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Estratégias passivas para habitações na cidade de Manaus visando o


conforto térmico

Alessandra Linhares da Silva – linhares.ale@live.com


MBA Construção Sustentável e Edificação Eficiente
Instituto de Pós-Graduação – IPOG
Manaus, AM, 20 de agosto de 2016

Resumo
Especificar estratégias passivas que oriente a concepção do projeto arquitetônico de
edificações habitacionais adequando as construções ao clima local. A pesquisa é direcionada
para a questão climática da cidade de Manaus que está inserida na zona bioclimática 8
brasileira, de clima quente e úmido com o objetivo de solucionar na fase de concepção de
projetos um bom desenho arquitetônico para o conforto térmico das edificações com baixa
oneração para quem constroí.. Para chegar às estratégias foram identificadas orientações
previstas na norma de desempenho 15220-3, algumas referências na norma Passivhaus, a
carta bioclimática de Givoni por meio do software Analysis Bio, e literaturas da área. As
observações identificadas são aplicadas na envoltória de uma edificação modelo e no
entorno da mesma com o objetivo de reduzir o custo de manutenção da casa ao longo da sua
vida útil, além de contribuir para uma construção integrativa com a natureza local, de forma
sustentável. Concluiu-se que as estratégias contribuem para um conforto térmico de bem-
estar para os moradores, com significativa economia de energia, com relativo alto custo
inicial sendo compensadas com a economia posterior à conclusão da construção, algumas
estratégias podem ser adaptadas às edificações já existentes, e o ganho ambiental pelo uso de
vegetação melhora consideravelmente a qualidade do ar e o microclima local.

Palavras-chave: Estratégias Passivas. Edificações. Habitações. Conforto Térmico.


Bioclimático.

1. Introdução
O desenvolvimento sustentável é uma preocupação mundial e abrange inúmeras áreas de
conhecimento e passa, principalmente, pelo espaço construído e meio ambiente ao qual está
inserido.
As edificações assumem um lugar no ambiente que já foi exclusivo da natureza, um espaço
que era destinado à vegetação. Ao longo dos anos o homem evoluiu, desenvolveu técnicas
construtivas mais sofisticadas e passou a morar em um único lugar, sendo necessário construir
abrigos para se proteger de intempéries e predadores. Essa nova forma de habitar gerou
conflitos com o meio ambiente e sua degradação, principalmente pós-revolução industrial,
quando o uso do solo passou a ser explorado de maneira predatória com o mínimo de respeito
à natureza existente e com novas tecnologias que faz uso exagerado de recursos naturais.
Pensando em diminuir os efeitos negativos da ação humana, minimizar os impactos nocivos
do ser humano e desenvolver os espaços urbanos habitáveis de forma mais saudável,
sustentável e integrativo com a natureza, respeitando as particularidades do meio ambiente, as
questões climáticas do local que se pretende construir, foi incorporado ao estudo na hora de
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desenvolver projetos de edificações para um desenvolvimento que ofereça um melhor


conforto térmico definindo medidas a serem adotadas a partir das possibilidades e recurso de
quem constrói.
Givoni ao sugerir seu modelo de Carta Bioclimática corrigia algumas limitações do diagrama
idealizado por Olgyay (1968), onde este aplicava seu diagrama apenas para condições
externas enquanto Givoni sugeria em sua carta adaptada a carta psicrométrica propondo
estratégias construtivas para adequação da arquitetura ao clima. O arquiteto Heliomar
Venâncio (2010) discorre sobre a importância de trabalhar técnicas que ajudem a preservação
ambiental:

O emprego dos princípios da ecoeficiência no projeto de um imóvel demanda


investimento inicial tanto financeiro quanto de planejamento. O resultado ao longo
da vida útil da casa são benefícios que vão desde a valorização imobiliária e a baixa
manutenção do imóvel, o que ocasiona o retorno do investimento, passando à
qualidade de vida, que está associada a um modo de viver mais sustentável, sem
contar a preservação do meio ambiente. (VENÂNCIO, 2010:73).

