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ARTÍSTICAS
Professora Bebé Castanheira
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO À EXPRESSÃO ARTÍSTICA ..................................................................................... 3
2 ESTRUTURA .............................................................................................................................. 21
3 O PROCESSO DE OBSERVAÇÃO ................................................................................................ 40
4 ALFABETISMO VISUAL I ............................................................................................................ 60
5 ALFABETISMO VISUAL II ........................................................................................................... 84
6 TÉCNICAS VISUAIS .................................................................................................................. 115
2
1 INTRODUÇÃO À EXPRESSÃO ARTÍSTICA
Na segunda unidade deste bloco vamos dar continuidade à reflexão sobre as formas de
expressão. Existe diferença entre os registros feitos por uma câmera fotográfica, um
desenho e uma pintura? Claro! Temos uma diferença de linguagem, de objetivos, entre
tantas outras. Existem muitas formas de expressar registros visuais. Tudo depende dos
objetivos e da identidade que pretendemos imprimir aos projetos.
Vamos falar de expressão artística? Vamos saber um pouco mais sobre distintas formas
de representação?
Esta é, em especial, uma preocupação para quem quer ingressar no curso de Arquitetura
e Urbanismo.
3
Não sei desenhar, portanto, não posso fazer o curso!
Grande engano!
Assim como tudo, a Criatividade também pode (e deve ser) estimulada e desenvolvida,
por meio de habilidades específicas: desenho, pintura, entre muitas outras
possibilidades.
Da mesma forma que adquirimos a competência para a escrita e para a leitura, também
podemos adquirir a competência para a expressão artística.
Igualmente comum é pensarmos que ser criativo é um talento, para poucas pessoas!
Vem daí a expressão “Hoje não estou inspirado! ”. Você já deve ter ouvido...
E por quê?
A criatividade é inata, ou seja, faz parte da nossa constituição, está em todos nós.
A expressão “Pensar Fora da Caixa” (do inglês, Think Out Side the Box), entre outras,
tem aparecido cada vez mais, até em anúncios de empregos para vagas onde não
imaginaríamos que fosse necessária a Criatividade! ☺
E agora, você pode perguntar: mas, e aquelas pessoas geniais, supertalentosas que
tocam uma sinfonia com 5 anos de idade sem nunca ter tido uma aula de música?
4
De acordo com a pesquisa de Howard Gardner (1995), a Teoria das Múltiplas
Inteligências, aquilo a que denominamos talento ou habilidade, nada mais é, do que
uma das múltiplas Inteligências do ser humano.
A partir dessa teoria podemos entender que, naturalmente, estamos mais vocacionados
para algumas áreas do que para outras.
Então, esta frase (também bastante utilizada atualmente) é de Thomas Edison, inventor
da lâmpada incandescente.
Por que, segundo consta, Edison tentou inúmeros materiais antes de encontrar o
correto para que o projeto da lâmpada incandescente desse certo. Gênio? Talvez, mas,
com muito trabalho também.
Muito bem, agora convém falarmos um pouco sobre o que é para nós uma obra de arte.
5
Muitos são os estudiosos que tentam definir Arte.
Para Read (1968, p. 12) qualquer abordagem que seja faça sobre Arte esbarra no fato
que o indivíduo “reage perante a forma” e que, o estabelecimento de uma relação
agradável ou desagradável, “é o sentido do belo” ou o “sentido do feio”,
respectivamente.
O autor acaba por concluir que “a maioria das nossas concepções errôneas acerca da
arte resulta da falta de consistência no uso das palavras arte e beleza” (READ, 1968, p.
13).
Read (1968) refere ainda que a arte “não é a expressão plástica de qualquer ideal
particular. É a expressão, de qualquer ideal que o artista possa realizar em forma
plástica” ou seja, materializar.
Ainda segundo Read (1968), a percepção (que é o foco da nossa disciplina) poderia
abordar apenas os dois primeiros processos: a questão dos elementos básicos e o
arranjo de tais elementos.
6
E é, disso que trataremos.
Esta é uma obra de Jackson Pollock, pintor americano, e um dos expoentes máximos
do expressionismo abstrato. A técnica utilizada nos seus trabalhos mais conhecidos é o
“Dripping” (Gotejamento, em tradução literal) e que consiste em deixar pingar a tinta
sobre o suporte (e, segundo consta, foi descoberto por acaso).
É arte?
Reza a lenda que Picasso teria dito que quando era pequeno desenhava como Raphael
e, naquele momento (já com idade e consagrado), desenhava como uma criança e que,
na perspectiva do pintor, era o estado da mais genuína expressão.
8
Figura 1.4: Detalhe do Afresco de Atenas – Raphael Sanzio
Veja a obra Ciência e Caridade. Foi pintada por Picasso, em 1897, quando tinha apenas
16 anos. Agora veja a obra Guernica. Foi pintado pelo mesmo artista em 1937, quando
Picasso tinha 56 anos de idade. Compare as duas obras e a expressão de cada uma delas.
O que você?
Síntese? Deformação?
Mudança.
9
Figura 1.5: Ciência e Caridade – Pablo Picasso
10
E como fica a questão do desenho e do curso (ou ofício) da Arquitetura e Urbanismo?
E aqueles que procuram, por meio da síntese, expressar uma ideia, ou um conceito?
Parece interessante?
11
Veja a economia de detalhes e a enorme expressividade da forma, da linha.
Expressar ideias.
É imprescindível, para possa entender um pouco mais sobre o que estamos falando aqui,
que assista ao documentário A Vida é um Sopro e que veja a expressão de outras ideias
de Niemeyer.
12
Com o advento das redes sociais e com o desenvolvimento tecnológico, essa
possibilidade de guardar memórias, de certa forma, ficou banalizada em função da
facilidade de se obter imagens com qualidade.
Mas, nem sempre foi assim, claro!
13
Figura 1.10: Primeiro Autorretrato (Selfie)
Disponível em: < http://www.history101.com/robert-cornelius-first-man-selfie/>. Acesso: 22
dez. 2018.
Quando um fotógrafo capta uma imagem pode optar por algumas formas de alterar a
realidade observada. Pode, por exemplo, escolher entre fazer esse registro em cores ou
preto e branco.
Figura 1.11: Fotografia Colorida Figura 1.12: Fotografia Preto e Branco (P&B)
14
Pode também alterar a percepção por meio de intensidade distintas de luz, o que pode
acarretar uma maior ou menor dramaticidade à imagem (Figura 1.13); por um
enquadramento distinto do que seria de esperar (Figura 1.14); ou ainda utilizar técnicas
de sobreposição de imagens (Figura 1.15); até a intervenção gráfica, posterior ao
registro, que os programas de edição de imagem permitem (Figura 1.16), entre tantas
outras.
Figura 1.13: Fotografia Preto e Branco (P&B) Figura 1.14: Fotografia Preto e Branco (P&B)
Figura 1.15: Fotografia Preto e Branco (P&B) Figura 1.16: Fotografia Preto e Branco (P&B)
15
Já na segunda, uma aquarela de Giorgio Morandi (artista italiano famoso por suas
naturezas mortas com garrafas, entre outros elementos) há uma subjetividade na
transposição da realidade. É um registro poético, um descompromisso com os detalhes,
com a proporção.
Por outro lado, quando falamos de subjetividade estamos falando da expressão artística,
de uma linguagem própria que procura expressar um conceito, uma ideia.
16
As formas de intervenção que referimos anteriormente, na fotografia, também se fazem
presentes em outras formas de registros imagéticos, como a pintura, o desenho, entre
outros. Segundo Read (1968), este é um processo que contempla três fases:
17
A Figura 1.21 apresenta o registro de um vaso de um material transparente (vidro, talvez
cristal). Uma imagem sóbria, sem nenhum adereço, com uma iluminação adequada que
não deixa dúvida em relação ao objeto (a não ser claro, a sua escala, pois, como não
temos nenhum objeto conhecido próximo, não temos ideia do seu tamanho. Pode ter
20 cm de altura? Não sei. Pode ter 40? Também não sei. Mas, isto não é o nosso foco
aqui.)
Já a Figura 1.22 apresenta o mesmo contorno, mas com uma técnica representativa que
parece diluir o objeto, do ponto de vista gráfico, o que imprime outra linguagem ao
registro. Repare que ainda é possível perceber uma certa profundidade, mas, o
resultado levanta algumas dúvidas.
A Figura 1.23, por sua vez, fez uma síntese ainda maior da forma e, neste caso, não há a
presença de recursos que permitam visualizar o volume ou a profundidade do objeto.
Está plano, mas, por outro lado, mantém a maior parte do contorno principal.
E a Figura 1.24?
Provavelmente, se não tivéssemos a imagem original, a Figura 1.21, não identificaríamos
o objeto, mas, isto não altera o valor que o registro gráfico tenha por si só.
Qual delas está correta?
Como referimos na apresentação da unidade, tudo depende do objetivo. Daquilo que
queremos expressar.
