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O Diário
(Notes Quotidiennes)
45° Caderno
Notas breves 1925
Leon Dehon
JANEIRO
1 Este é o último caderno e talvez o último ano. Fiat! Cupio dissolvi et
esse cum Ch°. II ad Tim. IV,7. Ego jam delibor et tempus resolutionis meae
instat: (bonum) certamen certavi, cursum consummavi, fidem servavi...
2 Minha carreira está por terminar, é o crepúsculo de minha vida...
Cometi uma infinidade de faltas, mas tenho confiança na misericórdia do S.
Coração.
3 O ideal de minha vida, o voto que formei com lágrimas em minha
juventude, era de ser missionário e mártir. Parece-me que este voto se
realizou. Missionário, eu o sou através dos cem e mais missionários que
mantenho em todas as partes do mundo. Mártir, eu o sou pelo séquito que
N.S. deu ao meu voto de vítima, sobretudo de 1878 até 1884, através de
todos os despojamentos e aniquilamentos até o consummatum est, e do
abundante sangue que perdi em diversas ocasiões.
4 Sou o menor e o mais indigno dos fundadores, contudo, sinto a
necessidade de unir-me a todos os fundadores. Rezando me ocorrem seus
nomes: Bento, Bernardo, Francisco, Domingos, Inácio, Néri, Fr. de Sales,
Vt (Vicente) de Paulo, Afonso, J.B. de la Salle, João Eudes, Paulo da Cruz,
Libermann, Dom Bosco, Lavigerie, d’Alzon, Margarida Maria, Sofia Barat,
Madre Verônica, Maria do S. Coração.
5 Estas grandes almas tinham um ideal grandioso: ganhar o mundo,
conquistar o mundo para Jesus Cristo. Elas rezaram, sofreram e trabalharam
para isto. Fundaram sociedades viventes e ativas. Margarida Maria
fundou... o reino do S. Coração.
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17 Não se fala outra coisa que da telegrafia sem fio, já faz muito tempo
que praticamos isto na esfera espiritual, todas as nossas orações são
mensagens sem fio que vão diretamente ao céu. Uma dessas mensagens que
aprecio muito é esta invocação: “Louvado, adorado, ama do e agradecido
seja o Coração Eucarístico de Jesus, em todos os tabernáculos do mundo até
o fim dos séculos”. N.S. parece abandonado, esquecido, em muitos
tabernáculos, mas não o é; ele recebe aí um monte de mensagens sem fio,
que são estas invocações repetidas por muitos fieis e que chegam até N.S. e
o consolam nos duzentos mil tabernáculos espalhados pelo mundo de um
polo a outro.
18 Amo o mistério de Betânia. Marta era toda atenções; Madalena, amava
ardentemente porque fora perdoada; Lázaro era jovem, manso e amável
como Davi. N.S. o amava como amava S. João. Uno-me a eles. Ofereço a
N.S. tudo aquilo que eles lhe deram em atenções e amizades. Fui perdoado
como Madalena e ressuscitado como Lázaro, gostaria de ser como eles,
inflamado de amor por Nosso Senhor. - Coração divino de Jesus, fazei que
vos ame cada vez mais.
19 Começo o ano com alguns sofrimentos; uma queda, uma forte
distensão e um cansaço geral. Por que não? Não tenho muito a expiar antes
de terminar a minha vida e não oferece-me como vítima ao S. Coração por
seu reino e pelas almas?
20 Muitos dos meus grandes amigos, como Mons. Thibaudier e Mons.
Mathieu estavam certo tempo descontentes comigo, mas eles se
reaproximaram antes de morrer; tenho confiança que também N.S. me
tenha perdoado proporcionalmente minhas infidelidades e que me tenha
devolvido sua amizade para sempre.
21 Recebo a notícia da morte da Sra. Arrachart. É uma família de
benfeitores e de amigos que se extingue.
22 Tive em St. Quentin um bom grupo de colaboradores nas obras, no
Patronato, no Jornal, na fundação da paróquia de S. Martinho. O Patronato
promoveu a fundação do Círculo operário, as conferências sociais, as
associações de patrões... Era uma pequena Universidade social... O Sr.
