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Recife
2022
Masculinidades e atuação policial: como os policiais se veem na questão de gênero
Recife
2022
LINHA DE PESQUISA 2: CIDADANIA, MOVIMENTOS SOCIAIS E DIVERSIDADES
TÍTULO DO PROJETO: MASCULINIDADES E ATUAÇÃO POLICIAL: COMO OS POLICIAIS
SE VEEM NA QUESTÃO DE GÊNERO.
RESUMO
O objeto desta pesquisa é estudar como as questões de gênero e masculinidades perpassam o dia a dia
da atuação policial e é compreendida pelos próprios policiais na relação com a realidade social de que
partilham na instituição em que atuam. Os profissionais policiais passam por uma formação e
treinamento que ajudam a criar uma “cultura policial” que resguardam uma série de características do
que é ser policial. A questão de gênero normalmente passa invisibilizada nesse contexto ou marcada
por preconceitos e formas de atuar que reforçam desigualdades e não contribuem para possibilitar a
atuação policial dentro de um ideal de polícia e segurança cidadã que vise garantir e proteger os
direitos humanos e paz pública. A partir da categoria de masculinidades hegemônicas e
masculinidades subalternas é possível repensar os discursos e construções de performatividade de
gênero no recorte organizacional das instituições policiais que são predominantemente masculinas e
que dessa forma muitas vezes reproduzem esses processos de forma naturalizada.
2. Objetivos 3
3 Justificativa 4
4 Fundamentação teórica 7
5 Metodologia 10
7 Cronograma 12
Referências 13
1.0 Apresentação do problema central de pesquisa
modelo social explicitamente proposto como forma desejável de ser homem, há outras formas
de expressão da masculinidade, inclusive disruptivas desta, que disputam as significações do
que seria ser masculino, tentam fugir a esta significação ou representam ‘ilegibilidades’
dentro desse discurso” (BARBARINI e MARTINS, 2018).
Como afirma Balestreri (1998), o policial deve ser um pedagogo e defensor primeiro
dos Direitos Humanos. O campo dos Direitos Humanos pode ser enriquecido pela prática de
policiais comprometidos com a defesa e promoção especializada de cidadania. Enquanto
policiais não se verem como cidadãos e sujeitos de direitos humanos, parte essencial dessa
defesa, as violações de tais direitos e práticas policiais distanciadas das necessidades reais da
sociedade continuarão a ser difundidas e protegidas por um corporativismo onde todos saem
perdendo, policiais e sociedade civil.
Os policiais não são seres fora da sociedade, mas parte dela e importante elo nos
processos sociais de defesa e garantia de direitos. Dessa forma a necessidade de que,
compreendendo os preconceitos e crenças que esse policial reproduz da sociedade que ele faz
parte, possa-se oferecer meios e qualificação suficientes para que possa lidar com as
demandas sociais das populações não contempladas pela representação hegemônica da
sociedade (BALESTRERI, 1998).
Então nos cabe perguntar, a partir dessas categorias propostas, como a questão de
gênero e masculinidades perpassa o dia a dia da atuação policial e é compreendida pelos
próprios policiais na relação com a realidade social de que partilham na instituição?
2.0 Objetivos
3 Justificativa
A Constituição Federal de 1988 estabelece em seu artigo 144 que as polícias são os
meios pelos quais o Estado cumpre o dever de segurança pública que é direito e
responsabilidade de todos. No Estado Democrático o ideal de polícia está ligado à defesa da
sociedade e por consequência da defesa e garantia dos direitos humanos, o papel social e a
forma real como as polícias tem atuado no Brasil hoje é questionável em relação a esse
sentido ideal (SOARES, 2019).
Os estudos de gênero e polícia ainda estão pouco explorados no campo dos estudos
de Segurança Pública, bem como no campo dos estudos de gênero (SOARES, L. E., 2019;
CONNELL e MESSERSCHMIDT, 2013).
A forma como a polícia atua na sociedade tem a ver não apenas com as
características objetivas do fazer policial, mas também com a forma como a polícia e a
sociedade compreendem como é o “ser policial”, qual o significado subjacente, e isso tem
“efeitos concretos nas definições que organizam a experiência cotidiana” (PONCIONI, 2014).
Por fim, Poncioni (2014) elenca o culto à masculinidade como uma importante
marca identitária da “cultura policial”, dentro das marcações de diferenças de sexo, entre
outras questões identitárias. Portanto dar atenção para essa dimensão de gênero e
masculinidades hegemônica e periféricas quanto à atividade profissional e as marcações que
ocorrem nas interações sociais decorrentes dela justifica-se como parte do processo de
compreensão de polícia, segurança pública e defesa e Direitos Humanos. Pois compreender a
consciência dos próprios atores imersos na ação social e interações do meio dá pistas e sinais
de que direção as estruturas e “culturas” podem estar rumando, bem como possibilita a
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instrumentalização para o pensar em políticas públicas e ações estatais que englobem essas
questões.