Repare na imagem a seguir que apresenta Pablo Picasso em 3 distintas fases de sua
longa carreira artística. Veja a mudança de linguagem gráfica entre a primeira
representação, aos 15 anos e a última, aos 89 anos.
18
Consegue perceber alguma coisa em comum nos 3 autorretratos?
Claro! Tanto na forma mais clássica quanto nas formas menos clássicas há sempre a
mesma pessoa: o próprio Picasso. Retratado em momentos e formas distintas, mas,
sempre o Picasso.
Tanto na forma mais realista, quanto nas formas mais estilizadas, há sempre um
referencial físico que constitui o objetivo da mensagem a ser comunicada. Uma pessoa,
um objeto, uma paisagem, uma marina, uma natureza morta.
E a arte abstrata?
Também possui esse referencial físico?
Em termos da intenção do artista, pode até haver esse referencial, mas, enquanto
composição, a articulação da forma e da cor, abre possibilidades de interpretação, pois,
não está compromissada, como a arte figurativa, a representar algo que seja
reconhecível pelo observador.
19
Conclusão
Esta unidade não tem por objetivo fazer um tratado sobre a arte, a estética ou o belo,
mas, antes, levantar algumas questões para que possamos refletir acerca dos meios, dos
conceitos e das formas.
A realidade que nos cerca pode ser retratada de várias formas, por meio de várias
linguagens. A fotografia, o desenho, a pintura, uma aquarela, entre tantas outras.
A maior ou menor fidelidade da captação dessa cena, objeto ou pessoa, não traduz,
necessariamente, a sua maior ou menor qualidade, mas, antes uma distinta linguagem,
uma forma distinta de captar aquilo que nos cerca.
Referências
BARRETO, Roberto Menna. Criatividade em Publicidade. Rio de Janeiro: Dummus
Editorial, 1978.
Material de Apoio
20
2 ESTRUTURA
A primeira parte do segundo bloco da disciplina de Expressão Artística mergulha no
conteúdo de uma mensagem visual. Mas, como assim? Mensagem visual não é só a
imagem e pronto? Não!
Quando falamos em termos representacionais, estamos nos referindo aquilo que vemos
e identificamos como real, ou seja, faz parte do nosso repertório e, sobretudo, do nosso
cotidiano.
O nível abstrato está relacionado aos componentes visuais básicos e elementares que
constituem a imagem ou objeto.
21
O âmbito simbólico está relacionado com um sistema de símbolos, ou seja, com a
informação que somos capazes de reconhecer.
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Figura 2.4: Par de Botas – Van Gogh*
Fonte: <https://filosofianamadeiratorres.blogspot.com/2011/06/as-botas-de-van-gogh-texto-de-
m.html>. Acesso em: 26 mar. 2019.
Quando somos pequenos somos ensinados a identificar o mundo que nos rodeia.
Além disto, somos alfabetizados por meio da imagem onde construímos relações entre
a representação e o significado do mundo que nos cerca, do nosso quotidiano.
23
Figura 2.7: Quadro de alfabetização
É possível entender que todas representam o mesmo objeto, uma maçã, mas que a
primeira delas apresenta maior fidelidade ao objeto representado, dado ser uma
fotografia; que a segunda, embora seja possível visualizar uma maçã, não apresenta o
mesmo realismo; e a terceira, onde também se vê claramente uma maçã, apresenta
uma síntese da forma.
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2.1.2. Nível Abstrato
Na pintura figurativa (Figura 2.11 - Duas Jovens Meninas ao Piano – Auguste Renoir) é
possível visualizar o que o artista pretendeu representar (pessoas, objetos, paisagens,
entre outros). Já na pintura abstrata não é possível reconhecer a nossa realidade, mas,
antes, uma composição onde a forma e a cor permitem interpretações distintas.
25
Figura 2.12: Composição 8 – Wassily Kandinsky (1923)
Em termos visuais o nível abstrato da mensagem visual fala exatamente disso: das
muitas partes que compõem o todo. Em se tratando da forma estamos falando dos
elementos básicos visuais. É o que Dondis (2007) denomina de subestrutura formal
onde, segundo a autora, se encontra o significado da mensagem visual e que, por
pertencer ao domínio da anatomia de uma mensagem visual, é de grande intensidade
em termos de comunicação (DONDIS, 2007, p. 100).
Repare na imagem a seguir. É uma sequência que mostra uma síntese gráfica elaborada
por Pablo Picasso, pintor espanhol e um dos mais representativos do panorama artístico
do século XX.
26
Veja que as imagens 1, 2, 3 e 4 apresentam muitos elementos. A partir da quinta imagem
começa a haver um processo de síntese da forma que finaliza na imagem 11, onde há
apenas o contorno.
Fonte: <https://arteref.com/arte/as-etapas-do-touro-de-picasso-do-academico-ao-abstrato/>.
Acesso em: 26 mar. 2019.
Na Figura 2.15 temos um registro simplificado da forma. Uma síntese gráfica onde se
busca a forma pela forma.
27
É disto que trata o nível abstrato da mensagem visual.
28
Está relacionado ainda com a capacidade de reconhecimento universal, ou seja, algo que
todos os indivíduos entendem sob o mesmo significado, ou seja, constitui o vasto
universo de sistemas de símbolos codificados que o homem criou arbitrariamente e ao
qual atribuiu significados (DONDIS, 1997, p. 85).
Veja as imagens abaixo. A Figura 2.16 mostra um símbolo1, criado pelo designer Gerald
Herbert Holtom na década de 1960 e que ficou associada à ideia de paz. A Figura 2.17
representa uma pomba cuja leitura simbólica tem como significado a paz, seja em uma
síntese gráfica como essa ou até uma imagem real.
Para Dondis (2007), só é possível captar e elaborar mensagens visuais de forma eficaz,
se houver o domínio, entre outros, dos seus 3 níveis: o representacional, o abstrato e o
simbólico. Para a mesma autora as especificidades de cada um dos níveis, ao se
sobreporem, interagem e reforçam mutuamente suas respectivas qualidades (DONDIS,
2007, p. 103). A veracidade do nível representacional, daquilo que captamos
cotidianamente, nada seria se não houvesse o entendimento do nível da abstração e,
sobretudo, do nível simbólico. O processo dinâmico do nível da abstrato enriquece o
resultado.
1 A marca relacionada com a Paz, na verdade, foi criada como representação visual de uma campanha pelo Desarmamento
Nuclear (Nuclear Disarmament, em inglês). A premissa conceitual vem da união das duas letras, N e D.
29
A natureza da abstração libera o visualizador das exigências de
representar a solução final e consumada, permitindo assim que aflorem
à superfície as forças estruturais e subjacentes dos problemas
compositivos, que apareçam os elementos visuais puros e que as
técnicas sejam aplicadas através da experimentação direta. (DONDIS,
2007, p. 104)
Vamos imaginar que temos 4 elementos com os quais devemos elaborar uma composição.
30
Figura 2.18: Elementos + Suporte
Entre as muitas possibilidades que temos para elaborar esta composição, optamos por inserir
cada um dos elementos nas proximidades das quatro extremidades do suporte disponível, ou
seja, do fundo.
Mesmo que seja uma composição tão simples como essa, há aspectos a serem levados em
consideração.
31
Figura 2.20: Elementos Organizados + Estrutura
Essa estruturação do conteúdo, que também atende pelo nome de grid, ou grade em
português, no modelo clássico, constitui uma série de linhas “invisíveis”, mas, em termos
contemporâneos pode se firmar como um elemento ativo, do ponto de vista gráfico.
O interessante é que mesmo não desenhado esse traçado é capaz de organizar o espaço por
meio da composição dos elementos.
2.2.1 Grid
Lupton (2008) refere que grid nada mais é do que uma rede de linhas, horizontais e
verticais que contribuem para a organização espacial. A autora refere ainda que esta
mesma malha construtiva também pode se materializar com uma forma mais complexa
(anguloso, irregular, entre outros).
A elaboração de um trabalho visual processa-se num campo, como uma folha de papel
ou uma tela de computador. O tamanho e as proporções desses campos influenciam
diretamente o resultado da composição. O grid é a malha estrutural desse projeto de
design. É o mapa indicativo.
32
Um grid é usado para organizar o espaço e a informação para o leitor;
ele mapeia um plano para todo o projeto. Além disso, um grid é um
território para a informação e uma maneira de ordenar e manter a
ordem. Apesar do grid ter sido usado por séculos, muitos designers
gráficos associam o grid aos suiços. A fúria pela ordem nos anos 1940
levou a uma forma sistematizada de visualização da informação.
Décadas mais tarde, os grids eram considerados monótonos e
enfadonhos - o símbolo de um "designossauro". Hoje, os grids são
vistos novamente como ferramenta essencial. (TONDREAU, 2009, p. 9)
Ainda que não nos apercebamos o grid está presente em nosso cotidiano e no mundo
que nos cerca.
