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Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior

Centro Universitário de Mineiros


Unidade Básica das Humanidades
Curso de Psicologia

Projeto: “Experiências sexuais violentas na infância: o panorama do abuso sexual em


Mineiros”.
Professora responsável: Dra. Cíntia de Souza Carvalho.
Resenha: “Serviço de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência,
Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias: referências para a atuação do psicólogo”.
Discente: Marília Gabriela Costa Rezende.

O texto “Serviço de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência,


Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias: referências para a atuação do psicólogo” se trata
de um documento publicado pelo Conselho Federal de Psicologia (2009) que visa fornecer
orientações sobre esse serviço garantido pelas políticas públicas no Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS) para subsidiar a prática do profissional em
psicologia nestes contextos.
Para atender o objetivo supracitado, o documento se divide em quatro eixos de
discussão: (1) a dimensão ético-política; (2) a Psicologia e o Serviço de Proteção Social a
Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias;
(3) a atuação do psicólogo; e (4) a gestão do trabalho. Por meio desses tópicos é aprofundado
o conhecimento sobre a oferta e o funcionamento de políticas públicas voltadas a oferta do
Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e como deve ser a atuação do psicólogo nas
instituições a ele associadas.
Quanto a dimensão ético-politica, é preciso entender o mecanismo de implantação que
levou a criação de serviços como este. Uma política de Estado compreende a defesa dos
direitos fundamentais de todo e qualquer indivíduo, delas partem as políticas públicas que
devem assegurar tais direitos, inclusive o direito à sexualidade de crianças e adolescentes que
é o direcionamento do Serviço de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de
Violência, Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias.
Esse serviço partiu da Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e do
Adolescente de 1990. A regulamentação da assistência social ocorreu a partir da lei 8.742/93,
Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e da Política Nacional de Assistência Social
(PNAS) que fundamenta-se e materializa-se com a implantação e a implementação do
Sistema Único da Assistência Social (SUAS).
Esse mecanismo atende a população que se encontra em situação de risco ou
vulnerabilidade social e se divide pelo nível de complexidade: proteção social básica, cuja
principal instituição são os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS); Proteção
social especial que se subdivide em média complexidade, que contempla o CREAS, e alta
complexidade que envolve situações em que o vínculo familiar foi rompido.
Um importante passo no combate a violência sexual foi o Plano Nacional de
Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil, em junho de 2000, aprovado pelo
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) em 12 de julho de
2000 e a criação do Programa Sentinela em 2002 que posteriormente evoluiu para o Serviço
de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e Exploração
Sexual e suas Famílias.
Além dos fundamentos práticos do local de atuação do psicólogo é preciso estabelecer
também os teóricos a começar pelo conceito de violência definida pelo CFP (2009) como

[...] violação dos direitos humanos de crianças e de adolescentes. São formas


de violência que ferem a integridade sexual de pessoas que, por sua condição
peculiar, particular, seu estágio de desenvolvimento físico, emocional,
afetivo e sexual, não estão preparadas para intercursos sexuais e trocas
afetivo-sexuais.
A violência não deve ser compreendida apenas como uma situação de perca, mas
interpretada como uma relação desigual de poder entre duas pessoas, permeada por questões
sócio-histórico-culturais. Para se lidar com essa situação o CFP (2009) destaca, então, a
importância do trabalho em rede para garantir o atendimento integral do sujeito bem como sua
família.
Para o eixo 2 o CFP (2009) destaca o surgimento da psicologia como ciência no Brasil
e como os aspectos históricos desse processo refletem na atuação do psicólogo no Serviço de
Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e Exploração Sexual
e suas Famílias. A psicologia sempre esteve ligada ao modelo médico-assistencialista com
grande ênfase na psicoterapia individual e somente a partir da década de 80 começou a ser
discutido o seu compromisso social. Dessa forma, a atuação do psicólogo não deve se prender
a esses modelos e deve ser crítica e flexível, pautada na teoria e técnica para que seja
transformadora e emancipatória.
A violência contra crianças e adolescentes pode ocorrer no ambiente intrafamiliar, ou
seja, quando o agressor é um membro da família ou extrafamiliar, quando o agressor é um
estranho. Ela pode ser por negligencia, violência física, psicológica ou sexual. A violência
sexual se divide em abuso, quando o agressor usa de sua autoridade sobre a vítima para
satisfazer seu desejo sexual, e a exploração, quando o agressor utiliza o corpo da vítima com
fins lucrativos, podendo ser pela prostituição, turismo sexual, pornografia ou tráfico.
Os danos podem ser primários (provenientes da própria violência) ou secundários
(institucional), a violência se relaciona a aspectos intrínsecos (psíquico) ao sujeito ou
extrínsecos (social). Em sua maioria os agressores são pessoas da própria família ou de
confiança e geralmente são pessoas que já sofreram violência em sua história de vida. Para
entender o fenômeno da agressão pode-se comparar a adição, pois percebe-se a dependência
ao ato de violência e deve ser considerado o adultocentrismo, o sexismo e o machismo.
No eixo 4 é apresentado como deve ser a atuação do psicólogo que deve ser baseada
em teorias, técnica e métodos, planejada e realizada uma avaliação sistemática, respaldada
pelo Código de Ética profissional que visa a promoção dos direitos humanos e da saúde e
qualidade de vida das pessoas como indivíduos e comunidade. O psicólogo deve buscar
promover a autoestima da vítima de violência, resgatar os vínculos familiares, inseri-la na
comunidade e superar a situação de violência. O atendimento psicossocial não deve ser
confundido com o atendimento psicoterapêutico, pois ele trabalha prioritariamente com
grupos, entendendo o sujeito como um ser inserido em um contexto social e familiar, com o
objetivo de dar autonomia ao sujeito para que ele possa ser reinserido na comunidade e
fortalecer seus vínculos familiares, rompendo com o ciclo de violação de direitos.
O primeiro passo é a identificação do fenômeno e depois o envolvimento de parceiros
profissionais ou institucionais. A intervenção pode ser punitiva primária que foca na punição
do agressor, primária protetora da criança que foca no desenvolvimento na criança ou a
terapêutica primária que foca os aspectos subjetivos e o contexto da violência.
Os procedimentos operacionais implicam uma sequência de passos ou técnicas que
descrevem em detalhes como determinada tarefa ou função deve ser realizada. O acolhimento
é o primeiro momento de contato do indivíduo com um profissional da instituição, sendo de
suma importância para garantir o retorno do sujeito a instituição. O profissional deve realizara
escuta do indivíduo para identificar suas demandas iniciais, transmitindo segurança e zelando
pelo sigilo, pela crença e pelo amparo social da pessoa.
Após o acolhimento, devem ser feitas entrevistas psicológicas com alguém da família
ou a própria pessoa vítima de violência. O profissional deve se atentar às características do
ambiente familiar, se há a possibilidade da manutenção da situação de violação de direitos. É
importante, também, dar informações ao indivíduo sobre o serviço ofertado. Dessa forma,
sugere-se que a avaliação psicológica seja feita em entrevistas individuais semanais com o
objetivo de analisar os impactos da violência sobre o sujeito, qual a abordagem mais adequada
ao caso e se será necessário um encaminhamento a outro serviço da rede. Assim, o
atendimento psicológico deve se pautar na busca pela autonomia do sujeito, na escuta, na
atenção aos significados latentes, prestando apoio e orientação num trabalho em grupos, mas
atentando-se sempre a necessidade de encaminhamento para a psicoterapia.

