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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG

CENTRO DE HUMANIDADES - CH
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
ALUNO: PEDRO VITOR CERQUEIRA PACHECO
DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA SOCIAL I

[Exercício]

CAMPINA GRANDE – PB
ABRILDE 2011
Entre os antropólogos: Bachofen (1815 – 1887), McLennan (1827 - 1881), Morgan
(1818 -1881), Boas (1858-1942), Radcliffe-Brown (1881-1955) e Lévi-Strauss (1908-
2009), o tema: parentesco fora citado num debate hermenêutico a fim de conhecer o
aspecto humano através do estudo do parentesco.
Nos primórdios da Antropologia os antropólogos eram ainda formados de outras
áreas, visto que os intelectuais eram da classe nobre e estes se formavam em direito ou
em medicina, geralmente. Eram estes que em sua intelectualidade foram estudando
diferentes áreas e diversificando o campo da ciência no início do século XIX.
Entres estes antropólogos, Bachofen e McLennan, foram os primeiros antropólogos
a estudar o parentesco e suas conseqüências.
Bachofen, em sua teoria sobre o parentesco, desenvolveu a premissa que o
sistema de parentesco em uma ideia diacrônica teria sido criado a partir de uma
promiscuidade sexual primitiva, onde os pais neste período não reconheciam seus
próprios filhos, ou seja, não sabiam a linhagem pela qual fora descendente.
Por esse motivo entre outros, Bachofen, fez uma teoria em que a linhagem
passaria pela mulher. Reinava-se nesse momento uma ginecocracia. Como consta em
seu livro Mutterecht (o direito materno).
A mulher para a teoria de outro antropólogo, McLeann, em certa medida tem
semelhança com a teoria de Bachofen, visto que, a mulher para McLeann também é
centro do debate do parentesco em torno da organização social.
A figura da mulher então na teoria de McLeann, é vista através do ato do rapto da
noiva, onde em sociedade dita primitiva, isto era uma sobrevivência de uma prática antiga
em tempos remotos para explicar o infanticídio feminino que por colorario estimulou o
aparecimento da poliandria.
Assim analisado, os dois pensamentos desses antropólogos, tem divergência no
tocante a origem da organização social, por um lado (Bachofen) via a origem da
organização social a partir do relação da mulher como sendo a peça angular, onde era
cultuada na figura política e valorizada socialmente e o outro antropólogo (McLeann) via o
inverso.
A mulher na visão de McLeann era morta ao nascer sendo este o motivo da prática
da poliandria em determinadas sociedades. Em semelhança os pensamentos de
Bachofen e McLeann, era a figura da mulher como epicentro das relações de parentesco.
Dando seqüência nos estudos do parentesco, temos agora a análise da
contribuição de L.H Morgan, no qual foi de grande importância para o cenário
antropológico, visto que a Antropologia ainda estava no imaginário como uma prática
exótica, literária, onde o cunho científico ainda era questionável.
Então, a partir de Morgan, a Antropologia através dos estudos do parentesco
começou a ser configurar como uma ciência propriamente dita, a obra fundamental de
Morgan que modificou a visão da Antropologia e do início do estudo do parentesco foi à
seguinte obra: Systems of Consanguinity and Affinity of the Human Family (Sistemas de
consangüinidade e afinidade da família humana, publicado em 1871).
Morgan , fez inúmeras pesquisas de campo, onde conseguiu coletar diversos
dados etnográficos, nessas etnografias, Morgan analisou que existiam particularidades
lingüísticas como, por exemplo, analisando a sociedade dos iroqueses, visto que estes
classificavam os termos de parentesco de uma forma inelegível para outra sociedade,
quer dizer, fez observar algumas particularidades lingüísticas onde uma terminologia
coletada não era entendida com o mesmo sentido em outro lugar, como por exemplo: o
termo pai, mãe tia ou tio não era os mesmos os significados mudavam dando um grande
estimulo para o antropólogo L.H Morgan intensificar ainda mais o estudo do parentesco.
Em seus estudos, Morgan criou o conceito de sistema descritivos e classificatório,
no qual categorizava as sociedade analisadas a partir da relação de parentesco,sendo a
descritiva para as sociedades desenvolvidas e classificatória para as sociedades
primitivas ou bárbaras.
No entanto, a teoria de Morgan levava a crer que o homem teria que
invariavelmente passar por um caminho de evolução gradativamente onde associava as
tecnologias e modos de subsistência ao estado de evolução, ou seja, se em determinada
sociedade classificada como bárbara detinha uma tecnologia rudimentar como por
exemplo, criações de armas, flecha, por exemplo, com o uso de uma determinada técnica
para cortar e/ou lapidar os instrumentos de caça, significava então que esta sociedade
estaria classificada em um etapa do desenvolvimento humano.
Contudo, Morgan, estava errado em categorizar determinadas culturas pela suas
tecnologias e posicionamentos no parentesco, isso fazia que a cultura humana fosse vista
sem o seu contexto cultural, sendo singular não no plural. Quer dizer, seria uma cultura
