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Símbolos e Signos no Protestantismo Brasileiro

Reflexão sobre a questão simbólica nas igrejas protestantes brasileiras

Renato Reis Borges

Resumo
O simbolismo é uma questão fundamental para a religiosidade. Através dos símbolos
podemos expressar e compreender significados. O cristianismo desenvolveu sua carga
simbólica em mais de dois mil anos de história, nos últimos cinco séculos de reforma protestante
houveram muitas mudanças na compreensão e uso dos símbolos. Os templos protestantes
passaram por muitas mudanças, nos primeiros anos da reforma houve um combate a muitos
objetos de arte nas igrejas pois a teologia da reforma via as imagens em pinturas e esculturas
como produtos de idolatria.
Os sacramentos também passaram por ressignificação ao longo dos anos. Em diferentes
denominações há compreensões distintas sobre os elementos da ceia e forma do batismo. A
arquitetura moderna interferiu grandemente nos templos cristãos protestante e também
católicos, modificando toda construção simbólica em diferentes níveis.
A secularização da igreja como fenômeno contemporâneo é um veículo de
transformação simbólica fundamental atualmente.

Palavras-chave: Símbolos; arte sacra; secularização; sacramentos; templo cristão.


Graduando em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo, matrícula 262220.
Trabalho de Conclusão de Curso com vistas à obtenção de grau de Bacharel em Teologia, sob a orientação do
Prof. Antonio Carlos S. dos Santos
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Introdução

O projeto de TCC buscou discutir a questão simbólica no protestantismo brasileiro. O


processo de mudanças simbólicas remonta a formação simbólica do cristianismo medieval,
passando pela reforma até as mudanças trazidas pela modernidade. A reforma protestante
trouxe um impacto muito grande nos elementos simbólicos da igreja, com a acusação de
idolatria, as obras de arte (pintura e escultura) foram de forma geral retiradas dos templos. O
que causa muita curiosidade é que as igrejas evangélicas geralmente aceitam a representação
de Jesus e outros personagens cristãos em material literário, ou em desenhos animados, filmes
e outras produções com o viés didático. A arte sacra tornou-se um tabu para os cristãos
evangélicos. Expressões artísticas como a música, teatro e dança são bem recebidas nas igrejas,
em detrimento da pintura e escultura.

Para o catolicismo são sete os sacramentos, para os protestantes são a ceia e batismo.
Dois sacramentos que possuem elementos simbólicos muito fortes. O pão e vinho como
elementos da ceia instituídos pelo próprio Cristo, são repletos de significações. A primeira
impressão é dada por Jesus sendo o pão a representação do seu corpo e o vinho do seu sangue.
Porém há um universo simbólico em torno dos elementos, oriundos da qualidade e preparação
de cada elemento, assim como a maneira de celebrar e sua periodicidade. Outras questões são
alvo de discussões teológicas como a transubstanciação e consubstanciação, conflitos ocorridos
entre os reformadores e a igreja oficial da época.

O elemento fundamental para o batismo é a água. No cristianismo o batismo origina-se


em João que batiza a Jesus. A ordenança do batismo permanece no cristianismo em que Jesus
ordena que os discípulos vão ao mundo fazer discípulos e que os batizem. O batismo marca a
inserção da pessoa à comunidade de fé. As discussões mais marcantes sobre o batismo nas
igrejas evangélicas são a respeito do batismo infantil e da forma correta de batizar. O
movimento Anabatista proibia o batismo infantil e exigia o rebatismo na forma de imersão.

Para a cultura brasileira, culto é arte ou arte é culto (CAVALVANTI, 2000, p.36).
Segundo Robinson Cavalcanti apesar do protestantismo haver se propagado por todo o país, ele
não se aculturou. Não houve uma integração com a arte sacra: arquitetura, escultura, roupas e
símbolos. O culto protestante brasileiro é percebido como antiartístico. Também é deixado de
lado o calendário litúrgico, Cavalcanti diz que os protestantes poderiam ressignificar as datas
como a páscoa em que os católicos celebram Cristo morto de uma forma mórbida, em contra
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partida, os protestantes comemoram a ressurreição, mas não dão a ênfase necessária e expressão
de alegria.

O templo é um ambiente de grande expressão simbólica. A forma tradicional de


construção do templo cristão é inspirada em elementos bíblicos como a Nova Jerusalém descrita
no Apocalipse de João e a forma da cruz. No templo são realizados as cerimônias e sacramentos
com todos os seus significados.

O projeto apresentará as dificuldades e tropeços do protestantismo em relação a alguns


símbolos fundamentais da fé cristã como nos sacramentos, templo e arte sacra.

