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GEOTECNIA

APOSTILA
HIDRÁULICA DOS SOLOS

Professor: M. Sc. Marcelo Gomes Rios Filho

NOVEMBRO 2020
Apostila Geotecnia
Prof. M. Sc. Marcelo Rios
NOVEMBRO 2020

ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1
2 FASES SÓLIDO - ÁGUA - AR................................................................................. 3
2.1 Fase Sólida ...................................................................................................... 3
2.2 Fase Gasosa .................................................................................................... 3
2.3 Fase Líquida..................................................................................................... 3
2.3.1 Água Livre ................................................................................................. 3
2.3.2 Água Capilar ............................................................................................. 3
2.3.3 Água Adsorvida (adesiva) ......................................................................... 3
2.3.4 Água de Constituição ................................................................................ 3
2.3.5 Água higroscópica..................................................................................... 3
3 CAPILARIDADE ...................................................................................................... 4
3.1 Definição .......................................................................................................... 4
3.2 Teoria do tubo capilar....................................................................................... 4
3.3 Fórmula Empírica de Hazen ............................................................................. 5
3.4 Importância dos Fenômenos Capilares ............................................................ 5
4 PERMEABILIDADE DOS SOLOS ........................................................................... 6
4.1 Introdução ........................................................................................................ 6
4.2 Regime de escoamento nos solos ................................................................... 6
4.3 Ley de Darcy .................................................................................................... 8
4.4 Coeficiente de Permeabilidade ........................................................................ 8
4.5 A Velocidade de descarga e a velocidade real da água .................................. 9
4.6 Fatores que influenciam a permeabilidade .................................................... 10
4.7 Ordem de grandeza do coeficiente de permeabilidade .................................. 12
4.8 Determinação do Coeficiente de Permeabilidade .......................................... 12
4.8.1 Fórmulas empíricas................................................................................. 12
4.8.2 Ensaios de laboratório ............................................................................ 13
4.8.2.1 Permeâmetro de parede rígida ....................................................................... 13
4.8.2.2 Permeabilidade de parede flexível .................................................................. 15
4.8.3 Ensaios de Laboratório (sistemas de controle) ....................................... 16
4.8.3.1 Ensaio de carga constante (alto k): ................................................................. 16
4.8.3.2 Ensaio de carga variável: ................................................................................. 16
4.8.4 Ensaios de Campo (in situ) ..................................................................... 18
4.8.4.1 Ensaio de Bombeamento ................................................................................ 18
4.8.4.2 Ensaio de “Tubo Aberto” ................................................................................. 18

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4.8.4.3 Ensaio de “Tubo Aberto” com carga constante .............................................. 19
4.9 Permeabilidade em terrenos estratificados .................................................... 19
4.9.1 Fluxo paralelo à estratificação ................................................................ 19
4.9.2 Fluxo perpendicular à estratificação ....................................................... 20
5 PERCOLAÇÃO DE ÁGUA DOS SOLOS .............................................................. 21
5.1 Tipos de Escoamento..................................................................................... 21
5.2 Fluxo Unidimensional ..................................................................................... 21
5.2.1 Conceito de Carga .................................................................................. 22
5.2.2 Tensões Efetivas em um Solo com Fluxo Ascendente ........................... 25
5.2.3 Tensões Efetivas em um Solo com Fluxo Descendente ......................... 26
5.2.4 Força de Percolação ............................................................................... 27
5.2.4.1 Areia Movediça (QUICKSAND)......................................................................... 27
5.3 Fluxo Bidimensional ....................................................................................... 28
5.3.1 Rede de Fluxo ......................................................................................... 30
5.3.2 Resolução da Equação de Laplace ........................................................ 31
5.3.2.1 Determinação gráfica da rede de fluxo ........................................................... 31
5.3.2.2 Anisotropia ...................................................................................................... 42
6 FILTROS DE PROTEÇÃO .................................................................................... 43
6.1 Filtros em Geral .............................................................................................. 43
6.2 Critérios para o dimensionamento de filtros ................................................... 43

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1 INTRODUÇÃO
Na natureza existe um sistema de circulação de água que envolve processos de
precipitação (chuva ou neve), condensação e evaporação. Este sistema, denominado
ciclo hidrológico, está esquematicamente representado na Figura 1.

Figura 1 – Esquema de cilco hidrológico.

Parte do volume de água precipitado atinge diretamente o solo, parte cai em rios, lagos
e mares, e parte é interceptada pela vegetação. Do volume de água que é interceptado
pela vegetação, parte retorna para a atmosfera por evapotranspiração e o restante ou é
absorvido pela própria vegetação ou cai no terreno. Do volume de água que cai na
superfície do solo, parte infiltra e parte flui superficialmente (runoff) ou fica retido em
depressões superficiais. A infiltração de água no solo altera as condições de umidade
da região não saturada, podendo inclusive alterar a posição da superfície freática, e,
dependendo da estratigrafia, chega a gerar um fluxo sub-superficial.
Na pratica, o engenheiro deve prever pressões de água, vazões e, em determinados, é
um desafio obter uma resposta correta. Na Figura 2, observa-se uma situação em que
há nível dá água suspenso, nível d’água local e uma camada mais permeável na qual
as p[ressoes de água não estão regidas pelo os condicionantes locais, e sim por uma
carga de pressão mais elevada.

Figura 2 – Sistemas independentes de percolação.

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Para se determinar as pressões de água e vazões, o engenheiro deve estabelecer um
modelo de fluxo e, a partir deste determinar estas respostas para o projeto, como
mostram a Figura 3, Figura 4 e Figura 5, e eventualmente, projetar os dispositivos de
drenagem.

Figura 3 – Rede de fluxo de uma fundação de cortina de estacas prancha

Figura 4 – Rede de fluxo pelo interior de uma barragem de terra

Figura 5 – Rede de fluxo de muro de gravidade com dreno vertical

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2 FASES SÓLIDO - ÁGUA - AR


O solo é constituído de uma fase fluida (água e/ ou ar) e se uma fase sólida. A fase
fluida ocupa os vazios deixados pelas partículas sólidas.

2.1 Fase Sólida


Caracterizada pelo seu tamanho, forma, distribuição e composição mineralógica dos
grãos, conforme já apresentado anteriormente.

2.2 Fase Gasosa


Fase composta geralmente pelo ar do solo em contato com a atmosfera, podendo-se
também apresentar na forma oclusa (bolhas de ar no interior da fase água). A fase
gasosa é importante em problemas de deformação de solos e é bem mais compressível
que as fases sólida e líquida.

2.3 Fase Líquida


Fase fluida composta em sua maior parte pela água, podendo conter solutos e outros
fluidos imiscíveis. Pode-se dizer que a água se apresenta de diferentes formas no solo,
e que é extremamente difícil se isolar os estados em que a água se apresenta em seu
interior. Porém é de interesse estabelecer uma distinção entre os mesmos, sendo assim,
é apresentado os termos mais comumente utilizados para descrever os estados da água
no solo.

2.3.1 Água Livre


Preenche os vazios dos solos. Pode estar em equilíbrio hidrostático ou fluir sob a ação
da gravidade ou de outros gradientes de energia. Seu estudo é regido pelas leis da
hidráulica.

2.3.2 Água Capilar


É a água que se encontra presa às partículas do solo por meio de forças capilares. Ela
sobe pelos interstícios capilares formados pelas partículas sólidas, além da superfície
livre da água, devido à ação das tensões superficiais nos contatos ar-água-sólidos,
oriundas a partir da superfície livre da água.

2.3.3 Água Adsorvida (adesiva)


É uma película de água que adere e envolve fortemente às partículas dos solos finos
devido a ação de forças elétricas desbalanceadas na superfície dos argilo-minerais.
Está submetida a grandes pressões, comportando-se como sólido na vizinhança da
partícula de solo.

2.3.4 Água de Constituição


É a água presente na própria composição química das partículas sólidas. Não é retirada
utilizando-se os processos de secagem tradicionais. Ex: Montimorilonita (OH)4 Si2 Al4
O20 nH2O.

2.3.5 Água higroscópica


Água que o solo possui quando em equilíbrio com a umidade atmosférica e a
temperatura ambiente.

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Figura 6 – Esquema da fase líquida da água

As águas livre, higroscópica e capilar são as que podem ser totalmente evaporadas pelo
efeito do calor, a uma temperatura maior que 100 oC.

3 CAPILARIDADE
3.1 Definição
Ascensão da água acima do nível freático do terreno, através dos espaços intersticiais
do solo, em um movimento contrário à gravidade.