No âmbito da arquitetura de Manaus, a cidade sempre se desenvolveu de forma variada


devido à influência de vários imigrantes europeus desde a época em que a região da
Amazônia precisava ser defendida e resguardada pelos colonizadores portugueses dos
invasores estrangeiros até o período áureo da borracha.
Ao analisar as edificações burguesas do fim do século XIX e início do século XX, típicas do
movimento eclético brasileiro, observamos estratégias passivas na sua implantação que nos
permite traçar um paralelo com a realidade das habitações mais contemporâneas, quando estas
se esqueceram, ou deixaram de usar elementos construtivos que facilitavam o conforto
térmico dos ambientes. A priori, as edificações ecléticas tinham a finalidade de mostrar o
poder capitalista e posição social dos seus moradores com suas fachadas bem ornadas,
enfeitadas e monumentais como diz Otoni Mesquita (1997:403) “A preocupação com a
aparência dos prédios ecléticos pode ser interpretada como um reflexo do caráter de uma
burguesia ascendente, que procurava ostentar nas fachadas o seu status”, mas também
existiam elementos que viabilizavam um conforto térmico sem uso de energia elétrica por
meio de disposição de ambientes e materiais construtivos da época.
Entre as estratégias empregadas, podemos citar a existência do porão que permitia a entrada
de ar pelas gateiras onde este ar era resfriado em contato com a umidade do solo
automaticamente resfriando o pavimento acima. É sabido que o ar mais frio, por ser mais
denso, tende a expulsar o ar mais quente sempre para cima, mesmo este não sendo o uso
principal do porão, o mesmo funcionava como tal indiretamente. As telhas de barros
possuíam um respiro que funcionava como efeito chaminé por onde saía o ar quente, janelas
altas e pé direito alto favoreciam a circulação de ar e os óculos acima dessas janelas ajudavam
com a iluminação natural da parte mais interna da edificação, além de paredes grossas que
ajudavam com a inércia térmica.
E é nesse caminho de observar as moradias antigas e o desafio atual de ocuparmos a cidade de
forma mais harmoniosa com a natureza e usando-a para conquistarmos um bom conforto
térmico, formando um microclima local benéfico para o homem e espaço urbano de forma
passiva atendendo os três pilares de sustentabilidade, a ecológica, econômica e social, que é
proposto a seguir nove diretrizes construtivas que pretendem ser eficazes no processo de
concepção do projeto arquitetônico direcionado à cidade de Manaus, e que auxiliarão numa
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edificação mais confortável, de baixo consumo energético e mais integrado com o meio
ambiente.
2. Desenvolvimento
Em caráter de recomendações e estratégias construtivas, a norma de desempenho NBR 15220-
3 que trata de Zoneamento Bioclimático Brasileiro e Diretrizes Construtivas para Habitações
Unifamiliares de Interesse Social, aborda a carta bioclimática a partir da sugerida por Givoni
em 1992, onde indica que a cidade de Manaus está inserida na Zona45Bioclimática 8 e sugere
que as edificações apresentem grandes aberturas sombreadas, ventilação cruzada permanente,
vedações com parede e coberturas leve refletora. Sobre a importância da análise do clima
Lamberts, Dutra e Pereira (2014) compreendem que:

A análise climática informa quais estratégias bioclimáticas são mais adequadas em


função do clima local e para cada período do ano.
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Saber quais estratégias utilizar é
um poderoso recurso na elaboração de qualquer projeto que vise o conforto e a
eficiência energética do edifício (LAMBERTS, DUTRA e PEREIRA, 2014:262).

O software Analysis Bio desenvolvido pelo Laboratório de Eficiência Energética em


Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina auxilia
35 no processo de adequação de
edificações ao clima local utilizando dados climáticos impressos na carta bioclimática.
UR [%]
ZONAS:
30
1. Conforto 30 90%
80%
70% 60% 50% 40%
2. Ventilacao
3. Resfriamento Evaporativo 25
4. Alta Inércia Térmica p/ Resfr.
5. Ar Condicionado 25 30%
6. Umidificação 20

U [g/kg]
7. Alta Inércia Térmica/ Aquecimento Solar °C ]
[ 20
8. Aquecimento Solar Passivo U
B 20% 15
9. Aquecimento Artificial T
10.Ventilação/ Alta Inércia 15
11.Vent./ Alta Inércia/ Resf. Evap. 10
12.Alta Inércia/ Resf. Evap. 10
5 10%
0 5

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
TBS [°C]
UFSC - ECV - LabEEE - NPC

Figura 1 – Carta Bioclimática Psicrométrica da cidade de Manaus


Fonte: Dados gerados pelo software Analysis Bio (2016)

Na carta Psicrométrica acima (Figura 1) gerada pelo software, corresponde à cidade de


Manaus, de clima quente e úmido, é possível observar que nenhum mês do ano se encontra na
zona de conforto, portanto todos os meses do ano necessitam de um resfriamento artificial
para obter um conforto, pois somente as estratégias passivas não atingem o objetivo nas horas
mais quente do dia. Observa-se também que em todos os meses a umidade relativa do ar se
mantém superior a 80%, sendo necessário aplicar a ventilação natural como estratégia para
promover uma renovação do ar e não favorecer problemas decorridos do excesso de umidade.
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As estratégias passivas são a parte principal do partido arquitetônico bioclimático que leva em
consideração as questões climáticas locais para nortear a arquitetura e torná-la mais eficiente
para a realidade dos moradores de Manaus e entender que a estratégia que fará a diferença é
aquela que conseguir captar através das aberturas as correntes de vento para renovação do ar
interno da edificação, pois até o entorno imediato (casas, prédios etc.) podem alterar
significativamente a direção dos ventos sendo necessário avaliar cada terreno de forma única.

