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RESUMO
Este trabalho foi apresentado em formato on-line, no Fórum em Defesa da Escola
Pública de Araucária, no dia 27 de agosto de 2020. É um trabalho resultado de
pesquisa sobre o processo de educação e o desenvolvimento cognitivo da criança
até o estágio de sua maturidade. Tem como objetivo promover um debate sobre a
necessidade de pensar a educação da infância à maturidade, mas levando em
consideração a contingência e a existência dos povos originários da América
Latina; a origem das classes sociais, a chegada do capitalismo e os interesses
dos capitalistas, bem como a necessidade de compreender as condições das
classes sociais despossuída do capital. Neste desafio será necessário que os
educadores levem em consideração, não apenas a dialética das lutas de classes,
mas também a concepção de justiça e as teorias do direito de propriedade,
conceito estes praticamente desconhecidos dos povos originários. Neste sentido,
educar uma criança no Brasil e na América Latina, hoje, significa projetar nela o
ser humano que se tem em mente para a sociedade futura. Sem essa concepção
a educação atende apenas os interesses dos exploradores. Tudo isso é
necessário porque o mercado disputa a concepção de seres humanos e
apresenta as formas e modalidades de educação através das televisões, inclusive
nos cultos religiosos está presente a produção da consciência de uma criança
desde os primeiros anos de sua existência. Eis o grande desafio dos educadores
que lutam pela superação deste modo de produção. Todavia, sem o
conhecimento das classes sociais, sem o entendimento da dialética da luta de
classe e a compressão da correlação de força este desafio será nulo. Por esta
razão, em tempos de banalização do conhecimento a ciência é o instrumento
eficaz para superação do fetichismo e da nebulosidade do momento.
ABSTRACT
This work was presented in an online format, at the Forum for the Defense of the
Public School of Araucária, on August 27, 2020. It is a result of research on the
education process and the child's cognitive development up to the stage of its
maturity. It aims to promote a debate on the need to think about education from
childhood to maturity, but taking into account the contingency and the existence of
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Texto para conferência de Araucária em 27 de agosto de 2020
Estudos IAT, Salvador, v.6, n.1, p. 106-120, jun., 2021.
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peoples from Latin America; the origin of social classes, the arrival of capitalism
and the interests of capitalists, as well as the need to understand the conditions of
social classes dispossessed of capital. In this challenge, it will be necessary for
educators to take into consideration, not only the dialectic of class struggles, but
also the conception of justice and the theories of the right to property, a concept
virtually unknown to the original peoples. In this sense, educating a child in Brazil
and Latin America, today, means projecting the human being in mind for the future
society. Without this conception, education serves only the interests of the
explorers. All of this is necessary because the market disputes the conception of
human beings and presents the forms and modalities of education through
televisions, including in religious cults the production of a child's conscience has
been present since the first years of its existence. This is the great challenge for
educators who struggle to overcome this mode of production. However, without
the knowledge of the social classes, without the understanding of the dialectic of
the class struggle and the compression of the correlation of strength, this
challenge will be null. For this reason, in times of trivialization of knowledge,
science is the effective instrument for overcoming fetishism and the nebulosity of
the moment.
INTRODUÇÃO
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Conceito elaborado por Emmanuel Kant para explicar o significado de julgamento sem conhecimento.
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Lei 601 de setembro de 1850.
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Pensador Grego Pré-socrático que afirmou: “O homem pensa porque tem mãos”. Essa máxima foi
refutada por Aristóteles, que era escravocrata e afirmava que escravo tinha as mãos para trabalhar, mas era
intelectualmente inferior ao homem livre.
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Este desafio é gigante por que foi construído historicamente e está petrificado
na consciência da classe trabalhadora, que de certa forma atuam no sentido de
legitimar ações dos exploradores. É gigante porque setores do trabalhismo ficam
tateando conceitos tendo encontrar relações justas entre capital e trabalho, tendo
encontrar relações de justiça entre patrão e empregado, salário justo e salário
injusto. Estes desafios foram superados já na sociedade escravistas, quando os
clássicos tentavam dizer que era injustiça maltratar escravos, quem tratava bem os
escravos eram justo. Ora, o fato da sociedade ser escravocrata indica que a
sociedade é injusta, assim como a sociedade capitalista é injusta porque não existe
relação justa entre que paga e quem recebe.