3.2 Teoria do tubo capilar

F=P

𝜋𝑥𝑑 2
𝑇𝑠 𝑥 cos ∝ 𝑥 𝑑 𝑥 𝜋 = 𝛾𝑎 𝑥ℎ𝑐 𝑥
4
4𝑥𝑇𝑠
ℎ𝑐 = 𝑥 cos ∝
𝑑𝑥𝛾𝑎

Onde:

P = peso da coluna d’água;


F = força de ascensão capilar;
Ts = tensão superficial da água por unidade de linha de contato entre água e o tubo
(aprox. 0,0764 g/cm para água pura e vidro limpo);
hc = altura de ascensão capilar;
d = diâmetro do tubo;
a = peso específico da água
α = ângulo de contato (No caso de água e vido limpo este ângulo é zero)

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Tipo de Solo hc (cm)
Areia Grossa hc < 5
Valores típicos de altura de
Areia Média 5 ≤ hc ≥ 12
ascensão capilar, de acordo
Areia Fina 12 ≤ hc ≥ 35
com o tipo de solo
Silte 35 ≤ hc ≥ 70
Argila hc ≥ 70

Observações:
Segundo Milton Vargas, em solos arenosos é comum a ascensão capilar atingir alturas
da ordem de 30 cm a 50 cm. Porém, em terrenos argilosos, a capilaridade pode alcançar
até 80 m de elevação.
Em São Paulo, foi constatada a ascensão capilar de 35 cm sob os pavimentos das pistas
do aeroporto de Congonhas.
Segundo Souza Pinto (2003), a altura de ascensão capilar máxima é de poucos
centímetros para pedregulhos, 1 a 2 m para areias, 3 a 4 metros para os siltes e dezenas
de metros para as argilas.

3.3 Fórmula Empírica de Hazen

𝑐
ℎ𝑐 =
𝑒𝑥𝑑10

Onde:
c = constante de Hazen (0,1 < c < 0,5 cm2);
e = índice de vazios;
d10 = diâmetro efetivo em cm

3.4 Importância dos Fenômenos Capilares


• Na construção de pavimentos rodoviários: se o terreno de fundação de um
pavimento é constituído por um solo siltoso e o nível freático está pouco
profundo, para evitar a ascensão capilar da água é necessário substituir o
material siltoso por outro com menor potencial de capilaridade;
• A contração dos solos: quando toda a superfície de um solo está submersa em
água, não há força capilar, pois α = 90º. Porém, a medida que a água vai sendo
evaporada, vão se formando meniscos, surgindo forças capilares que
aproximam as partículas.
• Coesão aparente da areia úmida: se for seca ou saturada a areia, a coesão se
desfaz. Os meniscos se desfazem quando o movimento entre os grãos aumenta
e as deformações são muito grandes.
• Sifonamento capilar: observado em barragens, o sifonamento capilar consiste
na percolação da água sobre o núcleo impermeável da barragem.

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4 PERMEABILIDADE DOS SOLOS

4.1 Introdução
A permeabilidade é a propriedade que o solo apresenta de permitir o escoamento de
água através dele. Todos os solos são mais ou menos permeáveis.
O conhecimento do valor da permeabilidade é muito importante em algumas obras de
engenharia, principalmente, na estimativa da vazão que percolará através do maciço e
da fundação de barragens de terra, em obras de drenagem, rebaixamento do nível
d’água, escavações e adensamento, etc.
Portanto, os mais graves problemas de construção estão relacionados com a presença
da água. O conhecimento da permeabilidade e de sua variação é necessário para a
resolução desses problemas. O coeficiente de permeabilidade pode ser determinado
através de ensaios de laboratório em amostras indeformadas ou de ensaios “in situ”.
Como pode ser visto na figura abaixo, o solo é um material natural complexo, constituído
por grãos minerais e matéria orgânica, constituindo uma fase sólida, envolvidos por uma
fase líquida: água. Há uma terceira fase, eventualmente presente; o ar, o qual preenche
parte dos poros dos solos não inteiramente saturados de água.

Figura 7 – Amostra típica de Solo.

No caso das areias o solo poderia ser visto como um material constituído por
canalículos, interconectados uns aos outros, nos quais ou há água armazenada, em
equilíbrio hidrostático, ou água flui através desses canalículos, sob a ação da gravidade.
Nas argilas esse modelo simples do solo perde sua validade, uma vez que devido ao
pequeníssimo diâmetro que teriam tais canalículos e as formas exóticas dos grãos,
intervêm forças de natureza capilar e molecular de interação entre a fase sólida e a
líquida. Portanto, o modelo de um meio poroso, pelo qual percola à água, é algo tanto
precário para as argilas, embora possa ser perfeitamente eficiente para as areias.
Infelizmente a quase totalidade das teorias para percolação de água nos solos é
baseada nesse modelo.

4.2 Regime de escoamento nos solos


As bases teóricas sobre o regime de escoamento em condutos forçados foram
estabelecidas por Reynolds, em 1883. Reynolds comprovou que o regime de
escoamento é laminar, sob certas condições, ou turbulento. Esta experiência, mostrada
esquematicamente na Figura 8a , consistiu em permitir o fluxo de água através de uma
tubulação transparente e, por meio de um pequeno funil instalado no tanque superior,
introduzir um corante no fluxo: se o corante escoasse com uma trajetória retilínea, o
regime de escoamento seria laminar, pois as partículas têm trajetórias paralelas; caso
contrário, o regime seria turbulento.

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Reynolds variou o diâmetro “D” e o comprimento “L” do conduto e a diferença de nível
“h” entre os reservatórios, medindo a velocidade de escoamento “v”. Os resultados
constam na Figura 8b, onde estão plotados, o gradiente hidráulico “i = h/l” versus a
velocidade de escoamento “v”. Verifica-se que há uma velocidade crítica “vc” abaixo da
qual o regime é laminar, havendo proporcionalidade entre o gradiente hidráulico e a
velocidade de fluxo. Para velocidades acima de “vc” a relação não é linear e o regime
de escoamento é turbulento. Ainda segundo Reynolds, o valor de “vc” é relacionado
teoricamente com as demais grandezas intervenientes através da equação:

𝑣𝑐 ∗ 𝐷 ∗ 𝛾
𝑅𝑒 =
𝜇∗𝑔

onde:

Re = número de Reynolds, adimensional e igual a 2000;


vc = velocidade crítica;
D = diâmetro do conduto;
 = peso específico do fluído (aprox.. 10 milipoise = 10-6 kN.seg/m² a 20º);
µ = viscosidade do fluído;
g = aceleração da gravidade.

(a) (b)
Figura 8 - Experiência de Reynolds: (a) montagem; (b) resultados.

Substituindo na equação anterior os valores correspondentes à água a 20°C, obtém-se


o valor de “vc” (em m/s) em função do diâmetro do conduto “D” (em metros) e adotando-
se D = 5mm:

2𝑥103 𝑥 10−6 𝑥10


vc = =0,4m/seg
5𝑥10−3 𝑥10

A velocidade encontrada na equação anterior, vc = 0,4m/s, que é uma velocidade muito


elevada. Nos solos, as velocidades de fluxo são da ordem de 0,01m/s. De fato, a
percolação da água nos solos se dá a velocidades muito inferiores à crítica, concluindo-
se daí que a percolação ocorre em regime laminar. Como consequência imediata
haverá, segundo estudos de Reynolds, proporcionalidade entre velocidade de
escoamento e gradiente hidráulico (Figura 8.b).
Denominado o coeficiente de proporcionalidade entre “v” e “i” de permeabilidade ou
condutibilidade hidráulica “k”, vem:

v=k∗i

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4.3 Ley de Darcy


Na realidade, a equação v = k . i, deduzida no item anterior segundo a teoria de
Reynolds, foi obtida experimentalmente cerca de 30 anos antes pelo engenheiro francês
H. Darcy, e por isto é conhecida como lei de Darcy. Por motivos didáticos é que o
assunto é apresentado de forma não cronológica.
A experiência de Darcy (Figura 9) consistiu em percolar água através de uma amostra
de solo de comprimento “L” e área “A”, a partir de dois reservatórios de nível constante,
sendo “h” a diferença de cota entre ambos. Os resultados indicaram que a velocidade
de percolação v = Q/A é proporcional ao gradiente hidráulico i = h/L.

Figura 9 - Experiência de Darcy

4.4 Coeficiente de Permeabilidade


Defini-se coeficiente de permeabilidade k como sendo a velocidade média aparente “v”
de escoamento da água através da área total (sólidos + vazios) da seção transversal do
solo, sob um gradiente unitário (i = 1).

Vazão (Q):

Q = V𝑓 𝑥 𝐴𝑣

Onde:
Av = área de vazios;
Vf = velocidade real do escoamento.

Q=v𝑥𝐴

Onde:

A = área da seção transversal da amostra de solo;


v = velocidade aparente de escoamento;

v=kxi

Onde: k – coeficiente de permeabilidade;

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V𝑓 𝑥 𝐴𝑣 = v 𝑥 𝐴
A 𝑘𝑓
 =
𝐴𝑣 𝑘
𝑘𝑓 𝑥 𝑖 𝑥 𝐴𝑣 = 𝑘 𝑥 𝑖 𝑥 𝐴

Admitindo a proporcionalidade entre as áreas e os volumes, temos que:

A 𝑉𝑡 1
= =
𝐴𝑣 𝑉𝑣 𝑛

Onde: n = porosidade do solo

4.5 A Velocidade de descarga e a velocidade real da água


A velocidade considerada na Lei de Darcy é a vazão dividida pela área total. Mas a água
não passa por toda a área, passa só pelos vazios.
Considerando o esquema mostrado na Figura 10. A velocidade de percolação medida
é a da água, no ponto P ao ponto R ou do ponto S ao ponto T, razão porque esta
velocidade é algumas vezes referida como velocidade de aproximação ou de descarga.
Através do solo, ou seja, de R a S, a velocidade é maior, pois a área disponível é menor.

