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Literacias e e-health – que relação?

Literacies and e-health – which connection?


Alfabetizaciones y e-health – ¿Qué conexión?

Catarina Sofia RESUMO


Portela Dias A sociedade tem evoluído em direcção à generalização da tecnologia. Como
Estudante do 2ºano do tal, as organizações e os profissionais de saúde disponibilizam às populações
Curso de Licenciatura em
cada vez mais recursos electrónicos como meio para aceder a cuidados de
Enfermagem (CLE) da
Escola Superior de saúde. Este artigo teve como objectivo clarificar a relação entre os conceitos
Enfermagem do Porto e-health e literacias. Trata-se de uma revisão bibliográfica cuja principal fonte
(ESEP) de informação foi a base de dados EBSCOhost. Concluímos que a utilização
Endereço para contacto: eficaz do e-health pressupõe a existência de competências em diversos
Rua da Liberdade, 765 domínios da literacia: informacional, tecnológico e digital. A escolha dos
4785-024 Trofa, Portugal elementos do grupo baseou-se, fundamentalmente, no bom relacionamento
ep3184@esenf.pt
presente e na complementaridade das diferentes capacidades individuais
Daniel de Castro existentes.
Gonçalves Mota Descritores: E-Health; E-Nursing; Literacias.
Estudante do 2ºano do
CLE da ESEP ABSTRACT
ep3079@esenf.pt Society has evolved towards technology widespread. Due to that,
Joana Aguiar organizations and health professionals have provide the general population
Pereira Vieira even more with electronic resources as a way to access health care. This
Estudante do 2ºano do article is aimed to clarify the relation between e-health concepts and literacies.
CLE da ESEP This is a bibliographic revision that has it main source of information the
ep2863@esenf.pt EBSChost data base. We conclude that a more effective use of e-health

Maria João requires several knowledge in several literacy domains: such has informal,
Sousa Pereira technological and digital. The choice of the group elements is based, mostly,
Estudante do 2ºano do in the good relationship that exists between the different individual’s abilities.
CLE da ESEP Descriptors: E-Health; E-Nursing; Literacies.
ep2990@esenf.pt
RESUMEN
Marlene Lisete
La sociedad ha evolucionado hacia el uso generalizado de la tecnología.
Rodrigues Vilaça
Estudante do 2ºano do Como tal, organizaciones y profesionales de la salud brindan a las personas
CLE da ESEP cada vez más recursos electrónicos como medio de acceso a la atención de la
ep2844@esenf.pt salud. Este artículo tiene como objetivo aclarar la relación entre los conceptos
de e-health y alfabetizaciones. Esta es una revisión de la literatura que tiene
Nelson Emanuel
como principal fuente de información la base de datos EBSCOhost. Se
Barroso Nogueira
Estudante do 2ºano do concluye que el uso efectivo de e-health implica que se tenga conocimiento en
CLE da ESEP diversas áreas de la alfabetización: informativa, tecnológica y digital. La
ep2874@esenf.pt elección de los elementos del grupo se basó, fundamentalmente, en la buena
relación entre los diferentes elementos y capacidades que se encuentran en
Trabalho realizado no âmbito ellos.
da Unidade Curricular Descriptores: E-Health; E-Nursing; Alfabetizaciones.
Opcional – Sistemas da
Informação em Saúde
1
1. INTRODUÇÃO

A Sociedade da Informação (SI) baseia-se nas Tecnologias de Informação e Comunicação


(TIC) que envolvem a aquisição, armazenamento, processamento e distribuição da informação por
meios electrónicos, como o computador. (1) Estas tecnologias não transfornam a sociedade por si
só, mas são utilizadas pelas pessoas em todos os aspectos da vida quotidiana, incluindo a saúde.
No contexto desta sociedade surgiu um novo conceito na àrea da saúde: e-health. Sendo a
utilização das tecnologias um facto consumado na sociedade actual, é de indagar-se a que nível a
aplicabilidade eficaz do e-health requer habilidades.
Este estudo teve como objectivo clarificar a relação entre os conceitos e-health e literacias.

