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29.12.2021
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .................................................................................................................
BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................................
INTRODUÇÃO
Parece-nos prudente trazer à luz neste escrito (e para ele, uma vez
que é também um de seus objetos) alguns elementos históricos precedentes ao governo
de Constantino, que disporemos a seguir.
O primeiro elemento a ser considerado (nesta particular
abordagem) é que a história do cristianismo é marcada – e, porque não dizer, manchada
e fecundada –, pelo sangue derramado pelos mártires (isto é, os atletas de Cristo). Estes
tiveram de provar, incontáveis vezes, sua fé em Cristo Jesus, nas mais atrozes mortes. É
bem verdade (e isto vale ser ressaltado) que os mártires acreditavam fazer parte da batalha
mística entre Cristo e o Diabo, a modo que, tanto mais morriam (dito de outro modo, tanto
mais suportavam os suplícios em fidelidade à Ele) tanto mais vencia o Senhor.
O segundo elemento a ser considerado é que o Imperador
Diocleciano - o primeiro Tetrarca – (anterior, mas não propriamente predecessor dele, a
Constantino) promoveu a que ficara conhecida como a mais sangrenta perseguição aos
cristãos. O fez pelo meio de quatro Editos, cronologicamente dispostos: confiscação dos
livros e vasos tidos como sagrados para os cristãos, bem como a destruição das igrejas;
prisão aos considerados chefes das igrejas; libertação dos prisioneiros que aceitassem
participar nas libações e sacrifícios; e, por fim, obrigatoriedade a todos os habitantes a
sacrificarem aos deuses.
Os elementos acima mencionados (a fé inquebrantável dos
cristãos, face a perseguição feroz aos crentes, por parte de Diocleciano) são suficientes
para tornar-nos patente que o ambiente (do império) romano dos fins do III século e início
do IV é, por demais, dividido, caótico e violento.
Interessa-nos, aqui, ademais, neste horizonte de sentido, trazer à
claridade que os editos impostos Diocleciano não foram, a modo idealizado, aplicados de
modo efetivo por todos os tetrarcas (nomeadamente, Constâncio Cloro). E, diga-se,
quando aplicados, com frouxidão (ou, de modo ameno) como escreve-nos Daniélou: «Na
Gália e na Bretanha, colocadas sob a autoridades do César Constâncio Cloro, o pai do
futuro imperador Constantino, só o primeiro edito concernente aos edifícios sagrados foi
aplicado e ainda, ao que parece, com moleza».
Os historiadores não chegam a explicitar as motivações de
Constâncio Cloro para tal comportamento (que, certamente, não esperado). Basta-nos,
entretanto, para perceber que a relação estabelecida entre Constantino e a cristandade
pode ter tido seu gérmen (elevada a outro patamar) com seu pai. É-nos possível
conjecturar que, tanto da parte de um quanto de outro, já havia certo simpatismo (acento
nosso) ou política de não violência para com os cristãos.
Não nos é permitido, em função do espaço, descrever a chegada
ao poder por Constantino; antes, as medidas benéficas em favor da cristandade que por
ele foram tomadas desde o início de seu governo, que a seguir disporemos.
Licínio formula em comum acordo com Constantino, após a
vitória sobre Maximino Daia, «uma resolução concedendo em termos particularmente
benévolos em favor dos cristãos plena e inteira liberdade de culto, a restituição imediata
de todos os bens confiscados..., por ocasião da entrevista que os reuniu em Milão para o
casamento de Licínio com a irmã de Constantino».
Tal fórmula possibilita, anos mais tarde, a ascensão de cristãos a
altos cargos da organização romana, tais como: o consulado em 323, a prefeitura de Roma
em 325 e a prefeitura do pretório em 329.
Ademais, duas coisas devem ser notadas a esse respeito, a saber:
se chega a uma altura em que estão de tal modo unidos o poder temporal e o espiritual
que, mesmo pelo meio de violência, não se é mais possível qualquer separação que seja,
como aponta-nos Daniélou: «Apesar de tantas violências o Império não consegue
apropriar-se da alma de toda de seus súditos, pois numa época tão impregnada das
preocupações religiosas o homem não se imagina apenas como cidadão do estado ao
serviço de uma pátria terrestre, mas também, e quem sabe sobretudo, como um cidadão
do céu, membro de uma sociedade espiritual em cujo seio encontra a solução o problema
fundamental a seus olhos, a saber, suas relações com Deus»; ou, como sugere-nos
Pierrard: «Ademais, no século IV, era impossível a separação do temporal e do espiritual.
Assim, o imperador não se contenta em se interessar pela Igreja cristã; quis ser também
sua “eminência parda” preocupando-se ao mesmo tempo com os interesses do Estado e
com os dos fiéis de Cristo».
A outra coisa a que se deve dar certo (ou talvez demasiado) relevo
é que a paz constantiniana possibilita surgir penosos embates no seio da cristandade
(igreja), ora de ordem teológica ora de cunho pessoal; dentre os quais se faz surgir a
necessidade de se por em diálogo os representantes da Igreja, com o Concílio de Nicéia.
Dá-se adeus ao oneroso período de perseguições externas (por
parte dos pagãos e dos imperadores romanos) e dá-se início as demasiadas perseguições
internas que, por sua vez, carecem de uma força externa, a do imperador que não apenas
convoca o Concílio, bem como faz aplicarem-se suas resoluções: «Ora, com a paz
constantina abre-se na história da igreja um período de violentos debates teológicos em
que a definição mesmo do dogma vai ser posta em questão; em consequência se
levantarão graves questões de ordem pessoal, concernentes à validade deposições de
bispos, de excomunhões... Não esqueçamos que no estado em que os encontramos, os
organismos dentro da igreja ainda não se encontram aparelhados para formularem a
solução procurada, com a nitidez e a autoridade necessárias para se imporem a todos os
fiéis de boa vontade. com toda a naturalidade, serão os imperadores levados a tomarem
partido, embora sua autoridade se choque com as resistências e mais nenhuma vez se veja
posta em xeque pelas convicções nascidas de uma região por demais profunda da alma
religiosa, para se submeter à uma autoridade imposta de fora».
É bem verdade que Daniélou demonstra-nos a fragilidade de tal
estrutura, dado que, a medida em que muda o imperador ou, muda este de partido, dá-se
início a uma nova (des)organização no seio da igreja. Onde os que antes foram exilados
(por determinação do próprio) acabam por tornarem-se os favorecidos e, não obstante,
perseguidores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
PIERRARD, Pierre, «História da igreja», trad. Álvaro cunha, São Paulo: Edições
Paulinas, 1982.
DANIÉLOU, Jean e MARROU, Henri, «Nova História da igreja: dos primórdios a São
Gregório Magno», trad. Dom Frei Paulo Evaristo Arns, O. F. M., Petrópolis: Editora
Vozes, 1973.
GALLI, A. e GRANDI, D. «História da Igreja» trad. Manuel Alves da Silva, S. J.,
Lisboa: Edições Paulinas, 1963.
I-LAMELAS, Isidro Perreira «Sim, cremos: O Credo explicado pelos Padres da Igreja»,
Lisboa: Universidade Católica Editora, 2013.