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Popper é; resonhecidamente, um dos maiores nomes da Filosofid da Ciéncia em -nossos dias. Nesta sua fas- 1¢-AUTOBIOGRAFIA INTELBCIUAL, dd-nos ele um ‘pessoal de suas préprias idéias’e do ambiente hi onde elas se desenvolveram. Assim & que, com sinceridade e humor, fala-nos de Carnap, Einstein, Wittgenstein © outros contempordneos seus, 40 mosmo tempo em que formula apreciagoes criticas do Circulo de Viena, do Positivism Légico, do desenvol- vimento do nazismo e do marzismo, dos problemas do judafsmo e do a ‘enfim, de muito do que é rtante na Cultura do nosso século, Tudo isso faz, daste livro, uma excelente intro~ Guodo nao s6 ao pensamento popperiano como a alguns dos is dilemas culturals, politicos e cientificos EDITORA CULTRIX AUTOBIOGRAFIA INTELECTUAL Karl Popper Poppet é 0 maior vulio da Filosofia da éncia deb A. Barro pa Cunua (de Universidad® de Séo Panis) AUTOBIOGRAFIA INTELECTUAL:. Sir Karl (Rainjund) POPPER- i Nasceu em Viena, 1902 Profesior emésito, Universidade de Londres Lit (Londres) ; possui, itulos’ honorificos que the foram éoncedidos elas Universidades de Chicago, Denver, “Ware wick, Ghristchurch’ (Nova Zelandia), Saliord, Fellow da: “Royal Society” e da “British Academy”. Membro corses- Pondeite do “Institut de France”; membro da “Intemational Acadety ‘Tor the Philosophy of Scietice”; membro estrangeiro ho- notdrjo di “American Academy of Aris and Sciences”; membro i ' fellow honoraria da “Lodon School of Economics and Political “Science”; "membro honordrio do “Harvard Chapter” de Phi Beta Kappa. Recebeu o titulo de Sir em, 1965. Prémio “Cidade de Viena”, em 1965; prémio “Sonning”, da Univer- sidade de Copenhague,” 1973. Publleagées (apenas livros, que jé foram tradusidos para 19 idiomas): Logik der Forschung The Open Society and its Enemies The Powerty, of Historicism The Logic of Scientific Discovery “Autobiografia © Réplicas aos Meus Critica” — inclufdas em ‘The Philosophy of Karl Popper Unended Qisest, An Intellectual ‘Autobiography FICHA CATALOGRAFICA (Preparada pelo Gentro de Catalogacio-na-Fonte, CAmara Brasileira do Livro, SP) Popper, Kail Raimund, 1902- ‘Auwobidgrafia intelectual Cpor] Kail Poppers tsa- Gugio de Lebnidas Hegenberge Ostanny Siiveica dn Zed. Mota, 2ed.—-, Sio Paulo, Gultri, 106. Po66a! Bibliografia, 1. Gigneia — Filosofia 2, Filosofia ingles 3. Popper, Karl Raimund, 1902. "1. ‘Titulo. 77-0336 KARL POPPER AUTOBIOGRAFIA INTELECTUAL ‘Tradugdo de Lomas Hroswseno Ocranny Smvema pa Morra po GL fe en L Yin 87 o> EDITORA CULTRIX BAO PAULO Titulo do original: ‘UNENDED QUEST Ax Invetizervat, Avromocsarny ~ Copyright @ 1974 by the Library of Living’ Philosophers Inc. Copyright © 1976 by ‘Kasl R. Popper - aerate aST aD st Direitos de traduso para a lingua portuguesa adquiridos com exclusividade pela EDITORA CULTRIX LTDA. Rua Dr. Mario Vieente, 374, 04270 So Paulo, SP, fone 63-3141, ue se reserva a’ propriedade Litersria desta taducio. ee ce Tnpresso nes oftinas grfleas da Baitora Pensemento: Agradecimentos on: 02. + Misica = Expeculagdes em torno do sursimento da misica SUMARIO Oniscitncia ¢ + Longa digressio ‘a respeito do essencialismo: aquilo que ainda me separa da maioria dos peniadores contemporaneos 1. Um ano. importante: marxismo, citncia -pseudeciéncia = Primeiros extudos Segunda digressio: pensamento dogmitico © critic; aprender em auxilio da indugfo login da’ descoberta ou légiea da descoberta? + Teoria do conhecimento: Logik der Forschung Quem matou 0 positivismo légico? Realismo ¢ teoria quintica Objetividade © Fisiea . Inglaterra: naLondon School of Economics and '. Primeiros trabalhos na Inglaterra |. Primeira visita aos E.U.A, Encontro com Einstein - Debates com Schrédinger lade ¢ etiticn deducéo;, verdade objetiva 33. -Piogramas de pesquisa metafisiea ‘propensao Boltzmann e a diregio do tempo A teoria subjetivista “da entropia 2812, 0 danwinismo como programa metatiieo de pesquisa ‘30. \Mundo 3, ou o Terceiro. Mundo =. 39, © problema corpoumente ¢ 0 Mundo 3 “40, A porigio dos valores num mundo dé fatcr 31 ‘Notas ipais publicagies 2 abreviesées dot titulot yrefie selecionada Indice Remizivo 4, Combatendo o subjetivismo em Fisica: a Mecdnica Quintica © 2 148 149 157 161 165, 472 176 190 197 203 205 243 tt 251 AGRADECIMENTOS Esta autobiografia foi preparada a fim de ser inchuida nos dois volumes da obra The Philosophy of Karl Popper, editada por Paul ‘Arthur Schilpp, que apareceu com os némeros'14/I ¢ 14/1 na colegio “The Library of Living Philosophers” (La ‘Salle, Ilinois: The Open Court Publishing Company, 1974). Como em. todos os volumes desta série, a autobiografia se deve & iniciativa do Professor Schilpp, fundador da colecée. Sou muito grato..a ele por tudo quanto fez e