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Não foi apenas no Brasil em que tivemos épocas de baixa na produção cinematográfica

devido a graves crises econômicas, especialmente entre a década de 80 e 90. Na


Argentina esse mesmo processo foi ainda mais doloroso. Se por aqui o fantasma da Era
Collor foi espantado com o “Cinema da Retomada”, em filmes como “Carlota
Joaquina” (1995) e “Terra Estrangeira” (1996), nas terras de nossos hermanos
somente depois do ano 2000 as produções cinematográficas nacionais retomaram seu
caminho após o complexo período Menen. Dessa nova leva de jovens diretores recém-
saídos da FUC – Universidad Del Cine, e que conseguiram produzir seus filmes pelas
leis de incentivo oriundas do Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales
(INCAA), cunhou-se o termo “Novo Cinema Argentino”. Se fôssemos estabelecer uma
linha ligando essas obras poderíamos encontrar facilmente diversos pontos em comuns,
dois deles extremamente cruciais. Em primeiro lugar a família, como forte instituição
que deveria unir através de suas relações afetivas, mas que cada vez mais causa um
afastamento saudosista e melancólico na sociedade. Em segundo temos a forte
descrença e apatia do povo argentino depois de sucessivas crises econômicas, refletindo
em atitudes desesperançadas e alienadas nas personagens dos filmes, tudo com diversas
metáforas e disfarces. Abaixo uma pequena lista para quem deseja conhecer um pouco
desta nova e engajada safra.

Juan José Campanella

Um dos grandes méritos de Campanella é nos apresentar um mosaico bem delineado de


tipos maravilhosos, como os personagens de seu longa de maior sucesso, “O Filho da
Noiva” (2001). Sucesso internacional, inclusivo sendo indicado como Melhor Filme
Estrangeiro no Oscar de 2002, foi lançado na Argentina durante o auge da crise
econômica, provocando fortes comoções emotivas nos espectadores.
Fabián Bielinsky

Em 1998, o diretor obteve o primeiro prêmio no concurso de novos talentos organizado


pela produtora Patagonik Film Group, o que lhe permitiu realizar seu filme de estréia,
“Nove Rainhas” (2000) um épico de golpistas, ladrões e farsantes com direito a
intensas correrias pelas ruas de Buenos Aires. A obra recebeu diversos prêmios
internacionais, em festivais como os de Biarritz, Bogotá, Lima e Oslo. Bielinksky
faleceu em 2006 em um quarto de hotel na capital paulista. O cineasta estava no Brasil
escolhendo atores para atuar em comerciais após receber diversos prêmios de seu último
longa, “A Aura” (2005).

Lucho Bender

Outro diretor argentino que morreu precocemente, em 2004, depois de apenas um longa
concluído, “Felicidades” (2000) no qual o cineasta escancara o precário e superficial
cotidiano da classe média burguesa argentina.
Lucrecia Martel

Um dos principais nomes do Novo Cinema Argentino. Ainda jovem, com 37 anos, e
com uma carreira recente quase consolidada, Martel não nega as influências em seu
trabalho dos cineastas que admira. Além de admiriar muito do cinema de seus colegas
argentinos como Pablo Trapero, Ana Poliak e Diego Lerman, também possui uma
ligação grande com o cinema de John Woo, com o estilo místico de Ingmar Bergman e
com a transgressão de Pedro Almodóvar, além da grande influencia pela história
familiar. Seu longa de estréia, “O Pântano” (2001) apresenta a máxima expressão da
dissolução das relações familiares e da apatia dos cidadãos argentinos.

Adolfo Aristarain

O cineasta argentino Adolfo não esconde que seus filmes são um amontoado de clichês.
Lugares-comuns que surgem quando as convicções de cada um esvaziam-se de
significado. E dar-se conta desse processo é ao mesmo tempo dádiva e tragédia. E o
preço a pagar pela lucidez é o tema do apropriadamente intitulado “Lugares Comuns”
(2002) que, explorando a maturidade de suas personagens, conduz à uma viagem de
auto-conhecimento e melancolia.
Pablo Trapero

O estilo básico do diretor e trazer histórias de gente muito comum em situações nada
extraordinárias, com um olhar bem de perto, mas sem julgamentos. É assim o recente
“Leonera”, que foi exibido no Festival de Cannes e trazia Rodrigo Santoro no elenco,
ou o emblemático “Família Rodante” (2004). Em uma comparação possível, seria um
“Pequena Miss Sunshine” (2006) mais sólido e profundo.

Daniel Burman

Pode-se dizer que Burman faz um cinema que retrata a face de um povo, resultando em
um dos cineastas humanistas e universais mais fortes do mundo. Seu “O Abraço
Partido” (2004) é a metáfora da emancipação e anistia existencial da nação argentina. O
recente “Ninho Vazio” também provocou comoção.

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