2. MÉTODO

Trata-se de uma revisão bibliográfica sobre ―Literacias e e-health - que relação?‖, no período
de 2000 a 2010, cuja fonte principal é uma base de dados indexada denominada de EBSCOhost e
acessível através do portal da Escola Superior de Enfermagem do Porto. Constituem excepção ao
período indicado, quatro documentos (referências número 3, 5, 6 e 8), cuja utilização revelou-se
imprescindível para a qualidade do conteúdo deste trabalho. As expressões de pesquisa usadas
foram: e-nursing, e-health, telemedicina, telenursing, telecare, telehealth, sociedade da informação,
sociedade da informação+internet, literacy+e-health, literacias, literacia tecnológica, literacia digital
e literacia da informação. Foram também usados os repositórios das seguintes faculdades:
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra; Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Universidade Fernando Pessoa;
Universidade Aberta; e Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa.
Complementou-se ainda a pesquisa com recurso aos seguintes portais: Portal da Saúde Portuguesa;
Portal da União Europeia; Instituto Nacional de Estatística; American Library Association; Media
Awareness Network; International Technology Education Association; Canadian Nurses
Association; e World Health Association.
Para esta pesquisa foram também consultados os seguintes livros: Informação, comunicação e
sistemas; O Sistema de Partilha de Informação de enfermagem entre contextos de cuidados de
saúde: um modelo explicativo; A biblioteca escolar e a sociedade da informação; A Literacia em
Portugal. Resultados de uma pesquisa extensiva e monográfica; e E-health, telehealth and
telemedicine: A guide to start-up and success.
Para a inclusão dos materiais foi feita uma leitura dos títulos de cada trabalho, seguida da
leitura do resumo daqueles que eram pertinentes a cada expressão de pesquisa, sendo a inclusão
2
seleccionada por interesse e relevância para o artigo. Levantou-se dos artigos os seguintes dados:
ano de publicação, titulação dos autores, abordagens metodológicas utilizadas, contextos das
pesquisas e temáticas pesquisadas. Após a organização de todos os documentos recolhidos,
procedeu-se à leitura crítica, sendo cada um destes documentos classificado pelo seu conteúdo
como relevante ou não para a realização do artigo em questão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a elaboração desta revisão de literatura foram utilizados um total 26 documentos. As


referências seleccionadas na base de dados indexada EBSCOhost e um dos livros encontravam-se
publicadas em inglês, sendo que os documentos escolhidos nos repositórios das universidades
portuguesas e os restantes livros se encontravam na língua portuguesa. Relativamente aos
documentos recolhidos nos portais, os da American Library Association, Media Awareness
Network, International Technology Education Association, Canadian Nurses Association e World
Health Association encontravam-se em inglês, sendo que os restantes se encontravam em português.
As referências seleccionadas foram publicadas entre o ano de 2000 e 2010, com excepção dos
documentos já indicados.
Na impossibilidade de aceder a cinco documentos originais na sua forma integral, foi
necessário fazer citações de obras não consultadas (referências número 2, 7, 20, 23 e 24).
Na tabela 1 encontram-se descritas as diferentes áreas da pesquisa bibliográfica.

Tabela 1 – Resultados da pesquisa bibliográfica

Referências Referências
Áreas
Encontradas Seleccionadas

Sociedade da Informação/Informação/Literacias 30 18
E-Health/E-Nursing 62 5
E-Health/Literacia 4 3
Total 96 26

