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OS MAIAS

OS
Capítulo I MAIAS Resumo da obra

A história de «Os Maias» começa no outono de 1875 quando Afonso da Maia se instala
numa das casas da família, o Ramalhete. Durante vários anos esteve desabitada e servia
apenas para guardar as mobílias do palacete de Benfica, que fora vendido. Carlos, neto de
Afonso é a única família que lhe restava, que tinha acabado o curso de Medicina em
Coimbra esse ano e queria abrir um consultório em Lisboa, razão pela qual Afonso decidiu
deixar Santa Olávia, a sua quinta no norte do país, e acompanhar o neto para Lisboa.
Afonso da Maia, agora velho e calmo, fora um jovem apoiante do Liberalismo 1, ao
contrário do pai, um Absolutista 2. Por esta razão, Afonso foi expulso de casa, mas, por
influência de sua mãe, foi-lhe oferecida a Quinta de Santa Olávia. Alguns anos depois,
Afonso partiu para Inglaterra, onde esteve algum tempo, mas de onde teve que voltar
devido à morte do seu pai. Foi então que conheceu a mulher com quem viria a casar, D.
Maria Eduarda Runa, de quem teve um filho e com quem partiria para o exílio, de volta a
Inglaterra. Porém, D. Maria Eduarda, mulher de fraca saúde e católica devota, não se
habituou à falta de sol quente que tinha em Lisboa nem ao Protestantismo 3. Assim,
ordenou a um bispo português que viesse educar o filho, Pedro, já que não consentia que o
seu filho fosse educado por um inglês, muito menos num colégio protestante. Por isso,
apesar de Afonso se tentar impor, Pedro cresceu frágil, medroso e excessivamente mimado
pela mãe. Algum tempo depois, a doença de D. Maria Eduarda agravou-se e a família
voltou para Lisboa, onde ela acabou por morrer, causando um enorme desgosto no seu
filho Pedro. Um dia, Pedro, recuperado do luto, apaixonou-se por Maria Monforte, uma
mulher muito bela e elegante, filha de um negreiro. Por causa disso, Afonso da Maia opôs-
se fortemente à relação do seu filho com Maria Monforte, mas, apesar disso, eles casaram-
se às escondidas e partiram para Itália, deixando Afonso sozinho e desgostoso com a
atitude do seu filho, cujo nome não foi pronunciado durante muitos anos naquela casa.

1 - Liberalismo é uma filosofia política e moral baseada na liberdade, consentimento dos governados e igualdade
perante a lei.
2 - Absolutismo é uma teoria política que defende que alguém deve ter o poder absoluto, isto é, independente de
outro órgão.
3 - O protestantismo é uma das três principais divisões do cristianismo, junto com o catolicismo e a ortodoxia,
sendo a segunda com o maior número de adeptos e a última a ser criada.

Capítulo II
Pedro e Maria casam-se às escondidas, sem o consentimento de Afonso da Maia e
partem para Itália. Porém, a mulher suspirava por Paris, para onde se mudaram pouco
tempo depois, até Maria aparecer grávida. Nessa altura resolveram voltar para Lisboa, mas
não sem antes escreverem a Afonso anunciando a sua partida e o nascimento do seu
primeiro neto, na esperança de que ele os perdoasse e os recebesse como família. Contudo,
quando chegaram a Lisboa, ficaram a saber que Afonso tinha voltado para Santa Olávia, a
sua quinta no norte do país, no dia anterior. Assim, o tempo passou e Maria Eduarda, filha
do casal, nasceu. Pedro não informou o seu pai do nascimento da filha, por estar ainda
magoado com a atitude dele, mas, quando o segundo filho nasce, põe a hipótese de se
conciliar com o pai e resolve ir a Santa Olávia apresentar-lhe os netos. Contudo, esta visita
foi adiada porque Pedro, numa caçada com os amigos, feriu acidentalmente um italiano, o
Tancredo, que tinha sido condenado à morte e andava fugido. Por isso, Tancredo ficou a
restabelecer-se durante muito tempo em casa de Pedro e Maria – tempo suficiente para
Maria o conhecer, e se apaixonaram sem ninguém ter conhecimento, até ao dia em que
Pedro descobre que ambos fugiram, levando com eles a sua filha, Maria Eduarda. Pedro
decide então procurar consolo junto do pai, que o acolheu, assim como ao seu neto,
Carlos, na casa de Benfica, para onde se tinha mudado, entretanto. Porém, nesse mesmo
dia, Pedro suicida-se ao saber que a mulher o tinha deixado para ir ver viver com o
napolitano e Afonso decide fechar a casa de Benfica, vende-la e muda-se com o seu neto,
Carlos, para a quinta de Santa Olávia.