Figura 2 – Planta de locação


Fonte: Próprio Autor (2016)

Entre as estratégias que podem orientar um bom projeto arquitetônico para Manaus estão:

2.2 Orientação solar do edifício


O problema principal de Manaus é a sensação térmica, e são comuns habitações quentes que
não ofereçam conforto térmico para seus moradores, moradias que não apresentam ventilação
natural para fazer a troca de ar do ambiente, recurso que diminuiria muito essa sensação de
calor. Sobre orientação solar, “A orientação afeta a demanda energética por meio do impacto
da radiação solar e do vento sobre as vedações externas da edificação.” (WASSOUF, 2014:
23).
Analisando a orientação solar é possível identificar e distribuir melhor os ambientes na
edificação observando quais superfícies ficam mais expostas à radiação solar e, assim,
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oferecer a melhor proposta para diminuir o efeito dos ganhos solares direto nessas paredes
que podem ser com sombreamento, podem ser com elementos construtivos nas fachadas ou
com vegetação, o uso de cores reflexivas e o isolamento que são a utilização de materiais que
visam atrasar o fluxo de calor para dentro da edificação. Na planta de locação de uma
edificação de caráter habitacional (Figura 2), mas que poderia ter outro uso, há uma
exemplificação da orientação solar por meio da indicação do norte geográfico. Conhecendo o
norte do terreno, automaticamente sabe-se quais são as fachadas norte, sul, leste e oeste da
futura edificação e quais delas receberão as várias formas de intervenções necessárias para
atingir o conforto térmico passivo entre elas, desenvolvendo da melhor forma o seu entorno
com uso de gramados (04), árvores (05) e escolhendo a pavimentação mais adequada para a
calçada (06).
As paredes expostas à orientação leste e oeste são as que recebem intensa radiação solar,
sendo a oeste a que mais recebe. Nessa lógica as aberturas de esquadrias deveriam ficar nas
fachadas norte e sul por receberem menos radiação solar e no caso de Manaus essas aberturas
devem buscar receber os ventos dominantes vindos do nordeste, conforme os dados da rede
do INMET, pois nossa principal estratégia passiva segundo a NBR 15220-3 é a ventilação
cruzada.
Essa leitura da orientação solar da edificação a ser projetada ou reformada é importante para
proporcionar a melhor estratégia que contribua para a redução dos custos energéticos,
oferecendo um bom conforto térmico ao longo da vida do imóvel.
Ao identificar o lado oeste da edificação é preferível locar áreas molhadas, garagens, recuos,
funcionando com uma barreira térmica do resto da casa e mantendo os outros ambientes
dispostos em áreas com menor incidência solar.

2.3 Compacidade ou Forma


A forma do edifício é sem dúvida o elemento principal a ser trabalho e que garantirá a
eficiência do mesmo, o conforto interno e a diminuição ou dependência de fontes alternativas
de arrefecimento interno e uso exagerado de iluminação artificial como os mestres arquitetos
Larissa Almeida e Afrânio Filho (2011) destacam a seguir:

O desenho da edificação deve ocorrer em equilíbrio com o ento rno imediato, levar
em conta o microclima e seus recursos naturais, como o sol, a temperatura, as
correntes de ar, a vegetação, visando assim, uma maior aproximação as condições de
habitabilidade. É a arquitetura preocupada com o bem estar do usuário integrada às
preocupações ambientais. (ALMEIDA E FILHO, 2011:3).

Somente com simulação das edificações em programas apropriados que a complexidade de