Simbolismo no protestantismo brasileiro

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) o número de


brasileiros que se declararam evangélicos no último Censo de 2010 são 22% da população, hoje
seriam cerca de 46 milhões de fiéis. Desse número, cerca de 25 milhões de pessoas fazendo
parte dos movimentos Pentecostais, em torno de 12 milhões das Assembleias de Deus, e os
demais em igrejas históricas como Metodistas, Batistas, Luteranas, Presbiterianas, entre outras.
Iremos nos deter em especial aos movimentos evangélicos brasileiros mais jovens que insurgem
do neopentecostalismo em meados das décadas de 70 e 80. Algumas denominações ainda que
possuindo raízes no protestantismo histórico, já descaracterizaram sua liturgia de culto, assim
como templos e hinos, incorporando tendências que se valem basicamente de estratégias
comerciais para angariar novos fiéis (RAMOS, 2005, p.218). Sobre esse perfil de igreja citada,
também voltaremos a atenção. As denominações históricas e suas liturgias servirão de
contraponto aos movimentos atuais, assim como o simbolismo católico em detrimento da
compreensão simbólica das igrejas reformadas.

Para Luiz Ramos a prática religiosa caminha para a espetacularização, recebendo


influências das mídias e da indústria do (RAMOS, 2005, p.249). Essa espetacularização da fé
converte os altares em palcos e a nave da igreja em plateia, os mobiliários dos templos são
adaptados ao conceito tomando forma de teatro com cadeiras acolchoadas, não tendo mais os
tradicionais genuflexórios, compartimento para guardar a bíblia ou o suporte para apoiar o
cálice da ceia.
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“Esse elemento simbólico na imagem é um valor implícito, um


intermediário entre a realidade reconhecível e o reino místico e invisível da
religião, da filosofia e da magia.” (FRUTIGER, 2001, p.203)

O simbólico une o mundo visível do invisível, sendo assim o artista e o artesão faz
mediação entre esses dois mundos. O símbolo penetra desde o campo do consciente até o
inconsciente. Através das estruturas simbólicas as pessoas formam o seu imaginário, organizam
seus pensamentos e fala. A busca pela estética perfeita e o belo era meio de expressão do divino
(FRUTIGUER, 2001, p.203).

Em um templo cristão o fiel olha para cima, como se estive voltando os olhos para o
céu, no intuito de fazer uma oração, contudo ele verá o teto da igreja. Há muitas possibilidades
para o que ele verá, caso esteja na Capela Sistina no Vaticano (Anexo A), verá imagens
angelicais, divinas, a história da criação, pecado original e muitas outras obras do Artista
Michelangelo, e outros grandes artistas como Domenico Ghirlandaio e Rafael, em um templo
do período alto do Renascentismo (RIBEIRO, 2015, p.16). Caso este fiel estivesse na Abadia
de Westminster em Londres (Anexo B), veria um teto com pé direito altíssimo em um templo
no estilo Gótico com mais de 60m de altura. A Abadia construída em formato de Cruz, com
seus pináculos apontando para o céu. Tanto a Capela Sistina, no estilo renascentista, como a
Abadia de Westiminster, em seu estilo gótico, montam o imaginário do divino e transcendental.
Através da arte cos cristãos montam uma biblioteca de imagens na mente. Ao fazer uma leitura
das escrituras, as cenas e personagens que apareceram em suas mentes para ajuda-los na
compreensão serão oriundas do pincel de um pintor, os bedames e macetas do escultor, e os
traços dos arquitetos em cada construção. Um fiel que esteja no templo da Igreja Universal do
Reino de Deus, chamado Templo de Salomão (Anexo C), que busca remontar o templo judaico
dos tempos bíblicos, ao olhar para cima, verão um teto com centenas de quadrados replicados
de ponta a ponta, preenchendo todo o espaço. Esses quadrados são as luminárias elétricas. Caso
esteja na Igreja Batista Atitude, uma eminente denominação que abriga mais de 8 mil membros,
ganhou notoriedade em 2018 no período das eleições por apoiar o presidente Jair Bolsonaro,
cuja esposa é membro da igreja, ao olhar para cima veria um teto repleto de cabeamentos,
fiação, luminárias que se assemelham com o teto de uma casa de shows, funcional para todos
os recursos de som e iluminação de ponta (Anexo D). Entrando em um templo menor, em
espaços comumente utilizados por congregações evangélicas no brasil como lojas alugadas, o
fiel verá apenas o teto branco e algumas lâmpadas. Qual imaginário simbólico pode ser extraído
de templos que não trazem elementos condizentes com a mensagem pregada no púlpito?
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Há uma tendência à simplificação em que o elemento pictórico passa por uma redução
a um símbolo (FRUTIGUER, 2001, p.204). A cruz é considerada como o símbolo dos símbolos.
Não é possível alguém no mundo ocidental ficar alheio a imagem um uma cruz. Não são apenas
uma horizontal cortada por uma vertical com base mais alongada, ela remonta a crucificação
de Cristo. A imagem do símbolo da cruz traz carga de significado imenso no mundo cristão.
Toda história do pecado a redenção, o sofrimento de Jesus, sua morte e crucificação estão
expresso na cruz. Ao carregar uma cruz no pingente do cordão, ou pendurar na parede, o fiel se
sente participante de tudo o que ela representa. A cruz também é meio de identificação cristão,
daqueles que creem, dos templos cristãos, e em um sepulcro que identifica alguém que em vida
seguia a Cristo e morreu na esperança da salvação.

Nos templos evangélicos brasileiros que são inclinados a uma teologia de secularização,
é comum não utilizarem ao menos a tradicional cruz cristã no altar. O altar não se assemelha a
um altar cristão tradicional, não há mesa da ceia exposta, o pastor não se assemelha a um
clérigo.

