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Funções cognitivas no idoso

UFCD Nº8916
Curso: Técnico de Geriatria

Manual de Formação

Nome: Helena Maria Igreja Pereira

2021
Índice

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Introdução

As atuais alterações demográficas, sem paralelo ou precedência na história da existência


humana, estão a modificar a dinâmica do mundo de hoje. O célere envelhecimento das
sociedades modernas, representado por uma acentuada tendência de involução da
pirâmide etária, fruto de uma maior longevidade humana, tornou-se uma realidade
inevitável e com consequências drásticas na nova visão do mundo. Estas múltiplas
repercussões afetam o funcionamento da sociedade em geral, potenciando inúmeros
desafios à responsabilidade individual e coletiva, com tradução significativa para o
desenvolvimento dos países, assumindo lugar de destaque nas agendas sociais e
políticas.

Antigamente, quando a esperança média de vida das populações era diminuta, eram
poucas as pessoas que atingiam uma idade avançada. A mortalidade infantil produzia os
seus estragos e as epidemias semeavam, periodicamente, a morte. Nesses tempos,
poucas eram as pessoas que alcançavam a velhice, de tal forma que a senilidade não
constituía uma preocupação social. Mas, com a evolução dos tempos e até à atualidade,
a longevidade aumentou e a esperança média de vida das populações do mundo
ocidental atingiu níveis até agora inigualáveis (Phaneuf, 2010). Paralelamente a esta
tendência, à medida que os indivíduos envelhecem, inúmeras alterações fisiológicas
podem potenciar o declínio da capacidade cognitiva, contribuindo para a instalação de
possíveis quadros demenciais, o que representa mais um formidável desafio para os
diversos organismos com responsabilidades na saúde pública e proteção social.

Os gritantes números da prevalência atual da demência, o galopante envelhecimento


da população portuguesa e a carência de respostas de saúde e sociais permitem-nos
concluir que já foram ignoradas demasiadas oportunidades e que se impõe agir de
imediato, sob pena de sermos esmagados pela realidade (Alzheimer Portugal, 2009).
Urge, neste âmbito, direcionar o enfoque para a atuação preventiva, com o devido
ênfase para o investimento em instrumentos e testes de avaliação do funcionamento
cognitivo dos indivíduos, de forma a ser possível rastrear, atempadamente, possíveis
casos demenciais.

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Objetivos

No final da Ação, os/as formandos/as deverão ser capazes de:

• Identificar os diferentes aspetos cognitivos no idoso.

• Explicar as principais modificações dos diferentes aspetos


cognitivos no idoso.

• Analisar as informações provenientes das escalas de avaliação das


funções cognitivas no idoso.

• Reconhecer a importância dos aspetos avaliativos, para a


preparação de atividades básicas de estimulação com idosos.

• Executar atividades básicas de estimulação das funções cognitivas,


de acordo com as orientações da equipa técnica

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Conteúdos programáticos

• Tipos de memória
• Fatores que influenciam a capacidade de memorização
• Características das modificações na memória

• Atenção
✓ Modificações na atenção (visual e auditiva)
✓ Tarefa de escuta dicotómica
• Aprendizagem
✓ Características das modificações na aprendizagem
✓ Aprendizagem e características da tarefa
• Inteligência
✓ Inteligência conceptual
✓ Inteligência prática
✓ Inteligência social
✓ Fatores que influenciam a capacidade intelectual
• Resolução de problemas
✓ Identificação e estratégias de resolução de problemas
✓ Análise dos principais problemas quotidianos do idoso
✓ A importância da capacidade de resiliência
✓ Atividades práticas exemplificativas
• Criatividade
✓ A importância do estímulo da criatividade para a memória
✓ A influência da criatividade na autoestima do idoso
✓ Análise de escalas de avaliação das funções cognitivas
• Estimulação e treino cognitivo
✓ A importância da estimulação e treino cognitivo
✓ Exemplos de instrumentos
✓ Planificação de atividades básicas de estimulação cognitiva

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Avaliação

Em termos de avaliação irá ser realizados alguns trabalhos individuais em sala, um trabalho em
grupo e um teste sumativo.

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1- Envelhecimento demográfico em Portugal

A inevitável inversão da pirâmide etária, transversal às sociedades ditas desenvolvidas,


traduziu-se, ao longo das últimas décadas, num aumento abrupto do envelhecimento
demográfico, sendo que um dos binómios responsáveis por este processo se relaciona
com a diminuição da fecundidade, associada ao declínio da mortalidade e ao aumento
da esperança de vida (Pinto, 2006).

Estas alterações demográficas, sem precedentes na História da Humanidade, e com


consequências drásticas na nova visão do mundo, tiveram início nos séculos XIX e
seguinte e prosseguirão, sem dúvida, ao longo do presente século. Os anos que vieram
somar-se à esperança de vida e a queda generalizada da fecundidade estão a produzir
alterações notórias na estrutura de todas as sociedades humanas, responsáveis,
sobretudo, pela inversão histórica das percentagens de jovens e idosos (Organização das
Nações Unidas [ONU], 2002).

Os resultados definitivos apurados nos últimos Censos efetuados no território nacional


no ano de 2011, e referenciados ao dia 21 de março, indicam que a população residente
é de 10 562 178 habitantes, o que traduz, à partida, um abrandamento do crescimento
demográfico na última década, que aumentou apenas 2%, face aos 5% observados na
década de 90 (Instituto Nacional de Estatística [INE], 2012).

Os progressos proporcionados pelo desenvolvimento, em geral, e pelas ciências da


saúde, em particular, contribuíram de forma decisiva para o prolongamento da vida,
sendo esta uma vitória incontestável das sociedades ditas desenvolvidas
(Sequeira,2010).

A estrutura etária da população, em 2011, acentuou os desequilíbrios já verificados na


década passada, estreitando mais a base da pirâmide, correspondente à população mais
jovem, e alargando o seu topo, com o crescimento da população idosa. A superioridade
numérica das pessoas idosas comparativamente às mais jovens foi novamente
evidenciada, uma vez que a percentagem de jovens recuou de 16%, em 2001, para 15%
em 2011, mas a de idosos aumentou de 16% para 19%, respetivamente (INE, 2012).

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O envelhecimento da sociedade atual, com o aumento consistente da esperança de vida
ao nascer, constitui um triunfo sobre a morte precoce e é, indubitavelmente, uma
manifestação de progresso e de melhoria da condição humana (ONU, 2002). No
entanto, importa salientar que o aumento da esperança de vida só constitui um
progresso real da sociedade se não for acompanhado de uma diminuição da qualidade
de vida das pessoas idosas (Pinto, 2006), à qual se associam índices de dependência
acrescidos, em função do agravamento da morbilidade adquirida previamente e de uma
maior vulnerabilidade do idoso (Sequeira, 2010).

