que fazem negécio com a escola negam a escola pois negécio vem do latino neg otium, sendo otium um equivalente latino de skbolé, eempo livre. Quem & Praxis Educativa, Ponta Grossa, v.15, €2016212, p, 1-9, 2020 Disponivel em: 6 Walter Omar Kohan neg-otium, negocio, faz de fato uma anti-escola, negam o que 4 também permite apreciar isso com maior claridade, escola é, tempo liberado. A pandemia Uma compreensio mais especifica do tempo experimentado na pandemia exige-nos uma exploragio mais detalhada de sentidos possiveis da experiéncia temporal. Nesse marco, fz algum tempo que temos trabalhado a diferenca entre trés formas de temporalidade que vém da Grécia antiga: kbrinos, Rairds ain (KOHAN, 2004). Apresentemo-las novamente de forma sucinta e mais atenta ao tema que aqui estamos abordando: Abrinas € 0 tempo de reldgio, do calendétio, da instituigio. Eo tempo que nao para, que segue movimentos uniformes, sucessivos, consecutivos, irreversiveis, qualitativamente indiferenciados. I. um tempo composto de duas partes (passado ¢ futuro) c uma terccira que apenas tem a materialidade de um limite entre as outras duas: o presente em Abrénos & apenas o instante, 0 agora. Kairés € 0 tempo da oportunidade, o momento oportuno, a ocasiio adequada para se experimentar algo como nao se poderia experimentar em qualquer outro momento; é um tempo qualificado, preciso, singular, tnico. Aién é a duragio no tempo; o tempo intensivo, da experiéncia, do acontecimento. Fle é puro presente. Fi o tempo daquelas experiéncias ‘que nos fazem sentir que o presente dura, nas quais estamos como suspendidos no presente: a arte, ‘© amor, a filosofia ¢, pensando na escola, a leitura, a escrita, o estudo, Fssas trés formas de experiéncia temporal tém importincia singular na educacio: kbrinas é ‘um tempo adulto: o tempo do sistema educativo, das instiruicdes educacionais, da organizacio do trabalho pedagégico. Tudo o que acontece nas escolas contemporiineas € regido por kbrinas os niveis de ensino, as planificagdes docentes, a sequéncia curricular... ea importincia de kbrénas para a vida social € uma das principais coisas que ensina a instituigao escolar, desde a creche até a universidade: as eriangas entram nas ereches no scu tempo aidnico ¢ sacm adultos adequadamente cronologicados. Por sua vex, hain também é um tempo adulto: o cruzamento coincidente entre os tempos da inscricao das pessoas no sistema educativo ¢ de certas experiéncias pedagégicas. Ei um tempo de coincidéncia que, por uma imensa variedade de condigdes, pode ou nao acontecer. O sistema e as instituigdes que seguem kbrines estabelecem idades, fases ¢ momentos para certos processos pedagégicos, organizam os as estudantes cronologicamente. Por sua vez, as pessoas que dele participam tém suas histérias de vida, culturais, afetivas, pessoais. Desse eruzamento resultam experiéncias pedagégicas oportunas ¢ inoportunas. Muitas vezes, é 0 proprio sistema que expulsa ¢ impossibilita 0 acesso dos estudantes a0 processo de aprendizagem no momento que para elas seria propicio, oportuno; outras, é a professora ou professor ou a propria estudante que no oportunizam esse momento. As eriangas sentem a dificuldade de oportunizar seu tempo da mancira em que ele é disposto pela institui¢io escolar, Finalmente, aion 6 o tempo infantil. Precisamente, aién & 0 tempo da experiéncia educativa enquanto tal, do perguntar, do querer saber, do amar pensar, do criar, do brincar como modo de habitar o mundo... é o tempo da educacio como uma experiéncia durativa, intensiva, que prolonga a temporalidade presente: o acontecimento que interrompe a sequéncia cronolégica € permite uma experiéncia que se faz presencial, em tempo presente. Eo trabalho docente como presenga no presente, durativo, intensivo. O tempo que a pandemia mais afeta a primeira vista é a experiéncia de Abrénos. E. claro que a pandemia nao afeta Abrdnas enquanto