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Direito Comercial I (10/07/2009)

 Penhora de cota social (continuação)


1ª questão: as cotas da sociedade simples, quando se revestir na forma de limitada.
O professor sustenta que a simples sob forma de limitada estaria incluída no preceito do art.
655, inciso VI/CPC, porque não seria razoável tratar de forma distinta uma mesma forma
societária só porque as espécies que a utilizam são diversas. O art. 983/CC autoriza tanto a
sociedade empresária, quanto a simples adotar a forma de sociedade limitada; assim sendo,
não tem porque tratar diferentemente essa forma adotada quanto à penhora de cotas. O
professor entende que o legislador quis excluir da incidência do preceito tão somente a
simples pura, porque, no CC, o art. 1.026 já dá uma solução para esse problema na simples
pura.
Art. 1.026/CC: Na ausência de qualquer outro bem do sócio para responder por aquela dívida,
o credor poderá penhorar os lucros que ele teria direito (esses lucros serão endereçados ao
juízo para serem penhorados) ou se resolve a cota daquele sócio na sociedade simples para o
credor penhorar aquilo que ele teria direito no caso de liquidação. O professor acha essa
segunda solução terrível, porque para satisfazer o direito do credor, você sujeita aquela
sociedade a uma dissolução parcial.
Resumindo: Podem ser objeto de penhora as cotas na sociedade limitada (tenha ela natureza
empresária ou natureza simples); o que estaria excluída da incidência do preceito do CPC seria
a simples pura, porque, nesse caso, a solução é feita segundo a regra do art. 1.026/CC. O
professor entende que seria possível aplicar esse art. à limitada como fonte supletiva.

2ª questão: a questão da preferência.


Art. 685-A, § 4º/CPC: “No caso de penhora de quota, procedida por exeqüente alheio à
sociedade, esta será intimada, assegurando preferência aos sócios.”
O legislador processual partiu do princípio que, após o CC/2002, a sociedade limitada não pode
adquirir as suas próprias cotas, porque ele dá preferência para os sócios, justamente para
evitar o ingresso de um terceiro com a ruptura da affectio societatis. Esse art. cuida da
adjudicação dos bens penhoráveis, que hoje com a reforma do CPC, quando o credor penhora
o bem do devedor, ele tem a preferência para adjudicar aquele bem.
Adjudicar o bem é o credor ficar com o bem como forma de pagamento do seu crédito. O
critério é de que o bem penhorado reverte-se se o credor quiser para o pagamento do seu
crédito. Portanto, a adjudicação é a regra. Se o credor não quiser adjudicar os bens, aí vêm as
duas figuras que a lei processual contempla: a possibilidade de levar o bem à venda em hasta
pública (leilão quando o bem for móvel; praça quando o bem for imóvel) ou fazer a venda
particular do bem (contratar um corretor para fazer a venda do bem).
Notem que essa regra do § 4º está no art. 685-A que cuida da adjudicação. Mas o professor
sustenta se ela está na adjudicação, porque a adjudicação passa a ser a regra, essa hipótese
também irá se aplicar nos casos de venda em hasta pública ou de venda particular; é que o
legislador não vai ficar repetindo isso. Portanto, apesar dessa regra estar localizada na
adjudicação, ela é uma regra geral que se aplica a qualquer ato de disposição do bem pela
penhora, qualquer ato de troca de titularidade do bem pela penhora.
Portanto sempre que o credor adjudicar as cotas, quando ele for estranho à sociedade, ou
sempre que essas cotas forem levadas à leilão ou uma venda particular através de corretor e
um terceiro não sócio vier arrematar essas cotas, assegurasse aos sócios o direito de
preferência (pelo mesmo valor, ele tem o direito de ficar com aquelas cotas). Os sócios podem
ou não exercer o direito de preferência.

3ª questão: essa preferência se aplica indiscriminadamente, isto é, em qualquer sociedade


com forma de limitada ou somente quando o contrato adotar o regime da cessão
condicionada?
Se na sociedade limitada, o contrato social aplicar o regime da livre cessão, aplica-se essa regra
de preferência? Sim, porque aonde a lei não discrimina, não cabe ao intérprete fazê-lo e o § 4º
não manda investigar o contrato social. Então, independentemente da previsão do contrato
social, essa regra se aplica, porque no sistema anterior, como não se tinha regra nenhuma, é
que se construiu dentro daquela linha, vai verificar o contrato social.