Sabe aquele caderno pautado? Tem grid.
Sabe aquele prédio enorme, com janelas e varandas? Tem grid.
33
Figura 2.23: Grid com 9 Quadrados
Fonte: Ellen Lupton/Novos Fundamentos do Design
Repare que o fundo, a parte branca (que aqui simula o nosso suporte) está dividido em
nove partes iguais separadas por espaços, também iguais, além de apresentar também
uma margem em todo o perímetro do suporte. Este é um elemento de extrema
importância na composição, pois, constitui uma área de “respiro visual” entre os
elementos e o término do espaço disponível para a inserção dos dados visuais.
Agora veja as inúmeras possibilidades estruturais que Lupton (2008) apresenta partindo
do grid básico de 9 quadrados (Figura 2.23).
34
É interessante notar que mesmo dividido em nove áreas, de forma subliminar (ou seja,
em alguns exemplos não fica tão explícito as nove áreas), como refere Lupton (2008), há
variadíssimas possibilidades de arranjos formais que imprimem dinamismo ao
conteúdo.
O primeiro grid (esquerda) da segunda linha, por exemplo, há uma área de hierarquia
visual, na parte superior, e 3 áreas que acabam por ficar com a mesma importância em
termos do todo.
Ou, a grid imediatamente abaixo, onde além de um destaque na parte vertical superior,
temos também a distinção vertical inferior, justamente pelas distintas larguras das
colunas.
Agora veja como a mesma estrutura formal com porções cromáticas distintas
transforma uma simples composição em algo complexo em termos do resultado visual,
além, claro, de organizar o espaço.
35
Lupton (2008) refere ainda a distinção entre um grid rígido e um flexível, que nas
palavras da autora recebe a denominação de grid quebrado.
Compare a presença inequívoca do grid na Figura 2.26. Embora não esteja “desenhado”
acaba por se materializar na junção das imagens, milimetricamente unidas.
Agora observe a Figura 2.27. O que é possível captar como informação visual?
Ao contrário da anterior, a primeira impressão que se tem é de algo não organizado,
certo? Aleatório, talvez?
Repare também que as imagens não apresentam similaridade em termos de tamanho,
embora todas sejam muito simples em termos dos objetos visuais que nos oferecem.
Cada imagem só apresenta um produto e com grande parte do fundo como elemento
visual.
36
Veja ainda que o fato das imagens estarem sobrepostas imprime uma certa leveza na
composição dando até, em alguns casos, a sensação de profundidade já que
conseguimos perceber a imagem que está na parte superior e a imagem que se encontra
na parte inferior do plano.
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2.2.2 Regra dos Terços
E com a regra dos terços finalizamos mais um conteúdo da disciplina de Expressão Artística.
Até a próxima!
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Conclusão
Para que haja a compreensão de uma mensagem visual é fundamental o entendimento
de seu nível representacional, abstrato e simbólico e, sobretudo de sua interação. O
nível representacional está relacionado com a ligação que estabelecemos com o
cotidiano e a forma como reconhecemos esse mundo exterior nas imagens. O nível
abstrato contempla a forma em seus elementos básicos visuais. O terceiro, e último
nível, o simbólico, está relacionado com os significados que atribuímos a tudo que nos
rodeia.
Referências
DONDIS, Donis. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
LUPTON, Ellen. Novos Fundamentos do Design. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2008.
39
3 O PROCESSO DE OBSERVAÇÃO
Dando continuidade ao desenvolvimento do Bloco 3, vamos falar sobre uma teoria que
aborda a questão da percepção da forma, enquanto processo involuntário. Vamos falar
da Teoria da Gestalt.
Ao que tudo indica, no início de tudo, era utilizada como sistema de anotações e
registros cotidianos, como é possível observar nas Cavernas de Lascaux, na França, onde
existem desenhos com mais de 15 mil anos.
40
Figura 3.1: Cavernas de Lascaux
Posteriormente a imagem passou a ser utilizada pelo ser humano para expressar
sentimentos, emoções e, sobretudo, uma visão pessoal do mundo e da vida.
41
O que nos interessa, particularmente, para esta disciplina, é a imagem e a forma como
a percebemos.
Então, vamos começar com uma pergunta: Existe diferença entre olhar e ver?
Ou seja, olhar e ver não constituem a mesma ação: é possível olhar e não ver!
Como assim?
Para haver a compreensão deste estímulo captado, ou seja, daquilo que os meus olhos
conseguiram enxergar, há um processo neural complexo.
Quando eu consigo entender aquilo que foi enxergado, o processo de ver acontece.
Para Dondis (2007), pode ser entendido como um processo de observação sensorial, que
todos vivenciam desde pequenos e que resulta na capacidade de reconhecer e
compreender, em termos visuais, as forças ambientais e emocionais a que estamos
submetidos no nosso cotidiano.
Ver, segundo Dondis (2007), é uma experiência direta, veloz, de grande alcance,
analítica e sintética.
42
Embora olhar seja inerente à condição (ideal) humana, se distingue de ver, na medida
em que atribuímos significados (e os relacionamos) ao objeto observado.
Como assim?
43
Para uma executiva, extremamente ocupada, pode ser apenas um meio de transporte.
Mas, para um piloto de Fórmula 1, por exemplo, não é apenas um carro, mas, sim, uma
marca, uma Ferrari.
Na prática é como dizer que, para que um adulto saiba o que é um carro, inicialmente,
em sua infância, alguém forneceu essa informação e a sua vivência aperfeiçoou o
conhecimento sobre o assunto.
Dependendo do interesse, a criança pode vir a ser um adulto que embora reconheça um
automóvel não distingue a sua marca ou ainda, um especialista no assunto com
sofisticado grau de conhecimento sobre todas as especificidades do assunto.
Munari (1968, p. 19) refere que “Cada um vê aquilo que sabe” ou, em outras palavras
“conhecer as imagens que nos rodeiam significa também alargar as possibilidades de
contato com a realidade; significa ver mais e perceber mais”.
44
Assim como existe a alfabetização para a leitura e a escrita de palavras com o objetivo
tornar o indivíduo capaz de expressar ideias verbalmente, existe também a alfabetização
visual para que o mesmo indivíduo possa aperfeiçoar a sua competência para expressar
e entender mensagens visuais de forma elaborada e eficaz.
Como refere Dondis (2007), “a visão é natural: criar e compreender mensagens visuais
é natural até certo ponto, mas a eficácia, em ambos os níveis, só pode ser alcançada
através do estudo”.
45
Há técnicas que podem ser aprendidas e exercitadas.
E o que é repertório?
A interação entre o que os nossos olhos são capazes de captar e o nosso cérebro é capaz
de processar (aliado aos estímulos visuais recebidos, pois, somos ensinados e
alfabetizados por meio da imagem) consolidam um repertório adquirido. Somos assim,
capazes de identificar o mundo que nos rodeia. Não apenas capazes de identificar os
objetos (ou seja, tudo o que é tridimensional), mas aprendemos também a identificar a
síntese gráfica desses objetos: um desenho ou uma fotografia, por exemplo. Observe o
objeto da Figura 3.11: é possível perceber a forma, a cor, a volumetria, o contraste da
luz e sombra. Na Figura 3.12, ainda que seja uma síntese da figura anterior, também é
possível perceber a forma e identificar o objeto, embora sem a riqueza de detalhes da
figura 3.7. O mesmo acontece na figura 3.13, em parte: ainda que haja a ausência de
detalhes (como o contraste de luz e sombra ou a cor) é possível perceber e identificar o
objeto representado embora sem a presença da volumetria.
46
E se há verdade na afirmação de que cremos naquilo que vemos, muitas vezes também,
podemos ter uma visão seletiva e enxergar apenas aquilo em que acreditamos.
Observe a Figura 3.14. O que você enxerga? Um peixe? Dois peixes? Um rosto?
Escher (Maurits Cornelis Escher – 1898/1972), artista gráfico holandês, ficou conhecido
pela produção de gravuras cujos padrões construtivos desafiavam a lógica da forma. A
construção impossível, os elementos construtivos que se fundem e se configuram em
novas formas, o plano irreal, a metamorfose inverossímil, a realidade utópica. Tudo isto
caracteriza a obra de Escher que desafia a percepção visual por meio de ambiguidades
e ilusões de ótica.
48
3.2 Teoria da Gestalt
Gomes Filho, um estudioso da questão da percepção visual, diz que “toda a forma
psicologicamente percebida está relacionada às forças integradoras do processo
fisiológico cerebral” (GOMES FILHO, 2002, p. 19).
O que ele quer dizer com isso?
Toda a vez que a visão capta um estímulo acontece uma dinâmica fisiológica que ajuda
a construir o entendimento daquilo que foi visualizado. A teoria da Gestalt trata disso.
Gestalt é uma palavra alemã, sem tradução literal para o português, mas está próximo
de forma, estruturação, configuração.