tal, pois os relégios continua passando ao mesmo ritmo, com ou sem pandemia. Contudo, nossa experiéncia cronolégica, nossa relagao com o tempo do relégio (ow do celular) tem sido profundamente alterada. Para alguns, submetidos a uma exigéncia ainda maior que antes da pandemia, ele se tornou mais voraz ¢ frenético. Para outros, ele desacelerou. A maior ou menor medida na passagem de kbrinos traz como consequéncia possibilidades ou impossibilidades de experimentar as outras formas da temporalidade. Quanto mais estressados e atormentados pelas demandas em Abrénos, menos tempo para pensar, assistit um Praxis Educativa, Ponta Grossa, v. 15, €2016212, p. 1-9, 2020 Disponivel em: ‘Tempos da escola em tempo de pandemia e necropolitiea filme ou brinear com qualquer coisa. Nao me refiro apenas a menos tempo cronolégico, mas também a menos condigdes de experimentar um tempo de oportunidade ¢ intensidade, Nesse sentido, talvez seja tempo de voltar 4 infincia, nfo a nossa infiincia eronolégica, mas, sim, 20 nosso tempo de infincia, aquele que vivemos quando criancas cronolégicas ¢ que como educadores temos sido capazes de manter vivo, cultivar ¢ cuidar, como fazia um tal Paulo Freire, que recebeu entre tantos outros prémios e reconhecimentos, o de “bambino permanente” (menino permanente) quando tinha 69 anos de idade"'. Quem sabe a inspiracio venha de uma erianga, de uma infante cronoldgica que vive um outro tempo de edueagao. Escutemos. © tempo da infincia: Isabel(a) e o tempo imprevisivel da literatura Voltemos a Isabel(a). Com ela, compartilhamos, nesta pandemia, algumas conversas ¢ uma conversa com outras criangas agorianas ¢ brasileiras. Durante a pandemia, Isabel(a) teve sua cexperiéncia educativa continuada por via remota. Faz algumas semanas, ela estava muito braba com © seu professor de literatura. Qual a razio? O professor tinha pedido para ela fazer livro com data marcada. Havia um prazo para ler, tinham de let o livro até uma terca-feira € isso, (66 isso!), revoltava Isabel(a): “como é possivel?!”, ela se queixava. E. acrescentava: “a leitura é imprevisive!”. A palavra im-pre-visivel € muito expressiva. Literalmente significa “no antes ver”, poderiamos dizer: no ver antes de ver, nio antecipar ant modo afirmativo: ler quando lés, ler lendo, ler submergida na leitura, ler sem fi coisa além de ler. Quando se lé dessa maneira, nfo ha como fixé-la a prazos ou a nenhuma outra temporalidade que nio seja a aidnica. O dispositive de acomodar a leitura aos modos de kbrinos, como se faz na escola e como fez 0 professor de Isabel(a), pode ter efeitos interessantes, mas de algum modo violenta & experiéncia da leitura. E. contra essa violéncia que reage Isabel(a). leitura de um de ver, nao ler antes de ler. Ou de er nenhuma outra Assim, a anedora, simples, singela, é também muito ilustrativa de duas formas de relagao, ‘com o tempo que mio se limitam apenas a essa anedota, Nesse caso, 0 professor, preocupado com as exigéncias curriculares da instituigdo, est habitando &brénas, € a ele remite uma atividade de leitura a essa temporalidade. $6 que Isabel(a) habita outzo tempo € relaciona a leitura com outro tempo, ain, um tempo de presenga e presente, de experiéncia e, portanto, infindavel, imprevisivel. impossivel de ser submetido aos ditados quantitativos de ébrénas. Essas duas formas de relagio com o tempo dio marco tambéi (0 com a leitura (¢ também com a escrita © com tantas outras coisas). Uma pergunta que no quer calar é Qual é mais rica, interessante ¢, sobretudo, educativa? duas formas de rela Nio precisamos responder a essa pergunta. Bla talvez seja exageradamente adulta, como 0 tempo que habitamos enquanto professores. Deixemo-la a um lado © demos voz a uma outra pergunta, muito mais infantil, vindo da mesma Isabel(a): “Por que é que os professores tém de saber se nés compreendemos ou nao? Se nés compreendemos é conosco. Os