pela sua infinita paciéncia em aguardar. a autobiografia de 1963 a 1969. ‘Muito penhoradaménte agradeco a Ernst Gombrich, Bryan Magee, Ame Petersen, Jeremy Sheamur, Sra. Pamela Watts ¢, acl ma de tudo, a David Miller ¢ a minha esposa pelo trabalho paciente que realizaram, Jendo ¢ methorando 0 manuscrito. ‘Varios problemas surgiram durante a fasc de produgio da edi- glo ofiginal. Somente depois'de prontas © revistas as provas tipo fréficas € que se deliberou reunir todas as notas, colocando-as a0 final — fato que, nfo 6 destituido de importin is © manuscrito havia sido preparado segundo orientacdo previamente asentada pela qual se deixariam as notas ao pé das paginas correspondentes Foi imenso o trabatho de organizacio dos volumes da série “The Library of Living Philosophers”, executado pelo Professor Freeman, pela Sra. Ann Freeman © seus coadjavantes: aqui regis tivo meus agradecimentos pela atenglo que me dispensaram © pelo cuidado com que Jevaram a bom termo suas atividades. © texto da presente edigio foi revisto, Introduziram-se alguns fbreves adendos'e uma curta passagem saiu do corpo da obra para integrarse & nota 20. KRP Penn, Buckinghamshire Maio, 1975 Huox Lorsne, Doctor, Do éneia e falibilismo Aos vinte anos, fiz-me aprendiz de um velho mestre. marceneiro de ‘Viena, cujo nome era Adalbert Pésch, € com ele trabalhei de 24, em terapos no muito distanciados da Primeira Guerra Ele se parecia’ muito com Georges Clemenceau, mas era homem cordato e bondoso. Depois de haver-Ihe ganho a’ confianca, aconteceu, muitas vezes, que, sozinhos‘ na oficina, ele me tornasse beneficiario de sua inexaurivel riqueza de conhecimentis. -Certa ccasiao, disse-meque, por varios anos, se dedicara a trabalhar em s'machthat, dano Tinha ele como habito favorite de Histéria ¢ respondé-la_ ele préprio, quando ocorria’ eu nfo saber a resposta (embora eu, ‘seu fazer-me uma pergunta’ a respeit Fosse aluno da Universidade, —— fato que muito o orgu- “Vocé sabe”, perguuttava-me, “quem inventou as botas de cano alto? Nao. sabe: Wallenstein, duque de Friedland, du- inta_ Anos! i Buntas ainda mais dificeis, por cl mente respondidas, meu mestre dizig com mod pode me perguntar o que quiser. Ku. st ? fragin was Sie woll’n: ich weiss alles.”) Creio que, ja respeito de teoria do conhecimento, aprendi com meu querido-e onisciente mestre Adalbert Pésch do que com qualquer outro.de seus ‘professores. Ninguém, como ele; contribuit tanto para que eu me tomase discfpulo de Sécrates. Foi ele; com efeito, quem me ensinou nfo apenas-o quio pouco eu sabia, mas também que a sabedoria a’ que eu pudesse aspirar talvez’ consistissé a B 4 alte " snuis'em dar-me eu conta mais amplamente d fo. de minha igndtancia, “= -Rssas ¢ outrad reflexes, que se colocavam no campo da Epis- temologia, ocupavam-me 0 espirito enquanto eu trabalhava com uma escrivaninha. Recebemos, por aquela época, uma grande en- “comenda’ de escrivaninhas ‘de mogno, com mui le de algumas daquelas escrivaniahas, eape- envernizamento, haja deixado muito a de- thas preocupagées com a Epistemologia. Isso str e a mim também, gue eu era demasiado ignorante ¢ demasiado falivel para semelhante espécie de trabalho. Assim, decidi que, 20 completar'o aprendizado,,em outubro. de 1924, eu deveria procurar algo mai de fazer do que escrivaninhas de me ao trabalho social com crian- aa meu me hhavia quase atingido os trinta € cinco anos € mente, resolvera.o problema ‘de trabalhar numa escrivaninha e, ape- sar disso, —preocupar-me com: Epistemologia, 2: Leihbrangas da infincia Gonquanto a maioria de nét conheca a data e lugar. de nasci- mento---cno2meu "caso, 28 de” julho:de.1902, em Himmelhof, no oudle Obet-St: Veit, emy Viena —, poucos sabein como © quan- ida intelectual. No:.que.respeita a meu desen- yemibro-me de alguns de. seus. primeiros, ésté~ ios. B nfo. hd: dGvidacde “que: ele comesou depois de principiado meu desenvolvimento émocionale moral, ‘Em crianga, tenho..a impressio: de ter, sido algo severo e até mesmo presumide;: embora./essa.-atitude; so: temperasse com 0 ‘sen- timento de que cu.nio tinha.¢ direito.de julgar pessoa alguma salvo eu proprio, Dentre as-minhas.lembrangas: mais recuadas, timentos.de admiragao. pelos mais velhos, com por meu Schiff, a quem. eu. admirava. por ser um. ano mais, vel aparéncia bem cuidida e, especialmente, pela sua beleza.