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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA Nº 5


- PE (2014/0101401-7)

RELATOR : MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ


AGRAVANTE : PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA
SUSCITADO : JUSTIÇA FEDERAL DE PERNAMBUCO
SUSCITADO : JUSTIÇA ESTADUAL DE PERNAMBUCO
INTERES. : JUSTIÇA PÚBLICA
INTERES. : EM APURAÇÃO
EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL EM INCIDENTE DE


DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA. INDEFERIMENTO DE
LIMINAR. AUSÊNCIA DE PERICULUM IN MORA.
1. Não obstante se tenha dado o nome de despacho ao ato
jurisdicional impugnado - porquanto objetivou dar início aos atos
procedimentais do IDC - conteve ele também caráter decisório, no
tocante ao indeferimento do pedido de liminar formulado pelo Senhor
Procurador-Geral da República. Logo, é de se admitir a impugnação
do ato por meio de agravo regimental.
2. No âmbito cognitivo inerente à fase inicial do incidente, não restou
demonstrada a necessidade de se adotar providência(s) específica(s)
que somente pudesse ser realizada, em caráter de urgência, por órgão
jurisdicional diverso do que, até agora, é competente para decidir as
questões relativas à investigação em curso.
3. A excepcionalidade da providência reclamada – a implicar, se
deferida, a retirada da competência da Justiça Estadual a favor da
Justiça Federal – não recomenda juízo de cunho satisfativo, ao menos
antes que se permita a colheita de informações do órgão jurisdicional
interessado.
4. Em razão da própria finalidade do Incidente de Deslocamento de
Competência, de natureza processual penal, destinado a assegurar a
efetividade da prestação jurisdicional em casos de crimes contra os
direitos humanos, previstos em tratados internacionais dos quais o
Estado brasileiro seja parte, não se mostra oportuno, até pela própria
complexidade do caso, tecer qualquer análise, em sede de liminar,
acerca do que informa a petição inaugural do incidente.
5. O Instituto do Deslocamento de Competência é utilizado em
situações excepcionalíssimas, em que efetivamente houver
demonstração concreta de risco de não cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais
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o Estado brasileiro seja parte, até para não se banalizar esse
instrumento e não se esvaziar a competência da Justiça Estadual.
6. Agravo regimental não provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Terceira Seção, por unanimidade, negar provimento
ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
Ministros Nefi Cordeiro, Marilza Maynard (Desembargadora Convocada do
TJ/SE), Laurita Vaz, Maria Thereza de Assis Moura, Marco Aurélio Bellizze,
Moura Ribeiro e Regina Helena Costa votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Jorge Mussi. Presidiu o julgamento o
Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior.

Brasília, 28 de maio de 2014

MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ


Relator

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Superior Tribunal de Justiça
AgRg no INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA Nº 5
- PE (2014/0101401-7)

RELATOR : MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ


AGRAVANTE : PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA
SUSCITADO : JUSTIÇA FEDERAL DE PERNAMBUCO
SUSCITADO : JUSTIÇA ESTADUAL DE PERNAMBUCO
INTERES. : JUSTIÇA PÚBLICA
INTERES. : EM APURAÇÃO

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ:

O PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA agrava de


despacho de minha relatoria, em que, após admitir o procesamento do IDC em
epígrafe, solicitei ao Juízo suscitado informações detalhadas sobre os fatos
narrados na inicial, a serem prestadas no prazo máximo de 5 dias.

O agravante reitera os termos expostos na petição inicial, no


sentido de que o homicídio em apuração estaria inserido em contexto de
atuação de grupos de extermínio no interior do Estado de Pernambuco.

Observa que "as investigações não avançam em razão da


dissidência institucional que se instalou, constatada tanto pela Polícia Civil,
quanto pelo Ministério Público Estadual" (fl. 5048).