Arrachart Fernando era um dos meus dedicados colabora dores, junto com o
piedoso Sr. Guillaume, irmão do Acadêmico; o Sr. Julien, diretor do
pensionato; o Sr. Santerre, o santo especieiro; o Sr. André do Banco de
França; o Sr. Filachet, funcionário... Todos eles trabalharam modestamente,
e o bem era realizado.
23 Também no S. João tive bons colaboradores, que vão desaparecendo
um apos outro: o piedoso Sr. Labitte, que preparava tão bem para a primeira
comunhão; o Sr. Legrand, o Sr. Rigout, o Sr. Marchai, o Sr. Lefèvre, o Sr.
Vinchon, o Sr. Vilfort. Também lá se trabalhou muito e passamos belos
anos. - N.S. abençou minhas obras, não obstante todas as minhas fraquezas.
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dos alunos do S. Coração. - Nos meus cinco anos de vida parisiense, tive o
Padre Prével, cooperador no S. Sulpício, um homem de Deus, de profunda
vida interior. Levou-me a comungar todos os dias e confirmou-me em
minha vocação cujos primeiros atrativos senti em Hazebrouck na noite de
Natal de 1855.
41 Meus seis anos de Roma 1865-1871 são meus anos de ouro sob a
direção do P. Freyd, que Pio IX qualificava de santo. Passava-me
excelentes livros, Rodriguez, o P. Lehen, o P. Saint-Jure... foi um longo
noviciado religioso. O Padre atendia-me de bom grado duas vezes por
semana. Depois do seminário, escreveu-me ainda. Morreu em 1875. Tive
então como diretor o P. Modesto, um santo jesuíta que vinha muitas vezes a
St. Quentin para a direção de nossas Irmãs. Morreu em 1891. Foi ele que
me guiou na fundação da Congregação e nos anos tão difíceis e cruciantes
de 1877 a 1888. Ele apreciava muito as iluminações e as comunicações que
a Irma Inácia recebia na oração e não duvidava do seu caráter sobrenatural.
42 Nestes últimos anos não tenho diretor espiritual, mas somente um
confessor. Falei sobre isto com o Padre que nos pregou o último retiro. E
ele me disse que assim estava bem e que minha direção se achava bem
assentada através longos hábitos e por nosso diretório.
43 Peregrinações espirituais. Gosto de repassar mentalmente as inúmeras
peregrinações que fiz em minha vida. Isto não me afasta de N.S. que vive
em todos esses santuários na sua Eucaristia.
44 I. A peregrinação por excelência é a da Palestina. Eu a fiz em 1865 e
as impressões que colhi contribuíram muito para a orientação de minha
vida. Repeti-a em 1911. Belém, Nazaré, Jerusalém; encontro lá todos os
principais mistérios de N.S.: seu nascimento em Belém, sua vida oculta em
Nazaré; sua vida pública e sua paixão em Jerusalém. Em Jerusalém os
mistérios se aglomeram: é Betânia com os amigos do Salvador, o Cenáculo
com as intimidades de S. João, a Agonia no horto das Oliveiras, a traição,
os tribunais, os cruéis castigos, a Cruz, o Calvário onde resplende a
fidelidade dos grandes amigos de Jesus, Maria, S. João, St a. Madalena. O
S. Sepulcro, a Ressurreição, a Ascensão, o Pentecostes.
45 Às peregrinações da Terra Santa estão ligadas as do Egito e da Ásia
Menor que fiz na mesma ocasião. No Egito, Alexandria com S. Marcos,
Sta. Catarina, S. Atanásio e os Padres do deserto. Na Ásia Menor o
apostolado de S. Paulo, a demora de Maria e de S. João em Éfeso; em
Esmirna, o grande mártir S. Policarpo, que nos enviou S. Irineu e nosso
grupo de Lyon.
46 II. Roma. Onde passei seis anos e onde voltei vinte vezes. Em Roma,
vejo primeiramente um eco e como que uma réplica da Terra Santa, com o
presépio de S. Maria Maior, a mesa da Ceia em S. João do Latrão, as
relíquias da Paixão em Sta. Cruz de Jerusalém.
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55 Mais para o norte, está Colonia com sua grande catedral, suas relíquias
dos Reis Magos e a Igreja de Sta. Úrsula. - Na Bélgica, as catedrais de
Anversa, de Bruges, de Gand não perdem de nenhuma outra. Reza-se bem
nesses santuários erigidos com a fé heroica do povo.