Em Portugal, a população residente tem envelhecido de uma forma contínua nas últimas
quatro décadas e, como consequência direta da estrutura demográfica do país, o Índice
de Envelhecimento subiu de 102, em 2001, para 128 em 2011. Associado ao aumento
deste índice encontra-se o inevitável acréscimo da dependência dos idosos que passou
de 24,6,em 2001, para 28,8, em 2011 (INE, 2012).

Embora os enormes progressos registados pelas ciências da saúde, nas últimas décadas,
tenham tido um papel preponderante no aumento da longevidade, a realidade
portuguesa fica, ainda, aquém dos padrões médios europeus e mostra que os últimos
anos de vida são, muitas vezes, acompanhados de situações de fragilidade e de
incapacidade, frequentemente relacionadas com situações suscetíveis de prevenção
(Direção-Geral da Saúde [DGS], 2004).

Em suma, o envelhecimento da população revela já repercussões profundas e


duradouras consideráveis em todas as esferas da vida quotidiana da humanidade, que
acarretam inúmeras oportunidades e desafios à responsabilidade individual e coletiva
sob o ponto de vista social, médico e financeiro, com tradução significativa para o
desenvolvimento dos países (ONU, 2002).

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2- Tipos de Memória

A memória é o que permite a aprendizagem pois é através da memória que os


conhecimentos se consolidam. E só o que aprendemos com a memória, nos possibilita
aprender coisas novas (aumentando assim o nosso conhecimento).

Podemos definir memória como o processo cognitivo que inclui, consolida e recupera,
toda a informação que aprendemos.

A memória é a função mental que permite reter a informação, ou seja, aprender;

É um sistema de armazenamento que permite reter a informação aprendida e permite


evocar essa mesma informação, isto é, permite lembrar de informação retida
anteriormente, mas a sua representação na memória não é uma reprodução fiel.

Acima de tudo a memória é extremamente importante pois é o que nos dá a


continuidade do presente e que nos permite manter uma conversa e dar
continuidade ao presente.

No nosso dia-a-dia, somos bombardeados com milhões de informações que se traduz


em estímulos. Segundo M. Gazzaniga, cerca de 99% da informação que entra no
cérebro é posta de parte. Imagine o que seria se você se lembrasse de todas as
sensações que recebeu durante o dia… (sensações como as provocadas pelas peças
de roupa, comida, etc) Cabe ao nosso cérebro selecionar a informação importante,
para garantir a própria sobrevivência do indivíduo e da espécie, chama-se a este
processo processamento de informação.

O processamento da informação dá-se em três fases: codificação, armazenamento e


recuperação.

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A codificação é a primeira fase da memória que prepara as informações
sensoriais para serem posteriormente armazenadas no cérebro. Baseia-se na
tradução de dados num código, que pode ser acústico, visual ou semântico.

Por exemplo: A afirmação «O mar é azul.», pode-se codificar o seu conteúdo


como:

✓ Uma imagem de sinais que são letras (código visual);


✓ Uma sequência de sons (código acústico);
✓ Tomar consciência do significado da afirmação e o que ela representa
(código semântico)

A codificação reporta-se à aprendizagem deliberada, ou seja, a aprendizagem


que exige esforço e no qual o objetivo é memorizar a informação. Neste caso,
temos de dedicar mais atenção às informações que desejamos memorizar o que
leva a uma codificação mais profunda.

Depois de codificada a informação, a mesma vai ser armazenada. O


armazenamento de informação consiste no registo de informação sobre algo
como por exemplo a última passagem de ano que celebramos. Ao relembrares
essa última passagem de ano, lembraste das pessoas com quem a celebraste, o
que comeste, etc. Parece que tudo está guardado num lugar do cérebro, como
que num DVD, mas não é isso o que acontece, novas tecnologias que permitem
ver o nosso cérebro em ação, provam que quando nos lembramos de algo
(como por exemplo a passagem de ano) várias áreas do cérebro são utilizadas.
Cada informação, cada engrama, produz modificações nas redes neuronais, que
se mantendo, permitem que você se recorde do que memorizou, sempre que
queira, a isto chama-se recuperação.

Na recuperação, recupera-se uma informação, ou seja, lembramo-nos,


evocamos, recordamos uma informação. A recuperação pode ser automática

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(lembras-te de quando nasceste) ou pode requerer uma maior complexidade
para recuperares algo (como por exemplo uma lei da física). O segundo tipo de
recuperação, já não é tão automático, requer dois momentos: o
reconhecimento e a evocação. O reconhecimento é quando tentas lembrar-te
se aprendeste a tal lei da física recorrendo ao ano de escolaridade e só depois
é que vais procurar o conteúdo dessa lei, processo chamado de evocação. Para
te lembrares da lei da física tiveste de seguir estes processos/pistas.

Existe três tipos de memória: sensorial, a curto prazo e a longo prazo.

o Memória sensorial: a memória sensorial é um tipo de memória que tem origem


nos órgãos sensitivos. As informações obtidas pelos sentidos são armazenadas
por um curtíssimo espaço de tempo (0,1 a 2 segundos). Se a informação
armazenada não for processada perde-se se for passa para a memória a curto
prazo.
o Memória a curto prazo: estes tipos de memória retêm informação durante um
período limitado de tempo, podendo ser esquecida ou passar para a memória de
longo prazo. Na memória a curto prazo pode-se distinguir duas memórias:
memória imediata e memória de trabalho.

o Memória imediata: a informação recebida fica retida durante um curto período


de tempo (cerca de 30 segundos). Investigações efetuadas vieram mostrar que
podemos conservar sete elementos (letras, palavras, algarismos, etc), variando
entre cinco e nove unidades.

o Memória de trabalho: neste tipo de memória mantemos a informação enquanto


ela nos e útil. A memória de trabalho reporta-se as atividades mentais em que o
objetivo não é a sua memorização, mas que, não obstante disso, implicam uma
certa memorização para se poderem aplicar de modo eficaz. Este tipo de
memória é utilizado por exemplo quando o patrão pede que no dia seguinte
cheguemos uma hora mais cedo, manterás na memória esta informação, que irá
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ser esquecida depois de a teres cumprido o pedido, ou seja, depois de teres
chegado uma hora mais cedo. Chama-se memória de trabalho à atividade de
armazenamento e de utilização de informação ligada especificamente à
realização de uma tarefa: refere-se, portanto, a um tipo de memória que
trabalha.