Capítulo III
A infância de Carlos é passada em Santa Olávia, e é descrito um episódio onde se dá
uma visita de Vilaça, o procurador dos Maias, à quinta. Descreve-se a educação liberal de
Carlos, com um professor Inglês que dá primazia ao exercício físico e as regras duras que
Afonso impõe ao neto. Também ficamos a conhecer os Silveiras: Teresinha, a primeira
namorada de Carlos, a sua mãe e sua tia, e o seu irmão Eusebiozinho, o oposto de Carlos,
muito frágil, tímido, medroso e estudioso. É sobretudo um capítulo de contraste entre as
educações tradicional (Eusebiozinho) e à inglesa (Carlos). Vilaça dá notícias de Maria
Monforte e de sua filha a Afonso, e segundo ele a sua neta morrera em Londres. Vilaça
morre, o seu filho substitui-o como procurador da família. Alguns anos depois, Carlos faz
exame triunfal de candidatura à universidade.

Capítulo IV
Carlos descobre a sua vocação para Medicina e matricula-se com alegria na
Universidade de Coimbra. Para que os seus estudos sejam mais sossegados, Afonso
oferece ao neto uma casa em Celas, onde este, pelo contrário, exerce um tipo de vida
boémio 4, sempre rodeado de amigos com ideias filosóficas e liberais. É sobretudo
chegado a João da Ega, que estudava Direito e era sobrinho de André da Ega, amigo de
infância de Afonso. Pela altura da formatura de Carlos, deu-se uma grande festa na sua
casa de Celas, depois da qual este partiu para uma viagem de um ano pela Europa. Ao fim
desse tempo, Afonso esperava-o no Ramalhete, onde se iriam instalar (fim da grande
analepse). Carlos tencionava montar um escritório e um laboratório em Lisboa, vontades
que depressa satisfez com a ajuda do avô: o laboratório foi montado num velho armazém,
e o consultório num primeiro andar em pleno Rossio. Carlos recebeu com alegria a visita
do seu amigo Ega, que lhe anunciou que ia publicar o livro que andava a escrever havia já
alguns anos - «Memórias de um Átomo» - que todos os que tinham ouvido falar
esperavam com impaciência. Esse livro falava da história de vida de um átomo, que viveu
desde o início da Terra até aos tempos de hoje.
4 – Boémia é a prática de um estilo de vida não convencional, alegre, simples e despreocupado.

Capítulo V
Este capítulo inicia-se com uma festa no escritório de Afonso, no Ramalhete, que
contava com a presença de D. Diogo, do general Sequeira, do Cruges, do Eusébio Silveira
e do Conde Steinbroken. Todos sentiam a falta de Ega, pois ninguém o via há já vários
dias. Entretanto, o negócio na clínica de Carlos já começara a ter alguma popularidade,
devido ao seu sucesso com o caso da Marcelina (a mulher do padeiro que tivera às portas
da morte). Mais tarde, Carlos finalmente encontra Ega e é desvendado o mistério do seu
desaparecimento: estava apaixonado por Raquel Cohen, que era, infelizmente, casada.
Durante uma conversa entre Carlos e Ega, Ega propõe a Carlos conhecer a família
Gouvarinho. Carlos aceita. Após a um encontro com estes amigos de Ega, Carlos não
parava de pensar na Condessa Gouvarinho. Estava apaixonado. Este capítulo acaba com
uma ida de Carlos com a família Gouvarinho à ópera, e durante esta ocasião, a condessa
mostra-se interessada em Carlos.