As Literacias críticas para a Sociedade da Informação

Vivemos numa SI. Cada vez mais, as pessoas fazem o melhor uso possível das TIC no sentido
de lidarem com a informação, fazendo desta o elemento central de toda a actividade humana. (2)
Diariamente, tanto no aspecto laboral como no lúdico, usufrui-se das vantagens das tecnologias. O
telemóvel, a televisão, o computador ligado à internet ou mesmo os sistemas electrónicos que nos
3
permitem efectuar operações bancárias ou andar de transportes públicos, são hoje aparelhos
indispensáveis que potenciam as relações entre indivíduos e organizações. De facto, verifica-se uma
intensa utilização da informação como recurso estratégico para se obter uma maior qualidade de
vida, contudo, esta continua a ser a ―coisa (…) menos definida do mundo‖. (3)
Podemos definir a informação duma forma simples como sendo o conteúdo da comunicação
humana. Esta ―refere-se a um conjunto de dados colocados num contexto útil e de grande
significado que, quando fornecido atempadamente e de forma adequada a um determinado
propósito, proporciona orientação, instrução e conhecimento ao seu receptor, ficando este mais
habilitado para desenvolver uma determinada actividade‖. (4) A informação, enquanto material de
apoio à decisão e à acção, está sujeita, portanto, a um enquadramento – contexto – que lhe dê valor
e utilidade.
O conhecimento – informação apreendida - resulta, em grande parte, da partilha colectiva de
significados, sendo construído maioritariamente em sociedade. (1) A escola é, sem dúvida, o lugar
de excelência para se adquirir conhecimento. Nesta instituição, mais importante que ensinar
conteúdos disciplinares, é fazer com que os alunos aprendam e desenvolvam competências,
evitando-se a potenciação da manutenção de ideias rígidas e cultivando-se o espírito crítico e
reflexivo.
A SI requer das pessoas um conjunto de habilidades que ainda não há muito tempo ninguém
classificaria como fundamentais. (5) As habilidades de informação – isto é, aquelas que permitem
ao indivíduo procurar e seleccionar a informação de que realmente necessita, apoderar-se dela,
avaliá-la, manipulá-la e utilizá-la eficazmente de modo a produzir nova informação que incorporará
na sua base de conhecimentos – constituem a genuína base da literacia dos dias de hoje. (6)
Ler é um meio privilegiado de se ter acesso ao saber, de se conquistar autonomia na
aprendizagem que deve ser encarada como um processo dinâmico e sempre inacabado. Por esta
razão, a literacia tem sido muitas vezes associada às competências de leitura e escrita. Contudo, o
âmbito deste conceito tem-se alargado juntamente com o próprio conceito da leitura. No final do
século XX, a emergência e expansão da internet como novo media, trouxe consigo novas
expressões de literacia. Por esta razão, cada vez mais autores falam da palavra no plural. (7)
Se o conceito de alfabetização traduz o acto de ensinar e de aprender, o conceito de literacia,
traduz a capacidade de usar as competências (ensinadas e aprendidas) de leitura, de escrita e de
cálculo na vida quotidiana (social, profissional e pessoal). Esta definição foca o uso das
competências referidas em detrimento da posse de determinadas credenciais escolares, por se
considerar que não é possível estabelecer uma correspondência simples e absoluta entre os níveis de
instrução formal de uma população e o seu perfil de literacia. A literacia é desta forma entendida
como não estática, ou seja, considera-se que as competências de uma população tendem a alterar-se,
4
por via da evolução (positiva ou negativa) das capacidades individuais e/ou por via da
transformação das exigências da própria sociedade. Esta capacidade escapa, assim, a categorizações
dicotómicas redutoras da diversidade de situações sociais existentes, como ―analfabeto‖ e
―alfabetizado‖. (8) Este conceito foi utilizado, em 1996, no Estudo Nacional sobre a Literacia (8) e
constitui o ―tipo‖ de literacia mais comummente conhecida e abordada em temáticas relativas à
educação. Desde a emergência da SI que este conceito é frequentemente designado por literacia da
informação. (9) Em Portugal, utiliza-se também o termo alfabetização funcional para reportar ao
mesmo conceito. (9)
A literacia da informação é considerada de extrema importância tanto em aspectos sociais e
económicos, como individuais e para a cidadania. (6) A sua importância crescente é também
demonstrada pelo número de entidades e organizações internacionais que dela se ocupam e têm
produzido estudos, relatórios e recomendações. (10)
Como já foi referido, ser capaz de ler não define literacia no complexo mundo de hoje. O
conceito de literacia inclui diferentes domínios como a literacia audiovisual, literacia informática,
entre outras. (10) Por outras palavras, as pessoas devem ser capazes de obter e perceber a
informação em diferentes suportes.
Actualmente, consideram-se ser três as literacias críticas para a SI: a literacia da informação, a
literacia tecnológica e a literacia digital. (11) Refira-se que o excesso de informação da actual
sociedade dificulta muito o caminho de acesso à informação essencial, sendo necessário, cada vez
mais, que a escola e os professores, confrontados com estes novos desafios, possam fornecer as
chaves para uma verdadeira compreensão da SI. As Bibliotecas Escolares, enquanto fornecedoras
de vastos recursos informacionais, assumem a promoção destas literacias, capacitando os alunos
para a integração na SI. (9)
O conceito de literacia tecnológica refere-se a conhecimentos e competências básicas, bem
como atitudes positivas face às tecnologias que levam as pessoas a lidar de forma confiante no seu
dia-a-dia com estas. As habilidades tecnológicas pressupõem capacidades como o uso de
ferramentas de resolução de problemas, pensamento crítico e raciocínio. (12)
A expressão literacia digital pretende designar o uso eficaz da tecnologia digital, tal como os
computadores, as redes informáticas, os PDA’s (Personal Digital Assistent), os telemóveis, entre
outros. Conhecer como funciona um determinado equipamento aumenta significativamente a
probabilidade de o utilizar mais eficazmente. A literacia digital baseia-se em três princípios: na
capacidade de usar diferentes tipos de software e hardware; na capacidade de pensar criticamente e
compreender o conteúdo dos media digitais; e na capacidade de criar conteúdo usando a tecnologia
digital. (13)
No diagrama 1 está demonstrada a relação existente entre as três literacias abordadas.
5
Diagrama 1 – Relação entre a Literacia da Informação, Literacia Tecnológica e Literacia Digital.