Qualquer informação que tenha estado na memória a curto prazo e que se perca, estará
perdida para sempre, só se mantendo se passar para a memória de longo prazo.

o Tipos de Memória a Longo Prazo: Memória declarativa e Memória não-


declarativa:
o Memória declarativa também pode ser designada por explícita ou memoria com
registo, (implica a consciência do passado, levando a reportarmo-nos a
acontecimentos, factos e pessoas que conhecemos/ aconteceram no passado).
É devido a este tipo de memória que consegues descrever as funções das áreas
pré-frontais: os heterónimos de Fernando Pessoa, o nome. dos teus amigos, o
aniversário da tua mãe. Este tipo de memória reúne tudo o que podemos
evocar/declarar por meio de palavras (daí o termo declarativo).
Distinguem-se, neste tipo de memória, dois subsistemas: a memória episódica e
a memória semântica;

o Episódica- quando envolve eventos datados, recordações (rosto de amigos


pessoas famosas, músicas, fatos e experiências pessoais) ou seja relacionado
com o tempo. Usamos a memória episódica, por exemplo, quando lembramos
do ataque terrorista em 11 de Setembro ou o primeiro dia de escola. A memória
semântica é, portanto, uma memória pessoal na qual que se manifesta uma
relação íntima ente quem recorda e o que se recorda.

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o Semântica- Abrange a memória do significado das palavras. Este tipo de memória
refere-se ao conhecimento geral sobre o mundo (fórmulas matemáticas, regras
gramaticais, leis da química, fatos históricos, etc. Neste tipo de memória não há
localização no tempo (ao contrário da memória episódica), não está associada a
nenhum conhecimento, ação ou fato específico do passado. Por exemplo: 1+1 =
2 é um conhecimento em que usas a memória semântica, mas se associar-se a
este raciocínio que quem me ensinou a fazer contas foi a minha professora da
primária este dado leva-me a usar a memória episódica. A memória semântica é
a coparticipação do significado de uma palavra que possibilita às pessoas
manterem conversas com significado. A memória semântica ocorre quando
envolve conceitos atemporais.

O Memória não-declarativa – Difere-se da memória declarativa porque esta não precisa


ser declarada (enunciada). É uma memória automática. É a memória usada para
procedimentos e habilidades, como por exemplo: andar de bicicleta, jogar bola, atar os
cordões, lavar os dentes, ler um livro etc. A memória não declarativa também pode
ser designada por memória implícita ou sem registo.

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3- Características das modificações na memória

É difícil imaginar uma vida sem registros, sem lembranças ou recordações, sem ao
menos reconhecimento. Assim, infere-se a importância da memória na vida do
homem e compreende-se a relutância, às vezes inevitável, contra o esquecimento.
Na definição de Dalgalarrondo (2008) a memória diz da capacidade de registrar,
manter e evocar os fatos já ocorridos. Há diferentes tipos de memória, como a
memória genética, imunológica e cognitiva.

O processo de fixação das informações depende, do ponto de vista psicológico (o que


exclui nesta análise outras variáveis como alimentação, estilo de vida, etc),
principalmente dos seguintes aspetos:

• Atenção global: estar atento é um pré-requisito fundamental para armazenar as


informações percebidas;

• Nível de consciência: assim como a atenção, o nível de consciência fundamenta o


funcionamento mental necessário para os registros anêmicos;

• Interesse emocional: a memorização está ligada diretamente com o interesse e o


vínculo afetivo do sujeito com a informação;

• Conhecimento anterior: a memorização de novas informações é facilitada quando já


existem conteúdos prévios relacionados às novas informações;

• Capacidade de compreensão: compreender a informação é um dos passos para o


processo de fixação anêmica;

• Organização temporal das repetições: já se dizia que "aquilo que não se usa, se
perde", assim a memorização depende também da repetição e da frequência desta
durante o tempo;
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• Dos canais senso-percetivos utilizados: o ser humano possui sentidos dominantes,
sendo que cada atividade exige um uso específico da perceção. A memorização será
diferentemente influenciada pelas vias auditivas, olfativas, visuais, etc.

A forma mais frequente de perda de memória é conhecida popularmente como


"esclerose" ou demência.

A demência mais comum é a doença de Alzheimer, que se caracteriza por acentuada


perda de memória acompanhada de graves manifestações psicológicas como por
exemplo a alienação.

Outros problemas que afetam a memória são:

• Estados psicológicos alterados como o estresse, a ansiedade e a depressão.


• A falta de vitamina B1 (tiamina) e o alcoolismo.
• Doenças da tireoide, como o hipotireoidismo.
• O uso de medicação como os calmantes, ou drogas por tempo prolongado.
• A vida sedentária com excesso de preocupações e insatisfações, bem como
uma dieta deficiente, favorece a perda de memória.

Contrariamente ao esquecimento comum ocorrido normalmente no dia-a-dia de


nossas vidas, existem algumas doenças no cérebro que causam perda de memória e
também interferem com a capacidade de aprender. A esta inabilidade dá-se o nome
de Amnésia. E podem ocorrer por traumatismos, tumor, encefalites e AVC.

Existem muitas coisas que você pode fazer para melhorar a memória, aqui vão
algumas estratégias:

o Estimular a memória. Utilize ao máximo a sua capacidade mental. Desafie o


novo. Aprenda novas habilidades.

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o Prestar atenção. Não tente guardar todos os factos que acontecem, mas
focalize a sua atenção e se concentre naquilo que você achar mais importante.

o Relaxar. É impossível prestar atenção se você estiver tenso ou nervoso.

o Associar fatos a imagens. Aprenda técnicas mneumônicas. Elas são uma forma
muito eficiente de memorizar grande quantidade de informação.

o Visualizar imagens. Veja as figuras com os "olhos da mente".

o Alimentos. Algumas vitaminas são essenciais para o funcionamento


apropriado da memória: tiamina, ácido fólico e vitamina B12. São encontradas
no pão e cereais, vegetais e frutas.

o Água. Ajuda a manter bem funcional os sistemas da memória, especialmente


em pessoas mais velhas.

o Sono. Afim de se conseguir uma boa memória, é fundamental que se permita


sono suficiente e descanso do cérebro.

A insónia leva a um estado de fadiga crónica e prejudica a habilidade de concentrar-


se e armazenar informações.

A diminuição da memória que ocorre na Terceira Idade, na maioria das vezes é


absolutamente benigna, mas frequentemente, por falta de melhor informação,
angustia o idoso que tem dificuldade de aceitá-la como um fato normal.

