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PB1

PORTUGUÊS
Língua, Comunicação e
Variações Linguísticas

Aluno: Data: __/__


Profs. Leandro, Debora e Volmar
Noção de texto Para atingir essa finalidade o autor deixa marcas em seus textos para que possam
Antes de qualquer observação a respeito da compreensão de textos, faz-se ser seguidas pelo leitor. Assim, formular não significa simplesmente deixar ao
necessária a conceituação de texto, pois não é qualquer aglomerado de frases interlocutor a “tarefa” de compreensão, mas, sim, deixar, através de traços, marcas
que se pode chamar assim. É preciso verificar a viabilidade de um enunciado ser para que o texto possa ser compreendido. As palavras ou frases articuladas
ou não um texto. produzem significações que são dotadas de intencionalidade, ganhando sentido
De modo geral, chamamos de texto toda unidade de produção de linguagem pela interferência dos destinatários, criando as unidades textuais.
situada, acabada e autossuficiente (do ponto de vista da ação ou da comunicação).
O texto é constituído de vários componentes estilísticos, esquemáticos, retóricos, Para tornar concreto um ato de compreensão, é necessário que o leitor reúna
não se limitando, assim, a componentes simplesmente gramaticais, ou seja, determinadas condições: possua a competência correspondente às mensagens
consiste na formação de um todo significativo que independe de sua extensão, do texto e do discurso; domine traços de referência de conteúdos; busque no texto
pois trata-se de uma unidade de sentido, de um conteúdo comunicativo contextual a mensagem pretendida pelo autor; utilize estratégias e habilidades adequadas ao
que se caracteriza por um conjunto de relações responsáveis pela sua construção. exercício de compreensão/interpretação.
O texto é um tecido verbal estruturado de tal forma que as ideias formam um todo
coeso, uno, coerente. São sequências de signos verbais ordenados ■ Texto literário e texto não literário
sistematicamente, de modo a manifestar um único direcionamento. A manifestação O texto literário tem uma dimensão estética, multissignificativa e dinâmica, que
de um único direcionamento, ou a noção de unidade no texto, também é destacada possibilita a criação de muitas e novas relações de sentido. Com o predomínio da
por Padre função poética da linguagem, é um meio importante de reflexão sobre a
Antônio Vieira — Sermão da Sexagésima: realidade, envolvendo um processo de recriação dessa realidade. A produção de
“O sermão há de ser duma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só um texto literário envolve:
matéria. Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se
conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de a) a valorização da forma: o uso literário da língua caracteriza-se por um cuidado
declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de ampliá-la com as especial com a forma, visando à exploração de recursos que o sistema linguístico
causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão oferece, nos planos fônico, prosódico, léxico, morfossintático e semântico. Não é o
de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar, há de responder às dúvidas, tema, mas, sim, a maneira como ele é explorado formalmente que vai caracterizar
há de satisfazer as dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da um texto como literário. Assim, não há temas específicos de textos literários, nem
eloquência os argumentos contrários, e depois disso há de colher, há de apertar, há temas inadequados a esse tipo de texto.
de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não b) a reflexão sobre o real: em lugar de apenas informar sobre o real, ou de produzi-
é isto, é falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter lo, a expressão literária é utilizada principalmente como um meio de refletir e
variedade de discursos, mas esses devem nascer todos da mesma matéria, e recriar a realidade, reordenando-a. Isso dá ao texto literário um caráter ficcional,
continuar e acabar nela.” ou seja, o texto literário interpreta aspectos da realidade efetiva, de maneira
Para que um texto seja constituído, ou para que se chegue a uma compreensão, é indireta, recriando o real num plano imaginário. Refletindo a experiência cultural de
necessário trabalhar, principalmente, as relações de conexão cognitiva e as um povo, o texto literário contribui para a definição e para o fortalecimento da
relações identidade nacional. Por isso, num país como o Brasil, onde as características
coesivas. culturais precisam ainda ser revitalizadas e valorizadas, as artes desempenham um
■ o saber partilhado, que é a informação antiga — pode aparecer na introdução, papel muito importante.
ou estar subentendida no contexto —, em que o produtor do texto estabelece um c) a reconstrução da linguagem: no texto literário, o uso estético da linguagem
acordo com o leitor (os interlocutores), para, em seguida, expor informações novas; pressupõe criar novas relações entre as palavras, combinando-as de maneira
■ a informação nova, que se caracteriza como uma necessidade para a existência inusitada, singular, revelando assim novas formas de ver o mundo.
do texto, veiculando uma informação que não é do conhecimento do leitor, ou d) a multissignificação: no texto literário, faz-se igualmente um amplo uso de
que não o é da forma como será exposta, o que implica matizes novos e, metáforas e metonímias, com o objetivo de despertar no leitor o prazer estético.
consequentemente, uma nova maneira de ver os fatos; Isto é o que define seu caráter plurissignificativo.
■ as provas, que são fundamentos das afirmações expostas. Se o leitor duvidar
de suas asserções, poderá recorrer a outras obras indicadas pelo escritor para O açúcar
chegar às mesmas conclusões que ele. Ferreira Gullar
O branco açúcar que adoçará meu café
O texto pode ser uma palavra ou uma obra completa, que se produz no interior nesta manhã de Ipanema
de um processo interlocutivo. Um texto oral de conversação durante uma refeição, não foi produzido por mim
por exemplo, tem características muito distintas das de um texto oral produzido num nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
debate, numa reunião ou assembleia, numa cerimônia religiosa, pois ambos Vejo -o puro
respondem a interesses diversos que resultam da atividade de sujeitos envolvidos e afável ao paladar
em relações diferentes — ainda que sejam os mesmos sujeitos. Esses sujeitos como beijo de moça, água
submetem-se a regras diferentes, resultantes de práticas históricas diferentes. na pele, flor
Em se tratando de textos escritos, o convívio com eles faz com que o leitor adquira que se dissolve na boca. Mas este açúcar
a capacidade de apreender tanto suas formas quanto seus conteúdos. Isso ocorre não foi feito por mim.
porque suas formas e seus conteúdos não podem ser vistos como fatores Este açúcar veio
separados. da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia.
Supõe-se, dessa prática, uma atitude produtiva em que o leitor sai modificado por Este açúcar veio
aderir aos pontos de vista com que compreende o mundo ou por modificar seus de uma usina de açúcar em Pernambuco
pontos de vista em face do diálogo mantido por meio do texto com seu autor. ou no Estado do Rio
O texto escrito proporciona ao indivíduo a faculdade de materializar significados e e tampouco o fez o dono da usina.
intenções de um dos interagentes a distância, em que a base textual sobre a qual Este açúcar era cana
ele se apoia é inerente a um processo de elaboração. É nisso que reside a e veio dos canaviais extensos
complexidade do ato de leitura, pois a compreensão de um texto escrito envolve a que não nascem por acaso
compreensão de frases e sentenças, de argumentos, de provas formais e informais, no regaço do vale.
de objetivos, de intenções, muitas vezes de ações e de motivações, isto é, abrange Em lugares distantes, onde não há hospital
muitas das possíveis dimensões do ato de compreender, se pensarmos que a nem escola,
compreensão verbal inclui desde a compreensão de uma charada até a homens que não sabem ler e morrem de fome
compreensão de uma obra de arte. aos 27 anos
A clareza de um texto escrito é condicionada pelas possibilidades de interpretação plantaram e colheram a cana
que ele apresenta, uma vez que o produtor do texto deve conhecer o idioma e suas que viraria açúcar.
regras gramaticais para deixar claros seus objetivos, ou ideias, que deseja Em usinas escuras,
transmitir. homens de vida amarga
Um texto é mais ou menos eficaz dependendo da competência de quem o produz, e dura
ou da interação de autor-leitor, ou emissor-receptor. O texto exige determinadas produziram este açúcar
habilidades do produtor, como conhecimento do código, das normas gramaticais branco e puro
que regem a combinação dos signos. com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
A noção de texto, que pode ser aplicada tanto para as manifestações orais como
para as escritas, ressalta que nesses processos tal ocorrência se dá como uma No texto não literário, as relações são mais restritas, tendo em vista a
forma de elaboração de uma rede de significados com vistas a informar, explicar, necessidade de uma informação mais objetiva e direta no processo de
discordar, convencer, aconselhar, ordenar. Então, ao escrever, o indivíduo documentação da realidade, com predomínio da função referencial da
manifesta o desejo de se comunicar, buscando ser entendido, e deseja estabelecer linguagem, e na interação entre os indivíduos, com predomínio de outras funções.
contratos verbais com o leitor.

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A cana -de -açúcar d) gíria (linguagem grupal): é a língua com características próprias para cada
J. W. Vesentini grupo social, tais como: punks, emos, presidiários, patricinhas etc.
Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil pelos colonizadores
portugueses no século XVI. A região que durante séculos foi a grande produtora de Papo de malandro
cana-de-açúcar no Brasil é a Zona da Mata nordestina, onde os férteis solos de Na década de 50, o malandro carioca “Zé da Ilha” prestou o seguinte depoimento à
massapé, além da menor distância em relação ao mercado europeu, propiciaram polícia:
condições favoráveis a esse cultivo. Atualmente, o maior produtor nacional de cana- “Seu doutor, o patuá é o seguinte:
de-açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e Minas Depois de um gelo da coitadinha resolvi esquinar e caçar uma outra cabrocha que
Gerais. Além de produzir o açúcar, que em parte é exportado e em parte abastece o preparasse a marmita e amarrotasse o meu linho no sabão.
mercado interno, a cana serve também para a produção de álcool, importante nos Quando bordejava pelas vias, abasteci a caveira e troquei por centavos um
dias atuais como fonte de energia e de bebidas. A imensa expansão dos canaviais embrulhador.
no Brasil, especialmente em São Paulo, está ligada ao uso do álcool como Quando então vi as novas do embrulhador, plantado como um poste bem na
combustível. quebrada da rua, veio uma paraquedas se abrindo, eu dei a dica, ela bolou, eu fiz a
O texto literário “O açúcar”, de Ferreira Gullar, parte de uma palavra do domínio pista, colei; solei, ela aí bronqueou, eu chutei, bronqueou mas foi na despista,
comum — açúcar — e vai ampliando seu potencial significativo, explorando porque, muito vivaldina, tinha se adernado e visto que o cargueiro estava lhe
recursos formais para estabelecer um paralelo entre o açúcar — branco, doce, puro comboiando. Morando na jogada, o Zezinho aqui ficou ao largo e viu quando o
— e a vida do trabalhador que o produz — dura, amarga, triste. No texto não cargueiro jogou a amarração dando a maior sugesta na recortada. Manobrei e
literário “A cana-de açúcar”, de J. W. Vesentini, o autor apenas informa o leitor procurei engrupir o pagante, mas, sem esperar, recebi um cataplum no pé do
sobre a origem da cana-de açúcar, os lugares onde é produzida, como teve início ouvido. Aí dei-lhe um bico com o pisante na altura da dobradiça, uma muqueada
seu cultivo no Brasil etc. nos mordedores e taquei -lhe os dois pés na caixa de mudança pondo -o por terra.
Ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas.
Do blog CC — Comportamento e cultura Papai, muito esperto, virou pulga e fez a dunquerque, pois o vermelho não combina
Blog do Professor Hélder Gusso com a cor do meu linho.
Uns e outros me disseram que o sueco era tira e que iria me fechar o paletó.
Diferença entre um doutor e uma pessoa sem estudo Não tenho vocação pra presunto e corri.
Essa é velha, mas é boa! Veja o que diferencia uma pessoa com doutorado e uma Peguei uma borracha grande e saltei no fim do carretel, bem no vazio da Lapa,
pessoa com outros níveis de estudo. Parece que quanto mais precisa é a linguagem precisamente às 15 para a cor-de-rosa.
maior a possibilidade de atuar sobre o fenômeno e menor a capacidade de se Como desde a matina não tinha engolido a gordura, o roque do meu pandeiro
comunicar com clareza com outras pessoas… estava sugerindo sarro.
Entrei no china-pau e pedi um boi a mossoró com confete de casamento e uma
Quando se tem doutorado barriguda bem morta.
O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação Engoli a gororoba e como o meu era nenhum, pedi ao caixa pra botar na pendura
de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus que depois eu iria esquentar aquela fria.
officinarum, (Linneu, 1758) isento de qualquer outro tipo de processamento Ia pirar quando o sueco apareceu. Dizendo que eu era produto do Mangue, foi
suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma direto ao médico-legal para me esculachar.
geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando Eu sou preto mas não sou Gato Félix, me queimei e puxei a solingen.
pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um Fiz uma avenida na epiderme do moço. Ele virou logo América.
toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, Aproveitei a confusa para me pirar, mas um dedo-duro me apontou aos xifópagos e
impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial por isto estou aqui.”
equivalente à provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto, que ocorre no
líquido nutritivo da alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Vocabulário:
Apismellifera. (Linneu, 1758) No entanto, é possível comprovar experimentalmente patuá: forma giriática para substituir “o negócio”, “a questão”, “o problema”
que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela gelo: desprezo
forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente esquinar: ficar parado em esquinas, à espera de algo
suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo amarrotasse o meu linho no sabão: lavasse a minha roupa
do seu eixo em consequência da pequena capacidade de deformação que lhe é bordejava pelas vias: andava pelas ruas
peculiar. abasteci a caveira: tomei uma bebida — uma cachaça
troquei por centavos um embrulhador: comprei um jornal
Quando se tem mestrado na quebrada da rua: na esquina
A sacarose extraída da cana-de-açúcar, que ainda não tenha passado pelo veio uma paraquedas se abrindo: veio uma mulher demonstrando interesse pelo
processo de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos malandro
troncopiramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, eu dei a dica: o malandro dirigiu um gracejo à mulher
lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas ela bolou: a mulher foi receptiva à lisonja do malandro
em um peculiar líquido espesso e nutritivo. Entretanto, não altera suas dimensões eu fiz a pista: acompanhei -a
lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em solei: conversei com a mulher
consequência da aplicação de compressões equivalentes e opostas. vivaldina: viva, esperta, inteligente
o cargueiro estava lhe comboiando: o namorado a estava acompanhando
Quando se tem graduação morando na jogada: compreendendo a situação
O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos o cargueiro jogou a amarração: o namorado se aproximou dela
sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem sabor deleitável da dei-lhe um bico com o pisante na altura da dobradiça: dei-lhe um pontapé no
secreção alimentar das abelhas; todavia não muda suas proporções quando sujeito joelho
à compressão. uma muqueada nos mordedores: forma de muque — um soco nos dentes
taquei-lhe os dois pés na caixa de mudança: saltei-lhe com os dois pés sobre o
Quando se tem ensino médio peito
Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas: sacou o revólver e fez
mel, porém não muda de forma quando pressionado. dois disparos
papai: forma de o malandro referir -se a si mesmo
Quando se tem ensino fundamental virou pulga: deu um salto
Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível. fez a dunquerque: evadiu-se, fugiu (alusão à famosa retirada de Dunquerque, na
Segunda Guerra Mundial)
Quando não se tem estudo vermelho não combina com a cor do meu linho: referia -se ao vermelho do sangue
Rapadura é doce, mas não é mole, não! tira: policial, detetive, investigador
fechar o paletó: matar
■ Níveis de linguagem não tenho vocação pra presunto: referia -se ao seu apego à vida
Os níveis de linguagem representam as diferentes maneiras de uma pessoa se borracha grande: ônibus
expressar. Numa mesma língua, aparecem usos diferentes, dependendo do meio no fim do carretel: no fim da linha, no ponto final
em que vive/convive. bem no vazio da Lapa: no Largo da Lapa
às 15 para a cor -de -rosa: às 17 horas e 45 minutos
a) nível padrão (culto ou formal): é a língua oficial, usada sobretudo na escrita; o roque do meu pandeiro: o ruído do meu estômago
nela predomina a observação de todas as regras gramaticais. china -pau: “china” — pequenos restaurantes chineses que serviam pratos a preços
Eu assisti ao filme. populares, na época, muito comuns no Rio de Janeiro
Eu não o vi ontem. boi a mossoró com confete de casamento: bife a cavalo com arroz
Cheguei a casa bem cedo. e uma barriguda bem morta: cerveja bem gelada
b) nível coloquial (popular, informal): é a língua do dia a dia, usada sobretudo na como o meu era nenhum: como não tinha dinheiro
fala; nela as regras gramaticais são mais frouxas. depois eu iria esquentar aquela fria: pagaria a despesa mais tarde
Eu assisti o filme. produto do Mangue: eufemismo, pois o Mangue era um dos prostíbulos do Rio de
Eu não vi ele ontem. Janeiro
Cheguei em casa bem cedo. me queimei e puxei a solingen: irritei-me e saquei a navalha — a marca do
instrumento Solingen passou a sinônimo de navalha
Além desses dois níveis, podemos também citar outros usos: fiz uma avenida na epiderme do moço: fiz um corte na sua pele
c) regionalismo: é a língua utilizada em determinadas regiões, com suas ele virou logo América: ficou vermelho como sangue — América Futebol Clube,
peculiaridades semânticas, tais como a fala do gaúcho, a fala do caipira; menino, cujo uniforme se compõe de camisas vermelhas
garoto, moleque, piá, guri (nomes que se utilizam para designar a criança do sexo xifópagos: policiais do Rio de Janeiro que sempre andam em duplas — também
masculino, dependendo da região do país). chamados Cosme e Damião

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e) jargão (linguagem técnica): é a língua culta padrão que utiliza palavras e Existem alguns fatores básicos para que se estabeleça a comunicação, são eles:
expressões próprias para determinados setores profissionais: a linguagem do ■ Emissor: quem emite a mensagem.
direito, a linguagem da medicina, a linguagem da engenharia etc. ■ Receptor: quem recebe a mensagem.
■ Mensagem: a informação transmitida.
“Do direito” ■ Referente: a situação com que se relaciona a mensagem.
De acordo com o art. 150, I, da CF/88, é vedado aos entes tributantes, entre eles os ■ Canal: meio de comunicação utilizado para envio da mensagem.
Municípios, aumentar tributo sem lei que o estabeleça. ■ Código: sistema de sinais utilizado para o envio da mensagem.
A corroborar o exposto acima, impende destacar a dicção dos parágrafos 1º e 2º, do
artigo 97, do CTN, que destacam a necessidade de lei para atualização em bases Apesar de todos esses fatores serem necessários na transmissão de uma ideia,
de uma mensagem, sempre há a predominância de um sobre outro, ou seja, a
cálculo de impostos, com índices acima da correção monetária do período. (...) predominância de determinada função da linguagem.
Com efeito, fica demonstrado, à saciedade, que a majoração da base de cálculo do
IPTU, ou seja, a atualização do valor venal do imóvel acima da correção monetária ■ Função referencial (ou denotativa)
oficial, mediante Decreto do Poder Executivo, viola frontalmente o princípio da Transmite uma informação objetiva, expõe dados da realidade de modo objetivo,
legalidade, consagrado no art. 150, I, da CF/88, combinado com o art. 97 não faz comentários, nem avaliação. Geralmente, o texto apresenta-se na terceira
parágrafos pessoa do singular ou plural, pois transmite impessoalidade. A linguagem é
1º e 2º, do CTN. denotativa, ou seja, não há possibilidade de outras interpretações além da que está
exposta. Em textos científicos, jornalísticos, técnicos, didáticos ou em
As diferentes maneiras de contar a mesma história...[7] correspondências comerciais, essa
Se a história da Chapeuzinho Vermelho fosse verdadeira, como ela seria veiculada função é a predominante.
pela imprensa brasileira? Desmatamento da Amazônia é “o menor dos menores”, diz ministra
Camila Campanerut — Do UOL Notícias — Em Brasília — 31.08.2010 — 14h06
Jornal Nacional
William Bonner — Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na O índice de desmatamento da Amazônia registrou redução de 42% em julho de
noite de ontem… 2010 comparado a junho deste ano, informou nesta terça-feira (31) o Ministério do
Fátima Bernardes — …mas a atuação de um caçador evitou a tragédia. Veja na Meio Ambiente. Este é o menor índice já registrado pelo sistema Deter do Instituto
reportagem de Glória Maria. Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O levantamento é realizado desde maio
Glória Maria — …Que gracinha, gente! Vocês não vão acreditar, mas essa menina de 2004 com dados de satélite.
linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo. No acumulado de 12 meses, a taxa sofreu redução de 48%, ao comparar o período
Cidade Alerta de agosto de 2009 a julho de 2010 e agosto de 2008 a julho de 2009. A ministra do
Onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A Meio Ambiente, Izabella Teixeira, comemorou o balanço, o qual chamou de o
menina “menor dos menores” com relação às áreas desmatadas da região.
ia pra casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte Mas os números do desmatamento ainda são altos: em julho deste ano, o Deter
público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela, primo! Põe a observou 485 km² desmatados, contra 836 no mesmo mês do ano passado. No
cara desse marginal no ar, porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não ano, são 2.293 km² de corte raso vistos pelo sistema do INPE, contra 4.372 km² em
tenho medo de lobo, não! Presta bastante atenção, gente, essa história é 2009.
impressionante! Não saia daí: daqui a pouco eu volto nesse caso. O ministério destacou que a elevação da presença de nuvens registradas pelas
Superpop imagens de satélite (de 29% ante 23% de um ano para outro), que poderiam
Geeente! Eu tô aqui com a ex-mulher do lenhador e ela diz que ele é alcoólatra, atrapalhar a leitura de dados, não foi o suficiente para mascarar os dados.
agressivo e que não paga pensão aos filhos há mais de um ano. Abafa o caso! O Amazonas registrou um aumento de 8% no desmatamento de agosto de 2009 a
Globo Repórter julho de 2010, enquanto os demais Estados da região, com exceção do Amapá,
Tara? Fetiche? Violência? O que leva alguém a comer, na mesma noite, uma idosa apresentaram queda no desmatamento.
e Onze municípios amazonenses são responsáveis por 90% do desmatamento do
uma adolescente? O Globo Repórter conversou com psicólogos, antropólogos e Estado. São eles Apuí, Lábrea, Manicoré, Novo Aripuanã, Canutama, Boca do Acre,
com os amigos e parentes do Lobo em busca da resposta. Vamos viajar pela mente Maués, Autazes, Careiro, Humaitá e Pauini.
do psicopata. E uma revelação: casos semelhantes acontecem dentro dos próprios
lares das vítimas, que silenciam por medo. Hoje, no Globo Repórter... ■ Função emotiva (ou expressiva)
Discovery Channel O objetivo do emissor é transmitir suas emoções e anseios. A realidade é
Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver. transmitida sob o ponto de vista do emissor, a mensagem é subjetiva e centrada no
Revista Veja emissor e, portanto, apresenta-se na primeira pessoa. A pontuação (ponto de
Lula sabia das intenções do Lobo. exclamação, interrogação e reticências) é uma característica da função emotiva,
Revista Cláudia pois transmite a subjetividade da mensagem e reforça a entonação emotiva. Essa
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho. função é comum em poemas ou narrativas de teor dramático ou romântico.
Revista Nova
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama! Motivo
Revista IstoÉ Cecília Meireles
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente. Eu canto porque o instante existe
Revista Playboy e a minha vida está completa.
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho no mês seguinte) Não sou alegre nem sou triste:
Veja o que só o lobo viu. sou poeta.
Revista Vip Irmão das coisas fugidias,
As 100 mais sexys — Desvendamos a adolescente mais gostosa do Brasil! não sinto gozo nem tormento.
Revista G Magazine Atravesso noites e dias
(Ensaio com o lenhador) no vento.
O lenhador mostra o machado. Se desmorono ou se edifico,
Revista Caras se permaneço ou me desfaço,
Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: “Até ser devorada, eu — não sei, não sei. Não sei se fico
não dava valor pra muitas coisas na vida. Hoje, sou outra pessoa.” ou passo.
Revista Superinteressante Sei que canto. E a canção é tudo.
Lobo Mau: mito ou verdade? Tem sangue eterno a asa ritmada.
Revista Contigo! E um dia sei que estarei mudo:
Lenhador e Chapeuzinho flagrados em clima romântico em jantar no Rio. — mais nada.
Folha de S.Paulo
Lobo que devorou menina era do MST. ■ Função conativa (ou apelativa)
O Estado de São Paulo O objetivo é influenciar, convencer o receptor de alguma coisa por meio de uma
Lobo que devorou menina seria filiado ao PT. ordem (uso de vocativos), sugestão, convite ou apelo (daí o nome da função). Os
O Globo verbos costumam estar no imperativo (Compre! Faça!) ou conjugados na 2ª ou 3ª
Petrobras apoia ONG do lenhador ligado ao PT, que matou um lobo para salvar pessoa (Você não pode perder! Ele vai melhorar seu desempenho!). Esse tipo de
menor de idade carente. função é muito comum em textos publicitários, em discursos políticos ou de
O Povo / Agora autoridade.
Sangue e tragédia na casa da vovó.
O Dia Oração aos moços
Lenhador desempregado tem dia de herói. Rui Barbosa
Extra / Diário de S.Paulo Eia, senhores! Mocidade viril! Inteligência brasileira! Nobre nação explorada! Brasil
Promoção do mês: junte 20 selos, mais R$ 19,90 e troque por uma capa vermelha de ontem e amanhã! Dai -nos o de hoje, que nos falta. Mãos à obra da reivindicação
igual à da Chapeuzinho! de nossa perdida autonomia; mãos à obra da nossa reconstituição interior; mãos à
Lance! obra de reconciliarmos a vida nacional com as instituições nacionais; mãos à obra
Lenhador passou o rodo e mandou lobo pedófilo pro saco! de substituir pela verdade o simulacro político da nossa existência entre as nações.
Capricho Trabalhai por essa que há de ser a salvação nossa. Mas não buscando salvadores.
Teste: Seu par ideal é lobo ou lenhador? Ainda vos podereis salvar a vós mesmos. Não é sonho, meus amigos: bem sinto eu,
nas pulsações do sangue, essa ressurreição ansiada. Oxalá não se me fechem os
olhos, antes de lhe ver os primeiros indícios no horizonte. Assim o queira Deus.
■ Função metalinguística
■ Funções da linguagem