variáveis e de soluções arquitetônicas dirá o real comportamento térmico e eficiência
energética da futura edificação, porém, é possível implantar a futura edificação seguindo a
estratégia de orientação solar para que seus efeitos nocivos (como ganho de calor, uso
exagerado de condicionadores de ar e luz artificial) sejam minimizados.
Ao projetar uma nova edificação é observado variáveis entre as quais se destacam:
 a função do edifício, se ela (ela ou ele?) será residencial, comercial, de serviços,
institucional;
 o partido arquitetônico escolhido, que é o principal norteador da forma do edifício que
geralmente dirá quais os materiais construtivos a ser utilizados;
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 o custo da obra, pois nem todos os clientes dispõem de reservas para investir em
soluções mais eficientes com alto custo inicial;
 o entorno da edificação aquele que circunda a edificação dentro do terreno como
também prédios e edificações vizinhas analisando seus gabaritos, presença de
vegetação de grande porte ou não, entre outras.
A partir das análises dessas variáveis, e que já tenha sido desenvolvido o programa de
necessidades da edificação e com este a forma do edifício que pode variar conforme o partido
e volumetria desejada, é que se inicia um estudo para viabilizar alterações ou adequações em
fachadas e cobertura para melhorar a eficiência dessa envoltória, identificando as aberturas a
serem protegidas da insolação usando técnicas como sombreamento por vegetações ou
protegidas por elementos construtivos como brises, marquises, beirais e ainda selecionando
materiais que ofereçam pouca transmitância térmica.
Importante escolher o que é mais viável para o cliente em termos de utilização e manutenção
tanto das paredes externas como da cobertura usando vegetação ou usando cores reflexivas ou
ainda telhas mais eficientes como as termo acústicas. No corte esquemático de uma edificação
modelo (Figura 3) observa-se a trajetória solar (item 02) com sol nascente (9hrs) na fachada
leste e o sol de maior intensidade (as 15hrs) na fachada oeste. Foi considerada para o exemplo
certa compacidade e o uso de pé direito duplo para uma parte da edificação.

Figura 3 – Corte esquemático AB


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Fonte: Próprio Autor (2016)

2.4 Resfriamento Evaporativo por meio de vegetação


Uma estratégia para melhorar a qualidade do vento que entra na casa e resfriá-lo é melhorar o
entorno imediato que circunda a edificação, tanto na área de piso externo como a da parede
externa dispondo uma vegetação e viabilizando um microclima mais agradável.
Para minimizar o efeito da radiação solar que atinge as áreas externas descobertas é
necessário compor áreas gramadas (04) e arborizadas (05) sendo importante dispor essas
árvores de forma que elas cresçam e sua copa ofereça uma boa cobertura de sombreamento,
estas áreas verdes absorvem parte do calor que incidem sobre suas superfícies refletindo uma
pequena parte de volta diferente de pavimentação concretada ou asfaltada que absorvem e
retém calor dificultando o conforto térmico e a permanência de pessoas nessas áreas.
Com o uso da vegetação os ventos que incidem sobre elas são arrefecidos devido à presença
de umidade nas plantas. Pisos drenantes podem ser usados no entorno da edificação (06)
enquanto que na cobertura usam-se módulos que se acoplam e viabilizam o uso de
vegetações, e em muros há também módulos (ver Figura 4) ou estruturas que viabilizam
jardins verticais que são confeccionados de diversos materiais e pregados a paredes (07) para
receber a vegetação.

Figura 4 – Jardim vertical Canguru


Fonte: ECOTELHADO, 2016

Mesmo quem possua uma área externa toda pavimentada, não sendo possível o cultivo direto
no solo, é possível criar em vasos árvores de pequeno porte (2 a 4m de altura) que podem
oferecer um sombreamento, o cultivo também de trepadeiras plantadas em vasos e guiadas
por um suporte adequado como madeira ou ferro, que cumprem bem a função de sombrear,
arrefecer os ventos, e diminuir o impacto do sol sobe a edificação, além das plantas serem um
elemento estético e bonito aos olhos. Há no mercado suporte para gramas e plantas em
módulos que se encaixam e podem ficar sobre o piso existente ao custo mais acessível se
comparado a uma opção de desfazer o piso e gerar resíduos de construção.
Além de ser usada para resfriamento passivo, a vegetação em paredes da edificação com
maior incidência solar funciona também como isolante térmico reduzindo ganhos de calor
para o ambiente interno. De acordo com Duran (2011:54) a cobertura verde “serve como
habitat para aves e insetos e absorve a poluição sonora, reduzindo em até 8db o barulho
externo”. O mesmo ocorre se usar vegetação na cobertura como afirma o arquiteto Venâncio
(2010:141) “além da beleza, o telhado com grama é um bom isolante térmico”, ou seja,
reduzindo consideravelmente o tempo de transmissão de calor e ainda é possível usar o
telhado para a captação de água da chuva e aproveitá-la de várias formas, manter uma horta
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de cultivo de vegetais, legumes, ervas, etc, ou transformar a cobertura em uma área mais
funcional e ou de lazer mais privativo dependendo da forma do edifício e se a cobertura
permite.