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4.Atenção

A atenção é a habilidade para escolher e se concentrar em um estímulo relevante. A


atenção é o processo cognitivo que permite escolhermos um estímulo relevante e, em
consequência, dar-lhe uma resposta. Esta habilidade cognitiva é muito importante e
uma função essencial em nossas vidas cotidianas. Por sorte, a atenção pode ser
exercitada e melhorada com o treinamento cognitivo adequado. Segundo o psicólogo e
filósofo William James, a atenção “é a tomada de posse pela mente, de forma clara e
vívida, de um entre diversos objetos ou esquemas de pensamento simultaneamente
possíveis. O foco e a concentração da consciência são sua essência. Implica na retirada
de algumas coisas com a finalidade de lidar efetivamente com outras”.

Também é possível pensar na atenção como um marcador de texto. Quando você lida
com um trecho de texto em um livro, a seção em destaque é focalizada, fazendo com
que você concentre seu interesse na área. A atenção permite “sintonizar” a informação,
em detrimento de sensações e perceções que não são relevantes no momento, e focar
sua energia na informação que é importante.

Não só o nosso sistema atencional faz com que possamos nos concentrar em algo
específico em nosso meio, enquanto destaca os detalhes irrelevantes, como também
afeta nossa perceção dos estímulos que nos rodeiam. Em alguns casos, nossa atenção
pode ser focada em uma coisa particular, levando-nos a ignorar outras. A concentração
sobre um alvo primário pode resultar em não perceber um segundo alvo do todo.

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4.1. Modificações na atenção (visual e auditiva)
A atenção é uma função cognitiva bem complexa e diversos comportamentos resultam
de um nível adequado de atenção para serem bem-sucedidos, por exemplo: assistir um
filme e compreendê-lo; manter o foco de conversação em um ambiente ruidoso. A
atenção também é um pré-requisito fundamental para o processo de memorização.

O conceito de atenção é definido pela seleção e manutenção de um foco, seja de um


estímulo ou informação, entre as inúmeras que obtemos através de nossos sentidos,
memórias armazenadas e outros processos cognitivos. Em outras palavras, dirigimos
nossa atenção para o estímulo que julgamos ser importante num exato momento. Os
outros estímulos que não os principais, passam a fazer parte do “fundo” não sendo mais
os focos na atenção.

Podemos estudar e avaliar os diferentes aspetos da atenção, por exemplo:

o atenção seletiva: quando o indivíduo escolhe um estímulo ao qual prestará


atenção, por exemplo, ler um livro ao invés de assistir tv, mesmo que esta esteja
ligada e faça ruídos ao fundo;
o atenção dividida: caracteriza-se pela capacidade do indivíduo em prestar
atenção em mais de um estímulo ao mesmo tempo, por exemplo, conversar
enquanto dirige um veículo, trabalhar no computador enquanto atende ao
telefone;

A nossa capacidade de manter a concentração é restrita, e depende de inúmeros


fatores, desde a falta de vontade ou animo por algum assunto, até a dificuldades
específicas, como as presentes no TDAH (veja seção principais diagnósticos) que
interferem na capacidade de atenção seletiva e dividida, ou seja, todos nós temos
alguma dificuldade atencional, se isso representa um problema a ser tratado, depende
do grau de comprometimento e do número de sintomas.

Problemas de atenção podem ser resultantes de um distúrbio atencional simples, ou a


uma inabilidade de manter o foco de atenção intencional, ou até aos dois problemas ao

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mesmo tempo. No nível seguinte de complexidade, está o rastreamento mental que
também é afetado por dificuldades atencionais. A preservação da atenção é um pré-
requisito para atividades que requeriam, tanto concentração, como rastreamento
mental. A habilidade de manter a própria atenção focada em um conteúdo mental fica
diminuída, ou seja, pode-se ter dificuldade de para se manter uma sequência de
pensamentos simples, o que invariavelmente compromete a habilidade de solução de
problemas mais complexos.

Elucidar a natureza dos problemas atencionais, depende não somente da complexa


observação do comportamento geral do paciente, assim como o desempenho em testes
específicos que envolvam concentração e trilhas mentais. Somente com a comparação
entre as várias observações, pode ser possível a distinção entre os déficits globais e
aqueles mais discretos e normais presentes na maioria das pessoas.

4.2. Tarefa de escuta dicotómica


Simões e Tiedemann (1985, p.60) afirmam que "Não é possível prestar atenção a um
grande número de estímulos ao mesmo tempo". Não obstante tal constatação, vivesse
numa sociedade que é produtora de processos hiperestimulativos, mesmo que se saiba
que há um limite na quantidade de informações que podem ser processadas pelo nosso
cérebro.

Mediante a convivência com tantos estímulos diversos, sabe-se que, na maioria das
vezes, pode-se escolher o que se quer prestar atenção. Trata-se do que a literatura
chama de atenção seletiva. Dessa forma, cada pessoa percebe um objeto ou uma
situação de acordo com os aspetos que têm especial importância para si própria. Nesse
sentido, pode-se entender a atenção como o início do processo de perceção, que nada
mais é que um processo de observação seletiva. (Id., p.61).

Sabe-se também que no campo da perceção auditiva há igual integração entre os


estímulos captados em cada um dos ouvidos, o que se torna fundamental para indicar a
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direção da origem do estímulo acústico. Em assim sendo, Simões e Tiedemann (1985,
p.65) teorizam que "numa situação de estimulação dicótica [...] o sujeito saberá relatar
a informação fornecida a cada ouvido separadamente. Além disso, poderá concentra-
se, isto é, prestar atenção à estimulação recebida em cada ouvido separadamente". Isso
ocorre porque uma das inúmeras possibilidades do sistema auditivo é "separar a
informação que atinge os dois ouvidos", visto que um ouvido tende a inibir o outro.

Contudo, não só os estímulos externos devem ser levados em consideração no que diz
respeito à atenção, já que os internos são igualmente relevantes; como no caso da
motivação, mediante a qual se justifica prestar muito mais atenção a tudo que nos
interessa e nos dá prazer ou que a força do hábito faz com que prestemos mais atenção,
pois são coisas que já se conhece e se entende. Sabe-se também que pessoas de
contextos sociais diferente não prestam atenção aos mesmos objetos.