professores nao tém que meter o nariz onde nio séo chamados”, Pois é, Isabel(a), isso mesmo. Pode tratat-se desse mesmo professor ou de qualquer um. Pode tratar-se de literatura ou de qualquer outra matéria, ‘Trata-se, de certo modo, de entender ¢ praticar a educagao. Aqui ja nao é, apenas ou sobretudo, questio de tempo. Parece tratar-se de algo diferente: de uma questio de poder, de controle, de disciplinamento. Alguns adultos no apenas limitam a experiéncia escolar infantil ao submeté-la a um tempo alheio, empobrecedor; eles também exercem um poder que cortéi a relagao das eriangas com 0 conhecimento, que clama, na voz. de Isabel(a), por maior liberdade. Adultos metem o natiz, ‘em um mundo infantil ao qual ndo foram chamados, ¢ a infincia resiste essa pretensio. 0 prémio foi outorgedo pela Biblioteca Comunale di Ponsacco, em Pisa, Inia, em 31 de mareo de 1990 (KOHAN, 2019) Praxis Educativa, Ponta Grossa, v.15, €2016212, p, 1-9, 2020 Disponivel em: Walter Omar Kohan Mais um pouco de Isabel(a): como tantas criancas no mundo inteiro, passou por diversas oscilagées de animo durante os dias de escola remota, alternando momentos de alegria quando encontrava seus colegas ¢ professores na tela, mas também outros momentos de mais tristeza, choro, recolhimento quando sentia sua falta. O porqué desses sentimentos ¢ comum a tantas criancas que ouvimos nesses dias: a saudade dos amigos ¢ das amigas, dos abracos, dos isos, dos beijos, das brincadeiras que s6 se podem realizar em uma relagio de corpo a corpo. Fi que a escola € também isto: um lugar onde os corpos se encontram para brinear e fazer amigas € amigos, ou seja, um lugar onde se faz comunidade, se compartilha um mundo com todas as suas peniitias, belezas ¢ dificuldades. A escola é também um espaco onde os amigos ¢ as amigas, com ajuda de professores € de professoras e, junto a elas, estudam, lem, escrevem, pensam, questionam esse mundo. Eis uma segunda aprendizagem vinda da Isabel(a): hd uma dimensio da escola insubstituivel na constragio de uma comunidade que busca compreender, problematizar ¢ reinventar o mundo. Para isso, os professores ¢ as professoras podem pretender impor um tempo € seus poderes e modos de conhecer ou estar atentos e sensiveis aos tempos, poderes e modos de conhecer infantis Bis que chegamos ao fim de nosso texto: abracando a forga inventora de inicios da infincia. Entre a pandemia, a necropolitica ¢ a instituigao escolar assoma com toda a sua poténcia, beleza ¢ vitalidade uma vor infantil. Dessa forma, a escuta as palavras de Isabel(a) é um gesto que, quem sabe, talvez possa inspirar uma outra forma, infantil, de fazer escola, um outro tempo para experienciar a vida escolar. H apenas questa de nos abtir 4 inflincia, de aprender de sua forma de sentir 0 tempo, a Ieitura, a escrita, o pensamento... c de no esquecer de cuidar, de cuidar sempre, de permanecer sempre cuidando, a qualquer idade, a nossa vida infantil, em especial quando habitamos uma escola. Referéncias FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade. Sio Paulo: Martins Fontes, 2006. KOHAN, W. O. A infincia da educagio. O conceito “devir-crianga”. In: KOHAN, W. O. (org) Lugares da infancia: filosofia. Rio de Janeiro: DP&A, 2004, p. 51-68. KOHAN, W. ©. Paulo Freire mais do que nunca: uma biografia filoséfica Belo Horizonte: Vestigio, 2019. MASSCHELBIN, J; SIMONS, M. Em defesa da escola: uma questio publica, Belo Horizonte Auténtica, 2014. MBEMBE, A. Necropolitica: biopoder, soberania, estado de exces de Renata Santini. S4o Paulo: N-1 edigGes, 2018. politica da morte. Tradugio ROCHA, J. C. C. Guerra cultural ¢ retérica do édio: crénicas do Brasil, Rio de Janeiro: Caminhos, 2020. No prelo. Recebido em 30/05/2020 Acta em 20/06/2020 Publicado online em 23/06/2020 Praxis Educativa, Ponta Grossa, v. 15, €2016212, p. 1-9, 2020 Disponivel em:

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