Alega que "Dois fatores são essenciais para este pedido de


reconsideração: o primeiro decorre do fato de que a autoridade judicial
estadual competente já se manifestou favorável ao declínio de competência,
como se vê às fls. 993 do inquérito policial, em que o Juízo de Direito de
Itaíba/PE, em 24 de fevereiro de 2014, expressamente remete os autos para a
Procuradoria-Geral da República para que se analise a propositura do incidente;
o segundo, como decorrência de tal decisão do juiz estadual, é a constatação de
que nenhuma diligência investigatória está em curso, desde o final de fevereiro,
por uma questão instrumental, pois os autos originais do inquérito policial
foram enviados para a PGR e hoje integram o Incidente de Deslocamento de
Competência" (fl. 5048).

Assim, reforça que a manifestação da Justiça Estadual,


concordando com o deslocamento da competência para a Justiça Federal, já se
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encontra nos autos, razão pela qual não seria necessária a providência
determinada ato impugnado, cuja reconsideração ora se requer.

Pondera que, como os autos originais do inquérito policial


encontram-se neste Superior Tribunal, a investigação está paralisada,
"colocando em risco até mesmo o que já se havia colhido, o que inclui
interceptações telefônicas anteriormente determinadas" (fls. 5048/5049).

Por fim, observa que, no âmbito da investigação, a concessão de


liminar não elimina nem afasta qualquer das garantias que o devido processo
legal contempla.

Requer "a reconsideração da decisão, a fim de que se autorize


que a investigação retome seu curso imediatamente, tramitando, cautelarmente,
no âmbito federal, com atuação da Polícia Federal, do Ministério Público
Federal e, no que submetido à reserva de jurisdição, da Seção Judiciária de
Pernambuco, recebendo-se este pedido, em caso de indeferimento, como agravo
regimental, na forma do artigo 258 do Regimento Interno do Superior Tribunal
de Justiça. (fls. 5049/5050).

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EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL EM INCIDENTE DE


DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA. INDEFERIMENTO DE
LIMINAR. AUSÊNCIA DE PERICULUM IN MORA.
1. Não obstante se tenha dado o nome de despacho ao ato
jurisdicional impugnado - porquanto objetivou dar início aos atos
procedimentais do IDC - conteve ele também caráter decisório, no
tocante ao indeferimento do pedido de liminar formulado pelo Senhor
Procurador-Geral da República. Logo, é de se admitir a impugnação
do ato por meio de agravo regimental.
2. No âmbito cognitivo inerente à fase inicial do incidente, não restou
demonstrada a necessidade de se adotar providência(s) específica(s)
que somente pudesse ser realizada, em caráter de urgência, por órgão
jurisdicional diverso do que, até agora, é competente para decidir as
questões relativas à investigação em curso.
3. A excepcionalidade da providência reclamada – a implicar, se
deferida, a retirada da competência da Justiça Estadual a favor da
Justiça Federal – não recomenda juízo de cunho satisfativo, ao menos
antes que se permita a colheita de informações do órgão jurisdicional
interessado.
4. Em razão da própria finalidade do Incidente de Deslocamento de
Competência, de natureza processual penal, destinado a assegurar a
efetividade da prestação jurisdicional em casos de crimes contra os
direitos humanos, previstos em tratados internacionais dos quais o
Estado brasileiro seja parte, não se mostra oportuno, até pela própria
complexidade do caso, tecer qualquer análise, em sede de liminar,
acerca do que informa a petição inaugural do incidente.
5. O Instituto do Deslocamento de Competência é utilizado em
situações excepcionalíssimas, em que efetivamente houver
demonstração concreta de risco de não cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais
o Estado brasileiro seja parte, até para não se banalizar esse
instrumento e não se esvaziar a competência da Justiça Estadual.
6. Agravo regimental não provido.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ (RELATOR):

O caso dos autos aponta fatores relacionados à região onde


ocorreu o homicídio do então Promotor de Justiça Thiago Faria Soares e ao
aberto conflito institucional entre os órgãos envolvidos com a investigação e
persecução penal dos (ainda) não identificados autores do crime, a justificar,
segundo o suscitante, o deslocamento da competência para o prosseguimento
das investigações.

De plano, saliento que, não obstante se tenha dado o nome de


despacho ao ato jurisdicional impugnado - porquanto objetivou dar início aos
atos procedimentais do IDC - conteve ele também caráter decisório, no tocante
ao indeferimento do pedido de liminar formulado pelo Senhor
Procurador-Geral da República. Logo, é de se admitir a impugnação por meio
de agravo regimental.