Maltin W. (2003) destaca que estudos mostram que as pessoas muitas vezes notam
poucos detalhes sobre tarefas sem importância. Ela também aponta que os casos de
escuta dicótica podem ser pesquisados solicitando-se às pessoas que usem fones, onde
cada ouvido recebe uma mensagem diferente. Nesse caso, pede-se aos participantes
que prestem atenção num dos ouvidos e logo repitam a mensagem. Constatou-se que
os indivíduos notavam muito pouco da mensagem não atendida. Contudo, constatou-
se também que, em alguns casos, os indivíduos conseguiram acompanhar o significado
de uma mensagem no ouvido não atendido, chegando a misturar as falas de ambos os
ouvidos (atendido e não atendido) sem perceber.

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5- Aprendizagem

Como no cérebro humano existem inúmeros neurónios interconectados por sinapses


mais potentes, a virtualidade e a velocidade da transmissão nervosa tornou-se
sequencialmente mais longa, permitindo uma performance não só mais monitorizada,
como mais planificada e regulada.

A cognição, a conação e a execução que fazem parte da plenitude das faculdades mais
subtis e superiores do ser humano, emanam, portanto, da coatividade de milhões de
neurônios, resulta, consequentemente, de mecanismos biológicos e substratos
neurológicos do cérebro, demonstrando a impossibilidade de separar a função do
sistema nervoso de qualquer forma de aprendizagem, seja da mais natural, simples e
não-verbal, seja a mais cultural, complexa e verbal.

Qualquer aprendizagem humana emerge, consequentemente, de múltiplas funções,


capacidades, faculdades ou habilidades cognitivas interligadas, quer de receção
(componente sensorial - input), quer de integração (componentes percetiva, conativa,
mnésica e representacional), quer de planificação (componentes antecipatória e
decisória), quer finalmente, de execução ou de expressão de informação (componente
motora - output).

A arquitetura do funcionamento do sistema cognitivo humano ilustra, assim, a


interação contígua, contínua e holística da informação entre o envolvimento e o
organismo materializada em redes neuronais que asseguram a conexão das unidades
de entrada, com as unidades de saída, ambas mediadas por redes centrais que
permitem a integração, a retenção, a recirculação, a reciclagem, a auto-organização e
a retroação da informação, isto é, tornando-a uma rede neuro funcional especialmente
apta para aprender (Figura 1).

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5.1. Características das modificações na aprendizagem
O envelhecimento provoca um declínio cognitivo natural que surge na meia idade e
aumenta gradativamente. Essa diminuição da memória ocorrida durante a senescência
atinge de forma contundente à vida dos idosos, seja em maior ou menor grau.

Segundo Cavalcante (2010), na idade muito avançada aumenta a incidência de doenças


neurodegenerativas, dentre as quais as que se denominam demências. Recebem esse
nome, porque comprometem de forma significativa a memória e também outras
funções cognitivas, com intensidade suficiente para produzir perda funcional, incluindo
até, eventualmente, a realização de atividades da vida diária ou o reconhecimento de
pessoas e lugares do entorno habitual. Os sintomas que caracterizam a velhice possuem
variabilidade sob vários aspetos, sejam eles económicos, culturais ou psicossociais.
Segundo Beauvoir (1990), a senescência, não é uma ladeira que todos descem com a
mesma velocidade. É uma sucessão de degraus irregulares, em que alguns despencam
mais depressa que outros.

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Nas últimas décadas surgiram muitas definições para caracterizar o declínio cognitivo
durante o envelhecimento. Atualmente aponta-se que apenas a idade cronológica não
pode ser usada como variável para elucidar o processo de envelhecimento, tornando-se
relevante realizar investigações acerca de fatores ambientais, económicos,
psicossociais, educacionais e de estilo de vida, para que seja avaliado em conjunto com
as modificações do envelhecimento.

Muitos são os fatores que podem interferir na cognição do idoso, e que terão impacto
no processo de envelhecer, sejam eles positivos ou negativos. Além do que, no
envelhecimento normal há um determinante importante que é a individualidade de
cada sujeito. Vale ressaltar que a escolarização possui pape relevante na manutenção
cognitiva do indivíduo. Os idosos relatam muitas queixas de esquecimento e dificuldades
para memorizar coisas que fazem parte do cotidiano, porém muitas vezes os sintomas fazem
parte da normalidade física da senescência. O comprometimento da memória corresponde pela
maior parte dos declínios cognitivos que acometem os idosos. Segundo Santos (2013), estas
alterações são normais, porém o idoso passa a necessitar de mais tempo para reter informações,
muitas vezes sendo necessário maior número de repetições para que retenha uma informação
nova.

Isquierdo (2012), define aprendizagem como todas as mudanças relativamente permanentes no


potencial de comportamento, que resultam da experiência, mas não são causadas por cansaço,
maturação, lesões, drogas ou doenças. A memória enquanto um constructo cognitivo envolve o
processo de aprendizagem de informações novas, seu armazenamento e disponibilidade de
acesso a essas informações.

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6. Inteligência

A inteligência é um conjunto que forma todas as características intelectuais de um


indivíduo, ou seja, a faculdade de conhecer, compreender, raciocinar, pensar e
interpretar. A inteligência é uma das principais distinções entre o ser humano e os
outros animais.

Etimologicamente, a palavra "inteligência" se originou a partir do latim intelligentia,


oriundo de intelligere, em que o prefixo inter significa "entre", e legere quer dizer
"escolha". Assim sendo, o significado original deste termo faz referência a capacidade
de escolha de um indivíduo entre as várias possibilidades ou opções que lhe são
apresentadas.

Para a escolha da melhor e mais adequada oportunidade, entre as várias opções, uma
pessoa precisa avaliar ao máximo todas as vantagens e desvantagens das hipóteses,
necessitando para isso da capacidade de raciocinar, pensar e compreender, ou seja, a
base do que forma a inteligência.

Entre as faculdades que constituem a inteligência, também está o funcionamento e uso


da memória, do juízo, da abstração, da imaginação e da conceção.

Os conceitos e definições da inteligência variam de acordo com o grupo a que se


referem. Por exemplo, na psicologia, a chamada "inteligência psicológica" é a
capacidade de aprender e relacionar, ou seja, a cognição de um indivíduo; enquanto que
no ramo da biologia, a "inteligência biológica" seria a capacidade de se adaptar a novos
habitats ou situações.

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Teste de inteligência

Os testes de inteligência surgiram entre os séculos XIX e XX, na tentativa de "medir" o


tamanho da inteligência dos indivíduos.

O primeiro teste desenvolvido para medir a capacidade intelectual foi criado pelo
psicólogo francês Alfred Binet (1859-1911), que era aplicado nas escolas francesas para
identificar os alunos com dificuldades de aprendizado.