—- dons ‘que sempre considerei importantes e inatingiveis. Hoje, ouve-se dizer com freqiifneia que as criangas .si6° eruéis de té-la encontrado ‘apenas-uma-vez duas. Nao volte! aot jardim de infainciay notado o quanto ali me perturbeil: . ‘A visio’ da’ pobrera abjeta, enr Viena “foi. usit’sdab: pr problemas a me comoverem quando ew era’ ainda, -crianga/— Comogéo era tanta que ‘estava sempre no. fundo' de: meus. pensa- Mentor, Poucas, dentre. as pessoas que vivern atualmente: numé'das $ ocidentais, sabem o que significava a pobreza no, comeco ‘deste século: homens, mulheres ¢ criangas vitimas da fome, do frio © da-desesperanga. N6s, criangas, éramos, porém, initeis, Nao podiamos‘ fazer mais que pedir alguns centavos para. dar a um pobre. ‘$6 muitos anos depois" vim a’ saber que meu pai se_esforgara’ longamente para por paradeiro ‘a tal situago, embora jamais hou- vewe falado acerca destas atividades. Ele trabalhava em duas co- Jnissdes que’ buscavam oferecer abrigo para os semlar: uma loj magénica, de que durante longo tempo ele, foi Mestre, dima casa para 6rfJos, enquanto a outra comissio’ ( erigira ¢ mantinha uma grande i desabrigadas. (Um dos: internados ‘Obdachiose — foi Adolf Hitler, quando de sua primeira passagem por Viena.) ; © traballio de meu pai recebeu inesperado réconhecimento 40 dardhe o velho Imperador 0 titulo de Cavalheiro da Orden de Francisco José (Ritter des Franz Josef Ordens), 0 que deve ter cons: tituido ndo apenas uma surpresa, mas um problema. Cony efeito, Embora, a-semelhanga da maioria dos austriacos, respeitasse o Impe- tador, teu pai era ui. liberal radical, da escola de John Stuart ‘Mill © .de modo ‘algum apoiava © governo. Na condigéo de mam, pertencia, a uma sociedade que, na casio, foi declarada legal ‘pelo governo austslaco, embora 0 go- wb 2 Senboghtingaro, de, Francisco José nao feqidentemente se re tempo de William © Mar eabimento, Travaram-se polifica; por exemplo, que'meu pai escrevera como pseuddnimo de Si foi apreendida pela policia, quando de sua pul 1918 permaneceu no Index de livros Nao obstante tudo isso, maqueles dias anteriores a 1919 rei- na Europa, a oeste da Russia czaris © que foi Para, sempre, ao que. hoje-iparece, pela ira Guerra A Universidade de Viena, com seus mui de grande emingncia, gocava de elevado grau de lib Homia, © mesmo eraverdade com"relago act teatros, importantes na, vida de Viena — quase to importantes quanto ‘a misica, Imperador se mantinha:.a’ distancia de todos ‘os partidos politico: © no’ se identificava com nenhum dos governos. Seguia, quase 20 PE-da, letra, o conselho dado por Soren Kierkegaard a Cristiano ‘VAIL, da Dinamarca, 3.:Princiras influéneias indiscutivelmente livrésco, Meu pai, Popper, era, como seus dois. irmfos, latle de Viena. Tinha uma grande 08 por toda parte — com excecao da tar; onde estava. um majestoso Bésendorfer de concertos volumes:-de Bach, “Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert ¢ ‘Meu pai; que ‘tinha. a mestna dade de Sigmund Freud — cujas obras possuia.e-lera quando da publicacio — trabalhava como advogado.; Acerca. de. minha mie, Jenny: Popper, nde Schiff, falarei quando vier a ocupar-me de.aniisica, Meu, pai era um ‘orador con- sumado. Ouyivo “no tibunial apenas. uma’ vez, em 1924 ou 1925, sendo eu. 0 réu, © caso. estava, em minha opinigo, bem definido®, Porsisso mesmo, néo: Ihe pedi queme defendesse ¢°sentiome emba- eis'- pela biblioteca ¢ havia em cas sala de 16 Tasedo, quando ele insist. E a completa simplicidade, clareza sinceridade de seu discurso me impressionaram mui Meu pai jtabalhava. ativamente na Profissao. rgomestre liber lem sucedera A testa de um et Papai trabalhava no escrit6rio por longas horas, era antes homem de estudos que advogado.. Historiador (parte con, siderivel de sua biblioteca dizia respeito. 4 Historia), aha por ticular interesse pelo perfodo helentstico ©. pelos soulos XVII XIX, Fez poesia e' vertew para ‘0. alemfo. versos. grees © latinos {Raramente falava de tais assunios, "Féi por acaso’ que, certo: dia, descobri algumas ageis tradugées de versos de Honiciy, caracteristicos eram a delicadeza de 9 forte senso de humor.) Mostrava grande inclinagio péla Filésofia. A ele pertenceram obra que. ainda possuo, de Platéo, Bacon, Descartes, Spinoza, Locke, Kant, Schopenhauer © Eduard Von Hartmann; obras escolhidas de J. S. Mill em versio alemi, editada por ‘Theodor Comper: (a Pensailores Gregos devotava grande admiragio) ; a maior parte dos livros de Kierkegaard, Nietzsche e Eucken, © os trabalhes de Ernst Mach, a Critica de Linguagem, de Fritz Mauthner e Geichiecht i bras que parecem ter exercido alguma influéneia sobre Wittgenstein); © tradugées da maipr parte i » havia ‘os retratos de Dar- win -e de Schopenbauer.) estavam também 0s autores consa~ grados da. literatura’ alemi, francesa, inglesa, russa e escandinava, Uma das grandes, preocupacdes problemas sociais. © Engels, de Lassalle, Karl Kau Eduard Bernstein, mas ainda as dos criticos de Marx: Béhm-Bawerk, Carl Menger, Anton’ Men- ger, P. A. Kropotkin e Josef Popper-Lynkeus' (ao que parece, dis. tante parents meu, pois nascera em Kolin, cidadezinha de origem A biblioteca inclufa um setor dedicado a0 rte » por minha mic, para minhas duas irmis e para de cu aprender a ler. (Fui eu o iltimo dos trés ) Bra um Livro para eriangas, da grande escritora seca Selma f, em bela versio alema (Wunderbare Reise des Kleinen “cy aeli8is6. ivro pelo menos uma vez ‘por ano; ¢, poster NIG2EDBlgersson. mit. den’ Wildginsen;:a ‘versio inglesa se intitula The'Wonderful Adventures of Nils.) Durante atuito e muito-tempo, mente, It (provavelmente. riais de uma vez) tudo’ quanto S ‘Lagerlif. rreveut,, Nao aprecio seu primeiro romance, Gdsta Berling, embora tenha, indubitavelmente, muitas qualidades.