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O poema “Isto” de Fernando Pessoa tem como intuito dar resposta às dúvidas provocadas no

leitor pelo primeiro verso do seu outro poema “Autopsicografia” – “O poeta é um fingidor”.
Para isso, a obra composta por cinco quintilhas, foca na primeira o processo de criação
poética, em que Pessoa demonstra que, ao invés de haver fingimento e mentira (“Dizem que
finjo ou minto”), de forma sincera e espontânea (“simplesmente”), ocorre o sentimento
(“sinto”) racional (“Com a imaginação/Não uso o coração”). Esta intelectualização dos
sentimentos pretende dar a ideia que a poesia só funciona quando, por meio da utilização da
razão, as emoções, como matéria-prima, são colocadas em um aspeto concreto acessível ao
leitor. Assim, o coração e a imaginação assumem dois papeis distintos que se interligam na
conceção da poesia: o coração é o elemento antecedente, uma vez que o poeta parte daquilo
que sente, para que, posteriormente, com a imaginação, recrie esses sentimentos e
transforme-os em expressão de arte.

O autor, na segunda quintilha, continua a abordagem à relação entre o coração e a razão,


dando um exemplo concreto, por meio de uma ligação entre o mundo real e imaginário,
utilizando uma comparação. Os sentimentos (“sonho/passo” – antítese – e “falha/finda”)
descritos pelo autor, inerentes ao mundo real, tomam aparências e ocultam, havendo uma
separação, como “um terraço”, a realidade intelectual, ou seja, o mundo imaginário, onde se
dá a criação da poesia, à qual Pessoa atribui um plano superior – “Essa coisa que é linda”. Aqui
fica demonstrado todo o significado da poesia para o Sujeito Poético, onde a beleza do ato da
criação poética consiste em dar outra aura à realidade terrestre.

Por fim, na última quintilha, o poeta demonstra a sua realidade, onde aplica aquilo que
descreveu – “…escrevo em meio/Do que não está ao pé”. A frieza emocional e a liberdade dos
sentimentos, que o prendem – “Livre do meu enleio” - permitem ao autor ascender ao mundo
mais belo, pela sua imaginação e, assim, trabalhar a estética que é a sua poesia. Pessoa conclui
a obra, colocando o leitor e a emoção num plano diferente da imaginação e do autor o autor,
uma vez que é ao leitor que pertence a função de sentir, não a quem está envolvido na criação
poética.

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