Segundo Gomes Filho (2002, p. 19), a Gestalt procura explicar a “origem dessas forças
integradoras” por meio de um “dinamismo autorregulador”, que todos temos e que, de
forma inconsciente, está constantemente a procura de organização visual.
A Teoria da Gestalt foi desenvolvida na transição dos séculos XIX e XX por um grupo de
cientistas alemães, da Universidade de Frankfurt (Max Wertheimer, Wolfgang Kohler,
Kurt Koffka e Kurt Lewin) que, para a elaboração da teoria, partiram da seguinte
questão: “por que vemos as coisas como vemos? ”
Este conceito reforça a ideia que o que acontece no cérebro não é idêntico ao que
acontece na retina (a distinção entre olhar e ver, que vimos anteriormente) e trabalha
com dois conceitos: Supersoma e Transponibilidade.
49
Na prática é como dizer que se somarmos 1 + 2, obteremos como resultado o número
3, mas o número 3, em si, já não é o número 1 e nem o número 2. É outra coisa.
O outro conceito, a Transponibilidade, diz que, seja qual for o número de elementos que
compõem determinado objeto, a primeira percepção que se tem é sempre do todo, ou
seja, a forma do todo é que sobressai. Primeiro observamos o todo para, na sequência,
observamos as partes.
Figura 3.17: Simulação Quadro de Mondrian Figura 3.18: Simulação Quadro de Mondrian (em Partes)
50
A tendência que temos (seja ao observar ou elaborar a mensagem visual) é prestar
atenção na imagem, mas o fundo também compõe o todo visual. Veja a Figura 3.19. O
que você vê?
É possível que você esteja, alternadamente, vendo dois rostos e um cálice. Neste caso,
os dois rostos seriam a “figura” e o cálice, o fundo.
Agora, o cálice seria a figura e os rostos seriam o fundo. Mas, na prática, os dois (tantos
os rostos quanto o cálice nas duas situações) compõem o resultado visual final.
São elas:
Unidade
Segregação
Unificação
51
Fechamento
Continuidade
Proximidade
Semelhança
Pregnância da Forma
Unidade
Segundo Gomes Filho (2002, p. 29), uma unidade constitui um único item, “que se
encerra em si mesmo” (Figura 3.22). Pode ainda, segundo o mesmo autor, ser entendido
como um conjunto de vários elementos (Figura 3.21) que estruturam uma única unidade
formal ainda que seja possível perceber os elementos que o constituem, as subunidades.
Aqui podemos considerar cada ponto uma unidade e todos os pontos, uma unidade
também. Além de termos uma unidade da forma, também temos uma unidade
cromática.
52
Segregação
Segregar, como o significado da própria palavra revela, diz respeito a afastar ou separar.
Nesta lei, ao observar uma imagem, é possível distinguir as partes que a compõem sem
que haja qualquer ambiguidade formal. Gomes Filho (2002, p. 30) realça que tal
separação pode se dar por meio dos elementos que constituem a forma: pontos, linhas,
volumes, cor, entre outros. Veja na figura abaixo que é possível distinguir o céu e as
edificações, sem nenhuma dificuldade.
Unificação
Na lei da Unificação, para Gomes Filho (2002, p. 31), é possível perceber “fatores de
harmonia, equilíbrio e ordenação visual” (falaremos posteriormente sobre estes
fundamentos do alfabetismo visual). O mesmo autor refere ainda que a Unificação está
presente na leitura visual quando há “coerência da linguagem ou estilo formal das partes
ou do todo”. Tal alinhamento é passível de ser observado na figura a seguir, pois, todos
os prédios apresentam uma uniformidade da cor e, ao que parece, também de materiais
utilizados.
53
Figura 3.24: Prédios
Fechamento
Continuidade
54
Que a escada continua, certo?
Proximidade
A lei da Proximidade diz da capacidade que o observador tem de agrupar elementos que
estão mais próximos e que, nas palavras de Gomes Filho (2002, p. 34) constitui “um todo
ou unidades dentro do todo”. O mesmo autor refere ainda que fatores como a
dimensão, cor, entre outros, contribuem para esta percepção visual e que a lei da
Semelhança (que veremos na sequência) “reforça” a leitura visual da Proximidade.
55
7
77777777
Semelhança
3 linhas ou 3 colunas?
56
Pregnância da Forma
A Lei Básica da Gestalt se refere ao grau de organização visual compositivo. Para Gomes
Filho (2002, p.37) “quanto maior for a organização visual da forma do objeto, em termos
de facilidade de compreensão e rapidez de leitura ou interpretação, maior será o seu
grau de pregnância”, assim como, pela lógica, o contrário, ou seja, a desorganização e
dificuldade em ter uma rápida compreensão, constitui a falta de pregnância.
Dondis (2007, p. 22) refere a importância que os elementos (bem como os atributos do
Alfabetismo Visual - cor, textura, dimensão, entre tantos – que veremos
posteriormente) tem na construção de uma mensagem visual com boa pregnância.
Para concluir, é importante referir que no processo de leitura visual, por meio da Gestalt,
podem ser identificadas várias leis, simultaneamente.
Até a próxima!
57
Conclusão
Só por meio do desenvolvimento da percepção da forma (e do conhecimento dos
elementos, atributos e técnicas visuais) é possível a elaboração e a construção de
mensagens visuais eficazes.
Esta competência que, em parte é intrínseca e em parte é adquirida, aliada ao repertório
construído (conjunto de referências que vamos consolidando ao longo da vida), é
condição imprescindível ao desenvolvimento dos ofícios ligados à imagem.
Conhecer como se processa esta dinâmica involuntária de leitura visual pode ser uma
ferramenta poderosa na elaboração de composições.
Referências
DONDIS, Donis. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a Teoria na Prática. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1995.
GOMES FILHO, João. Gestalt do Objeto: sistema de leitura visual da forma. São Paulo:
Editora Escrituras, 2002.
MUNARI, Bruno. Design e Comunicação Visual. Lisboa: Edições 70, 1968.
Material de Apoio
ESBOÇOS de Frank Gehry. Direção de Sydney Pollack. Alemanha, 2005. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=83oonypLyZQ>. Acesso em: 27 mar. 2019.
JANELA da alma. Direção de João Jardim e Walter Carvalho. Brasil, 2001. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=4F87sHz6y4s>. Acesso em: 27 mar. 2019.
58
MAURITS Cornelis Escher. Disponível em: <http://www.mcescher.com/>. Acesso em:
27 mar. 2019.
59
4 ALFABETISMO VISUAL I
60
Figura 4.1: Composição
Pressupõe o arranjo das partes que compõem o todo visual, sendo que uma das principais
ferramentas para uma elaboração eficaz é o equilíbrio.
61
da visão experimenta equilíbrio quando as forças fisiológicas
correspondentes no sistema nervoso se distribuem de tal modo que
se compensam mutuamente. (GOMES FILHO, 2002, p. 57)
Tal vínculo constitui, o que nas palavras da autora recebe o nome de Constructo
Horizontal-Vertical:
Na expressão ou interpretação visual, esse processo de estabilização
impõe a todas as coisas vistas e planejadas um "eixo" vertical, com um
referente horizontal secundário, os quais determinam, em conjunto,
os fatores estruturais que medem o equilíbrio. Esse eixo visual
também é chamado de eixo sentido, que melhor expressa a presença
invisível, mas preponderante do eixo no ato de ver. Trata-se de uma
constante inconsciente. (DONDIS, 2007, p. 33)
62
Para Arnhein (1980), a distinção entre equilíbrio e o desequilíbrio, em termos
compositivos, reside no fato que, na primeira situação, os fatores presentes
determinarem-se "mutuamente de tal modo que nenhuma alteração parece ser
possível" (Figura 4.4) e, na segunda (Figura 4.5), o propósito do emissor da mensagem
poder vir a tornar-se incompreensível uma vez que é possível perceber uma composição
"acidental, transitória e, portanto, inválida".
63
É possível conseguir esta condição formal, ainda que em assimetria (o seu contrário).
É muito provável que tenha respondido: Figura 4.9. Por que? Porque a Figura 4.8
apresenta uma indicação de raio (segmento de reta preto) que coincide com o eixo
vertical. Já a Figura 4.9 apresenta essa mesma indicação de raio, porém deslocada do
eixo vertical, do "eixo sentido". Nas palavras de Dondis (2007): provoca uma tensão
visual na medida em que a indicação de raio não se encontra onde seria esperado.
64
É possível dizer que está errado?
Não, de forma alguma. Embora quando se fale de tensão visual sejamos remetidos a
ideia de instabilidade, irregularidade ou ainda complexidade, é importante entender
que tais possibilidades compositivas podem ser utilizadas como reforço de uma intenção
visual, de um significado.
Observe a Figura 4.10. O pequeno ponto preto está exatamente no centro do retângulo
vermelho, ou seja, se encontra precisamente onde seria "esperado", no nosso eixo
"sentido": é o que chamamos de Nivelamento.