2.5 Sombreamento
As aberturas nas fachadas são importantes para viabilizar a entrada de ventilação natural e luz
se usadas da forma correta, do contrário, as janelas superdimensionadas e locadas nas
fachadas oeste que apresenta maior incidência solar quando esta não é obstruída por alguma
edificação vizinha tem uma maior absorção de calor, o que deve ser evitado nas edificações
em Manaus. Se mesmo assim for indispensável que este lado possua maiores aberturas, estas
deverão ser protegidas com beirais (item 11 da Figura 3), marquises (item 10), brises
horizontais ou verticais, fixos ou móveis, pérgulas, toldos (item 12) e sombreamento de
vegetação conforme confirma Lamberts et al. (2014) ser esta, uma das mais importantes
estratégias para o Brasil:

O sombreamento é uma das estratégias mais importantes no Brasil, pois o país tem
clima quente na maior parte do seu território na maior parte do ano. Esta estratégia
deve ser utilizada sempre que a temperatura do ar for superior a 20º C, mesmo
quando a carta bioclimática indicar conforto térmico. As principais técnicas de
sombreamento são o uso de proteções solares ou brises, beirais de telhado
generosos, marquises, sacadas, persianas, venezianas ou outro protetor interno, a
orientação adequada do projeto e o uso de vegetação. (LAMBERTS et al., 2014:91).

Para a realidade da cidade, a envoltória deve receber o máximo de tratamento contra os


ganhos de calor e todas as aberturas devem ser protegidas da incidência solar direta
independente de onde estejam estas aberturas. Em casos de aberturas em fachadas norte e sul
pode-se optar por sombreamento com vegetação, dispondo árvores com copas largas para
oferecer um sombreamento da edificação em si, se for apenas para proteger a esquadria é
viável usar marquises ou pérgulas com ou sem vegetação para oferecer a proteção necessária
sem prejudicar a iluminação natural e o curso dos ventos.
Nas fachadas norte e sul e principalmente oeste podem ser usadas o beiral do telhado caso o
partido arquitetônico permita além de toldos que podem ser acionados e recolhidos
manualmente de acordo com a vontade do usuário do imóvel regulando assim também a
entrada de luz.
O cobogó também pode ser utilizado para sombreamento sem inviabilizar a entrada da luz e
circulação dos ventos, estes podem ser dispostos como parede estética defronte as aberturas
ou fazer parte de um fechamento de uma parede de modo que não seja sacrificada a entrada de
luz.

2.6 Materiais Construtivos e sua Refletância Solar


Para retardar a transmitância térmica do exterior para o interior é importante escolher bem os
materiais que compõem as fachadas, cobertura, e aberturas que não necessariamente precisam
ser a mesma em todas.
A norma de desempenho 15220-3 especifica parede e cobertura leve refletora como vedação
ideal para a cidades da Zona Bioclimática 8, a qual Manaus está inserida, e está ligada a uma
baixa inércia térmica que impeça que o calor externo adentre os ambientes.
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Nas fachadas oeste e norte, que são nossas paredes críticas, poderão ser usados materiais
simples combinados com os elementos de proteção solar, sombreamento ou ainda uma parede
verde que serve para proteger da incidência solar direta quanto aos ganhos de calor e a
refletância dos materiais construtivos.
Pode-se se optar por paredes de tijolos cerâmicos assentados na maior dimensão (1 vez) com
9x14x24 com argamassa interna e externa de 2.5cm, obtendo transmitância térmica e atraso
térmico dentro das normas de desempenho ideais para cidade de Manaus sem prejudicar a
diferença de temperatura diurna e noturna que não são de grandes variações, além do custo
beneficio ser acessível.
Há outras paredes combinadas que oferecem melhor desempenho, porém de custo mais
elevado. O arquiteto deverá sempre avaliar as condições financeiras do cliente e sugerir a
mais viável de acordo com o que se pretende alcançar. Para clientes com maior poder
aquisitivo pode-se usar uma combinação de paredes com placa cimentícia, com
preenchimento em lã de rocha, tijolo cerâmico assentado na menor dimensão (1/2 vez) e
argamassa interna de 2,0cm ideal para fachadas oeste e norte que apresentam grande área de
parede com incidência solar. Conforme visto no corte esquemático (Figura 3) a parede oeste
tem uma espessura maior em relação à parede leste justamente pelo tratamento diferenciado
decorrente da incidência solar e no detalhe é explicitado o componente estrutural principal
que é o tijolo disposto pelo maior lado um sobre outro, não sendo necessário o uso nas
fachadas leste e sul. Como segue a explicação de Venâncio (2010:147) “A radiação solar leva
três horas para atravessar uma parede de 10 cm, portanto, ao dobrarmos a espessura de uma
parede com incidência do sol, minimizamos o calor neste ambiente”.
Em situação de edificações existentes e dificuldade de intervir na fachada de maior incidência
solar é possível recorrer ao recurso de plantar uma trepadeira em um vaso e guiá-la de modo
que ela ocupe toda a fachada funcionando como uma barreira vegetal, filtrando o calor a ser
absorvido pela edificação.
Os vidros das aberturas das esquadrias e em paredes de vidro podem ser usados em Manaus
desde que haja uma preocupação em usar vidros insulados, que são aqueles que possuem uma
câmara de ar entre duas folhas de vidro numa mesma esquadria cuja função é reter o calor
impedindo-o de entrar no ambiente interno, conforme item 13 do detalhe da Figura 13. Se for
optar por parede externa de vidro que esta seja protegida por sombreamento da própria
edificação ou por algum elemento de proteção e o ideal é que seja locada nas fachadas leste e
sul.
A cobertura (item 15 da Figura 3) é a área exposta que mais recebe diretamente incidência
solar por mais tempo e que tem influência significante no conforto térmico dos ambientes
internos. Há inúmeras alternativas para diminuir os impactos dos ganhos solares como usar
telhas termo acústicas, que geralmente são mais espessas e possuem uma camada de
preenchimento entre uma folha e outra, elas são leves e também eficientes acusticamente,
entre as várias opções existem com preenchimento de poliestireno (EPS) com melhor custo-
benefício, poliuretano (PU) a que tem melhor eficiência térmica e a lã de rocha que tem uma
boa resistência.
A área de cobertura pode ser transformada em um jardim ou apenas inserir módulos para
gramas com captação ou não de água, podendo direcionar a água a uma cisterna e assim
reutilizando a água da chuva tendo uma casa mais sustentável e confortável ambientalmente.
Em casos em que não é opção fazer a troca das telhas atuais é interessante usar tintas especiais
refletoras geralmente de cor branca que possua alta refletância da radiação solar superior a
80% e que possua baixo teor de solventes orgânicos voláteis (VOC). Seu uso impede que a
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radiação solar incidente seja transformada em calor. Caso seja usada apenas a pintura no
telhado seria importante escolher um forro e manter aberturas no espaço entre forro e telha de
preferencialmente telados para evitar a entrada de morcegos e pombos, para facilitar a
ventilação e principalmente para não formar uma câmara de calor.