56 Viena e Praga tem suas grandes catedrais. Praga possui o corpo de S.
João Nepomuceno e a estatueta do menino Jesus.
57 Visitei as catedrais resplandecentes de ouro e de ícones de S.
Petersburgo e de Moscou. Teria gostado de ver Kiev que é a continuação de
Bizâncio.
58 Na Inglaterra, dá pena ver tão belas catedrais monopolizadas pelos
protestantes.
59 No Extremo Oriente, rezei na tumba dos mártires em Tientsin, em
Pequim, e na Coreia.
60 Na África, Cartago e Hipona são importantes centros de peregrinações.
61 A Espanha possui esplêndidas catedrais em Saragoça, em Compostela,
em Sevilha, em Toledo, em Burgos. Seus reis eram visigodos, daí veio,
penso eu, o nome do estilo gótico. Saragoça tem seu incomparável
santuário de N.Sra. do Pilar - Em Compostela está o apóstolo S. Tiago. -
Sta. Teresa sobrevive em Ávila e S. João da Cruz em Ubeda. - Manresa,
Monteserrate, Pamplona e Loyola recordam S. Inácio. - A lembrança de S.
Vicente Férrer é sempre viva em Valência e a de S. João de Deus em
Granada.
62 Portugal tem em Coimbra o centro de peregrinação da piedosa rainha
Isabel, e os monumentos de arte de Belém e de Batalha.
63 A França tem seus lugares santos. Notre Dame de Paris e a Sainte
Chapelle com as importantes relíquias da Paixão. Marselha e a Provença
(Sta. Baume, Tarascon, S. Maximino, as Stas. Marias), com as recordações
dos amigos do Salvador em Betânia. - Bordeaux e Rocamadour com as
recordações de Zaqueu e de Sta. Verônica. - Lyon e as recordações de S.
Irineu e seus companheiros, recordações conservadas na bela cripta do
hospital e nos magníficos mosaicos de Fourvière.
64 A França recebeu a visita do S. Coração em Paray-le-Monial com
Margarida Maria, em Marselha com Ana de Rémuzat e Belzunce, em Paris
com todas as manifestações de Montmartre.
65 A Santa Virgem visitou-nos na aparição da Medalha milagrosa, rua de
Sèvres, depois em La Salette, em Lourdes, em Pontmain, em Pellevoisin.
66 Da época dos mártires, temos S. Dionísio, S. Quintino, S. Sinforiano,
os mártires de Lyon e muitos outros. No 4° século, S. Hilário; no 5°, Sta.
Genoveva, S. Paulino. No 6°, S. Martinho, S. Remígio, S. Clodoaldo, Sta.
Radegunda; no 7º, S. Eloi, S. Amando, S. Ouen; no 8°, Carlos Magno e sua
plêiade; no 11°, temos S. Norberto, S. Bruno, S. Odilon. No 12°, S.
Bernardo, S. Odon. No 13°, S. Luís, S. Tomás, S. Félix de Valois, Sta.
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FEVEREIRO
69 A primeiro de fevereiro, o Bom Deus chamou à si o nosso caro Padre
Jeanroy. Foi um dos meus bons colaboradores que N.S. escolhera para me
ajudar a fundar sua pequena família do S. Coração. Estudante e sacerdote
modelo em Verdun, veiu para nós em 1884. Era apaixonado pelo S.
Coração, trouxe-nos uma inteira biblioteca do S. Coração. Trabalhou como
missionário na diocese de Soissons, depois foi professor em Fayet. Fundou
a casa de Bruxelles, sabia onde encontrar recursos. Sua obra importante foi
a procura da missão do Congo. Junto com Mons. Grison fundou e
desenvolveu esta pérola de nossas obras. Ele escreveu sua história. -
Conseguiu-nos vocações da Meuse. Fundou e dirigiu em Bruxelles a Obra
dos Amigos dos Pobres. Tinha uma santa paixão em preparar os enfermos
para a morte. Publicou bons livros de piedade. Amava Sta. Gertrudes e seu
culto. Morreu com reputação de santo. Seus funerais o atestam...1
O R.P. Vicente Jeanroy
70 Quarta-feira de manhã, às 10 horas, foram celebrados, na capela dos
Padres do Sagrado Coração de Jesus (rua Eugène Cattoir), os funerais do
R.P. Vicente Jeanroy, ex-Procurador da Missão de Stanley-Fall (Congo).