Literacia em e-health

A explosão no âmbito das TIC na última década criou oportunidades incríveis no que diz
respeito à informatização em saúde. Um exemplo evidente da aplicação das tecnologias na melhoria
da qualidade de vida das pessoas é o e-health, isto é, o uso das TIC, nomeadamente a internet, como
meio de aceder e gerir os cuidados de saúde. (14) Assim, estes cuidados estão disponíveis a
qualquer hora, em qualquer lugar, para qualquer pessoa. Desta forma, é possível aceder a diversos
serviços, desde informação, comércio de produtos e até serviços directos fornecidos pelos
profissionais de saúde. (15) De facto, o termo e-health ainda não possui uma definição específica,
visto que desde que o termo surgiu na literatura (1999) até ao ano de 2006, registaram-se 51
definições únicas. (14) Apesar desta variedade de definições, todas pressupõem que o indivíduo
possua habilidades em diversos domínios. (16)
O termo e-health supõe a abordagem electrónica de diversas áreas da saúde, como a
enfermagem. O e-nursing pode ser definido pela utilização das TIC no decurso da prática de
enfermagem, melhorando assim a habilidade para avaliar e tratar os clientes. Além disso as TIC
disponibilizam, aos enfermeiros, informações científicas, permitindo fazer juízos mais rápidos e
mais bem informados. (17)
Os recursos da saúde electrónica são úteis apenas quando as pessoas os sabem usar. Usar
tecnologias de informação, no contexto da saúde, requer literacia em e-health. (16) Para a tomada
de decisão com base na informação é indispensável que as pessoas consigam aceder, interpretar e
processar adequadamente as informações, no contexto da saúde, para irem de encontro às suas
necessidades. Este acesso refere-se tanto à habilidade de aceder a recursos de informação, como
websites de saúde, como também à qualidade do acesso. Este último aspecto inclui a qualidade da
tecnologia (como, por exemplo, a velocidade de conexão à internet, hardware e software) e as
condições de uso, isto é, se as pessoas têm ou não, privacidade e/ou tempo para aceder aos recursos
6
do e-health. Na actualidade, o acesso à internet requer também uma habilidade de retirar
significados do texto, desta forma, à medida que se vai aumentando as capacidades de literacia
básicas, também se aumenta a habilidade de usar os computadores de forma efectiva na resolução
de problemas. (18)
A literacia em e-health foi identificada como um objectivo de saúde pública para o século
XXI. (18) Mais do que nunca, o contexto da informação em saúde inclui os recursos electrónicos
como a World Wide Web (WWW), entre outras tecnologias, que agora desempenham um papel
crescente nos consumos em saúde. Este termo pode ser definido como ―o grau de capacidade que os
indivíduos possuem em obter, processar e perceber as informações básicas em saúde e os serviços
necessários para tomar decisões informadas‖. (19) Esta definição realça a importância da utilização
de alguns factores contextuais, dos quais de destacam, Web Based Interventions, websites
informativos e serviços de assistência ao telefone, os quais são usados na promoção e prestação de
cuidados em saúde. (16)
De acordo com outros autores, o uso de e-health requer, também, capacidades básicas de
leitura e escrita, o conhecimento do funcionamento do computador, uma compreensão básica de
ciências e uma apreciação do contexto social que faz a mediação de como a informação online de
saúde é produzida, transmitida e recebida. Assim, é definida literacia em e-health como ―a
habilidade de investigar, procurar, compreender e avaliar informações relativas à saúde, a partir de
fontes electrónicas e aplicar os conhecimentos adquiridos na orientação e resolução de um problema
de saúde‖. (18)
A literacia em e-health abrange um conjunto de seis capacidades chave ou literacias: literacia
tradicional; literacia da saúde; literacia da informação; literacia científica; literacia dos media; e
literacia tecnológica. (18)
Foi desenvolvida uma escala (e-HEALS), no sentido de avaliar estas dimensões,
providenciando uma estimativa geral das capacidades relacionadas com o e-health. (16) Se o
potencial do e-health é melhorar a saúde pública, a lacuna entre o que é providenciado e aquilo a
que as pessoas conseguem aceder, deve ser reconhecida e aperfeiçoada.
Antes de recomendar o uso de e-health, os profissionais de saúde devem proceder a um
entendimento das habilidades que os utentes/clientes têm. (18) Por sua vez, estes mesmos
profissionais necessitam de possuir competências no domínio das literacias que compõem a literacia
em e-health. Tem-se verificado uma crescente importância das competências de informática no
currículo dos enfermeiros, de maneira a estes serem capazes de exercer o e-health. (14)