2.7 Inércia térmica


Os elementos construtivos que compõem o envelope (piso, parede e cobertura) da edificação
devem apresentar características que ofereça um atraso térmico no fluxo de calor do ar
externo para o ar interno, mas deve ser feita com pequena inércia térmica para que o
resfriamento passivo seja mais eficaz já que a cidade de Manaus, por ser de clima quente e
úmido, não é muito favorável à alta inércia térmica.
Os critérios de alta inércia térmica a serem usados para diminuição do fluxo de calor nas
paredes localizadas a oeste são bem vindas se protegidas com sombreamento (beirais e
vegetações) durante o dia e/ou acompanhadas de um bom isolamento térmico (estrutura
externa à parede com preenchimento em lã de rocha, espumas ou painéis rígidos como
poliestireno). Se tais paredes a oeste não forem protegidas, elas podem se tornar paredes
acumuladoras de calor devidas à intensa radiação solar o ano todo e piorar o conforto interno
do ambiente.
Uma técnica de projeto que pode ser usada e que depende da topografia do terreno é usar
possíveis desnivelamentos de terra para criar ambientes que ficariam muito bem
semienterrados e devidamente bem isolados do contato direto com o solo através de
impermeabilização reduzindo os problemas de condensação e ainda minimizando gastos com
movimentação de terra, e gastos com energia elétrica são potencialmente reduzidos
recompensando o custo inicial; ambientes semienterrados tendem a ser mais frios justamente
por suas paredes não receberem radiação solar.