- Todos os outros livros desta, eseritora continuam a ser. para mim, todavia, obras- sprimas. ‘Apiender a Jer e, em menor grau, a escrever so, “naturalmente, osuacontecimentos mais significativos: no. desenvolvimento intelectual de uma pessoa. Nada hé compardvel, pois poucas so as “pessons (iclen Keller é a grande exceco) capazes de recordar o que para ‘elas. significou aprender a falar. Serei’ sempre grato ‘a. minha. pro- fewora, Emama Goldberger, que me ensinow a ler, escrever'¢ contar. Isso.6, ereio cu, o que hé de. essencial para ensinar a uina criang fe, para aprendé-lo, algumas criangas nem sequer precisam ser_ensi- nadas. Tudo o mais é atmosfera € aprendizado através de leitura © reflexio. Sem contar meus pais, minba professora e Selma Lagerléf, a maior -influéncia exercida ‘0s primeiros -estégios de meu_de- senvolvimento intelectual foi, julgo cu, ade um amigo de toda a vida, Arthur Arndt, parente de Ernst Moritz von Arndt, um dos famosos. patriarcas do ‘nacionalismo alemio- no ‘periodo das guetras napolednicas‘. Arthur Arndt era antinacionalista ardoroso. Embora ide, ascendéncia alema, nascera em’ Moscou, onde passou a juven- tude. Era mais velho do que eu cerca de vinte anos — ele estava préximo. dos trinta quando 0 conheci em 1912. Flavia estudado engenharia:.na. Universidade de Riga €. fora. um dos Iideres estu- ants durante a-aalograda ‘revolugéo russa de 1905. Era socialjsta feroz advetsirio dos bolcheviques, alguns de pessoalmente desde 1905. Descrevia-os como jesultas:-dousocialismo, isto: é capazes: de sacrificar pessoas inocentes, Tnesmo que da.smesme, orientagio; pois’ os grandes fins justificavam todos:.o-mneios.r:Amndt nfo era. marxista eonvicto, embora conside- rasse que, -até=aquela-época, fora Marx: 6. mais importante te6rico do socialismo, Ele encontrou em mim al assaz disposto a ouvir falar, das, idéias ,socialistas;. nada,- acreditava. eu, podia ser mais; importante. do, que. por fim a, pobreza. ‘Arndt também se-interessava. profundamente (muito mais do que meu pai) pelo. movimiento que ‘os discipulos de Ernst Mach’ e Withelm Ostwald havian» iniciado,, ama sociedade cujos membros denominavam asi proprios: “imonistas (eque tinha ligagie com a célebre’ revista norte-americana The Monist, de que Mach. era colaborador).. Os -monistas. sentiam-se atraidos Gitncia, pela Epistemologia e pelo que hoje chamasiamos Filosofia da Ciéncia re 0s. monistas de: Viena, o ‘4 Popper-Lynkeus teve considerével nimero de seguidores, Otto. Neurath, ‘A primeira, obra que li acerea do socialisino- {provavelmente sob influéncia de mew amigo Arndt; meu pai relutava em influen- Giar-me) foi Looking Backward, de Edward Bellamy.: Greio. que: a Ai quando tinha mais. ou menos.dozesanios, ¢.o:livso mult sionou. Arndt Ievava-me. a -passe bosques de Viena, e, nessas -ocas e darwinismo. A maior parte do que, ele idizia.ficavay sem divida, além de meu alcance, Mas era interessante ¢ estimulante. Uma dessas “excursées domingueiras dos marxistas realizou-se no dia 28 de junho de 1914. Ao cair da noite, quando nos: aproxi- mavamos dos subirbios de Viena, soubemos que o arquiduque Fer- dinando, herdeiro presuntivo da Austria, havia sido assassinado em Sarajevo. Cerca de uma semana depois, minha mie saiu comigo © minhas duas:irmés para gozar férias de verio em Alt-Aussee, ald nfo muito distante de Salzburgo. Ali, no meu décimo segundo ani versério, recebi carta de meu pai em que ele dicia sentir nfo poder juntar-se a nés, como pretendera, “porque, infelizmente, h4 guerra” (“denn es ist leider Kiieg”). Como a carta chegou no dia em que houve-a declaragio de guerra entre a Austria-Hungria e a Sérvia; parece que men pai dava-se conta do que estava por vir. me impres- 4. A Primeixa Grande Guerra ‘Vinha eu portanto doze anos quando comegou a Primeira Grande Guerra; e 08 anos de conilito e suas: conseqiiéncias foram, sob todos os aspectos, decisives no que respeita a meu desenvolvi- mento intelectual. Tornaram-me ‘um critica. das. opinides correntes, especialmente das opinides_politicas Claro esté que, por aquela época; poucas pessoas sabia o que fa guerra significava, Corria por todo. pais’ um ensurdecedor