Alguns anos mais tarde, o psicólogo alemão William Stern (1871-1938) criou a expressão
Quociente de Inteligência, conhecido pela sigla QI (Intelligenz-Quotient, em alemão),
introduzindo os termos "IM (Idade Mental)" e "IC (Idade Cronológica)", para relacionar
a capacidade intelectual de uma pessoa e a sua idade.

Tipos de inteligência

No entanto, o conceito empregado pelo Quociente de Inteligência começou a ficar


desacreditado quando foram observados indivíduos com QI baixo, mas com grande
sucesso na vida profissional, enquantoque pessoas consideradas "mais inteligentes",
apresentavam situações inferiores.

O psicólogo Howard Gardner apresentou a Teoria das Inteligências Múltiplas, que alegar
ser a inteligência um conjunto de no mínimo 8 processos mentais diferentes existentes
dentro do cérebro.

26
De acordo com esta teoria, cada ser humano possui um pouco de cada uma dessas
"inteligências", sendo que, em algumas pessoas, sempre há um tipo de processo
específico que pode ser mais desenvolvido do que em outras, fazendo com que de
destaque em determinados campos ou áreas de atividade.

o Inteligência linguística: pessoas com facilidade em se expressar, oralmente e


através da escrita. Pessoas com este tipo de inteligência mais desenvolvido têm
tendência a aprender outros idiomas com mais facilidade, além de possuir um
alto grau de atenção.
o Inteligência lógica: pessoas com facilidade em trabalhar com a lógica em geral,
como operações matemáticas ou trabalhos científicos, por exemplo.
Normalmente, possuem uma boa memória e conseguem solucionar problemas
complexos facilmente. Podem ainda ser consideradas mais organizadas e
disciplinadas Inteligência espacial: pessoas com facilidade em entender e
manipular o mundo visual, como imagens em 2D ou 3D. São bem desenvolvidos
por arquitetos e profissionais ligados à arte gráfica.
o Inteligência motora: pessoas que conseguem realizar movimentos complexos
com o próprio corpo, tendo para isso uma espantosa noção de espaço,
distância e profundidade dos ambientes.
o Inteligência musical: pessoas com facilidade em identificar e reproduzir
diferentes tipos de padrões sonoros, além de criar músicas ou harmonias
inéditas. Este é um dos tipos raros de inteligência presentes entre as pessoas.
o Inteligência interpessoal: pessoas com facilidade de liderar, a partir do
entendimento do ponto de vista e intenções dos outros. São considerados
indivíduos muito ativos, que gostam de responsabilidades e que têm facilidade
em conseguir convencer os demais a fazer aquilo que desejam.

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o Inteligência intrapessoal: pessoas com facilidade em observar, analisar e
compreender a si próprias. Também podem exercer influência sobre as
pessoas, mas de maneira mais subjetiva, utilizando ideias e não ações.
o Inteligência naturalista: são as pessoas com facilidade de identificar e
diferenciar diferentes padrões presentes na natureza.
o Inteligência emocional
O conceito de inteligência emocional está presente dentro da psicologia e foi
criado pelo psicólogo estadunidense Daniel Goleman. Um indivíduo
considerado emocionalmente inteligente é aquele que consegue identificar as
suas emoções, motivando a si mesmo a persistir em situações de frustração,
por exemplo. Entre as outras características da inteligência emocional está a
capacidade de controlar impulsos, canalizar emoções para situações
adequadas, motivas as pessoas, praticar a gratidão, entre outras qualidades
que podem ajudar a encorajar os outros.

o Inteligência artificial
A inteligência artificial ou I.A é um ramo de estudo da ciência da computação
que se ocupa em desenvolver mecanismos e dispositivos tecnológicos que
consigam simular o sistema de raciocínio dos seres humanos, ou seja, a sua
inteligência. As pesquisas relacionadas as inteligências artificiais são lentas, mas
já mostraram significativos resultados de como aparelhos podem interpretar e
sintetizar a voz ou os movimentos humanos, por exemplo. Mas, ainda falta
muito para que máquinas atinjam o conceito mais próximo possível do que
seria a inteligência humana.

28
7. Resolução de problemas

7.1. Identificação e estratégias de resolução de problemas

A estimulação cognitiva é um processo de mudança que visa estimular e, em alguns


casos, reabilitar as funções físicas, psicológicas e sociais do indivíduo. Nos idosos, a
estimulação cognitiva (sigla EC) tem como objetivo ajudar pacientes e familiares a
conviver ou superar os déficits cognitivos e as limitações emocionais, ambientais e
sociais, proporcionando melhora na qualidade de vida, incluindo melhor interação
social.

Ocupa-se especificamente do estímulo das funções mentais complexas (memória,


linguagem, funções executivas e visuoespaciais). A estimulação cognitiva é parte
essencial da reabilitação e manutenção das habilidades gerais, é uma intervenção
ampla, envolvendo não apenas a realização de tarefas escritas, mas também a família,
profissionais envolvidos quando houver e o ambiente do paciente seja idoso ou não.

A estimulação cognitiva deve ser personalizada para cada indivíduo a partir do perfil
cognitivo e do repertório intelectual e social do paciente anterior à doença ou pode
também ser realizada em grupos.

O processo inicia-se com uma avaliação cognitiva, chamada Avaliação Geral das
Funções Mentais, que inclui o mapeamento das funções cognitivas alteradas e
preservadas, um exame do perfil de personalidade, perfil ocupacional e intelectual e
rede social do paciente. Este mapeamento irá determinar as metas da reabilitação ou
da estimulação, vaia ajudar a identificar os recursos que serão trabalhados na
reabilitação, e quais poderão ser aprimorados, sempre pensando em tentativas com
erros e acertos.

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Técnicas simples de estimulação das habilidades mentais

A estimulação cognitiva (EC) envolve o ensino e a prática de estratégias de memória


compensatórias, como o uso de associações verbais, categorização e a criação de
imagens mentais.

São realizadas tarefas cognitivas de memorização, de linguagem, de planejamento,


ordenação e lógica e atividades visuoconstrutivas para a estimulação das principais
funções. As atividades propostas devem ser adequadas ao nível intelectual e cultural
do paciente, gerando motivação e sensação de competência. Também são
implementados apoios externos, como o uso de agendas, calendários, listas de tarefas,
alarmes e agendas eletrônicas, entre outros recursos computadorizados.

Para pacientes com prejuízo mental ou chamado comprometimento cognitivo


significativo, que dependem de ajuda de outras pessoas para atividades diárias, a EC
baseia-se em técnicas que usam a repetição e a memorização implícita.