2.8 Ventilação cruzada


Recurso principal citado tanto na norma quanto na carta bioclimática. O projetista deverá
identificar o sentido dos ventos dominantes em relação ao terreno, sendo regular para Manaus
a predominância dos ventos vinda do nordeste (ver Figura 2, item 03) na maioria dos meses
do ano e sendo Junho e Julho os meses que recebem ventos vindos do sudeste. Entendendo
isso se observa as edificações no entorno que podem comprometer a ventilação e dispor as
aberturas da melhor forma para que o ar adentre a edificação e percorra toda a casa
higienizando o ar interno dos ambientes, renovando o ar e evitando o acúmulo de fungos
causadores de problemas alérgicos ou respiratórios típicos de população de cidades de climas
quentes e úmidos como reitera Venâncio (2010:138) “A correta ventilação é necessária para
tornar o ambiente saudável e livre de umidade, que entre outros problemas favorece o
aparecimento de fungos e ácaros”.
Para uma melhor eficácia, além das aberturas mais baixas, seria importante ter aberturas em
locais mais altos próximos ao forro ou telhado de modo que produza um efeito chaminé. O ar
novo ao entrar na edificação o ar quente sobe e fica acumulado próximo ao teto ou este sai
pelas aberturas, quando houver, fazendo uma troca constante e mantendo uma boa qualidade
do ar.
Essas aberturas podem ser com cobogó, janelas tipo basculante, janelas tipo correr, e tipo
maxim-ar. No corte esquemático (Figura 3) se observa a posição das esquadrias tanto em
níveis mais próximos do piso quanto em lugares mais próximo do teto devidamente protegida
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pelo beiral da cobertura da incidência solar dos horários mais quentes (item 14 da figura 3),
funcionando como efeito chaminé, além de funcionar como entrada de luz também.
Sabe-se que a cidade tem uma média de ventos muito baixa e quente na maior parte do ano,
portanto, dispor de aberturas que facilitem os ventos cruzarem a casa, passando por árvores,
trepadeiras ou outras vegetações antes de adentrar o ambiente, o ar se tornará mais fresco,
melhorando significativamente a qualidade do mesmo.

2.9 Uso das cores


É necessário que haja luz para que a cor seja percebida através da visão. A utilização das
cores não se restringe a plasticidade de um objeto de decoração, ou no uso de paredes internas
e as sensações que se queira criar com elas, mas também é de grande importância para o
conforto térmico o uso correto em coberturas, paredes externas da própria edificação, de
paredes externas que circundam a edificação como muros e no piso do entorno da edificação.
Sobre as cores, explica Venâncio (2010):

Os tons escuros absorvem mais o calor dos raios solares, aumentando a temperatura
da casa. Paredes que recebem grande quantidade de s ol durante o dia devem ter cor
clara, deixando para as faces menos ensolaradas da casa as tonalidades mais escuras.
(VENÂNCIO, 2010:83)

Cores claras tendem a ser mais refletivas que cores escuras, e, portanto, uma aliada no
combate ao ganho de calor dos materiais expostos da envoltória em relação à radiação solar
direta. O mais indicado é usar a cor branca, próprias para telhados e coberturas com baixo teor
de solventes orgânicos voláteis (VOC), que são nocivos à saúde humana. Há no mercado
tintas mais sustentáveis que prometem reduzir 35% da temperatura do ambiente, em até 6°C
depois de aplicada sob a superfície do telhado.
Atentar para não utilizar tintas reflexivas para coberturas em paredes e calçadas ou áreas
externas, pois pode causar ofuscamento nas pessoas que passarem próximas ou em frente à
edificação. As tintas para paredes são as comuns, tipo acrílicas, desde que sejam as de cores
mais claras nas paredes externas da envoltória e pode também usar as de cores mais escuras
no muro, já que elas são menos reflexivas e absorvem mais calor e nesse caso reter calor no
muro não prejudica o desempenho da edificação.

2.10 Iluminação natural


A luz natural proveniente do sol é abundante, gratuita e dura quase 12h por dia, sendo assim,
deve ser usada a favor dos usuários da melhor forma possível. Duran (2011:68) defende que
se deve “potencializar o maior número possível de entradas de luz natural”, claro que estas
entradas são para receber luz e é desejável que o calor não adentre os ambientes por isso deve-
se explorar o sombreamento das aberturas e/ou viabilizar entradas de luz de várias formas.
Lamberts et al. (2014) escrevem sobre a importância da luz natural nos ambientes:

A luz natural penetra nos ambientes internos pelas aberturas, que também podem
transmitir calor e som para o interior. Uma janela, por exemplo, além da luz natural,
do calor (radiação), da ventilação natural e de ruídos indesejáveis externos, também
faz o contato visual e olfativo do usuário com o exterior, tornando-se um elemento
essencial no desempenho combinado de todos estes aspectos. Assim, a iluminação
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natural deve ser considerada diferentemente para cada função arquitetônica, pois as
respostas desejadas variam de ambiente para ambiente. (LAM BERTS et al.,
2014:151).