para um dia todos alcançarem - a dita cultura civilizada e não culturas no plural onde para
Morgan faltou ligar as tecnologias observadas com a cultura particular que mudaria o
vocábulo Cultura para sempre, passando a ser dito Culturas com o sentido da diversidade
humana.
Com Franz Boas (1858-1942) antropólogo americano, a Antropologia ganhou maior
notoriedade em sua diversidade cultural, diferentemente do escola Evolucionista no qual
Morgan estudou as sociedade ditas primitivas.
No particularismo histórico Boas via que cada “cultura é uma unidade integrada,
fruto de um desenvolvimento histórico peculiar “ ou seja, cada cultura tinha sua própria
história. Esse pensamento foi de contra ao pensamento da escola evolucionista onde caiu
por terra o ideal de etapas de evolução humana, etapas estas que Boas criticou tanto
quanto criticou o determinismo geográfico.
O estudo do parentesco sempre foi um tema histórico onde se procurou respostas
da origem do homem, origem da primeira língua falada entre outras curiosidades que
mexeu com o imaginário de .muitos pesquisadores.
O estudo do parentesco foi além das pesquisas antropológicas, ela foi a própria
fundamentação da antropologia, colocando-a em destaque no cenário científico. Na
procura diacrônica em torno das questões mais fundamentais e questionáveis sobre a
humanidade.
Historicamente, a Antropologia sempre se retratou ao tema do parentesco
influenciando as produções científicas, não só no campo da Antropologia, mas na
Sociologia e História, entre outras, pelos quais se interessaram pelo campo do
parentesco.
A partir deste quadro efervesceste do estudo do parentesco surgiram duas teorias
um tanto divergentes e complementares em certa medida. Essas foram a Teoria da
Filiação e Teoria da Aliança.
Respectivamente essas teorias tiveram seus principais teóricos, sendo estes:
Radcliffe-Brown na teoria da filiação e Lévi-Strauss na teoria da aliança.
A teoria da filiação ou descendência, teve como núcleo central a família elementar
(RADCLIFFE-BROWN, A.R. p. 52, 1973), no qual Radcliffe-Brown classificava como tal a
geração acedente – os pais e a geração descendente, os filhos. Isto é, a família nuclear.
Dessa premissa Radcliffe-Brown, teorizou que a organização social era constituída
a partir da família elementar, visto que função desta organização familiar resultava no
desenvolvimento da sociedade.
Isto é, para Radcliffe-Brown e outros adeptos a teoria da filiação, o que era
importante era decifrar as nuances do social a fim de interpretá-los, utilizando das
relações parentais um meio de comparar com outras sociedade as funções similares na
ornamentação familiar de dada sociedade e por fim integrar tudo ao chamado pelos
estruturalista-funcionalistas sendo o todo complexo, quer dizer, a Estrutura Social.
Não obstante, a família elementar era o que estava dado, o que os estruturalista-
funcionalistas acreditaram que emanava a origem da sociedade, sendo a teoria da filiação
medida pela função da reprodução social, onde nas divisões de território, tanto o sangue
como o direito da terra eram vistos como duas caras de uma mesma moeda apud Kuper.
Logo, isso explica o nome da teoria – filiação que em sua função do modo
estrutural-funcionalista responderia as indagações conectadas ao contexto da origem da
sociedade entre outros questionamentos relacionados com o estudo do parentesco.
Por fim, a Teoria da Filiação não respondeu a todos as indagações, como a mesma
via nos laços de afinidade um conceito meramente complementar.
E deste ponto é onde a Teria da Aliança inicia-se justamente respondendo as
lacunas das indagações do estudo do parentesco e fazendo surgir outras questões.
A Teoria da Aliança tem como maior teórico Lévi-Strauss, onde via na família a
configuração estrutural da origem da sociedade, da organização social.
Lévi-Strauss parte do princípio da questão sexual, antes de tudo é o “lugar” no qual
deve surgir a primeira regra universal – a proibição do incesto, visto que “para se definir,
precisa da estimulação do outro” (Sarti, C.A, p.34, 2005).
O tabu do incesto então seria o momento que o homem se torna homem, seria feito
“A regra” onde ao mesmo tempo seria natural por ser universal no sentido em que todas
as sociedades proíbem o incesto e seria também uma regra onde seria aplicada
diversificadamente em cada cultura.
A proibição do incesto consistiria então num “NÃO!” uma negativa do próprio grupo
familiar, onde seria negado o relacionamento entre o irmão com a irmã.
Contudo, esse “NÃO!” dado ao grupo teria simultaneamente um “SIM!”, onde este
sim seria a troca a se realizar, ou seja, o irmão como não pode ser relacionar com a irmã
devido à proibição do incesto, isto é, não pode se casar para dentro do grupo teria que
invariavelmente se casar fora do grupo, onde a irmã é trocada por outra irmã de outro
grupo, onde a lógica fosse que ninguém saísse em prejuízo, digamos assim.
Essa troca, segundo Marcel Mauss (1872-1950) constitui uma regra da dádiva a
“renúncia, diz o autor, abre caminho para a reivindicação” apud Sarti. C. A.
“Um homem renuncia à sua irmã na suposição de que outro homem também o
fará, assim, sucessivamente” (Lévi-Strauss 1981).