“Os símbolos desaparecem. Cruz velas e altar são reduzidos a


superstições do catolicismo. Os elementos do culto devem ser absolutamente
racionais, devidamente explicados e adequados às categorias de uma religião
leiga como o protestantismo. O exílio do mistério é narrado até mesmo pela
arquitetura protestante no Brasil: estilos tradicionais deram e continuam dando
lugar a salões - tristemente semelhantes a grandes garagens - mobiliados com
um púlpito e bancos ou cadeiras.” (A. G. Mendonça, 1990, p.161)

Para a teologia protestante muitos elementos do culto católico foram eliminados por
acusação de idolatria. Dentre eles estão muitos símbolos e expressões artística. Contudo no
protestantismo brasileiro tendeu-se a exclusão de elementos simbólicos. Os tradicionais
templos do protestantismo histórico com expressões artísticas e simbólicas deram espaço para
os salões quadrados, com mobiliário para acomodar o público, plataforma elevada, e detalhes
técnicos de climatização, som, iluminações e outros equipamentos.

Os cristãos evangélicos que hoje frequentam igrejas que chegaram ao ponto de eliminar
boa parte dos símbolos cristãos, e que eventualmente demonizam o uso em igrejas católicas e
protestantes, certamente terão dificuldades de se conectarem com o mundo invisível. Como
citado, o artista e artesão eram vistos como os mediadores entre o invisível e o visível. Faltará
substancialidade na percepção desses fieis que ao olhar para cima em suas igrejas na intenção
de fazer uma oração, ao invés de terem a percepção simbólica te um teto que expresse a atributos
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da perfeição divina, um pé direito alto que significa a altura do céu em que Deus habita, verão
um teto branco, baixo, a poucos metros de seu rosto.

Arte Sacra Protestante


O reformador João Calvino deixa claro em suas Institutas a proibição do uso de imagens,
tanto pinturas como esculturas nos templos cristãos.
“Patrístico era quem afirmou ser horrenda abominação ver-se pintada
em templos de cristãos a imagem, seja de Cristo, seja de qualquer santo.
Tampouco foi isto pronunciado pela voz de um único homem, mas até decretado
por um concílio eclesiástico: que não se pinte em paredes o que se adora. Muito
longe está de que se contenham dentro destes limites, quando não deixam sequer
um canto vazio de imagens.” (Institutas, Livro I, carta ao rei).

Calvino veta o uso de imagens inclusive para fins didáticos. O Catecismo Maior de
Westminster esclarece que a proibição do uso de imagens de Deus é uma proibição do segundo
mandamento (pergunta 109 – Catecismo Maior de Westminster).

"Lutero esforçou-se muito na arte sacra do fim da Idade Média a sua


compreensão da verdadeira mensagem do Evangelho: tratava-se
especificamente da humanidade de Jesus, o Espelho do Eterno. Albrecht Dürer
partilhava dessas ideias e as refletiu em sua arte" (J. Pelikan, 2000)

Para Lutero a arte não era demonizada, mas podendo ser usada como meio de expressão
inclusive do pensamento reformados. A tendência de uma pintura “rebelde” por influência do
movimento protestante tomou espaço entre os artistas nos Países Baixos no século XVI e XVII
como Franz Hals, Rembrandt e Jan Vermeer. Os artistas perceberam-se livres dos temas
religiosos, podendo retratar situações humanas cotidianas como Franz Hals com o quadro
Grupo dos membros do Hospital Santa Elisabeth de Haarlem.

Das denominações protestantes históricas, a Igreja Luterana manteve elementos


simbólicos artísticos em suas igrejas, como o Cristo crucificado no centro do altar, expressão
da teologia luterana. A Igreja Anglicana também conserva arte sacra em seus templos.

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“Sem dúvidas a cruz é o símbolo elementar mais usado em todo o mundo.” (A. Frutiger, 2001, p.241). A
cruz como momento culminante da obra de Jesus na terra, a instituiu como o símbolo máximo do
cristianismo. É interessante perceber que é o símbolo elementar mais utilizado do mundo. A matemática
utiliza a cruz para somar, quando a inclina, se assemelhando a letra “X”, o sinal faz a multiplicação. Os
pontos cardeais são definidos por uma cruz da rosa dos ventos. Ao olhar para o chão com revestimento
de cerâmica, vemos a cruz através dos rejuntes. Ao iniciar o esquema de um rosto para o desenho, é traça
uma cruz, e segue-se as marcações e simetria. Há uma infinidade de aplicações e usos simbólicos da
cruz, o consagrado símbolo da salvação.
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O anglicanismo inicia com o confisco por parte do Estado Inglês de todas as


propriedades da Igreja Católica, com isso, herdam ainda que de forma compulsória, toda arte
expressa nos templos.