Bons exemplos são a técnica de aprendizagem sem erro, a evocação espaçada e a


redução gradual de apoio, que podem ser usadas conjuntamente.

O terapeuta apresenta informações selecionadas e essenciais ao paciente, como o


nome de seu cuidador. O paciente irá repetir o nome em espaços gradualmente
maiores de tempo, inicialmente com o apoio das sílabas iniciais do nome que serão
retiradas aos poucos, até o paciente conseguir falar o nome com confiança, com
mínima chance de cometer erro. A reorganização do ambiente físico também é
essencial e a casa deve fornecer pistas visuais para a redução da desorientação. As
portas de cômodos e armários podem conter figuras ou nomes escritos para fácil
identificação de seu conteúdo.

Muitos pacientes deixam de reconhecer sua própria casa. É importante selecionar


objetos, quadros e relíquias familiares que possam ajudá-los a reconhecer o ambiente
familiar. É comum esquecer quem são os familiares.

A construção de um livro de memória, com o apoio do terapeuta que atua com a


intervenção de estimulação cognitiva, poderá auxiliar na manutenção da memória

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autobiográfica. O exame do livro, que deve conter fotos e nomes dos familiares, antes
de visitas e eventos poderá ajudar o paciente a reconhecer as pessoas e a sentir-se
mais seguro.

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8. Criatividade

8.1. A importância do estímulo da criatividade para a


memória
O processo de perda da memória provocada pelo avanço da idade é uma adaptação do
cérebro à nova condição de vida iniciada na terceira idade, pois indivíduo tem
dificuldade em utilizar sua memória recente, em contraposição à memória remota. O
estímulo à criatividade é uma forma de exercitar a memória atual.

Criatividade é um processo que envolve várias funções que significam e desembocam


na descoberta de inovações, de relações e de posturas emocionais diversificadas. Já a
memória é uma das funções psíquicas que trata de levantar fundamentos de atividade
mental em suas diversas conotações (Novaes, 2005).

A criatividade, quando bem utilizada, é capaz de enriquecer os recursos de memória


nos dispositivos de apreensão e perceção da realidade na elaboração de novos
recursos e reminiscências, justapondo acontecimentos e trazendo novas conexões, até
mesmo selecionando o natural a ser esquecido.

Segundo Parente (2002), frequentemente, o envelhecimento está associado a


dificuldades de memória e à lentidão de raciocínio. Nesse sentido, consideramos que
idosos apresentam dificuldades em lembrar e compreender situações novas que lhes
são apresentadas rapidamente, mas, em contrapartida, superam os jovens em
raciocínios que exigem maior “sabedoria”.

Em geral, a criatividade, ao ser reprimida, pode provocar atitudes de conformismo,


mecanização, rigidez e apego aos padrões estabelecidos e rótulos acompanhados de
medos, principalmente o medo de falhar ou de não ser aprovado. Nossa tarefa, como
educadores, seria basicamente a minimização ou a atenuação desses temores por
meio de atividades lúdicas dirigidas, vivências e fazeres artísticos orientados para que,

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experimentando novas possibilidades tenham a chance de redescobrir possíveis
talentos e readquirir recursos profissionalizantes.

Esta proposta não pretende limitar-se ao lazer ou à terapia ocupacional dos idosos,
mas tem a pretensão de ir além, vislumbrando mudanças nos hábitos de vida a fim de
melhorar a qualidade da mesma. A ideia é trazer para a vida do idoso novos sentidos e
capacidades. Sentimento de autodescoberta e renovação existencial que acompanham
o processo e estendem-se às suas vidas tão efetivas quanto obras resultantes e
técnicas aprendidas.

Embora o idoso hoje, mais que antigamente, esteja sujeito a uma reativação mental,
participação social, dinamismo e autonomia e existam também mais recursos médicos
que minimizam a decadência física e mental, além de mais atividades recreativas e
culturais, vivemos numa sociedade oriunda de uma conceção capitalista, consumista e
imediatista, onde o modelo jovem de energia, beleza e ativismo ainda imperam e por
isso o idoso tem mais dificuldade de se afirmar como pessoa e ser social.

Em se tratando de memória, na velhice, são comuns determinados transtornos tais


como: Demência senil, Depressão, Mal de Alzheimer, bem como episódios de
esquecimento ocorridos com maior intensidade.

Para que apreendamos uma nova habilidade nosso cérebro necessita desenvolver
novas conexões e isto implica na desativação de muitas conexões antigas. Não fora
assim, provavelmente, estas conexões, certamente, interfeririam no surgimento de
outras, impossibilitando-nos de conseguirmos apreender qualquer tarefa
adequadamente com agilidade e precisão.

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9 Análise de escalas de avaliação das funções cognitivas

As alterações morfofuncionais inerentes ao processo de envelhecimento humano,


quando associadas a doenças crônicas, podem levar à diminuição da independência
física do idoso. A prevenção e o controle das doenças crônicas, incluindo a hipertensão
arterial, podem auxiliar na manutenção da cognição e da capacidade funcional.

Estudos clínicos afirmam que o processo de envelhecimento, associado à presença de


doenças crônicas, causa danos à função cognitiva, afetando componentes como a
linguagem escrita e falada, aprendizagem, habilidades motoras, capacidade de
raciocínio e de memória. No entanto, Alves & Filho relatam que a pressão arterial, sendo
baixa, poderia ser um agravante aos déficits cognitivos.

Para mapear comprometimento cognitivo, o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM),


traduzido e validado no Brasil por Bertolucci et al., é a escala mais utilizada tanto em
pesquisas como na prática clínica, para verificar a evolução da função cognitiva e
analisar a efetividade do tratamento.

Em relação à capacidade funcional, diversos estudos demonstraram associações entre


doenças crônicas e incapacidade para realização das atividades da vida diária (AVDs) nos
idosos, sendo a hipertensão arterial a condição crónica mais frequente nessa faixa
etária. Diante das atuais tendências de envelhecimento populacional, cresce a
importância de se avaliar o estado de saúde dos idosos, identificando as doenças
incapacitantes para cada indivíduo, de forma que a qualidade de vida lhe seja
assegurada.

A avaliação da capacidade funcional através de testes que simulam os gestos realizados


durante as AVDs é válido para se identificar precocemente o declínio físico, elaborar
programas de exercícios individualizados, observar a evolução motora e evitar a perda
de independência.11,12 Rikli & Jones propuseram uma bateria de testes específica para
avaliar a aptidão física do idoso.

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Os testes incluem medidas de força, flexibilidade, endurance cardiorespiratória, aptidão
motora e composição corporal.