brado de patriotismo, pelo qual alé, mesmo alguns membros do nosso grupo, anteriormente alheio as provocagées de guerra, foram envolvidos. Meu pai vivia triste e deprimido. Amdt, contudo, entrevia algo desejavel. .Esperava ocorresse uma revolugio democritica na Rissia, ‘Posteriormente, recordei com freqiiéncia, aqueles dias. Antes da guerra, muitos, integrantes, de nosso grupo. haviam examinado teorias politieas de cunho decididamente pacifista que, pelo menos, Hoje ent da opiniao p didas. E havi na guerra, as auforidades tém de tomar contra os lentes, pois no hi como tragar nha diviséria entre dissensio e waigao. ‘ande perplexidade, Nada sabia, natural- com 0s partidos mente, do que nha e da Fran defendido por desses acont Thibault #, de Durante algumas semanas, sob influéncia da propaganda de guerra feita em minha escola, deixei-me contaminar pela atmosfera geral. No outeno de 1914, escrevi. um ridiculo poema, da Paz”, onde admitia que. os austriacos © alemies vitoriosamente a0 ataque (acreditava, entiio, que “nés” tivésemos sido‘atacados) e descrevia ¢ louvava a restauragio da paz nfo se‘ tratasse de um poema de carter muito belici envergonhei com a suposigfo de que:“nés" houvéssemo dos. Percebi que a agressio austriaca A Sérvia ¢ a agressio alema & Béigica eram coisas terriveis © que um poderoso sistema de pro- Paganda estava tentando persuadir-me de que tais agrésées tinha j iva. No inverno de 1915-16, convenci-me — sem divida ncia da propaganda’ socialista de pré-guerra — de que era m4 a causa da Austria e da Alemanha, de que mereciamos perder a guerra (e de que, portanto, a perderiamos, como eu ingenuamente argumentava). Certo dia, penso que em 1916, abordei meu pai como fito de mostrar-lhe uma justificaggo razoavelmente bem preparada dessa , mas ele jenos receptivo do que eu esperava. Tinha idas do que eu acerca dos erros.e acertos da guerra-e de sey resultado.” A um e outro respeito, cabia-lhe razio e, obviamente, eu vira as coisas de maneira demasiadamente simplificada, Nao obstante, cle considerou com grande seriedade meus pontos de vista ©, depois de longo debate, mostrou-se inclinado a ‘concordar com cles, © mestio ocorreu com meu’ Amdt. Depois disso, pou- fas dividas me restaram. integrado. (Maravilhosa descricio ser- lida nos iltimos volumes de Or 20 a ene meus pais. Seu filho. Hermann, mais velho do que: eu, veio. visitar-nos, uniformizado, 12 licenga, antes de partir para a: frente de batalha, 0 depois, chegava a noticia de sua morte. O pesar da rie — e'da irma, a sobrinha favorita: de. Freud —— jorme. Fez-ne ‘compreender ‘o significado das longas ¢ aterradoras.listas de) pessoas mortas, feridas © desaparecidas. . Logo depois -ressurgiram as’ questdes politicas.’ A, velha A havia sido um Estado multilingual: nel ‘se reuniam checos, vacos, poloneses, eslavos do sul (iigoslavos) © gente de. fala boatos de estarem os checos, eslavos ¢ italianos uustriaco. A desagregac3o comecava, Um que vinha atuando como ‘auditor militar, Movimento pan-eslavo, que, em rario de va. compelido a estudar, e falou-nos de Masaryk, das universidades de Viena e Praga que se tornara Iider dos cheeos. Soubemos de um exército checo formado na Russia ¢ integrado por prisioneiros de guerra austriacos, de lingua checa. engas de morte pronunciadas em de terror em que as autoridades suspeitas de deslealdade: 5. Um antigo probleia filoséfico: 0 infinito De h4 muito acredito haja problemas ‘filoséficos genuinos que no so meros quebra-cabegas nascidos do mau emprego da lingua- gem. Alguns desses problemas so infantilmente bvios, Ocorreu que ew tropecasse num deles quando era ainda erianga, prova~ velmente aos oito anos de idade. Haviam-me falado deerca do ‘sistema solar edo espago (do. espaco newtoniano, & claro) e eu me senti perpl nfo podia imaginar nem que o.espaco fosse’ finito entéo, para além dele?), nem que fosse i Ihou-me a consultar um de seus irméos, hébil, disse-me le, para expli- car esse tipo de coisas, Esse tio comecou por indagar sc cu tinha 121 alguma’dificuldade em imaginar uma seqiiéncia de nimeros que aumentasse continuamente. Disse-lhe-que nic. Ele me pediu entéo- (que. imaginasse uma pilha de tijolos. A qual se acrescentasse mais um ¢ mais outro, e assim por diante, interminavelmente; essa tha’ jamais chegaria a ocupar todo 0 espago do Universo. Con- algo relutante, que se tratava de, uma resposta conveniente,, cmabora’ ela nao me satisfizesse por ‘completo. Claro esté que cu nfo ‘tinha como: formular as dividas que ainda me assaltavam: tratavase da diferenga entre infinito real e i tencial ‘e da impossibilidade de reduair-o infinito real ao poten- Gal. O problema. faz parte (a porgéo -espacial) da primeira anti- de Kant e € (especialmente te Ihe acrescentarmos a porcéo