Dito isso, esclareço que a decisão ora impugnada analisou cada


um dos dois requisitos necessários ao deferimento de liminar, tendo salientado
que, no que concerne ao periculum in mora , não restou ele plenamente
configurado.

Conforme destacou o decisum agravado, já se passaram sete


meses desde o relatado homicídio. Não obstante, a despeito da ausência de
"resultados práticos das investigações realizadas até o momento" (fl. 5), não
restou demonstrada a necessidade de se adotar providência(s) específica(s) que
somente pudesse ser realizada, em caráter de urgência, por órgão jurisdicional
diverso do que, até agora, é competente para decidir as questões relativas à
investigação em curso.

Ademais, saliento que o Ministério Público Estadual determinou


a remessa dos autos do inquérito policial para o Procurador-Geral da República
em 25.2.2014, com representação pela propositura de incidente de
deslocamento da competência para a investigação do crime (fl. 4), sendo que
este incidente só foi efetivamente ajuizado em 2.5.2014, mais de dois meses
depois, o que reforça a ausência do perigo da demora.

Assim, consoante destacou a decisão agravada, a


excepcionalidade da providência reclamada – a implicar, se deferida, a retirada
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da competência da Justiça Estadual a favor da Justiça Federal – não recomenda
juízo de cunho satisfativo, ao menos antes que se permita a colheita de
informações do órgão jurisdicional interessado.

Em razão da própria finalidade desse instrumento


político-jurídico, de natureza processual penal, destinado a assegurar a
efetividade da prestação jurisdicional em casos de crimes contra os direitos
humanos, previstos em tratados internacionais dos quais o Estado brasileiro
seja parte, entendo que não seria oportuno, até pela própria complexidade do
caso, tecer qualquer análise, em sede de liminar, acerca do que informa a
petição inaugural do incidente.

Por fim, apenas ressalto que, a despeito da concordância entre o


Secretário de Defesa Social do Estado de Pernambuco e o Procurador-Geral do
Estado de Pernambuco para que o procedimento investigatório em questão seja
deslocado para a competência federal (fls. 1744/1745), tenho que tal
circunstância, por ora, não é suficiente para, por si só, justificar o desejado
deslocamento de competência.

Isso porque há de se ponderar que o instituto do deslocamento


de competência é utilizado em situações excepcionalíssimas, em que
efetivamente houver demonstração concreta de risco de não cumprimento de
obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais
o Estado brasileiro seja parte, até para não se banalizar esse instrumento e não
se esvaziar a competência da Justiça Estadual.

À vista do exposto, nego provimento ao agravo regimental.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA SEÇÃO

AgRg no
Número Registro: 2014/0101401-7 PROCESSO ELETRÔNICO IDC 5 / PE
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 07019016000158201311 7019016000158201311


EM MESA JULGADO: 28/05/2014
SEGREDO DE JUSTIÇA
Relator
Exmo. Sr. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS
Secretário
Bel. GILBERTO FERREIRA COSTA
AUTUAÇÃO
SUSCITANTE : PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA
SUSCITADO : JUSTIÇA FEDERAL DE PERNAMBUCO
SUSCITADO : JUSTIÇA ESTADUAL DE PERNAMBUCO
INTERES. : JUSTIÇA PÚBLICA
INTERES. : EM APURAÇÃO
ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL PENAL - Jurisdição e Competência

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA
SUSCITADO : JUSTIÇA FEDERAL DE PERNAMBUCO
SUSCITADO : JUSTIÇA ESTADUAL DE PERNAMBUCO
INTERES. : JUSTIÇA PÚBLICA
INTERES. : EM APURAÇÃO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Seção, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos
do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro, Marilza Maynard (Desembargadora Convocada do
TJ/SE), Laurita Vaz, Maria Thereza de Assis Moura, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro e
Regina Helena Costa votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Jorge Mussi.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Sebastião Reis Júnior.

Documento: 1325928 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/06/2014 Página 8 de 8

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