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Essa função refere-se à metalinguagem, que ocorre quando o emissor explica um Enfim o que fosse acontecer, aconteceria. E por enquanto nada acontecia, os dois
código usando o próprio código. Quando um poema fala da própria ação de se não sabiam inventar acontecimentos. Sentavam-se no que é de graça: banco de
fazer um poema, por exemplo. praça pública. E ali acomodados, nada os distinguia do resto do nada. Para a
grande
Para fazer um poema dadaísta glória de Deus.
Tristan Tzara Ele: — Pois é.
Pegue um jornal Ela: — Pois é o quê?
Pegue a tesoura. Ele: — Eu só disse “pois é”!
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Ela: — Mas “pois é” o quê?
Recorte o artigo. Ele: — Melhor mudar de conversa porque você não me entende.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e Ela: — Entender o quê?
metaas Ele: — Santa Virgem Macabéa, vamos mudar de assunto e já!
num saco. Ela: — Falar então de quê?
Agite suavemente. Ele: — Por exemplo, de você.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Ela: — Eu?!
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. Ele: — Por que esse espanto? Você não é gente? Gente fala de gente.
O poema se parecerá com você. Ela: — Desculpe mas não acho que sou muito gente.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que Ele: — Mas todo mundo é gente, meu Deus!
incompreendido do público. Ela: — É que não me habituei.
Ele: — Não se habituou com quê?
O nascimento da crônica Ela: — Ah, não sei explicar.
Machado de Assis Ele: — E então?
Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Ela: — Então o quê?
Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um Ele: — Olhe, eu vou embora porque você é impossível!
touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos Ela: — É que só sei ser impossível, não sei mais nada. Que é que faço para
fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, conseguir ser possível?
outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est Ele: — Pare de falar porque você só diz besteira! Diga o que é do teu agrado.
rompue; está começada a crônica. Ela: — Acho que não sei dizer.
Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas Ele: — Não sabe o quê?
datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e Ela: — Hein?
Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo Ele: — Olhe, estou até suspirando de agonia. Vamos não falar em nada, está bem?
que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão Ela: — Sim, está bem, como você quiser.
andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não Ele: — É, você não tem solução. Quanto a mim, de tanto me chamarem, eu virei eu.
havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, No sertão da Paraíba não há quem não saiba quem é Olímpico. E um dia o mundo
Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas todo vai saber de mim.
províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem. Ela: — É?
Quando a fatal curiosidade de Eva fez-lhes perder o paraíso, cessou, com essa Ele: — Pois se eu estou dizendo! Você não acredita?
degradação, a vantagem de uma temperatura igual e agradável. Nasceu o calor e o Ela: — Acredito sim, acredito, acredito, não quero lhe ofender.
inverno; vieram as neves, os tufões, as secas, todo o cortejo de males, distribuídos Em pequena ela vira uma casa pintada de rosa e branco com um quintal onde havia
pelos doze meses do ano. um poço com cacimba e tudo. Era bom olhar para dentro. Então seu ideal se
Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a transformara nisso: em vir a ter um poço só para ela. Mas não sabia como fazer e
probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, então perguntou a Olímpico:
entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Ela: — Você sabe se a gente pode comprar um buraco?
Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma dizia que não pudera comer
ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopando que as ervas que comera. ■ Função poética
Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias amatórias O objetivo do emissor é expressar seus sentimentos por meio de textos que
do dito podem ser enfatizados por meio das formas das palavras, da sonoridade, do ritmo,
morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a além de elaborar novas possibilidades de combinações dos signos linguísticos. É
origem da crônica. presente em textos literários, publicitários e em letras de música.
Que eu, sabedor ou conjeturador de tão alta prosápia, queira repetir o meio de que
lançaram mãos as duas avós do cronista, é realmente cometer uma trivialidade; e Poética
contudo, leitor, seria difícil falar desta quinzena sem dar à canícula o lugar de honra José Paulo Paes
que lhe compete. Seria; mas eu dispensarei esse meio quase tão velho como o conciso? com siso
mundo, para somente dizer que a verdade mais incontestável que achei debaixo do prolixo? pro lixo
sol é que ninguém se deve queixar, porque cada pessoa é sempre mais feliz do que Epitáfio para um banqueiro[15]
outra. José Paulo Paes
Não afirmo sem prova. negócio
Fui há dias a um cemitério, a um enterro, logo de manhã, num dia ardente como ego
todos os diabos e suas respectivas habitações. Em volta de mim ouvia o estribilho ócio
geral: que calor! Que sol! É de rachar passarinho! É de fazer um homem doido! cio
Íamos em carros! Apeamo-nos à porta do cemitério e caminhamos um longo o
pedaço. O sol das onze horas batia de chapa em todos nós; mas sem tirarmos os
chapéus, abríamos os de sol e seguíamos a suar até o lugar onde devia verificar-se ■ TIPOLOGIA TEXTUAL
o Um fato importante no processo de produção de texto, que desvenda a intenção
enterramento. Naquele lugar esbarramos com seis ou oito homens ocupados em do autor, é a escolha do modo de organização do seu texto: descrição, narração ou
abrir covas: estavam de cabeça descoberta, a erguer e fazer cair a enxada. Nós dissertação. Não que um texto não possa ser composto pelos três, mas sempre
enterramos o morto, voltamos nos carros, dar às nossas casas ou repartições. E haverá a preponderância de um ou de outro, dependendo da finalidade a que se
eles? destina.
Lá os achamos, lá os deixamos, ao sol, de cabeça descoberta, a trabalhar com a
enxada. Se o sol nos fazia mal, que não faria àqueles pobres-diabos, durante todas ■ Descrição
as horas quentes do dia? “Bem diferente era o tio cônego. Esse tinha uma austeridade e pureza; tais dotes,
contudo, não realçavam um espírito superior, apenas compensavam um espírito
■ Função fática medíocre. Não era um homem que visse a parte substancial da igreja; via o lado
O objetivo dessa função é estabelecer uma relação com o emissor, um contato para externo, a hierarquia, as preeminências, as circunflexões. Vinha antes da sacristia
verificar se a mensagem está sendo transmitida ou para dilatar a conversa. que do altar. Uma lacuna no ritual excitava-o mais do que uma infração dos
Quando estamos em um diálogo, por exemplo, e dizemos ao nosso receptor “Está mandamentos. Agora, a tantos anos de distância, não estou certo se ele poderia
entendendo?”, estamos utilizando este tipo de função; ou quando atendemos o atinar facilmente com um trecho de Tertuliano, ou expor, sem titubear, a história do
celular símbolo de Nicéa; mas ninguém, nas festas cantadas, sabia melhor o número e
e dizemos “Oi” ou “Alô”. caso
das cortesias que se deviam ao oficiante. Cônego foi a única ambição de sua vida;
A hora da estrela e
Clarice Lispector dizia de coração que era a maior dignidade a que podia aspirar. Piedoso, severo
As poucas conversas entre os namorados versavam sobre farinha, carne de sol, nos
carne-seca, rapadura, melado. Pois esse era o passado de ambos e eles costumes, minucioso na observância das regras, frouxo, acanhado, subalterno,
esqueciam o possuía algumas virtudes, em que era exemplar, mas carecia absolutamente da
amargor da infância porque esta, já que passou, é sempre acredoce e dá até força
nostalgia. Pareciam por demais irmãos, coisa que — só agora estou percebendo — de as incutir, de as impor aos outros.”
não dá pra casar. Mas eu não sei se eles sabiam disso. Casariam ou não? Ainda (Machado de Assis)
não
sei, só sei que eram de algum modo inocentes e pouca sombra faziam no chão. Quando evidenciamos algo de seres, objetos, ambientes e paisagens, estamos
Não, menti, agora vi tudo: ele não era inocente coisa alguma, apesar de ser uma fazendo um retrato verbal daquilo que se quer mostrar, estamos fazendo uma
vítima geral do mundo. Tinha, descobri agora, dentro de si, a dura semente do mal, descrição.
gostava de se vingar, este era o seu grande prazer e o que lhe dava força de vida. Ela pode ser objetiva ou subjetiva.
Mais vida do que ela que não tinha anjo de guarda.

4
A descrição objetiva busca a precisão informativa, ou seja, diz exatamente personagem fala por si próprio sem marcação alguma disso, ou seja, a fala do
aquilo personagem se mistura à narrativa.
que todos percebem. Ao dizer que Atanagildetina é loira, tem 1,70 m, pesa 60 kg, “Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu
cabelos longos e olhos verdes, estamos fazendo a descrição objetiva, que também vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal,
pode ser chamada de sensorial — aquela para a qual utilizamos os cinco sentidos como o amor pelo mundo transcende. O amor pela vida mortal a assassinava
(visão, audição, olfato, paladar e tato). docemente, aos poucos. E o que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa
A descrição subjetiva procura mostrar aquilo que pensamos acerca do objeto paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como
descrito; ela é, portanto, pessoal. Quando dizemos que Atanagildetina é um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está
descontraída, começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não, não quero ser feliz. Prefiro a
amigável, tolerante e inteligente, estamos fazendo a descrição subjetiva, que mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar
também um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a
pode ser chamada de extrassensorial — aquela para a qual utilizamos algo além mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo.”
dos (Clarice Lispector)

cinco sentidos.
Numa descrição poética isso tudo pode se misturar. Posso dizer que Atanagildetina ■ Dissertação
tem uma voz maviosa, doce e quente; nesse caso há uma mistura de descrição “Qualquer estudo histórico, mesmo um assunto bastante delimitado, pressupõe um
sensorial e extrassensorial. recorte do passado, feito pelo historiador, a partir de suas concepções e da
A descrição é regida pelos seguintes princípios: interpretação de dados que conseguiu reunir. A própria seleção de dados tem muito
a) focaliza estados e não transformações; a ver com as concepções do pesquisador. Esse pressuposto revela-se por inteiro
b) seu discurso é figurativo; quando se trata de dar conta de uma sequência histórica de quase quinhentos
c) os tempos verbais nela privilegiados são o presente e o pretérito imperfeito; anos, em algumas centenas de páginas. Por isso mesmo, o que o leitor tem em
d) seus elementos não mantêm uma relação de causalidade e, por isso, podem ser mão não é a História do Brasil — tarefa pretensiosa e aliás impossível —, mas uma
permutados sem afetar a compreensão do texto. História do Brasil, narrada e interpretada sinteticamente na ótica de quem a
■ Narração escreveu.”
(Boris Fausto)
“Gabriela ia andando, aquela canção ela escutara em menina. Parou a escutar, a
ver A dissertação é a exposição de uma ideia, a defesa de um ponto de vista, um
a roda rodar. Antes da morte do pai e da mãe, antes de ir para a casa dos tios. Que questionamento sobre algum assunto, a análise de um tema. Apresenta sempre
beleza os pés pequeninos no chão a dançar! Seus pés reclamavam, queriam uma argumentação comprovando um ponto de vista.
dançar. As características da dissertação são:
Resistir não podia, brinquedo de roda adorava brincar. Arrancou os sapatos, largou a) opera com transformações explícitas ou implícitas;
na calçada, correu pros meninos. De um lado Tuísca, de outro lado Rosinha. b) seu discurso é temático;
Rodando na praça, a cantar e a dançar.” c) nela o tempo verbal mais usado é o presente atemporal;
(Jorge Amado)
A narração apresenta fatos vividos por personagens, numa sequência temporal. d) suas asserções mantêm entre si relações lógicas do tipo causa, consequência,
Quando narramos, contamos uma história, na qual se destacam os seguintes condição etc.
elementos: personagens (são os participantes do fato), espaço (é o lugar onde
acontecem os fatos), tempo (é a época em que os fatos ocorrem), enredo (é o Cada um desses três tipos distintos de texto tem uma função diferente. Os textos
encadeamento de fatos). Além desses elementos, pode aparecer também — mas figurativos representam o mundo, criam um simulacro da realidade. Essa é a
não necessariamente — o desfecho (a consequência do desenrolar dos fatos). função básica da narração e da descrição. Aquela relata as mudanças de
A narração é regida pelos seguintes princípios: situação de seres particulares, numa determinada progressão temporal, o que
a) focaliza transformações que se pressupõem umas às outras; significa que mostra o mundo em mudança, que apresenta o dinamismo das
b) seu discurso é figurativo; transformações. Esta retrata o ser num dado momento, fora do dinamismo da
c) os tempos verbais fundamentais da narrativa são os perfectivos; mudança, faz ver propriedades e aspectos simultâneos de um ser particular (uma
d) os acontecimentos narrados mantêm uma relação de anterioridade e noite de luar, um engarrafamento, uma paisagem, uma pessoa etc).
posterioridade e essa relação não pode ser alterada sem que se afete a
compreensão do O texto dissertativo é temático. Por conseguinte, explica, classifica, analisa,
texto. avalia os seres concretos. A referência ao mundo é feita por intermédio de
■ Foco narrativo conceitos amplos, modelos genéricos, muitas vezes abstraídos do tempo e do
O foco narrativo representa o enfoque escolhido pelo autor para narrar uma espaço. Ao apresentar as transformações de estado não se importa com as
história. Essa história pode ser contada por um personagem que vivencia o fato ou relações de anterioridade e de posterioridade, mas fundamentalmente com as
por alguém que não participa dele, e será chamado de narrador. relações de causalidade, implicação etc. As mudanças são, pois, tratadas de
Há, então, dois tipos de narrador: maneira diferente na narração e na dissertação. Aquela visa a relatar as mudanças;
■ narrador -personagem, ou de 1a pessoa: aquele que participa da história. esta, a explicar e interpretar as transformações relatadas. Por ser mais abstrato, o
“Olhei para ele; estava mais pálido. Então lembrou-me outra vez que queria pedirme texto dissertativo debruça-se sobre a explicação de dados concretos. Incorpora a
alguma coisa, e perguntei-lhe o que era. Raimundo estremeceu de novo, e, referência a fatos particulares (narrações e descrições), mas apenas para ilustrar
rápido, disse -me que esperasse um pouco; era coisa particular.” afirmações gerais, para argumentar a favor ou contra uma determinada tese. O
(Machado de Assis) discurso científico, o filósofo, o político são dominantemente dissertativos.
■ narrador -observador, ou de 3a pessoa: aquele que não participa da história. Muitas vezes se pensa que o ponto de vista do produtor do texto (enunciador) se
“Depois do almoço, Leôncio montou a cavalo, percorreu as roças e cafezais, coisa manifesta apenas na dissertação. Não é verdade. Em todos os tipos de texto, o
que bem raras vezes fazia, e ao descambar do Sol voltou para casa, jantou com o enunciador manifesta sua visão. A diferença está no modo como se faz isso. Sendo
maior sossego e apetite, e depois foi para o salão, onde, repoltreando-se em macio a dissertação um texto temático, o enunciador expõe, de maneira explícita, sua
e perspectiva sobre um dado assunto.
fresco sofá, pôs -se a fumar tranquilamente o seu havana.” Na descrição, o enunciador apresenta sua visão pelos aspectos selecionados para
(Bernardo Guimarães) mostrar e pelos termos escolhidos para retratar.
Na narração, contrapõem-se percursos figurativos, para revelar o ponto de vista do
■ Tipos de discurso enunciador.
Discurso é a maneira como os personagens se expressam dentro do texto Não podemos esquecer-nos de que, sob a camada figurativa de um texto, há
narrativo. temas.
São três as formas de se apresentar a fala dos personagens: Por conseguinte, com a organização figurativa, o enunciador manifesta pontos de
■ direto: as falas dos personagens são apresentadas diretamente ao leitor, sem vista
a interferência do narrador. sobre o que narra ou descreve.
“— Tu não entendeste Peri, senhora; Peri te pediu que o deixasse na vida em que
nasceu, porque precisa desta vida para servir -te. ■ Injunção
— Como?... Não te entendo! O texto injuntivo ou instrucional está pautado na explicação e no método para a
— Peri, selvagem, é o primeiro dos teus; só tem uma lei, uma religião, é sua concretização de uma ação. Ele indica o procedimento para realizar algo, por
senhora; Peri, cristão, será o último dos teus; será um escravo, e não poderá exemplo, uma receita de bolo, bula de remédio, manual de instruções, editais e
defender -te. propagandas. Com isso, sua função é transmitir para o leitor mais do que simples
— Um escravo!... Não! Será um amigo. Eu te juro! Exclamou a menina com informações, visa sobretudo, instruir, explicar, todavia, sem a finalidade de
vivacidade.” convencê-lo por meio de argumentos. São textos o quais incitam a ação dos
(José de Alencar) destinatários, controlando, assim, seu comportamento, ao fornecer instruções e
■ discurso indireto: o narrador da história é que diz o que os personagens estão indicações para a realização de um trabalho ou a utilização correta de instrumentos
falando, ou seja, indiretamente os personagens conversam. e/ou ferramentas.
“O tísico do nº 7 há dias esperava o momento de morrer, estendido na cama, os
olhos cravados no ar, a boca muito aberta, porque já lhe ia faltando o fôlego.  Texto Injuntivo e Prescritivo
Não tossia; apenas, de quando em quando, o esforço convulsivo para arrevassar os Há quem estabeleça uma relação entre os textos injuntivos e prescritivos e, por
pulmões desfeitos sacudia-lhe o corpo e arrancava-lhe da garganta uma ronqueira outro lado, há os que defendem que são textos sinônimos e pertencem à mesma
lúgubre, que lembrava o arrulhar ominoso dos pombos. categoria, compartilhando funções e finalidades. No entanto, os linguistas que
(...) preferem dividi-los em dois tipos de textos informam que o texto injuntivo, instrui
O médico recomendara que lhe dessem todo o ar possível e lhe fizessem beber de sem uma atitude coercitiva, recurso marcante nos textos ditos prescritivos. Para
espaço a espaço uma porção do calmante que receitara. Uma lamparina de azeite esse grupo de estudiosos, um texto injuntivo pode ser um manual de instruções ou
fazia tremer a sua miserável chama e cuspia óleo quente. Havia um cheiro enjoativo uma receita, enquanto os textos prescritivos asseguram um tipo de atitude
de moléstia e desasseio.” coercitiva, por exemplo, os editais dos concursos, contratos e leis.
(Aluísio Azevedo)

■ discurso indireto livre: é uma mistura dos dois tipos anteriores, pelo qual o  Recursos Linguísticos

5
A linguagem dos textos injuntivos é simples e objetiva. Um dos recursos linguísticos Um exemplo de linguagem mista pode ser encontrado em uma  charge, quando se
marcantes e recorrentes desse tipo de texto é a utilização dos verbos no imperativo, encontra uma imagem e um espaço com um texto acerca da imagem. Tanto a foto
os quais indicam uma "ordem", por exemplo: quanto o texto contribuíram significativamente para a compreensão da mensagem.
 na receita de bolo: “misture todos os ingredientes”;
 na bula de remédio: “tome duas cápsulas por dia”;
 no manual de instruções: “aperte a tecla amarela”;
 nas propagandas: “vista essa camisa”.