Figura 10 – Esquema para velocidades de percolação e de fluxo

No esquema à direita da Figura 10 esta área menor esta representada. Como a vazão
é igual em qualquer seção, temos:

Q = 𝐴𝑣 = 𝐴𝑓 𝑣𝑓

A relação entre a área de vazios e a área total é igual à relação entre os volumes
correspondentes, que é, por definição, a porosidade da areia, n.
Assim, a velocidade de fluxo pode então ser expressa como:

𝐴 𝑣
𝑉𝑓 = v =
𝐴𝑓 𝑛

Esta velocidade é a distância entre os pontos R e S na Figura 10 dividida pelo tempo


que a água leva para percorrê-la. É ainda uma velocidade fictícia pois a água percorre
um caminho tortuoso e não linear.

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4.6 Fatores que influenciam a permeabilidade


Os principais fatores que influenciam no coeficiente de permeabilidade são:
granulometria, índice de vazios, composição mineralógica, estrutura, fluído, macro-
estrutura e a temperatura.

• Granulometria - O tamanho das partículas que constituem os solos influencia no


valor de “k”. Nos solos pedregulhosos sem finos (partículas com diâmetro
superior a 2mm), por exemplo, o valor de “k” é superior a 0,01cm/s; já nos solos
finos (partícula com diâmetro inferior a 0,074mm) os valores de “k” são bem
inferiores a este valor.

• Composição mineralógica - A predominância de alguns tipos de minerais na


constituição dos solos tem grande influência na permeabilidade. Por exemplo,
argilas moles que são constituídas, predominantemente, de argilo-minerais
(caulinitas, ilitas e montmorilonitas) possuem um valor de “k” muito baixo, que
varia de 10-7 a 10-8 cm/s. Já nos solos arenosos, cascalhentos sem finos, que
são constituídos, principalmente, de minerais silicosos (quartzo) o valor de “k” é
da ordem de 1,0 a 0,01cm/s.

• Índice de vazios - A permeabilidade dos solos está relacionada com o índice de


vazios, logo, com a sua porosidade. Quanto mais poroso for um solo (maior a
dimensão dos poros), maior será o índice de vazios, por conseguinte, mais
permeável (para argilas moles, isto não se verifica).
Considerando-se o mesmo índice de vazios é possível ter-se maior ou menor
facilidade de percolação. Em solos floculados existem alguns canais que
facilitam a passagem do fluido

• Estrutura - É o arranjo das partículas. Nas argilas existem as estruturas isoladas


e em grupo que atuam forças de natureza capilar e molecular, que dependem
da forma das partículas. Nas areias o arranjo estrutural é mais simplificado,
constituindo-se por canalículos, interconectados onde a água flui mais
facilmente.

• Fluído - O tipo de fluído que se encontra nos poros. Nos solos, em geral, o fluído
é a água com ou sem gases (ar) dissolvidos.

• Macro-estrutura - Principalmente em solos que guardam as características do


material de origem (rocha mãe) como diaclases, fraturas, juntas, estratificações.
Estes solos constituem o horizonte C dos perfis de solo, também denominados
de solos saprolíticos.

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• Temperatura - Quanto maior a temperatura, menor a viscosidade d’água,
portanto, maior a permeabilidade, isto significa que a água mais facilmente
escoará pelos poros do solo. Por isso, os valores de “k” obtidos nos ensaios são
geralmente referidos à temperatura de 20°C, o que se faz pela seguinte relação:

𝑘𝑇 ∗ 𝜇𝑇
𝑘20 = = 𝑘𝑟 ∗ 𝐶𝑘
𝜇20

Onde:

k20 = coeficiente de permeabilidade a 20°C


kT = coeficiente de permeabilidade a T°C
µT = viscosidade da água a T°C
µ20 = viscosidade da água a 20°C
Ck = µT / µ20 = fator de correção em função da temperatura (Tabela 1)

Tabela 1 - Fator de correção - Ck - em função da temperatura.


T ºC Ck T ºC Ck T ºC Ck T ºC Ck
7 1,416 13 1,195 19 1,025 25 0,887
8 1,375 14 1,165 20 1,000 26 0,867
9 1,336 15 1,135 21 0,975 27 0,847
10 1,298 16 1,106 22 0,952 28 0,829
11 1,263 17 1,078 23 0,930 29 0,811
12 1,228 18 1,051 24 0,908 30 0,793

A Figura 11 e a Figura 12 apresentam alguns resultados de ensaios de permeabilidade


em solos residuais brasileiros (Vargas, 1977). Vargas verificou também a influência dos
diferentes estados do solo (estrutura) no valor do coeficiente de permeabilidade.

Figura 11 - Resultados de ensaios de permeabilidade em solos residuais

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Figura 12 - Correlações k x e para o mesmo solo em estados diferentes.

4.7 Ordem de grandeza do coeficiente de permeabilidade


A Tabela 2 apresenta valores típicos do coeficiente de permeabilidade (médios) em
função dos materiais (solos arenosos e argilosos). Consideram-se solos permeáveis, ou
que apresentam drenagem livre, são aqueles que têm permeabilidade superior a 10-7
m/s. Os demais são solos impermeáveis ou com drenagem impedida.

Tabela 2 - Valores típicos do coeficiente de permeabilidade.


Permeabilidade Tipo de Solo k (cm/s)
Alta Pedregulhos > 10-3
Solos Permeáveis Alta Areias 10-3 a 10-5
Baixa Siltes e Argilas 10-5 a 10-7
Muito Baixa Argila 10-7 a 10-9
Solos impermeáveis
Baixíssima Argila < 10-9

4.8 Determinação do Coeficiente de Permeabilidade


4.8.1 Fórmulas empíricas

-Hazen: fornece valores de permeabilidade em função do diâmetro e forma dos grãos.


Válida somente para solos arenosos (areias fofas e uniformes)

k (cm/s) = C . (D10)2

Onde,

k = coeficiente de permeabilidade
D10 = diâmetro efetivo das partículas
C = coeficiente que para solos arenosos é igual a 100.

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-Nishida: correlaciona o índice de vazios com a permeabilidade em argilas saturadas

e =  + ß . log k
 = 10 . ß
ß = 0,01 . IP + 

Onde,

k = coeficiente de permeabilidade
e = índice de vazios
IP = índice de plasticidade
 = constante que depende do tipo de solo e de valor médio 0,05

4.8.2 Ensaios de laboratório

Os ensaios de condutividade hidráulica realizados em laboratório são mais utilizados na


avaliação de solos compactados durante a fase de projeto, devido aos baixos custos
comparados com ensaios de campo. Os resultados destes ensaios ajudam na seleção
de materiais, normalmente mais indicados como camada impermeabilizante de
fundações e aterros sanitários.
Os ensaios de laboratório são realizados em células chamadas de permeâmetros,
sendo que no seu interior é colocado o corpo de prova para execução do ensaio.
Existem duas categorias de permeâmetros usados em laboratório, os permeâmetros de
parede flexível e os permeâmetros de parede rígida. Em função do método de execução
os ensaios podem ser denominados; ensaio de carga constante, ensaio de carga
variável e ensaio com vazão constante.

4.8.2.1 Permeâmetro de parede rígida


O permeâmetro de parede rígida é constituído por tubo metálico, plástico ou vidro
(quando o chorume for o líquido percolante), onde é colocado o corpo de prova para o
ensaio. Esse tipo de permeâmetro não se utiliza em ensaios com solos de baixa
permeabilidade, pois há a possibilidade de fluxo lateral entre o corpo de prova e molde,
neste caso podem ser ensaiados de acordo com a NBR 13292/95. Os permeâmetros
de parede rígida mais utilizados são do tipo: molde de compactação, tubo amostrador e
célula de adensamento.

a) Permeâmetro do tipo molde de compactação

O ensaio com permeâmetro do tipo molde de compactação é realizado em corpos de


prova compactados. O corpo de prova contido por um cilindro é fixo entre duas placas
(tampas) em suas extremidades e vedadas com anéis de borracha. No topo e base são
colocados materiais drenantes. Daniel (1994) apresentou uma extensa revisão sobre os
principais permeâmetros de parede rígida utilizados para determinação da k em solos.
Em geral estes permeâmetros utilizam corpos de prova compactados, porém a NBR
14545/00 descreve um tipo de ensaio onde são executadas uma vedação com argila
plástica (bentonita) nas laterais do corpo de prova. Neste caso o corpo de prova pode
ser compacto ou natural. A bentonita terá como função o selamento anelar evitando o
fluxo de água pelas laterais. Daniel (1994) também apresenta este tipo de equipamento.
A Figura 13 (a), (b) e (c) apresenta 3 tipos de permeâmetros de parede rígida mais
utilizados.