A opção pelo grupo está sustentada pela afirmação de que este consiste em
um espaço de conscientização e participação, no qual o processo
interpessoal (participação em atividades grupais – relação com outros
componentes do grupo) é transformado em processo intrapessoal
(fortalecimento da autoestima, ressignificação de valores e percepções
pessoais) (CFP, 2009, p. 61).
O grupo é uma importante ferramenta de trabalho, pois é um campo de interação e
afetação mútua, o compartilhamento de ideias cria vínculos relacionais e também auxilia na
compreensão de cada um sobre sua própria história a partir da reflexão do tema sob novos
pontos de vista. O trabalho em grupo pode ser feito de várias maneiras com destaque às
oficinas temáticas, uma forma de trabalhar temas específicos. Eles podem ser divididos por
faixa etária e tipo de violência, sugerindo-se não ser muito grande nem muito pequeno.
Também podem ser feitos grupos com os familiares dos usuários do serviço com função
pedagógica e política.
Outro serviço que pode ser ofertado pelo CREAS são as entrevistas de revelação,
quando a pessoa é encaminhada apenas com suspeita de violência, o profissional deve então
realizar essas entrevistas para tentar confirmar a existência ou não de violência e entender o
que se passa com o sujeito, sendo necessário para isso mais de um encontro. Ao final, o
psicólogo irá elaborar um parecer que poderá ser usado em tribunal.
É preciso entender a violência como produto de relações sociais desiguais e deve ser
vista em um contexto multidimensionado onde existem fatores de risco que favorecem a
manutenção da situação de vulnerabilidade. Assim, é importante fazer o levantamento de toda
a história de vida do sujeito vítima de violência sexual para compreender quais são os fatores
de risco, mas também os de proteção que favorecem a sua resiliência, analisar não somente
sua fala, mas sua colocação corporal, sua linguagem não verbal, identificar estigmas e de que
forma eles atuam na sua formação de identidade. Além disso, o agressor também pode passar
por esse processo, desde que os dias de atendimento não coincidam com os dias de
atendimento de sua vítima.
Em suma, o profissional dessa área deve ter formação crítica, flexibilidade de prática,
conhecimento legislativo e da sua área, pró-atividade, coletividade, compromisso e
permanente formação. Entretanto, conforme apresentado no eixo 4, é preciso lutar contra as
dificuldades que existem na prática quanto a distância que existe entre a lei e a realidade, os
modos de pensar e operar dos profissionais que atuam na área, a definição de padrões
mínimos de implantação e implementação dos centros, a delimitação da atuação profissional e
a sua qualificação, a construção de um trabalho em rede efetivo e bem articulado, a
descontinuidade dos trabalhos iniciados, entre outros.

Referência

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Serviço de proteção social a crianças e


adolescentes vítimas de violência, abuso e exploração sexual e suas famílias: referências para
a atuação do psicólogo. 2009.

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