7
Uma outra abordagem às literacias chave que compõem a literacia em e-health

A literacia tradicional refere-se, basicamente, à capacidade de ler e escrever (20), sobretudo


em inglês, visto que mais de 65% do conteúdo da internet se encontra neste idioma. (21)
A literacia da saúde consiste "nas competências cognitivas e sociais que determinam a
motivação e as capacidades dos indivíduos em terem acesso, entender e dar uso à informação de
modo a promover e manter uma boa saúde‖. (22)
A literacia dos media é definida como a capacidade de ter uma atitude crítica em relação ao
conteúdo e contexto dos media. (23)
Por último, a literacia científica é definida como uma compreensão da natureza, objectivos,
métodos, aplicação, limitações e política de criação de conhecimento de modo sistemático. (24)
Cruzando os conceitos agora apresentados com os existentes no tópico ―As Literacias
críticas para a Sociedade da Informação‖, propomos uma nova abordagem às literacias que
compõem a literacia em e-health.
Actualmente, graças à generalização da tecnologia, os meios de comunicação baseiam-se
sobretudo em suportes analógicos e digitais. Estes meios de comunicação modernos diminuíram em
muito o protagonismo dos media impressos, como os jornais. Considerando que um dos princípios
em que se baseia a literacia digital é a capacidade de pensar criticamente e compreender o conteúdo
dos media digitais, podemos então considerar que a literacia dos media é uma componente da
literacia digital.
Visto que tanto a literacia tradicional, a literacia da saúde e a literacia científica englobam a
a capacidade de compreender e usar a informação, de modo a atingir objectivos, desenvolver
conhecimentos e potencialidades e a participar activamente na sociedade, podemos então incluí-las,
de um modo geral, na literacia da informação.
Portanto, o cliente target do e-health é alguém que possui competências ao nível das três
literacias críticas para a SI: literacia da informação, literacia tecnológica e literacia digital.