71 Nas primeiras filas dos assistentes destacavam-se os parentes do
venerado defunto: seu irmão, o Sr. Alfredo Jeanroy, professor de história da
Idade-Média e de línguas românicas no Colégio de França, e membro da
1 Alla pagina seguente, 31, P. Dehon ha incollato il ritaglio del giornale in cui si parla del
P. Vincenzo Jeanroy.
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me curou várias vezes. Ela se dignará sorrir-me e fazer-me escutar sua doce
voz: Ostende mihi faciem tuam, sonet vox tua in auribus meis. - S. José, um
pai amoroso. Procurei carinhosamente glorificá-lo dedicando-lhe minha
primeira obra, o Patronato S. José. - Desejo saudar meus padroeiros e os da
Congregação: meu bom Anjo, S. Leão, S. Agostinho, S. Miguel, S. João, S.
Francisco de Sales, S. Inácio, S. Francisco Xavier, Sta. Gertrudes, Sta.
Margarida Maria. É minha família espiritual, uma família nobre junto à qual
eu sou muito pequeno, muito pequeno...
76 Quero repassar mentalmente minha vida e rever todos os grupos nos
quais me edifiquei: 1° o grupo de La Capelle: minha mãe, meu pai, meu
irmão, alguns membros de minha família, meu querido pároco, Leão,
algumas boas senhoras que se interessavam por mim quando menino e dois
ou três camaradas. 2º O grupo de Hazebrouck: o Sr. Dehaene, meu superior
e diretor; o Sr. Boute, o melhor dos professores; alguns condiscípulos:
Vasseur, Leenhouder, Dassonville, Van de Walle... os três primeiros
tornaram-se sacerdotes. A Providência guiou-me à este lugar de fé para
encontrar alí a minha vocação. 3º Depois do colégio de bom grado teria ido
ao seminário, mas tinha apenas dezesseis anos, e meu pai enviou-me
estudar o Direito em Paris. A Providência vigiava sobre mim; encontrei em
Paris uma valiosa formação na cultura intelectual, sem perder alí a fé e a
minha vocação. O piedoso sacerdote Prével de S. Sulpício foi meu diretor e
depois dele, o sacerdote de la Fouillouze; encontrava-me em boas mãos.
77 Frequentava o círculo Católico dirigido pelo santo Sr. Beluze. Travei
conhecimento alí com Perreau e Gilbert; reencontrei-os depois em Roma.
78 Na casa do sacerdote Poisson, cheguei a conhecer Gauthier, Pégat, de
Montplanet, Desgardes, que se tomaram advogados e magistrados. - Tive
boas amizades com Leão Palustre e morei dois anos com ele. Era um
homem bom e sábio, tinha veleidades de vocação dominicana. Ele
despertou em mim o gosto de viajar como meio de adquirir cultura
intelectual. Fomos juntos para a Holanda, Inglaterra, Escandinávia,
Alemanha, Áustria, Itália, Oriente. Nossa peregrinação à Terra Santa
corroborou minha fé e deixou-me profundas impressões para toda a minha
vida. Encontrei-o de novo mais tarde e conversamos sobre nossas
recordações do passado que só me edificavam.
79 4° Roma, 1865-1871. Foi o período ideal de minha vida. P. Freyd, de
santa memória, era meu superior e meu diretor. Ele tinha por mim uma
afeição toda espiritual, quanto desejaria revê-lo! Tive lá realmente bons
colegas: Perreau, Lucas, falecidos prematuramente, Guilhen, Dugas, de
Costa; de Bretenières, irmão do mártir da Coreia, Poiblanc; Billot, irmão do
cardeal, Bégin, Bougoin, de Dortain, de Rivoyre, Pineau, Desaire, Bernard,
Duplessis de Grénêdan... A maioria se fez religioso, é que o P. Freyd nos
levou a fazer um verdadeiro noviciado religioso. Mediante sua direção e
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2 La Capelle, 11 de fevereiro de 1925. - Meu querido Tio, sei que estais conosco neste
momento com o coração e o pensamento e certamente ávido de lutuosos detalhes que ainda
não pude dar-vos sobre a morte edificante daquela que todos pranteamos!....
