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Telma Lucia de Paulo Souza Cabral - telmasouzacabral@yahoo.com.br - CPF: 828.963.

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I CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A igreja de Cristo iniciou sua história no dia de Pentecostes,


cinqüenta dias após a ressurreição, e dez dias depois da ascensão do
Senhor Jesus Cristo (At.2). O seu crescimento foi constante (At.5:14;
6:7; 8:4).A arma usada pela igreja, através da qual crescia
demasiadamente, era o testemunho de seus membros seguido da
colaboração do Espírito Santo (At.4:8,31). Enquanto aumentava o
número de membros aumenta o número de testemunhas, pois cada
membro era um mensageiro de Cristo. Os motivos desse
crescimento foram (At.2:41-47):

a) Perseveravam na doutrina dos apóstolos;

b) Perseveravam na comunhão e partir do pão;

c) Perseveravam na oração;

d) Possuíam temor;

e) Muitos sinais e maravilhas aconteciam;

f) Todos os que criam estavam juntos e ajudavam-se;

g) Perseveravam unânimes no templo e em casa;

h) Havia alegria e singeleza.

Ainda no primeiro século (60 a 100 d.C) a igreja foi amplamente


perseguida. Paulo, Pedro, Tiago, por exemplo, foram mortos nesse
período.
Ao se estudar a história do cristianismo é importante refletir em
primeiro lugar sobre o que é a igreja cristã, qual o seu significado,
sua natureza e seus limites. O Novo Testamento grego usa a palavra

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“ekklesía” no singular e no plural, ou seja, tanto para referir-se a uma
comunidade cristã específica – uma igreja local (Mt.18:17; At.8:1;
14:23; Rm.16:5; ICo.1:2; Ap.2:1), quanto a um conjunto dessas
comunidades, geralmente localizadas em uma determinada região
(At.15:41; Rm.16:4,16; IICo.8:1; ITs.2:14). Mais complexo é o uso do
termo no singular, porém, com um significado coletivo, isto é, com
referência a uma realidade mais ampla e mais profunda, como é o
caso da passagem clássica de Mateus 16.18 (“... sobre esta pedra
edificarei a minha igreja”). Esse uso teologicamente mais denso do
termo também pode ser visto em textos como Atos 20:28 e em várias
passagens das epístolas aos Efésios e aos Colossenses (Ef.1:22,23;
3:10,21; 5:23-32; Cl. 1:18,24).
Mas o que é afinal “a igreja” nesse sentido mais abrangente e
mais profundo? O Novo Testamento parece dar uma dupla resposta
a essa pergunta. Por um lado, ela é uma realidade espiritual e
mística, o corpo de Cristo, e como tal é invisível aos olhos humanos.
Trata-se do conjunto dos verdadeiros crentes, passados, presentes e
futuros, daqueles que pertencem a Cristo e o reconhecem
explicitamente como salvador e Senhor, onde quer que se
encontrem (Ef.1:23; 2:16; 4:4,12,16; Cl.1:18,24; 2:17,19; 3:15). Por
outro lado, em um sentido mais concreto e palpável, esse corpo é o
conjunto visível daqueles que professam a fé cristã e se reúnem em
comunidades (Rm.12:4,5; ICo.10:17; 12:12-27; Ef.3:6; 5:30).

II IGREJA: CONCEITUAÇÃO

A palavra provém do grego “ekklesia”, que significa


basicamente: assembléia; reunião; ajuntamento (At.19:32,39,41).
O conceito bíblico de igreja radica fundamentalmente na
palavra hebraica “qahal” do Antigo Testamento, que a Septuaginta
traduz constantemente por ekklesia. A palavra é introduzida na Bíblia,
no livro de Deuteronômio, com referência ao Dia da Ekklesia, ou seja,
o dia em que Iahweh mandou convocar em assembleia o povo, em
Horebe, para a solene celebração da aliança (Dt.4:10; 9:10; 18:16); e é

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aplicada, sempre a partir do mesmo livro (Dt.23:1-8; 31:30), ao povo
de Israel como comunidade religiosa e cultural. Em Mateus 16:18, o
vocábulo usado para igreja é ekklesia; o mesmo aparece em torno de
cem vezes no Novo Testamento.

1 - As Igrejas Locais

Ao contrário do que ocorria com os hebreus, não é pelo


nascimento biológico que se entra nesta comunidade; entra-se nela
pela livre aceitação de Jesus como salvador e pelo testemunho
público dessa aceitação mediante o batismo livremente decidido e
pedido. Assim, o ponto de partida é o crente individual. E quando
vários crentes se associam e reúnem com um objetivo formam uma
igreja: a igreja local. Há muitas referências no Novo Testamento
acerca das igrejas locais:

a) O livro de Atos menciona, desde cedo a igreja de Jerusalém


(At.11:22; 15:4), à qual se segue a de Antioquia (At.11:26; 13:1;
14:27). A maioria das epístolas do apóstolo Paulo é dirigida para
igrejas locais: Éfeso, Colossos, Filipos, Tessalônica, Corinto,
Roma. O livro de Apocalipse contém várias mensagens para
igrejas locais, como, além de Éfeso, já mencionada, Esmirna,
Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodiceia;
b) Uma variante da igreja local é a que podemos chamar igreja
doméstica. Neste sentido, são mencionadas as igrejas nas casas
de Áquila e Priscila (Rm.16:5; ICo.16:19), de Ninfa (Cl.4:15) e de
Filémon (Fm. 2);

c) A esta pluralidade de igrejas locais se referem expressões tais


como: as igrejas (At.16:5; ICo.8:24; Ap.22:16); outras igrejas
(IICo. 11:8; 12:13); cada igreja (At.14:23; ICo.4:17); todas as
igrejas (ICo.7:17; 14:33; II Co. 8:18; 11:28); as igrejas de Deus
(ICo.11:16; ITs.2:14; IITs.1:4); as igrejas de Cristo (Rm.16:16) etc.;

d) Além das referências às igrejas locais, há no Novo Testamento


alusões às igrejas de determinada província ou setor

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geográfico, como: as igrejas da Judeia (Gl.1:22; ITs.2:14); as
igrejas da Síria e Cilícia (At.15:41); as igrejas da Galácia (ICo.16:1;
Gl.l:2); as igrejas da Ásia (ICo.16:19; Ap. 1:11); as igrejas da
Macedônia (IICo.8:1).

2 - A Igreja Universal

É possível reconhecer a realidade transcendente de uma igreja


universal: a igreja no sentido mais rico e compreensivo da palavra,
constituída por todos aqueles que, tendo crido em Jesus, foram
integrados na família divina e serão contados entre os cidadãos do
glorioso reino de Deus. Esta é a noção de igreja presente nas
palavras de Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt.16:18). Essa é a
igreja de Deus (ICo.10:32; 15:9; Gl. 1:13; ITm.3:5,15), adquirido com o
seu próprio sangue (At.20:28); a igreja dos primogênitos que estão
inscritos nos céus (Hb.12:23); ver ainda (ICo.12:28; Ef.1:22; 3:10, 21;
5:25-32; Fl.3:6; Cl.1:18,24); Cristo a ama e dela cuida (Ef.5:25,29).
À noção de igreja universal, são adicionadas no Novo
Testamento expressões paralelas, algumas das quais de inspiração
veterotestamentária, tais como: “casa espiritual”, “geração eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo adquirido”, “povo de Deus”
(IPe.2:5,9,10). Outras designações ocasionais descrevem a fé e o
comportamento dos membros, tais como: os santos, os fiéis, os
irmãos (Rm.16:2; IICo.1:1; ITm.4:10,12; ICo.4:17; Rm.14:10;
ICo.8:11,12).