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(a) Molde de compactação b) Permeâmetro com c) Permeâmetro para solo


selamento anelar granular
Figura 13 – Permeâmetros de parede rígida mais utilizados

b) Permeâmetro do tipo tubo amostrador

O permeâmetro do tipo tubo amostrador consiste de um tubo que coleta amostras


indeformadas em campo. Várias vezes o tubo é cortado no laboratório e fixo entre as
placas, sendo o corpo de prova percolado com líquidos diretamente no interior do tubo.
Daniel (1994), afirma há grandes possibilidades de ocorrer fluxo lateral se o ensaio for
realizado com amostras de solos muito rígidos ou que tenham material granular. Além
disto, podem ocorrer danos na amostra quando na coleta, devido à perturbação do solo
na cravação do tubo amostrador e também na retirada do mesmo.

c) Permeâmetro do tipo célula de adensamento

O permeâmetro do tipo célula de adensamento é formado por uma célula, pela qual o
fluxo d’água do corpo de prova é conectado ao ensaio Figura 14, Tavenas et al (1983),
afirma que uma das vantagens na utilização deste ensaio é a possibilidade de medir
além da condutividade hidráulica a tensão vertical efetiva inicial (’v0), índice de vazios
(e0), mas também a lei da variação de k em função do índice de vazios com o aumento
da tensão vertical efetiva.

Figura 14 – Permeâmetro de parede rígida tipo célula de adensamento.

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Em geral os permeâmetros de parede rígida apresentam como vantagens: (a)
Simplicidade de construção, operação e baixo custo da célula; (b) amostras com
dimensões maiores podem ser ensaiadas; (c) podem ser aplicadas as tensões verticais
nulas se desejado.
As principais desvantagens que estes permeâmetro apresentam são: (a) Problemas de
fluxo lateral nas amostras; (b) não há controle da tensão horizontal; (c) não é possível
confirmar o grau de saturação pelo parâmetro B; (d) não é possível obter a saturação
por contrapressão; (e) necessita-se de um grande tempo para ensaiar o material de
baixa permeabilidade.

4.8.2.2 Permeabilidade de parede flexível

Consiste de uma câmara triaxial simplificada adaptada ao ensaio de permeabilidade. Na


Figura 15 aparece o desenho esquemático de um permeâmetro de parede flexível. Este
sistema pode ser usado com água, chorume ou com outro líquido. Quando usado com
líquido de origem química, necessita-se verificar a possibilidade de alteração da
membrana que reveste o corpo de prova e os componentes do permeâmetro.

Figura 15 – Permeâmetro de parede flexível (modificado de Daniel et al 1994).

O corpo de prova de solo é colocado no interior da célula triaxial envolvido por uma
membrana, e disposto entre a base e o pedestal, sendo confiando entre pedras porosas,
na parte superior e inferior do corpo de prova. A célula triaxial é preenchida com água,
aplicam-se tensões de confinamento, que comprimem a membrana flexível ao corpo de
prova. Desta forma o fluxo lateral (entre a membrana e o corpo de prova) é minimizado.
Uma linha de drenagem é conectada na parte inferior do corpo de prova (onde entrará
o fluxo d’água), e outra na parte superior (onde sairá o fluxo). As principais vantagens
do permeâmetro de parede flexível são: (a) saturação da amostra por contrapressão e
tem-se a possibilidade de verificar o parâmetro B = ∆u / ∆σ; (b) possibilidade de controle
das tensões principais; (c) realizar ensaios com materiais de baixa condutividade
hidráulica; (d) ensaios mais rápidos; (e) a membrana que envolve a amostra reduz o
risco de percolação lateral devido à tensão de confinamento aplicada; (f) as mudanças
volumétricas e deformações podem ser medidas. Citam-se como principais
desvantagens: (a) os custos da célula e dos equipamentos envolvidos para realização
dos ensaios são elevados; (b) problemas de compatibilidade química da membrana com
líquidos utilizados na percolação; (c) dificuldades de execução do ensaio com tensões
de compressão muito baixas; (d) problemas de difusão através da membrana.

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4.8.3 Ensaios de Laboratório (sistemas de controle)
Os métodos de ensaio de condutividade hidráulica são nomeados em função do sistema
de aplicação de carga hidráulica, que podem ser do tipo: carga constante, carga variável
e vazão constante (Daniel, 1994).

4.8.3.1 Ensaio de carga constante (alto k):

Neste ensaio a amostra é submetida a uma carga hidráulica constante durante o ensaio
(permeâmetro de nível constante). O coeficiente de permeabilidade é determinado pela
quantidade de água que percola a amostra para um dado intervalo de tempo. A
quantidade de água é medida por uma proveta graduada, determinando-se a vazão (Q),
conforme mostra a Figura 16. Este permeâmetro é muito utilizado para solos de
granulação grossa (solos arenosos).

Q=v.A
v=k.i
Q=k.i.A
Q = k . h/L . A

𝑄∗𝐿 𝑉∗𝐿
k= =
ℎ∗𝐴 ℎ∗𝐴∗𝑡

k = permeabilidade
v = velocidade
i = gradiente hidráulico
Q = vazão
L = comprimento
A = área da amostra
h = diferença de nível
V = volume
t = tempo Figura 16 – Permeâmetro de carga constante

4.8.3.2 Ensaio de carga variável:

Em se tratando de solos finos (solos argilosos e siltosos), o ensaio com carga constante
torna-se inviável, devido à baixa permeabilidade destes materiais há pouca percolação
de água pela amostra, dificultando a determinação do coeficiente de permeabilidade.
Para tais solos é mais vantajoso a utilização de permeâmetros com carga variável,
conforme mostra a Figura 17.

h = f (t)
Q = V/t = k . i . A
V=K.i.A.t
dV = k . i . A . dt (na amostra) dV = - a . dh (na bureta)

k . i . A . dt = - a . dh
k . h/L . A. dt = - a . dh

𝑘∗𝐴 𝑑ℎ
. 𝑑𝑡 = −
𝐿∗𝑎 ℎ

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Realizando-se a integração entre h1 e h2 e t1 e t2
𝑡2 ℎ2
𝑘∗𝐴 𝑑ℎ
∫ . 𝑑𝑡 = − ∫
𝑡1 𝐿∗𝑎 ℎ1 ℎ

𝑘∗𝐴
. (𝑡 − 𝑡1 ) = −𝑙𝑛𝑒 ℎ2 + 𝑙𝑛𝑒 ℎ1
𝐿∗𝑎 2

𝑎∗𝐿
k= ∗ 𝑙𝑛𝑒 (ℎ1 /ℎ2 )
𝐴. (𝑡2 − 𝑡1 )

𝑎∗𝐿
k= ∗ 2,3 log(ℎ1 /ℎ2 )
𝐴. (𝑡2 − 𝑡1 )

k = permeabilidade
a = área da bureta
A = área da amostra
L = comprimento da amostra
dV = volume elementar
dh = altura elementar
h = leituras na bureta
t = tempo correspondente às leituras h
Figura 17 – Permeâmetro de carga variável

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4.8.4 Ensaios de Campo (in situ)

4.8.4.1 Ensaio de Bombeamento


Utilizados para a determinação “in loco” da permeabilidade de estratos de areia e/ou
pedregulho situados abaixo do lençol freático.

4.8.4.2 Ensaio de “Tubo Aberto”


Este ensaio consiste em cravar um tubo de sondagem no terreno até a profundidade
desejada e enchê-lo com água, medindo-se a velocidade com que a água se escoa pelo
tubo e se infiltra no terreno segundo superfícies esféricas concêntricas

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4.8.4.3 Ensaio de “Tubo Aberto” com carga constante
É indicado para terrenos em que a permeabilidade é tão alta, areias grossas e
pedregulhos, de modo a dificultar a medida exata do abaixamento do nível d’água.

4.9 Permeabilidade em terrenos estratificados

Em virtude da estratificação do solo, os valores de K são diferentes nas direções


horizontal e vertical.

4.9.1 Fluxo paralelo à estratificação

Na direção horizontal, todos os estratos estão sujeitos ao mesmo gradiente hidráulico.

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4.9.2 Fluxo perpendicular à estratificação

Na direção vertical, sendo o escoamento contínuo, a vazão através de casa estrato é


igual. Portanto:

Exemplo: Para o terreno abaixo, determinar os coeficientes de permeabilidade na


direção horizontal e vertical.

Respostas: keq,h=0,032 = 3,2 x 10-3 cm/s keq,v=3,12x10-6 cm/s

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5 PERCOLAÇÃO DE ÁGUA DOS SOLOS


5.1 Tipos de Escoamento

•Regime Permanente: não há influência do tempo. A descarga é constante em


qualquer tempo.
Ex.: Operação normal de uma barragem de terra

• Regime Transiente: varia com o tempo. Ex.: Rebaixamento do NA.


Ex.: Rebaixamento rápido do N.A. de uma barragem de terra

• Regime Laminar: a trajetória das partículas é suave. As trajetórias não se


cruzam.