O superdimensionamento de janelas favorece a entrada de luz, mas também pode atrapalhar


por isso o arquiteto deverá analisar a implantação da edificação de acordo com as estratégias
anteriores e projetar as aberturas oferecendo a melhor opção para a realidade do imóvel.
A redução do consumo de energia é o principal benefício do uso de iluminação natural, mas
também é importante destacar a beleza da luz natural no ambiente, o que produz um bom
conforto visual, que segundo Venâncio (2010:145) “A luz do sol ajuda o organismo na
produção de Serotonina, vitamina D e de uma série de substâncias que fazem nosso corpo
saudável e feliz”.
Pode se obter luz natural através de janelas nas fachadas, mas também através de vãos na
cobertura que favoreçam a iluminação zenital indireta, essa iluminação pode ser obtida de
várias formas, entre elas por meio de claraboias e esquadrias com peitoril alto, sendo que
estes vãos devem ser bem projetados; geralmente devem ter sua abertura pra o leste ou sul,
pois essas orientações recebem o sol com menor pico de radiação, o foco é receber luz e não
calor por tanto esses vãos devem ser protegidos com elementos da própria cobertura
utilizando beirais, por exemplo, ou ainda vidros que permitem apenas a passagem da
iluminação e não de calor.
Há no mercado tubos ou túneis de luz que conduzem a iluminação solar para o interior da
edificação por meio de tubos com diâmetros variáveis alcançando comprimento de até 30m,
dependendo do modelo e do projeto, e que exige pouca ou nenhuma manutenção, sendo uma
opção bastante eficiente quanto à economia de energia elétrica. As luminárias desses tubos
também são variáveis quanto à forma e tamanho e tem pouca troca de calor com o ambiente.

3. Conclusão
Para um projeto mais integrativo a aplicação das diretrizes bioclimáticas deve nortear
qualquer projeto arquitetônico comprometidos com um espaço construído mais eficiente
energeticamente e confortável termicamente.
Com todos os conceitos vistos até aqui, fica claro que a arquitetura e o processo de elaboração
de projeto são bem complexos exigindo a análise de inúmeras variáveis para decidir qual a
melhor e aplicar de acordo com as questões econômicas do cliente e a realidade local da
cidade. As estratégias passivas, já apresentadas, visam colaborar para que o arquiteto que
projete habitações para a cidade de Manaus tenha maior responsabilidade sustentável e
agregue maior qualidade ao serviço que dispõe ao cliente, que é ter uma casa eficiente de
forma passiva.
O custo inicial pode ser relativamente mais alto conforme Venâncio (2010:76) “entre 5 a 8%
do valor da obra”, mais há payback (retorno do investimento) devido à redução do custo de
manutenção operacional da casa, valorização do imóvel e qualidade de vida dos moradores.
Os ganhos ambientais de uma edificação bem desenvolvida quanto às questões climáticas
superam o custo, e algumas estratégias podem ser empregados a custos baixos em edificações
já existentes, que visam a melhoria do microclima atuais, minimizar os desconfortos e reduzir
custos com energia elétrica que envolve, por exemplo, tratamentos adequados da cobertura da
casa e das áreas externas, usos de vegetação, de cores e iluminação natural além da escolha
inteligente dos materiais que irão compor a envoltória.
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Referências
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-3:
Desempenho térmico de edificações – Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes
construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro, janeiro, 2003.

ALMEIDA, Larissa; FiLHO, Afrânio Lins. Arquietura Bioclimática na Amazônia: Um


estudo de caso na cidade de Manaus/AM, XIV Encontro Nacional da ANPUR, Rio de
Janeiro, maio, 2011. Disponível em:
<http://unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/index.php/anais/article/viewFile/3555/3482>.
Acessado em: 11 jun 2016.

ANALYSIS-BIO (versão 2.2, 2010). Programa Anlysis-Bio: módulo bioclimatologia.


Laboratório de Eficiência Energética em Edificações, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florinópolis. Disponível para download em: htpp://www.labeee.ufsc.br, Acesso em: 12
jun.2016.

DURAN, Sergi. A casa ecológica Ideias práticas para um lar ecológico e saudável.
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2011.

ECOTELHADO. Jardim Vertical Canguru. Disponível em:


<https://ecotelhado.com/portfolio/ecoparede/jardim-vertical-canguru/>. Acessado em: 18 ago.
2016.

GIVONI, Baruch. Comfort, climate analysis and building design guidelines. In: Energy
and Building, vol. 18, 1992.

LAMBERTS, Roberto; DUTRA, Luciano; PEREIRA, Fernando O. R. Eficiência energética


na arquitetura, 3ºEdição, Rio de Janeiro, ELETROBRAS/PROCEL, 2014.

MESQUITA, Otoni. Manaus: História e Arquitetura – 1852-1910, Editora da Universidade


do Amazonas, Manaus, 1997.

OLGYAY, Victor. Clima y arquitectura em Colombia. Universidad del Valle. Facultad de


Arquitectura. Cali, Colombia, 1968.

VENÂNCIO, Heliomar. Minha casa sustentável: guia para uma construção responsável,
Vila Velha, ES: Edição do Autor, 2010.

WASSOUF, Micheel. Da Casa passiva à norma Passivhaus A arquitetura passiva em


climas quentes, Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2014.

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