Capítulo VI
Carlos pretende fazer uma visita surpresa a Ega, na Vila Balzac, casa que este comprara,
mas tem muitas dificuldades em encontrar a casa. E quando finalmente chega ao local, não
estava lá ninguém em casa para o receber. Depois ao encontrar Ega, dias mais tarde, este
mostra-se indignado com o sucedido e combinam uma visita na sua casa. Carlos foi muito
bem recebido, com o pajem à porta, muito champanhe e Ega mostra-lhe a sua casa. Muito
exuberante e decorado tal e qual o temperamento do proprietário. Ega convida-se para
jantar com Carlos e quando se prepara para sair, falam sobre a Gouvarinho e sobre o
súbito desinteresse de Carlos pela senhora, após uma grande atração. Esta atitude de
Carlos para com as mulheres, era frequente e os dois conversam sobre o assunto. Na ida
para o jantar, cruzam-se com Craft, amigo de Ega. Ega apresenta Carlos ao amigo.
Combinam jantar no dia seguinte no Hotel Central. Ega faz questão que os dois amigos se
conheçam melhor. Após alguns contratempos, Ega consegue marcar o jantar no Hotel
Central com Carlos, Craft, Alencar, Dâmaso e Cohen (banqueiro e marido da sua amante),
a quem Ega faz questão de homenagear, com um dos pratos: “Petits pois à la Cohen”.
Discutiram vários temas ao longo do jantar como a literatura e as suas críticas, as finanças,
e a história da política em Portugal naquele momento. O jantar acaba e Alencar
acompanha Carlos a casa, lamentando-se da vida, do abandono por parte dos amigos e
falando-lhe de seu pai, de sua mãe e do passado. Carlos recorda como soubera a história
dos seus pais: a mãe fugira com um estrangeiro levando a irmã, que morrera depois, o pai
suicidara-se. Carlos, já em casa, antes de adormecer e enquanto aguarda um chá, sonha
com uma mulher deslumbrante, uma deusa, com quem se cruzou à porta do Hotel Central,
enquanto aguardava com Craft os restantes amigos para o jantar.

Capítulo VII
Depois do almoço, Afonso e Craft jogam uma partida de xadrez. Carlos tem poucos
doentes e vai trabalhando no seu livro. Dâmaso à semelhança de Craft, torna-se íntimo da
cada dos Maias, seguindo Carlos para todo o lado e procurando imitá-lo. Ega anda
ocupado com a organização de um baile de máscaras na casa dos Cohen. Carlos, na
companhia de Steinbroken em direção ao Aterro, vê, pela segunda vez, Maria Eduarda
acompanhada do marido. Carlos desloca-se várias vezes, durante a semana, ao Aterro na
esperança de a ver novamente. A condessa Gouvarinho, com a desculpa de que o filho se
encontrava doente, procura Carlos no consultório. Ao serão no Ramalhete, joga-se
dominó, ouve-se música e conversa-se. Carlos convida Cruges a ir a Sintra no dia
seguinte, pois tomara conhecimento, por intermédio de Taveira, que Maria Eduarda aí se
encontrava na companhia de seu marido e de Dâmaso.