Desde algum tempo ela sofria de inflamação intestinal que lhe causava importunação e
acessos de febre que ela descuidava não atendendo às insistências dos familiares, e agindo
imprudentemente!
Juliette Née que viera passar alguns dias com ela, encontrou-a em mau estado e advertiu-
nos.
Marthe partiu para La Capelle e se instalou, a 31 de janeiro, junto da querida doente, e
consultou um professor agregado da Faculdade de Lille que não nos escondeu a gravidade do
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MARÇO
96 Estou chegando aos meus 82 anos, quantas intervenções de minha boa
Mãe do céu e do meu bom Anjo foram necessárias para que eu escapasse
durante tão longo espaço de tempo de todos os perigos, de todos os
acidentes, de todas as doenças que põem em perigo a vida humana!
Obrigado, minha divina Mãe, obrigado meu bom Anjo, não sei o que vos
devo tudo, sabê-lo-ei lá em cima, agradeço-vos de antemão e vos
agradecerei por toda a eternidade.
97 Que fiz desses meus 82 anos? Não muito de bem. Multiplico minhas
reparações, repito meus arrependimentos e apesar disso tenho confiança na
misericórdia do Salvador.
98 Cumpri minhas visitas de jubileu em nossa capela, lucro pela primeira
vez as indulgências do jubileu. Recomeçaria em proveito dos defuntos. É
uma verdadeira alegria, uma satisfação espiritual. Sou feliz por lucrar rodas
as indulgências do jubileu e de ser purifica do de todas as minhas faltas
passadas.
99 Muitas almas imaginam ser difícil a prática do puro amor; mas é muito
simples: N.S. ensinou-nos a oferecer a Deus antes de tudo a homenagem do
puro amor, e depois pedir-lhe por nossas necessidades. É todo o Pater: a
primeira metade é toda de puro amor: “Santificado seja o vosso nome,
venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade...” A segunda metade é
a oração por nossas necessidades: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje...”
100 Na Ave Maria, a primeira metade é uma aclamação de louvor e de
amor a Maria, a segunda metade é a oração interessada. Nos Atos do
cristão, a homenagem de nossa fé e de nossa caridade é desinteressada, o
ato de esperança é uma oração por nossas necessidades espirituais.
101 Os quatro fins do sacrifício resumem a missa e toda a vida cristã:
adoração, agradecimento, reparação, súplica. Nos três primeiros fins,
domina o puro amor, o quarto é a suplica pessoal.
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102 Na missa, os quatro fins são muitas vezes recordados. O Glória começa
pelo puro amor: “Nós vos louvamos, nos vos bendizemos, nos vos
adoramos, nós vos glorificamos, nós vos damos graças...”
103 O Credo começa com a homenagem de nossa fé ao nosso Pai celeste e
ao seu divino Filho.
104 No ofertório pensamos primeiramente na glória divina: “Vinde,
santificador todo poderoso, Deus eterno, abençoai este sacrifício preparado
para a glória de vosso santo nome”.
105 No Suscipe, unimos a gloria de Deus, a honra dos santos e nossa
salvação.
106 O prefácio e o sanctus são totalmente de puro amor.
107 As orações que acompanham a consagração lembram os diversos fins
do sacrifício. Ela é de puro amor: “Per ipsum et in ipso et cum ipso est tibi
Deo Patri omnipotenti in unitate Spiritus Sancti, omnis honor et gloria...”
“A vós, nosso Pai celeste, toda honra e toda glória por Cristo na unidade do
Espírito Santo”.
108 As almas comuns pensam pouco na honra de Deus e muito nas
necessidades próprias e nos seus interesses. As almas animadas de puro
amor são mais sensíveis aos primeiros fins do sacrifício que ao último. Elas
se detêm mais nas primeiras invocações do Pater do que na consideração do
pão de cada dia.
109 Nas ladainhas, temos uma rápida alternação de louvores e de súplicas.
As almas comuns dão mais atenção aos pedidos de ajuda “miserere nobis”
“ora pro nobis” - os amigos do puro amor saboreiam particularmente as
belas invocações que repetem todos os títulos de Jesus e de Maria para
nossos louvores, nossa admiração, nosso amor.