emporal) um problema filoséfico dificil ¢,ainda no resolvido* — fobretudo depois que mais ou menos foram abandonadas as espe- rangas que Einstein (eve de solucioné-lo. pela demonstragio de que © Universo. é um espago riemaniano fechado, de raio' finite. Nao me ocorreu, naturalmente, que minha perplexidade di 2 um problema em. aberto; mt io, i tratasse de questo que um adulto inttligente — meu tio, por exem- plo —- deveria éntender, ao paso que cu-era ainda muito ignorante, bu talvez muito jovem ou muito estépido, para comprecndé-lo intel ramente. Lembro-me de numerosos problemas semelhantes — pro- bblemas genuinos e nfo quebra-cabecas — enirentados mais tarde, quando eu tinha doze ou treze anos: 6 problema da origem da vida, por exemplo, deixado em aberto pela teoria darwiniana, e o de saber se a vida é simplesmente um’ procesto -quimico (optei pela teoria de que os organismos so chamas). Esses, ereio eu, so problemas quase inevitéveis’ para quem, crianga ou adulto, tenba tido’contato’ com Darwin. O fato de o -ntal estar relacionado com cles nd os torna prom blemas ndo-filoséficos. E de modo -algum devemos decidir, do alto de nossa suficiéncia, que os problemas filos6ficos ni ou que fembora talver sejam dissolaveis) . tude perante esses problemas permaneceu_invaridvel tempo. Sempre imaginei que. as questOes que me jessem sido hi muito resolvidas; jamais imagine que qualquer delas pudesse ser nova. Eu nifio sdu como o grande Wilhelm Ostwald, .editor da revista Das monistische Século do’ Monismo”) .conhecessem todas. as respostas, iades, julgava eu, deviam-se, totalmente, A mi- nha compreensio, limitada, preocupavam 6. Minha primeira falha filos6fica: © problema do essencialismo tancia a palavras.¢ sew significado (ou teu “verdadero. ignfceas™). eo Eu devia ter quinze anos, aproximadamente. | Meit pai havia sugerido que eu lesse-alguns volumes-da autobio de-Stiindberg. Nao me recordo quais foram as. passagens’ que me"‘levarant’ a, con~ ‘versando ‘com. meu pai, scriticar 0% que -eu;-considerava ‘uma. atitude obscurantista-de Strindberg: sua tentativa de extrait algo impor- tante do “verdadeiro” significado de alguns vocdbulos. Yenhio lem- branga, porém, de qué-me senti perturbado — ‘em verdade; choca- oe ao Pereeter que a pai, enquanto cu formulava minhas objecies, nfo se dava conta-de minhas posi O: pont e cia SRuBS Setar, cndn ver mais Go, fa medida em que 0 expanha no correr da~discussio, Quando interrompemos 0 diélogo, tarde da noite, compreendi- que rminhas idéias nfo tinham provecado muito impacto: havia de fato entre nés um abismo. que concernia a uma questo importante, Lembro-me'de que depois dessa discusso pro- a mim mesmo da necessidade de. ter sempre de jamais discutir a tespeito de. palavras ¢ seus orque as discussbes desse género, além de ‘especiosas, fdas de importancia, Lemibro-me ainda de haver ginado que esse principio simples devia ser bem conhecido e ampla- mente aceito: suspeitei que meu pai e Strindberg tnham-se esque- cido de acompanhar os tempos. sho dest Verifiquei, anos depois, que fora injusto com ambos; a crenga na importincia das palavras’¢ de seus significados, particularmente das definigGes, era quase universal. A atitude que mais tarde deno- minei “essencialismo” esté ainda hoje muito disseminada ¢ a frus- tragao sentida nos anos de escola tem voltado a perseguir-me com freqiiéncia recentemente. 'A sensagdo de que eu havia falhado repetiu-se, pela primeira vez, quando tentei ler alguns: livros de Filosofia da biblioteca, de meu pai. Descobri que a atitude de Strindberg e de meu pai. era, em verdade, muito generalizada. Isso gerou dificuldades para mim © certa aversio A Filosofia. Meu pai havia.me sugerido que ew Iesse-obras de Spinoza (uma cura, talver). Infelizmente, no lias Cartas, mas a Etica © 0s Principios Segundo Descartes, obras. que estio cheias de definigdes que me pareceram. arbit wigiosas. (quando. chegavam | dizer alguma coi ‘Disso, resultow ni a permanente pelas’ tcorizagées a propésito de Deus. (A segundo penso ainda hoje, resulta da falta de {é) . Tame bén, percebi que a semelhanca entre. os procedimentos geométricos (@ Geometria “nie fasein; geometrico spinoziano eu achasse a Ci problemas ilu comprectisio do assunto) 0 “Prefacio” edigao da Critica (edi¢éo de Benno Erdmann), lembro- virado as paginas e de peiturbar-me e surpreenderme gular arranjo das antinomias. Nao. conipreendi 0 ponto Néo entendia 0 que Kant (ou qualquer outra pessoa) Gueria dizer ao asseverar que a razio podia contradizerse asi mesma. Ainda assim observei, no quadro correspondente. A primeira antinomia, que alguns -problemas. reais estavam em pauta; e notei, & no Prefiicio, que era necessério compreender Matemética ica a fim de debater tais: problemas. reio que preciso voltar-me para a questio subja- sussfio, cujo impacto sobre mim tenho presente e de uma questo que continua a separar-me da ntemporfiness © que, por haver assumido impor- tAncia vital em minha vida de filésofo, devo examinar porm zadamente, ainda que isso exija uma longa digressio. 