3 - A Transcendência da Igreja

Embora constituída por simples mortais, a igreja assume uma


dimensão sobrenatural derivada dos sagrados vínculos que a unem a
Cristo. Uma das imagens mais conhecidas para expressar esta
realidade é a do corpo humano, usada particularmente pelo apóstolo
Paulo: “Vós sois o corpo de Cristo” (ICo.12:27). Por sua vez, Cristo “é a
cabeça do corpo, da igreja” (Cl.1:18; ver ICo.12:12; Ef.5:23; Cl.1:24).
Vemos, pois, que a união entre Cristo e a sua igreja é tão íntima

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como a que existe entre a cabeça e os diferentes órgãos do corpo
humano. Por outro lado, “assim como em um corpo temos muitos
membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, assim nós
que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente
somos membros uns dos outros” (Rm.12:4,5; ver ICo.12:12-30). Cristo
estabeleceu metas “transcendentes para a sua igreja” (Ef.1:22,23 com
4:11-16; 5:1).
A união vital entre o tronco e as varas da videira é outra
imagem da sobrenatural relação que existe entre Cristo e os crentes
(Jo.15:1-5).
Outra ilustração dos laços que unem a igreja a Cristo é a da
relação de marido e esposa (Ef.5:23-27; ver IICo.11:2; Ap.19:7-9; 21:9).
Outro vínculo de união entre a igreja e Cristo relaciona-se com
o fato de que os membros da igreja são membros da família divina,
da qual o redentor é o irmão mais velho (Rm.8:29 ver Gl.4:4-7;
Rm.8:14-17). No dizer do apóstolo João é pela fé em Jesus Cristo que
nos tornamos seus irmãos (Jo.1:12). E Jesus, mesmo na glória do céu
onde se encontra “não se envergonha de lhes chamar irmãos”
(Hb.2:11). É neste sentido de família que a igreja é também chamada
casa. Lemos em Hebreus 3:5,6 que “na casa de Deus Moisés foi fiel,
como servo, para testemunhar das coisas que se haviam de anunciar,
mas Cristo, como Filho sobre a sua própria casa, a qual casa somos nós,
se tão-somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança
até ao fim”.
Outra figura da relação entre Cristo e a sua igreja: a que existe
entre o pastor e as ovelhas (Jo.10:11-16; ver Mt.26:31; Hb.13:20;
IPe.2:25).
A igreja é como um edifício, do qual Cristo é não só o
fundamento, mas também a principal pedra de esquina (Ef.2:21,22;
ver IPe.2:4,5).
A igreja não é só uma família; é uma nação santa (IPe.2:9), um
reino espiritual, não com pretensões a este mundo, mas voltado para
o mundo futuro, o reino da graça, o glorioso reino dos céus. No
momento em que nos arrependemos e aceitamos a Jesus como
salvador, Deus “nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou

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para o reino do Filho do seu amor” (Cl.1:13). Esta relação entre Rei e
súditos é mais um vínculo que une Cristo à sua igreja.
Há outro vínculo de união, Jesus encontra-se no céu, onde,
“como precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote,
segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb.6:20). Como sumo sacerdote,
“pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus,
vivendo sempre para interceder por eles” (Hb.7:25). E porque temos no
céu um sumo sacerdote que, “como nós, em tudo foi tentado, mas sem
pecado, podemos chegar-nos com confiança ao trono da graça, para que
possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos
ajudados em tempo oportuno” (Hb.4:15,16). Não devemos esquecer,
porém, que, apesar de se encontrar no céu, como nosso sumo
sacerdote, Jesus está, através do seu Espírito, no meio da sua igreja.
O livro de Apocalipse mostra que a ligação entre Cristo e o seu povo
é intima e constante. Eis o que João teve o privilégio de contemplar:
“Vi sete castiçais de ouro, e no meio dos sete castiçais um semelhante ao
Filho do Homem” (Ap.1:12,13). E que representavam esses sete
castiçais? “Os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas” (Ap.1:20).
Jesus continua, pois, no meio da sua igreja, cumprindo assim
cabalmente a promessa feita antes da sua ascensão: “Eis que eu estou
convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt.28:20).

4 - A Igreja: Organismo e Organização

a) Organismo (Rm.12:5; ICo.12:12-27; IPe.2:5);

b) Organização (At.15:6...; Rm.12:8; ITm.5:17; Tt.1:5 – as reuniões


para tratarem de assuntos coletivamente, bispos e presbíteros,
são termos e acontecimentos claros da realidade da igreja
como organização);

c) Local (ITs.1:1; Ap.2:1,8,12,18);

d) Universal (ICo.1:2; 10:32; 11:16,22; 14:33; 15:9; Hb.12:23);

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e) Visível e invisível. São termos aplicados por Wycliffe e Huss, e
posteriormente apoiados por Lutero e Calvino; eles diziam: “a
igreja invisível é composta apenas pelos eleitos; assim, um
indivíduo, incluindo o papa, pode fazer parte da igreja visível,
mas não da igreja invisível e verdadeira”;

f) Una. Segundo as estimativas da Enciclopédia Cristã Mundial em


1982 havia 22000 denominações (no Brasil, mais de 4500 -
www.lideranca.org/). Porém, isso não compromete a verdade
de que a igreja como “organismo” é una e única (Rm.12:5;
ICo.12:12,13,27; Jo.10:16; 17:20-26; Gl.3:27,28; Ef.4:1-6); santa
(Ef.5:26; ICo.6:11; Rm.1:7; ICo.1:2); e apostólica (Ef.2:20;
ICo.3:9,10).

Observação: Os adjetivos “una, santa, apostólica” são termos


suficientemente específicos para descrever a natureza essencial da igreja
e ainda levar em conta as diferenças entre as denominações, vistas nas
maneiras de cada uma cumprir a missão e o ministério da igreja no
mundo.