65
Já na Figura 4.11, o ponto preto está completamente fora da área esperada. É o que
Dondis (2007) chama de Aguçamento. A autora reforça a ideia quando menciona que
"em ambos os casos, Nivelamento e Aguçamento, há clareza de intenção". Se sabe
exatamente o que se deseja demonstrar.
Na Figura 4.12, por sua vez, o ponto não se encontra nem na posição central, onde seria
supostamente esperado, e nem tampouco em uma posição completamente inusitada:
está próximo da posição central, mas, não exatamente nela. Esta situação cria, o que
nas palavras de Dondis (2007), pode ser definido como uma ambiguidade visual: está
perto, mas não no local exato. A autora refere ainda que em termos visuais a sua posição
não é clara o que "obscurece não apenas a intenção compositiva, mas, também o
significado".
Em termos dos fundamentos do alfabetismo visual convém ainda falar sobre a Atração
e o Agrupamento e, para tal, recorremos à Teoria da Gestalt, mais especificamente à Lei
da Similaridade. Observe a Figura 4.13: o ponto, ainda que deslocado do centro do
campo, relaciona-se com o todo. Já na Figura 4.14:
Os dois pontos disputam a atenção em sua interação, criando
manifestações comparativamente individuais devido à distância que
os separa, e, em decorrência disso, dando a impressão de se repelirem
mutuamente. (DONDIS, 2007, p. 44)
66
Na Figura 4.15, por seu turno, a proximidade constrói uma "interação imediata e mais
intensa; os pontos se harmonizam e, portanto, se atraem. Quanto maior for a sua
proximidade, maior será sua atração."
Para além disto, esta proximidade permite que, ainda que na ausência da totalidade da
imagem, seja possível reconhecer a estrutura global e assim, interpretar o conteúdo
visual (Imagem 4.16).
Ou seja, por meio da linha pontilhada é possível perceber a forma que se pretende.
67
4.2 Atributos do Alfabetismo Visual
Atributo é uma característica positiva que confere uma particularidade à alguma coisa.
Em se tratando da forma, temos alguns atributos que podem definir os caminhos e as
formas de comunicar.
Os atributos estão assim classificados:
Direção
Dimensão
Escala
Movimento/Tempo
Ritmo
4.2.1 Direção
Em termos de arranjo visual, o atributo Direção descreve o rumo, o vetor que aponta o
movimento da composição. Para Dondis (2007) tal atributo se reveste de extrema
importância, especialmente para a "intenção compositiva", na medida em que cada
uma das distintas direções tem um significado associado.
68
Figura 4.17: Direção Horizontal e Vertical Figura 4.18: Direção Diagonal Figura 4.19: Forças Curvas
4.2.2 Dimensão
A dimensão é uma característica do mundo físico pois, determina, enquanto
propriedade real, a volumetria e as medidas de determinado objeto ou pessoa. Sendo
assim, este atributo, segundo Dondis (2007), não existe no plano bidimensional, apenas
a sua representação: um desenho, uma perspectiva, entre outros.
A capacidade que o observador tem em entender esta simulação da realidade é
desenvolvida e aprimorada ao longo do crescimento e, tem profundo relação com os
"indícios fisiológicos", como refere Arnheim (1980). Tais indícios contemplam não só os
estímulos visuais captados pela retina, mas, sobretudo, a sua posterior interpretação.
Arnheim (1980) refere a profunda relação entre a percepção da volumetria e duas leis
da Teoria da Gestalt: Figura - Fundo e Simplicidade. A primeira se refere a possibilidade
de, no arranjo gráfico (no plano bidimensional), ser possível uma organização tal que se
69
perceba o fundo "como se continuasse sem interrupção, sob a figura" (Figura 4.20). A
segunda está relacionada com a facilidade de se traduzir graficamente, esta projeção
volumétrica (Figuras 4.21 e 4.22).
4.2.3 Escala
Dondis (2007) aborda o atributo da Escala quando refere que todos os elementos visuais
têm a capacidade “de se modificar e se definir uns aos outros". Em outras palavras: "o
grande não pode existir sem o pequeno. ” (Figura 4.24)
70
A Escala compreende uma comparação entre as medidas de mais do que um objeto
(sejam de mesmo gênero ou distintos). Observe a Figura 4.24, onde é possível comparar
dois objetos (A e B). Nela é possível constatar que o objeto B é maior que o objeto A.
Com a inserção do objeto C na Figura 4.25 as relações de Escala de alteram.
O atributo Escala pode ainda estabelecer uma correspondência entre esses mesmos
objetos e as respectivas áreas onde estão inseridos. Observe a Figura 4.23 e a
correspondência entre o objeto A e o retângulo vermelho onde está inserido. Agora
observe a Figura 4.25 e relação entre o objeto C e o suporte (o retângulo vermelho). São
correspondências distintas.
Importante referir que a Escala tem duas dimensões de percepção: uma objetiva e outra
subjetiva (LUPTON, 2014). A objetiva diz da dimensão real do objeto (um outdoor ou um
selo, por exemplo). A subjetiva está relacionada com a maneira como alguém percebe
um objeto.
4.2.4 Movimento/Tempo
71
Dotar um fato visual estático de uma sensação de movimento exige, por parte do
emissor da mensagem, a utilização de determinadas técnicas de manipulação dos dados
que a compõem (Figura 4.26). Graficamente é impossível representar o Movimento. O
"Movimento" está no observador e na sua capacidade de captar a sensação de
dinamismo, através do fenômeno fisiológico da “persistência da visão”, descrito por
Dondis (2007) como sendo a propriedade que o olho tem de “fundir” imagens imóveis
com ligeiras diferenças, que quando observadas com intervalos apropriados,
apresentam a sensação de movimento.
Além da possibilidade, por parte do observador, de "ler" o Movimento, a mesma autora
refere ainda que podemos falar em um padrão de observação visual pessoal ou seja:
72
Figuras 4.27, 4.28 e 4.29: Movimento (adaptado de Sintaxe da Linguagem Visual, p. 81)
4.2.5 Ritmo
73
Figuras 4.30: Ritmo
74
4.3. Elementos do Desenho
Tudo o que nos rodeia tem forma. Basta observar um prédio para perceber que em sua
estrutura é facilmente reconhecível uma série de elementos geométricos: a reta, o
retângulo e tantos outros.
Lupton (2014, p. 13) se refere ao ponto, à linha e ao plano como sendo os alicerces do
Design e chama atenção para o fato de que, por mais que a composição seja complexa,
resultam sempre da interação entre esses elementos.
4.3.1. O Ponto
Samara (2010) refere que o ponto, por mais simples que possa parecer, é um objeto
complexo na medida em que contém em si a essência construtiva de todas as outras
formas e que somente por meio do reconhecimento dessa "natureza essencial" é
possível entender "o seu efeito visual no espaço e sua relação com as formas
adjacentes".
Para Lupton (2008) o ponto indica uma posição no espaço na medida em que resulta do
encontro de duas coordenadas, x e y.
Segundo Dondis (2007) é a unidade de comunicação visual mais simples e
irredutivelmente mínima. Apesar da ausência de dimensionamento, o ponto, na
perspectiva de Dondis (2007), exerce grande poder de atração visual sobre o olho.
Repare na figura abaixo: apesar da figura geométrica ser consideravelmente maior que
o ponto, o deslocamento deste chama muito mais a atenção do olhar.
75
Figura 4.33: Ponto
4.3.2. A Linha
A linha pode ser definida como uma sucessão de pontos, ou ainda, como sendo a
trajetória de um ponto. Em termos geométricos (LUPTON, 2014), a linha tem
comprimento, mas não largura.
76
O fato de promover uma ligação, segundo Samara (2010), é o que faz da linha um
elemento essencial e, embora, muitas vezes invisível é o que reforça a atração entre dois
pontos.
A linha tem início em um ponto e pode continuar indefinidamente e pode, como mostra
a imagem a seguir, apresentar diferentes características: pode ser uma linha fluida
(orgânica); uma linha reta; uma linha com diferenças de espessura o que confere uma
linguagem própria (identidade); uma linha aleatória (cuja trajetória é livre) e,
finalmente, a linha enquanto sistema de escrita.
4.3.3. O Plano
Quando uma linha atinge uma certa espessura (LUPTON, 2014) torna-se um plano.
Pode-se ainda dizer que é formado pela associação de linhas, resultando em uma
superfície. Possui, como refere a autora, apenas duas dimensões (largura e
comprimento), não apresentando espessura. É, portanto uma entidade bidimensional.
77
Figura 4.37: Plano
4.3.4. A Forma
A linha (DONDIS, 2007) descreve uma forma. Para Ben Shahn (ARHEIN, 1980), por sua
vez, a forma é a configuração visível do conteúdo e que, pode ser classificada em
orgânica ou geométrica (SAMARA, 2010).