Contudo, a influência da reforma Calvinista, restritiva a arte sacra, influenciou o


protestantismo nos séculos seguintes. Com o passar dos anos, surgindo novos movimentos que
traziam novas perspectivas sobre o protestantismo, chegamos ao século XXI em que a arte sacra
não é bem vista para os evangélicos. Percebe-se que a tese de Calvino sobre a proibição total
de representações de Deus, Jesus, ou figuras do cristianismo, foi digerida em meio aos cinco
séculos da reforma. Até mesmo as Igrejas Católicas brasileiras construídas a partir do século
XX, perderam a arquitetura com expressão artística figurativa, para formas geométricas. Vemos
esta mudança na Catedral de Brasília (Anexo E), pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O desenho da
catedral já não possui mais o formato da cruz, não há torre apontando para o céu, o desenho da
catedral são curvas simples, a exposição artística na catedral é mínima em relação as
tradicionais catedrais medievais e o teto da catedral é composto por ondas estilizadas nas cores
azul e verde.

"O reformador de Zurique, Ulrico Zuínglio, proibiu a arte e a música na


igreja porque insistia na centralidade única da Palavra e dos sacramentos.
Contudo, ele próprio tocava instrumentos [musicais] e fundou a orquestra de
Zurique" (M. Horton, 2019)

O uso da arte no protestantismo tornou-se seletiva, como Zuínglio era entusiasta para a
música e proibia expressões artísticas como pintura e escultura. Essa tendência dos
reformadores afeta não apenas os templos, mas também em todos os espaços da vida do cristão.
Dificilmente um cristão evangélico irá decorar a sua residência com arte que remonte uma cena
bíblica. Porém, como evidência da seletividade artística, a produção literária evangélica é muito
expressiva. Tratando-se de material didático, existe uma vasta produção de livros e revistas
ilustradas, utilizando imagens bíblicas, inclusive de Jesus. Desde sua origem o protestantismo
tem influenciado para a extinção da arte sacra expressa na pintura e escultura, contudo em outras
expressões como música, literatura, teatro e dança, a manifestação artística é muito presente
nas igrejas.

O Barroco seria um estilo da contrarreforma, apesar de expressões da arte barroca


aparecer em países protestantes, mas a sua motivação seria os conflitos teológicos. Há uma tese
em que a arte foi sufocada nos países protestantes devido o fanatismo calvinista. (MARTINA,
1995, p.177)

Para o protestantismo a devoção aos santos católicos deixou de existir por acusação de
idolatria, como as suas representações eram feitas através da arte, a aversão à idolatria estendeu-
se para ela também.
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"No geral, o culto protestante brasileiro é percebido como antiarte,


porque o nosso protestantismo é antiartístico, pois a arte, de um lado, faz
fronteira com a “idolatria”, e do outro com o lúdico, com o prazer, ambos
anátemas para os herdeiros verde-amarelos da Reforma, rígidos na defesa das
“quatro paredes caídas e um sermão” (R. Cavalcanti, 2000)

A ênfase no culto protestante é o sermão, eliminando assim as possíveis distrações no


entorno. A oposição a arte oriunda do radicalismo calvinista a esse respeito estabeleceu raízes
fortes no movimento evangélico. Os evangélicos admitem a imagem de Cristo em literatura,
teatro, cinema, mas raramente na pintura e escultura. Em algumas igreja históricas como
luterana e anglicana é possível encontras a imagem representativa de Cristo, e outras
denominações históricas como os metodistas, presbiterianos e batistas, é possível uma
exposição de escultura de uma pessoa importante da igreja como o monumento em homenagem
a John Wesley em frente ao Museu do Metodismo, em Londres (Anexo F). Em frente à Catedral
Presbiteriana na Praça Ver. Mattathias Gomes dos Santos há um monumento ao pregador e uma
congregação, esculpidos em bronze, do artista plástico Joás Pereira dos Passos (Anexo G). No
hall da igreja Vineyard em Anaheim na Califórnia , há uma grande escultura em bronze da cena
do lava pés em que Jesus lava os pés dos discípulos (Anexo H). A escultura mostra Jesus
lavando os pés de um discípulo, com o rosto encoberto pelos cabelos, a escultura fica localizada
no hall anterior a entrada do local de culto. É criteriosa a elaboração dos objetos artísticos nas
igrejas, cuidando que o rosto de cristo não aparece, e sim a cena, distanciando do local de culto,
as imagens não dão conotação de divindade e transcendentalidade aos personagens.

No catolicismo, o movimento artístico do Barroco foi utilizado como mecanismo de


contrarreforma. O protestantismo, por influência do humanismo, deu ênfase no ser humanos,
através de um culto no vernáculo local. O Barroco deu essa ênfase no ser humano, utilizou o
contraste de luz e sombra, a iluminação focava nas pessoas em cena, escurecendo o fundo, a
humanidade também era revelada através das expressões de dor e sofrimento. Vemos esses
detalhes em pinturas como as de Caravaggio. Em sua pintura La Deposizione di Cristo (1602 –
1603) em que Cristo está sendo retirado da cruz (Anexo I), o fundo é escuro, as pessoas estão
iluminadas como uma luz de estúdio, o homem que se destaca segurando as pernas de Jesus
está com a testa enrugada como se estivesse fazendo força para o descer, as pessoas estão com
expressões de tristeza e desespero no rosto, revelando a humanidade. O próprio rosto de Cristo
não está sereno, mas retratando com realismo uma feição de uma pessoa desfalecida. Insurge
um novo movimento artístico oriundo de uma resposta para a reforma protestante. Esta é a cena
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da arte contra a reforma, acirrando assim o conflito entre as denominações evangélica contra a
arte, os colocando em lados opostos mais uma vez.