Exemplos
Segue alguns exemplos de textos injuntivos:
Manual de Instruções
Instalação: Prefira sempre os serviços da Rede de Assistência Técnica Brastemp
para realizar desde a instalação até a manutenção de seus produtos com
tranquilidade e segurança.
1° passo: Veja se a tomada onde o produto será instalado tem o novo padrão
plugue, segundo o INMETRO.
2° passo: Verifique se a tensão da rede elétrica no local de instalação é a mesma
indicada na etiqueta do plugue da sua lavadora.
3° passo: Nunca altere ou use o cabo de força de maneira diferente da
Comunicação x Linguagem verbal e não verbal
recomendada. Se o cabo de força estiver danificado, chame a Rede de Serviços
A comunicação é o processo de troca de informações entre um emissor e
Brastemp para substituí-lo.
um receptor. Um dos aspectos que pode interferir nesse processo é o código a ser
4° passo: Verifique se o local de instalação possui as condições adequadas
utilizado, que deve ser entendível para ambos, portanto, a linguagem verbal e não
indicadas no Manual do Consumidor:-A pressão da água para abastecimento deve
verbal são componentes que fazem parte dos elementos da comunicação.
corresponder a um nível de 2 a 80 m acima do nível da torneira;
Linguagem verbal
- Recomenda-se que haja uma torneira exclusiva para a correta instalação da
Quando se fala com alguém, lê um livro ou uma revista, é utilizado a palavra como
mangueira de entrada;
um código. Esse tipo de linguagem, como vimos no início do texto, é conhecido
- É obrigatória a utilização de uma torneira com rosca ¾ de polegada para a
como linguagem verbal, podem ser através de palavra escrita ou falada. 
instalação da mangueira de entrada de água, a não utilização dela pode gerar
Certamente, essa é a linguagem mais comum no dia a dia. Quando alguém escreve
vazamentos.
uma mensagem em rede social, por exemplo, ela está utilizando a linguagem
- A mangueira de saída deve ser instalada no tanque (utilizando a curva plástica) ou
verbal, ou seja, transmitindo informações através das palavras. 
em um cano exclusivo para o escoamento, com diâmetro mínimo de 5 cm. O final
Para exemplificar essa definição, confira um poema de Fernando Pessoa, que
da mangueira deve estar a uma altura de 0,85 a 1,20 m para o correto
utiliza as palavras para expressar seus sentimentos. 
funcionamento da Lavadora.
Caso o local de instalação não tenha as condições adequadas, providencie as
Autopsicografia
modificações, consultando um profissional de sua confiança.
O poeta é um fingidor. 
(Manual de Instruções da Lavadora Brastemp Ative Automática 9 kg)
Finge tão completamente 
Bula de Remédio
Que chega a fingir que é dor 
Apresentação de Norfloxacino (Laboratório: Medley, Referência: Floxacin)
A dor que deveras sente. 
Comprimidos revestidos de 400 mg. Embalagens com 6 e 14 comprimidos
revestidos. USO ADULTO - USO ORAL
E os que lêem o que escreve, 
COMPOSIÇÃO
Na dor lida sentem bem, 
Cada comprimido revestido contém:
Não as duas que ele teve, 
Norfloxacino ................................................................................ 400 mg
Mas só a que eles não têm. 
excipientes q.s.p. ................................................................. 1 comprimido
(celulose microcristalina, croscarmelose sódica, dióxido de silício, estearilfumarato
E assim nas calhas de roda 
de sódio, lactose monoidratada, laurilsulfato de sódio, talco, álcool polivinílico,
Gira, a entreter a razão, 
dióxido de titânio, macrogol, corante laca amarelo crepúsculo).
Esse comboio de corda 
Norfloxacino - Indicações
Que se chama coração.
O Norfloxacino é indicado para tratamento das seguintes infecções:
- infecções do trato urinário;
Linguagem não verbal
- inflamação do estômago e intestino (gastrenterite) causada por alguns tipos de
A outra forma de comunicação, que não é feita nem por sinais verbais nem pela
bactérias;
escrita, é a linguagem não verbal. Portanto, ela basicamente vai lidar com imagens.
- gonorreia;
Nesse caso, o código a ser utilizado é através da simbologia. A linguagem não
- febre tifoide;
verbal é constituída por gestos, tom de voz, entre outras coisas. Portanto, é possível
O Norfloxacino pode também ser usado para a prevenção das infecções nos
notar que a ausência de palavras não significa a ausência de texto. 
seguintes casos:
- contagem baixa de leucócitos: nestes casos, seu corpo fica mais sensível a
Por exemplo: 
infecções causadas por bactérias que fazem parte da flora intestinal;
• Se uma pessoa está dirigindo e vê o sinal vermelho, qual a primeira reação a se
- quando você visitar locais em que possa ficar exposto a bactérias que possam
fazer? Parar.
causar inflamação do estômago e intestinos (gastrenterite).
Pois bem, essa comunicação é feita através da linguagem não verbal. 
Contra-indicações de Norfloxacino
Ao contrário do que muitos pensam, a linguagem não verbal é utilizada
Você não deve tomar Norfloxacino se: apresentar hipersensibilidade a qualquer
constantemente na vida das pessoas. Um exemplo disso é através dos sinais de
componente do produto ou a antibióticos quinolônicos.
trânsito. 
Receita
Os gestos e a expressão corporal também são classificados como uma linguagem
Massa de Panqueca Simples
não verbal. Por exemplo:
Ingredientes:
• Quando um pai diz de forma áspera, gritando e com uma expressão agressiva,
1 ovo
que ama o filho, será que ele interpretará assim? Bem provável que não.
1 xícara de farinha de trigo
1 xícara de leite
Linguagem mista ou linguagem híbrida
1 pitada de sal
A comunicação entre pessoas quase sempre se estabelece através de gestos e
1 colher de sopa de óleo
palavras, havendo, portanto, a junção das duas formas de linguagem. Essa junção
Modo de Preparo: Bata todos os ingredientes no liquidificador. A seguir, aqueça
é definida como linguagem mista. 
uma frigideira untada com um fio de óleo em fogo baixo.
Isso pode ser visto também nas revistas em quadrinhos, que comunicam através de
Coloque um pouco da massa na frigideira não muito quente e esparrame de modo
imagens e palavras. 
a cobrir todo o fundo e ficar só uma camada fina de massa.
Deixe igualar os dois lados, até que fiquem levemente douradas. Retire com a
espátula, e sirva com o recheio de sua preferência.
Sugestão de recheio: carne moída, queijo e geleia.

 Linguagem Verbal e Não Verbal


Todo ato comunicativo se dá pela ação da linguagem, que podem ser definidas
como linguagem verbal e não verbal. Em outras palavras, essas formas de
linguagem são definidas como modalidades comunicativas. Isso significa que será
necessário a ação de um emissor e de um receptor, com o intuito de receber ou
transmitir uma mensagem. 
Linguagem verbal: também chamada de linguagem verbalizada, é expressa por
meio de palavras escritas ou faladas. 
Linguagem não verbal: utiliza signos visuais, como, por exemplo, os gestos,
As revistas em quadrinho são exemplos que usam linguagem verbal e não verbal.
postura, ilustrações, placas, músicas.  (Imagem: Pxhere)
Além dessas, uma outra forma de linguagem pode ser utilizada no dia a dia que Questão 1
é linguagem mista, também conhecida como linguagem híbrida. Nela é possível
Introdução a Alda
encontrar as linguagens verbal e não verbal juntas, com objetivo de passar uma
Dizem que ninguém mais a ama. Dizem que foi uma boa pessoa. Sua filha de doze
única mensagem. 
anos não a visita nunca e talvez raramente se lembre dela. Puseram-na numa

6
cidade triste de uniformes azuis e jalecos brancos, de onde não pôde mais sair. Lá, (...)
todos gritam-lhe irritados, mal se aproxima, ou lhe batem, como se faz com sacos O receio de cometer indiscrição exibindo em público pessoas que tiveram comigo
de areia para treinar os músculos. convivência forçada já não me apoquenta. Muitos desses antigos companheiros
Sei que para todos ela já não é, e ninguém lhe daria uma maçã cheirosa, bem distanciaram-se, apagaram-se.
vermelha. Mas não é verdade que alguém não a possa mais amar. Eu amo-a. Amo- 10
Outros permaneceram junto a mim, ou vão reaparecendo ao cabo de longa
a quando a vejo por trás das grades de um palácio, onde se refugiou princesa, ausência, alteram-se, completam-se, avivam recordações meio confusas − e não
chegada pelos caminhos da dor. Quando fora do reino sente o mundo de mil lanças, vejo inconveniência em mostrá-los.
e selvagem prepara-se, posta no olhar. Amo-a quando criança brinca na areia sem (...)
medo. Uns pés descalços, uma mulher sem intenções. Cercada de mundo, às E aqui chego à última objeção que me impus. 13Não resguardei os apontamentos
vezes sofrendo-o ainda. obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui
CANÇADO, M. L. O sofredor do ver. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. obrigado a atirá-los na água. 6Certamente me irão fazer falta, mas terá sido uma
Ao descrever uma mulher internada em um hospital psiquiátrico, o narrador compõe perda irreparável? Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material.
um quadro que expressa sua percepção 17
Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia
a) irônica quanto aos efeitos do abandono familiar. por dizer com rigor a hora exata de uma partida, 11quantas demoradas tristezas se
b) resignada em face dos métodos terapêuticos em vigor. aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das folhas que tombavam das
c) alimentada pela imersão lírica no espaço da segregação. árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases
d) inspirada pelo universo pouco conhecido da mente humana. autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso? 15Essas coisas
e) demarcada por uma linguagem alinhada à busca da lucidez. verdadeiras podem não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras,
O tempo em que o mundo tinha a nossa idade porém, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las.
7
Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. (...) 14Nesta reconstituição
5
Nesse entretempo, ele nos chamava para escutarmos seus imprevistos de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado.
improvisos. 1As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que 3
Outros devem possuir lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que não
o mundo. Nenhuma narração tinha fim, o sono lhe apagava a boca antes do recusem as minhas: 4conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de
desfecho. 9Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso. 6Não lhe realidade. Formamos um grupo muito complexo, que se desagregou. De repente
deitávamos dentro da casa: ele sempre recusara cama feita. 10Seu conceito era que nos surge a necessidade urgente de recompô-lo. Define-se o ambiente, as figuras
a morte nos apanha deitados sobre a moleza de uma esteira. Leito dele era o puro se delineiam, vacilantes, ganham relevo, a ação começa. 18Com esforço
chão, lugar onde a chuva também gosta de deitar. Nós simplesmente lhe desesperado arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos. Dúvidas terríveis
encostávamos na parede da casa. Ali ficava até de manhã. Lhe encontrávamos nos assaltam. De que modo reagiram os caracteres em determinadas
coberto de formigas. Parece que os insectos gostavam do suor docicado do velho circunstâncias? O ato que nos ocorre, nítido, irrecusável, terá sido realmente
Taímo. 7Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua pele. praticado? Não será incongruência? Certo a vida é cheia de incongruências, mas
− Chiças: transpiro mais que palmeira! estaremos seguros de não nos havermos enganado? Nessas vacilações dolorosas,
Proferia tontices enquanto ia acordando. 8Nós lhe sacudíamos os infatigáveis 12
às vezes necessitamos confirmação, apelamos para reminiscências alheias,
bichos. Taímo nos sacudia a nós, incomodado por lhe dedicarmos cuidados. convencemo-nos de que a minúcia discrepante não é ilusão. Difícil é sabermos a
2
Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. Como dormia causa dela, 8desenterrarmos pacientemente as condições que a determinaram.
fora, nem dávamos conta. Minha mãe, manhã seguinte, é que nos convocava: Como isso variava em excesso, era natural que variássemos também,
− Venham: papá teve um sonho! apresentássemos falhas. Fiz o possível por entender aqueles homens, penetrar-
3
E nos juntávamos, todos completos, para escutar as verdades que lhe tinham lhes na alma, sentir as suas dores, admirar-lhes a relativa grandeza, enxergar nos
sido reveladas. Taímo recebia notícia do futuro por via dos antepassados. Dizia seus defeitos a sombra dos meus defeitos. Foram apenas bons propósitos: devo
tantas previsões que nem havia tempo de provar nenhuma. Eu me perguntava ter-me revelado com frequência egoísta e mesquinho. E esse desabrochar de
sobre a verdade daquelas visões do velho, estorinhador como ele era. sentimentos maus era a pior tortura que nos podiam infligir naquele ano terrível.
− Nem duvidem, avisava mamã, suspeitando-nos. GRACILIANO RAMOS
E assim seguia nossa criancice, tempos afora. 4Nesses anos ainda tudo tinha Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2002.

sentido: a razão deste mundo estava num outro mundo inexplicável. 11Os mais Questão 4
velhos faziam a ponte entre esses dois mundos. (...) Em sua reflexão acerca das possibilidades de recompor a memória para escrever o
Mia Couto livro, o narrador utiliza um procedimento de construção textual que contribui para a
Terra sonâmbula. São Paulo, Cia das Letras, 2007.
Questão 2 expressão de suas inquietudes. Tal procedimento pode ser identificado como:
a) encadeamento de fatos passados b) extensão de parágrafos narrativos
Este texto é uma narrativa ficcional que se refere à própria ficção, o que caracteriza c) sequência de frases interrogativas d) construção de diálogos presumidos
uma espécie de metalinguagem. Questão 5
A metalinguagem está melhor explicitada no seguinte trecho:
a) As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo. Normalmente, é possível omitir elementos de construção de frases sem dificultar a
(ref. 1) compreensão do leitor, uma vez que ficam subentendidos pelo conjunto da própria
b) Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. (ref. 2) estrutura ou pela sequência em que se apresentam.
c) E nos juntávamos, todos completos, para escutar as verdades que lhe tinham O exemplo do texto em que há omissão de elementos de construção de frases, sem
sido reveladas. (ref. 3) prejuízo da compreensão, é:
d) Nesses anos ainda tudo tinha sentido: (ref. 4) a) com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase
Questão 3 impossível, redigir esta narrativa. (ref.16)
b) Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-
Irerê, meu passarinho do sertão do Cariri, ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, (ref.17)
Irerê, meu companheiro, c) Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade. (ref.7)
Cadê viola? Cadê meu bem? Cadê Maria? d) Com esforço desesperado arrancamos de cenas confusas alguns fragmentos.
Ai triste sorte a do violeiro cantadô! Dúvidas terríveis nos assaltam. (ref.18)
Ah! Sem a viola em que cantava o seu amô, Questão 6
Ah! Seu assobio é tua flauta de irerê:
Que tua flauta do sertão quando assobia, Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. (ref.15)
Ah! A gente sofre sem querê! Com a frase acima, o escritor lembra um princípio básico da literatura: a
Ah! Teu canto chega lá no fundo do sertão, verossimilhança − isto é, a semelhança com a verdade − é mais importante do que
Ah! Como uma brisa amolecendo o coração, a verdade mesma. A melhor explicação para este princípio é a de que a invenção
Ah! Ah! narrativa se mostra mais convincente se:
Irerê, solta teu canto! a) parece contar uma história real b) quer mostrar seu caráter ficcional
Canta mais! Canta mais! c) busca apoiar-se em fatos conhecidos d) tenta desvelar as contradições sociais
Prá alembrá o Cariri! Questão 7
VILLA-LOBOS, H. Bachianas Brasileiras n. 5 para soprano e oito violoncelos (1938-1945). Disponível em:
http://euterpe.blog.br. Acesso em: 23 abr. 2019.
Nesses verbos, há uma exaltação ao sertão do Cariri em uma ambientação
linguisticamente apoiada no(a)
a) uso recorrente de pronomes.
b) variedade popular da língua portuguesa.
c) referência ao conjunto da fauna nordestina.
d) exploração de instrumentos musicais eruditos.
e) predomínio de regionalismos lexicais nordestinos.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
Memórias do cárcere
1
Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos − e,
antes de começar, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. Não
conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e assim, 16com o decorrer do
tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta
narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que
outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante
se verá. 2Também me afligiu a ideia de jogar no papel criaturas vivas, sem
disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, A fim de contribuir para a diminuição do número de acidentes de trânsito, essa
9
dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito campanha
de 5utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se a) proíbe o uso de remédios para evitar o sono na direção.
vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e b) dá dicas aos motoristas sobre diminuição do cansaço físico.
obliteradas? c) apresenta a capotagem como consequência da direção perigosa.

7
d) atribui ao motorista a responsabilidade pela segurança no trânsito. a) carência
e) conscientiza o motorista sobre a necessidade de controle da velocidade nas b) desespero
estradas. c) inabilidade
Questão 7 d) intolerância
Leia o poema e responda à questão que se segue. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
A fermosura desta fresca serra Leia a narrativa “O leão, o burro e o rato”, de Millôr Fernandes.
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros, Um leão, um burro e um rato voltaram, afinal, da caçada que haviam
donde toda a tristeza se desterra; empreendido juntos1 e colocaram numa clareira tudo que tinham caçado: dois
veados, algumas perdizes, três tatus, uma paca e muita caça menor. O leão sentou-
o rouco som do mar, a estranha terra, se num tronco e, com voz tonitruante que procurava inutilmente suavizar, berrou:
o esconder do Sol pelos outeiros, – Bem, agora que terminamos um magnífico dia de trabalho, descansemos
o recolher dos gados derradeiros, aqui, camaradas, para a justa partilha do nosso esforço conjunto. Compadre burro,
das nuvens pelo ar a branda guerra; por favor, você, que é o mais sábio de nós três, com licença do compadre rato,
você, compadre burro, vai fazer a partilha desta caça em três partes absolutamente
enfim, tudo o que a rara natureza iguais. Vamos, compadre rato, até o rio, beber um pouco de água, deixando nosso
com tanta variedade nos oferece, grande amigo burro em paz para deliberar.
se está, se não te vejo, magoando. Os dois se afastaram, foram até o rio, beberam água 2 e ficaram um tempo.
Voltaram e verificaram que o burro tinha feito um trabalho extremamente
Sem ti, tudo me enoja e me aborrece; meticuloso, dividindo a caça em três partes absolutamente iguais. Assim que viu os
sem ti, perpetuamente estou passando, dois voltando, o burro perguntou ao leão:
nas mores alegrias, mor tristeza. – Pronto, compadre leão, aí está: que acha da partilha?
É correto afirmar que, no soneto de Camões, O leão não disse uma palavra. Deu uma violenta patada na nuca do burro,
a) a beleza natural aborrece o eu lírico, uma vez que se transforma em objeto de prostrando-o no chão, morto.
suas maiores tristezas. Sorrindo, o leão voltou-se para o rato e disse:
b) a variedade da paisagem está em harmonia com o sentimento do eu lírico porque – Compadre rato, lamento muito, mas tenho a impressão de que concorda
a relação amorosa é imperfeita. em que não podíamos suportar a presença de tamanha inaptidão e burrice.
c) a harmonia da natureza consola o eu lírico das imperfeições da vida e da Desculpe eu ter perdido a paciência, mas não havia outra coisa a fazer. Há muito
ausência da pessoa amada. que eu não suportava mais o compadre burro. Me faça um favor agora – divida você
d) a singularidade da natureza entristece o eu lírico quando ele está distante da o bolo da caça, incluindo, por favor, o corpo do compadre burro. Vou até o rio,
pessoa amada. novamente, deixando-lhe calma para uma deliberação sensata.
Questão 9 Mal o leão se afastou, o rato não teve a menor dúvida. Dividiu o monte de
caça em dois: de um lado, toda a caça, inclusive o corpo do burro. Do outro, apenas
É possível afirmar que muitas expressões idiomáticas transmitidas pela cultura um ratinho cinza morto por acaso. O leão ainda não tinha chegado ao rio, quando o
regional possuem autores anônimos, no entanto, algumas delas surgiram em rato o chamou:
consequência de contextos históricos bem curiosos. “Aquele é um cabra da peste” é – Compadre leão, está pronta a partilha!
um bom exemplo dessas construções. O leão, vendo a caça dividida de maneira tão justa, não pôde deixar de
Para compreender essa expressão tão repetida no Nordeste brasileiro, faz-se cumprimentar o rato:
necessário voltar o olhar para o século 16. “Cabra” remete à forma com que os – Maravilhoso, meu caro compadre, maravilhoso! Como você chegou tão
navegadores portugueses chamavam os índios. Já “peste” estaria ligada à questão depressa a uma partilha tão certa?
da superação e resistência, ou mesmo uma associação com o diabo. Assim, com o E o rato respondeu:
passar dos anos, passou-se a utilizar tal expressão para denominar qualquer – Muito simples. Estabeleci uma relação matemática entre seu tamanho e o
indivíduo que se mostre corajoso, ou mesmo insolente, já que a expressão pode ter meu – é claro que você precisa comer muito mais. Tracei uma comparação entre a
caráter positivo ou negativo. Aliás, quem já não ficou de “nhenhenhém” por aí? O sua força e a minha – é claro que você precisa de muito maior volume de
termo, que normamente tem significado de conversa interminável, monótona ou alimentação do que eu. Comparei, ponderadamente, sua posição na floresta com a
resmungo, tem origem no tupi-guarani e “nhém” significa “falar”. minha – e, evidentemente, a partilha só podia ser esta. Além do que, sou um
Disponível em: http:///leiturasdahistoria.uol.com.br. Acesso em: 13 dez. 2017.
A leitura do texto permite ao leitor entrar em contato com intelectual, sou todo espírito!
a) registros do inventário do português brasileiro. – Inacreditável, inacreditável! Que compreensão! Que argúcia! – exclamou o
b) justificativas da variedade linguística do país. leão, realmente admirado. – Olha, juro que nunca tinha notado, em você, essa
c) influências da fala do nordestino no uso da língua. cultura. Como você escondeu isso o tempo todo, e quem lhe ensinou tanta
d) explorações do falar de um grupo social específico. sabedoria?
e) representações da mudança linguística do português. – Na verdade, leão, eu nunca soube nada. Se me perdoa um elogio fúnebre,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: se não se ofende, acabei de aprender tudo agora mesmo, com o burro morto.
7
De repente voltou-me a ideia de construir o livro. (...)
1
Desde então procuro descascar fatos, aqui sentado à mesa da sala de Moral: Só um burro tenta ficar com a parte do leão.
jantar (...).
Às vezes, entro pela noite, passo tempo sem fim acordando lembranças.
1
A conjugação de esforços tão heterogêneos na destruição do meio ambiente é
Outras vezes não me ajeito com esta ocupação nova. coisa muito comum.
Anteontem e ontem, por exemplo, foram dias perdidos. 3Tentei debalde
2
Enquanto estavam bebendo água, o leão reparou que o rato estava sujando a
canalizar para termo razoável esta prosa que se derrama como a chuva da serra, e água que ele bebia. Mas isso já é outra fábula.
(100 fábulas fabulosas, 2012.)
o que me apareceu foi um grande desgosto. 8Desgosto e a vaga compreensão de Questão 11
muitas coisas que sinto.
9
Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo perfeita saúde. (...) Não “E o rato respondeu:
tenho doença nenhuma. – Muito simples. Estabeleci uma relação matemática entre seu tamanho e o meu –
O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. 10Cinquenta anos é claro que você precisa comer muito mais.” (12º e 13º parágrafos)
perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os Ao se transpor esse trecho para o discurso indireto, o termo sublinhado assume a
outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta seguinte forma:
casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada. a) teria estabelecido. b) estabeleceria. c) estabelecia.
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida d) estabeleceu. e) tinha estabelecido.
inteira sem saber para quê! Questão 12
2
Comer e dormir como um porco! Como um porco! Levantar-se cedo todas Se for possível, manda-me dizer:
as manhãs e sair correndo, procurando comida! 4E depois guardar comida para os – É lua cheia. A casa está vazia –
filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! (...) Manda-me dizer, e o paraíso
5
Coloquei-me acima da minha classe, creio que me elevei bastante. Como Há de ficar mais perto, e mais recente
lhes disse, 6fui guia de cego, vendedor de doce e trabalhador alugado. Estou Me há de parecer teu rosto incerto.
convencido de que nenhum desses ofícios me daria os recursos intelectuais Manda-me buscar se tens o dia
necessários para engendrar esta narrativa. Magra, de acordo, mas em momentos Tão longo como a noite. Se é verdade
de otimismo suponho que há nela pedaços melhores que a literatura do Gondim. Que sem mim só vês monotonia.
Sou, pois, superior a mestre Caetano e a outros semelhantes. Considerando, E se te lembras do brilho das marés
porém, que os enfeites do meu espírito se reduzem a farrapos de conhecimentos De alguns peixes rosados
apanhados sem escolha e mal cosidos, devo confessar que a superioridade que me Numas águas
envaidece é bem mesquinha. E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
(...) – É lua nova –
Quanto às vantagens restantes – casas, terras, móveis, semoventes, E revestida de luz te volto a ver.
consideração de políticos, etc. – é preciso convir em que tudo está fora de mim. HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 2018
11
Julgo que me desnorteei numa errada. Falando ao outro, o eu lírico revela-se vocalizando um desejo que remete ao
GRACILIANO RAMOS a) ceticismo quanto à possibilidade do reencontro.
São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2004. b) tédio provocado pela distância física do ser amado.
Questão 10 (Uerj 2011) c) sonho de autorrealização desenhado pela memória.
d) julgamento implícito das atitudes de quem se afasta.
Comer e dormir como um porco! Como um porco! (ref. 2) e) questionamento sobre o significado do amor ausente.
A repetição das palavras, neste contexto, constitui recurso narrativo que revela um Questão 13
traço relativo ao personagem.
Esse traço pode ser definido como: Leia:

8
– Nem remédio ingeri, a moribunda esclarecia. saltou e atravessou a rua sob o olhar perseguidor da rapaziada que ia no bonde.
Passando para o Discurso Indireto o fragmento acima, de acordo com a norma Houve tempo em que Clarete se chamava simplesmente Clara. Tinha, então,
gramatical, tem-se: os cabelos compridos, pestanas sem rímel, sobrancelhas cerradas, uma magreza
a) Esclarecia a moribunda que nem ingeriria remédio. de menina que ajuda a mãe na vida difícil e um desejo indisfarçável de acabar com
b) A moribunda esclareceu que nem remédio iria ingerir. as sardas que lhe 8pintalgavam as faces e punham no narizinho arrebitado uma
c) Que nem remédio iria ingerir, a moribunda esclareceria. graça brejeira.
d) A moribunda esclarecia que nem remédio tinha ingerido. Trabalhava numa fábrica de caixas de papelão e vinha para a casa às quatro e
Questão 14 meia, quando não havia serão, doidinha de fome e recendendo a cola de peixe.
Peroração, do latim perorātio, peroratiōnis, de perorāre, significa concluir, Quando ela passava, os meninos buliam na certa:
arrematar, acabar. Corresponde à parte final do sermão, caracterizada geralmente – Ovo de tico-tico! Ovo de tico-tico!
pela recapitulação, pela amplificação de uma ideia e pela comoção do auditório. Ela arredondava-lhes um palavrãozinho que aprendera na fábrica com a
Sua finalidade última é comover e mover os ouvintes, isto é, emocionar e mover o Santinha e continuava a subir a ladeira comprida, rebolando, provocante. (...)
ânimo do público para a ação. Verdade é que eles a chamavam de ovo de tico-tico, menos pelas sardas do
(Adaptado de Flávio Antônio Fernandes Reis, “Peroração”. Disponível em que por despeito. Ela não dava confiança a nenhum – vê lá!... – e no coração deles
www.edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/peroracao. Acessado em 06/10/2020.) andava uma loucura por Clarete. Ai! se ela quisesse!... – suspiravam todos
“Mortos, mortos, desenganai estes vivos! Dizei-nos que pensamentos e que intimamente. Ela, porém, não queria, estava mais que visto. E eles ficavam se
sentimentos foram os vossos, quando entrastes e saístes pelas portas da morte. regalando amoravelmente com o palavrãozinho jogado assim num desprezo
(...) Entre essas duas portas se acha subitamente o homem no momento da morte, superior, pela boca minúscula que todas as noites aparecia, tentadoramente se
sem poder tornar atrás, nem parar, nem fugir, nem dilatar, senão entrar para onde ofertando, nos seus sonhos juvenis.
não sabe, e para sempre. Oh que transe tão apertado! Oh que passo tão estreito! Marques Rebello
Oh que momento tão terrível!” Contos reunidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
(Antonio Vieira, “Sermão de 1672”. Sermões de Quarta-feira de Cinza. A arte de morrer: São Paulo: Nova cinemático − que se movimenta em várias direções
3

Alexandria,1994, p. 65.) arrumar-lhe − dirigir-lhe 7beque – zagueiro 8pintalgar − pintar


6

a) Identifique e explique as duas estratégias retóricas utilizadas por Vieira ao Questão 16


encaminhar-se para a conclusão do Sermão de 1672. Rosas. Que nome! Não lhe entrava na cabeça que uma pessoa pudesse se chamar
b) Com que sentimentos o pregador busca sensibilizar os ouvintes? Que ação Rosas.
procura estimular nos cristãos? Nem Rosas, nem Flores. Que esquisitice, já se viu?
Questão 15 Arregalou os olhos fotogênicos.
Estojo escolar – Que amor!
Rio de Janeiro – Noite dessas, ciscando num desses canais a cabo, vi uns caras Uma senhora ocupava o banco da frente, com um chapéu, rico, de feltro, enterrado
oferecendo maravilhas eletrônicas, bastava telefonar e eu receberia um notebook até às sobrancelhas. (ref. 4)
capaz de me ajudar a fabricar um navio, uma estação espacial.
[...] Como pretendo viajar esses dias, habilitei-me a comprar aquilo que os caras No trecho acima, o autor utiliza tanto o discurso indireto livre quanto o discurso
anunciavam como o top do top em matéria de computador portátil. direto.
No sábado, recebi um embrulho complicado que necessitava de um manual de Transcreva uma frase que exemplifica o emprego do discurso indireto livre. Indique,
instruções para ser aberto. ainda, a cena desse mesmo trecho que motivou o uso do discurso direto pela
[...] De repente, como vem acontecendo nos últimos tempos, houve um corte na personagem.
memória e vi diante de mim o meu primeiro estojo escolar. Tinha 5 anos e ia para o Questão 17
jardim de infância.
Era uma caixinha comprida, envernizada, com uma tampa que corria nas bordas do
corpo principal. Dentro, arrumados em divisões, havia lápis coloridos, um
apontador, uma lapiseira cromada, uma régua de 20 cm e uma borracha para
apagar meus erros.
[...] Da caixinha vinha um cheiro gostoso, cheiro que nunca esqueci e que me
tonteava de prazer. [...]
O notebook que agora abro é negro e, em matéria de cheiro, é abominável. Cheira
vilmente a telefone celular, a cabine de avião, a aparelho de ultrassonografia onde
outro dia uma moça veio ver como sou por dentro. Acho que piorei de estojo e de
vida.
CONY, C. H. Crônicas para ler na escola. São Paulo: Objetiva, 2009 (adaptado).
No texto, há marcas da função da linguagem que nele predomina. Essas marcas
são responsáveis por colocar em foco o(a)
a) mensagem, elevando-a à categoria de objeto estético do mundo das artes.
b) código, transformando a linguagem utilizada no texto na própria temática Considerando-se os elementos constitutivos do texto, esse anúncio visa resolver um
abordada. problema relacionado ao(à)
c) contexto, fazendo das informações presentes no texto seu aspecto essencial. a) falta de cuidado com o meio ambiente.
d) enunciador, buscando expressar sua atitude em relação ao conteúdo do b) uso indiscriminado de fontes de energia.
enunciado. c) escassez de água em diversos pontos do planeta.
e) interlocutor, considerando-o responsável pelo direciona mento dado à narrativa d) carência de medidas de controle de poluição ambiental.
pelo enunciador. e) ausência de ações de reciclagem de objetos descartáveis.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Questão 18
FELICIDADE
A Equipe AzMina fez um experimento buscando no Google “frases para o Dia das
1
Olhou para o céu, certificando-se de que não ia chover.
Mães”. E o resultado foi um festival de frases que romantizam a maternidade.
– Passa já pra dentro, Jaú. Olha a carrocinha!
Ativaram, então, “sua caneta desromantizadora” para “corrigir” essas frases que
Jaú, costelas à mostra e rabinho impertinente, continuou impassível a se
estamos tão acostumados a ouvir, e muitas vezes reproduzir.
espichar ao sol, num desrespeito sem nome à sua dona e numa ignorância santa
das perseguições municipais.
2
Clarete também teve o bom senso de não insistir, o que aliás era uma das
suas mais evidentes qualidades. Carregou mais uma vez a boina escarlate sobre o
olhar 3cinemático, bateu a porta com força – té logo, mamãe! – e desceu apressada,
sob um sol de rachar pedras, a extensa ladeira para apanhar o bonde, pois tinha de
estar às oito e meia, sob pena de repreensão, na estação Sul da Cia. Telefônica.
No bonde, afinal, tirou da bolsa o reloginho-pulseira e deu-lhe corda. Era um
bom relógio aquele. Também, era Longines e no rádio do vizinho, que se mudara,
um sujeito mal-encarado, ouvira sempre dizer que era o relógio mais afamado do
mundo inteiro. Fora presente de seu Rosas quando ela morava na avenida. E, à
falta de outra coisa, foi remexendo o seu passado pequenino com a lembrança do
seu Rosas.
4
Rosas. Que nome! Não lhe entrava na cabeça que uma pessoa pudesse se
chamar Rosas. Nem Rosas, nem Flores. Que esquisitice, já se viu?
Arregalou os olhos fotogênicos.
– Que amor!
Uma senhora ocupava o banco da frente, com um chapéu, rico, de feltro,
enterrado até às
sobrancelhas. O solavanco da curva não a deixou ter inveja. Calculou o preço,
assim por alto: cento e poucos mil-réis, no mínimo. Quase seu ordenado. Quase... E
sem querer voltou a seu Rosas.
Fora ele quem lhe dera aquele reloginho. A mãe torcera o nariz, nada, porém,
dissera. Devia contudo ter pensado dela coisas bem feias. Clarete sorriu. 5O rapaz
da ponta, com o Rio Esportivo aberto nas mãos e os olhos pregados nela, sorriu
também. Clarete 6arrumou-lhe em cima um olhar que queria dizer: idiota! e o rapaz
zureta afundou os óculos de tartaruga na entrevista do 7beque carioca sobre o jogo
contra os paulistas.
(...)
Praia de Botafogo. Meu Deus! Pendurou-se nervosamente na campainha,

9
da personagem ao enunciado do narrador; o enunciado da personagem não se
prende a um verbo de elocução, nem é introduzido por conjunção subordinativa. O
discurso indireto livre, em muitos casos, não deixa claro quem está com a palavra,
se o narrador ou a personagem. O que permite distinguir é estar sendo relatado o
pensamento da personagem, o qual é dela e não do narrador, por mais que este
com ela se identifique.
(Nilce Sant’Anna Martins. Introdução à estilística, 1989. Adaptado.)
Transcreva duas frases da crônica que podem ser consideradas exemplos de
discurso indireto livre.
b) Reescreva o trecho “– Aonde você prefere ir? – perguntou, ao saírem.” (10º
parágrafo) em discurso indireto e reescreva o trecho “No apartamento, ela apontou-
lhe o banheiro e disse-lhe que o usasse sem cerimônia.” (15º parágrafo) em
discurso direto.

As frases são “desromantizadas” porque a Equipe AzMina reconhece TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
a) o sofrimento como condição para a vocação materna e para a realização Examine a tira de André Dahmer para responder à(s) questão(ões) a seguir.
feminina.
b) o amor materno como herança familiar, mesmo quando ele é remunerado.
c) a sobrecarga das mães na criação dos filhos, considerando também outras
formas de maternidade.
d) a maternidade como sendo difícil, trabalhosa e, ainda assim, heroica e instintiva.
Questão 19
É através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o conhecimento
e entendimento de si própria e do mundo que a cerca. É na linguagem que se
refletem a identificação e a diferenciação de cada comunidade e também a inserção
do indivíduo em diferentes agrupamentos, estratos sociais, faixas etárias, gêneros,
graus de escolaridade. A fala tem, assim, um caráter emblemático, que indica se o
falante é brasileiro ou português, francês ou italiano, alemão ou holandês,
americano ou inglês, e, mais ainda, sendo brasileiro, se é nordestino, sulista ou
carioca. A linguagem também oferece pistas que permitem dizer se o locutor é
homem ou mulher, se é jovem ou idoso, se tem curso primário, universitário ou se é
iletrado. E, por ser um parâmetro que permite classificar o indivíduo de acordo com
sua nacionalidade e naturalidade, sua condição econômica ou social e seu grau de
instrução, é frequentemente usado para discriminar e estigmatizar o falante.
LEITE, Y.; CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
Nesse texto acadêmico, as autoras fazem uso da linguagem formal para
a) estabelecer proximidade com o leitor.
b) atingir pessoas de vários níveis sociais.
c) atender às características do público leitor.
d) caracterizar os diferentes falares brasileiros.
e) atrair leitores de outras áreas do conhecimento.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia a crônica “Caso de secretária”, de Carlos Drummond de Andrade.
Foi trombudo para o escritório. Era dia de seu aniversário, e a esposa nem
sequer o abraçara, não fizera a mínima alusão à data. As crianças também tinham Questão 20
se esquecido. Então era assim que a família o tratava? Ele que vivia para os seus,
que se arrebentava de trabalhar, não merecer um beijo, uma palavra ao menos! Constituem exemplos de linguagem formal e de linguagem coloquial,
Mas, no escritório, havia flores à sua espera, sobre a mesa. Havia o sorriso e respectivamente, as seguintes falas:
o abraço da secretária, que poderia muito bem ter ignorado o aniversário, e a) “Ah, estou morrendo de pena...” e “Ainda vou trabalhar a noite inteira no Iraque,
entretanto o lembrara. Era mais do que uma auxiliar, atenta, experimentada e meu rapaz.”
eficiente, pé de boi da firma, como até então a considerara; era um coração amigo. b) “Me adianta essa, vai...” e “É cedo para mim.”
Passada a surpresa, sentiu-se ainda mais borocoxô: o carinho da secretária c) “O importante é trabalhar com o que a gente gosta.” e “Posso lhe dar um
não curava, abria mais a ferida. Pois então uma estranha se lembrava dele com tais emprego bem melhor...”
requintes, e a mulher e os filhos, nada? Baixou a cabeça, ficou rodando o lápis d) “É cedo para mim.” e “Posso lhe dar um emprego bem melhor...”
entre os dedos, sem gosto para viver. e) “Posso lhe dar um emprego bem melhor...” e “Me adianta essa, vai...”
Durante o dia, a secretária redobrou de atenções. Parecia querer consolá-lo, TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
como se medisse toda a sua solidão moral, o seu abandono. Sorria, tinha palavras Sobre a origem da poesia
amáveis, e o ditado da correspondência foi entremeado de suaves brincadeiras da A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem.
parte dela. Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de
– O senhor vai comemorar em casa ou numa boate? ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais
Engasgado, confessou-lhe que em parte nenhuma. Fazer anos é uma droga, íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, 1a poesia aponta para um
ninguém gostava dele neste mundo, iria rodar por aí à noite, solitário, como o lobo uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência
da estepe. nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios
– Se o senhor quisesse, podíamos jantar juntos – insinuou ela, ou telefonemas.
discretamente.
4
Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a
E não é que podiam mesmo? Em vez de passar uma noite besta, ressentida integridade entre nome e coisa − que o tempo e as culturas do homem civilizado
– o pessoal lá em casa pouco está me ligando –, teria horas amenas, em trataram de separar no decorrer da história.
companhia de uma mulher que – reparava agora – era bem bonita. A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos
Daí por diante o trabalho foi nervoso, nunca mais que se fechava o escritório. flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação
Teve vontade de mandar todos embora, para que todos comemorassem o seu rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades − significante e
aniversário, ele principalmente. Conteve-se, no prazer ansioso da espera. significado.
– Aonde você prefere ir? – perguntou, ao saírem. Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em
– Se não se importa, vamos passar primeiro em meu apartamento. Preciso tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim
trocar de roupa. como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda
Ótimo, pensou ele; faz-se a inspeção prévia do terreno, e quem sabe? não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro,
– Mas antes quero um drinque, para animar – ela retificou. sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a
Foram ao drinque, ele recuperou não só a alegria de viver e fazer anos como utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?
começou a fazê-los pelo avesso, remoçando. Saiu bem mais jovem do bar, e
2
Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, projetado sobre um
pegou-lhe do braço. passado pré-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do
No apartamento, ela apontou-lhe o banheiro e disse-lhe que o usasse sem futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado.
cerimônia. Dentro de quinze minutos ele poderia entrar no quarto, não precisava Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que
bater – e o sorriso dela, dizendo isto, era uma promessa de felicidade. ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o
Ele nem percebeu ao certo se estava se arrumando ou se desarrumando, de verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria
tal modo os quinze minutos se atropelaram, querendo virar quinze segundos, no nelas próprias (substantivos), 5não numa partícula verbal externa a elas, o que faria
calor escaldante do banheiro e da situação. Liberto da roupa incômoda, abriu a delas línguas poéticas por natureza, mais propensas à composição analógica.
porta do quarto. Lá dentro, sua mulher e seus filhos, em coro com a secretária,
3
Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os índios
esperavam-no atacando “Parabéns pra você”. americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy − eles dizem “maçã
(70 historinhas, 2016.) vermelha”, “água boa”, “cavalo veloz”; em vez de “a maçã é vermelha”, “essa água
Questão 20 é boa”, “aquele cavalo é veloz”. Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os
a) Além da variedade de discursos diretos e indiretos, a narrativa de ficção, a partir nomes da própria existência − como se a fala não estivesse se referindo àquelas
do final do século XIX, utiliza um tipo de discurso, que consiste na combinação dos coisas, e sim apresentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta).
já existentes, misturando valores estilísticos de um e de outro: é o discurso indireto
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No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa
livre. Como no discurso direto, não há no discurso indireto livre subordinação da fala relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. 7A linguagem

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poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma quando tocava a matraca, reunia-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam, –
via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo. um remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo
(...) eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano, etc. O sistema
Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se tinha inconvenientes para a paz pública; mas era conservado pela grande energia
desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou de divulgação que possuía. Por exemplo, um dos vereadores desfrutava a
como a criação se desapegou da vida. 8Mas temos esses pequenos oásis − os reputação de perfeito educador de cobras e macacos, e aliás nunca domesticara
poemas − contaminando o deserto da referencialidade. um só desses bichos; mas tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os
ARNALDO ANTUNES meses. E dizem as crônicas que algumas pessoas afirmavam ter visto cascavéis
www.arnaldoantunes.com.br
dançando no peito do vereador; afirmação perfeitamente falsa, mas só devida à
Questão 22
absoluta confiança no sistema. Verdade, verdade, nem todas as instituições do
Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, (ref.2) antigo regímen mereciam o desprezo do nosso século.
Neste fragmento, a expressão em destaque é empregada para formar um ASSIS, M. O alienista. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 2 jun. 2019 (adaptado).
conhecido recurso da argumentação. Esse recurso pode ser definido como: O fragmento faz uma referência irônica a formas de divulgação e circulação de
a) admitir uma hipótese para depois discuti-la informações em uma localidade sem imprensa. Ao destacar a confiança da
b) retomar uma informação para depois criticá-la população no sistema da matraca, o narrador associa esse recurso à disseminação
c) relativizar um conceito para depois descrevê-lo de
d) apresentar uma opinião para depois sustentá-la a) campanhas políticas.
Questão 23 b) anúncios publicitários.
No último parágrafo, o autor se refere à plenitude da linguagem poética, fazendo, c) notícias de apelo popular.
em seguida, uma descrição que corresponde à linguagem não poética, ou seja, à d) informações não fidedignas.
linguagem referencial. e) serviços de utilidade pública.
Pela descrição apresentada, a linguagem referencial teria, em sua origem, o Questão 26
seguinte traço fundamental: A expansão do português no Brasil, as variações regionais com suas possíveis
a) o desgaste da intuição explicações e as raízes das inovações da linguagem estão emergindo por meio do
b) a dissolução da memória trabalho de linguistas que estão desenterrando as raízes do português brasileiro ao
c) a fragmentação da experiência examinar cartas pessoais e administrativas, testamentos, relatos de viagens,
d) o enfraquecimento da percepção processos judiciais, cartas de leitores e anúncios de jornais desde o século XVI,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: coletados em instituições como a Biblioteca Nacional e o Arquivo Público do Estado
Recordações do escrivão Isaías Caminha de São Paulo. No acervo de documentos que servem para estudos sobre o
Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa espécie de animal. O que português paulista está uma carta de 1807, escrita pelo soldado Manoel Coelho,
observei neles, no tempo em que estive na redação do O Globo, foi o bastante para que teria seduzido a filha de um fazendeiro. Quando soube, o pai da moça,
não os amar, nem os imitar. 1São em geral de uma lastimável limitação de ideias, enfurecido, forçou o rapaz a se casar com ela. O soldado, porém, bateu o pé: “Nem
cheios de fórmulas, de receitas, 9só capazes de colher fatos detalhados e por bem, nem por mar!”, não se casaria. Um linguista pesquisador estranhou a
impotentes para generalizar, curvados aos fortes e às ideias vencedoras, e antigas, citação, já que o fato se passava na Vila de São Paulo, mas depois percebeu: “Ele
adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por conceitos obsoletos e um quis dizer ‘nem por bem, nem por mal!’. O soldado escrevia como falava. Não se
pueril e errôneo critério de beleza. Se me esforço por fazê-lo literário é para que ele sabe se casou com a filha do fazendeiro, mas deixou uma prova valiosa de como se
possa ser lido, pois quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao falava no início do século XIX.”
espírito geral e no seu interesse, com a linguagem acessível a ele. É esse o meu FIORAVANTI, C. Ora pois, uma língua bem brasileira. Pesquisa Fapesp, n. 230, abr. 2015 (adaptado).

propósito, o meu único propósito. Não nego que para isso tenha procurado modelos O fato relatado evidencia que fenômenos presentes na fala podem aparecer em
e normas. Procurei-os, confesso; e, agora mesmo, ao alcance das mãos, tenho os textos escritos. Além disso, sugere que
autores que mais amo. (...) 5Confesso que os leio, que os estudo, que procuro a) os diferentes falares do português provêm de textos escritos.
descobrir nos grandes romancistas o segredo de fazer. 6Mas não é a ambição b) o tipo de escrita usado pelo soldado era desprestigiado no século XIX.
literária que me move ao procurar esse dom misterioso para animar e fazer viver c) os fenômenos de mudança da língua portuguesa são historicamente previsíveis.
estas pálidas Recordações. Com elas, queria modificar a opinião dos meus d) as formas variantes do português brasileiro atual já figuravam no português
concidadãos, obrigá-los a pensar de outro modo, a não se encherem de hostilidade antigo escrito.
e má vontade quando encontrarem na vida um rapaz como eu e com os desejos e) as origens da norma-padrão do português brasileiro podem ser observadas em
que tinha há dez anos passados. Tento mostrar que são legítimos e, se não textos antigos.
merecedores de apoio, pelo menos dignos de indiferença. Questão 27
7
Entretanto, quantas dores, quantas angústias! 2Vivo aqui só, isto é, sem relações O Instituto de Arte de Chicago disponibilizou para visualização on-line,
intelectuais de qualquer ordem. Cercam-me dois ou três bacharéis idiotas e um compartilhamento ou download (sob licença Creative Commons), 44 mil imagens de
médico mezinheiro, 10repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como obras de arte em altíssima resolução, além de livros, estudos e pesquisas sobre a
tiraram. (...) Entretanto, se eu amanhã lhes fosse falar neste livro - que espanto! que história da arte.
sarcasmo! que crítica desanimadora não fariam. Depois que se foi o doutor Para o historiador da arte, Bendor Grosvenor, o sucesso das coleções on-line de
Graciliano, excepcionalmente simples e esquecido de sua carta apergaminhada, acesso aberto, além de democratizar a arte, vem ajudando a formar um novo
nada digo das minhas leituras, não falo das minhas lucubrações intelectuais a público museológico. Grosvenor acredita que quanto mais pessoas forem expostas
ninguém, e minha mulher, quando me demoro escrevendo pela noite afora, grita-me à arte on-line, mais visitas pessoais acontecerão aos museus.
do quarto: A coleção está disponível em seis categorias: paisagens urbanas, impressionismo,
3
– Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório para amanhã! essenciais, arte africana, moda e animais. Também é possível pesquisar pelo nome
De forma que não tenho por onde aferir se as minhas Recordações preenchem o da obra, estilo, autor ou período. Para navegar pela imagem em alta definição,
fim a que as destino; se a minha inabilidade literária está prejudicando basta clicar sobre ela e utilizar a ferramenta de zoom. Para fazer o download,
completamente o seu pensamento. Que tortura! E não é só isso: envergonho-me disponível para obras de domínio público, é preciso utilizar a seta localizada do lado
por esta ou aquela passagem em que me acho, em que 11me dispo em frente de inferior direito da imagem.
desconhecidos, como uma mulher pública... 12Sofro assim de tantos modos, por Disponível em: www.revistabula.com.
Acesso em: 5 dez. 2018 (adaptado).
causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que às vezes acordo, vem A função da linguagem que predomina nesse texto se caracteriza por
dela, unicamente dela. Quero abandoná-la; mas não posso absolutamente. De a) evidenciar a subjetividade da reportagem com base na fala do historiador de arte.
manhã, ao almoço, na coletoria, na botica, jantando, banhando-me, só penso nela. b) convencer o leitor a fazer o acesso on-line, levando-o a conhecer as obras de
À noite, quando todos em casa se vão recolhendo, insensivelmente aproximo-me da arte.
mesa e escrevo furiosamente. Estou no sexto capítulo e ainda não me preocupei c) informar sobre o acesso às imagens por meio da descrição do modo como
em fazê-la pública, anunciar e arranjar um bom recebimento dos detentores da acessá-las.
opinião nacional. 13Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa também, d) estabelecer interlocução com o leitor, orientando-o a fazer o download das obras
amanhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais hábil que a refaça e que de arte.
diga o que não pude nem soube dizer. e) enaltecer a arte, buscando popularizá-la por meio da possibilidade de
(...) 8Imagino como um escritor hábil não saberia dizer o que eu senti lá dentro. Eu visualização on-line.
que sofri e pensei não o sei narrar. 4Já por duas vezes, tentei escrever; mas, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
relendo a página, achei-a incolor, comum, e, sobretudo, pouco expressiva do que Leia a crônica “Inconfiáveis cupins”, de Moacyr Scliar, para responder à(s)
eu de fato tinha sentido. questão(ões) a seguir.
LIMA BARRETO
Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2010. Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor desconhecido, pobre, atribuía
Questão 24 todas suas frustrações ao artista holandês. Enquanto existirem no mundo aqueles
O texto de Lima Barreto explora o recurso da metalinguagem, ao comentar, na sua horríveis girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes deformados,
ficção, o próprio ato de compor uma ficção. Esse recurso está exemplificado dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu instinto criador.
principalmente em: Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel, às telas de Van Gogh,
a) São em geral de uma lastimável limitação de ideias, (ref. 1) onde quer que estivessem. Começaria pelas mais próximas, as do Museu de Arte
b) Vivo aqui só, isto é, sem relações intelectuais de qualquer ordem. (ref. 2) Moderna de São Paulo.
c) – Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório para amanhã! (ref. 3) Seu plano era de uma simplicidade diabólica. Não faria como outros
d) Já por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a página, achei-a incolor, destruidores de telas que entram num museu armados de facas e atiram-se às
comum, (ref. 4) obras, tentando destruí-las; tais insanos não apenas não conseguem seu intento,
Questão 25 como acabam na cadeia. Não, usaria um método científico, recorrendo a aliados
absolutamente insuspeitados: os cupins.
Naquele tempo, ltaguaí, que, como as demais vilas, arraiais e povoações da Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro lugar, era necessário treinar os
colônia, não dispunha de imprensa, tinha dois modos de divulgar uma notícia; ou cupins para que atacassem as telas de Van Gogh. Para isso, recorreu a uma
por meio de cartazes manuscritos e pregados na porta da Câmara, e da matriz; – ou técnica pavloviana. Reproduções das telas do artista, em tamanho natural, eram
por meio de matraca. recobertas com uma solução açucarada. Dessa forma, os insetos aprenderam a
Eis em que consistia este segundo uso. Contratava-se um homem, por um ou mais diferenciar tais obras de outras.
dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mão. De quando em