5 - A Igreja, o Corpo Vivo de Cristo

5.1 - Características do Corpo de Cristo

a) Unidade (ICo.12:12). As atividades da igreja não cabem a


membros isolados, mas a todos, a cada um cumprindo o seu
papel, o seu dom. Cristo é a cabeça do corpo; dele procedem
todas as instruções. O salvo ingressa no corpo de Cristo no
momento da salvação, pela ação do Espírito Santo (ICo.12:13). A
unidade se baseia na humildade e no serviço, conforme o
exemplo de Jesus (Fp.2:2-8; Jo.13:14-17), e a marca de nossa
unidade é o amor (Jo.13:34,35);
b) Diversidade (ICo.12:14). Cada membro do corpo recebeu dom
ou dons de Deus (I Pe.4:10; ICo.12:11-18; Ef.4:11; Rm.12:3-8).
Cada dom recebido visa suprir as necessidades e finalidades do
corpo. Os membros têm tarefas diferentes. Embora um só

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corpo, cada um coopera nele de maneira funcional. Mas,
atenção: há dois inimigos da diversidade: a inferioridade e a
superioridade;

c) Mutualidade (ICo.12:26). Enfatiza a interdependência e a


harmonia dos diferentes membros do único corpo. O Novo
Testamento expressa a importância da mutualidade através
das expressões “uns aos outros” ou “mutuamente” (Jo.15:12;
Rm.12:12,13; 15:7,15,26; 16:16; ICo.12:25; IICo.1:4,7; 2:7-11;
9:3,7,13; 13:11,12; Gl.5:13; 6:1,2; Ef.4:2,12,29,32; 5:1,19; Fp.2:2-4;
Cl.3:16; ITs.5:13; Tg.4:11; 5:9,13; IPe.4:9,10; 5:5; IJo.1:3).

5.2 - Instrumentos Para a Comunhão do Corpo

a) Oração (Mt.18:19,20). Na oração, os crentes se sentem unidos


na petição e expectativa: pedindo, buscando e batendo, até
encontrar a harmonia cristocêntrica (IJo.3:22; 5:14);

b) Adoração (IPe.2:5). Todos os crentes participam como


sacerdotes. O sacerdote é uma pessoa que tem acesso direto a
Deus, e tem a tarefa de levar outros a Deus. O crente oferece a
sua própria vida como oferta ao Senhor (Rm.12:1), e cresce em
comunhão;

c) Disciplina (Hb.12:5-11). Como pode a disciplina produzir


comunhão? Porque é a certeza do amor e produz segurança.
Deve ser motivada pelo interesse sincero de restauração ou
cura do irmão momentaneamente em dificuldades. A igreja é
um corpo, e a saúde de cada membro é indispensável à saúde
do corpo; logo, a disciplina é o remédio (Jó 5:17; Pv.3:11,12;
Rm.12:8; ITs.5:11; Hb.3:13; Tt.2:15).

5.3 - A Igreja Peregrina

Na sua oração sacerdotal, o Senhor Jesus Cristo disse: “Assim


como tu me enviaste ao mundo, também eu os envio ao mundo”

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(Jo.17:18). A igreja não faz parte do mundo rebelado, mas deve viver
no mundo (Jo.17:14,15,16). Seu estilo de vida deve ser compatível
com sua vocação (Jo.17:21-23,26; ICo.7:31 com Mt.5:13-16;
IPe.2:11,21).

5.4 - A Missão da Igreja

Presença, persuasão e proclamação: “Assim como o Pai me


enviou, eu vos envio” (Jo.20:21). Não somos os “salvadores”, mas
podemos servir como o Senhor Jesus serviu (Lc. 22:27 com Fp.2:5-8).
O ministério de Cristo teve três aspectos básicos: ensinar, proclamar
e curar (Mt.9:35). A igreja recebeu dele o mesmo ministério
(Mt.28:18-20; Mc.16:14-20; At.1:8).

5.5 - A Igreja e Seus Símbolos

O fundamento, o alicerce e a base da igreja nos é indicado por


Mateus 16:18 e I Coríntios 3:10,11, a saber: Jesus Cristo. Esse
fundamento em seu teor e essência é irremovível, único, exclusivo.
Sobre ele a igreja está construída (At.4:11,12; Ef.2:20,21; IPe.2:4-8). As
duas palavras que claramente indicam isso são: pedra (gr. petra -
rocha, pedra, maciço rochoso) e fundamento (gr. themélios -
fundamento, pedra fundamental, alicerce). Como projeto de Deus e
sendo edificada sobre a rocha, a igreja em seu contexto neo-
testamentário é também apresentada a nós mediante o uso de
símbolos.

5.5.1 - Simbolos Bíblicos da Igreja

a) Noiva (IICo.11:2; Ap.19:7,8);

b) Templo (ICo.3:16,17 com 6:19; IICo.6:16; Ef.2:21);

c) Corpo (ICo.12:27; Ef.1:22,23; 4:12; 5:29,30; Cl.1:18,24);

d) Edifício (Ef.2:20-22);

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e) Casa Espiritual (IPe.2:5);

f) Povo – Geração – Sacerdócio – Nação (Tt.2:14; IPe.2:9,10);

g) Coluna e Esteio/Baluarte (ITm.3:15).

III AS PERSEGUIÇÕES IMPERIAIS

Este período vai da morte do Apóstolo João, ano 100 d.C


aproximadamente, até o Edito de Constantino, ano 313 a.D. O fato de
maior destaque na História da Igreja neste período foi, sem dúvida,
as perseguições realizadas pelos imperadores romanos. Estas
perseguições duraram até o ano 313 d.C, quando Constantino, o
primeiro Imperador Romano, "cristão", fez cessar todos os
propósitos de destruir a igreja.
No início do segundo século, os cristãos já estavam radicados
em quase todos os lugares conhecidos, e alguns crêem que se
estendia até a Espanha e Inglaterra. O número de membros da
comunidade cristã crescia muitos. A famosa carta de Plínio
(Governador da Bitínia - hoje Turquia) ao Imperador Trajano, declara
que os templos dos deuses estavam quase abandonados, enquanto
os cristãos em toda parte formavam uma multidão, e pertenciam a
todas classes, desde a dos nobres, a até a dos escravos.

1 - Os Motivos das Perseguições

a) O Paganismo em suas práticas aceitava as novas formas e


objetos de adoração que iam surgindo, enquanto o cristianismo
rejeitava qualquer forma ou objeto de adoração;

b) A adoração aos ídolos estava entrelaçada com todos os


aspectos da vida. As imagens eram encontradas em todos os
lares, e até em cerimônias cívicas, para serem adoradas. Os

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cristãos, é claro, não participavam dessas formas de adoração.
Por essa razão o povo considera os cristãos como anti-sociais e
ateus que não tinham deuses;

c) A adoração ao Imperador era considerada prova de lealdade.


Os cristãos recusavam-se a prestar tal adoração;

d) As reuniões particulares (por exemplo, a Santa Ceia) dos


cristãos despertaram suspeitas. Achavam que eles praticavam
canibalismo (antropofagia);

e) O cristianismo considerava todos os homens iguais. Não havia


distinção entre seus membros, nem em suas reuniões, por isso
foram considerados como "niveladores da sociedade", portanto
anarquistas, perturbadores da ordem social.