Com base no pressuposto teórico e considerando a escassez de pesquisas sobre a


correlação entre função cognitiva, capacidade funcional e hipertensão, o presente
estudo tem como objetivo verificar a associação entre pressão arterial sistêmica,
cognição e capacidade funcional em idosos.

9.2. Avaliação Cognitiva


O Mini-Exame do Estado Mental proposto por Foistein, Foistein & McHugh (1975),
validado no Brasil por Bertolucci et al. em 1994, foi aplicado com o objetivo de
determinar o nível cognitivo dos idosos. Esse instrumento é composto por questões
agrupadas em sete categorias: orientação temporal (5 pontos), orientação espacial (5
pontos), memória imediata (3 pontos), atenção e cálculo (5 pontos), evocação (3 pontos)

linguagem (5 pontos) - e praxia construcional (1 ponto). Aqueles que apresentaram


pontuação do MEEM abaixo de 20 para analfabetos e abaixo de 24 para indivíduos
escolarizados foram considerados como portadores de déficit cognitivo.

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10. Estimulação e treino cognitivo

À medida que se tem um maior conhecimento sobre o funcionamento da memória


é possível desenvolver programas que permitem aos idosos melhorar a sua memória
(Fernández-Ballesteros, Fresnedo, Martinez& Zamarrón, 1999).Para Azevedo &
Teles(2011) apesar de existir um declínio cognitivo associado à idade este pode ser
revertido, ou retardado, através do uso de programas de treino cognitivo, com
diferentes exercícios para cada função cognitivacomo refere Triadó & Villar (2007). Os
programas de treinamento cognitivo têm como objetivo levar a cabo uma intervenção
global, para o qual são criados exercícios que colocam em ação os diferentes processos
mentais, como perceção, linguagem, atenção e memória, de forma a mantê-los ativos,
fortalecer as conexões e as redes neuronais subjacentes (Triadó & Villar, 2007).Estes
programas são geralmente estruturados na base dos mecanismos da memória, nas
capacidades intelectuais com que se relacionam e nos fatores que influenciam o seu
desempenho (Montorio & Izal, 2000).O treinamento cognitivo consiste num conjunto
de estratégias e técnicas que se ensinam, praticam e aplicam, com o objetivo de otimizar
os processos e as atividades que foram ensinadas (Hernandis, 2010). Deste modo, o
cálculo mental é uma das funções que, sem estar alterada, é a mais resistente à perda
de uso (Serrano, S/D).De acordo com Kawashima (2005) as tarefas simples (fichas de
cálculo tipo tabuada) estimulam mais o cérebro do que a resolução de um problema de
cálculo complicado. O mesmo autor no seu livro apresenta um conjunto de imagens
obtidas por (imagiologia) onde se pode ver através das cores que quase todas as regiões
do cérebro estão ativadas. Ao contrário na resolução de problemas complicados as
imagens mostram o cérebro apagado.

Nos idosos os recursos para as tarefas de atenção parecem estar diminuídos (Pena, et
al.,2001), pelo facto de a atenção ser um pré-requisito para qualquer processamento de
informação, justifica-se realizar algumas sessões nos programas de treino cognitivo
(Fernández-Ballesteros, Fresnedo, Martinez & Zamarrón, 1999). Por sua vez, torna-se
pertinente a realização de exercícios de linguagem que consistem no processo de
codificar a informação na memória e na recuperação da mesma. Mas com o

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envelhecimento ocorrem alterações no processo de compreensão e há diminuição da
fluidez verbal(Triadó & Villar, 2007). Assim a realização de exercícios de linguagem tem
como objetivo aumentar a fluidez verbal e favorecer a evocação através da linguagem
(Penaet al 2001). É importante treinar, por meio de exercícios, a função cognitiva
relacionada com a orientação espacial e temporalpara que seja mantida ou estimulada,
uma vez que é uma das funções que facilmente são afetadas por certos transtornos
cognitivos (Triadó & Villar, 2007). Existem exercícios que permitem manter ou estimular
esta capacidade (Serrano,S/D). De acordo com Belsky (2001), a mnemotécnicas são
estratégias para a estimulação da memória com a função de facilitar a memorização e a
recordação, convertendo a informação com mais significado. São técnicas de diversos
tipos, como, por exemplo, a elaboração de uma lista em categorias significativas. Outra
técnica consiste em utilizar a imaginação para memorizar uma informação marcante.
Pode-se, ainda, recorrer a ajudas externas que consiste em lembretes externos, como,
por exemplo, calendários e listas, que ajudam a recordar.

Para trabalhar a estimulação da memória a longo prazo pode-se recorrer a exercícios de


memória autobiográfica, através da técnica da reminiscência, que permite o acesso à
informação armazenada no cérebro (Serrano S/D). A reminiscência, consta de uma
técnica terapêutica com o objetivo de ativar e atualizar a memória episódica a longo
prazo. A reminiscência através do livro autobiográfico, tem por base o desenvolvimento
de um livro estruturado que permite recorrer aos dados mais importantes da biografia
da pessoa, ao longo do seu ciclo vital (Peña, 2009). De acordo com Triadó e Villar (2007)
pode utilizar técnicas gerais como específicas que tratam de otimizar os três processos
básicos que implicam a recordação, sendo eles: a codificação da informação, a sua
retenção e manutenção na memória e a sua recuperação posterior, no momento em
que os indivíduos precisam. Estas estratégias gerais são utilizadas de forma combinada,
dando lugar a técnicas que permitem, por exemplo, aprender a reter informações
específicas (Triadó& Villar 2007)

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Conclusão

A revisão sistemática realizada teve o foco restrito à presença de dificuldade funcional


no idoso e o enfrentamento frente a esta situação. Tendo em vista que o que determina
as estratégias de coping utilizadas são as situações de stress vivenciadas pelo indivíduo,
os estudos que avaliam os processos de coping podem estar relacionados a diferentes
situações vivenciadas ao longo do ciclo vital. A fim de abordar de forma mais abrangente
o tema, sugere-se que, para um próximo estudo, sejam avaliadas estratégias de
enfrentamento utilizadas frente a problemas de saúde em geral ou outra categoria de
evento vital.

Assim como Lanska (2006) enfatiza a importância do trabalho terapêutico no processo


de coping, as estratégias que o idoso utiliza também podem ser indicativos de seus
recursos pessoais, incluindo saúde, crenças, valores, habilidades sociais. Desta forma,
estudos de coorte, relacionando intervenções psicoterapêuticas à situação de
incapacidade funcional, poderiam trazer novos achados no que se refere à qualidade de
vida dos idosos.

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