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Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo de cupim que só queria riquezas. Não gostas de saborear esta língua e este vinho?
comer Van Gogh. Para ele era repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso AGNOSTOS (A boca entupida, comendo) – Hum.
era o que importava. XANTÓS – Outro prato, Esopo. (Esopo sai à esquerda e volta imediatamente com
Conseguiu introduzir os cupins no museu e ficou à espera do que aconteceria. outro prato coberto. Serve, Xantós de boca cheia.) Que é isto? Ah, língua de
Sua decepção, contudo, foi enorme. Em vez de atacar as obras de arte, os cupins fumeiro! É bom língua de fumeiro, hein, amigo?
preferiram as vigas de sustentação do prédio, feitas de madeira absolutamente AGNOSTOS – Hum. (Xantós serve-se de vinho) /.../ XANTÓS (A Esopo) Serve
vulgar. E por isso foram detectados. outro prato. (Serve) Que trazes aí?
O homem ficou furioso. Nem nos cupins se pode confiar, foi a sua ESOPO – Língua.
desconsolada conclusão. É verdade que alguns insetos foram encontrados XANTÓS – Mais língua? Não te disse que trouxesse o que há de melhor para meu
próximos a telas de Van Gogh. Mas isso não lhe serviu de consolo. Suspeitava que hóspede? Por que só trazes língua? Queres expor-me ao ridículo?
os sádicos cupins estivessem querendo apenas debochar dele. Cupins e Van Gogh, ESOPO – Que há de melhor do que a língua? A língua é o que nos une todos,
era tudo a mesma coisa. quando falamos. Sem a língua nada poderíamos dizer. A língua é a chave das
(O imaginário cotidiano, 2002.) ciências, o órgão da verdade e da razão. Graças à língua dizemos o nosso amor.
Questão 28 Com a língua se ensina, se persuade, se instrui, se reza, se explica, se canta, se
“Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis girassóis, aquelas estrelas descreve, se elogia, se mostra, se afirma. É com a língua que dizemos sim. É a
tumultuadas, aqueles ciprestes deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao língua que ordena os exércitos à vitória, é a língua que desdobra os versos de
meu instinto criador.” (1º parágrafo) Homero. A língua cria o mundo de Ésquilo, a palavra de Demóstenes. Toda a
Ao se transpor o trecho para o discurso indireto, os termos sublinhados assumem a Grécia, Xantós, das colunas do Partenon às estátuas de Pidias, dos deuses do
seguinte redação: Olimpo à glória sobre Tróia, da ode do poeta ao ensinamento do filósofo, toda a
a) existirem, pode, meu. Grécia foi feita com a língua, a língua de belos gregos claros falando para a
b) existissem, poderia, seu. eternidade.
c) existiam, puderem, meu. XANTÓS (Levantando-se, entusiasmado, já meio ébrio) – Bravo, Esopo.
d) existem, poderei, dele. Realmente, tu nos trouxeste o que há de melhor. (Toma outro saco da cintura e
e) tenham existido, terá podido, seu. atira-o ao escravo) Vai agora ao mercado, e traze-nos o que houver de pior, pois
Questão 29 quero ver a sua sabedoria! (Esopo retira-se à frente com o saco, Xantós fala a
Senhor Juiz Agnostos.) Então, não é útil e bom possuir um escravo assim?
AGNOSTOS (A boca cheia) – Hum. /.../ (Entra Esopo com prato coberto)
O instrumento do “crime” que se arrola XANTÓS – Agora que já sabemos o que há de melhor na terra, vejamos o que há
Nesse processo de contravenção de pior na opinião deste 1horrendo escravo! Língua, ainda? Mais língua? Não
Não é faca, revólver ou pistola, disseste que língua era o que havia de melhor? Queres ser espancado?
Simplesmente, doutor, é um violão. ESOPO – A língua, senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as
intrigas, o início de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua
Será crime, afinal, será pecado, que usam os maus poetas que nos fatigam na praça, é a língua que usam os
Será delito de tão vis horrores, filósofos que não sabem pensar. É a língua que mente, que esconde, que
Perambular na rua um desgraçado tergiversa, que blasfema, que insulta, que se acovarda, que se mendiga, que
Derramando nas praças suas dores? impreca, que bajula, que destrói, que calunia, que vende, que seduz, é com a língua
que dizemos morre e canalha e corja. É com a língua que dizemos não. Com a
Mande, pois, libertá-lo da agonia língua Aquiles mostrou sua cólera, com a língua a Grécia vai tumultuar os 2pobres
(a consciência assim nos insinua) cérebros humanos para toda a eternidade! Aí está, Xantós, porque a língua é a pior
Não sufoque o cantar que vem da rua, de todas as coisas!
(FIGUEIREDO, Guilherme. A raposa e as uvas – peça em 3 atos. Cópia digitalizada pelo GETEB – Grupo de Estudos
Que vem da noite para saudar o dia. e Pesquisa em Teatro Brasileiro/UFSJ. Disponível para fins didáticos em www.teatroparatodosufsj.com.br/
download/guilherme-figueiredo-araposa-e-as-uvas-2/ Acesso em 13/03/2019.)
É o apelo que aqui lhe dirigimos, Em 1934, um redator de Nova York chamado Robert Pirosh largou o emprego bem
Na certeza do seu acolhimento remunerado numa agência de publicidade e rumou para Hollywood, decidido a
Juntada desta aos autos nós pedimos trabalhar como roteirista. Lá chegando, anotou o nome e o endereço de todos os
E pedimos, enfim, deferimento diretores, produtores e executivos que conseguiu encontrar e enviou-lhes o que
Disponível em: www.migalhas.com.br. Acesso em: 23 set. 2020 (adaptado). certamente é o pedido de emprego mais eficaz que alguém já escreveu, pois
Essa petição de habeas corpus, ao transgredir o rigor da linguagem jurídica, resultou em três entrevistas, uma das quais lhe rendeu o cargo de roteirista
a) permite que a narrativa seja objetiva e repleta de sentidos denotativos. assistente na MGM.
b) mostra que o cordel explora termos próprios da esfera do direito. Prezado senhor:
c) demonstra que o jogo de linguagem proposto atenua a gravidade do delito. Gosto de palavras. Gosto de palavras gordas, untuosas, como lodo, torpitude,
d) exemplifica como o texto em forma de cordel compromete a solicitação glutinoso, bajulador. Gosto de palavras solenes, como pudico, ranzinza, pecunioso,
pretendida. valetudinário. Gosto de palavras espúrias, enganosas, como mortiço, liquidar,
e) esclarece que os termos “crime” e “processo de contravenção” são sinônimos. tonsura, mundana. Gosto de suaves palavras com “V”, como Svengali, avesso,
Questão 30 bravura, verve. Gosto de palavras crocantes, quebradiças, crepitantes, como
Prezada senhorita, estilha, croque, esbarrão, crosta. Gosto de palavras emburradas, carrancudas,
Tenho a honra de comunicar a V. S. que resolvi, de acordo com o que foi amuadas, como furtivo, macambúzio, escabioso, sovina. Gosto de palavras
conversado com seu ilustre progenitor, o tabelião juramentado Francisco Guedes, chocantes, exclamativas, enfáticas, como astuto, estafante, requintado, horrendo.
estabelecido à Rua da Praia, número 632, dar por encerrados nossos Gosto de palavras elegantes, rebuscadas, como estival, peregrinação, Elísio,
entendimentos de noivado. Como passei a ser o contabilista-chefe dos Armazéns Alcíone. Gosto de palavras vermiformes, contorcidas, farinhentas, como rastejar,
Penalva, conceituada firma desta praça, não me restará, em face dos novos e choramingar, guinchar, gotejar. Gosto de palavras escorregadias, risonhas, como
pesados encargos, tempo útil para os deveres conjugais. topete, borbulhão, arroto.
Outrossim, participo que vou continuar trabalhando no varejo da mancebia, Gosto mais da palavra roteirista que da palavra redator, e por isso resolvi largar
como vinha fazendo desde que me formei em contabilidade em 17 de maio de meu emprego numa agência de publicidade de Nova York e tentar a sorte em
1932, em solenidade presidida pelo Exmo. Sr. Presidente do Estado e outras Hollywood, mas, antes de dar o 3grande salto, fui para a Europa, onde passei um
autoridades civis e militares, bem assim como representantes da Associação dos ano estudando, contemplando e perambulando.
Varejistas e da Sociedade Cultural e Recreativa José de Alencar. Acabei de voltar e ainda gosto de palavras.
Sem mais, creia-me de V. S. patrício e admirador, Posso trocar algumas com o senhor?
Sabugosa de Castro Robert Pirosh
CARVALHO, J. C. Amor de contabilista. In: Porque Lulu Bergatim não atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro: José Madison Avenue, 385
Olympio, 1971. Quarto 610
A exploração da variação linguística é um elemento que pode provocar situações Nova York
cômicas. Nesse texto, o tom de humor decorre da incompatibilidade entre Eldorado 5-6024.
a) o objetivo de informar e a escolha do gênero textual. (USHER, Shaun .(Org) Cartas extraordinárias: a correspondência inesquecível de pessoas notáveis. Trad. de
b) a linguagem empregada e os papéis sociais dos interlocutores. Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.p. 48.)
c) o emprego de expressões antigas e a temática desenvolvida no texto. Questão 31
d) as formas de tratamento utilizadas e as exigências estruturais da carta. Janela sobre a palavra (V)
e) o rigor quanto aos aspectos formais do texto e a profissão do remetente. Javier Villafañe busca em vão a palavra que deixou escapar bem quando ia
pronunciá-la. Onde terá ido essa palavra, que ele tinha na ponta da língua?
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Haverá algum lugar onde se juntam todas as palavras que não quiseram ficar? Um
Trecho da peça teatral A raposa e as uvas, escrita por Guilherme de Figueiredo. A reino das palavras perdidas? As palavras que você deixou escapar, onde estarão à
cena ocorre na cidade de Samos (Grécia antiga), na casa de Xantós, um filósofo sua espera?
(GALEANO, Eduardo. As palavras andantes. Porto Alegre: L&PM, 2017, p. 222)
grego, que recebe o convidado Agnostos, um capitão ateniense. O jantar é servido Sobre o texto “Janela sobre a palavra (V)”, é correto afirmar que
por Esopo e Melita, escravos de Xantós. a) utiliza a metalinguagem para reforçar a ideia de que a poesia só existe quando se
consegue usar a palavra certa, exata.
(Entra Esopo, com um prato que coloca sobre a mesa. Está coberto com um pano. b) se assemelha ao texto do redator de Nova York, pois ambos são do gênero carta.
Xantós e Agnostos se dirigem para a mesa, o primeiro faz ao segundo um sinal c) nele o escritor se refere às palavras que escaparam antes de serem
para sentarem-se.) pronunciadas; elas estariam, talvez, em um “Reino das palavras perdidas”.
XANTÓS (Descobrindo o prato) – Ah, língua! (Começa a comer com as mãos, e faz d) a expressão “na ponta da língua” equivale à expressão do trecho da peça teatral
um sinal para que Melita sirva Agnostos. Este também começa a comer A raposa e as uvas “é fonte de todas as intrigas”.
vorazmente, dando grunhidos de satisfação.) Fizeste bem em trazer língua, Esopo. Questão 32
É realmente uma das melhores coisas do mundo. (Sinal para que sirvam o vinho.
Esopo serve, Xantós bebe.) Vês, estrangeiro, de qualquer modo é bom possuir No anúncio sobre a proibição da venda de bebidas alcoólicas para menores, a
linguagem formal interage com a linguagem informal quando o autor

12
glutinoso, bajulador. Gosto de palavras solenes, como pudico, ranzinza, pecunioso,
valetudinário. 2Gosto de palavras espúrias, enganosas, como mortiço, liquidar,
tonsura, mundana. Gosto de suaves palavras com “V”, como Svengali, avesso,
bravura, verve. Gosto de palavras crocantes, quebradiças, crepitantes, como
estilha, croque, esbarrão, crosta. 3Gosto de palavras emburradas, carrancudas,
amuadas, como furtivo, macambúzio, escabioso, sovina. 4Gosto de palavras
chocantes, exclamativas, enfáticas, como astuto, estafante, requintado, horrendo.
Gosto de palavras elegantes, rebuscadas, como estival, peregrinação, Elísio,
Alcíone. Gosto de palavras vermiformes, contorcidas, farinhentas, como rastejar,
choramingar, guinchar, gotejar. Gosto de palavras escorregadias, risonhas, como
topete, borbulhão, arroto.
Gosto mais da palavra roteirista que da palavra redator, e por isso resolvi largar
meu emprego numa agência de publicidade de Nova York e tentar a sorte em
Hollywood, mas, antes de dar o grande salto, fui para a Europa, onde passei um
ano estudando, contemplando e perambulando.
a) desrespeita a regência padrão para ampliar o alcance da publicidade. Acabei de voltar e ainda gosto de palavras.
b) elabora um jogo de significados ao utilizar a palavra “legal”. Posso trocar algumas com o senhor?
c) apoia-se no emprego de gírias para se fazer entender. Robert Pirosh
d) utiliza-se de metalinguagem ao jogar com as palavras “legal” e “lei”. Madison Avenue, 385
e) esclarece que se trata de uma lei ao compará-la a uma proibição. Quarto 610
Questão 33 Nova York
Singular ocorrência Eldorado 5-6024.
– Há ocorrências bem singulares. Está vendo aquela dama que vai entrando na (USHER, Shaun .(Org) Cartas extraordinárias: a correspondência inesquecível de pessoas notáveis. Trad. de
Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.p. 48.)
igreja da Cruz? Parou agora no adro para dar uma esmola. Questão 35
– De preto?
– Justamente; lá vai entrando; entrou. Tomando por base seus conhecimentos gramaticais, assinale a alternativa
– Não ponha mais na carta. Esse olhar está dizendo que a dama é uma recordação INCORRETA, referente ao texto.
de outro tempo, e não há de ser muito tempo, a julgar pelo corpo: é moça de truz. a) “Palavras elegantes” são as preferidas do autor; elas mostram a posição cultural
– Deve ter quarenta e seis anos. de alguém que, por ser jornalista, não pode usar palavras de cunho popular.
– Ah! conservada. Vamos lá; deixe de olhar para o chão e conte-me tudo. Está b) A palavra “vermiformes” é uma evidência de que um idioma é marcado por
viúva, naturalmente? processos de criação de novas palavras, a partir de outras já existentes na língua.
– Não. c) Em “Posso trocar algumas [palavras] com o senhor?”, o sentido é dialogar,
– Bem; o marido ainda vive. É velho? conversar. Equivaleria à expressão “Ter um dedo de prosa com alguém”.
– Não é casada. d) A repetição da expressão “Gosto de palavras” de algum modo intensifica o gosto
– Solteira? do autor por palavras.
– Assim, assim. Deve chamar-se hoje D. Maria de tal. Em 1860 florescia com o Questão 36
nome familiar de Marocas. Não era costureira, nem proprietária, nem mestra de Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação verdadeira sobre o contexto da
meninas; vá excluindo as profissões e chegará lá. Morava na Rua do Sacramento. carta.
Já então era esbelta, e, seguramente, mais linda do que hoje; modos sérios, a) A eficiência do pedido de emprego está menos na competência curricular do
linguagem limpa. remetente do que no uso criativo das palavras.
ASSIS, M. Machado de Assis: seus 30 melhores contos, Rio de Janeiro: Aguilar, 1961. b) Percebe-se que o remetente despreza a carreira de redator e, por isso, busca ser
No diálogo, descortinam-se aspectos da condição da mulher em meados do século roteirista.
XIX. O ponto de vista dos personagens manifesta conceitos segundo os quais a c) Pode-se afirmar que, por meio da carta, Robert conquistou três empregos, mas
mulher optou por trabalhar no cargo de roteirista assistente na MGM.
a) encontra um modo de dignificar-se na prática da caridade. d) A simples leitura da carta, desvinculada do contexto apresentado, impossibilita
b) preserva a aparência jovem conforme seu estilo de vida. qualquer compreensão da mensagem.
c) condiciona seu bem-estar à estabilidade do casamento. Questão 37
d) tem sua identidade e seu lugar referendados pelo homem.
e) renuncia à sua participação no mercado de trabalho. Analisando a forma e o objetivo do texto, é correto afirmar que
Questão 34 a) a linguagem utilizada é acentuadamente formal, já que o remetente está em um
contexto que necessita desse tipo de tratamento.
b) para convencer o destinatário, Robert utilizou, ao longo da carta, discurso direto,
caracterizando assim um tom de proximidade e amizade com o receptor.
c) o texto é marcadamente denotativo, possibilitando ao destinatário perceber a
versatilidade linguística do remetente.
d) a carta se utiliza de elementos da função emotiva – centrada no emissor – ainda
que a intenção predominante do autor seja a função apelativa – conquistar o
receptor.
Questão 38
Não que Pelino fosse químico, longe disso; mas era sábio, era gramático. Ninguém
escrevia em Tubiacanga que não levasse bordoada do Capitão Pelino, e mesmo
quando se falava em algum homem notável lá no Rio, ele não deixava de dizer:
“Não há dúvida! O homem tem talento, mas escreve: ‘um outro’, ‘de resto’...” E
contraía os lábios como se tivesse engolido alguma cousa amarga.
Toda a vila de Tubiacanga acostumou-se a respeitar o solene Pelino, que corrigia e
emendava as maiores glórias nacionais. Um sábio...
Ao entardecer, depois de ler um pouco o Sotero, o Candido de Figueiredo ou o
Castro Lopes, e de ter passado mais uma vez a tintura nos cabelos, o velho mestre-
escola saía vagarosamente de casa, muito abotoado no seu paletó de brim mineiro,
e encaminhava-se para a botica do Bastos a dar dous dedos de prosa. Conversar é
um modo de dizer, porque era Pelino avaro de palavras, limitando-se tão-somente a
ouvir. Quando, porém, dos lábios de alguém escapava a menor incorreção de
linguagem, intervinha e emendava. “Eu asseguro, dizia o agente do Correio, que…”
Por aí, o mestre-escola intervinha com mansuetude evangélica: “Não diga
‘asseguro’, Senhor Bernardes; em português é garanto”.
De acordo com as intenções comunicativas e os recursos linguísticos que se
E a conversa continuava depois da emenda, para ser de novo interrompida por uma
destacam, determinadas funções são atribuídas à linguagem. A função que
outra. Por essas e outras, houve muitos palestradores que se afastaram, mas
predomina nesse texto é a conativa, uma vez que ele
Pelino, indiferente, seguro dos seus deveres, continuava o seu apostolado de
a) atua sobre o interlocutor, procurando convencê-lo a realizar sua escolha de
vernaculismo.
maneira consciente. BARRETO, L. A Nova Califórnia. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 24 jul. 2019.
b) coloca em evidência o canal de comunicação pelo uso das palavras “corrige” e Do ponto de vista linguístico, a defesa da norma-padrão pelo personagem
“confirma”. caracteriza-se por
c) privilegia o texto verbal, de base informativa, em detrimento do texto não verbal. a) contestar o ensino de regras em detrimento do conteúdo das informações.
d) usa a imagem como único recurso para interagir com o público a que se destina. b) resgatar valores patrióticos relacionados às tradições da língua portuguesa.
e) evidencia as emoções do enunciador ao usar a imagem de uma criança. c) adotar uma perspectiva complacente em relação aos desvios gramaticais.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES: d) invalidar os usos da língua pautados pelos preceitos da gramática normativa.
Em 1934, um redator de Nova York chamado Robert Pirosh largou o emprego bem e) desconsiderar diferentes níveis de formalidade nas situações de comunicação.
remunerado numa agência de publicidade e rumou para Hollywood, decidido a Questão 39
trabalhar como roteirista. Lá chegando, anotou o nome e o endereço de todos os
Vou-me embora p’ra Pasárgada foi o poema de mais longa gestação em toda a
diretores, produtores e executivos que conseguiu encontrar e enviou-lhes o que
minha obra. Vi pela primeira vez esse nome Pasárgada quando tinha os meus
certamente é o pedido de emprego mais eficaz que alguém já escreveu, pois
dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa
resultou em três entrevistas, uma das quais lhe rendeu o cargo de roteirista
“campo dos persas” ou “tesouro dos persas”, suscitou na minha imaginação uma
assistente na MGM.
paisagem fabulosa, um país de delícias, como o de L’invitation au Voyage, de
Prezado senhor:
Baudelaire. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua
Gosto de palavras. 1Gosto de palavras gordas, untuosas, como lodo, torpitude,