2 - Os Perseguidores

a) Imperador Trajano (98 a 117 d.C). Estabeleceu a seguinte Lei:


sendo o cristão acusado de qualquer coisa e não negar fé, será
castigado. Mandava crucificar e lançar às feras;

b) Imperador Marco Aurélio (161 a 180 d.C). Mandava decapitar


e lançar às feras. Apesar de possuir qualidades de homem e
governante justo, contudo foi perseguidor dos cristãos.
Opunha-se, pois, aos cristãos por considerá-los inovadores;

c) Imperador Severo (193 a 211 d.C). Iníciou uma terrível


perseguição que durou até à sua morte em 211 d.C.;

d) Imperador Décio (249 a 251 d.C). Décio observava com inveja


o poder crescente dos cristãos, e determinou reprimi-los. Via as
igrejas cheias enquanto os templos pagãos desertos. Por
consequencia, mandou que os cristãos se apresentar a ele para
negarem a fé. Quem renunciava recebia um certificado, quem

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não renunciava era considerado criminoso e conduzido às
prisões e sujeito às mais horrorosas torturas;

e) Imperador Diocleciano (305 a 310 d.C). A última, a mais


sistemática e a mais terrível de todas as perseguições deu-se
neste governo. Em uma série de editos determinou que: todos
os exemplares das Escrituras fossem queimados; todos os
templos construídos em todo o império fossem destruídos;
todos os ligados as ordens clericais fossem presos (ninguém
seria solto sem negar o cristianismo); pena de morte para
quem não adorasse aos deuses. Consta que ele erigiu um
monumento com esta inscrição "Em honra ao extermínio da
superstição cristã".

Observação: As perseguições fortaleceram a pureza da igreja, pois


conservava afastados todos aqueles que não eram sinceros em sua
confissão de fé. Ninguém se unia à igreja para obter lucros ou
popularidade. Somente aqueles que estavam dispostos a serem fiéis
até a morte se tornavam publicamente seguidores de Cristo.

3 - O Crescimento e a Expansão da Igreja

A perseguição aproximou as igrejas locais e exerceu influência


para que elas se unissem e se organizassem. O aparecimento das
heresias impôs, também, a necessidade de se estabelecerem alguns
artigos de fé. Outra característica que distingue esse período é sem
dúvida, o desenvolvimento da doutrina. O Credo Apostólico, a mais
antiga e mais simples declaração da crença cristã foi escrito durante
esse período. Nesta época surgiram três escolas teológicas: uma em
Alexandria, outra em Antioquia e outra em Cártago. Os maiores
vultos da historia do cristianismo passaram por essas escolas. Por
exemplo: Orígenes, Tertuliano, Cipriano, João Crisóstomo, Teodoro
de Mopsuéstia.

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IV A IGREJA IMPERIAL

Desde o Edito de Constantino, 313 d.C, até à queda de Roma


em 476 d.C.
No ano 305 d.C, quando Diocleciano renunciou o trono
imperial, a religião cristã era terminantemente proibida, e aqueles
que a professassem eram castigados com torturas e morte. Logo,
após a renúncia de Diocleciano, quatro aspirantes à coroa estavam
em guerra. Os dois rivais mais poderosos eram Maxêncio e
Constantino. Constantino afirmou ter visto no céu uma cruz luminosa
com os seguintes dizeres: "Por este sinal vencerás". Constantino
ordenou que seus soldados empregassem para a batalha o símbolo
que se conhece como "Labarum", e que consistia na
superposição de duas letras gregas, X e P (lê-se Chi - Rho, as
primeiras duas letras de Χριστός - Cristo). Em batalha travada sobre
a Ponte Mílvio (no rio Tibre), Constantino venceu Maxêncio e seu
exército. Após a vitoria Constantino fez aliança com Licínio e
posteriormente com Maximino, os outros dois pretendentes a coroa.
Em 323 d.C, Constantino alcançou o posto supremo de Imperador, e
o cristianismo foi então favorecido. Em muitos lugares os templos
pagãos foram dedicados ao culto cristão. Em todo o império os
templos pagãos eram mantidos pelo Estado, mas, com a “conversão”
de Constantino passaram a ser concedido às igrejas e ao clero
cristão. Do reconhecimento do cristianismo como religião preferida
surgiram alguns “bons” resultados:

a) As perseguições acabaram;

b) A crucificação foi abolida;

c) Templos restaurados e muitos construídos;

d) O infanticídio foi reprimido;

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e) As lutas de gladiadores foram proibidas;

f) Etc.

Apesar desse triunfo do cristianismo haver proporcionado boas


coisas ao povo, contudo a sua aliança com o Estado, inevitavelmente
trouxe maus resultados para a igreja:

a) As igrejas eram mantidas pelo Estado e seus ministros


privilegiados, não pagavam impostos, os julgamentos eram
especiais;

b) Iniciou-se as perseguições aos pagãos, ocorrendo assim muitas


conversões falsas;

c) Todos queriam ser membros da igreja e quase todos eram


aceitos. Homens mundanos, ambiciosos e sem escrúpulos,
todos desejavam cargos na igreja, para, assim, obterem
influência social e política;

d) Os cultos de adoração aumentaram em esplendor, é certo,


porém, eram menos espirituais e menos sinceros;

e) Aos poucos as festas pagãs tiveram seus lugares na igreja,


porém, com outros nomes. A adoração a Venus e Diana foi
substituída pela adoração a virgem Maria. As imagens dos
mártires começaram a aparecer nos templos como objeto de
reverência.

No ano 363 d.C todos os governadores professaram o


cristianismo e antes de findar o quarto século o cristianismo foi
estabelecido como religião do império.

1 - O Desenvolvimento do Poder na Igreja Romana

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Roma reclamava para si autoridade apostólica. A igreja em
Roma era a única que declarava poder mencionar o nome de dois
apóstolos como fundadores, isto é, Pedro e Paulo. Além disso Roma
apresentava um cristianismo prático. Nenhuma outra igreja a
sobrepujava no cuidado para com os pobres, não somente com os
seus membros, mas também entre os pagãos. Foi assim que em todo
o ocidente o bispo de Roma começou a ser considerado como
autoridade principal de toda a igreja. Foi dessa forma que no Concílio
Calcedônia, no ano 451 d.C, Roma ocupou o primeiro lugar e
Constantinopla o segundo lugar.

2 O Cristianismo Vivo

O cristianismo dessa época ainda era vivo e ativo. Devemos


mencionar aqui alguns bispos e dirigentes da igreja que contribuíram
para manter vivo o cristianismo:

a) Atanásio (296 - 373 d.C). Foi ativo defensor da fé no início do


período. Ele se levantou e se destacou na controvérsia de Ário;
foi escolhido bispo de Alexandria. Cinco vezes exilado por causa
da fé;

b) João Crisóstomo (345 - 407 d.C). Chamado de "Boca de ouro"


em razão de sua eloquência inigualável, foi o maior pregador
desse período. Chegou a ser bispo em Constantinopla.
Entretanto, sua fidelidade, zelo reformador e coragem não
agradava à corte. Foi exilado e morreu no exílio;

c) Jerônimo (340 - 420 d.C). Foi o mais erudito de todos. Estudou


literatura e oratória em Roma. De seus numerosos escritos o
que teve maior influência foi a tradução da Bíblia para o latim,
obra que ficou conhecida como Vulgata Latina;

d) Agostinho (354 - 430 d.C). O nome mais ilustre desse período,


bispo em Hipona na África. A fama e a influência de Agostinho

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estão nos seus escritos sobre a teologia cristã, da qual ele foi o
maior expositor, desde o tempo de Paulo.