110 Viajei muito. Houve, talvez, até algum excesso; contudo, sempre tive
em vista instruir-me, aumentar meus conhecimentos estéticos, geográficos,
históricos e de corroborar minha fé ao verificar a loucura das superstições
pagãs, as variações dos protestantes e o carácter glacial do seu culto.
Convenci-me que o homem é naturalmente religioso, que todos os povos
sempre honraram a divindade mais ou menos corretamente e que o ateísmo
moderno é uma excentricidade contrária à natureza.
111 Não elogiaram os nossos Livros Sapienciais esse gosto do Sábio pelas
viagens? Ele estuda as tradições, a história, os problemas da moral, ele vai
de pais em pais para conhecer o forte e o fraco do homem: In terram
alienarum gentium pertransiet; bona enim et mala in hominibus tentabit
(Eclo. cap. 39). A Providência fornecendo-me os recursos através de minha
família ou de benfeitores parecia encorajar esse desejo de ver e de saber.
112 Celebramos o mês de S. José. Só no céu compreenderei quanto devo a
este grande santo. Minha mãe era-lhe inteiramente consagrada, ela fundou
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em La Capelle a obra de S. José para a visita dos pobres. S. José veio buscá-
la no dia 19 de março de 1883.
113 A Irmã Maria de Jesus era filha de S. José, estava ligada a ele com
ligames místicos muito excepcionais. Como S. José ela morreu antes da
redenção, ela tinha o presentimento de morrer antes dos grandes mistérios
de nossa fundação, o Consummatum est e a ressurreição. A primeiro de
março de 1878 ela formou o projeto de oferecer a própria vida a fim de
prolongar a minha; ela morreu a 27 de agosto 79, nos braços de Jesus e de
Maria: A Irmã Inácia e a “Chère Mère” sustentavam sua cabeça quando
expirou. A Irma Inácia simbolizava Jesus de quem era confidente; a “Chère
Mère”, era Maria. São coisas místicas que não se impõem à fé, mas que
naquela época causaram impressão muito grande em nós.
114 Os esponsais. - Foi do agrado de N.S. unir-se por meio de solenes
esponsais com alguns santos, como S. Catarina de Sena; mas fora dessas
graças extraordinárias, N.S. digna-se manter relações de esposo com as
almas que correspondem às suas graças na vida de oração. As almas
consagradas são convidadas para esta vida de esposas do Salvador. As
almas contemplativas são levadas a isto pela graça. Elas se dispõem para
isto e N.S. deixa-lhes sentir sua aprovação. Como dispor-se para isto? Uma
esposa é amante, fiel, assídua, dedicada. A alma esposa pertence de coração
a N.S. Pensa nele habitualmente. Com prazer está em sua presença:
presença sacramental na Igreja, presença espiritual em toda a parte. Ela vive
para ele, deseja sua honra e seu reino. Consola-o pelas ofensas que recebe.
Quando uma alma vive como esposa, N.S. paga-lhe na mesma moeda:
Diligentes me diligo. S. Gertrudes, em suas belas orações, exprime muitas
vezes a N.S. seu afeto de esposa. - V.G. (verbi gratia?) “Saúdo-vos, esposo
mais jucundo que as mais esplêndidas flores; abraço-vos e beijo com
respeito vossa chaga de amor, a chaga de vosso Coração”. “Aquele que se
une a vós saboreia as mais puras delícias, e recebe de vós os mais afetuosos
carinhos, o mais doce dos amigos, o mais tenro dos corações, o esposo mais
dedicado, o mais puro dos amantes...” Quero viver nesta disposição para a
qual me convida a graça divina.
115 Dia 24, renovo com Sta. Gertrudes as recordações do meu batismo,
para reencontrar suas graças: os exorcismos, a profissão de fé, a oblação, a
unção, a vida nova simbolizada pela veste branca e o círio. Saúdo e invoco
meus padroeiros de batismo, S. Leão e S. Agostinho. Peço humildemente
perdão a Deus por todas as minhas infidelidades às promessas do batismo...