Capítulo VIII
Neste capítulo, Carlos da Maia e o seu amigo, o maestro Cruges, vão visitar Sintra. A
ideia é de Carlos que obriga Cruges a ir com ele. Cruges, que já não visitava Sintra desde
os 9 anos, acaba por ficar rendido à ideia e prepara-se para desfrutar do passeio. Esta
viagem tem o propósito escondido por Carlos, de procurar um encontro fortuito com Sra.
Castro Gomes, que ele julgava em Sintra. Após algumas horas de viagem de break,
chegam a Sintra e logo se vão instalar no Hotel Nunes, por sugestão de Carlos, que temeu
que ao instalarem-se no Lawrence Hotel, se cruzassem com os Castro Gomes, perdendo o
seu encontro aquele efeito de casualidade que lhe procurava empregar. Aí encontram o
amigo Eusebiozinho, acompanhado por um amigo, Palma, e duas senhoras espanholas,
acompanhantes de ambos. Após um pequeno episódio cómico, em que uma das espanholas
se enfureceu, Carlos e Cruges, partem num pequeno passeio pedestre para visitar Seteais.
Pelo caminho encontram outro amigo, Alencar, o poeta, vindo justamente de Seteais, mas
que fez questão de os acompanhar lá, fazendo aquele caminho pela segunda vez nesse dia.
Chegados a Seteais, Cruges, que não conhecia o local, ficou desapontado quando verificou
o estado de abandono em que se encontrava a construção. Depressa Alencar o fez pensar
doutro modo, ao apontar-lhe os pormenores do local e a beleza da vista. De volta ao
casario, passaram pelo Lawrence e foram ver, por breves instantes, o Paço e o seu Palácio,
após o que voltaram ao se sentarem a tomar um cognac. Carlos já informado sobre o
destino dos Castro Gomes, que haviam deixado Sintra na véspera, decide voltar para
Lisboa. Resolveram jantar no Lawrence, para evitarem o amigo Eusebiozinho sua trupe.
No entanto, como tiveram de ir ao Nunes para pagar a conta, lá acabaram por encontrar o
amigo de quem depressa se despediram. De volta ao Lawrence, onde Alencar os esperava
para o jantar especial de bacalhau, preparado pelo próprio, mercê de especial favor da
cozinheira, iniciaram-se no belo repasto, que só acabou já passava das oito. Depois do
jantar lá se sentaram no break de volta a Lisboa, dando boleia a Alencar que também
estava de partida.

Capítulo IX
Já no Ramalhete, no final da semana, Carlos recebe uma carta a convidá-lo a jantar no
sábado seguinte nos Gouvarinhos; entretanto, chega Ega, preocupado em arranjar uma
espada conveniente para o fato que leva nessa noite ao baile dos Cohen. Dâmaso também
aparece de repente, pedindo a Carlos para ver um doente “daquela gente brasileira”, os
Castro Gomes – a menina Rosa. Os pais tinham partido essa manhã para Queluz. Ao
chegar ao hotel, Carlos verifica que a pequena já estava ótima. Carlos dá uma receita a
Miss Sara, a governanta. Ega vai ao Ramalhete pedir emprestado uma espada para a sua
máscara para a festa na Casa dos Cohen em honra dos anos de Raquel. Às 10 horas da
noite, ao preparar-se para o baile de máscaras, aparece Ega (mascarado de Mefistófeles),
dizendo que o Cohen o expulsara (ao que parece, descobrira o caso de Raquel e Ega), e
Ega quer desafiar Cohen num duelo, mas Carlos e Craft desmotivam-no. No dia seguinte,
nada acontece, exceto a vinda da criada de Raquel Cohen, anunciando que ela tinha sido
espancada pelo seu marido e que partiam para Inglaterra, deixando Portugal. Ega dorme
no Ramalhete e decide deixar Lisboa. Na semana seguinte, só se ouve falar do Ega e do
mau caráter que ele é. “Todos caem-lhe em cima”, pois para além disto, só lhe acontecem
desgraças. Carlos vai progressivamente ficando íntimo dos condes de Gouvarinho. Visita a
Gouvarinho e dá-lhe um tremendo beijo, mesmo antes da chegada do conde Gouvarinho.