É necessária uma releitura do relacionamento entre a arte e as igrejas evangélicas. A


aversão às artes plásticas atrapalha o cristianismo de se incultura com a sociedade. Refletir e
desenvolver uma teologia que delimite a questão artística é essencial. Hoje este é um assunto
pouco tratado, ele é mais deixado de lado como se não houvessem incoerências e paradigmas a
serem debatidos.

Simbolismo na celebração dos sacramentos

Na Idade Média, o centro das missas católicas e meios de salvação vinham através da
celebração do sacramento da ceia, com a Reforma, e o advento da técnica de impressão de
Gutenberg, a prédica e a escritura, tornam-se o centro e mediadoras da salvação (L. Ramos,
2005, p.58). Na concepção protestante, o cristianismo é uma religião da palavra, que mais tarde,
por uma deturpação a igreja romana torna o cristianismo em uma religião dos sacramentos (J.
Comblim, 2008, p.175). A importância dos sacramentos é reduzida com a ênfase dos
reformadores para a pregação da palavra de Deus. Para a tradição romana da antiguidade “onde
está o bispo, está a igreja”, para os reformadores, em destaque Lutero e Calvino, dizia que onde
a Palavra de Deus é pregada corretamente e os sacramentos administrados também de forma
correta, aí está a igreja (L. Ramos, 2005, p.57). Em primeiro se dá a importância da pregação,
em seguida os sacramentos que no catolicismo são sete (batismo, confissão, eucaristia,
confirmação (ou crisma), matrimônio, ordens sagradas e unção dos enfermos), para o
protestantismo são dois (batismo e santa ceia).

A ideia da transubstanciação é a definição dada pelo catolicismo romano em que os


elementos da ceia, pão e vinho, tornam-se o corpo e sangue de Jesus através de uma
transformação dos elementos por milagre. A compreensão protestante converge para a
definição de consubstanciação, onde os elementos não são transformados mas a presença
espiritual de Cristo está nos elementos (Z. Severa, 2016, p.542). Há outras variações
evangélicas sobre o simbolismo dos elementos da ceia instituída por Cristo que irão interpretar
o texto de Lucas capítulo 22, versículo 19, enfatizando o termo “fazei isto em memória de
mim”, considerando os elementos como memorial, sem nenhuma importância além de
símbolos, em contra partida, a teologia católica enfatiza o termo do mesmo versículo “isto é o
meu corpo”, interpretando a transubstanciação do elemento. No catolicismo, os elementos da
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ceia são reverenciados. Esta forma de ver a ceia apenas como um memorial retrata o
pensamento de Zuínglio (H. Lopes, 2017, p.447).

"O pão, para ser pão, precisa que o trigo seja pisado, moído, triturado.
Para se obter o vinho, a uva deve ser pisada até mesmo com os pés. Por isso
Jesus escolheu esses elementos.” (Pe. Léo, 2006, p.98)

A escolha dos elementos da Ceia é simbólica para o sofrimento que Jesus sofreu no
caminho para cruz, em que sua carne sofreu com açoites e verteu seu sangue. O processo para
a produção do pão e vinho eram por meio de pisotear e triturar para extrair o suco da fruta e
moer o trigo para a farinha do pão, retratando o sofrimento do corpo de Cristo. É importante
ressaltar que o poder simbólico será expresso no vinho ou suco de uva integral, outros modos
de preparo através de produtos de suco em pó ou xarope, perderiam substancialmente o
simbolismo descrito.

Após a pregação da palavra, as igrejas evangélicas possuem os dois sacramentos, o que


lhes imputa grande valor na sua celebração que em vias de regra são celebrados pelos pastores,
em raras oportunidades por leigos. Contudo, para as igrejas evangélicas contemporâneas, a
percepção de Zuínglio dos elementos como apenas símbolos é predominante. Para o pastor
presbiteriano Augusto Nicodemus em um vídeo intitulado “O QUE FAZER COM A SOBRA
DA CEIA” no canal do Youtube da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, afirma que ao
finalizar a ceia, os elementos recebem a presença espiritual de Cristo no momento da
celebração, tornando-se elementos comuns após o culto, podendo ser descartado ou utilizado
como alimento por alguém esteja com fome. O Bispo Walter McAlister da Catedral da Igreja
Cristã Nova Vida afirma que o corpo de Cristo não é onipresente, por isso, o seu corpo não está
presente nos elementos da ceia, mas o Espírito Santo sim, é onipresente, e está presente na hora
da ceia em Espírito.

Através do estreitamento da fé com a bíblia, brotou toda a crítica de Lutera sobre a igreja
da época. Assim como dos sete sacramentos, afirmando serem apenas o batismo e ceia como
bíblicos, sendo instituídos pelo próprio Jesus.