V A IGREJA MEDIEVAL

Este período vai desde a queda de Roma em 476 d.C até a


queda de Constantinopla, 1453.

1 - A Origem do Papado

O termo "papa", significa simplesmente "pai". Este termo era


usado para qualquer bispo, sem importar se ele era de Roma. Como
Roma era a capital do império, a igreja e o bispo desta cidade logo se
viram em posição de destaque. O Sistema Católico Romano começou
a tomar forma quando o Imperador Constantino, “convertido” ao
cristianismo abriu oficialmente o Primeiro Concílio das Igrejas no ano
325 d.C (Concílio e Nicéia) As igrejas eram livres, mas começaram a
perder autonomia com Inocéncio I, ano 402 d.C que, dizendo-se
governante das igrejas de Deus exigia que todas as controvérsias
fossem levadas a ele. Leão I, ano 440 d.C, aumentou sua autoridade;
alguns historiadores vêem nele o primeiro Papa.

2 - A Evolução Histórica do Papado

O papado não é uma instituição de origem divina, mas resultou


de um longo e complexo processo histórico. As Escrituras não dão
apoio a essa instituição como uma ordenança de Cristo à sua igreja.
É verdade que o Senhor proferiu a Pedro as bem conhecidas
palavras: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja"
(Mt.16:18). Todavia, isto está muito longe de declarar que Pedro seria
o chefe universal da igreja (o primado de Pedro) e que a sua
autoridade seria transmitida aos seus sucessores (sucessão
apostólica). As primeiras gerações de cristãos não entenderam as
palavras de Cristo dessa maneira. Tanto é que não se vê em todo o

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Novo Testamento qualquer noção de que Pedro tenha ocupado uma
função especial de liderança na igreja primitiva. No chamado Concílio
de Jerusalém, narrado no capítulo 15 de Atos dos Apóstolos, isso não
aconteceu, e o próprio Pedro não reivindica essa posição em suas
duas epístolas. Antes, ele se apresenta como apóstolo de Jesus Cristo
e como um presbítero entre outros (IPe.1:1; 5:1).
Mais difícil ainda é estabelecer uma relação inequívoca entre
Pedro e os bispos de Roma. Os historiadores não vêem uma base
absolutamente segura para afirmar que Pedro tenha estado em
Roma, quanto mais para admitir que ele tenha sido o primeiro bispo
daquela igreja. Ademais, é um fato bem estabelecido que não houve
episcopado monárquico no primeiro século. As igrejas eram
governadas por colegiados de bispos ou presbíteros (ver At.20:17 e
28; Tt.1:5).
Originalmente, a palavra grega “papas” ou a latina “papa” foi
aplicada a altos oficiais eclesiáticos de todos os tipos, especialmente
aos bispos. A partir de meados do quinto século passou a ser
aplicada quase que exclusivamente aos bispos de Roma. Foram
múltiplos e complexos os fatores que levaram ao reconhecimento de
que esses bispos detinham autoridade suprema sobre a igreja
ocidental.
Em primeiro lugar, há que se destacar a importância crescente
da igreja local de Roma desde o primeiro século. O livro de Atos dos
Apóstolos termina com a chegada de Paulo a Roma. O apóstolo dos
gentios escreveu a principal de suas epístolas a essa igreja e no
segundo século surgiu uma tradição insistente de que tanto Paulo
como Pedro, os dois apóstolos mais destacados, haviam sido
martirizados naquela cidade. Além disso, já numa época remota a
igreja de Roma tornou-se a maior, a mais rica e a mais respeitada de
toda a cristandade ocidental.
Outro ponto que contribuiu para a ascendência da igreja
romana e do seu líder foi a própria centralidade e importância da
capital do Império Romano. Ao contrário da região oriental, em que
várias igrejas (Alexandria, Jerusalém, Antioquia e Constantinopla)
competiam pela supremacia em virtude de sua antiguidade e
conexões apostólicas, no ocidente a igreja de Roma desde o início foi

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praticamente a líder inconteste. Outrossim, a partir de Constantino
muitos imperadores fizeram generosas concessões àquela igreja,
buscaram o conselho dos seus bispos e promulgaram leis que
ampliaram a autoridade dos mesmos.
Outro elemento importante é que desde cedo a igreja romana e
os seus líderes reivindicaram, direta ou indiretamente, certas
prerrogativas especiais. No final do primeiro século (96 d.C), o bispo
Clemente enviou em nome da igreja de Roma uma carta à igreja de
Corinto para aconselhá-la e exortá-la quanto a alguns problemas que
a mesma estava enfrentando. Um século depois, o bispo Vítor (189-
198 d.C) exerceu considerável influência na fixação de uma data
comum para a Páscoa, algo muito importante face à centralidade da
liturgia na vida da igreja. As consultas entre outros bispos e Roma
também datam de uma época antiga, embora a primeira decretal
oficial (carta normativa de um bispo de Roma em resposta formal à
consulta de outro bispo) só tenha surgido em 385 d.C, com o bispo
Sirício. Por volta de 255 d.C, o bispo Estêvão utilizou a passagem de
Mateus 16:18 para defender as suas idéias numa disputa com
Cipriano de Cartago. Dâmaso I (366-384 d.C) tentou oferecer uma
definição formal da superioridade do bispo romano sobre todos os
demais. No quinto século destaca-se sobremaneira a figura de Leão I
(440-461 d.C), considerado por muitos o primeiro Papa. Leão exerceu
um papel estratégico na defesa de Roma contra as invasões bárbaras
e escreveu um importante documento teológico sobre a pessoa de
Cristo que exerceu influência decisiva nas resoluções do Concílio de
Calcedônia (451 d.C). Além disso, ele defendeu explicitamente a
autoridade papal, articulando mais plenamente o texto de Mateus
16:18 como fundamento da autoridade dos bispos de Roma como
sucessores de Pedro. Seu sucessor Gelásio I (492-496 d.C) expôs a
célebre teoria das duas espadas: dos dois poderes legítimos que
Deus criou para governar no mundo, o poder espiritual –
representado pelo papa – tinha supremacia sobre o poder secular
sempre que os dois entravam em conflito.
O apogeu do papado antigo ocorreu no pontificado do notável
Gregório I ou Gregório Magno (590-604 d.C). Sua lista de realizações
é impressionante. Ele supervisionou as defesas romanas contra os