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do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o b) aceleração da vida na contemporaneidade
que eu não tinha feito em minha vida por motivo da doença, saltou-me de súbito do c) desconhecimento das possibilidades de diálogo
subconsciente este grito estapafúrdio: “Vou-me embora p’ra Pasárgada!” Senti na d) desencontro de pensamentos sobre um assunto
redondilha a primeira célula de um poema, e tentei realizá-lo, mas fracassei. Alguns TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
anos depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo Passeio à Infância
desabafo de evasão da “vida besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço como se Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás
já estivesse pronto dentro de mim. Gosto desse poema porque vejo nele, em dourados. E como faz calor, veja, os lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na
escorço, toda a minha vida; [...] Não sou arquiteto, como meu pai desejava, não fiz ilha, comer ingás? Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o sol dourado
nenhuma casa, mas reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo de atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas para atiradeira, porque é
aparências’, uma cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro, e sim a urgente subir no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É janeiro,
“minha” Pasárgada. grande mês de janeiro!
BANDEIRA, M. Itinerário da Pasárgada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984 Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer
Os processos de interação comunicativa preveem a presença ativa de múltiplos escorregando no capim até a beira do açude. Com dois paus de pita, faremos uma
elementos da comunicação, entre os quais se destacam as funções da linguagem. balsa, e, como o carnaval é só no mês que vem, vamos apanhar tabatinga para
Nesse fragmento, a função da linguagem predominante é fazer formas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do
a) emotiva, porque o poeta expõe os sentimentos de angústia que o levaram à jardim tem um pé de saboneteira.
criação poética. Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina
b) referencial, porque o texto informa sobre a origem do nome empregado em um de pernas magras e vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade
famoso poema de Bandeira. que jamais comeu angu de fundo de panela?
c) metalinguística, porque o poeta tece comentários sobre a gênese e o processo Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da
de escrita de um de seus poemas. goiabeira; eu cortarei uma forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la
d) poética, porque o texto aborda os elementos estéticos de um dos poemas mais assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras... Havia pitangueiras na praia?
conhecidos de Bandeira. Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-de-
e) apelativa, porque o poeta tenta convencer os leitores sobre sua dificuldade de rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim.
compor um poema. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando
Questão 40 de sono, você gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe vou aipim ainda
As palavras organizadas comunicam sempre alguma coisa, que nos toca porque quente com melado. Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que
obedece a certa ordem. Quando recebemos o impacto de uma produção literária, achou horrível nosso pobre doce de abóbora e coco.
oral ou escrita, ele é devido à fusão inextricável da mensagem com a sua Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali
organização. Em palavras usuais: o conteúdo de uma obra literária só atua por pescarei piaus. Há rolinhas. Ou então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e
causa da forma. de repente dar um galope na correnteza, passando rente às pedras, como se a
(Adaptado de Antonio Candido, “O direito à literatura”, em Vários escritos. São Paulo: Ouro sobre azul e Duas canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar
Cidades, 2004, p.178.)
e ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os outros meninos
riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão
morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do
outro lado do rio gritando.
Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir
comigo pela capoeira? Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me
lembro de muitas meninas. Tinha uma que para mim uma adoração. Ah, paixão da
infância, paixão que não amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha
que ora venho conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas
quando a olhei, você estava distraída, meus olhos eram outra vez daquele menino
feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de olhar a menina um
pouco mais alta da ponta direita do banco.
Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado
saíra? É um passarinho miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse
a um menino que só tivesse visto coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine
um arco-íris visto na mais remota infância, sobre os morros e o rio. O menino da
roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a onda clara,
junto da pedra.
Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha
adolescência você seria uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca
coisa eu sei; uma vez na fazenda rira: ele não sabe nem passar um barbicacho!
Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato e da água, são humildes
coisas, e você é tão bela e estranha! Inutilmente tento convertê-la em menina de
pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do brejo no meio dos
dedos dos pés.
Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência e
torturaria; mas sou um homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de
sanhaços bicando os cajus de meu cajueiro, um cardume de peixes dourados
avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi
A obra Sobrevivendo no inferno do grupo Racionais Mc’s é composta pelas canções um silvo de cobra, e eu quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego
e pelo projeto editorial da capa e contracapa do CD. Nesse projeto editorial, de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas você é como se houvesse
encontram-se elementos visuais e verbais que estabelecem um jogo de formas e demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem.
sentidos. Com base na afirmação de Antonio Candido, é correto afirmar que a Julho, 1945
Crônica extraída do livro 200 crônicas escolhidas, de Rubem Braga
organização desses elementos
a) produz uma simetria entre som e sentido, sendo que tal simetria indica que os Questão 42
símbolos religiosos são uma resposta à violência. No texto, o autor faz uso de algumas marcas de oralidade. Assinale a opção na qual
b) configura um sistema de oposições, uma vez que imagens e palavras uma dessas marcas está presente.
estabelecem tensões materiais e espirituais, constitutivas do sentido das canções. a) Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer
c) configura uma sintaxe poética de ordem espiritual. Essa sintaxe espelha o caos e escorregando no capim até a beira do açude.
as injustiças vividos na periferia das grandes cidades. b) Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que
d) produz uma lógica poética racional. Essa lógica se explicita na vitória do crime vem, vamos apanhar tabatinga para fazer formas de máscaras.
sobre a visão de mundo presente nos versículos bíblicos transcritos. c) Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem um pé de
Questão 41 saboneteira.
d) Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância.
e) Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda riram: ele não sabe nem passar um
barbicacho! Mas o que sei lhe ensino (...).
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

No cartum apresentado, o significado da palavra escrita é reforçado pelos


elementos visuais, próprios da linguagem não verbal.
A separação das letras da palavra em balões distintos contribui para expressar
principalmente a seguinte ideia:
a) dificuldade de conexão entre as pessoas Questão 43

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Pode-se definir “metalinguagem” como a linguagem que comenta a própria onde todo mundo pode participar. Dá pra todo mundo tentar fazer o seu corre, e
linguagem, fenômeno presente na literatura e nas artes em geral. tentar progredir no nosso país, no nosso município, na nossa quebrada. Porque a
O quadro A perspicácia, do belga René Magritte, é um exemplo de metalinguagem democracia parte de um princípio de respeito à liberdade individual. Mas não fica só
porque: nisso não. A democracia também acontece quando você vai lá e cobra o político: e
a) destaca a qualidade do traço artístico aí, mano, cadê as escola? O certo é o certo, o errado é cobrado, e a democracia é
b) mostra o pintor no momento da criação dessa fita, entendeu?”
c) implica a valorização da arte tradicional (Adaptado de Audino Vilão. Disponível em https://www.instagram.com/p/CE7wnZypyEi/. Acessado em 09/11/2020.)

d) indica a necessidade de inspiração concreta a) Cite duas características da democracia grega que, segundo Audino Vilão, a
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: diferenciam do conceito atual de democracia.
Os usos da casimira inglesa b) A quem se dirigem os vocativos “Parça” (no primeiro parágrafo), e “mano” (no
segundo parágrafo)?
Estou lhe escrevendo, Matilda, 5para lhe transmitir aquilo que a contrariedade Questão 47
(para não falar indignação) me impediu de dizer de viva voz. Note, é a primeira vez 10 anos de “hashtag”: a ferramenta que mobiliza a internet
que isso acontece nos nossos 35 anos de casados, mas é primeira vez que pode A “hashtag”, ícone das redes sociais, celebrou em 2017 seus primeiros 10 anos
também ser a última. Não é ameaça. É constatação. Estou profundamente de uso no acompanhamento dos grandes eventos mundiais com um efeito de
magoado com sua atitude e não sei se me recuperarei. mobilização e expressão de emoção e humor.
Tudo por causa de sua teimosia. Você insiste, contra todas as minhas A palavra-chave precedida pelo símbolo do jogo da velha foi popularizada pelo
ponderações, em dar a seu pai um corte de casimira inglesa como presente de Twitter antes de ser incorporada por outras redes sociais. A invenção foi de Chris
aniversário. Eu já sei o que você vai me dizer: é seu pai, você gosta dele, quer Messina, designer americano especialista em redes sociais. Em 23 de agosto de
homenageá-lo. Mas, com casimira, Matilda. Com casimira inglesa, Matilda. 1Que 2007, o usuário intensivo do Twitter propôs em um tuíte usar o jogo da velha para
horror, Matilda. reagrupar mensagens sobre um mesmo assunto. Ele lançou, então, a primeira
Raciocinemos, Matilda. Casimira inglesa, você sabe o que é isso? A lã dos “hashtag” #barcamp sobre oficinas participativas dedicadas à inovação na web.
melhores ovinos, Matilda. 2A tecnologia de um país que, afinal, deu ao mundo a O compartilhamento das palavras-chaves – que já são citadas 125 milhões de
Revolução Industrial. O trabalho de competentes funcionários. E sobretudo tradição, vezes por dia no mundo – já serviu de trampolim para mobilizações em massa.
a qualidade. Esse é o tecido que está em questão, Matilda. A casimira inglesa. Alguns slogans que tiveram grande efeito mobilizador foram o
(...) #BlackLivesMatter (Vidas negras importam), após a morte de vários cidadãos
Isso, a casimira inglesa. Agora, seu pai. americanos negros pela polícia, e #OccupyWallStreet (Ocupem Wall Street),
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Ele está fazendo noventa anos. É uma idade respeitável, e não são muitos referente ao movimento que acampou no coração de Manhattan para denunciar os
que chegam lá, mas − quanto tempo ele pode ainda viver? (...) mesmo que ele viva abusos do capitalismo.
dez anos, mesmo que ele viva vinte anos, a casimira sem dúvida durará mais. Aí, AFP. Disponível em: http://exame.abril.com.br. Acesso em: 24 ago. 2017 (adaptado).
depois que o sepultarmos, depois que voltarmos do cemitério, depois que Ao descrever a história e os exemplos de utilização da hashtag, o texto evidencia
recebermos os pêsames dos parentes, e dos amigos, e dos conhecidos, teremos de que
decidir o que fazer com as coisas dele, que são poucas e sem valor − à exceção de a) a incorporação desse recurso expressivo pela sociedade impossibilita a
um casaco confeccionado com o corte de casimira que você pretende lhe dar. Você, manutenção de seu uso original.
em lágrimas, dirá que não quer discutir o assunto, mas eu terei que insistir, até para b) a incorporação desse recurso expressivo pela sociedade o flexibilizou e o
o seu bem, Matilda; os mortos estão mortos, os vivos precisam continuar a viver, eu potencializou.
direi. Algumas hipóteses serão levantadas. Vender? Você dirá que não; seu pai, o c) a incorporação pela sociedade caracterizou esse recurso expressivo de forma
velho fazendeiro, verdade que arruinado, despreza coisas como comprar e vender, definitiva.
ele acha que ser lojista, como eu, é a suprema degradação. Dar? A quem? A um d) esse recurso expressivo se tornou o principal meio de mobilização social pela
pobre? Mas não, ele sempre detestou pobres, Matilda, você lembra a frase internet.
característica de seu pai: 3tem que matar esses vagabundos. O casaco ficaria e) esse recurso expressivo precisou de uma década para ganhar notabilidade
pendurado em nosso roupeiro, Matilda. Ficaria pendurado muito tempo lá. A não social.
ser, Matilda, que seu pai dure mais tempo que o casaco. Não apenas isso é Questão 48
impossível, como remete a uma outra interrogação: e o seguro de vida dele, Qual a diferença entre publicidade e propaganda?
Matilda? E as joias de sua mãe, que ele guarda debaixo do colchão? Quanto tempo Esses dois termos não são sinônimos, embora sejam usados indistintamente no
ainda terei de esperar? Brasil. Propaganda é a atividade associada à divulgação de ideias (políticas,
Estou partindo Matilda. Deixo o meu endereço. Como você vê, estou indo para religiosas, partidárias etc.) para influenciar um comportamento. Alguns exemplos
longe, para uma pequena praia da Bahia. Trópico, Matilda. 4Lá ninguém usa podem ilustrar, como o famoso Tio Sam, criado para incentivar jovens a se alistar
casimira. no exército dos EUA; ou imagens criadas para “demonizar” os judeus, espalhadas
Moacyr Scliar na Alemanha pelo regime nazista; ou um pôster promovendo o poderio militar da
Contos reunidos. São Paulo: Cia das Letras, 1995.
Questão 44 China comunista. No Brasil, um exemplo regular de propaganda são as campanhas
políticas em período pré-eleitoral.
Apesar de enunciado em primeira pessoa, o texto inclui, implícita ou explicitamente, Já a publicidade, em sua essência, quer dizer tornar algo público. Com a Revolução
outras vozes. Industrial, a publicidade ganhou um sentido mais comercial e passou a ser uma
Um exemplo da presença explícita da fala de outro personagem no texto é: ferramenta de comunicação para convencer o público a consumir um produto,
a) Que horror, Matilda. (ref. 1) serviço ou marca. Anúncios para venda de carros, bebidas ou roupas são exemplos
b) A tecnologia de um país que, afinal, deu ao mundo a Revolução Industrial. (ref. 2) de publicidade.
c) tem que matar esses vagabundos. (ref. 3) VASCONCELOS, Y. Disponível em: https://mundoestranho.abril.com.br. Acesso em: 22 ago. 2017 (adaptado).
d) Lá ninguém usa casimira. (ref. 4) A função sociocomunicativa desse texto é
Questão 45 a) ilustrar como uma famosa figura dos EUA foi criada para incentivar jovens a se
O conto de Moacyr Scliar adota a forma de uma carta, gênero que tem convenções alistar no exército.
específicas. Uma das marcas que permitem associar esse texto a uma carta é a b) explicar como é feita a publicidade na forma de anúncios para venda de carros,
presença de: bebidas ou roupas.
a) vocativo c) convencer o público sobre a importância do consumo.
b) narrativa d) esclarecer dois conceitos usados no senso comum.
c) confissão e) divulgar atividades associadas à disseminação de ideias.
d) argumentação Questão 49
Questão 46 A volta do marido pródigo
Texto 1 – Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem?
Audino Vilão é o pseudônimo de Marcelo Marques. O universitário paulista de 18 – Bem. Já sabe, não é? Só ganha meio dia. [...]
anos cursa Licenciatura em História e produz vídeos em que traduz conceitos Lá além, Generoso cotuca Tercino:
filosóficos complexos em linguagem coloquial, com gírias típicas das periferias do – [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando chega, ainda é todo enfeitado e
Estado de São Paulo. Audino se apresenta como um vilão que sequestra o salamistrão!...
conhecimento da elite acadêmica e distribui pra todo mundo, igualmente, da melhor – Que é que hei de fazer, seu Marrinha... Amanheci com uma nevralgia... Fiquei
forma possível. Ele entende que é preciso valorizar a cultura do aluno, o dialeto com cisma de apanhar friagem...
dele, seu conhecimento de vida. – Hum...
(Adaptado de Bárbara Martins, “Audino Vilão: universitário traz conceitos filosóficos para linguagem da periferia.” – Mas o senhor vai ver como eu toco o meu serviço e ainda faço este povo
Disponível em https://www.hypeness.com.br/2020. Acessado em 09/11/2020.) trabalhar...
[...]
Texto 2 Pintão suou para desprender um pedrouço, e teve de pular para trás, para que a
“E aí, molecadinha que nos assiste? Primeiramente um abraço, um cheiro, um laje lhe não esmagasse um pé.
amasso, diretamente daqui da 019, Audino Vilão na voz, trazendo pra vocês uma Pragueja:
explicação: que que é democracia? Pra começar, vamo vê na história. A – Quem não tem brio engorda!
democracia surgiu na Grécia, na cidade de Atenas, em 504 a.C., em resposta aos – É... Esse sujeito só é isso, e mais isso... – opina Sidu.
governos autoritários. Cê é louco, o bagulho, mó tempo, né? Os cara mandava em – Também, tudo p’ra ele sai bom, e no fim dá certo...
tudo, metia o louco. Aí os caras saíram do poder, o povo se uniu e pensou: Parça, e – diz Correia, suspirando e retomando o enxadão. – “P’ra uns, as vacas morrem ...
se nós fizesse esse bagulho agora, e se nós mandasse nesse bagulho aí? Aí a p’ra outros até boi pega a parir...”.
rapaziada lá, suave, se reuniu nas praça, nos congresso, os cara discutia qual que Seu Marra já concordou:
vai ser a plantação, qual que vai ser o festival da cidade. Só que, naquela época, – Está bem, seu Laio, por hoje, como foi por doença, eu aponto o dia todo. Que é a
pra você participar da democracia você precisava ser homem, maior de 21 anos, última vez!... E agora, deixa de conversa fiada e vai pegando a ferramenta!
precisava possuir terras e... o mais importante: você precisava ser cidadão ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.
ateniense. Você não poderia ser nem mulher, nem escravo. Então era um bagulho Esse texto tem importância singular como patrimônio linguístico para a preservação
meio elitista, tá ligado? Era um bagulho meio exclusivo. da cultura nacional devido
Mas qual que é essas ideia de democracia? Democracia é uma forma de governo a) à menção a enfermidades que indicam falta de cuidado pessoal.

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b) à referência a profissões já extintas que caracterizam a vida no campo. mais perigoso para um rapaz (ref. 33).
c) aos nomes de personagens que acentuam aspectos de sua personalidade. a) Seu pai disse que ele ainda tem alguns anos de vida e quer ver como o filho se
d) ao emprego de ditados populares que resgatam memórias e saberes coletivos. conduz; pediu para ir para Paris, que era à época o lugar mais perigoso para um
e) às descrições de costumes regionais que desmistificam crenças e superstições. rapaz.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: b) Seu pai afirmou ter ainda alguns anos de vida e querer ver como você se
Leia o trecho inicial do romance O Ateneu, de Raul Pompeia (1863-1895), para conduziria; ordenou que fosse a Paris, o lugar mais perigoso para um rapaz.
responder à(s) questão(ões) a seguir. c) Seu pai afirmou que ainda tinha alguns anos de vida e esboçou o desejo de ver
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para como seu filho se conduziria nesses anos finais; por isso, pediu-lhe que fosse para
a luta.” o lugar mais perigoso para um rapaz, Paris.
Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num d) Seu pai disse que, por ter ainda alguns anos de vida, queria ver como eles se
gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o conduziriam em Paris, o lugar mais perigoso para um rapaz.
regime do amor doméstico; diferente do que se encontra fora, tão diferente, que e) Seu pai disse que ainda tinha alguns anos de vida e queria ver como o filho se
parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem conduziria; disse que fosse a Paris, o lugar mais perigoso para um rapaz.
única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, Questão 52
têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo- Poesia
nos, entretanto, com saudade hipócrita dos felizes tempos; como se a mesma Gastei a manhã inteira pensando um verso
incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora, e não que a pena não quer escrever.
viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam. No entanto ele está cá dentro
Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos inquieto, vivo.
alimentam, a saudade dos dias que correram como melhores. Bem considerando, a Ele está cá dentro
atualidade é a mesma em todas as datas. Feita a compensação dos desejos que e não quer sair.
variam, das aspirações que se transformam, alentadas perpetuamente do mesmo Mas a poesia deste momento
ardor, sobre a mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é uma. Sob a inunda minha vida inteira.
coloração cambiante das horas, um pouco de ouro mais pela manhã, um pouco (ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 45.)
mais de púrpura ao crepúsculo – a paisagem é a mesma de cada lado, beirando a Assinale a alternativa INCORRETA referente ao texto “Poesia”.
estrada da vida. a) “No entanto”, no terceiro verso, e “Mas”, no penúltimo verso, têm sentido
Eu tinha onze anos. adversativo; reforçam a luta do poeta com as palavras.
Frequentara como externo, durante alguns meses, uma escola familiar do b) No segundo verso, “que a pena não quer escrever”, a forma verbal apropriada,
Caminho Novo, onde algumas senhoras inglesas, sob a direção do pai, distribuíam para o racionalismo que o poema defende, seria “quis escrever”.
educação à infância como melhor lhes parecia. Entrava às nove horas timidamente, c) O poema fala da própria busca da poesia. Trata-se de um texto metalinguístico.
ignorando as lições com a maior regularidade, e bocejava até às duas, torcendo-me d) Em “inunda minha vida inteira” há um exagero verbal, que recebe o nome de
de insipidez sobre os carcomidos bancos que o colégio comprara, de pinho e hipérbole; o exagero nasce do contentamento do eu-lírico.
usados, lustrosos do contato da malandragem de não sei quantas gerações de Questão 53
pequenos. Ao meio-dia, davam-nos pão com manteiga. Esta recordação gulosa é o Considere os textos para responder à questão.
que mais pronunciadamente me ficou dos meses de externato; com a lembrança de I. A tônica é que os pequenos jogadores da equipe de futebol Javalis Selvagens
alguns companheiros – um que gostava de fazer rir à aula, espécie interessante de estão tranquilos e até confortáveis, bem cuidados na caverna pela numerosa
mono louro, arrepiado, vivendo a morder, nas costas da mão esquerda, uma equipe internacional que tenta retirá-los dali, e que têm muita vontade de voltar a
protuberância calosa que tinha; outro adamado, elegante, sempre retirado, que comer seus pratos favoritos quando voltarem para casa.
vinha à escola de branco, engomadinho e radioso, fechada a blusa em diagonal do https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/07/internacional/1530941588_246806.html. Adaptado.
ombro à cinta por botões de madrepérola. Mais ainda: a primeira vez que ouvi certa II. Bem, minha vida mudou muito nos últimos dois anos. O mundo que explorei
injúria crespa, um palavrão cercado de terror no estabelecimento, que os partistas mudou muito. Eu vi muitas paisagens diferentes durante as turnês, e é realmente
denunciavam às mestras por duas iniciais como em monograma. inspirador ver o quão grande é o mundo. Eu quero explorar e experimentar
Lecionou-me depois um professor em domicílio. diferentes partes da natureza, mas eu não gosto do deserto, sinto muito pelas
Apesar deste ensaio da vida escolar a que me sujeitou a família, antes da plantas! Ou talvez eu goste disso… te deixa com sede de olhar para ele…
verdadeira provação, eu estava perfeitamente virgem para as sensações novas da http://portalaurorabr.com/2018/09/16/
nova fase. O internato! Destacada do conchego placentário da dieta caseira, vinha eu_sou_feminista_porque_sou_mulher_diz_aurora_em_entrevista_ao_independent/
próximo o momento de se definir a minha individualidade. III.
(O Ateneu, 1999.)
Questão 50
a) Identifique os sujeitos dos verbos “houvesse” e “viesse”, sublinhados no segundo
parágrafo.
b) Transcreva o trecho “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do
Ateneu.” (1º parágrafo) para o discurso indireto.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


1
As primeiras lições que recebi de aeronáutica foram-me dadas por um
grande visionário: Júlio Verne. De 1888, mais ou menos, a 1891, 2quando parti pela
3
primeira vez para a Europa, li, com 4grande 5interesse, todos os livros 6desse
7
grande 8vidente da locomoção aérea e 9submarina.
Estava 10eu em Paris quando, na véspera de partir para o Brasil, fui, com
meu pai, visitar 11uma exposição de máquinas no 12desaparecido Palácio da
Indústria. Qual não foi o meu 13espanto quando vi, pela primeira vez, um motor a
petróleo, da 14força de um cavalo, muito compacto, e leve, em comparação aos que
eu conhecia, e... funcionando! 15Parei diante dele como que pregado pelo destino. a) Quanto ao sentido, a palavra “bem”, destacada nos três textos, desempenha a
Estava completamente fascinado. Meu pai, 16distraído, continuou a andar até que, mesma função em cada um deles? Justifique.
depois de alguns passos, dando pela 17minha falta, voltou, perguntando- 18me o que b) Reescreva o trecho “Eu quero explorar e experimentar diferentes partes da
havia. 19Contei-20lhe a minha admiração de ver funcionar aquele motor, e ele me natureza, mas eu não gosto do deserto, sinto muito pelas plantas!”, empregando o
respondeu: “Por hoje 21basta”. Aproveitando-me dessas palavras, pedi-lhe licença discurso indireto e fazendo as adaptações necessárias. Comece o período com “Ela
para fazer meus estudos em Paris. Continuamos o passeio, e meu pai, como disse que”.
distraído, não me respondeu. Nessa 22mesma noite, no jantar de despedida, reunida Questão 54
a família, meu pai anunciou que pretendia fazer-me voltar a Paris para acabar meus “O vento da vida, por mais que cresça, nunca pode chegar a ser bonança; o vento
estudos. 23Nessa mesma noite corri vários livreiros; comprei todos os livros que da fortuna pode chegar a ser tempestade, e tão grande tempestade, que se afogue
encontrei sobre balões e viagens aéreas. nela o mesmo vento da vida.”
24
Diante do motor a petróleo, tinha 25sentido a possibilidade de tornar reais as (Antônio Vieira, “Sermão de quarta-feira de cinza do ano de 1672”, em A Arte de Morrer. São Paulo: Nova Alexandria,
26
fantasias de Júlio Verne. Ao motor a petróleo devi, 27mais tarde, todo o meu êxito. 1994, p. 56.)
Tive a felicidade de ser o primeiro a empregá-lo nos ares. No sermão proferido na Igreja de Santo Antônio dos Portugueses, em Roma, Vieira
Uma manhã, em São Paulo, com grande surpresa minha, convidou- 28me recorre a uma metáfora para chamar a atenção dos fiéis sobre a morte.
meu pai a ir à cidade e, dirigindo-se a um cartório de tabelião, mandou lavrar Assinale a alternativa que expressa a mensagem veiculada pela imagem do vento.
escritura de minha emancipação. Tinha 29eu dezoito anos. 30De volta à casa, a) A vida dos fiéis é comparável à tranquilidade da brisa em alto-mar.
chamou-me ao escritório e disse-me: “Já lhe dei 31hoje a liberdade; 32aqui está mais b) A fortuna dos fiéis é comparável à força das intempéries marítimas.
este capital”, e entregou-me títulos no valor de muitas centenas de contos. “ 33Tenho c) A fortuna dos fiéis é comparável à felicidade eterna.
ainda alguns anos de vida; quero ver como você se conduz; vai para Paris, o lugar d) A vida dos fiéis é comparável à ventura dos navegadores.
mais perigoso para um rapaz. Vamos ver se você se faz um adulto; prefiro que não Questão 55
se 34faça doutor; em Paris, você procurará um especialista em física, química, Leia o trecho extraído de uma notícia veiculada na internet:
mecânica, eletricidade, etc., estude essas matérias e não 35esqueça que o futuro do “O carro furou o pneu e bateu no meio fio, então eles foram obrigados a parar. O
mundo está na mecânica”. refém conseguiu acionar a população, que depois pegou dois dos três indivíduos e
Adaptado de DUMONT, Santos. O que eu vi, o que nós veremos. Rio de Janeiro: Hedra, 2016. Organização de tentaram linchar eles. O outro conseguiu fugir, mas foi preso momentos depois por
Marcos Villares.
Questão 51 uma viatura do 5º BPM”, afirmou o major.
Disponível em https://www.gp1.com.br/.
Assinale a alternativa que realiza adequadamente a transposição do trecho a seguir No português do Brasil, a função sintática do sujeito não possui, necessariamente,
para o discurso indireto. uma natureza de agente, ainda que o verbo esteja na voz ativa, tal como
encontrado em:
Tenho ainda alguns anos de vida; quero ver como você se conduz; vai para Paris, o a) “O carro furou o pneu”.
lugar b) “e bateu no meio fio”.