A ideia de orgânico remete aquilo que é natural, oposto ao que é rígido e programado
(figura 4.38).
Já a ideia de geométrico (Figura 4.39) está relacionada com tudo o que seja regular e exato.
78
É importante referir que a forma orgânica não se incompatibiliza com a organização, ou
seja, mesmo não havendo a rigidez da forma geométrica, pode haver organização dos
dados visuais.
4.3.5. A Textura
A textura também é considerada um elemento visual que tem como principal
característica o poder de alterar a estrutura aparente. Para Lupton (2008), a textura tem
ainda um papel importante na tradução visual do mundo. Por meio da textura somos
capazes de perceber os contrastes: rugoso/ macio; espinhoso/liso; entre tantas outras
polaridades.
Na perspectiva dos exemplos dados por Lupton (2008), vamos observar as imagens a
seguir:
Qual é a sensação ao visualizar a Figura 4.40?
Agressividade? Violência?
Na outra extremidade da percepção, provavelmente, estaria a Figura 4.41, que
apresenta uma sensação de algo tranquilo. É claro que entram também aspectos
cromáticos aqui (cor), mas é importante entender o poder que a textura tem para
transformar a percepção visual.
79
A textura é um elemento passível de ser reconhecido tanto pela visão quanto pelo tato
e, portanto, é classificada em visual (Figura 4.42) e tátil (Figura 4.43) podendo ainda ser,
em ambos os casos, decorativa e no último, espontânea ou mecânica.
80
A textura natural diz respeito aos muitos exemplares visuais encontrados na natureza
seja em rochas, madeiras, entre outros.
A textura mecânica por seu turno diz respeito aos diz padrões visuais obtidos por
intervenção do homem e resultante da utilização de distintos materiais e processos
produtivos.
81
Mais um conteúdo chega ao fim.
Conclusão
A busca de equilíbrio é uma constante do ser humano. A sua importância se faz presente
também na elaboração visual e o entendimento da sua construção é uma ferramenta
relevante na composição. O contrário de equilíbrio é o colapso.
O posicionamento dos elementos (nivelamento, aguçamento ou ambiguidade) em uma
composição pode atribuir distintas características à mensagem que se pretende
transmitir.
A manipulação dos dados visuais tem por objetivo exprimir ideias distintas. Nesta
unidade falamos de como as distintas direções podem nos dar sensações de
estabilidade, instabilidade ou repetição; de como a construção geométrica
bidimensional correta pode nos dar a sensação de tridimensionalidade ou ainda, como
diferentes técnicas podem nos dar a perceber o movimento (ainda que no plano
bidimensional); e, finalmente, como a diferentes elaborações formais podem ainda
imprimir ritmo à composição.
Tudo o que nos rodeia tem forma. E a forma, por sua vez, se materializa por meio de
ingredientes, ou seja, de elementos básicos que, apesar de poucos, como refere Dondis
(2007), são capazes de múltiplas combinações que traduzem distintas formas. Entender
82
as possibilidades formais destes elementos é fundamental na elaboração da composição
visual.
Referências
ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 1980.
DONDIS, Donis. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
GOMES FILHO, João. Gestalt do Objeto. São Paulo: Editora Escrituras, 2002.
LUPTON, Ellen. Novos Fundamentos do Design. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2014.
SAMARA, Timothy. Elementos do Design. Guia do Estilo Gráfico. Porto Alegre: Editora
Bookman, 2010.
Leitura de Apoio
DONDIS, Donis. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
p. 59-60; 72-75; 80-82.
LUPTON, Helen. Novos Fundamentos do Design. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2014.
p. 28-39; 216-231.
83
5 ALFABETISMO VISUAL II
5.1. Contraste
84
força vital para a criação de um todo coerente. (Gomes Filho, 2002, p.
62)
Essa busca constante pelo equilíbrio e pela organização visual nas palavras de Dondis
(2007, p. 108) traduz uma necessidade interior de harmonia “um estado de
tranquilidade e resolução que os zen budistas chamam de meditação em repouso
absoluto”.
85
Observe a Figura 5.1, o Taj Mahal, e a sua composição equilibrada (e simétrica, o que
auxilia a obter esta sensação de equilíbrio) e compare com a Figura 5.2 que, além do
impacto do homem gritando (o que já imprime certa dramaticidade) é em preto e
branco, acentuando a luz e sombra da composição. Apresenta ainda uma composição
assimétrica, com uma grande área preta do lado direito e uma expressão bastante forte
do modelo, concentrando a atenção do observador.
O Contraste é isso. Uma força de oposição a esse apetite humano. Desequilibra, choca,
estimula, chama a atenção. Sem ele, a mente tenderia a erradicar todas as sensações,
criando um clima de morte e ausência de ser (DONDIS, 2007, p. 108).
Fundamentalmente, quando se fala em Contraste, se fala da presença ou ausência de
luz. Observe, nas imagens abaixo, a diferença de detalhes em cenários de luz distintos.
86
A estratégia não se limita a diferença de intensidade da luz, pois, os diferentes tipos de
contraste auxiliam a eficácia da mensagem que se quer transmitir.
87
Figura 5.5: Boy, de Ron Mueck
88
Figura 5.6: Torre Eiffel
89
Figura 5.8: Metrô Figura 5.9: Metrô em movimento
O Contraste de Ritmo, para Gomes Filho (2002, p. 69), pode ser caracterizado por um
conjunto de “conexões visuais ininterruptas, a maior parte das vezes, uniformemente
contínuas ou sequenciais ou semelhantes, ou, ainda, alternadas”. É possível, no todo
compositivo, perceber um padrão formal recorrente que imprime dinamismo e
articulação visual.
O que isso quer dizer?
De maneira simplificada é possível dizer que há contraste de ritmo quando é perceptível
um padrão compositivo estabelecido.
90
Figura 5.10: Composição Aleatória Figura 5.11: Composição com Padrão
5.2. Profundidade
Profundidade, por definição, é uma das três dimensões de um corpo qualquer. Se assim
for, estamos, obviamente, falando do plano tridimensional, uma vez que o plano
bidimensional apresenta apenas duas dimensões.
Como vimos anteriormente uma das características do alfabetismo visual é o
aperfeiçoamento da percepção visual onde, entre outras coisas, adquirimos a
capacidade de entender a diferença entre a representação de um objeto e o próprio
objeto, entre tantas outras aquisições.
Aí, você pode se perguntar: mas é claro que eu sei a diferença entre um objeto e a
imagem dele. Sim, agora você sabe, mas foi uma competência adquirida.
Já viu alguma vez um bebê tentando pegar uma imagem de uma revista ou livro?
91
Figura 5.12: Bebê
Pois é, ele ainda não distingue o que o plano bidimensional do plano tridimensional.
Como assim?
As duas imagens simulam a realidade, dão a impressão do que é tridimensional, mas
ambas são bidimensionais, pois são representações. Estão no plano bidimensional.
Só é tridimensional o objeto que tem volumetria e que podemos “pegar”.
92
Bom, mas então por que se fala tanto em games 3D, filmes 3D?
Porque existem formas de simular esta realidade tridimensional onde se cria a ilusão de
volume por meio da profundidade.
Veja a imagem abaixo. A profundidade está presente e é muito claro que o casal em
primeiro plano (na frente) está sentado em local bastante amplo.
5.2.1. Sobreposição
Quando falamos de sobreposição estamos falando de alguma coisa bastante comum e
cotidiana.
Veja a Figura 5.16: se o objeto A (Círculo) impede que eu veja o objeto B (Quadrado) por
completo é porque o objeto A (Círculo) está sobre o objeto B (Quadrado), portanto mais
próximo do observador e o objeto B (Quadrado) está mais distante.
Repare que mesmo sem preenchimento (Figura 5.17) é possível ter a sensação que os objetos
se encontram em planos distintos.
93
Figura 5.16: Sobreposição Figura 5.17: Sobreposição
É claro que estamos apresentando um exemplo bastante simples, mas, que remete ao que
Arnheim (1980) chama de níveis de profundidade. O mesmo autor exemplifica a complexidade
dos níveis de profundidade por meio de um trabalho do artista plástico Jean Arp onde é possível
perceber mais do que dois planos.
94
Figura 5.19: Sobreposição
95
elaboração da forma que demanda a percepção de profundidade.
LH
Repare agora na Figura 5.22. É possível visualizar que os balões menores estão mais
próximos do que seria a linha do horizonte e nos dão a percepção de estarem mais longe
ao contrário dos balões maiores. É claro que esta possibilidade depende de uma série
de coisas. No caso de um registro fotográfico depende, por exemplo, se o fotógrafo tirou
a foto em pé ou em um nível mais baixo, mas, via de regra serve como estratégia visual.
96
Figura 5.22: Profundidade
5.2.4. Perspectiva
Depois de um período de obscuridade na história, a Idade Média - onde não havia entre outros,
o conhecimento sobre perspectiva, veio o Renascimento, período em que vários foram os
artistas que na busca de uma técnica realista para as suas obras, aperfeiçoaram o método que
permitiria dotar de profundidade as obras deste período.