OBS: A figura da remissão de bem acabou com a reforma da lei processual; a remissão de bem
foi substituída pelo parágrafo §2º do art. 685-A/CPC (também é uma regra que está escrita
dentro de um preceito de adjudicação, mas aplica-se também na hipótese de venda em hasta
pública ou venda privada). A remissão de bens sempre foi estabelecida na lei como forma de
manter aquele bem na família do vendedor; vejam que o legislador acabou com a figura da
remissão, mas substituiu pelo direito de preferência dos descentes e ascendentes do
executado. Para o credor não tem que ter preferência nenhuma para adjudicar, porque a
adjudicação é uma forma dele receber o pagamento do seu crédito.
Agora em matéria de sociedade, no caso de penhora de cotas, quando se confronta o direito
de preferência do §2º com o do §4º, qual é a prevalência? É o direito de preferência do §4º
(dos sócios), porque é regra especial e ela prevalece sobre a regra geral do §2º. Agora, se o
sócio não quiser exercer o direito de preferência, podem exercer aquelas pessoas que estão no
§2º; se estas também não quiserem, aí o credor fica com as cotas.
É possível, diante da reforma do CPC, continuar com a orientação que a sociedade pode remir
a execução, como qualquer sócio e qualquer interessado pode fazer. Essa regra esta no art.
304/CC. O credor não pode se opor a que qualquer interessado pague pelo devedor e fique
sub-rogado nos direitos de credor; tanto que o CC diz que se o credor se opuser, o interessado
pode fazer o pagamento por consignação (art. 335, I/CC).

REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA
 Transformação
- Conceito
- Espécies
- Quorum/Recesso
- Efeitos quanto aos credores

 Incorporação
- Conceito
- Efeitos quanto aos credores
 Fusão
- Conceito
- Efeitos quanto aos credores

 Cisão
- Conceito
- Efeitos quanto aos credores

Se eu tenho uma sociedade anônima ou em comandita por ações, eu vou buscar as regras para
disciplina dessas operações na Lei nº 6.404/76. Já se essa operação tem como sujeito uma
limitada, uma comandita simples, um nome coletivo e uma sociedade simples, eu vou pegar
essas regras no CC.
Agora, e se uma S.A quiser incorporar uma limitada? Em relação à incorporada, que é a S.A., a
disciplina será a da Lei nº 6.404/76 e em relação à incorporada, que é a limitada, a disciplina
será a do CC.

A transformação está regulada no art. 1.113/CC.


A transformação de tipo (art. 1.113, caput/CC) é uma mera troca de tipo de sociedade. Então
se eu tenho uma S.A e quero ter agora uma limitada, qual é a operação que eu faço? É a
transformação, ou seja, ao invés de eu ter que acabar com aquela sociedade e constituir outra,
eu faço uma transformação, porque a pessoa jurídica é a mesma, apenas a sua roupagem
muda. Portanto, a transformação é a operação pela qual uma sociedade altera o seu tipo,
independentemente de passar por um processo de dissolução e liquidação.
A Lei complementar nº 128/2008 inseriu o § único, do art. 1.033/CC. Trata-se da
transformação registral: no caso da unipessoalidade temporária, é possível que o sócio
remanescente transforme o registro da sociedade em registro de empresário individual. Esta
regra está no capítulo da sociedade simples, mas ela não se aplica à simples, mas só às
sociedades empresárias.
A transformação exige o quórum de unanimidade para qualquer tipo (art. 1.114/CC), salvo se
ela já foi prevista no contrato social, mas, nesse caso, ao sócio divergente da transformação é
dado o direito de recesso.
Art. 1.115/CC: Efeitos quanto aos credores – a mudança de tipo só vai influir nas relações
constituídas com o novo tipo; naquelas anteriores, para os credores se preserva os direitos que
eles tinham em relação ao tipo anterior; ou seja, a nova forma só vai interferir em relação aos
créditos constituídos após o ato de transformação.

Incorporação. Conceito (art. 1.116/CC): operação através da qual uma ou mais sociedades são
absorvidas por outra. É uma forma de extinção da sociedade, porque a incorporadora sucede
a(s) incorporada(s) à título universal, ou seja, em todos os direitos e obrigações.