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ataques dos lombardos, saneou as finanças da igreja e reorganizou
os limites e responsabilidades das dioceses ocidentais. Ele foi
também um dedicado estudioso das Escrituras: suas exposições
bíblicas, especialmente um comentário do livro de Jó, foram muito
lidas em toda a Idade Média. Seus escritos sobre os deveres dos
bispos deram forte ênfase ao cuidado pastoral como uma atividade
prioritária. Ele reformou a liturgia, regularizou as celebrações do
calendário cristão e promoveu a música sacra (canto gregoriano).
Finalmente, Gregório foi um grande promotor de missões, enviando
missionários para vários centros estratégicos do norte e do oeste da
Europa e expandindo a área de jurisdição do papado.
Um momento especialmente significativo na evolução do
papado ocorreu no Natal do ano 800 d.C, quando o Papa Leão III
coroou Carlos Magno como sacro Imperador Romano. A esta altura,
a complexa associação dos elementos citados havia criado uma
situação na qual o bispo romano era amplamente considerado o
principal personagem eclesiástico do ocidente, bem como o
representante do cristianismo ocidental junto ao oriente. Algumas
décadas antes, o pai de Carlos Magno havia cedido à igreja os amplos
territórios do centro e norte da Itália que vieram a constituir os
estados pontifícios. Isso fez dos papas governantes seculares como
os demais soberanos europeus. Por vários séculos, os papas teriam
um relacionamento estreito e muitas vezes altamente conflitivo com
esses soberanos. Mas a sua autoridade como líderes máximos da
igreja ocidental não seria questionada.
O papado também teve seus períodos sombrios, marcados por
imoralidade e corrupção. Um desses períodos ocorreu entre o final
do século IX e o início do século XI. A história revela que um terço dos
papas dessa época morreu de forma violenta: João VIII (872-882 d.C)
foi espancado até a morte; Estêvão VI (885-891 d.C), estrangulado;
Leão V (903-904 d.C), assassinado pelo sucessor, Sérgio III (904-911
d.C); João X (914-928 d.C), asfixiado; e Estêvão VIII (928-931 d.C),
horrivelmente mutilado. Parte desse período é tradicionalmente
conhecida pelos historiadores como "pornocracia", numa referência
a certas práticas que predominavam na corte papal.

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A partir de meados do século XI, surgiram vários papas
reformadores que procuraram moralizar a administração da igreja,
lutando contra vários males que a assolavam. O mais notável foi
Hildebrando ou Gregório VII (1073-1085), que notabilizou-se por sua
luta contra a simonia (venda de favores divinos, bençãos, cargos
eclesiásticos, prosperidade material, bens espirituais, coisas
sagradas, etc. em troca de dinheiro), e ficou célebre por sua
confrontação com o imperador alemão Henrique IV. Ele escolheu
como lema do seu pontificado o texto de Jeremias 48:10: "Maldito
aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente". Todavia, o ápice do
poder papal ocorreu no pontificado de Inocêncio III (1198-1216),
considerado o Papa mais poderoso de todos os tempos. Ele foi o
primeiro a utilizar o título "vigário de Cristo", ou seja, o Papa era não
somente o sucessor de Pedro, mas o representante do próprio
Senhor Jesus. Seus sucessores continuaram por algum tempo a fazer
ousadas reivindicações de autoridade sobre toda a sociedade, sem
contudo transformá-las em realidade como o fizera Inocêncio.
Novo período de declínio e desmoralização do papado ocorreu
no século XIV e início do século XV. Primeiro, os papas residiram na
cidade de Avinhão, sul da França, por mais de setenta anos (1305-
1378), colocando-se sob a influência dos reis franceses. Esse período
ficou conhecido como "o cativeiro babilônico da igreja". Em seguida,
por outros quarenta anos (1378-1417), houve dois e finalmente três
papas simultâneos (em Roma, Avinhão e Pisa), no que ficou
conhecido como "o grande cisma". Essa situação embaraçosa foi
sanada por vários concílios reformadores, especialmente o de
Constança, que reivindicaram autoridade igual ou mesmo superior à
dos papas. Em reação, estes reafirmaram ainda mais enfaticamente
a sua autoridade suprema sobre a igreja.
O final do século XV e início do século XVI testemunhou o
pontificado dos chamados "papas do renascimento", os quais, ao
contrário de muitos de seus predecessores ou sucessores, tiveram
escassas preocupações espirituais e pastorais. Como o Papa
Alexandre VI (1492-1503), o espanhol Rodrigo Borja dedicou-se
prioritariamente a promover as artes e a embelezar a cidade de
Roma; Júlio II (1503-1513) foi um Papa guerreiro, comandando

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pessoalmente o seu exército; e Leão X (1513-1521) teria dito ao ser
eleito: "Agora que Deus nos deu o papado, vamos desfrutá-lo". Foi
ele quem despertou a indignação do monge agostiniano Martinho
Lutero ao autorizar a venda de indulgências (na teologia católica, é o
perdão ao cristão das penas temporais devidas a Deus pelos pecados
cometidos na vida terrena) para concluir as obras da Catedral de São
Pedro. O resultado dessa indignação é conhecido de todos.

VI A REFORMA PROTESTANTE E A CONTRA-REFORMA

Durante muito, os primeiros cristão foram perseguidos e até


mortos por causa de Cristo. A situação mudou quando o imperador
romano Constantino, 313 d.C, instituiu uma série de benefícios ao
cristianismo, tais como: isenção de impostos, terras, pagamento dos
bispos e ajuda na construção de templos. Poder e dinheiro passaram
a influenciar a vida da igreja, que, em 392 d.C. sob governo do
Imperador Teodósio I, estava totalmente fundida ao Estado.
Na Idade Média, quem mandava na igreja era o Papa. Foi criado
o clero, que era uma liderança muito mais política que espiritual, e
mantinha uma distância enorme do povo. O clero não parecia de
forma alguma com o grupo dos apóstolos, que viviam em meio ao
povo. Vejamos alguns erros da igreja institucionalizada:

a) 535 d.C - Instituição das procissões;

b) 538 d.C - Celebração da missa de costa para o povo;

c) 757 d.C - Adoração de imagens;

d) 884 d.C - Canonização de santos;

e) 885 d.C - Adoração da Virgem Maria;

f) 1022 d.C - Legalização da penitência por dinheiro;

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g) 1059 d.C - Aceitação da transubstanciação dos elementos da
Ceia (acreditar que o pão e o vinho se transformam
verdadeiramente no corpo e sangue de Cristo);

h) 1215 d.C - Adoção da confissão auricular;

i) 1470 d.C - Invenção do rosário;

j) Etc.

Diante de tantas coisas erradas e corrompidas uma Reforma


era urgente. Foi isso o que aconteceu com a igreja através da
Reforma Protestante: buscou-se consertar o que estava errado,
voltar à Palavra de Deus. A igreja precisava ser restaurada no reto
caminho e abandonar os desvios que havia tomado.
É preciso entender a Reforma Protestante, não como um ato
político, em que príncipes e nobres puderam rebelar-se contra o
poder dominante da igreja. A Reforma envolveu, principalmente, a
vida espiritual da época. Martinho Lutero era um monge católico
que, a partir do estudo das Escrituras descobriu a verdade de que o
justo deveria viver pela fé (Rm.1:17). Transformado por essa verdade
da Palavra de Deus, Lutero desejava agora corrigir os erros que
encontrava na Igreja Católica. No dia 31 de outubro de 1517, véspera
do “Dia de todos os Santos”, ele afixou suas 95 teses à porta da igreja
do castelo, na cidade alemã de Wittemberg, combatendo
principalmente a venda de indulgência praticada pela igreja. As
indulgências eram documentos que, quando comprados, concediam
perdão pelos pecados, tanto para vivos, quanto para parentes já
mortos.
A igreja Romana reagiu duramente a esse ato de Lutero, mas
iniciava-se ali o movimento da Reforma Protestante. Lutero foi
excomungado e perseguido pela Igreja Católica Romana, mas contou
com o apoio do povo alemão. A verdade da justificação pela fé estava
apenas começando a percorrer a Europa. Sucederam a Lutero outros
grandes reformadores, com João Calvino, Melanchton, Zwínglio e