Veja abaixo a diferença entre a Santa Ceia (uma das 13 cenas da Taula de Sant Miquel –
Século XIII – do mestre Soriguerola), Figura 5.23, e a Santa Ceia, de autoria de Leonardo
da Vinci (Figura 5.24).
97
Figura 5.23: Santa Ceia – Mestre Soriguerola
Fonte: <http://www.ricardocosta.com/artigo/taula-de-sant-miquel-sec-xiii-do-mestre-de-
soriguerola-baixa-cerdanha-catalunha>. Acesso em: 5 jan. 2019.
98
Do latim perspicere, a palavra perspectiva significa ver através de. Segundo o dicionário
Aurélio, a palavra perspectiva é a arte de representar os objetos sobre um plano, tais
como se apresentam à vista. Aspecto dos objetos vistos de certa distância. Para Aumont
(1993):
99
Embora saibamos que as linhas do trem são paralelas, ou seja, mantém entre si a mesma
distância e nunca se encontram, não é isso que observamos no registro fotográfico.
Na imagem a distância que separa os trilhos parece, na medida em que ficam mais longe,
diminuir até que se encontram em determinado ponto.
Esse ponto de “encontro” é o que denominamos ponto de fuga e tem como localização, neste
caso, a LH (linha do observador) que vimos agora há pouco.
100
Que a massa de ar interfere na dispersão da luz e, consequentemente, na forma como a cor é
percebida.
Repare na Figura 5.27 como as montanhas mais distantes apresentam uma cor menos intensa
do que aquelas que estão mais próximas do observador. Esta gradação pode apresentar
variações em função das condições climáticas, do horário em que o registro é realizado e, ainda,
em função do equipamento utilizada para a realização do registro.
101
Palavras como simetria, harmonia e, sobretudo, proporção figuram como pré-requisitos
para a obtenção deste atributo, a beleza. Para Tatarkiewicz (1989), além da proporção,
beleza demanda igualmente precisão e ordem.
A recorrência da palavra proporção reforça a sua importância.
Palavra que vem do latim, proporção (proportione) diz respeito a uma relação entre as
partes de uma mesma grandeza relacionando duas razões (do latim ratio e significa a
divisão ou o quociente entre dois números) dentro de uma igualdade criando um elo
entre elas, como refere Elam (2010). A autora refere ainda que, em termos históricos, é
notável uma predileção pelas proporções obtidas a partir da seção áurea.
A preferência por esta constante não está relacionada apenas à fatores estéticos, mas, também,
ao fato de ser um padrão presente na natureza, segundo Elam (2010). As conchas são espirais
logarítmicas de proporções áureas, refletindo o que ficou conhecido como a teoria de um
padrão de crescimento perfeito (ELAM, 2010, p. 8).
102
Figura 5.29: Proporção áurea na natureza
Em um dado segmento existe um determinado ponto que divide este segmento em duas
partes: uma maior e outra menor.
Se dividirmos o maior segmento pelo menor será encontrado o mesmo valor se dividida
as duas partes (maior e menor) pelo segmento maior. O valor resultante, 1,618, é
conhecido como número de ouro e está na base da proporção áurea.
Complexo?
104
5.3.3 Retângulo Áureo
O retângulo áureo recebe esta denominação tendo em vista que resulta em 1,618, a
divisão da sua base pela altura.
105
1. Coloque a ponta seca do compasso em A;
2. Abra o compasso até o vértice 1 do retângulo e trace um arco de circunferência
até o ponto 2 do retângulo;
3. Coloque a ponta seca do compasso em B;
4. Abra o compasso até o ponto 2 do retângulo e trace um arco de circunferência
até o ponto 3 do retângulo;
5. Coloque a ponta seca do compasso em C;
6. Abra o compasso até o ponto 3 do retângulo e trace um arco de circunferência
até o ponto 4 do retângulo;
7. Coloque a ponta seca do compasso em D;
8. Abra o compasso até o ponto 4 do retângulo e trace um arco de circunferência
até o ponto 5 do retângulo;
9. Coloque a ponta seca do compasso em E;
10. Abra o compasso até o ponto 5 do retângulo e trace um arco de circunferência
até o ponto 6 do retângulo.
106
Figura 5.32: Construção da espiral áurea
107
5.3.5 Sequência de Fibonacci
A seção áurea guarda ainda estreita relação com a sequência de Fibonacci que, por sua
vez, também é encontrada em vários exemplares da natureza e da arte, como refere
Elan (2010).
Um matemático italiano, conhecido como Fibonacci, desenvolveu a seguinte sequência
numérica:
Começa-se com o 0 e 1 = 1
A sequência é obtida por meio da soma dos dois últimos algarismos.
0+1=1
1+1=2
2+1=3
3+2=5
5+3=8
8 + 5 = 13...
E qual é a relação com a seção áurea?
A proporção entre qualquer par de números na sequência é muito próxima da
proporção áurea. (ELAM, 2010, p. 29)
A construção do retângulo a partir da sequência de Fibonacci tem início com a junção
de dois quadrados de lado 1. Acrescentamos mais 1 quadrado de lado 2. Resulta um
retângulo. Juntamos mais um quadrado com lado 3. Novo retângulo surge. Agora, um
novo quadrado com lado 5. Temos mais um retângulo. Novo quadrado com lado 8, o
que resulta em novo retângulo. A sequência continua indefinidamente.
108
Portanto, a estratégia é justapor quadrados de forma a resultar em retângulos.
Elam (2010), na introdução do seu livro Geometria do Design, refere o fato de muitas
vezes ter observado boas ideias conceituais que não resultaram em bons projetos, em
termos visuais. Este resultado, a que se refere a autora, está relacionado a organização
da forma, a articulação dos elementos visuais básicos em uma determinada área. Para
a autora, para que isto aconteça de forma satisfatória é imprescindível uma
estruturação, ou em outras palavras, a aplicação dos princípios visuais da composição
geométrica.
109
das proporções ideias do corpo humano, como relata Elam (2010). O Templo de
Partenon é disso exemplo (Figura 5.34).
110
simultaneamente - apresenta o que seria o ideal humano, a partir da obra de Vitruvius,
segundo o que se supõe dada as convergências e a menção às proporções divinas.
Le Corbusier, já no século XX, retoma a discussão e, em sua obra Por Uma Arquitetura
faz referência à necessidade dos "traçados reguladores como um meio de criar ordem e
beleza na arquitetura", como reporta Elam (2010). Ainda segundo a mesma autora,
posteriormente, o arquiteto publica O Modulor: Ensaio sobre um Sistema de Medidas
Harmônicas em Escala Humana de Aplicação Universal na Arquitetura e na Mecânica,
desenvolvido pelo arquiteto, onde é apresentado um sistema de proporções baseado
na matemática, na seção áurea e nas proporções do corpo humano (Figura 5.37).
O sistema desenvolvido por Le Corbusier teve um significativo impacto não só na
arquitetura como também nas artes plásticas e no design.
111
geométricas, esquemas e proporções, pode-se entender melhor as
intenções e o raciocínio dos designers e arquitetos. Essa análise
esclarece o processo de criação e proporciona uma explicação racional
para muitas das decisões tomadas em tais obras, seja o ordenamento
geométrico intuitivo ou proposital, aplicado com rigidez ou adotado
de maneira casual. (ELAM, 2010, p. 43)
Até lá!
112
Conclusão
O contraste é o que permite visualizar a oposição, outra perspectiva. Em termos
primários necessita da presença de luz para que possa ser percebido e deixe perceber
os detalhes. Apresenta tipos diferentes que, podem atender a diferentes objetivos e
intenções projetuais.
113
A utilização da seção áurea ou da sequência de Fibonacci não é unanimidade. Há estudos
que tentam contradizer a sua utilização e eficácia, mas é inegável a sua presença ao
longo da história.
Referências
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual. São Paulo: Editora USP, 1980.
DONDIS, Donis. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
GOMES FILHO, João. Gestalt do Objeto. Sistema de Leitura Visual da Forma. São Paulo:
Editora Escrituras, 2002.
Leitura de Apoio
DONDIS, Donis. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
p. 107-129.
GOMES FILHO, João. Gestalt do Objeto. Sistema de Leitura Visual da Forma. São Paulo:
Editora Escrituras, 2002. p. 62-73.
114
6 TÉCNICAS VISUAIS
115
o domínio das possibilidades técnicas que programas vetoriais ou de manipulação de
imagens apresentam. A primeira diz de um conhecimento técnico de composição onde
a determinação da utilização da gramática visual é usada para alcançar determinados
objetivos. A segunda está relacionada com a capacidade técnica de operar uma
ferramenta.
