01/04/2011

Na última aula, falamos sobre a diferença entre o caput do artigo 966 e seu parágrafo
único.

Art. 966, CC: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente

atividade econômica organizada para produção ou a circulação de bens
ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa”.

A diferença entre a atividade do parágrafo único e do caput decorre fundamentalmente de

uma evolução histórica e sociológica do que é uma atividade/profissão liberal. E, que no fundo,
não existe essa diferença.
O parágrafo único diz que as atividades intelectuais, cientificas e artísticas não são
atividades empresarias ainda que feitas com auxílio de colaboradores desde que essas atividades
não sejam elementos de empresa. Isso quer dizer que essas atividades podem ser atividades
empresárias. EXISTE UMA DISTINÇÃO TÊNUE ENTRE ESSES DOIS TIPOS DE
ATIVIDADES.
Por exemplo, o Professor Pardal exerce uma atividade científica e não empresarial. Mas
um laboratório farmacêutico que faz pesquisa investindo milhões de dólares realiza uma
atividade empresarial. É obvio que as atividades de grandes laboratórios são atividades
empresariais.
O que isso significa? Isso tem uma consequência importante que é o fato da atividade
começar como uma atividade que não era empresarial e passar a ser uma que é. Não existe uma
diferença na natureza da atividade. O que existe é uma diferença entre o porte das
atividades. A única diferença é que na não empresarial não há elemento de empresa.
Um médico atuando sozinho num consultório não é atividade empresarial. É uma
atividade do parágrafo único do art. 966. Entretanto, quando esse consultório vira clínica ele se
encaixa no caput do art. 966. O exercício da atividade médica vira um elemento da atividade
empresarial.
 A evolução da atividade que está inicialmente no parágrafo único para a atividade do
caput não é conhecida. Mas essa informação é muito relevante. Os deveres e direitos de quem
exerce uma atividade do caput são diferentes das do parágrafo único.
O que isso quer dizer? Para as sociedades serem regulares devem ser registradas. Uma
sociedade que exerce uma atividade empresarial tem que ter seu ato constitutivo arquivado na
junta comercial. Já uma sociedade que exerce uma atividade simples, em princípio, deve ter seu
ato constitutivo no registro civil das pessoas jurídicas.
Se uma sociedade exerce a atividade simples e tem seu ato constitutivo na junta
comercial, ela será irregular e seus sócios terão responsabilidade limitada.
Então a questão não é indiferente. Vamos supor que um médico faz uma sociedade com
outro médico e juntos montam um consultório de cardiologia. E os dois estão exercendo a
atividade. Em que momento que essa sociedade que começa com seu ato constitutivo registrado
no registro civil de pessoas jurídicas tem que transferir seu registro para a junta comercial
porque essa sociedade passou a exercer atividade empresária? A partir de que momento mágico
os sujeitos deixam de exercer uma atividade simples e passam a exercer uma atividade
empresarial?
Uma atividade intelectual mesmo que realizada com colaboradores não é necessariamente
uma atividade empresarial. Não existe resposta para esse problema.
Uma atividade simples é uma atividade. econômica, organizada, exercida
profissionalmente porque ela implica em práticas reiteradas e é voltada para prestação de
serviços. Então o que faz a diferença entre a atividade empresária e atividade simples?
A estrutura? (aluno disse)
Isso é perigoso porque não se sabe o momento que a estrutura passa a ser empresaria.
Não é um critério exato.
A diferença é a pessoalidade. Quando alguém vai a um consultório sabe o medico que irá
atendê-lo. Numa clínica já não há essa pessoalidade: pode ser atendida por qualquer médico.
O que diferencia a atividade simples da empresária não são os elementos que a gente viu:
o que diferencia é a pessoalidade. É o fato da prestação ser feita por determinada pessoa.
 Aluno: Pode se falar em independência como critério?
Professor: Não. Um monte de gente que é empregada pode não ir trabalhar. Obviamente
há essa diferença, mas a diferença recai mesmo sobre a pessoalidade.