"Lutero acentua no Batismo a fé que justifica, quando fala na


concentração do sacramento, bem como do sacerdócio de todos os crentes como
participação no sacerdócio de Cristo” (M. Dreher, 2006, p.40)

Para Lutero, sacramentos além da instituição de Jesus, são meios de justificação pela fé,
atribuídas ao batismo e a ceia. Assim como a perspectiva de Zuínglio predominou entre os
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protestantes acerta do simbolismo da ceia, a tese do movimento Anabatista sobre o batismo é a


mais comum entre os evangélicos, que não aceitam o pedobatismo, pois o batismo significaria
deixar as práticas antigas através do arrependimento e viver para nova vida cristã, e isto não se
aplicaria a crianças. O movimento que recebeu como nome Aqueles que Rebatizam, por
defenderem um meio correto de batismo, influenciam até hoje igrejas que rebatizam aqueles
que chegam à suas igrejas. O que geraria perguntas como “Há algo espiritual no batismo como
o novo nascimento?”, ainda “O primeiro batismo não rendeu o novo nascimento?”, ou ainda
“Um cristão pode renascer por muitas vezes pelo rebatismo?” Também foi reivindicado pelo
movimento Anabatista o formato do batismo que deveria ser feito por imersão somente, assim
passaram a rebatizar os que aderiam ao movimento. Algumas igrejas como a Metodista,
praticam o batismo infantil, com o argumento de que estaria equivalendo a antiga circuncisão
judaica e que na igreja primitiva famílias inteiras eram batizadas, inclusive crianças (C. Ryrie,
2000, p.737). A Igreja Metodista do Brasil aceita a prática dos diferentes formatos de batismo
como aspersão, imersão e derramamento, ainda que o meio tradicional seja o primeiro.

O batismo popularizado por João Batista que veio a batizar o próprio Jesus, em seguida
a prática do batismo é instituída por Cristo para aqueles que cressem em seu nome. Para os
católicos, é ainda hoje comum o batismo de recém-nascidos, para que havendo uma morte
prematura, não morram como uma pessoa pagã. Com a reforma, foi reconhecida a inocência da
criança para a salvação, e sua incapacidade para a decisão por seguir a Cristo e com isso
caminhar para o batismo, salvo algumas denominações que veem o batismo como meio de
receber a criança na comunidade de fé. As igrejas evangélicas hoje, incluíram um ritual que
chamam de “apresentação” para bebês, sendo uma forma de suprir o vazio cerimonial pela
ausência do batismo de bebês praticado em especial no catolicismo.

A água é o símbolo unificador de todas as concepções sobre o batismo, ainda que hajam
divergências quanto ao volume de água, quer um punhado na aspersão, ou em volumes d’água
em batistérios ou piscinas, ou ainda em rios. Há relatos de igrejas que praticam batismo nas
praias, como a igreja Assembleia de Deus na Paraíba, que batizou cerca de 2.500 pessoas na
praia Ponta de Matos, em comemoração ao seu centenário. João batizava em rio, Jesus foi
batizado no rio Jordão (JMNOTICIA.COM.BR, 2018). O rio é composto por água doce e
corrente, já a água da praia é salgada e o seu movimento através das ondas, puxa as águas
retraído e retornando para a areia da praia, em um movimento constante dando a impressão que
as águas estão indo e vindo. Nestes dois pontos o mar tira o simbolismo do batismo original do
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rio, de água doce para salgada e corrente para águas que retornam. Outros formatos de batismo
ainda que não sejam praticados em rios, permanecem com a água doce e não se contrapõem em
tipo ou movimento da corrente. A igreja brasileira Bola de Neve inovou com o batismo
realizado com o uso de tobogã (CACP.ORG.BR, 2012). A igreja que busca atrair os jovens para
a fé, utilizou este meio para que o batismo tivesse também associado ao universo jovem. No
artigo do site cacp.org.br o Pr. Natanael Rinaldi afirma ser uma profanação ao sacramento.

O desprendimento evangélico acerta dos símbolos é notório. A cada nova denominação,


novos desprendimentos simbólicos podem surgir restando poucos elementos unificadores como
a água do batismo e os elementos da ceiam, até que esses também sejam questionados e
substituídos por algum novo pressuposto.

O simbolismo do templo

Segundo Jean Hani há é necessário distinguir dois tipos de símbolos: o símbolo


intencional e o símbolo essencial. O símbolo intencional é uma impressão secundária do
simbolismo de um objeto, ele é artificial pois não é visto de modo imediato pela natureza do
objeto. Dizer que os tijolos da igreja representam as pedras vivas que são os fiéis, ou que o
pavimento da igreja representa o alicerce da fé, são símbolos intencionais. A atribuição
espiritual para esse tipo de símbolo é frágil, o objeto não sustenta a significação. O que não
ocorre em um símbolo essencial, pois nele existe um laço íntimo e indissolúvel entre o objeto
material e o significado (J. HANI, 1999, p.18).

No símbolo essencial, o objeto limitasse a exprimir uma realidade espiritual,


como o pão e vinho da ceia ou a água do batismo. Hani propõe mais uma subdivisão, no símbolo
essencial, seriam eles de ordem cosmológica ou teológica. Ao dizer que a igreja é a noiva de
Cristo, ou o Corpo Místico de Cristo, isto significa uma atribuição teológica. Apesar de ser um
símbolo de significação elevada, o símbolo essencial de ordem teológica pode parecer ao
observador distraído como um símbolo convencional.