116 N.S. preparara-me então grandes graças, mas deixei perder muitas
delas. É por isso que ele me deixa viver muito tempo para poder reparar um
pouco?
117 Fui batizado nas primeiras Vésperas do Ecce Venio. - A “Chère Mère”,
que seria a Serva do S. Coração, Ancilla Domini, nasceu e foi batizada dia
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ABRIL
118 Vítima de justiça e vítima de amor. - Uma alma, impressionada com a
Paixão de N.S. e com a visão dos pecados do mundo, pode oferecer-se a
Deus como vítima de justiça, para unir-se à Paixão de N.S., para reparar os
ultrajes feitos a Deus, para salvar as almas expiando suas faltas. A
Providência permitirá que essas almas passem por alguns sofrimentos
reparadores. Tal é, creio eu, o oferecimento que fazem algumas
congregações de almas vítimas como as de Marselha e de Namur.
119 A via da Irmã Teresa do Menino Jesus é um pouco diferente, ela não se
oferece como vítima de justiça, ela se oferece como vítima ou holocausto ao
amor misericordioso de Jesus. É o abandono à vontade de Jesus no espírito
de amor e de imolação. Jesus, talvez, vá pedir à esta alma alguns
sofrimentos reparadores, e ela está inteiramente pronta a levar a cruz por
amor de Jesus e pelas almas. E o próprio amor tem seus sofrimentos. A
alma que ama sofre por causa das suas imperfeições, sofre por ver Jesus
pouco amado e muitas vezes ofendido. Seu amor vai crescendo até o
martírio de amor. Nosso espírito próprio é a “Vida de amor e de imolação”
(Const., cap. II). A imolação de amor é dominante, com alguma parcela de
imolação reparadora. Nós nascemos do espírito de Margarida Maria
aproximando-nos do espírito da Irmã Teresa. Sigamos a atração que a graça
nos inspira.
120 Eis o oferecimento da Ir. Teresa, que foi indulgenciado pela Igreja: “Ó
meu Deus, beata Trindade, a fim de viver num ato de amor perfeito,
ofereço-me como vítima de holocausto ao vosso Amor misericordioso e
suplicando-vos consumir-me sem cessar, deixando transbordar em minha
alma as torrentes de ternura infinita encerradas em vós, e que desta forma,
eu me torne mártir de vosso amor, ó meu Deus! Que este martírio, tendo-me
preparado a comparecer diante de vós, faça-me, enfim, morrer e que minha
alma se atire sem tardar no eterno abraço de vosso amor misericordioso...
Quero, ó meu Bem-Amado, a cada pulsação do meu coração, renovar-vos
este oferecimento infinitas vezes, até que desvanecidas as sombras, possa
reafirmar-vos meu amor num perene face à face” (30 d. ind. cada vez - ind.
plen. uma vez por mês - 31 julho 1923).
121 Com Irmã Teresa, abandonamo-nos inteiramente à divina vontade: nos
facultatesque nostras beneplácito divino dedicamus et consacramus (Cst. n.
9). Com ela e com Margarida Maria oferecemos a Deus nossas orações,
nossos trabalhos e nossas penas em união com o S. Coração de Jesus, em
espírito de louvor, de amor, de holocausto e de reparação (Cst. n. 10).
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MAIO
123 É o mês de Maria. Ave gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in
mulieribus (Lc 1). Saúdo-vos, Maria, saúdo-vos hoje, saúdo-vos todos os
dias e infinitas vezes cada dia, dia e noite.
124 Ofereço-vos primeiramente a grande saudação que vos trouxe o anjo
Gabriel em nome da SS. Trindade. - Com a divina saudação vos tornastes
Mãe de Deus. Ofereço-vos a saudação que Deus vos dirigiu
antecipadamente no Paraíso terrestre quando falou à serpente: uma mulher
será teu inimigo, ela esmagará tua cabeça. Ofereço-vos a eterna saudação
que Deus vos fez na predestinação. Ele preparou o Cristo Salva dor e sua
Mãe. Por isso a Liturgia aplica-vos estas palavras ditas da Sabedoria: Prov.