Fusão. Conceito (art. 1.119/CC): união de duas ou mais sociedade para formação de uma nova
sociedade e essa nova sociedade irá suceder as que se fundiram em todos os direitos e
obrigações – também uma sucessão à título universal. As sociedades que se fundiram se
extinguem quando há formação da nova sociedade; portanto, a fusão também é forma de
extinção da sociedade.

A definição e a regulação da cisão não estão no CC, somente em relação à disciplina dos seus
efeitos quanto aos credores. Ela está regulada na LSA 1 – portanto, a doutrina tem sustentado
de forma uníssona que as regras da cisão da LSA se aplicam às sociedades da LSA e do CC.
Conceito: uma sociedade que já existe tem seu patrimônio cindido e esse seu patrimônio vai
ser absorvido por uma ou mais sociedades, que já existiam ou foram constituídas para
absorver o patrimônio da cindida.
Na cisão parcial, a cindida continua a existir (sucessão à título singular). Na cisão total, há
versão de todo o patrimônio da cindida e, portanto, ela se extingue.

Efeito quanto aos credores na incorporação, na fusão e na cisão. Art. 1.122/CC.


Essa regra é muito semelhante a da LSA, só que, no caso da LSA, os efeitos em relação aos
credores na cisão é tratado de forma diferente em relação à fusão e à incorporação.
É possível ao credor prejudicado pela operação de incorporação, fusão ou cisão anular a
operação; tem prazo de 90 dias do conhecimento do ato publicação (esse prazo é
decadencial). Na LSA isso só é possível no caso da incorporação e da fusão.
O que se pode fazer para evitar isso? Aí nós temos os §1º e 2ª do art. 1.122/CC.
“Art. 1.122/CC. (...):
§ 1o A consignação em pagamento prejudicará a anulação pleiteada.
§ 2o Sendo ilíquida a dívida, a sociedade poderá garantir-lhe a execução, suspendendo-se o
processo de anulação.”

Uma sociedade A é incorporada pela B e ela tem ação em juízo; como é que fica? O art. 43/CPC
só fala em morte (refere-se à pessoa física), mas nós temos que fazer a interpretação diante da
situação concreta: a morte da sociedade não é sua extinção, então é uma sucessão à título
universal, a incorporado vai substituir automaticamente a incorporada, independentemente
de anuência da parte diversa (art. 41/CPC), porque a incorporada desapareceu. Então, aplica-

1
        Art. 229. A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais
sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de
todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.
        § 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver parcela do patrimônio da companhia
cindida sucede a esta nos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as
sociedades que absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na proporção dos
patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não relacionados.
        § 2º Na cisão com versão de parcela do patrimônio em sociedade nova, a operação será deliberada pela
assembléia-geral da companhia à vista de justificação que incluirá as informações de que tratam os números do
artigo 224; a assembléia, se a aprovar, nomeará os peritos que avaliarão a parcela do patrimônio a ser transferida, e
funcionará como assembléia de constituição da nova companhia.
        § 3º A cisão com versão de parcela de patrimônio em sociedade já existente obedecerá às disposições sobre
incorporação (artigo 227).
        § 4º Efetivada a cisão com extinção da companhia cindida, caberá aos administradores das sociedades que
tiverem absorvido parcelas do seu patrimônio promover o arquivamento e publicação dos atos da operação; na
cisão com versão parcial do patrimônio, esse dever caberá aos administradores da companhia cindida e da que
absorver parcela do seu patrimônio.
        § 5º As ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia cindida serão atribuídas a seus
acionistas, em substituição às ações extintas, na proporção das que possuíam.
        § 5º As ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia cindida serão atribuídas a seus titulares,
em substituição às extintas, na proporção das que possuíam; a atribuição em proporção diferente requer aprovação
de todos os titulares, inclusive das ações sem direito a voto. (Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997)
se a regra do 43 na incorporação; também se aplica à fusão. E na cisão? Na cisão parcial
sempre vai haver anuência. Nesse caso, a cindida subsiste e a sociedade que absorveu parcela
do seu patrimônio também; obviamente, nas ações relativas ao patrimônio que está com a
cindida, ela será parte do processo, mas naquelas ações relativas ao patrimônio que foi
transferido, o entendimento é que ela permanece como parte do processo – só vai haver a sua
substituição pela sociedade que absorveu parcela do seu patrimônio se houver o assentimento
da parte contrária.

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