• Regime Turbulento: as trajetórias das partículas se interceptam

5.2 Fluxo Unidimensional

As partículas de um fluido em movimento num meio poroso possuem uma quantidade


de energia resultante de três tipos de trabalho cedidos ao fluido que correspondem a
três tipos de energia:

• Energia Cinética: trabalho cedido à partícula de um fluido para aumentar sua


velocidade de uma velocidade de referência para aquela em que se encontra no
momento.

• Energia de Pressão: trabalho cedido à partícula para aumentar sua pressão de


um valor de referência para sua pressão no momento.

• Energia de Elevação: trabalho cedido à partícula para elevá-la de uma cota de


referência para sua cota no momento.

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5.2.1 Conceito de Carga

É uma medida correspondente à cada parcela de energia. É a energia por unidade de


peso do fluido.
• Carga de Pressão ou Carga Piezométrica (hp):

𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜
ℎ𝑝 = =
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑜 𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜

 . (𝑏 . 𝑐 ) . 𝑙  .𝑉 
=  ℎ𝑃 =
𝑎 . (𝑏 . 𝑐 ) . 𝑙 𝑎 . 𝑉 𝑎

• Carga de Elevação ou Carga Altimétrica (he):

𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑒𝑙𝑒𝑣𝑎çã𝑜
ℎ𝑒 = =
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑜 𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜
𝑚 .𝑔 .𝑧 𝑚 .𝑔 .𝑧
=  ℎ𝑒 = 𝑧
𝑎 . 𝑉 𝑚 .𝑔

• Carga de Velocidade ou Carga Cinética (hv):


2
𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑐𝑖𝑛é𝑡𝑖𝑐𝑎 𝑚 . 𝑉 ⁄2 𝑚 . 𝑣2 𝑣2
ℎ𝑣 = = =  ℎ𝑣 =
𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑜 𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑚 .𝑔 2 .𝑚 .𝑔 2 .𝑔

• Carga Total (h):

 𝑣2
ℎ = ℎ𝑝 + ℎ 𝑒 + ℎ𝑐  ℎ= +𝑧+
𝑎 2 .𝑔

Teoria de Bernoulli: há conservação da carga total no escoamento de fluidos ideais e


incompressíveis em regime permanente. Ou seja:

ℎ𝑝 + ℎ𝑒 + ℎ𝑣 = 𝑐𝑡𝑒  ℎ𝐴 = ℎ𝐵

𝐴 𝑉𝐴2 𝐵 𝑉𝐵2
+ 𝑍𝐴 + = + 𝑍𝐵 +
𝐴 2𝑔 𝐵 2𝑔

Nos escoamentos em meios porosos:

ℎ𝐴 = ℎ𝐵 + ℎ

Onde: h = perda de carga entre A e B.

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De maneira geral, nos problemas de fluxo em meios porosos, a perda de cara devida à
velocidade é desprezível. Assim, pode-se obter:

𝐴 
ℎ𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = ℎ𝑝 + ℎ𝑒  + 𝑍𝐴 = ( 𝐵 + 𝑍𝐵 ) + ℎ𝐴𝐵
𝐴 𝐵

Exemplo 1:
Ponto A Ponto B Ponto C

he = H he = h he = 0

hp = 0 hp = (H – h) hp = H

ht = he+hp = H ht = he+hp = H ht = H

Exemplo 2:
Ponto A Ponto B

he = hc he = 0

hp = -hc hp = 0

ht = he+hp = 0 ht = 0

Exemplo 3: Fluxo Vertical Descendente

Ponto A Ponto B Ponto C Ponto D

he = 4,2m he = 3,6m he = 0,6m he = 0

hp = 0 hp = 0,6m hp = -0,6m hp = 0

ht = 4,2m ht = 4,2m ht = 0 ht = 0

Nota-se que só há variação de carga total V = k . i 𝐴 𝑉𝑓


𝑣𝑓 = 𝑣 . =𝑣.
onde há perda de energia, isto é, ao longo da 𝐴𝑣 𝑉𝑣
amostra de solo. ℎ 4,2
𝑖= = = 1,4
𝑙 3 𝑉 0,7
𝑣𝑓 = =
𝑛 1/3
v = 0,5x1,4 = 0,7cm/s
= 2,1𝑐𝑚/𝑠

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Observações:

• A direção do fluxo é determinada pela diferença da carga total. O fluxo é dado


sempre no sentido da maior carga para o de menor;
• Toda a perda de carga acontece no solo;
• Qualquer elevação pode ser selecionada como RN para a determinação das
cargas de elevação

Exemplo 4: Fluxo Vertical Ascendente

Ponto A Ponto B Ponto C Ponto D

he = 3,6m he = 2,4m he = 0,6m he = 0

hp = 0 hp = 1,2m hp = 4,2m hp = 4,8m

ht = 3,6m ht = 3,6m ht = 4,8m ht = 4,8m

i = h/l = 1,2/1,8 = 2/3

v = k . i = 0,5x(2/3) = 0,33 cm/s

vf = v/n = (1/3)/(1/3) = 1,0 cm/s

Exemplo 5: Fluxo Horizontal

Ponto A’ Ponto A Ponto B Ponto C Ponto D

he = 0m he = 0,9m he = 0,9m he = 0,9m he = 0,9

hp = 2,4m hp = 1,5m hp = 1,5m hp = -0,9m hp = -0,9m

ht = 2,4m ht = 2,4m ht = 2,4m ht = 0m ht = 0m

i = h/l = 2,4/1,8 = 4/3

v = k . i = 0,5x(4/3) = 2/3 cm/s

vf = v/n = (2/3)/(1/3) = 2,0 cm/s

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5.2.2 Tensões Efetivas em um Solo com Fluxo Ascendente

a) Cálculo das cargas

(i) CONDIÇÃO ESTÁTICA (ii) CONSIDERANDO FLUXO ASCENDENTE ()


Ponto A Ponto B Ponto C Ponto A Ponto B Ponto C

he = z + L he = L he = 0 he = z + L he = L he = 0

hp = 0 hp = z hp = z + L hp = 0 hp = z hp = z + L + h

ht = z + L ht = z + L ht = z + L ht = z + L ht = z + L ht = z + L + h

b) Cálculo das tensões

(i) Condição Estática

Ponto A Ponto B Ponto C

u=0 u = a . z u = a . (z + L)

=0  = a . z  = sat . L + a . z

’ = 0 ’ = 0 ’ = sat . L + a . L - a . (z + L) = sub . L

(ii) Condição de Fluxo


Ponto A Ponto B Ponto C

u=0 u = a . z u = hp . a = a . (z + h + L)

=0  = a . z  = sat . L + a . z

’ = 0 ’ = 0 ’ = sat . L + a . z - a . (z + h + L) = sub . L - a . h

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5.2.3 Tensões Efetivas em um Solo com Fluxo Descendente

c) Cálculo das cargas

(i) CONDIÇÃO ESTÁTICA (ii) CONSIDERANDO FLUXO DESCENDENTE ()


Ponto A Ponto B Ponto C Ponto A Ponto B Ponto C

he = z + L he = L he = 0 he = z + L he = L he = 0

hp = 0 hp = z hp = z + L hp = 0 hp = z hp = z + L - h

ht = z + L ht = z + L ht = z + L ht = z + L ht = z + L ht = z + L - h

d) Cálculo das tensões

(iii) Condição Estática

Ponto A Ponto B Ponto C

u=0 u = a . z u = a . (z + L)

=0  = a . z  = sat . L + a . z

’ = 0 ’ = 0 ’ = sat . L + a . Z - a . (z + L) = sub . L

(iv) Condição de Fluxo


Ponto A Ponto B Ponto C

u=0 u = a . z u = hp . a = a . (z + L - h)

=0  = a . z  = sat . L + a . z

’ = 0 ’ = 0 ’ = sat . L + a . z - a . (z + L - h) = sub . L + a . h

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5.2.4 Força de Percolação

Força de Percolação (f) = a . h . A


𝑎 . ℎ . 𝐴
Onde: 𝑗= =  𝑎 .𝑖
𝐴 .𝐿
h= perda de carga;
i = gradiente hidráulico; Força de percolação por unidade de volume
A = área da seção transversal.

É uma força que atua nas partículas, tendendo a carregá-las. Só não o faz porque o
peso das partículas a ela se contrapõe, ou porque a areia é contida por outras forças
externas.

5.2.4.1 Areia Movediça (QUICKSAND)

Quando uma areia é submetida a uma condição de fluxo que resulta em tensão efetiva
nula, a resistência do solo torna-se zero, há um afofamento do material, rompe-se o
equilíbrio dos grãos e o solo experimenta uma situação de instabilidade.
A tensão efetiva é nula quando a pressão neutra se iguala à tensão total. Para que isto
ocorra existem duas situações:

1) Na existência de um fluxo ascendente de tal magnitude que a


resultante das forças [peso do solo – (empuxo + força de
percolação)] seja nula;
2) No caso de uma areia fofa saturada ser submetida a um choque
(ou vibrações) que provoque um súbito decréscimo de volume e a
transferência da tensão efetiva para a pressão neutra.