Capítulo X
Há três semanas que Carlos se encontra com a Gouvarinho e começa já a enjoar a nova
relação.
Até porque não lhe sai do sentido a esplêndida mulher que em vão fora procurar a Sintra.
Durante um jantar no Ramalhete, em que o tema de conversa eram as corridas de cavalos
que se preparavam, concebe, para a encontrar, um plano em que Dâmaso convidaria o
casal a visitar a quinta do Craft nos Olivais. Dâmaso acede, mas chega o dia das corridas
sem que ele tenha recebido a resposta dos Castro Gomes.
De mau humor, Carlos vai às corridas no hipódromo de Belém. Aí, vê-se confrontado
com uma proposta da Gouvarinho de passar com ela, que tem de se deslocar para o Porto,
uma noite em Santarém. Entediado a princípio, mas acaba por aceitar. Por desfastio, joga
tudo num cavalo contra o campo e, contra todas as expectativas, ganha uma pequena
fortuna. Sabe finalmente, pelo Dâmaso, que o Castro Gomes partira para o Brasil,
deixando a mulher em Lisboa, e que esta vive num andar arrendado da casa do Cruges.
Informado disto, Carlos resolve passar por casa do Cruges no regresso, para, ao menos,
subir as escadas que a mulher dos seus sonhos pisava também. A casa pareceu-lhe fria,
silenciosa e impenetrável. Mas, ao chegar ao Ramalhete, é agradavelmente surpreendido
com um bilhete em que a Sr. a Castro Gomes lhe pede que vá, na manhã seguinte, ver uma
pessoa de família que se encontrava incomodada.

Capítulo XI
Carlos realiza, finalmente, o sonho de se encontrar com a Sr. a Castro Gomes, que vem a
saber chamar-se Maria Eduarda. A casa desta denuncia o bom gosto de quem a habita.
A doente é a governanta inglesa, Miss Sara, que Carlos observa e em quem diagnostica
uma bronquite ligeira, que exigirá, no entanto, pelo menos quinze dias de cama.
O passar da receita é um pretexto para Carlos e Maria Eduarda terem uma primeira
conversa em que aquele fica a conhecer alguns pormenores da vida desta, sem, no entanto,
entrarem em intimidades.
A despedida dela é “até amanhã” – e assim se inicia entre ambos a relação que constitui
o cerne do romance. Os deuses parecem favorecer Carlos: a presença do Gouvarinho a
acompanhar a mulher ao Porto liberta-o daquele incómodo compromisso. Na estação,
aliás, onde se deslocou, encontra Dâmaso que sai, também ele, de Lisboa para ir ao funeral
de seu tio a Penafiel. A condessa fica, entretanto, retida no Porto a tratar do pai atingido
por uma apoplexia.
Assim, os encontros entre Carlos e Maria Eduarda sucedem-se diariamente, e ele tem
oportunidade de a conhecer melhor. No entanto, entre ambos ficara tacitamente
estabelecido, quase desde o princípio, que aquela relação não devia ultrapassar a pura
estima.
Num desses encontros, o criado anuncia a chegada de Dâmaso, que Maria Eduarda
prontamente manda entrar. Carlos apercebe-se da frieza com que Dâmaso é tratado por
Maria Eduarda, e que lhe confirma quanto ela lhe dissera sobre a relação daquele com o
casal.
Dâmaso manifestará depois, no Ramalhete, o seu despeito por aquilo que considera uma
intromissão de Carlos em propriedade própria. Mas o ambiente do Ramalhete vai
apaziguando o Dâmaso, e o capítulo fecha sobre a previsão do escândalo que se adivinha
no regresso do Ega a Lisboa, onde já se encontram os Cohens.