Aluno: Um médico não pode ter uma sociedade? Ele tem que exercer atividade em nome
próprio?
Professor: Não. O melhor exemplo disso são as atividades uniprofissionais. Existem
determinados profissionais para exercer em conjunto a atividade. E essa atividade é exercida
através de uma sociedade que tem como sócios profissionais da mesma profissão. Ex.: Sociedade
de advogados, sociedades de médicos e todas as sociedades uniprofissionais. No momento da
despersonalização se começa a ter uma sociedade empresarial.

Como se sabe que uma clinica é uma atividade. empresarial?

Sai no diário oficial.

Exemplo de despersonalização: Escritório Pinheiro Neto. É uma sociedade

uniprofissional e uma atividade empresarial. O Pinheiro Neto já morreu. Mas as pessoas
procuram o escritório pelo nome do escritório. A atividade deixou de ser uma atividade simples
para ser uma atividade empresarial.
De outro lado existe o escritório de dois irmãos que trabalham com direito do trabalho.
As pessoas vão lá por causa dos advogados. É uma atividade simples.
A OAB diz que escritório de advocacia jamais será uma atividade empresarial. Nesse
aspecto, a OAB está certa não quanto à natureza da atividade, mas em como a atividade deve ser
exercida. Isso é bom para evitar a mercantilização da advocacia. Os advogados têm uma função
social. È para proteger os interesses da sociedade que a OAB faz essa proibição.

Vamos imaginar um terceiro tipo de atividade. Um médico recebe uma herança e decide
exercer a medicina como filantropia. Ele vai pro interior do Acre para levar assistência médica a
populações que são desprovidas desse tipo de atendimento. Isso é uma atividade simples?
Empresarial?
 Não tem contrapartida econômica. Logo, ele exerce um terceiro tipo de atividade. Ele
exerce uma atividade não-econômica. Atividades beneficentes, atividades culturais (exemplo:
Coro da UERJ), as atividades recreativas (Ex. Jogos Jurídicos). Todas essas atividades carecem
de um elemento que é a contraprestação econômica. Ninguém vai para os jogos jurídicos em
troca de remuneração.
( Se bem que a helena merecia ganhar..xd)

Resultado prático: há uma serie de atividades que não tem cunho econômico. Qual é o
cuidado que é preciso ter com essas atividades? Às vezes, as atividades recreativas, esportivas,
não são exatamente assim. Por exemplo, as atividades esportivas. O Neymar não exerce a
atividade esportiva porque ele gosta. Determinadas atividades podem ter uma característica
empresarial.

Há alguns anos a FIFA foi punida pela União Européia porque adotou práticas desleais
com algumas agências de turismo na venda de ingressos para Copa. Ai ela sofreu uma sanção.
A defesa da FIFA foi que ela é uma atividade sem fins lucrativos. Os presidentes não
recebem um tostão. Alegou que sua atividade não é empresarial e nem simples porque não tem
caráter econômico.
A União Européia disse que é óbvio que tem caráter econômico porque a FIFA
movimenta milhões de dólares. Ela é remunerada de várias maneiras.
Ao apreciar o caráter dessas atividades é preciso apreciar se efetivamente se trata de uma
atividade não econômica.

Outro exemplo recente são os blocos de carnavais. A princípio se pensa que é uma
atividade cultural. Mas depois se observa que há venda de camisas, por exemplo. É óbvio que é
uma atividade econômica. Escola de samba também é um exemplo.

Política e religião não são atividades econômicas.(Ai ele conta a história sobre a mulher
que pediu pra rezar uma missa e não gostou do resultado). (Depois mais meia-hora reclamando
sobre como casamento deixou de ter um sentido religioso.)
 Hoje em dia há uma judicialização das relações sociais. Com a dificuldade de se
relacionar cada vez mais as pessoas procuram o judiciário para resolver suas questões.
A Igreja tem personalidade jurídica? Sim. Mas o fato de ser sujeito de direito não quer
dizer que exerça atividade empresarial. Por exemplo, o PT não é atividade empresarial mas,
como todo partido político, tem personalidade jurídica.