Onde:

P = L . sat . A E = L . a . A f = h . a . A
(peso do solo saturado) (Empuxo) (força de percolação)

O gradiente hidráulico necessário para provocar a condição de areia movediça pode ser
determinado
por:

P – (E + f) = 0

sat . A . L – (a . A . L + h . a . A) = 0 ℎ 𝑠𝑢𝑏 


= ∴ 𝑖𝑐𝑟𝑖𝑡 = 𝑠𝑢𝑏
𝐿 𝑎 𝑎
(sat - a) . L = h . a

Sub . L = h . a

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𝑠𝑢𝑏
~ 1,0, de forma que um gradiente hidráulico unitário causará condição de areia
𝑎
movediça em um solo não carregado.
Só ocorre o estado de areia movediça quando o gradiente atua de baixo para cima. No
sentido contrário, quanto maior o gradiente, maior a tensão efetiva.
O combate à situação de areia movediça pode ser feito reduzindo-se o gradiente
hidráulico ou aumentando-se a tensão sobre a camada susceptível.

5.3 Fluxo Bidimensional

Quando o fluxo de água ocorre sempre na mesma direção, como no caso de


permeâmetros estudados até agora, diz-se que o fluxo é unidimensional. Sendo
uniforme a areia, a direção do fluxo e o gradiente são constantes em qualquer ponto.
Quando as partículas de água se deslocam segundo qualquer direção, o fluxo é
tridimensional. A migração de água para um poço é um exemplo de fluxo tridimensional
de interesse para a engenharia.
Quando as partículas de água seguem caminhos curvos, mas contidos em planos
paralelos, o fluxo é bidimensional. É o caso da percolação pelas fundações de uma
barragem. Em virtude da ocorrência frequente deste tipo de fluxo em obras de
engenharia e de sua importância na estabilidade das barragens, o fluxo bidimensional
é muito facilitado pela representação gráfica dos caminhos percorridos pela água e da
correspondente dissipação de carga. Esta representação é conhecida como rede de
fluxo que veremos mais adiante.
A equação diferencial de fluxo é a base para o estudo de percolação Bi ou
Tridimensional. Tomando um ponto definido por suas coordenadas cartesianas (x, y, z),
considerando o fluxo através de um paralelepípedo elementar em torno deste ponto, e
assumindo a validade da lei de Darcy, solo homogêneo e solo e água incompressíveis,
é possível deduzir a equação tridimensional do fluxo em meio não-saturados.

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𝜕2ℎ 𝜕2ℎ 𝜕2ℎ 1 𝜕𝑠 𝜕𝑒
𝑘𝑥 . 2
+ 𝑘𝑦 . 2
+ 𝑘𝑧 . 2
= . (𝑒 . +𝑆. )
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝑒+1 𝜕𝑡 𝜕𝑡

Onde:
kj = permeabilidade na direção j;
h = carga hidráulica total;
S =grau de saturação;
E = índice de vazios;
t = tempo

Em muitas aplicações em geotecnia, a equação pode ser simplificada para a situação


bidimensional, e meio saturado e com fluxo estacionário, assim obtém-se:

𝜕2ℎ 𝜕2ℎ 1 𝜕𝑠 𝜕𝑒
𝑘𝑥 . 2
+ 𝑘𝑦 . 2
= . (𝑒 . +𝑆. )
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝑒+1 𝜕𝑡 𝜕𝑡

Observando-se os termos e (índice de vazios) e S (grau de saturação), verifica-se que


podem ocorrer 4 (quatro) tipos de fenômenos:

a) e e S são constantes → Fluxo estacionário ou permanente (não varia com o


tempo), S=100%

𝜕2ℎ 𝜕2ℎ
𝑘𝑥 . 2 + 𝑘𝑦 . 2 = 0
𝜕𝑥 𝜕𝑦

Se nessa equação for considerada isotropia na permeabilidade, isto é, k x = ky, pode-se


simplificar ainda mais:

𝜕2ℎ 𝜕2ℎ
+ =0
𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2

b) e é variável e S é constante
(i) e decrescente → Adensamento
(ii) e crescente → Expansão

c) e é constante e S é variável
(iii) S decrescente→ Drenagem
(iv) S crescente → Embebimento

d) e e S são variáveis → Problemas de compressão e expansão, além de drenagem


e embebimento.

OBS: Os casos (b), (c) e (d) são denominados fluxo transiente (quantidade de água que
percola varia com o tempo)

Normalmente o problema de fluxo é tratado no plano, considerando-se uma seção típica


do maciço situada entre dois planos verticais e paralelos, de espessura unitária. Tal
procedimento é justificado devido ao fato de que a dimensão longitudinal é bastante
maior que as dimensões de seção transversal. Portanto, considerando:

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• Fluxo é estacionário;
• Solo Saturado;
𝜕𝑒
• Não ocorre nem compressão, nem expansão durante o fluxo: = 0;
𝜕𝑡
• Solo homogêneo;
• K igual nas duas direções kx = ky;
• Validade da Lei de Darcy

Temos:
𝜕 2ℎ 𝜕 2ℎ
+ = 0 → 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝐿𝑎𝑝𝑙𝑎𝑐𝑒
𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2

5.3.1 Rede de Fluxo

A solução da Equação de Laplace é representada por duas famílias de curvas (linhas


equipotenciais e linhas de fluxo) que se interceptam ortogonalmente formando a
chamada rede de escoamento ou rede de fluxo.

A Rede de fluxo é uma representação gráfica dos caminhos percorridos pela água.
Consiste, basicamente, em traçar na região em que ocorre o fluxo, dois conjuntos de
curvas conhecidas como linhas de fluxo (trajetórias das partículas) e por linhas
equipotenciais (linhas de igual carga total).

O Canal de Fluxo é o trecho compreendido entre duas linhas de fluxo consecutivas


quaisquer e representa uma certa porção Q da quantidade total Q de água que se
infiltra. Portanto, a vazão em cada canal de fluxo é constante e igual para todos os
canais.

A Perda de Carga h entre as linhas equipotenciais adjacentes denomina-se queda de


potencial.

No caso de solos isotrópicos e homogêneos, as linhas de fluxo e equipotenciais formam


figuras que são basicamente “quadrados”, em destaque na Figura 18. A mesma vazão
percola entre dois pares adjacentes de linhas de fluxo. A perda de carga entre linhas
equipotenciais sucessivas é a mesma.

Figura 18 – Destaque do traçado de uma rede de fluxo

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5.3.2 Resolução da Equação de Laplace

Os métodos para a determinação das redes de fluxo são:


• Métodos Analíticos: resultantes da integração da equação diferencial do fluxo.
Somente aplicável em alguns casos simples, devido à complexidade do
tratamento matemático.
• Solução Numérica: aplicação de métodos numéricos para a solução da
Equação de Laplace através de programas de computador. Ex.: Método dos
Elementos Finitos: criada uma rede de elementos finitos, pode-se calcular com
razoável precisão a carga total em cada ponto.
• Modelos Reduzidos: consiste em construir num tanque com paredes
transparentes um modelo reduzido do meio que vai sofrer percolação.
• Solução Gráfica: é o mais comum dos métodos (Rede de Fluxo).

Para qualquer método adotado é necessário definir previamente as condições limites


(de contorno) do escoamento que geralmente são:

• Superfície de entrada e superfície de saída: linhas equipotenciais.


• Linha de fluxo superior e linha de fluxo inferior

1 – 2: linha equipotencial

6 – 7: linha equipotencial

2 – 3 – 4 – 5 – 6: linha de fluxo superior

8 – 9: linha de fluxo inferior

5.3.2.1 Determinação gráfica da rede de fluxo

Este método foi proposto pelo físico alemão Forchheimer. Consiste no traçado a mão
livre de diversas linhas de escoamento equipotenciais, respeitando-se as condições de
que elas se interceptam ortogonalmente e que formem figuras “quadradas”.
A sua obtenção desta maneira tem inclusive a vantagem de despertar a sensibilidade
de quem a constrói para o problema em estudo.
As redes montadas por figuras com a/L constante e, em particular, “quadradas”
(a/L = 1), implicam no atendimento às condições que lhes são impostas, isto é, por cada
canal de fluxo passa a mesma quantidade (Q) de água e entre duas equipotenciais
consecutivas ocorre a mesma queda de potencial (h).
A construção gráfica é feita por tentativas, a partir da definição das “condições limites”,
isto é, às condições de carga e de fluxo que, em cada caso, limitam a rede de
percolação. Por exemplo, no caso da pranchada, na figura acima, a linha contornando
a pranchada e o fundo da camada permeável são linhas de fluxo e a superfície do
terreno representa as linhas equipotenciais inicial e final. Naturalmente o traçado das
redes requer experiência e prática de quem o utiliza. Geralmente o traçado baseia-se
em outras redes semelhantes obtidas por outros métodos.

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Transcreve-se a seguir as recomendações de Casagrande para o traçado das redes de


fluxo:

✓ Utilizar toda a oportunidade de estudar a aparência de redes de fluxo bem


construídas. Uma vez fixada, tentar desenhar a mesma rede sem consultar a
solução adequada; repetir até se alcançar a rede apropriada.