O símbolo de ordem cosmológica seria o que vem sendo roubado de sua


significação pelo mundo moderno que concebe o mundo de forma quantitativa, sendo visto
como força e matéria, segundo Hani. Em contra partida a unificação de um significado para a
existência que remonta Platão, os pais da igreja, até Descartes.
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No mundo moderno é desconsiderada a metafísica, prevalecendo as posições do


método científico que não dá conta de oferecer uma unidade para os fenômenos do universo.
Para São Boaventura, todas as coisas revelam em suas propriedades a sabedoria divina. No
simbolismo cosmológico, toda a existência, todas as coisas criadas, os seres e a sabedoria,
anunciam a Deus.

O vazio de significação para o mundo moderno passaria a ser expresso em


templos vazio, quadrados e de paredes brancas. Um ser humano vivendo em um universo com
100 bilhões de galáxias, vivendo em um planeta com 4,5 bilhões, lhe dá uma percepção de
incapacidade e insignificância, gerado pelo mero acaso. Esta é a nova percepção de mundo
oriundas de teorias científicas que se autodeterminam com detentores do conhecimento da
realidade. Nisto se verifica uma crise simbólica de ordem cosmológica.

Tendo feito as devidas distinções sobre os símbolos, Jean Hani destaca a origem
divina do templo desde o templo mosaico ao templo de Salomão, em ambos os casos os detalhes
arquitetônicos e artísticos são determinados por Deus. Para os pais da igreja o templo cristão
segue a tendência do Antigo Testamento em que o templo seguiria um arquétipo divino, agora
atribuindo as características advindas do cristianismo. Estas características do templo seria
oriundas das escrituras assim como a nova Jerusalém descrita no Apocalipse de João. Para Jean
Hani, a Jerusalém celestial sintetiza a continuidade do testamento da aliança judaica para o novo
testamento cristão, assim como a conseguinte de um templo para o outro.

A arquitetura do templo iniciava-se por uma ordem cósmica, referenciada pela


forma quadrada da Jerusalém Celestial de Apocalipse. O procedimento tradicional para a
construção da igreja descrita por Vitrúvio, erguia-se um mastro, e a sombra gerada pelo nascer
e pôr do sol, determinava o desenho de uma circunferência, em seguida de uma quadra e a cruz.
A geometria simbolizava a perfeição divina. São símbolos advindos da ordem cosmológica,
expressando a imutabilidade e eternidade de Deus. Os templos eram feitos através das formas
do cubo e da cúpula, sendo a cúpula (céu) sobrepondo o cubo (terra). Geralmente a cúpula era
pintada de azul reforçando o seu significado. Acima da cúpula pode haver uma cruz ou uma
seta apontando para o céu e sua base determinando o centro da cúpula até a terra, simboliza a
ligação do ser humano com Deus e o caminho feito por Cristo em sua assunção ao céu.

Desde o uso de símbolos essenciais cosmológicos, até símbolos teológico e


intencionais, as igrejas passaram a ser construídas exprimindo as referências de visões relatadas
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na revelação das escrituras sagradas, trazendo de forma material as realidades espirituais das
visões, assim como expressões teológicas. As igrejas cristãs eram construídas seguindo estes
passos simbólicos, ainda que recebessem tendências artísticas de épocas como igrejas
renascentistas ou góticas. Com a reforma protestante, igrejas católicas tornam-se protestantes,
segue-se uma tendência de diminuir a expressão artística no interior dos templos por protestos
contra a idolatria das imagens. Contudo, as igrejas protestantes seguem a aparência tradicional
de igrejas cristãs.

Houve forte efeito da arquitetura moderna em templos protestantes assim como


católicos. Os templos protestantes que já eram esvaziados de obras de artes, perdem juntamente
com os modernos templos católicos, os simbolismos essenciais cosmológicos e teológicos que
os constituíam. No catolicismo é atribuído ao Concílio Vaticano Segundo a abertura para este
tipo de arquitetura (M. ROSE, 2009, p.135). Michael Rose reflete em seu livro “Ugly as Sin”,
qual seria o motivo de trocar belas igreja que inspiram a fé e a relação do ser humano com Deus,
com suas torres, sinos, crucifixos, altar elevado e púlpito, para espaços de cultos que não tem
aparência de igreja cristã, e abstraídas de símbolos. O autor diz que os templos descolavam as
pessoas do mundo para um ambiente da casa de Deus, fora da agitação do mundo para a
tranquilidade de um local com uma atmosfera apropriada para encontrar-se com Deus. O templo
era percebido claramente como um local sagrado.