7. Longa digressio a respeito do essencialismo: aquilo que ainda me separa da maioria, dos, pensadores eontemporineos Deis so os motives que-me Ievam a considerar isto uma di- gressio. Em primeiro lugar, porque a mancira: pela qual formulo i no terceiro pardgrafo logo a seguir, ndenciosa, pois. resulta. de: idéi Aquelas que defendi na época alude 0 capitulo’ anterior. Em segundo lugar, porque as partes finais do capitulo no visam propriamente a tracar a historia d desenvolvimento intelec- tual (embora esse aspecto nfo seja olvidade), mas a discutir uma Quest2o cujo esclarecimento me. tomou praticamente a ‘vida inteira Nunca se incline a considerar seriamente problemas palavras ¢ seus significados."O que deve ser encarado com seriedade Sdo questées de Jato ¢ assergies a: propésito. de fates: teorias ¢ hips. teses, bem como-os problemas que elas resoluem e, suscitam. No que segue, aludirei’a este conselho. que dei a. mim mesmo chamando-lhe minha exortagéo jencialista.,. Descons referéncia 4s teorias ¢ as hipéteses (que deve ser, provavelmente, bem posterior), a exortagio traduz, com aprecidvel fidelidade, os sentimentos que tive ao tomar consciéncia das armadilhas repre- sentadas pelas preocupagées.ou discusses em tomo-de ‘palavras ¢ seus significados. “Ai esté, segundo ainda hoje me-parece; ia via mais segura para a perdicio i : abandonar problemas reais em favor’ de problemas ver Cumpre ressaltar, porém, que meus pensamentos acerca desse Ponto estiveram, durante. longo periodo, imersos na erenca ingénua, mas firme, de que.tudo isso devia ser bem conhecido, particular mente pelos fildsofos, desde que estivessem suficientemente atualizados. i mente, quando passei.a ler com » A tentativa de localizar meu le importancia das palavras. — entre os problemas tradicionais da Filosofia. Disso resultou minha decisio de que o problema estava intimamente ‘associado ao cléssico problema dos universais. Foi um erro de julgamento. Todavia, o erro induzivme ia dar atengio 20 problema dos univeriais-e A sua histéria. Convenci-me bem depressa de que por thés do classico problema das palavras universais c de: seus significados (ou sentidos, ‘ou denotagées) -havia um problema de maior profundidade ¢ impor ‘Gncia: @ problema’das leis universais ‘e da sua verdade, isto é, 0 problema das regularidades. © problema dos universais é tratado, ainda hoje, como se fora um problema acerca de palavras ou de usos da. linguagem; ou de similaridades que se manifestam em certas situagées: ¢-de.como clas 3e pdem em - correspondéncia com widades de “nossos_ sinibo- Jismos lingiiisticos. Parecia-me entretanto, que’ 0: problema tinha muito maior alcance; que ele dizi respei \damentalmente, reagées similares, em situagées biologicamente ‘similares. Uma vez que todas (ou quase todas) as readées; biologicamente falando, Possuem um valor antecipatério, somos'levados-a considerar 0 proble- ma da antecipacio ou'da expectativa e, por conseguinte, 0 problema da adaptagio 4s regularidades. :Em todal'a-minha vida: nfo apenas. acreditei na existéncia do que os filésofos denominam “mundo exterior” ‘como também con- eH epee ras ‘gio: “contréria- como: indigna de ser encarada com “nao quer dizer que eu nao’ tenha discutido a. questiio ou-que-ndo tena tentado’ analisar, digamos, 0° “mo- *e outras posigies’ idealistas semelhantes. Contudo, adepto do realismo-e isso me’ permitiu notar que 0 empregado, ‘no contexto da questio dos uni- jesignar a.atitude, caracterizada pela exortagio. (Penso, hoje, queso, nome.é; um, pouco enganador. A escolha de “nominalismo’” resuliou da, tentativa de comparar minha atitude com certas con- cepgses. conbiecidas, ou da tentativa de’ pelo menos encontrar seme- Ihangas entre a.atitude ¢ alguma daquelas concepgées. Todavia, nunca aceitei 0 “nominalismo” eldssico.) No inicio da década 1920 travei duas discussées ‘A primeira como eco- sreditava que aquil ea tipico das Giéncias Naturais, mas nio- das Citncias Sociais. A segunda dis- cussio, que ocorrea um pouco: mais tarde, travei-a’ com Heinrich Gomperz, pensador de idéias muito originais ¢| vasta erudicid, muito me impressionou ao descrever minha posiglo como “realist em ambos os sentidos da -palavra, . Julgo, agora, que tanto Polanyi como Gompers, estavam certos. Polanyi, porque as Citncias Naturais estéo. isentas, em grandé parte, de debates verbais, ao pasio que o verbalismo. campeava (© campeia) sob muitas formas nas -Citncias Sociais: Mas isso no & tudo. Eu