✓ 4 ou 5 canais de fluxo são, em geral, suficientes para a primeira tentativa.

✓ Observar sempre a aparência geral da rede; não tentar ajustar detalhes até que
toda a rede esteja aproximadamente correta

✓ Geralmente, há regiões na rede nas quais as linhas de fluxo devem ser


aproximadamente retas e paralelas; os canais de fluxo devem, então, ter a
mesma largura, e os quadrados são uniformes; começando-se o traçado da rede
por esta região, pode-se facilitar a solução.

✓ A rede de fluxo em áreas confinadas, limitada por contornos paralelos, é


simétrica, consistindo de curvas de formas elípticas.

✓ O iniciante geralmente comete o erro de desenhar transições marcantes entre


as seções retas e curvas das linhas de fluxo e/ou equipotenciais; todas as
transições devem ser suaves, de forma elíptica ou parabólica; o tamanho dos
quadrados em cada canal vai variar gradualmente.

✓ Em geral, a primeira tentativa de desenhar os canais de fluxos não resultará


numa rede com elementos quadrados. Caso não se obtenham, quadrados
perfeitos, é possível usar a relação entre os lados do retângulo para estabelecer
um numero fracionário que estará associado a uma relação entre o numero de
canais de fluxo e/ou quedas de potencial não inteira.

✓ Caso se deseje resolver toda a área por elementos quadrados, torna-se


necessário modificar o número de canais de fluxo, ou por interpolação ou por
reinício. Não se deve tentar a modificação para quadrados em áreas vizinhas, a
menos que a correção seja muito pequena.

✓ Notar que as condições de contorno podem introduzir peculiaridades na rede de


fluxo.

✓ Numa superfície livre de fluxo, os quadrados são incompletos; deve ser mantida
a condição de iguais quedas de carga entre pontos de interseção de
equipotenciais.

✓ Inicialmente, deve ser assumida a superfície livre de fluxo e então determinar as


posições dos pontos limítrofes do fluxo

Tomemos, para exemplificar, o aspecto das linhas equipotenciais e de fluxo, o caso


simples de uma cortina de estacas-prancha cravadas num terreno arenoso, onde se

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indicam as “condições limites”, constituídas por duas linhas de fluxo e duas linhas
equipotenciais, como são mostradas na Figura 19.

Figura 19 – Representação das condições limites

Para este caso, a rede de fluxo tem a configuração mostrada na Figura 20. Numerosas
linhas de fluxo e linhas equipotenciais poderiam ser traçadas, como as do exemplo, em
que se obtém nd = 12 quedas de potencial e nf = 5 canais de fluxo.

Figura 20 – Configuração da rede de fluxo em uma cortina de estacas-prancha

OBS.: Ao nível da superfície, sob a coluna de água de altura h, temos a equipotencial


de carga h. A pressão (u), neste caso, corresponde à carga nesta superfície e tem valor
igual a “h” como se verifica:
Uma coluna de água de altura h faz em uma área unitária 1x1 uma pressão “u”:

𝐹𝑜𝑟ç𝑎 (𝑝𝑒𝑠𝑜)
𝑢 (𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜) =
á𝑟𝑒𝑎

𝑝𝑒𝑠𝑜 = 𝑣𝑜𝑙 . 𝛾𝑎 = 1 × 1 × ℎ × 𝛾𝑎

𝑝𝑒𝑠𝑜 = ℎ × 𝛾𝑎

𝛾𝑎 ×ℎ
𝑢= = 𝛾𝑎 × ℎ
1×1

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Neste caso, observa-se que a água percola da esquerda para a direita em função da
diferença de carga total existente. Observa-se que as 11 linhas equipotenciais são
perpendiculares às 4 linhas de fluxo, formando elementos aproximadamente quadrados.
A rede é formada por 5 canais de fluxo (nf = 5) e por 12 quedas equipotenciais (nd = 12).
Nota-se que os canais de fluxo possuem espessuras variáveis, pois a seção disponível
para passagem de água por baixo da estaca prancha é menor do que a seção pela qual
a água penetra no terreno. Logo, a velocidade será variável ao longo do canal de fluxo.
Quando o canal se estreita, sendo constante a vazão, a velocidade será maior, gerando
um gradiente hidráulico maior (Lei de Darcy). Consequentemente, sendo constante a
perda de potencial de uma linha equipotencial para outra, o espaçamento entre as
equipotenciais deve diminuir. Sendo assim, a relação entre as linhas de fluxo e
equipotenciais se mantém constante.
A partir do traçado da rede de fluxo, pode-se calcular a vazão percolada. Assim:
Isolando um elemento da rede de fluxo, como aquele mostrado na Figura 21, o qual é
formado por linhas de fluxo distanciadas entre si de “b” no plano do desenho e de uma
unidade de comprimento no sentido normal do papel.

Figura 21 – Elemento individual da rede de fluxo

Segundo a Lei de Darcy, a vazão (q) no canal de fluxo será: q = k . i . A, sendo o


gradiente hidráulico (i) dado por:

Δℎ𝑡𝑟𝑒𝑐ℎ𝑜
𝑖=
𝑙𝑡𝑟𝑒𝑐ℎ𝑜

Δℎ
A área no elemento é igual a: A = b . l. Portanto: 𝑞 = 𝑘. ( ) . (𝑏. 𝑙 ).
𝑙
No traçado da rede de fluxo, como o elemento é um quadrado, tem-se: b = l, sendo
assim:

𝑞 = 𝑘. Δℎ

A perda de carga entre duas equipotenciais consecutivas é constante, requisito para


que a vazão num determinado canal de fluxo também seja constante.
A carga total disponível (h) é dissipada através das linhas equipotenciais (nd), de forma
que entre duas equipotenciais consecutivas tem-se:


Δℎ =
𝑛𝑑

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Realizando as devidas substituições, tem-se a vazão em cada canal de fluxo, dada pela
expressão abaixo:


q = k.
𝑛𝑑

A vazão total do sistema de percolação (Q), por unidade de comprimento, é dada pela
vazão do canal (q) multiplicada pelo número de canais de fluxo (nf). Portanto:
𝑛𝑓
Q = q. 𝑛𝑓 ⇒ Q = k. h.
𝑛𝑑

Onde:
h = perda de carga total;
𝑛𝑓
⁄𝑛𝑑 = fator de forma, que depende da rede traçada.

➢ Propriedades básicas de uma rede de fluxo:

• As linhas de fluxo e as linhas equipotenciais são perpendiculares entre si,


isto é, sua interseção ocorre a 90º;
• A vazão em cada canal de fluxo é constante e igual para todos os canais;
• As linhas de fluxo não se interceptam, pois não é possível ocorrerem duas
velocidades diferentes para a mesma partícula de água em escoamento;
• As linhas equipotenciais não se interceptam, pois não é possível se ter duas
cargas totais para um mesmo ponto;
• A perda de carga entre duas equipotenciais consecutivas quaisquer é
constante.

A Figura 22 apresenta a solução gráfica para um outro exemplo semelhante ao


mostrado anteriormente.

Figura 22 – Rede de fluxo através de uma fundação permeável de uma cortina de


estacas-prancha

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A Figura 23 ilustra um traçado de rede de fluxo feito à mão livre, sob um vertedouro de
concreto, tendo na fundação (extremidades) duas cortinas (paredes) verticais até uma
determinada profundidade

Figura 23 – Rede de fluxo através de uma fundação de um vertedouro

Já na Figura 24, publicado por Massad (2003), de uma escavação em solo homogêneo,
apresenta-se a rede de fluxo para a metade à direita da seção (a ser duplicada para a
esquerda, por haver simetri.a no exemplo) em que há uma perda de carga de 6,0m em
12 quedas de potencial (nq = nd =12) – adotado 6 canais de fluxo (nc = nf = 6) ao se
traçar a rede de fluxo.

Figura 24 – Desenho da rede de fluxo para uma escavação (MASSAD, 2003)

Interessante observar que na área mais estreita do fluxo, abaixo da escavação, as linhas
de fluxo estão mais próximas e na área externa mais distante, mantida a mesma
quantidade de linhas de fluxo

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A abaixo ilustra diferentes exemplos de traçados de rede de fluxo (4 para fluxo confinado
e 2 para fluxo não confinado*). Observe como os elementos impermeáveis (cortinas -
paredes ou tapetes) ou permeáveis (filtros - material drenante) influenciam a trajetória
das linhas de fluxo

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Em resumo para uma rede de figuras “quadradas”, temos:

A rede de fluxo define:

• Número de canais de fluxo (Nf);


• Número de faixas de perda de potencial (Nd).

h 𝑄 ℎ
h = ; Q = Q = k . .𝑎 .1
𝑁𝑑 𝑁𝑓 𝑁𝑑 . 𝐿

h ℎ ℎ 𝑎
𝑖= = Q=k. . .𝑁 → 𝑎 = 𝐿
𝐿 𝑁𝑑 . 𝐿 𝑁𝑑 𝐿 𝑓

Q = k . i . A 𝑁𝑓 𝑁𝑓
Q = k .h . 𝑜𝑢 Q = k . h . .𝐶
𝑁𝑑 𝑁𝑑

Onde: C=comprimento da seção

Exemplo 6: Calcular a vazão de água que atravessa o solo por baixo da cortina de
estacas.