4. Fundamentação teórica
Costa e Lima (2014), ao pensar o campo de Segurança Pública afirmam que um dos
principais desafios é “se legitimar para viabilizar a mudança de determinadas práticas, vistas
como violentas, ilegais e arbitrárias”. Outro desafio apontado por esses autores é na “mudança
nas práticas de gestão e de prestação de contas para a população, aumentando a transparência
das estatísticas, melhorando o desempenho da atividade policial e aproximando as polícias da
comunidade e de setores da universidade e da mídia”. Esses dois autores apresentam o
conceito de isomorfismo que é a tendência que as organizações tem em assemelharem-se a
outras organizações no campo (COSTA e LIMA, 2014).
Ribeiro (2014) analisa o percurso histórico dos modelos de polícia, passando pelo
modelo profissional, nascido no século XIX até chegar ao modelo de polícia comunitária
desenvolvido pelas polícias norte-americanas em experimentos ao longo de 40 anos. A autora
elenca os fatores imprescindíveis à institucionalização do modelo de policiamento
comunitário, quais sejam descentralização, envolvimento com a comunidade e foco na
solução de problemas.
7
Kimmel (1998) aponta que o ideal hegemônico quando estava sendo criado se
opunha a “outros” que a masculinidade estava sendo questionada e desvalorizada. “ O
hegemônico e o subalterno surgiram em uma interação mútua desigual em uma ordem social e
econômica dividida em gêneros”. Este autor compreende que “as masculinidades são
construídas simultaneamente em dois campos inter-relacionados de relações de poder”.
Desigualdades de homens em relação às mulheres e de homens em relação a outros homens,
baseadas em raça, etnicidade, sexualidade, idade, etc. O autor então aponta dois elementos
constitutivos da construção social de masculinidades como sendo o sexismo e a homofobia
(KIMMEL, 1998).
5. Metodologia
Após a coleta dos dados qualitativos será necessário o processamento desses dados
em comparação com os dados teóricos recolhidos. A análise dos discursos apreendidos
durante as fases de pesquisa para realização do relatório final de pesquisa e apresentação
acadêmica para nutrir junto às observações acadêmicas e revisar o que for necessário.
7. Cronograma
1 Revisão de literatura X X X X X X X X X X X X
2 Montagem do Pré-projeto X X
3 Revisão do Pré-projeto X X X X
4 Seminário de Pesquisa X
5 Elaboração dos X X X X X
Instrumentos de Coleta
6 Coleta de dados X X X X X X
7 Análise e Interpretação X X X X X X X
8 Qualificação X
10 Revisão do texto X X X X
11 Entrega do trabalho X
11
Referências
BEAVOIR, Simone de. O segundo sexo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1970.
BOTTON, Fernando Bagiotto. As masculinidades em questão: uma perspectica de
construção teórica. Revista Vernáculo, n. 19 e 20, 2007.
COSTA, Arthur Trindade e LIMA, Renato Sérgio de. Segurança pública. In: LIMA, Renato
Sérgio; RATTON, José Luiz e AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli (orgs.). Crime, Polícia e
Justiça no Brasil. Editora Contexto, São Paulo, 2014.
LACAN, Jacques. A significação do falo. In: Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
LIMA, Renato Sérgio; RATTON, José Luiz e AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli (orgs.).
Crime, Polícia e Justiça no Brasil. Editora Contexto, São Paulo, 2014.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Vitimização profissional. In: LIMA, Renato Sérgio;
RATTON, José Luiz e AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli (orgs.). Crime, Polícia e Justiça no
Brasil. Editora Contexto, São Paulo, 2014.
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MUNIZ, Jacqueline e PROENÇA JÚNIOR, Domício. Mandato policial. In: LIMA, Renato
Sérgio; RATTON, José Luiz e AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli (orgs.). Crime, Polícia e
Justiça no Brasil. Editora Contexto, São Paulo, 2014.
PONCIONI, Paula. Identidade profissional policial. In: LIMA, Renato Sérgio; RATTON,
José Luiz e AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli (orgs.). Crime, Polícia e Justiça no Brasil.
Editora Contexto, São Paulo, 2014.
RIBEIRO, Ludmila. Policiamento comunitário. In: LIMA, Renato Sérgio; RATTON, José
Luiz e AZEVEDO, Rodrigo Ghiringhelli (orgs.). Crime, Polícia e Justiça no Brasil. Editora
Contexto, São Paulo, 2014.
SOARES, Luiz Eduardo. Desmilitarizar: segurança pública e direitos humanos. 1 ed. São
Paulo: Boitempo, 2019.