16
c) “O refém conseguiu acionar a população”.
d) “tentaram linchar eles”.
e) “afirmou o major”.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder à(s) questão(ões) a
seguir.
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num
barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(Libertinagem & Estrela da manhã, 1993.)
Questão 56
a) De que modo o fato de morar “num barracão sem número” contribui para a
caracterização de João Gostoso?
b) Cite dois elementos da linguagem jornalística presentes no poema.
Questão 57
– O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo
o que quer? Nunca ouviu falar num troço chamado autoridades constituídas? Não
sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa
chamada Exército Brasileiro, que o senhor tem de respeitar? Que negócio é esse?
[...] Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: “dura lex”! Seus filhos são uns
moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o General, vai tudo
em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor. [...] Foi então que a mulher
do vizinho do General interveio: – Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu
marido? O delegado apenas olhou-a, espantado com o atrevimento. – Pois então
fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não é
gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso importunaram o General, ele
que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos importunando. E fique
sabendo que sou brasileira, sou prima de um Major do Exército, sobrinha de um
Coronel, e filha de um General! Morou? Estarrecido, o delegado só teve força para
engolir em seco e balbuciar humildemente: – Da ativa, minha senhora?.
SABINO, F. A mulher do vizinho. In: Os melhores contos. Rio de Janeiro: Record, 1986.
A representação do discurso intimidador engendrada no fragmento é responsável
por
a) ironizar atitudes e ideias xenofóbicas.
b) conferir à narrativa um tom anedótico.
c) dissimular o ponto de vista do narrador.
d) acentuar a hostilidade das personagens.
e) exaltar relações de poder estereotipadas.
Questão 58

A sequência dos quadrinhos conjuga lirismo e violência ao


a) sugerir a impossibilidade de manutenção dos afetos.
b) revelar os corpos marcados pela brutalidade colonial.
c) representar o abatimento diante da desumanidade vivida.
d) acentuar a resistência identitária dos povos escravizados.
e) expor os sujeitos alijados de sua ancestralidade pelo exílio.
Questão 61
No que diz respeito ao uso de recursos expressivos em diferentes linguagens, o
cartum produz humor brincando com a

As informações presentes na campanha contra o bullying evidenciam a intenção de


a) destacar as diferentes ofensas que ocorrem no ambiente escolar.
b) elencar os malefícios causados pelo bullying na vida de uma criança.
c) provocar uma reflexão sobre a violência física que acontece nas escolas.
d) denunciar a pouca atenção dada a crianças que sofrem bullying nas escolas.
a) caracterização da linguagem utilizada em uma esfera de comunicação específica.
e) alertar sobre a relação existente entre o bullying e determinadas brincadeiras.
Questão 59 b) deterioração do conhecimento científico na sociedade contemporânea.
c) impossibilidade de duas cobras conversarem sobre o universo.
Considere o texto para responder à questão. d) dificuldade inerente aos textos produzidos por cientistas.
A ficção começou no dia em que botei os pés nos Estados Unidos. A edição do The e) complexidade da reflexão presente no diálogo.
New York Times, de 19 de fevereiro de 2002, que distribuíram a bordo, anunciava Questão 62
as novas estratégias do Pentágono: disseminar notícias – até mesmo falsas, se
A ideia de pátria se vinculava estreitamente à de natureza e em parte extraía dela a
preciso – pela mídia internacional; usar todos os meios para ‘influenciar as
audiências estrangeiras’. sua justificativa. Ambas conduziam a uma literatura que compensava o atraso
Bernardo Carvalho, Nove Noites. material e a debilidade das instituições por meio da supervalorização dos aspectos
a) Identifique o narrador do excerto e o contexto histórico a que ele faz alusão. regionais, fazendo do exotismo razão de otimismo social. A partir de 1930 houve
b) A frase “A ficção começou no dia em que botei os pés nos Estados Unidos” diz uma mudança de orientação, sobretudo na ficção regionalista, percebendo-se o que
respeito ao encontro com uma nova personagem na intriga do romance. Que havia de mascaramento no encanto pitoresco com que antes se
personagem é essa e a qual revelação ela está diretamente relacionada? abordava o homem rústico. Evidenciou-se a realidade dos solos pobres, das
Questão 60 técnicas arcaicas, da miséria pasmosa das populações, da sua incultura
paralisante. A visão que resulta dessa perspectiva é pessimista quanto ao presente
e problemática quanto ao futuro.
(Antonio Candido. A educação pela noite e outros ensaios, 1989. Adaptado.)
O excerto assinala uma reorientação nos rumos da literatura brasileira, na medida
em que os escritores
a) deparam-se com a instituição de uma regionalização oficial pelo IBGE.
b) passam a mostrar os aspectos do Brasil como país subdesenvolvido.
c) reconhecem o estabelecimento de alianças democráticas no Brasil.
d) percebem a assimilação do american way of life pelo povo brasileiro.
e) optam pelo emprego de uma visão eurocêntrica em sua produção literária.
Questão 63
Um asteroide de cerca de um mil metros de diâmetro, viajando a 288 mil
quilômetros por hora, passou a uma distância insignificante – em termos cósmicos –
da Terra, pouco mais do dobro da distância que nos separa da Lua. Segundo os

17
cálculos matemáticos, o asteroide cruzou a órbita da Terra e somente não colidiu TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
porque ela não estava naquele ponto de interseção. Se ele tivesse sido capturado Leia o conto de Carlos Drummond de Andrade.
pelo campo gravitacional do nosso planeta e colidido, o impacto equivaleria a 40 O entendimento dos contos
bilhões de toneladas de TNT, ou o equivalente à explosão de 40 mil bombas de – Agora você vai me contar uma história de amor – disse o rapaz à moça. –
hidrogênio, conforme calcularam os computadores operados pelos astrônomos do Quero ouvir uma história de amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e
programa de Exploração do Sistema Solar da Nasa; se caísse no continente, abriria satélites artificiais.
uma cratera de cinco quilômetros, no mínimo, e destruiria tudo o que houvesse num – Pois não – respondeu a moça, que acabara de concluir o mestrado de
raio de milhares de outros; se desabasse no oceano, provocaria maremotos que contador de histórias, e estava com a imaginação na ponta da língua. – Era uma
devastariam imensas regiões costeiras. Enfim, uma visão do Apocalipse. vez um país onde só havia água, eram águas e mais águas, e o governo como tudo
Disponível em: http://bdjur.stj.jus.br. Acesso em: 23 abr. 2010. mais se fazia em embarcações atracadas ou em movimento, conforme o tempo.
Qual estratégia caracteriza o texto como uma notícia alarmante? Osmundo mantinha uma grande indústria de barcos, mas não era feliz, porque
a) A descrição da velocidade do asteroide. Sertória, objeto dos seus sonhos, se recusava a casar com ele. Osmundo ofereceu-
b) A recorrência de formulações hipotéticas. lhe um belo navio embandeirado, que ela recusou. Só aceitaria uma frota de dez
c) A referência à opinião dos astrônomos. caravelas, para si e para seus familiares.
d) A utilização da locução adverbial “no mínimo”. Ora, ninguém sabia fazer caravelas, era um tipo de embarcação há muito
e) A comparação com a distância da Lua à Terra. fora de uso. Osmundo apresentou um mau produto, que Sertória não aceitou,
Questão 64 enumerando os defeitos, a começar pelas velas latinas, que de latinas não tinham
O texto a seguir é fragmento de um artigo de divulgação científica. um centavo. Osmundo, desesperado, pensou em afogar-se, o que fez sem êxito,
A preferência pela mão esquerda ou direita provavelmente é resultado de um pois desceu no fundo das águas e lá encontrou um cofre cheio de esmeraldas,
processo complexo, que envolve fatores genéticos e ambientais. O no estudo, fruto topázios, rubis, diamantes e o mais que você imagina. Voltou à tona para oferecê-lo
de uma colaboração internacional, é a maior análise genética focada em canhotos à rígida Sertória, que virou o rosto. Nada a fazer, pensou Osmundo; vou
da história: utilizou dados de 1,7 milhão de pessoas, extraídos de bancos como o transformar-me em satélite artificial. Mas os satélites artificiais ainda não tinham
UK Biobank e a empresa privada 23andMe. Comparando os genomas de destros, sido inventados. Continuou humilde satélite de Sertória, que ultimamente passeava
canhotos e ambidestros, a equipe descobriu que há 41 pares de bases ligados às de uma lancha para outra, levando-o preso a um cordão de seda, com a inscrição
chances de uma pessoa ser canhota, e sete relacionados a ambidestros. Um “par “Amor imortal”. Acabou.
de bases é, grosso modo, uma letrinha do DNA (A, T, C ou G). Cada gene contém – Mas que significa isso? – perguntou o moço, insatisfeito.
as instruções para fabricar uma proteína. Uma mudança em uma única letrinha do – Não entendi nada.
gene é capaz de mudar a sequência de tijolinhos que constroem essa proteína, e, – Nem eu – respondeu a moça –, mas os contos devem ser contados, e não
por tabela, sua função. Ou seja: o que os geneticistas encontraram foram 41 entendidos; exatamente como a vida.
letrinhas de DNA que aparecem só em pessoas canhotas. Daí até saber o que (Contos plausíveis, 2012.)

exatamente essas letrinhas mudam é outra história. Questão 67 (Unifesp 2021)


B. Carbinatto, "Estudo identifica 41 variações no genoma associadas a pessoas “– Agora você vai me contar uma história de amor – disse o rapaz à moça. – Quero
canhotas". Adaptado. ouvir uma história de amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e satélites
a) Retire do texto duas características linguísticas que permitem classificá-lo como artificiais.” (1º parágrafo)
artigo de divulgação científica. Ao se transpor esse trecho para o discurso indireto, os termos sublinhados
b) Quais os sentidos, no texto, gerados pelo emprego do diminutivo nas palavras assumem, respectivamente, as seguintes formas:
“letrinha(s)” e “tijolinhos”? Explique. a) “quis” e “entravam”.
Questão 65 b) “queria” e “entravam”.
c) “quis” e “entrassem”.
d) “queria” e “entrassem”.
e) “quisera” e “entraram”.
Questão 68
TEXTO I
Correu à sala dos retratos, abriu o piano, sentou-se e espalmou as mãos no
teclado. Começou a tocar alguma coisa própria, uma inspiração real e pronta, uma
polca, uma polca buliçosa, como dizem os anúncios. Nenhuma repulsa da parte do
compositor; os dedos iam arrancando as notas, ligando-as, meneando-as; dir-se-ia
que a musa compunha e bailava a um tempo. [...] Compunha só, teclando ou
escrevendo, sem os vãos esforços da véspera, sem exasperação, sem nada pedir
ao céu, sem interrogar os olhos de Mozart. Nenhum tédio. Vida, graça, novidade,
escorriam-lhe da alma como de uma fonte perene.
ASSIS, M. Um homem célebre. Disponível em: www.biblio.com.br. Acesso em: 2 jun. 2019.
Texto II
Um homem célebre expõe o suplício do músico popular que busca atingir a
sublimidade da obra-prima clássica, e com ela a galeria dos imortais, mas que é
traído por uma disposição interior incontrolável que o empurra implacavelmente na
direção oposta. Pestana, célebre nos saraus, salões, bailes e ruas do Rio de
Janeiro por suas composições irresistivelmente dançantes, esconde-se dos rumores
à sua volta num quarto povoado de ícones da grande música europeia, mergulha
nas sonatas do classicismo vienense, prepara-se para o supremo salto criativo e,
quando dá por si, é o autor de mais uma inelutável e saltitante polca.
WISNIK, J. M. Machado maxixe: o caso Pestana. Teresa: revista de literatura brasileira, 2004 (adaptado).
O conto de Machado de Assis faz uma referência velada ao maxixe, gênero musical
inicialmente associado à escravidão e à mestiçagem. No Texto II, o conflito do
personagem em compor obras do gênero é representativo da
Nesse texto, o entrelaçamento de vários gêneros textuais é um mecanismo a) pouca complexidade musical das composições ajustadas ao gosto do grande
discursivo para público.
a) destacar a fidelidade dos cães. b) prevalência de referências musicais africanas no imaginário da população
b) realçar as vantagens de se adotar um cão. brasileira.
c) mostrar a dependência decorrente do amor aos cães. c) incipiente atribuição de prestígio social a músicas instrumentais feitas para a
d) enfatizar o interesse das pessoas pela adoção de cães. dança.
e) sensibilizar a comunidade sobre a carência dos cães. d) tensa relação entre o erudito e o popular na constituição da música brasileira.
Questão 66 e) importância atribuída à música clássica na sociedade brasileira do século XIX.
Questão 69
Remissão

Tua memória, pasto de poesia,


tua poesia, pasto dos vulgares,
vão se engastando numa coisa fria
a que tu chamas: vida, e seus pesares.

Mas, pesares de quê? perguntaria,


se esse travo de angústia nos cantares,
se o que dorme no base da elegia
vai correndo e secando pelos ares,

A imagem da caneta de tinta vermelha, associada às frases do cartaz, é utilizada na e nada resta, mesmo, do que escreves
campanha para mostrar ao possível doador que e te forçou ao exílio das palavras,
a) a doação de sangue faz bem à saúde. senão contentamento de escrever,
b) a linha da vida é fina como o traço de caneta.
c) a atitude de doar sangue é muito importante. enquanto o tempo, e suas formas breves
d) a caneta vermelha representa a atitude do doador. ou longas, que sutil interpretavas,
e) a reserva do banco de sangue está chegando ao fim. se evapora no fundo do teu ser?
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.

18
Claro enigma apresenta, por meio do lirismo reflexivo, o posicionamento do escritor interrogações na tentativa de encontrar uma resposta que acalme as suas
perante a sua condição no mundo. inquietudes (“De que modo reagiram os caracteres em determinadas
Considerando-o como representativo desse seu aspecto, o poema “Remissão” circunstâncias? O ato que nos ocorre, nítido, irrecusável, terá sido realmente
a) traduz a melancolia e o recolhimento do eu lírico em face da sensação de praticado? Não será incongruência? Certo a vida é cheia de incongruências, mas
incomunicabilidade com uma realidade indiferente à sua poesia. estaremos seguros de não nos havermos enganado?”), como se transcreve em [C].
b) revela uma perspectiva inconformada, mesclando-a, livre da indulgência dos 5: [C] O termo “leviandade” constitui a resposta curta, transcrita em frase nominal, à
anos anteriores, a um novo formalismo estético. pergunta anteriormente formulada (“Afirmarei que sejam absolutamente exatas?”).
c) propõe, como reação do poeta à vulgaridade do mundo, uma poética capaz de Fica subentendido pelo conjunto da própria estrutura que o narrador considera
interferir na realidade pelo viés nostálgico. insensato atribuir qualidade de absoluta exatidão às lembranças do passado.
d) reflete a visão idealizada do trabalho do poeta e a consciência da perenidade da 6: [A] Se, na literatura, a “verossimilhança” (harmonia entre os elementos
poesia, resistente à passagem do tempo. fantasiosos ou imaginários) é mais importante do que a verdade mesma, então a
e) realiza a transição do lirismo social para o lirismo metafísico, caracterizado pela invenção narrativa mostra-se mais convincente se parecer contar uma história real,
adesão ao conforto espiritual e ao escapismo imaginativo. como se afirma em [A].
Questão 70 7: [D] A função conativa da linguagem está presente na conjugação dos verbos no
Falso moralista imperativo, “dirija”, “pegue”, “durma”, “lembre-se”, tendo como objetivo convencer o
destinatário da mensagem a seguir as indicações para não adormecer ao volante.
Você condena o que a moçada anda fazendo Assim, é correta a opção [D], pois a campanha dirige-se diretamente ao motorista,
e não aceita o teatro de revista atribuindo-lhe a responsabilidade pela segurança no trânsito.
arte moderna pra você não vale nada 8: [D] Depois de, nos dois quartetos, o eu lнrico descrever a natureza bucуlica que o
e até vedete você diz não ser artista rodeia, conclui, nos tercetos, que toda essa beleza da paisagem lhe causa tristeza
pela ausкncia da mulher amada: “Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;/sem ti,
Você se julga um tanto bom e até perfeito perpetuamente estou passando,/nas mores alegrias, mor tristeza”.
Por qualquer coisa deita logo falação 9: [A] É correta a opção [A], pois o objetivo principal do texto é explicar a origem de
Mas eu conheço bem o seu defeito determinadas expressões idiomáticas do português brasileiro, que, ao longo do
e não vou fazer segredo não tempo e dependendo dos contextos, vão tomando significações diferentes.
10: [B] A repetição dos termos enfatiza o estado de desespero do narrador que
Você é visto toda sexta no Joá senta a inutilidade de muitos gestos e ações do passado e a impossibilidade de
e não é só no Carnaval que vai pros bailes se acabar refazer a sua vida. Na obsessão de enriquecer e ter prestígio, incapaz de verbalizar
Fim de semana você deixa a companheira os seus sentimentos por Madalena e sem capacidade de entender as diferenças
e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira ideológicas que os separavam e se refletiam nas desavenças e constantes crises
de ciúmes, Paulo Honório se desespera e considera-se “um homem arrasado”. A
Segunda-feira chega na repartição autocrítica vai ao ponto de aproximar o seu comportamento ao de um “porco”, num
pede dispensa para ir ao oculista processo de zoomorfismo, recurso recorrente no estilo neorrealista em que se
e vai curar sua ressaca simplesmente enquadra Graciliano Ramos.
Você não passa de um falso moralista 11:[E] O termo verbal “estabeleci” encontra-se no pretérito perfeito simples do
NELSON SARGENTO. Sonho de um sambista. São Paulo: Eldorado, 1979. indicativo. Ao transpor o trecho para o discurso indireto, o verbo deveria adotar a
As letras de samba normalmente se caracterizam por apresentarem marcas forma simples do pretérito mais-que-perfeito (estabelecera) ou a composta, com
informais do uso da língua. Nessa letra de Nelson Sargento, são exemplos dessas verbo auxiliar no pretérito imperfeito e verbo principal no particípio passado. Assim,
marcas é correta a opção [E]: tinha estabelecido.
a) “falação” e “pros bailes”. 12: [C] No poema “Júbilo”, de Hilda Hilst, o eu lírico revela o desejo de se
b) “você” e “teatro de revista”. reencontrar com o seu amado, retido em um passado que resgata pelas memórias
c) “perfeito” e “Carnaval”. das experiências vividas. O último verso, “E revestida de luz te volto a ver” revela a
d) “bebe bem” e “oculista”. importância que esse desejo se transforme em realidade para sua autorrealização,
e) “curar” e “falso moralista” como mencionado em [C].
Questão 71 13: [D] Para transpor o discurso direto para o indireto, é necessário fazer menção
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, ao discurso do narrador (“A moribunda esclarecia”), integrar tal oração à fala da
Muda-se o ser, muda-se a confiança: personagem por meio de conjunção (“que”) e, finalmente, verter a oração marcando
Todo o mundo é composto de mudança, o distanciamento temporal e espacial; neste caso, o discurso direto apresenta verbo
Tomando sempre novas qualidades. conjugado no pretérito perfeito do indicativo, o que obriga o emprego do pretérito
perfeito composto do indicativo (“nem remédio tinha ingerido”) ou pretérito mais que
Continuamente vemos novidades, perfeito do indicativo.
Diferentes em tudo da esperança: 14: a) Vieira, através de vocativos começa por conclamar os mortos para que
Do mal ficam as mágoas na lembrança, venham informar os vivos sobre os pensamentos e sentimentos que
E do bem (se algum houve) as saudades. experimentaram nos momentos finais da sua vida, já que não podem recuar nem
escapar da inexorabilidade dessa instância. O uso de interjeições, “Oh que transe
O tempo cobre o chão de verde manto, tão apertado! Oh que passo tão estreito! Oh que momento tão terrível!”, acentua o
Que já coberto foi de neve fria, aspecto trágico de todos os que não se preocuparam, em vida, em obedecer às leis
E em mim converte em choro o doce canto. da igreja e estarão, por isso, sujeitos às penas do julgamento final.
b) O pregador busca sensibilizar os ouvintes incutindo neles sentimento de
E afora este mudar-se cada dia, ansiedade e medo do castigo divino no momento em que já não existem condições
Outra mudança faz de mor espanto, de reparar o mal que fizeram em vida. Com esse estilo de retórica, Vieira pretende
Que não se muda já como soía*. sensibilizar os ouvintes para a prática de uma vida terrena de acordo com os
(Luís Vaz de Camões) ensinamentos da Igreja para alcançarem, depois da morte, a graça divina.
*soía: terceira pessoa do pretérito imperfeito do indicativo do verbo “soer” (costumar, ser de 15: [D] No texto, predominam marcas da função emotiva da linguagem, função que
costume). se estabelece na subjetividade com que a mensagem que é transmitida pelo
(Luís de Camões, 20 sonetos. Campinas: Editora da Unicamp, p.91.)
emissor, através da enunciação de suas emoções e sentimentos. No caso da
Indique a afirmação que se aplica ao soneto escrito por Camões.
crônica de Carlos Heitor Cony, o relato da diferença de emoções experimentadas
a) O poema retoma o tema renascentista da mudança das coisas, que o poeta
no presente, quando adquire um computador, e as vividas na sua infância, quando
sente como motivo de esperança e de fé na vida.
se extasiou com o seu primeiro estojo escolar. Assim, é correta a opção [D].
b) A ideia de transformação refere-se às coisas do mundo, mas não afeta o estado
16: Neste trecho, tem-se o discurso indireto livre:
de espírito do poeta, em razão de sua crença amorosa.
- Que nome!
c) Tudo sempre se renova, diferentemente das esperanças do poeta, que acolhem
- Nem Rosas, nem Flores.
suas mágoas e saudades.
- Que esquisitice, já se viu?
d) Não apenas o estado de espírito do poeta se altera, mas também a experiência
Cena: a visão do chapéu da senhora no banco da frente.
que ele tem da própria mudança.
Arregalou os olhos fotogênicos:
GABARITO - Que amor!
17:[A]. O anúncio apela à intervenção individual no combate ao desperdício de
1: [C] O uso de expressões metafóricas com que o narrador descreve a mulher em
água, à poluição por resíduos de lixo doméstico, emissão de gases tóxicos e uso de
situação de internação psiquiátrica (“amo-a quando a vejo por trás das grades de
embalagens não recicláveis, o que permite deduzir que esse anúncio visa resolver
um palácio” ou “quando for do reino sente o mundo de mil lanças”) empresta ao
um problema relacionado à falta de cuidado com o meio ambiente, como transcrito
texto uma forte carga de lirismo em ambiente de profunda segregação social, como
em [A].
mencionado em [C].
18: [C]. Os textos questionam as normatividades sobre a maternidade impostas por
2: [A] A metalinguagem acontece quando o texto usa a narrativa para falar sobre as
instituições sociais e o próprio estado, que revelam conceitos de comportamento
“estórias”, ou seja, a narrativa deste texto conta as narrativas do velho Taímo: “As
materno mitificado e escondem a sobrecarga das mulheres na criação dos filhos.
estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo”.
19: [C]. A necessidade de adequar o discurso a situações concretas exige que o
3: [B] O poema de Manuel Bandeira, que acompanha a música do compositor
texto acadêmico opte pelo uso da linguagem formal que se caracteriza pelo rigor
Heitor Villa-Lobos, exalta o sertão do Cariri através de recursos linguísticos do tipo
sintático, pela riqueza do vocabulário de tipo erudito e pelo uso de formas de
dialetal-social, característicos da fala popular. Termos como “Cadê” (advérbio de
tratamento adequadas ao contexto e ao público específico a que se dirige. Assim, é
interrogação correspondente à forma contraída da expressão “que é de”) “pra”,
correta a opção [C].
“alembrá”, assim como a supressão do “r” no final de vocábulos (“cantadô”, amô e
20:a) Para responder a essa questão, é possível selecionar vários trechos que
querê) são exemplos dessa variedade popular da língua portuguesa, como se
marcam o pensamento do protagonista misturado à voz do narrador. Dois exemplos
afirma em [B].
são: “Então era assim que a família o tratava?”, em que o homem reflete sobre o
4: [C] O narrador, perante as dúvidas quanto à composição da narrativa através do
descaso aparente de sua família, e “Pois então uma estranha se lembrava dele com
fluxo da memória (“Dúvidas terríveis nos assaltam”), formula uma série de
tais requintes, e a mulher e os filhos, nada?”, em que o homem reflete sobre as