Dondis (2007) reforça ainda o caráter múltiplo das técnicas visuais que:
Existem como polaridades de um continuum, ou como abordagens
desiguais e antagônicas do significado e não devem ser pensadas em
termos de opções mutuamente excludentes para a construção ou
análise de tudo aquilo que vemos. Os extremos de significado podem
ser transformados em graus menores de intensidade... e nessas
variantes encontra-se uma vastíssima gama de possibilidades de
expressão e compreensão. (DONDIS, 2007, p. 139)
6.1.1 Equilíbrio/Instabilidade
O equilíbrio é, como refere Dondis (2007), a mais importante influência física no homem.
Basta lembrar da incessante busca pelo equilíbrio, empreendida por todos os bebês com
um ano (aproximadamente). Essa conquista pela autonomia constitui uma
importantíssima relação de horizontalidade e verticalidade do homem com mundo, e
que também se reflete na percepção visual. O oposto do equilíbrio, em termos das
técnicas visuais, é a instabilidade.
Repare nas duas composições que estão a seguir e que foram elaboradas com o mesmo
número de elementos.
Qual é a diferença entre ambas?
Uma talvez pareça mais organizada (Figura 6.1) e a outra talvez mais aleatória (Figura 6.2).
116
Figura 6.1: Composição em Equilíbrio Figura 6.2: Composição em Instabilidade
A imagem da Figura 6.1 apresenta os seus elementos organizados de tal modo que
parece nos dar a sensação de equilíbrio. E por que?
Se observar a Figura 6.3 (a Figura 6.1 em negativo), conseguirá visualizar o espaço
ocupado pelos elementos compositivos (em branco) e, ao mesmo tempo, o espaço vazio
(em preto), comumente chamado de fundo.
117
Se observar as Figuras 6.4 e 6.5 (a Figura 6.1 em negativo), conseguirá visualizar o espaço
ocupado pelos elementos (em branco) e, ao mesmo tempo, o espaço onde não há
nenhum elemento (em preto), comumente chamado de fundo.
Figura 6.4: Composição em Equilíbrio (Negativo) Figura 6.5: Composição em Equilíbrio (Negativo)
118
Figura 6.6: Composição em Equilíbrio (Negativo)
Nesta perspectiva compare as duas composições iniciais (Figuras 6.1 e 6.2) em suas
versões negativas (Figuras 6.7 e 6.8). Veja que a área de fundo da Figura 6.7, como
acabamos de ver, parece mais uniformemente distribuída se comparada à Figura 6.8
onde temos, entre outros, uma área de fundo superior pequena se comparada com a
inferior.
Além disto os elementos compositivos, sobretudo os retângulos, encontram-se
inclinados, “fora” dos nossos eixos de estabilidade (vertical e horizontal), o que enfatiza
a sensação de instabilidade.
119
Figura 6.7: Composição em Equilíbrio Figura 6.8: Composição em Instabilidade
6.1.2 Simetria/Assimetria
120
Ocorre que para se obter equilíbrio, além da simetria, há também a assimetria (Figuras
6.10 e 6.12) que, ao contrário da simetria não apresenta igualdade ou semelhança na
disposição dos elementos gráficos.
Procurar o equilíbrio por meio da assimetria significa elaborar uma composição "menos
óbvia" como resultado, mas, por outro lado, mais complexa em termos construtivos.
Essa busca trabalha com os "pesos" visuais e a forma de organização para que haja o
ajuste e a compensação dessas forças.
121
6.1.3 Regularidade/Irregularidade
Figura 6.13: Composição por Regularidade Figura 6.14: Composição por Irregularidade
6.1.4 Simplicidade/Complexidade
122
complexidade trabalha uma composição mais elaborada, podendo demandar um
processo de interpretação mais longo.
Figura 6.15: Composição por Simplicidade Figura 6.16: Composição por Complexidade
123
6.2 Técnicas Visuais – Parte II
A utilização das técnicas visuais (que são muitas) além de estar calcada no entendimento dos
mecanismos da percepção visual (ou seja, como fisiologicamente reagimos a determinados
estímulos) está também associado ao domínio técnico da manipulação da gramática visual (os
elementos visuais básicos). Somente por meio da associação destes dois pilares (mecanismos da
percepção visual e domínio das técnicas visuais) é possível atingir objetivos pré-estabelecidos
na elaboração das mensagens gráficas.
6.2.1 Unidade/Fragmentação
124
Figura 6.17: Unidade Figura 6.18: Fragmentação
125
Figura 6.19: Unidade Cromática Figura 6.20: Fragmentação
6.2.2 Economia/Profusão
A técnica da economia (Figura 6.21) contempla, antes de tudo, um número reduzido dos
"meios da comunicação visual" disponíveis, como refere Dondis (2007). Esta técnica
tem sobriedade visual, não apenas em termos do número de elementos que estão
presentes na composição, mas, sobretudo, no número reduzido de possibilidades
visuais utilizadas (forma, cor, textura etc.). Já na profusão há uma abundância, um
excesso, uma porção avantajada que pode ser tanto do número de elementos presentes
quanto dos recursos visuais. Para Dondis (2007) a economia é uma organização visual
parcimoniosa e sensata na utilização dos elementos. A profusão é carregada em
"acréscimos discursivos detalhados" e, segundo a autora, está também relacionada com
o ornamento.
126
Figura 6.21: Economia Figura 6.22: Profusão
A oposição entre economia e profusão chama a atenção ainda para uma outra
qualidade.
Repare nas imagens seguintes.
Se o nosso objetivo fosse chamar a atenção do objeto, neste caso o balão, qual das
composições atingiria este objetivo?
A primeira apresenta muitos balões e, portanto, chama a atenção pelo excesso, pela
quantidade de informação visual. Já a segunda também chama a atenção justamente
pelo contrário: só há um elemento, portanto, a atenção do observador fica concentrada.
Isto não quer dizer que a primeira está incorreta e a segunda correta. Apenas que
apresentam formas distintas de comunicar.
127
6.2.3 Previsibilidade/Espontaneidade
6.2.4 Atividade/Estase
128
A polaridade visual atividade/estase está relacionada com a percepção daquilo que é
dinâmico e daquilo que é estático. A atividade enquanto:
Repare que na composição da Figura 6.27, pelo posicionamento e também pela variação
do tamanho dos elementos, há uma percepção de movimento. Parece que a figura
geométrica descreve uma trajetória, levemente em curva e tomando distância do
observador o que imprime a percepção de movimento à composição.
Já na composição da Figura 6.28, temos dois quadrados “apoiados” na linha de base do
suporte, o que por si só já transmite uma sensação de estabilidade.
129
6.3 Técnicas Visuais – Parte III
6.3.1 Transparência/Opacidade
Envolve detalhes visuais através dos quais se pode ver, de tal modo
que o que lhes fica atrás também nos é revelado aos olhos; a segunda
é exatamente o contrário, ou seja, o bloqueio total, o ocultamento dos
elementos. (DONDIS, 2007, p. 152)
130
Observe a composição da Figura 6.29. O que é possível ver?
Um grande bloco, com a mesma intensidade de cor.
E na composição da Figura 6.30?
Já nessa composição há uma certa leveza. É possível perceber a sobreposição das formas
o que dá, inclusive, uma sensação de profundidade. Alguns elementos parecem estar
mais próximos do observador e outros mais distantes.
6.3.2 Exatidão/Distorção
131
chegar ao ponto de não haver correspondência entre a realidade e a distorção. Esta
interferência, como refere Gomes Filho (2002): responde a um imenso propósito visual
que, se bem manejada, produz respostas plásticas intensas (Vide Figuras 6.31 e 6.32).
6.3.3 Planura/Profundidade
132
Figura 6.33: Profundidade Figura 6.34: Profundidade
133
6.3.4 Agudeza/Difusão
Compare as duas composições. Está muito claro a sensação de uma exatidão enérgica,
severa, não?
Ao contrário da outra imagem cuja informação visual esta distanciada, dissolvida, quase
escondida.
134
Conclusão
O domínio das técnicas construtivas permite que possamos manipular os dados visuais
de inúmeras formas. Pudemos conhecer mais algumas formas de elaboração da forma
seja, unidade ou fragmentação, seja pela economia ou presença de inúmeros
elementos, a profusão. Pudemos ainda entender os opostos: aquilo que é esperado,
previsível, a previsibilidade e o seu contrário, aquilo que é livre, onde não se consegue
perceber um padrão, a espontaneidade. E ainda, embora saibamos que é impossível
dotar um registro bidimensional de movimento, foi possível entender que a percepção
de movimento é passível de ser construída na representação gráfica.
Como conclusão do conteúdo de Técnicas Visuais, convém reforçar que a utilização das
técnicas não é mutuamente excludente, ou seja, pode ser utilizada mais de uma, em
simultâneo, na elaboração visual.
135
Referências
DONDIS, Donis. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.
GOMES FILHO, João. Gestalt do Objeto. Sistema de Leitura Visual da Forma. São Paulo:
Editora Escrituras, 2002.
136