Capítulo XII
Ega regressa a Lisboa e fica instalado no Ramalhete. Tendo viajado com os
Gouvarinhos, quis saber do adivinhado romance de Carlos com a condessa, e transmitir-
lhe o convite do casal para jantarem na segunda-feira.
Antes do jantar dos Gouvarinhos, Carlos teve com a condessa um encontro pouco
agradável entre beijos frios e recriminações inúteis. Quando vai a caminho do jantar, Ega
pergunta-lhe que romance é aquele com a brasileira. Ega soubera pelo Dâmaso que dava
uma versão notavelmente distorcida. Carlos repõe a “sua” verdade, sem, no entanto, se
abrir com o amigo quanto aos sentimentos que o animam. Mas fica inquieto com a
badalarão do Dâmaso, tanto mais que, no jantar, também a Gouvarinho alude à brasileira.
Carlos consegue despistar as suspeitas da condessa, mas o preço que isso lhe custa é uma
manhã de forçado amor com ela no dia seguinte.
Daí voa Carlos para casa de Maria Eduarda. Ela acabara de regressar, e dá-lhe a entender
que esperava mais cedo a sua visita, o que provoca em Carlos a certeza de que os
sentimentos que nutre por Maria Eduarda são correspondidos. A conversa é interrompida
pelo criado que anuncia a chegada do Sr. Dâmaso. Maria Eduarda recusa-se simplesmente
a recebê-lo.
A conversa deriva então para os inconvenientes daquela casa, ali ao lado do Grémio e
tão perto do Chiado, que expõe os seus habitantes às arremetidas constantes dos
importunos. Era tão bom ter uma casa no campo, um simples cottage com quintal, em que
Rosa pudesse brincar.
Carlos imediatamente concebe a ideia de comprar ao Craft as suas coleções, e de lhe
alugar a casa por um ano, e dá conta a Maria desse projeto: ela iria passar o Verão numa
bela quinta dos Olivais. O movimento de gratidão que ela esboça é o pretexto par Carlos
lhe confessar o seu amor e saber que ele é correspondido. Tão excitada fica que, por três
vezes, frustra Maria Eduarda na sua tentativa de lhe dizer qualquer coisa que entende
dever ele saber. Logo ali, para Carlos, o destino daquele amor seria a fuga, para lhe pôr o
selo definitivo.
No dia seguinte, tudo fica arrumado com o Craft. O avô aprova: são valores com que a
casa dos Maias se enriquece. E é com alvoroço que Carlos anuncia tudo a Rosa primeiro, e
a Maria Eduarda depois, e afasta, como descabida, a ideia de ser ela a pagar o aluguer da
casa.
De tudo isto, Ega conhece apenas o que é possível ver do exterior: até aí, Carlos, que
sempre o tivera como confessor para as suas aventuras, não lhe dissera uma palavra sobre
o assunto. Finalmente, naquela noite, foi a confidência. E Ega apercebe-se de que aquele
caso é em tudo e por tudo diferente dos anteriores.