Resolução:

Dados:
Nf = 4
Nd = 8
h= 900 – 150 = 750cm
C=5000cm

Assim:

Q = (0,5 x 10-6) x 750 x 5000 x 4/8

Q = 0,94 cm³/s

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Exemplo 7:
Para a cortina, com 100 m de comprimento, representada na figura abaixo, calcular:
a) A quantidade de água que percola, por mês, através do maciço permeável
b) A pressão neutra ou poropressão no ponto A, em que está instalado um piezômetro.

Resolução: Por se tratar de fluxo bidimensional, em que a área atravessada pela água
não é constante, faz-se necessário traçar previamente a rede de fluxo do problema.
Optando por traçar 2 linhas de fluxo, obtém-se a mão livre o traçado abaixo

a) Cálculo de vazão, obtida em função da rede de fluxo: (por unidade de comprimento)

q = 1,4x10-5 x 15 x 102 x (3/6) = 10,5x10-3 cm3/seg

qtotal = 10,5x10-3 cm3/seg x 104 cm = 105 cm3 /seg (considerado os 100m de cortina)

Em um mês tem-se: t = 30 x 24 x 60 x 60 = 2592x103 seg

Q = 105 x 2592 x 103 = 272,16x106 cm3/mês = q = k.h.(Nf /Nd) 272m3/mês

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b) Cálculo da pressão neutra ou poropressão ou pressão de água no ponto:

h = (h / Nd) = (15/6) = 2,5m (perda de carga entre duas equipotenciais)

O número de quedas h até o ponto A é de aproximadamente 3,5h, logo a perda até


este ponto é de 3,5 x (15/6) = 8,75m (perda de carga)
Então, o nível de água no tubo piezométrico instalado em A situa-se à 8,75m abaixo do
nível de água à montante, ou seja, à 6,25m acima do nível do terreno em que está
instalado.

Como visto a pressão no ponto é a carga, expressa em altura de coluna d’água,


multiplicada pelo seu peso específico:

𝑢𝑎 = ℎ𝑝 𝑥 𝛾𝑎 = (6,25 + 25)𝑥 𝛾𝑎 → 𝑢𝑎 = 31,2𝑡/𝑚²

Exemplo 8:
Para o vertedouro de concreto da Figura abaixo, já desenhada uma rede de fluxo,
calcule a “subpressão” (pressão da água junto à sua fundação), em função do peso
específico da água considerado “ w ”. Apresente o cálculo para os 6 pontos destacados
(a, b, c, d, e, f), em kN/m2 (kPa). Apresente também um gráfico esquemático com os
valores obtidos

Resolução:
Carga hidráulica do sistema de fluxo: Diferença de NA (entrada/saída) → h = 7,0m
Perda de carga entre duas equipotenciais traçadas → ∆h = 7,0 / 7 = 1,00m

Observe que até o ponto “a” → 1 queda: ∆h= 1,00 (valor de perda de carga na
percolação até o ponto). Então, calculando a altura do nível da água dentro do
piezômetro (tubo):

Hpiezométrica = 6,0 + 2,0 = 8,0m (como pode-se observar diretamente nas cotas do
desenho)

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Logo, 𝑢𝑎 = ℎ𝑝 𝑥 𝛾𝑎 = 8,0 𝑥 𝛾𝑎 𝑘𝑁/𝑚²

Para os outros pontos, há perda de carga de 1,00m a cada ponto, logo, tem-se:

𝑢𝑏 = ℎ𝑝 𝑥 𝛾𝑤 = 8,0 𝑥 𝛾𝑤 𝑘𝑁/𝑚²
𝑢𝑐 = ℎ𝑝 𝑥 𝛾𝑤 = 8,0 𝑥 𝛾𝑤 𝑘𝑁/𝑚²
𝑢𝑑 = ℎ𝑝 𝑥 𝛾𝑤 = 8,0 𝑥 𝛾𝑤 𝑘𝑁/𝑚²
𝑢𝑒 = ℎ𝑝 𝑥 𝛾𝑤 = 8,0 𝑥 𝛾𝑤 𝑘𝑁/𝑚²
𝑢𝑓 = ℎ𝑝 𝑥 𝛾𝑤 = 3,0 𝑥 𝛾𝑤 𝑘𝑁/𝑚²

Gráfico esquemático com os valores obtidos para a subpressão na base da fundação:

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5.3.2.2 Anisotropia

Como é do conhecimento geral, a anisotropia kx  ky (direção que se considera para a


medição de uma determinada propriedade) do solo é uma condição encontrada
frequentemente. As linhas não são mais perpendiculares às equipotenciais.
Entretanto existe um artifício matemático que permite estudar o fluxo através de um solo
anisotrópico como se o mesmo estivesse ocorrendo em um solo isotrópico.
Para o traçado da rede de fluxo nesta situação, recorre-se a uma transformação do
problema efetuando-se uma alteração de escala na direção x.

𝑘𝑦
𝐹𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑐𝑎𝑙𝑎 𝑛𝑎 𝑑𝑖𝑟𝑒çã𝑜 𝑥 = √
𝑘𝑥

A permeabilidade isótropa equivalente pode ser determinada da seguintes forma:

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6 FILTROS DE PROTEÇÃO

“Até o meio da barragem faço tudo para a água não chegar. A partir
daí faço tudo para a água sair da maneira que quero”
“Arthur Casagrande”

6.1 Filtros em Geral

O projeto de um filtro deve ter como base fundamental a granulometria do material a ser
empregado. Esta granulometria deve ser tal que:

a) As partículas menores se acomodem nos vazios entre as partículas maiores, de


modo que o conjunto atue sempre como camada filtrante, ou seja, o material
sólido deve ser retido e a água consiga percolar com facilidade. Quando tal
ocorre, a água que surge a jusante do filtro se apresenta límpida e isenta de
material sólido;
b) O material mais fino seja retido pelo filtro, evitando o carreamento de partículas
sólidas e, conseqüentemente, a formação de erosão regresssiva (“piping”);
c) Os vazios do material do filtro devem ser suficientemente pequenos, de forma
que impeçam a passagem das partículas do solo a ser protegido;
d) os vazios do filtro devem ser suficientemente grandes de forma que propiciem a
livre drenagem das águas e o controle de forças de percolação, impedindo o
desenvolvimento de altas pressões hidrostáticas, isto é, a carga dissipada no
filtro.

6.2 Critérios para o dimensionamento de filtros

Com o objetivo de atender aos requisitos citados em 6.1, com base na sua experiência
profissional, Terzaghi propôs, em 1922, relações entre os diâmetros d15 e d85 do material
de base, com o diâmetro D15, do material de filtro, expressas pelas duas inequações:

𝐷15 𝑓𝑖𝑙𝑡𝑟𝑜
>4𝑎5 relação de permeabilidade
𝑑15 𝑠𝑜𝑙𝑜

𝐷15 𝑓𝑖𝑙𝑡𝑟𝑜
<4𝑎5 relação de estabilidade (“piping ratio”)
𝑑85 𝑠𝑜𝑙𝑜

Outros requisitos foram posteriormente acrescentados aos critérios de Terzaghi. Por


exemplo, o U.S. Bureau of Reclamation limita o tamanho das partículas do material do
filtro a 76 mm, para minimizar a segregação e a formação de pontes (“bridging”), das
partículas grandes durante a colocação. O U.S. Army Corps of Engineers também
requer que seja satisfeita a condição:

𝐷50 𝑓𝑖𝑙𝑡𝑟𝑜
< 25
𝑑50 𝑠𝑜𝑙𝑜

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Para se evitar o movimento de partículas do solo dentro do filtro, e um coeficiente de
uniformidade do filtro não superior a 20, para assegurar que não haja segregação.

Para pequenas barragens, Bureau of Reclamation Bureau of Reclamation Bureau of


Reclamation (2002) recomenda:

• D(15) do filtro / D(15) da base maior ou igual a 5. ( O filtro não deve ter mais de
5% de grãos passando na peneira No 200 – diâmetro igual a 0,075 mm.);
• D(15) do filtro / D(85) da base menor ou igual a 5;
• D(85) do filtro / diâmetro dos furos no tubo de drenagem ( ou da malha do poço
de alívio) maior ou igual a 2

Pinto (2000), utilizando:

D15-Filtro > 5 D15-Solo e, - D15-Filtro < D85-Solo

Apresenta a Figura 25 – Materiais para filtros de proteção (in Pinto, 2000)Figura 25 e


faz as seguintes considerações: “No exemplo indicado na Figura, o material P não é um
bom filtro para o solo S, porque não é muito mais permeável do que ele, enquanto que
o material R não é adequado por ser muito mais grosso e, eventualmente, permitir a
passagem de finos do solo S pelos seus vazios. O material Q é o que satisfaz as duas
condições.

Figura 25 – Materiais para filtros de proteção (in Pinto, 2000)

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