[...] o interesse fundamental com respeito à família não é protegê-la ou reforçá-la;


é uma atitude de desconfiança, uma negação de seu direito a existir isolada ou
permanentemente; as famílias restringidas apenas estão autorizadas a gozar uma
existência limitada no tempo – curta ou longa segundo as circunstâncias – mas
sob a estrita condição de que as suas partes componentes sejam deslocadas,
emprestadas, tomadas por empréstimo, entregues ou devolvidas incessantemente
de forma a que se possam criar ou destruir perpetuamente novas famílias
restringidas. (Lévi-Strauss 1980:44)

Dessa forma, a família só pode ser pensada a partir da troca e da reciprocidade,


que dizer a troca é o sistema de comunicação no qual forma-se a aliança a partir do
casamento fora do grupo, que ao mesmo tempo destrói a família e cria outro grupo
familiar, formando novamente outra aliança.
Para Lévi-Strauss a unidade básica que continha a essência do parentesco não era
a tradicional visão que existia na teoria da filiação de Radcliffe-Brown, entre marido e
mulher, pai e filho, irmão e irmã. Mas,

“um sistema quadrangular: entre marido e mulher, pai e filho, irmão e irmã e tio
materno e sobrinho. São quatro pares de relações (e não apenas as três: marido-
mulher, pai-filho, irmão irmã) que constituem o “átomo do parentesco”, o que
pressupõe a existência prévia de dois grupos, um que recebeu e outro que deu a
mulher em casamento.” (Sarti, C. A, p.37. 2005 )

Assim, o “átomo do parentesco” (Sarti, C.A, p. 36, 2005) se difere bastante da visão
apresentada pela teoria da filiação onde se divergem e também em uma certa medida se
assemelham nas funções inegáveis das relações parentais da família elementar, segundo
Radcliffe-Brown.
As teorias do parentesco tem como convergente o fato de terem destacado que o
laços de parentesco são um resultado cultural e não puramente biológico. Relativizando,
dessa forma as diferenças e a lógica de se pensar que a nossa forma de
família/parentesco é universal, ou melhor.
Todos os sistemas de parentesco são em si mesmo complexos e únicos, nenhuma
é melhor ou pior, inferior ou superior ao outro. Isto é o quê o estudo do parentesco
contribuiu para a Antropologia e ainda continua a contribuir, aumentando a visão da
complexidade e diversidade humana e seus incríveis sistemas de representação que
fazem a vida, ter sentido, porque é nesta premissa que Lévi-Strauss refletia:

O que diferencia verdadeiramente o mundo humano do mundo animal é que na


humanidade uma família não poderia existir sem existir a sociedade, isto é, uma
pluralidade de famílias dispostas a reconhecer que existem outros laços para além
dos consangüíneos e que o processo natural de descendência só pode levar-se a
cabo através do processo social da afinidade. (Lévi-Strauss 1980:34)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Disponível em: <http://pt.wikilingue.com/es/Antropologia_do_parentesco>.


Acesso em: 24 de abril de 2011.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1967. Antropologia Estrutural. (BibliotecaTempo Universitário, 7)


Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.

MOTT, L. 2011. Teoria Antropológica e sexualidade humana.

MAUSS, Marcel. 1974 . "Ensaio sobre a dádiva". In: Sociologia e


Antropologia, vol. II, pp. 37-184. São Paulo: EPU/EDUSP.

RADCLIFFE-BROWN, A.R. 1973. "O Estudo dos Sistemas de Parentesco".


Estrutura e função na sociedade primitiva. Rio de Janeiro: Vozes. pp. 50-87.

Sarti, C.A 2005. Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 9, volume 16(1): 31-52

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