deveria dizer™ que as relagdes sociais’ pertencem, de maneiras,: ao: que em épocas recentes: denominei. “‘tercei . jem. da, existéncia ‘de simi- laridades pelo problema’ da adaptagéo: biolbgica. as, regularidades, eu de fato. mé dproximava do “redlisind” © nao “do, nominalitmo. ‘A fim ‘de explanar essas questées, nos moldes em. que as coloco hoje, empregarei a tabela das idéias que publiquel em “On the Sources: of Knowledge and Ignorance” *. IDRIAS, ENUNCIADOS' eu PROPOSIGOES ‘ou TEORIAS muladas DESIGNAGOES ou TERMOS ‘ou CONCEITOS podem PALAVRAS. ASSERGOES: aye pods SIGNIFICATIVAS, | mas cuja ‘VERDADEIRAS ‘VERDADE SIGNIFICAGAO | ve reduz, por witio de } DERINIGOES | ade CONCEITOS N&O-DEFINEDOS. |’ PROPOSIGOES PRIMITIVAS DEDUGORS SIGNIFIGADO condus a ‘VERDADE, egressdo 27 ‘O-quadro €. trivial: esté bem firmada a analogia légica entre eoluna da esquerda ea da direita. Contudo, esse quadro permite ituar’ minha exortagéo, que pode ser assim reformulada: Em que pese a perfeit Isso implica que as filosofias do’ significado e as linguagem (na medida em que se preocupem com: palavr tilha errada. No que concerne aos asiuntos intelectuais, os inicos aloes dignos de perseg teorias verdadeiras ou teotias que se aproximam da verdade — isto 6 que estio mais préximas da ver- dadé do que outras teorias rivais, mais antigas, por exemplo. Acredito que a maioria das pessoas concordaré com o que acabo de dizer; inclinar-se-Zo essas pesioas, porém, a argumentar uma teoria é verdadeira, ou-nova, ou intelec- tualmente significativa, ¢ coisa que depende de seu significad significado de uma teoria’ (desde que formulada sem ambi lades, de um ponto de vista gramatical) uma fungdo dos -significados das palavras em que a teoria é vazada. (“Fungio”, ‘neste contexto, assim como na Matematica, & vocdbulo utilizado com 0 objetivo de dar conta'‘da ordem. dos: angumentos.) Essa maneita’ de conceber 0 quase: dbyia; & amplamente "ac ©; “Apesar’ disso, qilase nfio ha verdade no que ela ‘aoreflltaria sem descer a mimicias, com a seguinte A relagionentré uo» enunciado ow uma teoria ¢ as palavras usa- das‘ para formuld-los é semethante, sob, vérios prismas, & relagdo que tige:-entre palavras.escritas ¢ as letras escrevé-las. Obviamente, as etras, no, tm “significado”, no sentido em er palavrass, todavia, & indispensivel conhecer as’ leéras (ow seja, seus em. algum. outro sentido)” para reco- uhecer -as. palayras, ¢, assim, discetnir-Jhes: os significados. Aproxi- madamente; «o-aanesmo,.se- pode: dizer de. palavras e enunciados ou teorias. * As.letras t@my“uih papel. meramente pragmatic, ou téenico, na formagio das’ palavras. No meu entender, as palavras também’ de- sempenham um pay lesmente: pragmtico, ou téenico, na for- mulagio de teorias. Assim, Jetsase: palavras so. apenas meios para certos fi is diversificados)y -E. os winicos fins intelectualmente important ® formulagéo de problemas; a apresentagio, -em 28 carter de tent © a discussio Iver. novos. pro- blemas. (Ver. meu Conjectures and. Refutations, capitulo 10) Ha exemplos excelentes’ para apresentadas “em termos. inteirame traduzem de maneira. biunivoca), mostrar-que duas teorias, TT, 6. "T, wente’diversos: (termos. que. nfo se gue se determine pelos “sig belecer a equivaléncia entre ‘uma teoria. mais ampla, T,, t na qual T, ¢-'T, venham a ser tra- duziveis.” Sirva de cxemplo um conjunto’ de axiomatizagdes diverse da Geometria Projetiva; outro exemplo é dado pelos formalismos, dat Mecfnica Quantica, em termos de particulas’ ou, em ondas, cuja equivaléncia pode ser fixada quando os dois for so levados para a linguagem dos operadores.) % Sbvio, naturalmente, que a alteragdo de uma palavra pode Produzir altcragGes radicais no significado de uma teorla ou de um enuneiado, exatamente como a troca de uma letra pode modificar de todo o significado de uma palavra e, assim, modificar uma fato que qualquer pessoa compreende, se jé se interesou, digamon, pela interpreiacao dos textos de. Parménides. ‘Todavia, os enganoy de copistas ou de linotipistas,conquanto fatalmente desnorteadores, podem ser corrigidos, via de regra, pelo exame do contexto Quem ja se tenha dado ao trabalho de traduzir trechos eseritos em outro idioma © tenka refletido sobre 0 tipo de esforgo requerido, tradugo de um texto nao trivial deve ser uma reconstrugao teoré- tica. Deve incorporar até pequenos comentarios. Toda boa tradu- so tem de ser, a'um tempo, proxima e livre. Incidentemente, & ertOneo supor que as consideracies de ordem estética nio sejam pertinentes nas tradugdes de escritos de cunho tedrico, Basta pensar uma teoria como.a de Newton ou a de Einstein par: e insatisfatéria seria a tradugio que fixasse 0 contetido d oe eee oe 7 29

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