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Knox. João Calvino pode ser considerado o grande sistematizador da
teologia da Reforma.
Pode-se dizer que a Reforma Protestante foi um movimento
inspirado pelo Espírito Santo no século 16 e que propôs o retorno da
igreja oficial da época aos princípios da Palavra de Deus. O
instrumento que Deus levantou para dar início à Reforma foi
Martinho Lutero (1483-1546). Bem cedo ele se apegou à Palavra, e o
vigário geral da ordem agostianina, Staupitz, lhe deu uma Bíblia. Foi
lendo-a que ele se deparou com um texto que revolucionaria a sua
vida: "O justo viverá da fé" (Rm.1:17). Conta-se que certo dia, em
Roma, subindo de joelhos a "santa escada", desejando o perdão de
seus pecados (que o papa prometia a quem o fizesse), ouviu
sussurrar em seus ouvidos Romanos 1:17. Ele se levantou e saiu
envergonhado; a partir daí passou a prestar mais atenção na Palavra
de Deus do que na palavra dos homens. Fundamentado nesse texto
e em outros que tratam da justificação pela fé, em 31 de outubro de
1517 Lutero apresentou suas 95 teses, (foram pregadas na porta da
Igreja do Castelo de Wittenberg) combatendo heresias que estavam
presentes na Igreja Católica Romana. Acabou sendo excomungado e
perseguido; no entanto a Reforma eclodiu por toda Alemanha e
demais regiões da Europa.

1 - A Perspectiva Protestante

A Reforma Protestante foi, entre outras coisas, o


questionamento da noção de que uma determinada tradição cristã
tem o direito exclusivo ao título de igreja. Antes, os reformadores
afirmaram que, onde quer que o povo de Deus se reúna para ouvir a
pregação fiel das Escrituras e receber a ministração dos sacramentos
bíblicos aí está presente a igreja. Com essa nova mentalidade, o
protestantismo abriu as portas para a diversidade dentro do
cristianismo.
Como a igreja não se reduz a instituições ou estruturas
eclesiásticas, os protestantes aceitaram com relativa facilidade a
existência de diferentes ramos no seu movimento: inicialmente
luteranos, calvinistas, anabatistas e anglicanos; posteriormente,

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batistas, congregacionais, metodistas e muitos outros. Além disso, na
cosmovisão protestante não existe a distinção entre clero e leigos –
todos são “leigos” (do grego laós, ou seja, “povo”, o povo de Deus) e
sacerdotes ao mesmo tempo (ver IPe.2:5-10). A igreja não é a “mãe
do fiéis”, mas a “comunhão dos santos”.

2 - Princípios Basilares da Reforma Protestante

a) Somente as Escrituras. A Palavra de Deus é a única e infalível


regra da fé e prática do cristão. A Bíblia está acima da tradição,
posto que ela é a Palavra de Deus revelada aos homens
(IITm.3:14-17);

b) Somente a Fé. A justificação somente através da fé (não por


meio de obras) leva o justificado a viver pela fé (Rm.1:17 e 5:1);

c) Somente a Graça. A Salvação em Cristo é '' pela graça, por


meio da fé'' (Ef. 2:8);

d) Somente Cristo. Só há um mediador entre Deus e os homens,


Jesus Cristo (Jo.14:6; ITm.2:5);

e) Somente a Deus a Glória. Somente Deus deve ser adorado,


venerado, glorificado, exaltado (Is.48:11; Ex.20:1-6; Rm.16:27).

3 - A Contra-Reforma

Logo após haver-se iniciado o movimento da Reforma, um


poderoso esforço foi também iniciado pela igreja romana no sentido
de recuperar o terreno perdido, para destruir a fé protestante e para
enviar missões a países estrangeiros. Esse movimento foi chamado
Contra-Reforma. Tentou-se fazer a reforma dentro da própria igreja
por via do Concílio de Trento, convocado no ano de 1545 pelo papa
Paulo III, principalmente com o objetivo de investigar os motivos e
pôr fim aos abusos que deram causa à Reforma. O Concílio era
composto de todos os bispos e abades da igreja, e durou quase vinte

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anos, durante os governos de quatro papas, de 1545 a 1563. Todos
esperavam que a separação entre católicos e protestantes teria fim,
e que a igreja ficaria outra vez unida. Contudo, tal coisa não sucedeu.
Fizeram-se, porém, muitas reformas na igreja católica e as doutrinas
foram definitivamente estabelecidas.
De maior influência na Contra-Reforma foi a Ordem dos
Jesuítas, fundada em 1534 pelo espanhol Inácio de Loyola. Era uma
ordem monástica caracterizada pela combinação da mais severa
disciplina, intensa lealdade à igreja e à ordem, profunda devoção
religiosa, e um marcado esforço para arrebanhar prosélitos. Seu
principal objetivo era combater o movimento protestante, tanto com
métodos conhecidos como com formas secretas.

VII O REINO DE DEUS E A IGREJA

1 - O Reino Não é a Igreja

A afirmação de que Deus é absolutamente soberano na criação,


na providência e na salvação é básica à crença bíblica e ao louvor
bíblico. A visão de Deus reinando de seu trono é repetida muitas
vezes (IRs.22:19; Is.6:1; Dn.7:9; Ap.4:2; conforme Sl.11:4; 45:6; 47:8;
Hb.12:2). Somos constantemente lembrados, em termos explícitos,
que o Senhor reina como rei, exercendo o seu domínio sobre
grandes e pequenos, igualmente (Ex. 15:18; Sl.47; 93; 96:10; 97; 99:1-
5; 146:10; Pv.16:33; 21:1; Is.52:7; Dn.4:34,35; 5:21-28; 6:26).
O Reino de Deus e o Reino dos Céus são mencionados quase
100 vezes no Novo Testamento, principalmente nos evangelhos de
Mateus e Lucas, mas também em Atos 1:3; 8:12; 14:22; 19:8; 20:25;
28:23,31; Romanos 14:17; I Coríntios 4:20; 6:9-10; 15:50; Gálatas 5:21;
Efésios 5:5; Colossenses 1:13; 4:11; II Tessalonicenses 1:5; II Pedro
1:11 e Apocalipse 12:10.
Se o reino fosse a igreja, Deus estaria governando a terra
através da igreja, o que não acontece. Existem muitas distinções
entre o Reino de Deus e a igreja. Os termos “reino” e “igreja” nunca