Se a sociedade é injusta é necessário conhecer que são responsáveis pela
reprodução das injustiças, necessário também conhecer quem são os oprimidos que
estão contribuindo para reprodução das desigualdades. Se os trabalhadores da
educação não tem conhecimento da dialética das lutas de classes, a educação se
transforma no objeto de reprodução dos interessas da classe dominante. Neste
sentido, somente trabalhadores organizados, com objetivos estratégicos definidos
farão a diferença.
Conhecer a história da América Latina – AL, conhecer as classes sociais, as
relações de poder, o massacre dos povos originários é um imperativo para
superação deste modo de produção que consome vidas humanas, com objetivo da
infinita acumulação do capital. Mas, na história da AL não será possível, apenas, o
entendimento da dialética das lutas entre burgueses e proletários. É necessário
conhecer profundamente a história dos povos originários deste continente, a história
da escravidão, para então compreender o momento da expansão do capitalismo na
Europa e a chegada deste modo de produção neste continente.
A ocupação da América se deu no momento da crise do modo de produção
feudal, situação tal, em que mercadores buscavam expandir o comércio de suas
mercadorias. Mas, ao contrário do que procuravam encontraram neste território
matéria prima em abundância e um povo que não valorizava riqueza, só conheciam
o significado do valor de uso e não sabiam o significado do valor de troca. Não tinha
em mente o conceito de propriedade privada e nem conheciam as teorias de
organização de Estado e de direito formulado pelos pensadores modernos. Estava
Segue Locke:
Tal se aplica a todas as leis sob as quais um homem vive, seja naturais
ou civis. Está um homem sob as leis da natureza? O que liberta dessa
lei? O que lhe dá liberdade de dispor da propriedade, conforme sua
própria vontade, dentro dos limites da lei? – diz Locke – Respondo: um
estado de maturidade no qual é possível supô-lo capaz de conhecer
aquela lei, de sorte que possa conservar as suas ações dentro dos
limites dela (LOCKE, 1978, p. 56-57).
Se o educador deve conhecer a história da sociedade, logo ele sabe que está
educando numa sociedade de classe. Que a maturidade do aluno de periferia, filho
de trabalhador urbano, ou o aluno do interior, filho de trabalhador rural, empregados
de fazendas, estes últimos vivem o mundo dos sonhos totalmente diferenciados da
vida do trabalhador urbano. Todavia, a classe que o oprime, também serve de
espelho para perseguir seus sonhos, suas utopias. Como resolver essa contradição?
Sem a perspectiva de uma educação para emancipação humana o educador não
consegue atuar no terreno da contradição.
Se a educação tem como finalidade projetar na criança o ser humano do
futura, este é o terreno ideológico da disputa na educação para o filhos de
trabalhadores que são nove décimo da população. Mas, hegemonicamente
educadores apenas cumprem metas traçadas pelas políticas educacionais. Os
liberais do passado retiraram dos pais o poder de educar para a sociedade, com
objetivo de formar seres livres para viver de acordo com as regras pré-estabelecidas
pela lei. Em outras palavras teriam como objetivos formar pessoas apenas para
cumprir a lei. Essa concepção foi superada pelo materialismo histórico com base na
dialética materialista da história. Mas ainda é um terreno de disputa neste momento
em que o ultraliberalismo, que chegou encapuçado emanado com o fascismo, busca
retirar dos educadores o direito da educação pública. Neste momento o Manifesto
Comunista se torna atualíssimo:
explorador, seu patrão. Por não conhecer a história da concentração das terras parte
significativa dos trabalhadores urbanos que são explorados se posicionam
politicamente do lado dos latifundiários, do lado do sujeito que concentrou terra
através das extorsões, da grilagem do assassinato de posseiros etc.
A primeira lei da terra no Brasil foi publicada no dia 18 de setembro de 1850,
por Dom Pedro Segundo, a pedido dos donos de escravos, que temiam perder as
terras para os escravos com a possível libertação que estava em curso naquele
momento. Mas os filhos de trabalhadores não sabem, não precisa saber e não
devem saber a história da concentração da riqueza. Eis o dilema da chamada
“consciência de classe”. A palavra consciência, na sua origem significa estar com a
ciência; a ciência significa o conhecimento historicamente produzido com método
rigoroso. Mas a modernidade deformou a ciência tratando-a como conhecimento
transitório e relativo, com objetivo de produzir uma consciência instrumental para
alinhada com os objetivos do capital.