Capítulo XIII
Carlos prepara-se para ir aos Olivais, à quinta que Maria Eduarda visitará no dia
seguinte, quando Ega lhe dá conta da bisbilhotice do Dâmaso. Esta é lhe confirmada
quando regressa dos Olivais, pelo poeta Alencar. Dâmaso apregoava a Lisboa inteira a
história dos amores entre Carlos e a aventureira que lhe preferira os braços aos que
Dâmaso lhe oferecia, só porque ele era mais rico.
Nem de propósito, do outro lado da rua passa o Dâmaso, acompanhando o Gouvarinho e
o Cohen, diante dos quais Carlos o ameaça de lhe arrancar as orelhas caso ele persista em
continuar o falatório. Dâmaso tem, evidentemente, a reação de cobarde que era de esperar.
No dia seguinte, Carlos e Maria Eduarda encontraram-se a sós na quinta dos Olivais.
Visitam demoradamente a casa, e ela vai fazendo as suas críticas e sugestões, que Carlos
toma como ordens. A visita termina numa longa sesta dos dois: para sossego dela, Carlos
tapa com a coberta um quadro onde se via a cabeça degolada de S. João Baptista e que
muito a impressionara.
O aniversário de Afonso da Maia reuniu no Ramalhete, no dia a seguir àquele, o habitual
grupo de amigos para o jantar. Ao serão, Carlos é avisado de que à porta, numa carruagem,
alguém lhe quer falar. Era a Gouvarinho, que vinha por uma explicação. Carlos,
embaraçado, tenta não a magoar, e acobarda-se de lhe anunciar o rompimento. Mas
acabam por se despedir desabridamente. E há ameaças veladas nas palavras dela.
Capítulo XIV
No mesmo dia em que o avô parte para Santa Olávia, Carlos instala Maria Eduarda na
casa dos Olivais, e fica em Lisboa só com o Ega, que depressa o abandona e se dirige a
Sintra onde os Cohens passam o verão. Carlos fica assim de todo livre para se dedicar a
Maria: dormia no Ramalhete e, após o almoço, seguia para os Olivais, onde fazia longas
sestas com Maria no quiosque japonês, enquanto Miss Sara se encarregava das lições de
Rosa. É o idílio, com seus planos de futuro, longe, em Itália, possivelmente.
O desejo de ficarem juntos mais tempo faz que Carlos comece a voltar furtivamente
depois do jantar, recolhendo de madrugada a Lisboa, e acaba por alugar uma pequena casa
ali mesmo nos Olivais.
Craft, entretanto, regressa de Santa Olávia e conta a Carlos de grande desgosto do avô
por ele não se ter dignado a aparecer. Com a provação de Maria, Carlos resolve dar um
pulo a Santa Olávia – afinal deixar o avô para seguir Maria já seria rude golpe no ancião.
No dia da partida, e a pedido dela, Carlos leva Maria a conhecer o Ramalhete e ali jantam
os dois. É lá que se dá o primeiro encontro de Maria Eduarda com o Ega, que, entretanto,
regressara de Sintra.
Poucos dias ficou Carlos em Santa Olávia. Mas, no próprio dia em que regressa, recebe
no Ramalhete a visita de Castro Gomes. Recebera este uma carta anónima denunciando-
lhe a situação e vinha simplesmente dizer a Carlos que Maria não é sua mulher, ele não é o
pai de Rosa, Maria viera de outros braços. Para a ter nos seus, emprestara-lhe o nome e
pagara-a. Na situação presente, limitava-se a tirar-lhe o nome e a suspender-lhe a paga.
Carlos fica terrivelmente humilhado: afinal, a mulher por quem se dispunha a tudo
sacrificar não passava de uma vulgar cocotte. Desabafa com Ega e concebe planos de
desforço: um cheque de pagamento, e breves linhas de despedida frias como o gelo.
Acaba por resolver deslocar-se pessoalmente aos Olivais. No caminho encontra Mélanie,
a criadita de Maria, e por ela sabe que Castro Gomes estivera nos Olivais e que a Senhora
ficara muito transtornada. De resto, Mélanie podia garantir que, desde que viera para os
Olivais, a Senhora não gastara um tostão do que Castro Gomes lhe mandava: a Senhora
vivia das suas joias.
No encontro com Maria, esta é cruelmente recriminada por Carlos. As suas lágrimas, as
suas explicações e a dignidade que assume acabam por o convencer de que ela não é a
mulher vulgar que vinha imaginando. A entrevista termina com Carlos pedindo Maria
Eduarda em casamento.