Utilização das TIC pelas Famílias em Portugal

Como já foi referido, as TIC, nomeadamente a internet, estão na base da SI. Neste sentido, a
União Europeia (EU) propõe-se a estimular o desenvolvimento e a difundir as novas tecnologias,
em conformidade com os artigos 163.º a 172.º do Tratado que institui a Comunidade Europeia. A
UE pretende também promover o desenvolvimento de aplicações e conteúdos, apoiando as
iniciativas que oferecem aos cidadãos a oportunidade de participarem na SI e dela tirarem proveito.
(25)
8
Em 2010, foi realizado pelo Instituto Nacional de Estatística com a colaboração da Agência
para a Sociedade do Conhecimento, um inquérito que se enquadra no desenvolvimento das
estatísticas da SI - Inquérito à utilização de tecnologias da informação e da comunicação pelas
famílias. (26)
Este inquérito foi aplicado a agregados familiares compostos por pelo menos um indivíduo
entre os 16 e os 74 anos de idade, residentes em alojamentos familiares de residência principal.
Os dados obtidos mostraram que em 2010, 60% dos agregados domésticos têm acesso a
computador em casa, 54% dispõem de ligação à internet e 50% têm acesso a banda larga. No
mesmo período, 55% dos indivíduos entre os 16 e os 74 anos utilizam computador e 51% acedem à
internet; para os indivíduos dos 10 aos 15 anos o computador é utilizado por 96% e a Internet por
91%. No gráfico 1 está demonstrada a evolução desde 2006 do valor, em percentagem, de
agregados domésticos com acesso a computador, ligação à internet e ligação através de banda larga
em casa.

Gráfico 1 – Agregados domésticos com acesso a computador, ligação à internet e ligação através de banda larga
em casa, 2006-2010 (%).

Fonte: INE. Sociedade da Informação e do Conhecimento - Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação


e da Comunicação pelas Famílias, 2010

Na faixa etária entre os 16 e os 44 anos, a proporção de homens que utiliza estas tecnologias
é superior à das mulheres em cerca de nove pontos percentuais, no uso de computador, e em 10
pontos percentuais na utilização de internet – 61% dos homens utilizam computador e 56% utilizam
internet, o que compara com 50% e 46% das mulheres, respectivamente.
Por escalão etário, verifica-se que a utilização de computador e internet varia na razão
inversa da idade, sendo os indivíduos entre os 16 aos 44 anos quem mais contribui para o nível
atingido por estes indicadores. É sobretudo entre os indivíduos dos 16 aos 24 anos que se verifica
um maior nível de utilização de computador (94%) e de internet (89%).

9
A utilização destas tecnologias é também maior nos indivíduos com níveis de ensino
superior e secundário. Relativamente ao nível da condição perante o trabalho, a utilização de
computador e internet é mais acentuada entre os estudantes e os empregados.
Dos indivíduos que utilizam computador e internet, aproximadamente três quartos indicam
utilizar todos ou quase todos os dias (76% o computador e 75% a Internet) e referem os locais de
residência e de trabalho como os principais locais de utilização.
As regiões de Lisboa, do Algarve e as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira,
apresentam proporções de agregados com acesso às TIC acima da média do país.
Tendo em conta todos estes dados apresentados, podemos perceber que Portugal é um país
com um bom prognóstico relativamente à implementação do e-health, pelo facto da utilização do
computador e da internet ter vindo a aumentar ao longo do tempo e pela faixa etária dos 10 aos 15
anos e dos 16 aos 24 anos apresentar um nível bastante elevado de utilização dos mesmos.
Facilmente se infere que para a implementação do e-health, tem que existir acessibilidade e
utilização das tecnologias pelas pessoas, sobretudo pelas faixas etárias mais jovens, pois constituem
os potenciais futuros clientes deste novo conceito na área da saúde.

4. CONCLUSÃO

Esta revisão bibliográfica contextualizou as diferentes literacias, apresentando as definições e


a sua relação com o e-health.
Pelo facto de o e-health se referir ao acesso a cuidados de saúde fundamentalmente através da
internet, a utilização eficaz deste requer um conjunto de habilidades, isto é, um conjunto de
competências fundamentais que os utilizadores necessitam de ter, o que inclui um domínio nos
diferentes tipos de literacias: literacia da informação, literacia tecnológica e literacia digital.
Torna-se então importante perceber o que estas competências literárias são e como se
relacionam com a utilização das tecnologias de informação, de modo a serem utilizadas como
ferramentas de cuidados de saúde. As capacidades dos pacientes para realizarem apreciações de
saúde por si, fazendo uso significativo das TIC, constitui uma variável importante.
Aludindo à SI e à utilização das TIC, abordou-se a utilização do computador e internet em
Portugal, o que permitiu concluir que existe uma grande afluência do uso destas tecnologias.
De uma maneira geral, a existência de habilidades nas diferentes literacias indicadas permite o
uso do e-health na sua plenitude.

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BIBLIOGRAFIA

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