""Elementos da arquitetura tradicional e mobiliário ficaram depreciados, e um


novo estilo estava surgindo, baseado na arquitetura moderna, com esse divórcio com o
estilo tradicional, deu lugar as linhas duras, frias e ênfase na funcionalidade."” (M.
ROSE, 2009, p.136)

Na arquitetura moderna elementos como transparência, leveza, as paredes e tetos


lisos recebendo efeitos de luzes artificiais ou naturais (Q. FREITAS, 2014, p.29). Há também
destaques para o projeto funcional do espaço, como ergonomia, conforto dos acentos,
climatização, acústica, sistema de som, luz, entre outros recursos que preparam a igreja para
uma tendência de culto de uma sociedade do espetáculo e uma hermenêutica espetacular que
visa cativar o público, utilizando-se de técnicas de propaganda e venda para a pregação crista
(L. RAMOS, 2005, p.190).

Os templos modernos não possuem mais a aparência de tradicionais igrejas


cristãs, o altar aparenta um palco, com estruturas de teatro, em alguns casos já não há elementos
simbólicos essenciais como a cruz ou a mesa da ceia. No projeto de monografia da estudante
de arquitetura Quesia Freitas, são descritos detalhes do altar da Segunda Igreja Batista de
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Campos, a estudando refere-se como “palco”, um altar tem a cruz, mesa, ou outros elementos
simbólicos, exceto a piscina do batistério. Semelhante a este altar, a Assembleia de Deus
Ministério Belém, não comporta símbolos cristãos por todo o templo ou altar, além do púlpito
e piscina para batismo.

O tamanho das igrejas não é limitado por uma geometria com referências
teológicas, há templos projetados para comportar grande número de fiéis com planejamento
específico para a demanda de milhares de visitantes por reunião.

Outro fenômeno comum em algumas denominações evangélicas como a Igreja


Universal do Reino de Deus, é o uso de símbolos judaicos, ao ponto do maior templo desta
denominação se chamado de Templo de Salomão, sendo uma réplica do templo de Jerusalém.
Os evangélicos sofreram a perda simbólica sem se darem conta, abrindo espaço para templos
com arquitetura, mobiliário e liturgia secular, ou trazendo símbolos oriundos de sincretismo
religioso, símbolos judaicos, ou representações mais distantes de Cristo como figura de um
leão, fogo para representar o Espírito Santo entre outros.
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Considerações finais

Nos evangelhos vemos a instituição dos sacramentos, com a eleição de símbolos que se
tornaram fundamentais para o cristianismo. As mensagens de Jesus geralmente eram feitas
através de parábolas que usam imagens e significados para descrever a aparência do Reino de
Deus. Os símbolos são utilizados em toda a Escritura Sagrada, desde o Antigo Testamento ao
Novo Testamento. O último livro da bíblia, o Apocalipse é riquíssimo em simbologias. Faz
parte da comunicação humana o uso de símbolos para compreensão. E isto se seguiu no
cristianismo formando o seu universo simbólico. Com a reforma protestante, muitos elementos
artísticos foram rejeitados por acusação de idolatria e excessos em ornamentos dos templos.
Contudo, foram perdidos muitos símbolos importantes para a fé cristã.

Com o passar dos anos a subtração dos símbolos nas igrejas protestantes, também
católicas, em especial no Brasil, foi notória. A decisão por um templo vazio de significados,
deu espaço para os templos funcionais. A prioridade para se projetar um templo passa a ser o
conforto, funcionalidade e questões técnicas.

O belo nas igrejas, que eram expressos através da arte, já não encontra mais espaço. O
uso de representação de Cristo, e personagens bíblicos, são muito utilizados em material
didático pelas igrejas evangélicas, mas raramente em obras de arte.

Há também um esvaziamento do significado dos símbolos que permaneceram, como os


elementos dos sacramentos. Para os evangélicos, os elementos de pão e vinho, assim como a
água e local do batismo, passam a ter carga simbólica pouco transcendente. Seriam apenas
objetos representativos, sem nenhuma mística relevante.

O risco oriundo da perda simbólica está na dificuldade de compreensão. Uma sociedade


ainda que cristã, que cresce relativizando ou rejeitando os símbolos milenares da fé, terão
dificuldades para formar o seu imaginário. Elementos centrais da mensagem cristã como a
eternidade, o céu e inferno, e toda imagética construída desde a literatura bíblica à
representações artísticas são perdidas. Outro fenômeno da crise simbólica cristã, é a adesão de
algumas igrejas há símbolos seculares como templos em formato de casas de show, resgate de
símbolos judaicos, uso de símbolos de outras religiões pelo sincretismo, ou a adoção de
símbolos periféricos, por exemplo a imagem de leão para substituir a imagem de Cristo humano.
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Há indícios da crise simbólica estar em curso, não apenas no cristianismo, mas algo
mais abrangente na sociedade que permeia produções culturais como literatura, cinema,
atingem certamente as instituições em especial as famílias. Uma religião milenar, construída ao
longo do tempo, nos últimos séculos vem rejeitando suas próprias construções simbólicas.
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Anexos

Anexo A: Teto da Capela Sistina

Anexo B: Abadia de Westminster

Anexo C: Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus


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Anexo D: Igreja Batista Atitude

Anexo E: Catedral de Brasília

Anexo F: Monumento de Jon Wesley em Londres


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Anexo G: Monumento ao Pregador na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro

Anexo H: Escultura Lava Pés na Igreja Vineyard em Anaheim – Califórnia - USA


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Anexo I: La Deposizione di Cristo de Caravaggio


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