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Nada mais atual e aplicável para o momento presente.
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produzir consciência útil para trabalhadores alienados, que acreditam apenas numa
carreira profissional; numa profissão hierarquicamente acima dos normais.
A concepção de sociedade e de mundo que está petrificada na consciência
da classe trabalhadora reforça o sistema de exploração. O próprio sistema
educacional condiciona a reprodução desse sistema, na medida em que propala a
hierarquia do conhecimento, induzindo o trabalhador buscar apenas uma profissão
rendosa. A relação entre a consciência do meio sensível significa o estágio
puramente animal. Por esta razão, “se deixam impressionar puramente como gado”.
Mas as necessidades impulsionam o relacionamento entre indivíduos. Porém, nos
primeiros momentos por ser um relacionamento natural, instintivo, ou seja, por
necessidade da produção da existência, cada individualidade vê no outro a
possibilidade de superação de suas necessidades. Este é o começo dos conflitos de
interesses.
Este é o momento em que o ser está deixando de ser criança, está entrando
na faze das responsabilidades, mas contraditoriamente entrando numa condição de
pensar exclusivamente na sua individualidade ou pensar também no outro. Esta faze
de bifurcação dos caminhos histórico vai depender da forma de se educar é,
portanto, o processo da construção do conhecimento para produção da própria
existência, mas também entender nesse processo de relacionamento humano a
existência do outro.
Nos primeiros momentos as individualidades ainda não sabem a existência
das classes sociais, não sabe nada sobre o modo de produção para existência
humana, não sabem as formas de organização políticas. Somente a partir do
momento em que são obrigados a trabalhar para produzir o que necessitam
começam ter contato com o mundo das relações de exploração. Mas, se não for
educado para cumprir a meta de sua existência, se transformara num desses que a
sociedade tem que carregar. Por exemplo, liberais como Locke e Rousseau
pensaram na organização política do Estado para garantir a liberdade, mas também
defenderam a concepção da educação para produzir na subjetividade humana a
responsabilidade e os valores da liberdade. Quais foram os problemas dos liberais?
Pensar apenas naqueles que tiveram acompanhamento de seus progenitores, como
segue diz Locke:
Retorno à prática. Já disse que vosso filho nada deve obter porque pede,
mas porque precisa, nem fazer nada por obediência, mas por
necessidade. Assim a palavra obedecer e mandar, serão proscrita de
seu dicionário, e mais ainda os termos dever e obrigação; mas as
palavras força, necessidade, impotência e constrangimento deve nele
ocupar um grande espaço. Antes da idade da razão, não se poderia ter
nenhuma ideia sobre os seres morais ou sobre as relações sociais.
Assim, deveremos evitar na medida do possível empregar palavras que
as exprimam, por medo de que a criança relacione a essas palavras de
início falsas ideias que não conheceremos ou que não poderemos mais
destruir. A primeira falsa ideia que entra em sua cabeça é o germe do
erro e do vício; deve-se prestar atenção sobre tudo a esse primeiro
passo (ROUSSEAU, 2014, p. 89).
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Embora havendo críticas ao Rousseau por este não conseguir conviver com seus filhos. Todavia, as críticas
nunca vêm acompanhadas das condições sociais e históricas em que viveu Rousseau.
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Para concluir, sabe-se que não há como lutar contra do poder do grande
capital com aliados dos capitalistas a nosso lado. Na educação formal a tendência
será sempre cumprir as metas determinadas pelo poder político que, por sua vez,
cumpre as metas determinadas pelo sistema econômico, especialmente o financeiro
que está para o infinito acúmulo de capital, independente de quantas vidas custa.
Neste sentido, somente um paralelo entre educação formal e informal poderia
apontar os caminhos da superação, mas para esse desafio seria necessário
entidades de classes com uma tarefa histórica de lutar, não pela superação da
miséria, mas pelo fim da riqueza. Isso parece contraditório, mas a riqueza promove a
face trágica da pobreza, da miséria e da barbárie. Embora poucos se atentem para
essa realidade.
REFERÊNCIAS
LOCKE, John. Segundo tratados sobre o Governo. São Paulo: Abril Cultural,
1978.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
Recebido em Abril/2021
Aprovado em Maio/2021