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discrepâncias entre o tratamento da secretária e da família. [D] Correta. A função poética predomina, uma vez que o candidato domina a
b) Ao transformar o primeiro trecho em discurso indireto, temos: “Perguntou, ao capacidade de lidar artisticamente com as palavras, apesar de a função apelativa
saírem, aonde ela preferia ir”. ser sua intenção.
Ao transformar o segundo trecho em discurso direto, temos: “No apartamento, ela 38: [E] O fato de Pelino corrigir constantemente as pessoas com quem cruzava no
apontou-lhe o banheiro e disse-lhe: cotidiano para conversas informais, assinalando todo e qualquer desvio à norma-
– Use o banheiro sem cerimônia.” padrão da linguagem, demonstra que a defesa da norma-padrão pelo personagem
21: [E] As frases transcritas em [E] constituem exemplos de linguagem formal e de caracteriza-se por desconsiderar diferentes níveis de formalidade nas situações de
linguagem coloquial, respectivamente, já que a primeira obedece às normas da comunicação. Assim, é correta a opção [E].
gramática normativa e a segunda, “Me adianta essa, vai...”, pela situação de 39: [C] É correta a opção [C], pois, ao relatar o processo que deu origem ao poema
próclise do pronome em início de oração é típica da fala do cotidiano. “Itinerário de Pasárgada”, Manuel Bandeira tece comentários sobre o fazer poético,
22: [A] A expressão “pode ser que” expressa uma hipótese sobre a qual o autor instaurando a função metalinguística da linguagem no texto.
discorrerá para fundamentar a sua tese. Arnaldo Antunes admite que as suposições 40: [B] As imagens de uma cruz na capa e um revólver na contracapa do CD,
anteriores possam ser fantasiosas e, em seguida, passa a discorrer sobre a acompanhadas ambas de frases bíblicas, estabelecem oposição de sentido entre
possibilidade de serem ou não verdadeiras, como se afirma em [A]. valores religiosos de convivência pacífica e fraterna e comportamentos violentos. A
23: [C] Arnaldo Antunes considera que a poesia atinge a plenitude da linguagem na mesma tensão está presente nas letras das canções que compõem o CD
sua função do estabelecimento de vínculos entre pessoas e coisas, por isso deduz- “Sobrevivendo no Inferno”, como transcrito em [B].
se que a linguagem referencial fragmenta a experiência gerada pelas sensações. 41: [A] As figuras representam pessoas circulando num espaço que se deduz ser o
24: [D] Na frase da opção [D] existe metalinguagem, ato de comunicação em que se do próprio cotidiano. Os balões que reproduzem o seu pensamento apresentam
usa a linguagem para falar sobre a própria linguagem. letras que, isoladamente, não apresentam qualquer valor significativo, mas em
25: [D] A referência ao fato de a matraca ter sido recurso utilizado para que um dos conjunto formam a palavra “solidão”. O leitor pode perceber assim, a falta de
vereadores fosse reconhecido pela população como educador de cobras e macacos comunicação existente entre elas, o que as remete a um mundo individual e de
sem nunca ter domesticado nenhum deles permite concluir que o narrador associa consequente solidão.
o uso da matraca à disseminação de informações não fidedignas, como transcrito 42: [C] Embora o verbo ter, no sentido de existir, seja considerado inadequado em
em [D]. situações comunicativas formais, o seu uso está consagrado em linguagem
26: [D] Quando o soldado Manoel Coelho, em carta datada de 1807, rejeita coloquial, como acontece na frase da opção [C]: “do outro lado do jardim tem um pé
enfaticamente o casamento imposto pelo pai da moça que havia seduzido com a de saboneteira”.
frase “Nem por bem, nem por mar!”, revela que a troca do fonema “l” por “r”, típica 43: [B] Metalinguagem é a propriedade que tem as diversas linguagens de se
da forma variante do português brasileiro atual, já figurava no português antigo debruçarem sobre si mesmas. Ao representar o pintor pintando-se a si próprio, o
escrito. Assim, é correta a opção [D]. quadro “A perspicácia”, de René Magritte, é exemplo de discurso metalinguístico.
27: [C] No texto predomina a função referencial ou denotativa da linguagem, que 44: [C] “Tem que matar esses vagabundos” é uma fala de outro personagem
visa a informar o leitor sobre a disponibilização de acesso a imagens de obras de reproduzida pelo narrador: o pai de Matilda.
arte que fazem parte da coleção do Instituto de Arte de Chicago, fornecendo 45: [A] De acordo com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o vocativo pode
também instruções de como utilizar o programa. Assim, é correta a opção [C]. ser definido como a “forma linguística (usualmente um substantivo) que expressa,
28: [B] Na transposição do discurso direto para indireto, o termo verbal “existirem” no discurso direto, aquele a quem o emissor se dirige”. Desse modo, é muito
(futuro do subjuntivo) toma a forma do pretérito imperfeito do subjuntivo comum nas cartas, e é representado no texto pela personagem “Matilda”, a quem o
(existissem), “poderei” (futuro do presente do indicativo) passa a futuro do pretérito narrador/emissor se refere.
do indicativo (poderia) e o pronome em 1ª pessoa (“meu”) passa para a 3ª (seu). 46: a) Ao destacar a importância da divulgação do conhecimento em camadas
Assim, é correta a opção [B]. sociais distantes das elites acadêmicas através do uso de linguagem típica do meio
29: [C] Ao transgredir a linguagem jurídica pelo uso de recursos poéticos, como em que vive, Audino Vilão se distancia do conceito de democracia grega em que a
versos decassílabos rimados e linguagem expressiva que reflete a vida de um condição de cidadania era estabelecida por pressupostos que excluíam boa parte
pobre tocador de violão, a petição atenua a gravidade do delito, como transcrito em da população, considerada sem condições de entendimento para os assuntos
[C]. debatidos. Uso de dialeto local para divulgação do conhecimento filosófico e
30: [B] No texto, o tom de humor decorre da incompatibilidade entre a linguagem debates em parcelas sociais distantes das elites acadêmicas constituem
pomposa da missiva e o papel social do remetente, um contabilista, e o da ferramentas essenciais para diferenciar o conceito de democracia grega, restrita, da
destinatária, a filha de um tabelião local. Assim, é correta a opção [B]. contemporânea, universal.
31: [C] b) O vocativo “parça” dirige-se ao povo ateniense e “mano”, aos políticos atuais.
[A] Incorreto. Segundo o contexto, inclusive não encontrar a palavra correta é uma 47: [B] Ao afirmar que o uso do símbolo jogo da velha, que permite reagrupar
forma de se fazer poesia. mensagens sobre um mesmo assunto e servir de trampolim para mobilizações em
[B] Incorreto. O texto de Galeano não atende à estrutura básica de uma carta. massa, o texto evidencia que a incorporação desse recurso expressivo pela
[C] Correto. De modo resumido, o autor questiona o destino das “palavras sociedade o flexibilizou e o potencializou, como se afirma em [B].
perdidas”, e sugere um reino a elas. 48: [D] O texto tem como objetivo esclarecer que os termos “publicidade” e
[D] Incorreto. “Na ponta da língua” é uma expressão a respeito do que estava na “propaganda”, embora sejam usados indistintamente no Brasil, representam
iminência de ser dito; já “fonte de todas as intrigas”, segundo o contexto, seria um conceitos diferentes. Enquanto o primeiro se refere a atividade associada à
dos maus empregos das palavras. divulgação de ideias com o objetivo de influenciar um comportamento, o segundo
32: [B]. É correta a opção [B], pois, no anúncio, a palavra “legal” assume acepções visa o público a consumir um produto, serviço ou marca.
diferentes de acordo com o viés interpretativo do contexto: na linguagem formal, 49: [D] Expressões como “Quem não tem brio engorda” e “P’ra uns, as vacas
como relativa à lei em vigor ou, na linguagem informal, como indicativo de algo bom morrem... p’ra outros até boi pega a parir...” fazem parte do acervo cultural de
ou positivo. provérbios, ditos sucintos e ricos em imagens que traduzem suposta sabedoria
33: [D] No conto “Singular ocorrência”, dois personagens masculinos conversam popular, permitem que o texto seja fortemente representativo não só da cultura
sobre uma mulher, segundo critérios que a sociedade da época adotava conforme a local, mas também importante patrimônio linguístico da cultura nacional.
sua condição civil, solteira, casada ou viúva. Ou seja, o ponto de vista dos 50: a) No contexto, o termo “houvesse” faz parte da locução verbal “houvesse
personagens referenda conceitos sob a perspectiva masculina, como mencionado perseguido” e tem como núcleo do sujeito a palavra “incerteza”. No segmento “não
em [D]. viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam”, o núcleo do sujeito do
34: [A] A função conativa, predominante no texto, caracteriza-se pelo uso de verbos verbo “viesse” é “enfiada”.
no imperativo (“corrige”, “confirma”, “anule”, “informe-se”, “não deixe”, “vote”) e pelo b) Em discurso indireto, a frase teria a seguinte configuração: à porta do Ateneu,
uso de pronomes em 2ª. pessoa com a intenção de se dirigir diretamente ao meu pai disse-me que eu iria encontrar o mundo.
interlocutor, procurando convencê-lo a realizar sua escolha de maneira consciente, 51:[E] Apenas em [E], a frase realiza adequadamente a transposição do trecho
como se afirma em [A]. original para o discurso indireto. A 1ª pessoa no discurso direto transforma-se em  3ª
35: [A]. [A] Incorreta. As palavras “elegantes” formam um grupo das quais o autor pessoa, o presente do indicativo dos termos verbais “tenho” e “quero” são usados
também gosta; no entanto, a própria redação da carta mostra a habilidade que o no pretérito imperfeito do mesmo modo (tinha e queria) e “conduz”, presente do
candidato tem em lidar com os diversos registros de linguagem. indicativo com intenção de designar ação futura, passa a futuro do pretérito
[B] Correta. A etimologia indica que “vermiforme” é composta por radicais latinos: (conduziria).
verm(i)- (verme) e formi (forma). 52:[B] [A] Correta. Ambas construções estabelecem uma relação opositiva entre o
[C] Correta. De modo informal, o candidato insiste no uso do termo “palavra”, tema poeta e as palavras.
de sua carta-currículo; no contexto destacado, indica diálogo. [B] Incorreta. A forma verbal está corretamente empregada, uma vez que a questão
[D] Correta. A reincidência tem objetivo de ratificar o gosto do futuro roteirista por do não querer escrever persiste; caso fosse empregada no passado, indicaria uma
palavras. ação finda, superada.
36: [A]. [A] Correto. A eficiência do pedido de emprego está na quebra da [C] Correta. Uma poesia cujo tema é a dificuldade da criação de uma poesia
expectativa ao se receber um currículo, exatamente por demonstrar a grande configura a função metalinguística do texto, no qual o código versa sobre o código.
capacidade de lidar com palavras que o candidato domina. [D] Correta. O termo “inunda” é hiperbolicamente ressaltado pela expressão “vida
[B] Incorreto. O remetente não despreza a carreira de redator, apenas prefere ser inteira”, indicando o estado do poeta que, apesar de não conseguir escrever, não
roteirista. desiste de seu objetivo.
[C] Incorreto. O enunciado menciona três entrevistas. 53: a) Não, a palavra “bem” adquire sentidos diferentes e desempenha funções
[D] Incorreto. A mensagem pode ser compreendida sem o contexto do enunciado, distintas também em cada um deles. No texto I, apresenta noção de muito,
perdendo-se apenas alguns aspectos, como o número de entrevistas e a conquista bastante, com função de advérbio ligado ao adjetivo “ligados”. No II, é marcador
do cargo desejado. linguístico de pausa antes de introdução da fala, com função de interjeição. Em III, é
37: [D]. [A] Incorreta. Para o cargo de roteirista, a linguagem informal da carta é substantivo com função de vocativo.
perfeitamente possível. b) Empregando o discurso indireto, a frase apresentaria a seguinte configuração:
[B] Incorreta. A estratégia do candidato a roteirista é mostrar seu domínio com as Ela disse que queria explorar e experimentar diferentes partes da natureza, mas ela
palavras, fato necessário ao cargo. A interlocução presente é típica do gênero não gostava do deserto, sentia muito pelas plantas!
textual. 54:[B] No excerto do enunciado, a imagem do vento metaforiza a vida,
[C] Incorreta. O candidato consegue tecer com eficiência um texto em que a inexoravelmente sujeita a contratempos e tragédias, o que torna o destino
conotação domina, ao personificar uma série de palavras. (“fortuna”) tão incerto como os fenômenos da natureza: "o vento da fortuna pode
chegar a ser tempestade". Assim, é correta a opção [B].

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55: [A]. Em [B], [C], [D] e [E], as orações apresentam sujeito agente: elíptico (ele), a opção [A].
simples (o refém), indeterminado (eles) e simples (o major), respectivamente. 71: [D] O soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, de Luís Vaz de
Apenas a oração em [A], embora o verbo esteja na voz ativa, não apresenta sujeito Camões, é estruturado em versos decassílabos com esquema rimático ABBA ABBA
agente, já que “o carro” não pratica a ação de furar o pneu. CDC DCD. No primeiro quarteto, o poeta apresenta o tema que vai abordar, a
56: a) O fato de João Gostoso morar num barracão sem número expõe a fragilidade mudança, que será desenvolvido no segundo e confirmado no primeiro terceto, pela
de condição social do personagem, assim como metaforiza a sua falta de constatação das transformações que acontecem nele mesmo e na natureza. No
individualização no contexto em que vive. último terceto, o poeta conclui que a própria mudança é objeto da mudança, ou
b) Na linguagem jornalística, predomina a função referencial, presente na sequência seja, “não apenas o estado de espírito do poeta se altera, mas também a
de versos curtos que confere objetividade ao relato, ao mesmo tempo que atende experiência que ele tem da própria mudança”, como transcrito em [D].
aos elementos essenciais de compreensão do fato: o quê (o suicídio de João
Gostoso: núcleo básico da notícia); o quem (o próprio João Gostoso); o quando
(numa noite); o onde (na Lagoa Rodrigo de Freitas); o como (afogado) e o por quê?
(que ficou sem resposta).
57: [B]. O discurso intimidador de ambos os personagens contrasta com a atitude
constrangida do delegado transcrita no último período do texto (“Estarrecido, o
delegado só teve força para engolir em seco e balbuciar humildemente: – Da ativa,
minha senhora?”), conferindo à narrativa um tom anedótico, como mencionado em
[B].
58:[E] A imagem de animais e objetos com que muitas vezes são apelidadas,
jocosamente, crianças e adolescentes, associada à frase “Bullying, isso não é
brincadeira”, evidencia que a campanha tem como objetivo alertar sobre a relação
existente entre o bullying e determinadas brincadeiras, como se afirma em [E].
59: a) O narrador do excerto é um jornalista, sem identidade revelada, que está em
busca de informações sobre o suicídio de Buell Quain, um antropólogo norte-
americano de 27 anos, incidente ocorrido entre os índios Krahôs, em 1939. A
narrativa ocorre pouco após o ataque às Torres Gêmeas, período em que os
Estados Unidos lançam a Guerra ao Terror através de notícias desencontradas e
nem sempre verdadeiras, que serviriam de justificativa para a invasão do
Afeganistão a fim de derrubar o talibã que abrigara os terroristas.
b) A frase “A ficção começou no dia em que botei os pés nos Estados Unidos” diz
respeito ao encontro com Schlomo Parsons, filho presumível do fotógrafo Andrew
Parsons, mas que poderia, na verdade, ser filho de Buell Quain, fruto de uma
relação extraconjugal da esposa do fotógrafo com o antropólogo.
60: [D] As imagens de um casal negro abraçado enquanto conversa sobre a
possibilidade de enfrentar o “calunga” (“mar que não acaba”) e voltar para a sua
terra onde poderiam ficar juntos expressam o lirismo ligado ao amor e à esperança
de uma vida sem a violência a que eram submetidos os povos escravizados. Assim,
a narrativa apresentada na sequência dos quadrinhos em que se conjugam lirismo e
violência acentua a resistência identitária dos povos escravizados, como
mencionado em [D].
61:[A] O diálogo das cobras alude à linguagem de um determinado grupo de
profissionais, que se utilizam de palavras, expressões ou siglas de sua área de
atuação, difícil de ser entendida por quem não se iniciou na sua prática, tipo de
linguagem conhecido na área da comunicação como jargão. Desta forma, o cartum
produz humor brincando com a caracterização da linguagem utilizada em uma
esfera de comunicação específica, como se afirma em [A].
62: [B] O excerto assinala a presença de um novo estilo literário nascido na década
de 30 por autores que, diante das novas configurações históricas, sentiram a
necessidade de retratar as desigualdades sociais e as condições de vida miseráveis
em que vivia grande parte da sociedade brasileira. Assim, é correta a opção [B].
63:[B] No texto, predominam orações subordinadas condicionais que constroem
hipotéticos cenários devastadores que contribuem para o tom alarmante da notícia:
“se ele tivesse sido capturado pelo campo gravitacional”, se caísse no continente
abriria uma cratera de cinco quilômetros”, “se desabasse no oceano”. Assim, é
correta a opção [B].
64:a) O texto de B. Carbinato propaga informações oriundas de investigações
desenvolvidas sob os parâmetros da metodologia científica e fornece dados
extraídos de bancos credíveis, como o UK Biobank e a empresa privada 23andMe.
A função referencial da linguagem através da impessoalidade transmitida pelo uso
da 3ª pessoa do singular, objetividade, fraseologia técnica como “gene”, “genomas”,
“DNA”, assim como uso de vocabulário simples para tornar a informação acessível
a um público leigo permitem classificá-lo como artigo de divulgação científica.
b) O emprego do diminutivo nas palavras “letrinha(s)” e “tijolinhos” permite ao leitor
comum aproximar-se da linguagem científica, vencer a complexidade do estudo do
mundo da microbiologia, ramo da ciência que estuda os seres vivos minúsculos que
só podem ser vistos pelos humanos por meio do microscópio.
65: [B] A caracterização do sentimento amoroso em forma de bula de remédio,
recomendado para quem sofre de solidão ou qualquer tipo de carência afetiva e a
imagem de um cartaz de campanha para adoção de cães do canil municipal da
prefeitura de Florianópolis têm como objetivo sensibilizar a população para as
vantagens emocionais produzidas em quem adota um cão. Assim, é correta a
opção [B].
66: [E] A imagem de uma caneta com pouca tinta vermelha associada às frases do
cartaz, “Doe sangue” e “É simples e faz muito bem à saúde”, é utilizada na
campanha para mostrar ao possível doador que a reserva do banco de sangue está
chegando ao fim, como se afirma em [E].
67: [D] Para reportar o trecho em discurso indireto, ele deve ser reescrito como
“Quis ouvir uma história de amor em que entrassem caravelas, pedras preciosas e
satélites artificiais”.
68: [D] No conto “O homem célebre”, o personagem Pestana vive um profundo
conflito, já que, apesar de ser reconhecido como grande compositor de polca,
música popular associada ao maxixe, pretendia ser compositor de música clássica.
Assim, é correta a opção [D], pois o conflito do personagem em compor obras do
gênero é representativo da tensa relação entre o erudito e o popular na constituição
da música brasileira.
69: [A] No poema “Remissão’, os versos “Tua memória, pasto de poesia,/tua
poesia, pasto dos vulgares” e “o que dorme na base da elegia/vai correndo e
secando pelos ares” expressam a frustração do eu lírico pela condição vulgar e
efêmera da sua poesia, ao mesmo tempo que se instala a sensação de
incomunicabilidade, ao reconhecer que o fazer poético serve apenas para seu
próprio contentamento:” e nada resta, mesmo, do que escreves/e te forçou ao exílio
das palavras,/senão contentamento de escrever”. Assim, é correta a opção [A].
70: [A] Termos como “falação” e contrações de preposições com artigo, como
“pros”, são marcas do uso informal da língua, típicas da oralidade. Assim, é correta

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