Capítulo XV
No dia seguinte, após o almoço, Maria faz questão de contar a Carlos toda a sua história.
Nascera em Viena, mas nada sabia do papá, a não ser que era nobre e belo. Tivera uma
irmã que morrera, e lembrava-se de, já mais crescida, a mãe não tolerar que lhe fizessem
perguntas sobre o passado, e lembrava também o avô velhinho que contava histórias de
navios.
Fora educada num colégio de freiras donde viera a sair para acompanhar a mãe em
andanças várias em que adivinhava uma vida pouco edificante com altos e baixos
conforme os acasos da fortuna. Fora numa dessas alturas que se juntara a Mac Gren, um
irlandês simpático, que tencionava realmente casar com ela. Veio a morrer na guerra.
Maria e a mãe (com Rosa agora também) conheceram as agruras e a miséria do exílio em
Londres, e fora depois do regresso a Paris que conhecera Castro Gomes, a quem se juntara
numa situação de desespero. Mas, acentuou a terminar, nas duas ligações anteriores, o seu
coração, como o seu corpo, permaneceram sempre frios.
Carlos, entretanto, conta a Ega de tudo o que se passou, e faz notar que o só lhe custa
para realizar a sua felicidade é o desgosto que o avô irá ter. O bom velho não iria perdoar a
Maria o seu passado. Ega encontra a solução luminosa de adiarem o casamento para
depois da morte de Afonso, sem embargo de se considerarem um ao outro como marido e
mulher.
Ega é o primeiro dos amigos de Carlos a ser admitido da intimidade da Toca. Mas outros
se seguiram, e aquele fim de verão foi de verdadeira felicidade para Carlos.
Até ao dia em que na Corneta do Diabo, o jornal de Palma Cavalão, um artigo reles
apareceu a insultar Carlos e a sua relação com Maria. Ega consegue suspendera tiragem e
avisar Carlos, a quem faz chegar um dos poucos exemplares que saíram. Ega acha que a
solução é comprar o Palma (o mesmo que Carlos encontra em Sintra com as espanholas) e
obriga-lo a vomitar o nome do inspirador daquele nojo. A troco de cem mil reis, Palma dá
o nome (Dâmaso Salcede) e fornece as provas. Carlos pensa que chegou a altura de
esmagar o Dâmaso. Manda o Ega e o Cruges desafiá-lo para um duelo, com a alternativa
de assinar uma carta a declarar-se infame. Assustado, Dâmaso assina mesmo a carta
redigida pelo Ega, em que, além de desdizer quanto dissera, se confessa um bêbado
incorrigível. Carlos está vingado e Ega também dos suspeitados amores do Dâmaso com a
sua Raquel Cohen.
Aliás, a vingança do Ega só fica completa quando consegue a publicação da carta em A
Tarde. A Afonso da Maia, entretanto regressado de Santa Olávia, contam o episódio,
ocultando os episódios comprometedores dos amores de Carlos. E, para espanto deles, o
velho, sensatamente, achas que foi nobre a atitude do Dâmaso desagravando o amigo que
ofendera.

Capítulo XVI

Capítulo XVII

Capítulo XVIII

Ação
N’Os Maias podemos distinguir dois tipos de ação: a crónica de costumes – ação aberta;
e a intriga – ação fechada, que se divide em intriga principal e intriga secundária. São,
aliás, estes dois níveis de ação, que justificam a existência de título e subtítulo nesta obra.
O título – Os Maias – corresponde à intriga, enquanto que o subtítulo – Episódios da Vida
Romântica – corresponde à crónica de costumes.
Na intriga secundária temos: a história de Afonso da Maia – época de reação do
Liberalismo ao Absolutismo; a história de Pedro da Maia e Maria Monforte – época de
instauração do Liberalismo e consequentes contradições internas; a história da infância e
juventude de Carlos da Maia – época de decadência das experiências Liberais.
Na intriga principal são retratados os amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda que
terminam com a desagregação da família – morte de Afonso e separação de Carlos e Maria
Eduarda. Carlos é o protagonista da intriga principal. Teve uma educação à inglesa e tirou
o curso de medicina em Coimbra. A educação de Maria Eduarda foi completamente
diferente, donde se conclui que a sua paixão não foi condicionada pela educação, nem pela
hereditariedade, nem pelo maio. A sua ligação amorosa foi comandada à distância por uma
entidade que se denomina destino.
A ação principal d’Os Maias, desenvolve-se segundo os moldes da tragédia clássica –
peripécia, reconhecimento e catástrofe. A peripécia verificou-se com o encontro catástrofe.
A peripécia verificou-se com o encontro casual de Maria Eduarda com Guimarães; com as
revelações casuais do Guimarães a Ega sobre a identidade de Maria Eduarda; e com as
revelações do Guimarães, torna a relação entre Carlos e Maria Eduarda uma relação
incestuosa, provocando a catástrofe consumada pela morte do avô; a separação definitiva
dos dois amantes; e asa reflexões de Carlos e Ega.

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