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são intercambiáveis na Escritura, como acontece com os termos
“Reino de Deus” e “Reino dos Céus”. Nas ocorrências do termo
“igreja”, ele jamais é usado como sendo o “reino”. É claro que os
apóstolos pregaram o Reino de Deus (At.8:12; 19:8; 28:23), mas não é
cabível substituir “igreja” por “reino”. Contudo, existe uma relação
entre ambos. A igreja é constituída de pessoas nascidas de novo, as
quais se submetem ao governo de Cristo em suas vidas, tornando-se,
imediatamente, parte do seu reino, sendo-lhes assegurada a
participação no futuro Reino de Deus, quando Cristo regressar
(Ap.20:6).
Jesus compara o Reino dos Céus a um homem que semeou
boa semente em seu campo (Mt.13:24); a um grão de mostarda
(Mt.13:31); ao levedo levedando a massa (Mt.13:33); a um tesouro,
pérola e rede (Mt.13:44-50); a um rei que chamou os servos para lhe
prestar contas (Mt.18:23-35); a um dono de terra que assalariou
trabalhadores (Mt.20:1-16); a um rei que preparou as bodas do seu
filho (Mt.22:1-14); às virgens que vão ao encontro do noivo (Mt.25:1-
13).
O atual Reino de Deus é invisível, discernido apenas
espiritualmente (Jo.3:3). Ele é mencionado duas vezes, por Jesus, a
Nicodemos, em João 3:3,5: “Na verdade, na verdade te digo que aquele
que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Disse-lhe
Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode,
porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus
respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer
da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”. Este novo
nascimento é necessário para se ver e entrar no Reino de Deus (ver
Lc.18:17,24,25). Quando mencionamos hoje a expansão do Reino de
Deus estamos falando do reino espiritual.
Em grego, a palavra “reino” é “basiléia”, significando: soberania,
poder real e domínio. Também se refere ao território ou povo sobre
o qual o rei governa. Desse modo, “reino” é uma designação tanto de
poder como de forma de governo e, no porvir, designará o território
e o governo - o reino e o reinado. A significação básica de “reino”
envolve três coisas: um governante, um povo que é governado e um
território, no qual o povo é governado. Jesus disse: “O meu reino não é

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deste mundo” (Jo.18:36). Em Lucas 22:18, Ele diz: “Porque vos digo que
já não beberei do fruto da vide, até que venha o reino de Deus”, o que
implica em um reino futuro e literal (ver ICo.15:24-28). Em Zacarias
14:16, lemos: “E acontecerá que, todos os que restarem de todas as
nações que vieram contra Jerusalém, subirão de ano em ano para
adorar o Rei, o SENHOR dos Exércitos, e para celebrarem a festa dos
tabernáculos”. Em Lucas 22:25-27, Jesus explica que a posição do
cristão no reino é a de servo. Em Mateus 6:10, Jesus ensinou sobre
um reino futuro aos seus discípulos: “Venha o teu reino”.

2 - O Reino dos Céus na Terra

O evangelho de Mateus usa a expressão “Reino dos Céus” mais


de trinta vezes. Quase todas as vezes se refere ao reino que está
próximo. “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”
(Mt.3:2). Jesus pregou a maravilhosa mensagem da chegada do reino:
“Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o
evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades
entre o povo” (Mt.4:23). Homens e mulheres ouviram a mensagem do
reino e se tornaram cidadãos do reino do Senhor: “Ele nos libertou do
império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor”
(Cl.1:13). Jesus disse: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino
fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para
que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é
daqui” (Jo.18:36); “Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino
de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o Reino de Deus com visível
aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus
está dentro de vós” (Lc.17:20,21); “Porque o reino de Deus não é comida
nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm.14:17).
A igreja, atualmente, forma o território do governo espiritual de
Cristo. Ela é a assembléia de cristãos que foram libertados das trevas
do pecado pelo sangue de Cristo. A igreja e o reino estão
intimamente ligados, mas não são palavras sinônimas. Reino destaca
o governo do rei. Igreja salienta o povo de Deus que está sob o
governo de seu Senhor e rei, Jesus Cristo.

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VIII CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao mesmo tempo em que cultiva a sua vida com Deus, a igreja


deve ser um lugar de relacionamentos interpessoais transformados.
Uma igreja teocêntrica será também um lugar de companheirismo,
solidariedade e edificação mútua. Essa é uma das grandes ênfases
do Novo Testamento. Assim como Deus nos amou e nos perdoou em
Cristo, também devemos amar, aceitar e ministrar uns aos outros.
Daí o grande número de exortações em que aparecem as palavras
“mutuamente” ou “uns aos outros”.
Como corpo de Cristo, a igreja deve respeitar certas diferenças;
ao mesmo tempo, deve transcende-las, cultivando uma vida de união
e fraternidade (Rm.10:12; ICo.12:12-27; Gl.3:28). Isso fica
especialmente claro no que diz respeito aos dons (comunhão e
serviço), que são sempre discutidos em conexão com o corpo de
Cristo (Rm.12:3-8; ICo.12:1-12; Ef.4:11,12). Um dos argumentos que
Paulo usa em favor da tolerância na igreja é o fato de que não se
deve fazer perecer “o irmão por quem Cristo morreu” (ver Rm.14:15; I
Co.8:11).
A missão primordial da igreja no que diz respeito ao mundo é a
proclamação do “Evangelho do Reino”, assim como fizeram Jesus e os
seus discípulos. Corretamente entendido, esse evangelho inclui
muitas coisas importantes. Em primeiro lugar, esse evangelho é um
convite a indivíduos, famílias e comunidades para se reconciliarem
com Deus mediante o arrependimento e a fé em Cristo. Todavia, o
evangelho são as boas novas de Deus para todos os aspectos da
vida, pessoal e coletiva. Assim sendo, a legítima proclamação do
evangelho não vai se limitar ao aspecto religioso e à dimensão
individual (experiência de conversão pessoal), mas vai mostrar o
senhorio de Cristo sobre todos os aspectos da existência. Além disso,
essa proclamação não ficará restrita ao aspecto verbal, mas incluirá
ações concretas que expressem o amor de Deus pelas pessoas
(Tg.2:14-26; IJo.3:16-18).

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A igreja se torna um entrave para os interesses do reino de
Deus em várias situações: quando está mais preocupada com a sua
própria sobrevivência, prestígio e poder; quando não consegue abrir
mão de suas peculiaridades e assim “seguir a verdade em amor”
(Ef.4:15); quando se retrai do mundo com medo de perder a sua
identidade ou quando se identifica com o mundo.
Em termos gerais o cristão experimenta uma série de
paradoxos, tais como: o reino já veio, mas ainda não veio em sua
plenitude; vivendo no mundo, experimenta as realidades do reino de
Deus e do império das trevas; na própria igreja, existe trigo e joio,
pecado e graça. Redimido por Cristo e conduzido pelo seu Espírito,
ele ora: “Venha o teu reino”, e se dispõe: “Eis-me aqui, envia-me a
mim”!

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAIRNS, Earle E., O cristianismo através dos séculos: uma história da


igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1988.

GETZ, Gene. A igreja: forma e essência: o corpo de Cristo pelos ângulos


das Escrituras, da história e da cultura. São Paulo: Edições Vida Nova,
1994.

KITTEL, Gerhard. A igreja no Novo Testamento. São Paulo: Aste, 1965.

NICHOLS, Robert H., História da igreja cristã. 11ª ed. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2000.

STEDMAN, Ray C. Igreja: corpo vivo de Cristo. São Paulo: Editora


Mundo Cristão, 1991.

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