VIII. Ab aeterno ordinata sum et ex antiquis, antequam terra fieret. Eclo.
XXIV. Ego ex ore altissimi prodivi, primogenita ante omnem creaturam.
125 Davi previu vossa glória. Quando exalta o Salvador no salmo 44, ele
vos coloca junto dele: “A rainha está sentada à vossa direita, ornada de ouro
e de pedras preciosas”.
126 O Cântico dos Cânticos é o epitalâmio do Cristo e da sua Igreja, mas
também do Cristo e de sua Santa Mãe. A Liturgia faz este paralelo. É um
diálogo de amor ardente entre o Cristo e Maria.
127 S. Isabel retomou e completou a saudação do Anjo: “Bendita sois entre
todas as mulheres e bendito é o fruto de vosso ventre, Jesus”. E a Igreja
completa a Ave Maria: “Santa. Maria, Mãe de Deus, rogai por nós...”
128 Ofereço-vos, ó Maria, as incontáveis Ave-Marias que vos dizem
generosamente os fieis. É uma saudação perene e sem interrupção: Ave
Maria! Ave Maria! Repetimo-lo na liturgia do breviário, na recitação do
Ângelus, nos milhões de rosários que vos são oferecidos, nos hinos de
Lourdes e em toda a parte: Ave Maria! Ave Maria!
129 Como Davi, assim também Isaías previu vossa glória: Ecce Virgo
concipiet et pariet filium et vocabitur nomen ejus Emmanuel (7,14).
130 Agrada-me ler no P. Terrien que a santidade do céu não impedirá as
demonstrações de tema afeição. “Puros e santos serão os ósculos depostos
sobre as sagradas chagas do Salvador e sobre as mãos benditas de sua
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Dehoniana
divina Mãe; puros e santos também os castos abraços dados sob o olhar de
Deus...” (La grâce et la gloire, tomo 2, pg. 289).
JUNHO
131 Mês do S. Coração, mês da SS. Trindade, mês do Espírito Santo, mês
do SS. Sacramento.
132 Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Glória ao Pai que é meu Pai
e meu Criador. Glória ao Filho, que se fez meu irmão e meu Salvador.
Gloria ao Espírito Santo, meu guia e a alma de minha alma.
133 Glória a Jesus e ao seu S. Coração, glória e amor ao esposo de minha
alma. Abraço vosso Coração, o Jesus, com S. João no Cenáculo. Jesus
menino, abraço-vos carinhosamente com Maria e José em Belém, no Egito,
em Nazaré. Jesus misericordioso, abraço vossos pés com Madalena, na casa
de Simão e no Calvário. Jesus-Hóstia, uno-me a todos os que no mundo
inteiro vos recebem na comunhão. Tomo parte no amor dos bons, desejaria
reparar pelos tépidos ou maus. Estes louvores e atos de amor, vo-los
ofereço infinitas vezes ao dia, dia e noite. É minha vida. Como uma esposa
amante, quero pensar sempre em vós, a união convosco é minha única
alegria. Suspiro pelo momento de viver convosco, junto de vós, em vossa
intimidade, na luz dos céus...
134 Quantas recordações neste mês! 4 de junho 1854, minha primeira
comunhão, 1 de junho 1857, minha confirmação; 6 de junho 1868, o
diaconato; 28 de junho 1878, meus primeiros votos e meu voto de vítima,
tão bem aceito por N.S., que me valeu seis anos de martírio: perda da saúde,
dos bens, dos pais, da estima geral, incêndio, assaltos do demônio, até o
consummatum est, que foi a condenação e supressão da Congregação pela
Santa Sé, a 3 de dezembro de 1883. A ressurreição veio a 24 de março de
1884, mas a cruz foi sempre meu quinhão.
135 Para a festa do S. Coração, faço meu este pensamento de S. Margarida
Maria: “O Coração de Jesus, suspiro ardentemente unir-me convosco,
possuir-vos e abismar-me em vós que sois minha demora para sempre “.
JULHO
136 Quantas recordações!
137 2 de julho 73, instalação das Irmãs em St. Quentin, torno-me seu
capelão. Estas relações determinaram a orientação de minha vida para a
Obra do S. Coração.
138 19 de julho 69 celebrei minha primeira missa em La Capelle, o que
deixou grande impressão na minha família e na gente de minha terra. A 19
de julho 70, a grande Sessão do Concílio e a 20 de julho, a guerra.
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Dehoniana
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